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Métodos Mistos em Pesquisas em Enfermagem Pediátrica: desafios e contribuições

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Academic year: 2021

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Métodos Mistos em Pesquisas em Enfermagem Pediátrica: desafios e

contribuições

Eliane Tatsch Neves1, Laís Antunes Wilhelm1,Fernanda Luisa Buboltz1 e Júlia Heinz da Silva1

1 Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS, Brasil.

eliane.neves@ufsm.br; laiswilhelm@gmail.com; fernandabuboltz@gmail.com; juheinzs@gmail.com.

Resumo. Introdução: a integração de dados quantitativos e qualitativos em estudos tem sido uma tendência crescente na pesquisa em saúde. Objetivo: relatar a utilização de métodos mistos, suas vantagens e aplicações específicas em estudos na área de Enfermagem Pediátrica. Método: relato de experiência de utilização da abordagem de estudo com métodos mistos desenvolvidos na temática de Enfermagem Pediátrica de dois estudos, sendo um do tipo sequencial e transformativo e outro do tipo incorporado concomitante. Resultados: o primeiro estudo foi realizado com mulheres cuidadoras de crianças com cuidados contínuos e complexos, buscando a relação entre a sobrecarga e o espaço social das famílias. No segundo estudo, deu-se voz a crianças dependentes de tecnologia, possibilitando conhecer a qualidade de vida destas. Conclusão: na área de Enfermagem Pediátrica, há um cenário de pesquisa desafiador, que os métodos mistos proporcionam, com que se pretende dar voz a familiares cuidadores e a crianças e adolescentes.

Palavras-chave: Pesquisa qualitativa; Enfermagem pediátrica; Métodos.

Mixed Methods in research in Pediatric Nursing: challenges and contributions

Abstract. Introduction: integrating quantitative and qualitative data into studies has been a growing trend in health research. Objective: reporting the use of mixed methods, their advantages and specific applications in studies in Pediatric Nursing. Method: report of the experience of using the study approach with mixed methods developed in the Pediatric Nursing theme of two studies, being: one of the sequential and transformative type and the other of the concomitant incorporated. Results: the first study was carried out with women caregivers of children with continuous and complex care seeking the relationship between overload and the social space of families. The second study, a voice was given to children dependent of technology, enabling them to know their quality of life. Conclusion: in Pediatric Nursing we have a challenging research in which we intend to give voice to family caregivers and the children and adolescents and the mixed methods provide.

Keywords: Qualitative Research; Pediatric Nursing; Methods.

1 Introdução

A coleta e a integração planejadas de dados quantitativos e qualitativos em estudos individuais ou em conjuntos de estudos coordenados têm sido tendência crescente das pesquisas na saúde, em especial, em Enfermagem. Apesar disso, ainda há argumentos que afirmam que os paradigmas em que se baseiam as pesquisas quantitativas e qualitativas seriam incompatíveis. No entanto, a maioria dos pesquisadores, defende que muitas áreas de investigação podem ser enriquecidas por triangulação de dados quantitativos e qualitativos (Polit, Beck, 2019).

Nesse sentido, recente pesquisa (Freitas, 2017) cita que a estratégia de triangulação concomitante de dados quantitativos e qualitativos possibilita a produção de resultados melhor substanciados e validados. A autora destaca, ainda, que a mixagem dos dados exige um trabalho minucioso para identificar as convergências, diferenças e/ou combinações entre os resultados quantitativos e qualitativos.

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Autores referem que os métodos mistos parecem emergir como o terceiro e novo paradigma na pesquisa científica, aumentando a chance de se obterem interpretações mais apuradas, ou, pelo menos, mais completas sobre os fenômenos de investigação (Oliveira, Magalhães, Matsuda, 2018). Para Santos et al. (2017), um estudo com método misto pode viabilizar a identificação de convergências e divergências entre os dados qualitativos e quantitativos, o que contribui para a produção de resultados que se complementam mutuamente. Assim, ocorre a integração de métodos qualitativos e quantitativos, a qual traz como principal benefício ao pesquisador o aprofundamento do objeto de estudo.

Os métodos mistos visam a um ponto em comum entre o qualitativo e o quantitativo, o pluralismo paradigmático, para uma resposta mais ampliada ao problema ou fenômeno em investigação. No entanto, isso requer a qualidade do estudo do método misto, a atribuição do peso almejado para os dados qualitativos e quantitativos e o uso de técnicas para a mixagem dos dados (Santos et al. 2017). Em relação às vantagens do delineamento dos métodos mistos, Polit e Beck (2019) destacam alguns pontos: a complementariedade, uma vez que os pesquisadores evitam limitações de uma única abordagem; a praticidade, frente à complexidade de alguns fenômenos já que é mais prático usar ferramentas metodológicas apropriadas para abordar questões e objetivos de pesquisas urgentes; a validade incrementada, pois os pesquisadores se sentem mais seguros a respeito de suas inferências quando sustentam uma hipótese ou pressuposto por meio de vários tipos de dados complementares. Creswell e Clark (2011) também identificaram situações em que a pesquisa com métodos mistos são adequadas: 1) quando os conceitos são novos e mal compreendidos, e há necessidade de exploração qualitativa antes que métodos mais formais e estruturados possam ser utilizados; 2) em situações onde nenhuma abordagem qualitativa, tampouco quantitativa, é adequada para abordar a complexidade do problema de pesquisa; 3) em estudos nos quais as descobertas de uma abordagem podem aumentar consideravelmente com uma segunda fonte de dados; 4) em resultados quantitativos enigmáticos e difíceis de interpretar em que os dados qualitativos podem ajudar a explicar resultados; 5) quando uma perspectiva teórica específica pode requerer tanto dados quantitativos quanto qualitativos; 6) em projetos com múltiplas fases, para atingir os objetivos principais, como o desenvolvimento e a avaliação de uma intervenção. Assim há fortes argumentos a favor de estudos com métodos mistos e a existência de algumas questões de pesquisa que “exigem” esse tipo de método.

Nesse sentido, desenvolvendo pesquisas na área da Enfermagem Pediátrica, sentiu-se a necessidade de explorar os fenômenos, utilizando a abordagem de métodos mistos, com ênfase na fase qualitativa. Este artigo tem como objetivo relatar a utilização de métodos mistos, suas vantagens e aplicações específicas em estudos na área de Enfermagem Pediátrica.

2 Método

Trata-se do relato da experiência de utilização da abordagem de estudo com métodos mistos desenvolvidos na temática de Enfermagem Pediátrica, a saber: um do tipo sequencial e transformativo – que teve como objeto de pesquisa a influência do Espaço Social na sobrecarga de mulheres cuidadoras de crianças com cuidados complexos e contínuos (ESTUDO 1) e um do tipo incorporado concomitante – com o seguinte objeto de pesquisa: qualidade de vida de crianças dependentes de tecnologia em saúde (ESTUDO 2).

Estudos mistos combinam métodos, uma filosofia e uma orientação para o projeto de pesquisa. Nesses estudos, o pesquisador deverá coletar e analisar dados qualitativos e quantitativos de maneira rigorosa, guiada por uma questão de pesquisa. No planejamento dos procedimentos da pesquisa, devem ser considerados quatro aspectos importantes, que ajudam a moldar um estudo

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misto conforme Creswel (2010), os quais são: a distribuição de tempo, a atribuição de peso, a combinação e a teorização.

A escolha pelo método misto se deve ao fato de que os objetos dos estudos envolvem questões de cunho subjetivo, mas necessitam ser compreendidos de modo mais generalizado num primeiro momento, com a abordagem quantitativa, para posteriormente receber um entendimento mais aprofundado por meio de dados qualitativos (Creswell, Clark, 2010). Ademais, para a Enfermagem e a Enfermagem Pediátrica, que têm como base a complexidade do cuidado humano, os métodos mistos podem ser proveitosos aos problemas de investigação científica, já que que os objetos de pesquisa da disciplina carregam em si, naturalmente, a densidade de informações a serem exploradas, as quais, por meio dessa abordagem metodológica, podem ser investigadas com maior aprofundamento (Oliveira, Magalhães, Matsuda, 2018).

É necessário vincular as duas formas de dados simultaneamente de maneira sequencial, misturando os dados e priorizando uma ou ambas as formas, dependendo do foco da pesquisa. Pode-se usar o método misto em um único estudo ou em várias fases de um programa de estudo de modo a estruturar os procedimentos conforme um referencial teórico filosófico pertinente à proposta da pesquisa (Creswell, Clark, 2010).

Dessa forma, os objetivos que foram propostos por esses estudos exigiam que fossem exploradas as perspectivas individuais de cada sujeito em profundidade, o que só a abordagem qualitativa poderia viabilizar. Portanto, salienta-se que o método misto é adequado para as propostas dos estudos, uma vez que se considera ser pertinente medir quantitativamente a sobrecarga das mulheres cuidadoras de crianças com cuidados complexos e contínuos, assim como a qualidade de vida de crianças dependentes de tecnologia em saúde, mas não o suficiente para contemplar o problema de pesquisa ou confirmar a tese formulada pelos pesquisadores, o que corrobora com as situações em que Creswell e Clark (2011) sugerem a utilização de um método misto, onde nenhuma abordagem qualitativa, tampouco quantitativa, é suficiente para abordar a complexidade dos problemas de pesquisas como um todo.

Ambos os estudos aqui relatados tiveram a fase qualitativa como a principal para desvelar o fenômeno estudado.

3 Resultados e Discussão

No Quadro 1, apresenta-se a forma como foram desenvolvidas as etapas quantitativas e qualitativas nos dois estudos que foram realizados e como ocorreu a fusão dos dados para configurá-los em estudos mistos.

Quadro 1 – Desenvolvimento dos estudos mistos.

ESTUDO 1 ESTUDO 2

Tipo de estudo misto: sequencial e transformativo

Tipo de estudo misto: incorporado concomitante Cenário do estudo:

• Etapa quantitativa:

- Município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil – unidades pediátricas do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

Cenário do estudo:

• Etapa quantitativa e qualitativa: - Município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil – unidades pediátricas do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

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• Etapa qualitativa:

- Domicílios das famílias de crianças com cuidados contínuos e complexos na região da 4ª Coordenadoria de Saúde, Rio Grande do Sul, Brasil, que receberam atendimento em ambas as instituições referidas, durante a coleta de dados quantitativos.

- Município de Porto Alegre, Rio Grande do

Sul, Brasil: ambulatórios e Unidade de Pediatria do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (HSL/PUCRS).

População e Amostra • Etapa quantitativa:

- 83 mulheres cuidadoras de crianças com cuidados contínuos e complexos.

• Etapa qualitativa:

- Foram selecionados oito participantes por meio de amostragem intencional em que foram selecionadas as mulheres cuidadoras com diferentes escores de sobrecarga.

População e Amostra: • Etapa quantitativa:

- 30 crianças dependentes de tecnologia em saúde.

• Etapa qualitativa:

- Foram selecionadas nove dessas 30 crianças da etapa quantitativa por meio de amostragem por conveniência, tal critério justificou-se pela necessidade de reunir casos ricos em informações as quais poderiam contribuir com o aprofundamento da

compreensão do fenômeno estudado

(Moreira, Caleffe, 2008). Técnicas de coleta de dados:

• Etapa quantitativa:

- Formulário do perfil clínico, elaborado pela pesquisadora, coletado nos prontuários e registros de atendimento das crianças;

- Aplicação da escala “Burden Interview” com as familiares cuidadoras (Logiudice, Waltrowicz, Mckenzie, Ames, Flicker, 1995).

• Etapa qualitativa:

- Entrevista do tipo semiestruturada, abordando aspectos que contemplassem os capitais cultural, social e econômico, conforme o referencial teórico filosófico.

- Observação participante durante as entrevistas.

Técnicas de coleta de dados: • Etapa quantitativa:

- Formulário de caracterização das

crianças, quanto aos aspectos

sociodemográficos, condições do nascimento e das necessidades especiais de saúde, elaborado pela pesquisadora, baseado em outros já utilizados (Okido, 2013; Silva, 2014).

- Aplicação do questionário “Pediatric Quality of Life Inventory 4.0” (PedsQL 4.0). (VARNI; et al., 1999; KLATCHOIAN, 2007).

• Etapa qualitativa:

- Entrevista semiestruturada guiada pelo PEDsQL 4.0 (ocorreu concomitantemente à aplicação do questionário)

Análise dos dados: • Etapa quantitativa:

- Associações entre a variável categórica dependente (sobrecarga) com algumas

variáveis categóricas independentes

(demandas das crianças com cuidados contínuos e complexos e escolaridade, emprego e idade da familiar cuidadora).

- Associações entre a sobrecarga (variável dependente) e as demais variáveis pelo teste do Qui-Quadrado, Kruskal Wallis, ou Exato de Fisher.

Análise dos dados: • Etapa quantitativa:

- Análise descritiva, por meio de frequências absoluta (n) e relativa (%), medidas de tendência central e de dispersão, utilizando média e desvio padrão – quando apresentaram distribuição normal e mediana, e mínimo e máximo – quando não apresentarem distribuição normal.

- Análise de normalidade dos dados pelos testes Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk.

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• Etapa qualitativa:

- Análise de Discurso (AD) conforme

Michel Pêcheux, onde se tem o discurso

como objeto teórico construído

historicamente, que não se confunde com a fala empírica (Orlandi, 2012).

- Análise de conteúdo segundo Minayo (2014).

Aspectos éticos:

- Em ambos os estudos, foram respeitados os preceitos éticos, nas etapas quantitativas e qualitativas, conforme a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Brasil, 2012).

Fonte: autores.

A partir do Quadro 1, observam-se algumas diferenças entre os dois tipos de estudos mistos realizados. O ESTUDO 1 consistiu em um estudo misto do tipo transformativo sequencial com atribuição de peso maior para a parte qualitativa, pois, conforme Creswell e Clark (2013), a pesquisa está relacionada com questões de justiça social que requerem mudança, realidades estas conhecidas por meio de uma análise prévia da teoria sobre as necessidades de populações vulneráveis que envolvem a pesquisa. Assim, estudos transformativos exigem uma estrutura teórica para que o pesquisador assuma uma posição, sendo sensíveis às necessidades da população e, ao final da pesquisa, recomende mudanças específicas para o contexto estudado.

Portanto, na teorização, conforme Creswel e Clark (2013), foi considerada uma perspectiva teórica que guiou a elaboração, ou seja, o referencial teórico consistiu em referencial de Espaço Social, segundo Pierre Bourdieu (1992). O autor percebe o Espaço Social como um campo de lutas no qual os atores (indivíduos e grupos) elaboram estratégias que permitem manter ou melhorar sua posição social. Essas estratégias estão relacionadas com os diferentes tipos de capital inseridos neste espaço social: o capital social, cultural e econômico (Bourdieu, 1992).

Assim, conforme a metodologia de estudos mistos, a teoria explícita pode ser encontrada nas seções iniciais, no referencial teórico, sendo este uma lente que orientou a questão de pesquisa, os participantes do estudo, a coleta de dados e as implicações extraídas da investigação.

Em projetos em que se utiliza o método misto do tipo incorporado concomitante, como o ESTUDO 2, prevê-se que os dados quantitativos e qualitativos sejam coletados ao mesmo tempo, porém com um método principal que guia o projeto e um método secundário. O método principal neste estudo foi o quantitativo, que evidenciou a qualidade de vida das crianças dependentes de tecnologia em saúde, e o método qualitativo complementou os dados obtidos no método principal, trazendo a subjetividade que existe além da aplicação da escala, dando voz ao sujeito da pesquisa (Creswell, Clark, 2013).

Observando a apresentação do cenário dos estudos, reconhece-se essa diferenciação entre os tipos de métodos. No ESTUDO 1, a etapa quantitativa foi realizada em um cenário, e a etapa qualitativa ocorreu em outro: o domicílio dos sujeitos selecionados na etapa quantitativa, pois é algo que ocorre de maneira sequencial. No ESTUDO 2, também existe mais de um cenário de coleta de dados, porém ambas as etapas foram realizadas nos mesmos locais, ou seja, se a etapa quantitativa com um sujeito ocorreu em determinado local, a etapa qualitativa ocorreu no mesmo, pois as duas aconteciam concomitantemente.

Em relação à população e à amostra dos estudos, percebe-se que, em ambos, a etapa quantitativa apresentou um número maior de sujeitos que a etapa qualitativa, e esta foi realizada por meio de amostra intencional. Conforme Moreira e Caleffe (2008), a amostra intencional é realizada levando-se em consideração as pessoas que podem efetivamente contribuir para a pesquisa. Essas estratégias visaram à profundidade sobre o fenômeno investigado (Creswell, Clark, 2013), com o qual as

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pesquisadoras podem apreender muito sobre pontos essenciais para responder à questão de pesquisa (Moreira, Caleffe, 2008).

Dessa forma, ambos os estudos possuem um número de participantes semelhantes na fase qualitativa e com tamanho da amostra adequado aos objetos de estudos (Creswell, Clark, 2013). Segundo Moreira e Caleffe (2008), a amostra deve ser de acordo com o objetivo da pesquisa, devendo ser grande o suficiente para ser aceitável, mas pequena a ponto de permitir profundidade e detalhes nos resultados.

Quanto à coleta de dados, nos dois estudos foram utilizadas técnicas e instrumentos para coleta de dados quantitativos e qualitativos de acordo com os objetivos de cada um. A diferença entre os dois é que, no ESTUDO 1, a etapa quantitativa precedeu a etapa qualitativa, ou seja, foi realizada toda a coleta de dados quantitativos para após iniciar a coleta de dados qualitativos, enquanto, no ESTUDO 2, a coleta ocorreu concomitantemente, ou seja, realizava-se a aplicação dos instrumentos quantitativos e simultaneamente se realizava a etapa qualitativa com os sujeitos selecionados; além disso, o roteiro da entrevista semiestruturada era baseado nos itens da escala de qualidade de vida. Em ambas as pesquisas a etapa qualitativa foi essencial para compreender o fenômeno, visto que apenas dados quantitativos não fariam com que as pesquisadoras atingissem o objetivo dos estudos por completo. No ESTUDO 1, essa etapa da pesquisa foi realizada com mulheres que apresentaram maior grau de sobrecarga e com aquelas de menor sobrecarga a fim de realizar um comparativo dos contextos de vida desses sujeitos para verificar se há relação entre a sobrecarga e o Espaço Social das famílias. No ESTUDO 2, a etapa qualitativa possuía o intuito de dar voz aos participantes do estudo, possibilitando conhecer a subjetividade que está por trás dos dados objetivos e, assim, aprofundar as informações adquiridas na aplicação do questionário, relacionando com a questão da dependência da tecnologia em saúde, visto que o PEDsQL 4.0 serve para ser aplicado com crianças em geral . Já sobre a análise dos dados na pesquisa de métodos mistos, percebe-se que cada um dos estudos utilizou um tipo de análise específico para cada resultado, seja quantitativo ou qualitativo, mas a forma de analise dos dados, como estudo misto, seguiu os mesmos preceitos. Sabe-se que é necessário analisar separadamente os dados quantitativos dos qualitativos, mas também é preciso analisar os dois conjuntos de informações usando técnicas que “misturem” os dados e resultados quantitativos e qualitativos, o que é a análise de métodos mistos (Creswell, Clark, 2013).

Nessa análise de métodos mistos, é proposto um conjunto de passos similares para ambos os dados: preparar os dados para a análise, explorar os dados, analisar os dados, representar a análise, interpretar a análise e validar os dados e as interpretações (Creswell, Clark, 2013). Assim, a fusão dos dados quantitativos e qualitativos é realizada após a finalização da análise individual de cada abordagem. Posteriormente, é utilizada a estratégia de comparação lado a lado para a análise dos dados fundidos, apresentando juntos os resultados quantitativos e os resultados qualitativos em forma de discussão. Apresenta-se um resultado qualitativo e também sua relação com o resultado quantitativo, seja de convergência ou divergência entre ambos.

Por fim, em ambos os estudos, a fase qualitativa obteve uma atribuição de peso maior devido à necessidade de uma compreensão de cunho subjetivo do fenômeno investigado. Os objetivos propostos pelos estudos exigiram que fossem exploradas as perspectivas individuais de cada sujeito em profundidade o que só a abordagem qualitativa poderia viabilizar.

4 Conclusões

A partir do relato dos estudos apresentado neste artigo, acredita-se que os métodos mistos são muito importantes para o desenvolvimento de inovações e melhorias na área da saúde. Na área de Enfermagem Pediátrica, há um cenário de pesquisa desafiador em que se pretende dar voz a

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familiares cuidadores e a crianças e adolescentes, e os métodos mistos nos proporcionam essa fusão com a ênfase nos dados qualitativos.

Investigar a influência do Espaço Social na sobrecarga de mulheres cuidadoras de crianças com cuidados contínuos e complexos, bem como a qualidade de vida de crianças dependentes de tecnologia, exigiu uma metodologia que contemplasse tanto a dimensão subjetiva quanto a objetiva. Sobre este aspecto, considera-se que a fase qualitativa se sobrepôs à fase quantitativa porque os fenômenos investigados necessitavam de uma perspectiva mais subjetiva e específica, e isto só é possível a partir da investigação qualitativa. Os dados obtidos por meio das entrevistas com os participantes das pesquisas, permitido por meio da abordagem qualitativa, forneceu subsídios para a apreensão dos fenômenos investigados, considerados complexos e de natureza subjetiva, específica e individual. Além disso, a fusão dos dados foi primordial para a conclusão de ambos os estudos, sendo que os dados qualitativos e quantitativos se complementaram, o que tornou possível responder às questões de pesquisa propostas.

Nesse ínterim, os fenômenos investigados, em ambas as pesquisas, são de natureza muito peculiar. Envolveram participantes de grupos considerados vulneráveis do ponto de vista dos serviços de atenção em saúde em prol da qualificação do cuidado com a contribuição de dados qualitativos no contexto dos métodos mistos.

O presente trabalho trouxe dois exemplos de métodos mistos, mas sabe-se que este tipo de abordagem metodológica possui e admite diversas formas diferentes de coleta, análise e interpretação dos dados. A escolha pelos diferentes tipos de pesquisa de método misto vai depender de múltiplos fatores, dentre estes o objeto de investigação.

Desse modo, considera-se que a pesquisa de métodos mistos poderá beneficiar pesquisas nos mais diferentes cenários da saúde, em especial na Enfermagem Pediátrica, pois cada vez mais existe a necessidade de investigações que consigam aliar dados quantitativos e qualitativos para que seja possível responder a questões de pesquisa que o campo investigativo exige.

Assim, se destaca a importância de que se continuem realizando, cada vez mais, pesquisas es-pecíficas sobre métodos mistos, para auxiliar e conduzir outros pesquisadores, bem como fortalecer o próprio método em pesquisas em saúde e Enfermagem Pediátrica.

Referências

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Klatchoian, D. A. (2007). Confiabilidade da versão brasileira do questionário genérico de qualidade de vida Pediatric Quality of Life Inventory versão 4.0 (PedsQL 4.0) (Tese de Doutorado). Universidade Federal de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.

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Varni, J. W., Seid, M., Rode, C. A. (1999). The PedsQLTM: measurement model for the pediatric

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