• Nenhum resultado encontrado

O ‘Barómetro’ de visitação, uma ferramenta para monitorização e sensibilização em áreas protegidas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O ‘Barómetro’ de visitação, uma ferramenta para monitorização e sensibilização em áreas protegidas"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

ID 743: O ‘BARÓMETRO’ DE VISITAÇÃO, UMA FERRAMENTA PARA MONITORIZAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO EM ÁREAS PROTEGIDAS: O CASO DA

RESERVA NATURAL DAS BERLENGAS79

Alexandra GIL1; Catarina FONSECA2; Ricardo NOGUEIRA MENDES3; Maria Filomena MAGALHÃES4;

Carlos PEREIRA DA SILVA5

1Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais CICS.NOVA, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade

Nova de Lisboa; alexandragil@fcsh.unl.pt

2Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais CICS.NOVA – FCSH/UNL; cfonseca@fcsh.unl.pt

3Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais CICS.NOVA – FCSH/UNL; rnmendes@fcsh.unl.pt

4Centre for Ecology and Environmental Changes (CE3C), Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa;

mfmagalhaes@fc.ul.pt

5Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais CICS.NOVA – FCSH/UNL; cpsilva@fcsh.unl.pt

RESUMO: As áreas protegidas tendem a ser cada vez mais visitadas. A ausência de uma correta

gestão da visitação pode resultar em episódios de sobrecarga humana, comprometendo os objetivos de conservação e a qualidade da experiência de visitação. Assim é essencial uma gestão da capacidade de carga. Para proceder a esta gestão é necessário monitorizar os visitantes por métodos diretos, envolvendo contagens e a realização de inquéritos. Adicionalmente, é necessário criar novas soluções, englobando estratégias de educação e sensibilização ambiental, envolvendo os stakeholders influenciados pelas medidas de gestão. O Projeto LIFE Berlengas visa recuperar alguns dos valores naturais da Reserva Natural das Berlengas (RNB) e inclui ações direcionadas para o estudo e monitorização de visitantes. Este artigo apresenta parte dos resultados da monitorização realizada na ilha da Berlenga em 2015 e 2016, que incluiu a realização de inquéritos e contagem de visitantes. Com base em questões-chave do inquérito foi desenvolvido o ‘Barómetro’ de Visitação, uma ferramenta que ilustra a escala de qualidade associada à pressão resultante da atividade recreativa, e constitui um suporte de informação visual, apelativo, e de sensibilização dos visitantes. Os resultados evidenciam um aumento do número de visitantes entre 2015 e 2016, e em relação a anos anteriores. A capacidade de carga humana diária para a RNB, definida como 350 indivíduos, foi ultrapassada frequentemente, com desembarques superiores a 1000 pessoas nalguns dias. O ‘Barómetro’ de Visitação desenvolvido fornece informação acerca do modo como os visitantes consideram o número de pessoas na ilha e como classificam a experiência e alguns aspetos da RNB. O ‘Barómetro’ mostra, nomeadamente, que alguns visitantes consideraram excessivo o número de pessoas na ilha em 2016, ao contrário de 2015, havendo no entanto uma maior satisfação na experiência recreativa.

79 Este artigo foi desenvolvido com o apoio do CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universade Nova de Lisboa, UID/SOC/04647/2 013, com o apoio financeiro da FCT/MCTES através de fundos nacionais e o apoio do Projeto LIFE Berlengas (LIFE 13 NAT/PT/000458).

(2)

O aumento de visitantes poderá ter consequências ao nível da segurança e qualidade da experiência recreativa.

PALAVRAS-CHAVE: Inquéritos; Experiência de visitação; Sensibilização ambiental;

1. INTRODUÇÃO

As áreas protegidas são fundamentais para a conservação da natureza, providenciando também oportunidades para o turismo e para as atividades recreativas (Spenceley et al., 2015). No entanto, sem controlo, elevados números de utilizadores poderão resultar em graves impactes ambientais e na redução da qualidade da experiência de visitação (Lockwood et al., 2006). Assim, é essencial estabelecer e regular uma capacidade de carga nas áreas protegidas, podendo esta ser definida como o número de visitantes que uma área consegue suportar sem que as suas características originais sejam ameaçadas ou modificadas (Silva, 2002)

Adicionalmente, para uma eficaz gestão das áreas protegidas é necessária a recolha e tratamento de dados sociais, assim como novas soluções que englobem estratégias de educação e sensibilização ambiental, de modo a assegurar uma melhor comunicação, tomada de decisão e desenvolvimento político (Zorilla-Pujana e Rossi, 2016).

A educação ambiental e o envolvimento de stakeholders são questões cruciais para o sucesso a longo prazo das áreas protegidas, sendo as estratégias de sensibilização e a comunicação contributos chave para a sua eficácia (Sureda et al., 2004).

O uso de sinalização é uma ferramenta eficaz e económica para a comunicação de informação complexa sobre ambiente e gestão, contribuindo para o aumento do conhecimento dos

stakeholders e para a sensibilização ambiental. Adicionalmente, a sinalização informativa/interpretativa in-situ pode ajudar a promover atitudes positivas e melhorar os comportamentos ambientais (Martin et al., 2015).

A Reserva Natural das Berlengas (RNB) em Portugal (39º24’N, 9º30’W), engloba o Arquipélago das Berlengas e pertence à Rede Natura 2000, com uma Zona de Proteção Especial (ZPE) para as aves marinhas (Directiva 79/409/EEC). A RNB faz parte também da Reserva da Biosfera da UNESCO.

Esta área protegida tem vindo a enfrentar múltiplas pressões humanas e degradação ao longo dos tempos, também associada à crescente visitação da Ilha da Berlenga. A capacidade de carga das Berlengas foi definida em 1990 como sendo de 350 pessoas por dia, um número que é

(3)

frequentemente ultrapassado, principalmente em Agosto. Dados anteriores, reportados pela entidade gestora, apontam que a ilha foi visitada por cerca de 25.000 pessoas em 1998, 30.000 em 2000 e 40.000 pessoas em 2003 e 2004. Recentemente percecionou-se que o número de visitantes tem vindo a aumentar drasticamente. Assim, o Projeto Life Berlengas (LIFE 13 NAT/PT/000458 – www.berlengas.eu/), que procura estabelecer e recuperar alguns dos valores naturais da Reserva Natural das Berlengas, inclui uma ação para a caracterização e monitorização dos visitantes da Berlenga.

Este estudo procura: i) determinar o número de visitantes na ilha da Berlanga – uma linha de base para permitir o ajustamento da capacidade de carga, e ii) desenvolver o ‘Barómetro’ de Visitação – uma ferramenta apresentada como uma escala de qualidade associada à pressão recreativa da área protegida, com o objetivo de providenciar informação para as medidas de gestão e suporte visual para a sensibilização ambiental.

2. METODOLOGIA

O trabalho de campo foi realizado na Ilha da Berlenga em 2015 e 2016, em quatro semanas em cada um dos anos, através da realização de inquéritos e da contagem dos visitantes desembarcados na ilha.

Os inquéritos apresentaram um total de 35 questões, de resposta aberta, fechada e de escalas de atitudes, tendo sido realizados entre as 12h e as 18h, com uma duração de preenchimento de cerca de 15 a 20 minutos. A contagem dos visitantes foi feita através de observadores num ponto fixo, localizado no Cais do Carreiro do Mosteiro onde desembarca a grande maioria dos visitantes. As contagens iniciaram às 9h com a chegada da primeira embarcação e terminaram às 20h com a partida da ultima, registando o nome da embarcação, a sua hora de chegada e número de pessoas desembarcadas. Estes dados permitiram estimar o número de pessoas desembarcadas na Ilha da Berlenga por ano.

O ‘Barómetro’ de Visitação foi desenvolvido através da utilização de questões-chave do inquérito referentes à perceção dos visitantes acerca do número de pessoas presente na ilha e a qualidade da experiência de visitação, comparando com as suas expectativas. Estas questões utilizadas são de resposta fechada, com três opções: positiva, negativa ou neutra. Adicionalmente, foi usada uma questão de avaliação de algumas condições da ilha, onde os visitantes classificaram de 1 a 5 os seguintes aspetos: Acessibilidade; Sinalização; Trilhos; Vigilância; Beleza Natural; Turismo; Limpeza; Qualidade Ambiental; Casas de banho; Praias; Preços, e; Comportamento das pessoas.

(4)

A média das respostas obtidas pelas questões-chave foram convertidas para uma escala de 180º, enquanto que as da questão de avaliação foram convertidas num radar chart. O barómetro apresenta para cada questão os resultados de 2015 e 2016, resultando da realização de 707 e 358 inquéritos em cada um dos anos, respetivamente.

Foi utilizado o Coeficiente de Correlação de Spearman para quantificar as correlações entre as questões-chave. Para cada variável, a diferença entre grupos foi testada através dos testes não paramétricos de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. Por fim, foram utilizados modelos de regressão linear reduzida para descrever associações entre variáveis.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A contagem do número de visitantes permitiu estimar que desembarcaram na ilha cerca de 65.620 pessoas em 2015 e 79.875 em 2016. Observou-se também que a capacidade de carga determinada para a Ilha da Berlenga foi ultrapassada frequentemente, principalmente em Agosto, com registos a apresentarem dias com mais de 1000 pessoas desembarcadas (Gráfico 1).

Figura 152 Número total de pessoas desembarcadas por dia no Cais do Carreiro do Mosteiro, em 2015 e 2016.

O ‘Barómetro’ de Visitação (Figura 1) mostra que os visitantes percecionaram um excesso de pessoas na ilha em 2016, enquanto que em 2015 indicaram que o número de pessoas na ilha estava “bem assim”. No entanto, a experiência superou as expectativas e houve um ligeiro aumento na qualidade da experiência de 2015 para 2016. Os aspetos pior classificados da ilha foram a vigilância, as casas de banho e os preços em ambos os anos.

No geral, os resultados preliminares mostram que aqueles que visitam a ilha pela primeira vez apresentam uma maior tolerância em relação ao número de pessoas na ilha do que os restantes

(5)

visitantes (2015: U=53043.0; W=146139.0; p=0.005; 2016: U=12693.5; W=30459.5; p<0.0005). Esta questão apresentou associação com a opinião dos visitantes que o principal problema da Berlenga é o excesso de pessoas e que a redução do número de pessoas iria melhorar a experiência recreativa (R2=0.33).

(6)

4. CONCLUSÃO

O aumento do número de visitantes nesta área protegida poderá resultar em consequências negativas ao nível da segurança dos visitantes e da qualidade da experiência da visitação, bem como comprometer os objetivos de conservação. Assim, é essencial a implementação de eficazes e adequadas medidas de gestão nesta área protegida.

O ‘Barómetro’ de Visitação é uma ferramenta apelativa para informar os visitantes das principais condições da ilha da Berlenga e dos aspetos a melhorar, contribuindo para o aumento da sua sensibilização ambiental. Esta ferramenta é também útil para o fornecimento de informação imediata à entidade gestora, de modo a alertar para os principais assuntos a serem tratados e a sua evolução ao longo do tempo e perceção dos visitantes. Adicionalmente, descobrindo as relações existentes entre as questões-chave e outras questões do inquérito é possível diminuir o tempo de duração de resposta do mesmo.

Assim, o ‘Barómetro’ de Visitação pode contribuir com informação imediata para as decisões de gestão, sendo também útil para gerir as expectativas dos visitantes e a qualidade da experiência recreativa. Esta ferramenta, se usada como parte da sinalização in-situ de áreas protegidas, pode ser eficaz na conservação da natureza, informando os visitantes e stakeholders e aumentando a sensibilidade ambiental.

A ferramenta desenvolvida permite apoiar a tomada de decisão, definição de medidas de gestão, e sensibilização dos visitantes, constituindo um instrumento que poderá ser também aplicado noutras áreas protegidas.

5. BIBLIOGRAFIA

Lockwood M, Worboys GL, Kothari A (Eds.) (2006) Managing Protected Areas: a Global Guide. Earthscan. London. 802 pp.

Martin, C.L., Momtaz, S., Jordan, A. and Moltschaniwskyj, N.A. (2015). An assessment of the effectiveness of in-situ signage in multiple-use marine protected areas in providing information to different recreational users. Marine Policy, 56, 78-85.

Silva CP (2002) Gestão Litoral. Integração de Estudos de Percepção da Paisagem e Imagens Digitais na Definição da Capacidade de Carga de Praias. O Troço Litoral S.Torpes – Ilha do Pessegueiro. Dissertação de Doutoramento. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Lisboa. 328 pp.

(7)

Spenceley, A., Kohl, J., McArthur, S., Myles, P., Notarianni, M., Paleczny, D., Pickering, C. and Worboys, G. L. (2015) ‘Visitor management’. In Worboys, G.L., Lockwood, M., Kothari, A., Feary, S. and Pulsford, I. (eds) Protected Area Governance and Management, ANU Press, Canberra, pp.715–750.

Sureda, J., Oliver, M. F. and Castells, M. (2004). Indicators for the Evaluation of Environmental Education, Interpretation and Information in Protected Areas. Applied Environmental Education & Communication, 3, 171-181.

Zorilla-Pujana, J., Rossi, S. (2016) Environmental education indicators system for protected areas management. Ecological Indicators, 67, 146-155.

Imagem

Figura 152 Número total de pessoas desembarcadas por dia no Cais do Carreiro do Mosteiro, em 2015 e 2016
Figura 153 'Barómetro' da Visitação da Ilha da Belenga de 2015 e 2016.

Referências

Documentos relacionados

Será obrigatório a realização de pelo menos 3 visitas – A apresentação das visitas será em grupo – usar o data show, fundamentar e justificar todo o

[r]

Os participantes foram expostos a uma tarefa na qual eles tinham que escolher linhas em uma matriz 10x10 (Figura 1); as linhas eram compostas de cinco cores (azul, vermelho,

Ministrante: Victor Aquino Uma breve introdução à cultura hip-hop, falando um pouco sobre o surgimento no mundo, e em seguida como surgiu e é atualmente aqui no país. Um breve

Neste artigo, é aplicada a análise de variância para testar a hipótese nula de que não existe diferença de médias de retornos anormais acumulados (CAR) entre as aquisições

•   Deep learning allows models composed of multiple processing layers to learn representations of data with multiple levels of abstraction. •   Improved the state-of-the-art

A Psicologia, por sua vez, seguiu sua trajetória também modificando sua visão de homem e fugindo do paradigma da ciência clássica. Ampliou sua atuação para além da

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de