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A escola como lugar de educação para a saúde : estudo de caso

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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

A ESCOLA COMO LUGAR DE EDUCAÇĂO PARA A SAÚDE: ESTUDO DE CASO

Tese apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Educação

por

Leyani Ailin Chávez Noya de Oliveira

FACULDADE DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

A ESCOLA COMO LUGAR DE EDUCAÇĂO PARA A SAÚDE: ESTUDO DE CASO

Tese apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Educação

Por Leyani Ailin Chávez Noya de Oliveira

Sob-orientação de Professora Doutora Isabel Baptista Co-orientador de Professor Doutor José Reis Lagarto

FACULDADE DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

janeiro, 2015

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Agradecimentos

Deus, ele é o homem que me faz sonhar e faz realidade meus sonhos.

À Faculdade de Educação e Comunicação da Universidade Católica de Moçambique, por ter criado as condições para realização deste programa de Doutoramento junto com a Universidade Católica de Porto em Portugal.

A um grande amigo, professor e exemplo para mim que jamais poderei pagar pela sua confiança em mim, pela sua perseverança.

À professora Doutora Isabel Baptista, exemplo de mulher a imitar, pela sua paciência, carinho, dedicação, apoio incondicional e sobretudo pela incansável ajuda e solidariedade, nos momentos em que o desespero e a dor se apossavam de mim diante das dificuldades que chegavam.

Ao professor Doutor José Matias Alves por ter permitido que meu caminho iniciasse por este curso e no momento em que a escuridão se fazia sentir, estive presente com o seu apoio e incentivo prestado.

Ao professor Doutor Lagarto que me apoiou até chegar às provas finais.

Aos participantes da escola onde a nossa investigação decorreu pela disponibilidade prestada.

A todos os que algum dia poderão ler estas páginas e aplicá-las em suas vidas, reconhecendo que o ser humano é o maior tesouro na face da terra ao qual devemos cuidar e educar para mudar o mundo.

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ii Dedicatória

As pessoas que amamos não morrem, apenas partem antes de nós...

À memória da minha mãe que tanto sonhava que este dia chegasse; ela hoje vive na graça de Deus dando-me a força necessária para resistir a sua ausência, transmitindo-me sempre o seu belo exemplo de mulher guerreira. Obrigada minha brilhante estrela que no céu estás!

Ao meu neto Carlos Manuel, o novo motor impulsionador de minha vida!

A minha família, o que de mais valioso tenho, minha filha, meu pai, meu irmão, meu esposo, enfim a todos...!

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iii Resumo

Este documento corresponde a uma investigação elaborada no âmbito do curso de doutoramento em Ciências da Educação, na área de aprofundamento da Pedagogia Social, na Universidade Católica Portuguesa, abordando o tema Escola como lugar de educação para a saúde, tendo por base um estudo de caso com uma abordagem predominantemente qualitativa realizado na Escola Secundária de Nampula, na cidade de Nampula no norte de Moçambique. Partindo do objetivo geral tentou-se compreender o papel da escola como lugar de educação para a saúde. Para o efeito, desenvolveu-se um estudo empírico enquadrado por um campobalizado pelas ciências da educação, em particular pela Pedagogia Social. Os dados foram recolhidos fundamentalmente através da análise de documentos normativos da escola, da observação não participativa e de entrevistas semiestruturadas. Posteriormente, os dados foram sistematizados a partir do método da análise de conteúdo os quais permitiram evidenciar algumas conclusões, como as escolas e os professores se vêem. Assim, perante a exigência de novas funções sugere-se a necessidade de alargar e de aprofundar conhecimentos noutras áreas que não as da sua formação de base e, por outro, de estabelecer parcerias com os profissionais de saúde para, em conjunto, desenvolverem intervenções mais consistentes na escola sobre a saúde. Foi igualmente patente a necessidade de haver um fortalecimento das relações entre educação e a saúde, tendo sido possível compreender alguns pontos que necessitam de ser trabalhados e melhorados nestas dois setores para uma melhor formação escolar, não só pelas instituições (escolas e centros de saúde) mas também pelos profissionaís que nesta área trabalham. É nesse sentido, que a escola, no âmbito da educação para a saúde joga um papel fundamental na prevenção e promoção de saúde assim como desenvolver os conhecimentos e competências de uma vida saudável.

Palavras–chave: educação, educação para a saúde, escola, pedagogia social, saúde, solidariedade.

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iv Abstract

This document corresponds to a research elaborated in the doctoral program in Educational Sciences, the deepening of the area of Social Pedagogy at the Portuguese Catholic University, addressing the theme School as a place of education for health, based on a study case with a predominantly qualitative approach was carried out in the Secondary School of Nampula, in Nampula in northern Mozambique. Based on the general objective tried to understand the role of the school as a place of health education For this purpose, we developed an empirical study framed by a campobalizado the educational sciences in particular for Social Pedagogy. Data were collected primarily through the analysis of school normative documents, non-participant observation and semi-structured interviews. Later, the data were organized from the content analysis method which have highlighted some conclusions such as schools and teachers see themselves. Thus, given the demand for new functions suggest the need to extend and deepen their knowledge in areas other than those of his basic training and, second, to establish partnerships with healthcare professionals to jointly develop more interventions consistent at school on health. It was also highlighted the need for a strengthening of relations between education and health, it was possible to understand some points that need to be worked on and improved in these two sectors for better school education, not only by the institutions (schools and health centers ) but also for professionals who work in this area. In this sense, the school, as part of health education plays a key role in prevention and health promotion as well as developing the knowledge and skills of healthy living.

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Siglas e Abreviaturas

AEA/ ENF-Alfabetização e Educação de Adultos e Educação Não-Formal CE-Conselho de Escola

DNEA-Direção Nacional de Educação de Adultos DPS-Direção Provincial de Saúde

EpS-Educação para a Saúde

FRELIMO-Frente de Libertação de Moçambique IDH-ĺndice Desenvolvimento Humano

INE-Instituto Nacional de Estatística MEC-Ministério da Educação e Cultura

MEPT-Movimento de Educação para Todos de Moçambique MINED-Ministério da Educação

MMAS-Ministério da Mulher e Ação Social MISAU-Ministério da Saúde

ODM-Objetivos Desenvolvimento do Milénio OMS - Organização Mundial da Saúde

ONU-Organização das Nações Unidas ONG-Organização Não Governamental OPS-Organização Panamericana da Saúde

OSISA-Open Society Initiative for Southan Africa PÁG-Página

PARPA-Plano de Ação para a Redução da Pobreza Absoluta PESS-Plano Estratégico do Setor Saúde

PES-Plano Económico Social

SADC-Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral s/d-Sem Data

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vi SNE-Sistema Nacional de Educação

SNS-Sistema Nacional de Saúde SSR-Saúde Sexual e Reproductiva

UNESCO-Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNICEF-Fundo das Nações Unidas para a Infância

VIH/SIDA-Vírus de Imunodeficiência Humana /Sindroma de Imunodeficiência Adquirida

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vii Índice Geral

Introdução ... 1

PARTE I: REVISÃO DA LITERATURA ... 7

Capítulo I. Um olhar sobre a educação no século XXI ... 7

1. A educação e o desenvolvimento humano ... 7

2. A esperança destes tempos contemporaneos ... 8

Capítulo II. A educação e a escola em Moçambique ... 11

1. Etapas da educação em Moçambique ... 11

2. Políticas da educação em Moçambique ... 14

3. A escola ... 16

3.1. A escola como realidade social ... 19

3.2. A escola como necessidade de transformação ... 20

3.3. A escola na comunidade local ... 24

3.4. O papel da família na escola em Moçambique ... 25

3.5. O papel do professor na escola em Moçambique ... 26

3.6. Conselho de Escola em Moçambique: Uma mais-valia para a escola ... 28

Capítulo III. A saúde no contexto escolar ... 31

1. Conceito de saúde: Promoção da saúde ... 31

1.1. A promoção da saúde ... 35

2. Perfil e Políticas de Saúde em Moçambique ... 36

3. Qualidade de vida ... 41

4. Educação para a Saúde ... 42

5. A participação da escola na saúde escolar ... 53

Capítulo IV. Pedagogia Social, a escola e a educação para a saúde... 59

1. A Pedagogia Social breve história e seu interrelação com a escola e a educação para a saúde ... 59

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viii

PARTE II: Investigação Empírica ... 65

Capítulo V. Metodologia de investigação ... 65

1. Fundamentação do estudo ... 65

2. Objetivos do estudo ... 66

3. Delineamento da pesquisa ... 67

3.1. Opção Metodológica. ... 67

3.2. Considerações éticas ... 73

3.3. Caracterização dos sujeitos da amostra ... 74

4. Instrumentos de recolha de dados ... 77

4.1. A entrevista.. ... 78

4.2. A observação ... 80

4.3. Análise documental ... 82

5. Tratamento e análise da informação ... 82

6. Campo de estudo ... 85

6.1. Caracterização da cidade de Nampula ... 85

6.2. Caracterização da Escola Secundária de Nampula ... 86

Capítulo VI. Apresentação e análise dos dados ... 90

1. Apresentação das unidades de análise ... 90

1.1. Unidade de análise para os alunos ... 90

1.2. Unidade de análise para os professores e para o diretor adjunto pedagógico ... 91

1.3. Unidade de análise para os diretores ... 91

2. A categorização a partir das unidades de registo dos alunos ... 92

2.1. Perceção sobre educação para a saúde ... 92

2.1.1. Conceito sobre EpS ... 92

2.1.2. O papel da escola para manter a saúde dos alunos e as ofertas educativas sobre a EpS na escola... ... 93

(11)

ix

2.2. Perceção das ofertas de práticas e atividades para melhorar a saúde ... 95

2.2.1. Práticas e atividades para melhorar a saúde ... 96

2.2.2. Necessidade para melhorar os conhecimentos sobre a EpS e expetativas dos alunos... ... 97

3. A categorização a partir das unidades de registo dos professores e do diretor adjunto pedagógico ... 99

3.1. Perceção sobre educação para a saúde ... 99

3.1.1. Conceito sobre EpS ... 99

3.1.2. Doenças biológicas e sociais. Ofertas educativas relacionadas com saúde ... 100

3.2. Perceção sobre as ofertas de práticas e atividades para melhorar a saúde ... 104

3.2.1. Práticas e atividades para melhorar a saúde ... 105

3.2.2. Necessidades para melhorar os serviços de saúde ... 106

3.2.2.1. Melhoria do ambiente escolar. Curriculum escolar ... 109

3.2.3. Expetativas ... 114

4. A categorização a partir das unidades de registo dos diretores de educação e diretores de saúde ... 115

4.1. Perceção sobre a EpS. Estratégias e medidas para a EpS na escola ... 115

4.1.1. O papel da escola para manter a saúde dos alunos. Ofertas educativos relacionados com saúde... ... 116

4.2. Práticas e atividades para melhorar a saúde ... 119

4.2.1. Necessidades para melhorar os serviços de saúde ... 120

4.2.2. Expetativas ... 120

Capitulo VII: Discussão dos resultados ... 122

1. A voz dos participantes ... 122

1.1. Perceção dos alunos e professores sobre a EpS na escola ... 122

1.2. O papel e as ofertas educativas para o bem-estar na escola ... 124

(12)

x

2.1. Envolvimento da comunidade escolar. Influências da comunidade escolar ... 128

3. Caracterização das práticas de educação em saúde ... 133

4. Análise dos documentos regulamentares da escola ... 138

Capítulo VIII. Conclusões ... 142

1. Conclusões ... 142

2. Bibliografia ... 146

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Índice de Figuras PÁG Figura 1: Vista anterior da Escola Secundária de Nampula

………...88 Figura 1.1: Vista anterior da Escola Secundária de Nampula

...88 Figura 2: Vista lateral da Escola Secundária de Nampula

………...89 Figura 3: Vista interior de uma sala de aula na Escola Secundária de Nampula

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xii

Índice de Quadros PÁG Quadro 1: Caracterização dos alunos participantes do estudo

………...76 Quadro 2: Caracterização dos professores participantes do estudo

………...76 Quadro 3: Caracterização dos diretores participantes do estudo

………...77 Quadro 4: Categorias, subcategorias, fontes e técnicas de recolha dos dados

………...84 Quadro 5: Subcategoria: Conceito de EpS

………...93 Quadro 6: Subcategoria: O papel da escola para manter a saúde dos alunos e ofertas educativas relacionados com saúde

………...93 Quadro 7: Subcategoria: Ofertas educativas relacionados com saúde

………...94 Quadro 8: Subcategoria: Práticas e atividades promovidas na escola sobre EpS

………...96 Quadro 9: Subcategoria: Necessidades para melhorar os serviços de saúde e expetativas dos alunos

………...97 Quadro 10: Subcategoria: Expetativas dos alunos

………...98 Quadro 11: Subcategoria: Conceito de EpS

………...99 Quadro12: Subcategoria: Doenças

………...100 Quadro13: Subcategoria: Doenças sociais

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xiii

Quadro 14: Subcategoria: Ofertas educativos relacionados com a saúde

………...102 Quadro 15: Subcategoria: Práticas e atividades para melhorar a saúde

………...105 Quadro 16: Subcategoria: Necessidades para melhorar os serviços de saúde

………...107 Quadro 17: Subcategoria: Expetativas

………...114 Quadro 18: Subcategoria: Estratégias e medidas para a EpS na escola

………...115 Quadro 19: Subcategoria: O papel da escola para manter a saúde dos alunos

………...117 Quadro 20:Subcategoria: Ofertas educativas relacionados com saúde

………...117 Quadro 21: Subcategoria: Práticas e atividades para melhorar a saúde

………...119 Quadro 22: Subcategoria: Necessidades para melhorar os serviços de saúde

………...120 Quadro 23: Subcategoria: Expetativas

………...121 Quadro 24: Conceito de EpS pela voz dos alunos e professores

………...123 Quadro 25: O papel da escola para manter a saúde dos alunos e as ofertas educativas sobre EpS na voz dos alunos, professores e diretores

………...124 Quadro 26: O Envolvimento e Influências da comunidade escolar

………...129 Quadro 27: As práticas de educação em saúde

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xiv

Índice de Tabelas PÁG Tabela 1: Categorias, objetivos específicos e questões de partida na investigação

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Apêndices PÁG Apêndice 1: Consentimento Informado

………...160 Apêndice 2: Guião de Entrevista nº 1 Alunos-Alunas

………...161 Apêndice 3: Guião de Entrevista nº 2 Diretor adjunto pedagógico-Professores

………...163 Apêndice 4: Guião de Entrevista nº 3 Diretor Provincial de Saúde/ Educação ou Representante

………...165 Apêndice 5: Apresentação das entrevistas aos alunos da escola em estudo

………...167 Apêndice 6: Apresentação das entrevistas ao diretor pedagógico e professores da escola em estudo

………...171 Apêndice 7: Apresentação das entrevistas aos diretores de saúde e educação

………...180 Apêndice 8: Guião de observação para a investigação

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1 Introdução

O presente trabalho, intitulado: A escola como lugar de educação para a saúde: Estudo de caso, descreve uma investigação desenvolvida no âmbito do curso de Doutoramento em Ciências da Educação, pela Universidade Católica Portuguesa, na área de aprofundamento de Pedagogia Social, tendo como base um estudo empírico realizado na Escola Secundária de Nampula, na cidade e província de Nampula.

A escola é considerada um espaço primordial para o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades junto à sua comunidade, congregando, por um período importante, crianças e adolescentes numa etapa crítica de crescimento e desenvolvimento.

Uma população educada é fundamental para o desenvolvimento nacional, associada às boas políticas macroeconómicas, pelo que a educação tem que ser considerada um fator chave na promoção do bem-estar social e na redução da pobreza. A educação pode afetar a produtividade nacional e, assim, determinar padrões de vida e a habilidade das nações competirem na economia global, tal como recomenda a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. (UNESCO, 2000).

Educar envolve a formação de atitudes de solidariedade para com os outros, particularmente, para com aqueles com dificuldades de superação de atitudes egoístas. Por isso, educar implica fazer gestos de cortesia, preservar o coletivo, responsabilizar-se pelas próprias ações e discutir aspetos éticos envolvidos em determinada situação, devendo ser divulgada, através de instituições de ensino e meios de comunicação, para o bem-estar e desenvolvimento da nação.

Prevalece, hoje, a nível internacional, a crença no papel da educação como um dos pilares de desenvolvimento de um país. A pobreza global não pode ser reduzida, enquanto as pessoas em todos os países não tenham acesso a uma educação básica de qualidade.

Sendo biopsicossocial,1 o ser humano desenvolve-se, individualmente, e na relação com os outros, em comunidade. Ele tem o direito a aprender com os outros na comunidade e a fazer o bem comum a todos.

1 OMS (Organização Mundial da Saúde). (1986). Declaração de Ottawa sobre Promoção da Saúde.[Em

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A sociedade e a educação são processos que se interpenetram entre si e a transmissão de experiências de uma geração para outra constituiu, sempre, parte inerente da sociedade, garantindo o seu desenvolvimento sucessivo.

A educação universal gratuita ocupa um lugar central nos esforços do Governo de Moçambique para o desenvolvimento social. O desafio para o país é aumentar o número de crianças que frequentam a escola especialmente as meninas e atingir uma melhor qualidade e Educação para Todos.

A Constituição da República de 2004 e demais legislações, em vigor na República de Moçambique, estabelecem que a Educação é um direito e dever de cada cidadão e a razão pela qual o Estado promove a extensão da educação e da formação profissional contínua assim como a igualdade de acesso para todos os cidadãos, especialmente para as crianças. Dentro deste quadro, a educação básica é concedida a todos os cidadãos através da introdução gradual de ensino obrigatório e acesso à formação profissional. O direito à educação é alcançado através do Sistema Nacional de Educação (SNE), com os seus princípios estabelecidos na Lei n º 6/92, de 6 de Maio.

Conforme Gomes (2007) é a educação que, no seio da comunidade, proporciona aos novos membros a entrada de todos num mundo de hábitos, conhecimentos, valores que a partir de então desenvolverão, desde o contacto com outras realidades sociais até aos que permanecerão em seu substrato. A educação é uma realidade social que implica a formação do ser humano em todas as suas dimensões.

Recentemente, foi aprovado o Plano Estratégico do Setor da Educação 2012-20162, que promove a educação como um direito humano e um instrumento eficaz para a afirmação e integração do indivíduo na vida social, económica e política. Sendo dessa forma indispensável para o desenvolvimento do país e para o combate à pobreza.

Pode assim dizer-se que na sociedade moçambicana, é conferido valor à escola. É a instituição social à qual o Estado confiou a missão de conduzir o processo docente educativo que leva à formação e ao desenvolvimento de novas gerações para enfrentar, com sucesso, as exigências sociais e pessoais de cada fase da vida, no contexto em que se desenvolvem.

2

O plano setorial enquadra-se nos instrumentos de planificação, orçamentação e monitoria do sistema nacional de planificação do governo.

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Vive-se, uma época em que cada dia o mundo passa por transformações aceleradas e complexas, um tempo de esperança e de novas oportunidades para criar e fazer. Tempos de mudança. Esta mudança não pode deixar afetar uma instituição social como a escola e a sua relação com outras entidades sociais centrais da sociedade Moçambicana como é o caso da saúde, assim como a relação entre ambas. E, como refere Azevedo (2011:246) “a responsabilidade, é o foco! Solidariedade, é a ação! Na escola ou na família, em casa ou na rua, na comunidade ou na cidade, os focos são estes e a base é “educação de todos e ao longo de toda a vida”.

A evolução caminha no sentido de educação para todos. É nesse contexto que se faz referência a Conferência Mundial de Educação para Todos realizada pela Organização das Nações Unidas sobre a educação, no ano de 1990 em Jomtien, Tailândia. Ela tinha como foco a democratização no acesso à educação independentemente das diferenças de classes, raças ou credos e valorizar o envolvimento da sociedade na vida da escola (UNESCO, 2000).

Nessa perspetiva, entende-se que a educação não é apenas o que ocorre nas salas de aula, pois é um processo no qual confluem uma série de variáveis que influenciam o conhecimento que incide na aprendizagem ao longo da vida.

A escola é uma criação humana com um local e um tempo específico para que as suas atividades de ensino e aprendizagem se realizem de forma organizada. Ela deve estar mais aberta para a comunidade, ter a possibilidade de construir um cenário ótimo, que se pode considerar como saudável.

A escola é igualmente considerada um lugar de saúde, um cenário de ações criativas baseadas na participação de toda a sua comunidade escolar ao longo de toda a vida, facilitando a sua multiplicidade mobilizadora das melhores energias para a construção de um mundo diferente, mais humano e solidário. A escola é um dos lugares onde as atividades de educação para a saúde poderiam ser facilmente integradas no trabalho cotidiano.

Moçambique confronta-se, hoje, com o desafio de assegurar uma educação de qualidade; uma educação que veicule o saber, o saber fazer, o saber ser e o saber estar. Uma educação que faça os moçambicanos orgulharem-se do seu país e da sua história. Numa relação, escola /comunidade, solidária.

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A experiência da autora, como professora, médica e como pessoa, vem-lhe mostrando a enorme dificuldade que tem em lidar com o grande número de situações presentes na vida diária que envolvem, de alguma forma, conhecimentos e decisões relacionados com a saúde. Na escola não só se deve aprender o conteúdo curricular, mas também se deve aprender a ser e a estar. Portanto, para Guambe (2010), Moçambique centra-se numa educação, sobretudo, virada para o desenvolvimento humano.

A educação para a saúde é um processo educacional alargado cuja responsabilidade deve ser participada pelas comunidades, pelas instituições e pelos grupos sociais (Official Jornal, 1989). Ela requer aproximações interdisciplinares, relacionando a educação ambiental e a educação para a cidadania (Giordan, 2000), pois conhecendo melhor as suas próprias condições de saúde (incluindo as causas e consequências), os indivíduos poderão atuar como agentes do seu próprio desenvolvimento e não apenas como recetores passivos de ajuda (Bizzo, 2002).

Nessa ordem de ideias, estão a ser desenvolvidas numerosas iniciativas centradas na educação para a saúde, dirigidas para o indivíduo, para a família e para a comunidade, sendo a saúde e o bem-estar entendidos como elementos chave do desenvolvimento humano.

Este trabalho de tese surge a partir da constatação da necessidade de compreender a educação escolar e a educação para a saúde nas escolas, enquanto organizações socialmente inseridas e socialmente responsáveis.

A vida académica da autora tornou-a mais sensível a algumas questões, mais reflexiva e crítica em relação à vida cotidiana e mais atenta aos relacionamentos entre o aluno e a escola e como fazer mais. Ela olha para a escola como uma instituição que traz uma história consigo e que está integrada num contexto social; numa família que tem os seus valores, as suas vivências e as suas experiências. E, como tal, urge trabalhar no campo escolar da educação para a saúde.

A educação para a saúde é uma das novas áreas de conhecimento a que as escolas e os professores têm de responder, exigindo-se-lhes novos esforços, competências e saberes, tendo em conta uma intervenção, não só com os alunos, mas também com toda a comunidade envolvida, numa lógica de trabalho em parceria, para a concretização e dinamização de atividades nesta área, no meio escolar.

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A instituição escola é, agora, desafiada para novas responsabilidades que passam por proporcionar uma formação global às crianças e aos jovens, criando condições que tenham experiências diversificadas, potenciadoras do desenvolvimento de competências em diferentes domínios e do aprofundamento de conhecimentos. Simultaneamente, espera-se da escola uma estimulação da aprendizagem autónoma, de modo a formar jovens responsáveis, com espírito de iniciativa e capacidade para intervirem nas situações sociais.

Sendo assim, a presente investigação, define como questão de partida desta investigação: Em que medida a escola funciona como um lugar de educação para a saúde? e levanta algumas questões gerais que vão levar a uma melhor compreensão:

a) Em que medida podemos dizer que esta escola, em Moçambique, se encontra envolvida e influenciada nos programas de educação para a saúde?

b) Qual é a perceção dos alunos, professores, diretores de saúde e diretores de educação acerca das atividades de educação para a saúde e seu papel nas ofertas educativas para o bem-estar na escola?

c) Que práticas de educação para a saúde são promovidas na escola? Apresentação do Estudo

No sentido de operacionalizar a investigação este trabalho foi dividido em duas partes: a primeira relaciona-se com a fundamentação teórica composta por quatro capítulos; numa visão holística, o capítulo I nos oferece pistas para encontrar no século XXI novos pressupostos e propostas para a reflexão pedagógica como mitigação da pobreza global, sustentabilidade, cidadania planetária e dialogismo. No capítulo II, descreve a educação e a escola em Moçambique. Para além da peculiaridade de cada país em termos históricos, territoriais, populacionais, culturais e de modelo de desenvolvimento, Moçambique tem em comum este objetivo, como tem em comum o desafio de concretizar a ambição da escolaridade obrigatória, também enfrentando dificuldades comuns. A complexidade e holismo são palavras cada vez mais ouvidas nos debates educacionais. Nesta perspetiva, no capítulo III, faz-se uma abordagem sobre a saúde, incluem-se as reflexões do saber, do conhecimento, entorno do ser humano, valorizando o seu cotidiano, a singularidade, e outras categorias como: educação para a saúde, promoção de saúde, qualidade de vida, e participação da escola na saúde escolar. No capítulo IV descreve a abrangência da Pedagogia Social com suas práticas de

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solidariedade social ante os novos desafios no trabalho comunitário para conhecer o humano e o ser humano.

A segunda parte é constituída pela fundamentação empírica a partir de quatro capítulos onde é desenvolvida a parte metodológica, se analisa e discutem-se os resultados. Nessa parte do trabalho, estão também as conclusões e recomendações. Por fim, estão as referências bibliográficas, os apêndices que englobam as entrevistas utilizadas para a amostra estudada e outros documentos considerados relevantes para a investigação. No que se refere a citações feitas no corpo de texto, as traduções das obras consultadas são da sua responsabilidade.

Deu para ver que desde a Pedagogia Social se pode atuar na educação para a saúde nas escolas a favor dos direitos dos estudantes para uma educação com qualidade e saudável, a partir desta ciência com uma visão humanística, com caminhos solidários e com uma ampla capacidade de transformação em cada um de seus atos, através da comunicação como elemento revolucionador do bem comum.

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PARTE I: REVISÃO DA LITERATURA

Capítulo I. Um olhar sobre a educação no século XXI

1. A educação e o desenvolvimento humano

Tendo como referência as recomendações das Nações Unidas, cresce a nível internacional, a crença no papel da educação como um dos pilares de desenvolvimento de um país. Acredita-se ainda que a pobreza global poderá ser reduzida se todas as pessoas, em todos os países, tiverem acesso e poderem-se beneficiar de uma educação de qualidade é hoje uma realidade tal como os grandes passos que fazem história na educação no século XXI.

Antunes (2008) relaciona a educação ao conceito de desenvolvimento humano como um processo global de satisfação de necessidades, realização e transformação de projetos de vida. Um conceito que vem ao encontro das metas da sociedade educativa do século XXI, referentes a uma educação para todos ao longo de toda a vida.

O paradigma de uma educação com qualidade envolve a formação de atitudes de solidariedade, de preservar o coletivo e de responsabiliza-lo pelas próprias ações. Dessa forma a educação deve ser disseminada, de modo sistemático, através das escolas, adaptando-se as metodologias e capacitando continuamente os docentes, inclusive os alunos, os familiares e a sociedade, simultaneamente, para o bem-estar e desenvolvimento da nação.

Refletir sobre a educação na observação de aspetos relevantes, implicações e a maneira de fazer reflexão-ação na perspetiva de mudar a postura no desenvolvimento do aluno e prepará-lo para o exercício da cidadania, assegurando os seus direitos e exercendo os seus deveres para além de avolumar as suas habilidades, é fundamental, entender, como se processaria a educação no âmbito das ações do governo e como estas ações se repercutiriam, no dia a dia das escolas, envolvendo a grande variedade de valores, crenças, hábitos e costumes da comunidade escolar.

Neste espaço que compreende diferentes atores e dinâmicas formativas, as influências educativas da escola deveriam transcender as referências das aulas envolvendo: o suporte legislativo, a flexibilização curricular, que estaria, intimamente ligada à atitude

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com que se perspetiva, adequação dos sistemas de comunicação oral e escrita e em particular os professores, se sintam capazes de responder adequadamente ao desafio que a diferença representa; o papel do professor é fundamental para uma educação de qualidade para a composição de uma sociedade democrática, justa e solidária.

Nessa perspetiva seria necessário refletir acerca da formação do professor tendo em conta que no cotidiano da sala de aula, são os executores das propostas que surgem dos grandes centros, que têm o poder de decidir, como é o caso da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para se pensar nesta atuação do professor seria necessário avaliar o grau de responsabilidade do Estado em fornecer os instrumentos pedagógicos por meio de processos contínuos de formação; assim como a responsabilidade dos institutos de formação de professores na qualificação de profissionais preparados para enfrentar as circunstâncias do cotidiano apresentados pelas relações económicas, políticas e culturais que se estabelecem na sociedade como diziam Marx e Engels (1845)3 “Os homens são aquilo que produzem.”

A educação ajuda as escolas no âmbito da sua missão educativa e numa perspetiva de articulação da Pedagogia Social e da Pedagogia Escolar. Ao mesmo tempo, a escola deve atender à formação multisetorial da personalidade do aluno, a parte outorgante do processo, a família, instituição a que se deveria dar especial atenção devido ao facto de ser esta o motor das primeiras influências e de onde começa o processo de educação.

Tanto a educação escolar como a educação familiar e social, em geral, têm um papel central nas sociedades de hoje, pela possibilidade e oportunidade que representam de favorecer este desenvolvimento humano personalizado de todos e de cada um, ao longo da vida e com a vida (Azevedo, 2011:133).

2.A esperança destes tempos contemporaneos

Segundo Liberal (2005), a escola é um dos alicerces da educação, da cidadania e da formação de uma nação. É por meio dela que a criança inicia parte da sua educação, sua integração e inclusão social, seus relacionamentos e seus potenciais, ou seja, relações complexas que se estendem por toda a vida.

3 A ideologia alemã. [Em linha].Disponível em

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Assiste-se à emergência de uma postura científica que coloca o discente diante da complexidade do mundo real.

Articulando-se a educação escolar percebe-se um certo mecanismo de fortalecimento e implantação de política mais transversal, integrada e intersetorial, que proporia a articulação entre as escolas e a comunidade em ações que trouxessem bem-estar e qualidade; faz mais sentido se colocar em perspetiva como educação abrangente. Isto significa que a escola, para além de propiciar aos discentes um espaço comum teria de proporcionar-lhes, também, oportunidades para que façam aprendizagens significativas. A educação não representa a simples aceitação do aluno na escola com suas diferenças socioculturais, mas o reconhecimento da diversidade como uma condição humana. Assim, coloca para a educação o desafio de se avançar no processo de educação de qualidade.

Todos aumentam os seus conhecimentos intelectuais através da mesma sequência de estádios. De acordo com Sprinthall e Sprinthall (1993), ambientes estimulantes e ricos, tal como ambientes ativos desde os primeiros anos são fundamentais e indispensáveis para o desenvolvimento do indivíduo. Vygotsky (1987), por seu turno, veio fortalecer a necessidade da interação, como catalisador da aprendizagem, consequentemente, do desenvolvimento.

A educação do século XXI deve ser valorizada evolutivamente por todos e, ao longo de toda a vida, pela sua conotação e repercussão social para as famílias e para as escolas, conforme recomenda a UNESCO (Relatório Delors, 1996).

Em termos globais, o compromisso educacional do século XXI orienta-se no sentido da promoção de uma cultura social e cívica que persiga os valores proclamados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), visando a participação de todos na construção de sociedades cada vez mais democráticas.

Como refere o Relatório Jacques Delors, “parece impor-se cada vez mais o conceito de educação ao longo da vida, dadas as vantagens que oferece em matéria de flexibilidade, diversidade e acessibilidade no tempo e no espaço. É a ideia da educação permanente que deve ser repensada e avaliada. É que, para lá das necessárias adaptações relacionadas com as alterações da vida profissional, ela deve ser considerada como uma construção contínua da pessoa humana, dos seus saberes e aptidões e da sua capacidade de discernir e agir” (Delors, 1996:18).

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Vive-se, atualmente, num mundo caracterizado, à escala quase global, por uma quantidade de conhecimentos científicos e técnicos geradores de profundas mudanças a nível social, político, económico, cultural e a nível pessoal. O grande vínculo deste novo mundo é precisamente a retro influência que essas mesmas mudanças exercem sobre os conhecimentos. É uma espécie de dialética entre conhecimento e transformação.

A educação traduz, necessariamente, uma ação. A educação corresponde, assim, à ação que decorre no processo e ao consequente resultado desse mesmo processo. A educação transforma os sujeitos, dotando-os de novas competências e valores. Uma pessoa humana que se modifica, mas que se sente a mesma pessoa. Em consequência da ação, já não é a mesma. É apenas na natureza do ser humano, mas não no conteúdo da pessoa humana, no que diz respeito ao pensamento, ao sentimento e a educação transforma os sujeitos, dotando-os de novas competências e valores (García Hoz, 1977).

Guerra (2005) defende a importância primordial da educação, e a necessidade de incluir os sentimentos e o mundo no coração da escola. Educar será, segundo defende, a tarefa mais difícil desempenhada pelo ser humano na história: trabalhar com a mente e com o coração das pessoas.

Reconhecendo que a educação desempenha um papel crucial no desenvolvimento humano, as sociedades democráticas do século XXI apostam numa educação integral para todos.

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Capítulo II. A educação e a escola em Moçambique 1. Etapas da educação em Moçambique

Moçambique localiza-se na costa oriental da África Austral, fazendo fronteira com a Suazilândia, África do Sul, Zimbabué, Zâmbia, Malawi e Tanzânia. Os seus 800 mil quilómetros quadrados são territorialmente organizados em 11 províncias: Cabo Delgado, Gaza, Inhambane, Manica, Maputo, Maputo-cidade, Nampula, Niassa, Sofala, Tete e Zambézia. Em 2012, a população foi estimada em 23.515.934 habitantes e cresce a cada ano, cerca de 2,3 %. Segundo a Open Society Initiative for Southan África (OSISA) cerca de 70,2 % da população vive nas zonas rurais e tem a agricultura como o principal meio de subsistência. Entretanto, o país está rapidamente a urbanizar-se a uma taxa de cerca de 4 % por ano (INE-Instituto Nacional de Estatística, Censo 2007). De acordo com Programa da ONU, o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) medido em 2007 indica que Moçambique está entre os países com maior taxa de incidência de pobreza (INE- Instituto Nacional de Estatística, Censo 2007). Mais de um terço da população vive com menos de um dólar americano por dia.

De acordo com os dados do INE do Censo de 2007-2009, a esperança de vida ao nascer é estimada em 47,1 anos para homens e 51,8 anos para mulheres. A população adulta (15-49 anos) constitui 29,4% da população total, 46 % da população é de 14 anos de idade ou menos e a idade média é de 16,8 anos.

Após o fim da guerra civil, Moçambique tem feito progressos em direção aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Em relação à educação, na visão do Instituto de Estatística da UNESCO em 2009, as taxas de matrícula líquida primária para meninas foi de 88% e de 93% para os meninos, com uma taxa total de 91%, em comparação com 53% para as meninas e 61% para meninos em 2002.

Algumas das causas associadas às elevadas taxas de abandono da escola principais incluem principalmente a pobreza a incapacidade de pagar o custo de material escolar), gravidezes e casamentos precoces, tradição, e baixa auto-estima.

A província de Nampula tem cerca de 4 milhões de habitantes, dos quais, mais de 1,5 milhão são crianças. Enquanto a população de crianças é proporcionalmente elevada, a falta de escolas restringe o acesso à educação. A maioria das crianças não vai à escola e os meios de subsistência têm como base a pesca e a agricultura. A taxa de abandono

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escolar é de cerca de 46%, uma das mais elevadas do país (INE-Instituto Nacional de Estatística, Censo 2007).

Lembrar que Moçambique tornou-se independente de Portugal em 25 de Junho de 1975, recebendo a designação de República Popular de Moçambique. O primeiro governo, dirigido por Samora Machel, foi formado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), a organização política que tinha negociado a independência com Portugal e que seguia uma orientação socialista.

Um dos objetivos deste primeiro governo de Moçambique independente era restituir ao povo moçambicano os direitos que lhe tinham sido negados pelas autoridades coloniais. Com esse propósito, em 24 de Julho de 1975, o governo declarou a nacionalização da Saúde, da Educação e da Justiça.

Kant (1983) refere que a educação é o problema maior e o mais difícil que pode ser proposto ao homem. Por sua vez, Mazula (1995) identifica três etapas distintas da educação em Moçambique deixando a Educação Tradicional (antes da colonização), baseada na filosofia Bantu, caraterizada pela dependência ontológica do muntu da natureza, das outras e dos deuses.

Mazula (1995) diz que a 1ª etapa começa com a educação colonial (1930-1974). Esta etapa tinha por objetivo rotular o Homem colonizado (ação civilizadora); assegurar a hegemonia política e a direção cultural da classe colonial dominante caracterizada pela colaboração entre o Estado e a Igreja.

A 2ª etapa é a da educação nas zonas libertadas (1964-1974). É um processo de construção de um projeto de mudança social caraterizado fundamentalmente sob o princípio da negociação e rutura com o sistema da educação colonial e com os aspetos negativos da tradição (base do sistema nacional da educação). Essa teve por objetivos, mobilizar e organizar as massas para a luta eminente; formar o Homem Novo, com nova mentalidade; desenvolver e consolidar uma sociedade nova, que oriente atitudes e práticas para a construção de um Moçambique unitário, internacionalista, económico, cultural, política e militarmente autossuficiente, próspero e independente. Um sistema educativo virado para a educação formal, alfabetização e escolarização de adultos e para a formação de professores.

A 3ª etapa é a da educação de conquistas e desafios (1975-1985). É a fase de maiores mudanças no sistema de educação, em Moçambique. Na tentativa de reencontrar a

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moçambicanidade, de sair do analfabetismo e da pobreza, Moçambique define alguns objetivos e metas a alcançar:

 Expansão do acesso à educação;  Melhoria da qualidade de educação;

 O reforço da capacidade institucional, financeira a política com vista a assegurar a sustentabilidade do sistema (ensino obrigatório).

Para Mário (2002), a 1a etapa começa em 1975, após a proclamação da independência nacional e estende-se até meados da década de 80. Tem como marco de referência a consagração da Educação de Adultos como um dos pilares do Sistema Nacional de Educação.

Esta é uma etapa caracterizada por um processo dinâmico e multifacetado de mobilização popular para as tarefas de reconstrução nacional, de construção da unidade nacional e de afirmação da identidade moçambicana. Com efeito:

Realizaram-se sucessivas campanhas de alfabetização e educação de adultos em todo o território nacional.

Um conjunto de ações planificadas e concertadas de educação e formação de adultos junto de determinadas empresas, comunidades ou setores sociais definidos como estratégicos para o desenvolvimento socio-económico do país pelo governo foram desencadeadas (2002: 130).

A 2a etapa tem início nos meados da década de 80 e prolonga-se até 1995. Ela é caracterizada por uma redução significativa das atividades de alfabetização e educação de adultos, devido à intensificação da guerra de desestabilização, então movida pelo regime do “apartheid” da África do Sul. Para além da destruição de infraestruturas e perda de vidas humanas, a guerra esteve na origem direta do afluxo de milhares de refugiados moçambicanos nos países vizinhos e de milhões de deslocados em todo o país. Assim, a alfabetização e a educação de adultos passaram a estar confinadas às grandes cidades. A única exceção foram as iniciativas de organizações não governamentais, religiosas e de indivíduos que mantiveram os programas em pequena escala, tendo produzido, em muitos casos, programas inovadores, como a alfabetização com base em línguas locais. Esta fase culminou com a extinção da Direção Nacional de Educação de Adultos (DNEA), cujas atividades e pessoal foram integrados na Direção Nacional do Ensino Básico.

A 3a e última etapa começam em 1995 e estende-se até aos dias de hoje. Ela pode ser caracterizada como um processo de redescoberta e do resgate da alfabetização e educação de adultos “no contexto de paz e estabilidade social que o país vive, e como

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instrumento indispensável de um desenvolvimento económico e social sustentável, centrado no homem e na mulher moçambicanos” (Mário, 2002:130).

2. Políticas da educação em Moçambique

O conceito de Políticas Educativas conforme Stoer (1998), quer dizer „„processo da política‟‟ e policy que, para o mesmo autor, significa „„o produto desse processo‟‟, isto é, „„as políticas em si”. Este autor refere ainda que constitui preocupação o estabelecimento de balizas, no sentido de se determinar o que é (im) possível fazer, neste caso no domínio da educação. Ou seja, o que deve ser incorporado ou excluído na (re) definição da agenda para a educação.

Castel-Branco (2011:4) refere-se à educação como:

Parte orgânica da construção de ideologias e relações de poder, e a escola é um campo de treino para inserção social num contexto económico e político concreto, quer reproduzindo as relações e atitudes que se esperam necessárias para a manutenção das estruturas, relações e processos económicos e políticos dominantes, que desafiando tais estruturas, relações e processos.

Neste ponto de vista, a educação possui uma relação estreita com a integração social de quem estuda, o que faz com que prevaleça a ideia de que, quanto mais as pessoas tiverem a oportunidade de estudar e obtiverem altos graus de habilitação literária, tanto mais oportunidades terão de ascender a altos cargos profissionalmente.

A educação básica consta de vários instrumentos legais e de políticas de desenvolvimento do país:

1). Dentre eles destacam-se a Constituição da República de Moçambique, que define a educação como um direito de todo o cidadão (Artigo 88.o) e como um caminho para a unidade nacional e a erradicação do analfabetismo.

2). O domínio da ciência e da técnica, bem como a formação moral e cívica dos cidadãos (Artigo 113o).

3). O Programa do Governo para 2000-2004, que preconizava o relançamento da alfabetização, dando-lhe uma dimensão global e realística, e que tinha como objetivo a redução do analfabetismo em 10%.

4). A Lei nº 6/92 que atualiza o Sistema Nacional de Educação (SNE) em conformidade com o novo modelo económico e político consagrado na Constituição de 1990.

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5). O Plano de Ação para a Redução da Pobreza Absoluta, 2001-2005 (PARPA), que define a alfabetização e a educação de adultos como um dos objetivos primordiais do programa educacional.

6). A Estratégia Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos e Educação Não Formal (AEA/ENF), cujo objetivo principal é a erradicação do analfabetismo no país. 7). O Programa do Governo 2005-2009 que retoma o objetivo de redução do analfabetismo em 10%.

Todos os documentos normativos e de política acabados de citar podem ser encarados como uma manifestação da vontade do governo e da sociedade, como um todo, em conferir à educação um espaço e um papel cada vez mais ativo na redução da pobreza e no desenvolvimento do país, adequando-se, assim, aos compromissos internacionais assumidos pelo país a partir das Declarações de Jomtien e de Dakar, entre outros.

A noção de educação contínua e permanente inserida nessa definição, remete à perspetiva da Aprendizagem ao Longo da Vida um conceito basilar em pedagogia social como foi dito no primeiro capítulo. Ela vai funcionar como pré-requisito para o desenvolvimento humano e para os desafios advindos de uma economia globalizada e das demandas individuais e coletivas requeridas num mercado de trabalho em constante mudança.

Esta perspetiva é retomada na proposta de Plano Estratégico da Educação do Ministério da Educação (MINED, 2005), em que se sugere uma relação direta entre a redução dos índices de analfabetismo, o desenvolvimento sustentável e a diminuição da pobreza. É consensual que a questão da pobreza não é meramente educacional. Porém, a educação deve servir como o primeiro instrumento para um redireccionamento estrutural, tanto político como económico.

No plano estratégico de educação (2012-2016:16), assinala-se que:

O retorno socioeconómico da educação para o indivíduo, para as família e a nação em geral tem estado nas agendas políticas de desenvolvimento nacional e internacional, e motiva os pais e as famílias a enviar os seus filhos para a escola. A Educação é, por excelência, um instrumento crucial para o combate à pobreza, uma vida mais saudável, para sustentar o crescimento económico, bem como para reforçar a democracia e a participação de todos os cidadãos nas agendas nacionais.

A iniciativa preconiza o aumento das taxas de conclusão do nível primário, a redução dos custos de construção de escolas, o apoio aos órfãos do Vírus de Imunodeficiência Humana /Síndroma de Imunodeficiência adquirida (VIH/SIDA), o recrutamento de

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professores, o diálogo entre os doadores e o governo, a capacidade de planeamento e implementação de ligações multisetoriais.

A nível do Plano Estratégico do Movimento de Educação para Todos de Moçambique (MEPT) destaca-se o papel dado à alfabetização como chave para o desenvolvimento, nomeadamente nos seguintes pontos:

Visão do MEPT: O (MEPT 2003: 17) pretende participar na contínua construção de um país em que todas as crianças, jovens e adultos tenham acesso a uma educação básica de qualidade, sem qualquer tipo de discriminação. Objetivo específico 8.2(MEPT 2003:21): incentivar os membros a realizarem ações concretas relativas ao envolvimento de um número crescente de mulheres e raparigas participando na educação formal, não formal e alfabetização e educação de adultos.

As atividades previstas no Plano Estratégico do MEPT não indicam claramente o que fazer a nível da alfabetização de adultos. Este dilema não é exclusivo de Moçambique. Estudos como Torres (2003) mostram que a alfabetização tem sido relegada ao segundo plano no âmbito da Educação para todos, principalmente, a partir da iniciativa acelerada sobre Educação para todos (Fast-Track Iniciative), cujas atividades focalizam a igualdade de género e a conclusão universal do nível primário, levando à constante exclusão de jovens e adultos analfabetos.

3. A escola

Na perspetiva de Guedes (2009) o termo escola provém do grego “scholé”, cujo significado é lugar de ócio, espaço em que os homens livres se juntavam para refletirem. No mundo moderno, scholé, deu origem ao termo escola que se refere ao “estabelecimento público ou privado onde se ministra sistematicamente, o ensino coletivo” (Ferreira, 2005:791).

A escola é uma instituição orientada para a preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe instrumentos por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade (Libânio 1986, citado em Ferreira e Aguiar, 2004:132).

Tendo em conta que é na escola que a criança se forma nas suas estruturas mentais básicas, ela torna-se um espaço peculiar e relevante, na medida em que socializa, forma e educa, o que constitui a sua finalidade específica. Dos espaços da vida por onde uma criança passa, a escola assume especial importância pois é dentro dela que, num determinado período temporal, ela aprende a ser aquilo que a sociedade espera dela.

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A escola deveria diferenciar-se, enquanto instituição social, por promover, dentro do seu âmbito de ação, atividades que não seriam desenvolvidas com a mesma qualidade e intensidade fora dela. A escola deve ser um local de convívio, de troca de experiências e saberes cotidianos entre os indivíduos, proporcionando na sua comunidade, a integração, a troca, o respeito mútuo, a capacidade de ouvir. Portanto, é evidente que estes atributos sejam importantes e essenciais à vida em sociedade e para o bem da sociedade.

Vista na sua complexidade, a escola é considerada um sistema aberto composto por elementos em interação e agrupados em diferentes subsistemas, tais como a turma, o corpo docente, a direção e os funcionários. Estes estão em permanente interação com outros sistemas fundamentais para a sua própria existência, como a família, no enquadramento da comunidade envolvente.

Para Santos (1994), a escola é uma instituição social, uma unidade vivencial, uma estrutura, uma organização, um sistema complexo de comportamentos relacionais. A escola é um vasto sistema social que tem vindo a ser construído em função das necessidades da sociedade e dos significados culturais vigentes, cuja existência está ligada à existência da própria família, num determinado contexto e tempo social.

Pode-se acrescentar que a escola é uma organização social que se concretiza em cada instituição escolar. E assim, dentro da escola, cada escola é única na sua individualidade e na relação que constrói com outros sistemas com quem está continuamente em interação.

Para Palazzoli et al. (1987), a escola, enquanto complexo escolar, gerido de forma centralizada, constitui um vasto sistema no qual se articulam diferentes subsistemas que se comunicam continuamente no contexto específico, que é a própria escola. Como qualquer sistema, a escola e qualquer um dos seus subsistemas, caracteriza-se pela totalidade, a auto regulação e define-se pela sua capacidade auto organizativa, que lhe confere individualidade própria (Palazzoli et al., 1987).

Cada subsistema, no interior da organização da escola, tem funções específicas e encontra-se submetido às suas próprias finalidades e às suas próprias regras (Evéquoz, 1987c, Curonici & McCulloch, 1997).

A grande contribuição da abordagem sistémica na escola “consistirá em esclarecer a dinâmica das „„relações entre as relações‟‟; obter-se-á, assim, uma maior compreensão

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do complexo inter-relacional da comunidade educativa, que permitirá modificações neste conjunto” (Lévy-Basse & Michard, 1988b:8).

Pode-se, ainda, acrescentar que a escola é um sistema aberto e interativo, não só numa dimensão visível e comportamental, mas também simbólica, pois é definida em função das representações mentais que os indivíduos têm da realidade (Santos, 1999). Assim, no espaço e no tempo da escola a “significação emerge enquanto produto relacional” Alarcão, (2007:86).

A atividade da escola centra-se na comunicação e, por conseguinte, tudo o que se passa, quer a nível analógico ou digital, deve ser posto em relação ao contexto, não só no interior da escola, mas também na família e na sociedade, constituindo-se, desta forma, um sistema alargado de comunicação (Alarcão, 2002, 2007; Benoit et al., 1988; Ricci, 1984), onde se entrecruzam e se constroem diferentes histórias de todos e de cada um. Neste seguimento, a escola funciona como ponto de encontro de todos, e continua a ser a preparação das crianças para seu futuro, levando em consideração uma variedade de aspetos que esse futuro envolve de tal forma que servir como palco para mudanças na forma de se pensar e de construir a saúde para todos dentro de seu contexto social. “As funções da escola são sobretudo transmitir conhecimento e promover a aprendizagem, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do sujeito e a sua socialização” (Benoit et al., 1988; Sousa, 1998; Relvas, 2006).

Como refere Navarro (2000), o objetivo que desafia a escola é o de que tanto alunos como professores sejam capazes de ligar, cada vez mais e mais facilmente, os conteúdos das disciplinas à vida.

Destaca-se, assim, o papel da escola, que se vem tornando, cada vez mais importante, na formação de hábitos saudáveis. Nesse ambiente, deve haver espaço para educadores e alunos discutirem questões sobre saúde. Mas, para isso, é fundamental que os educadores tenham formação e conhecimento suficientes sobre a saúde.

Durante os anos escolares, são formadas características da personalidade e diversos aspetos relacionados com a saúde e com os comportamentos de risco. A saúde do indivíduo é condicionada, em grande medida, pelo ambiente familiar que lhe satisfaz as necessidades imediatas e básicas de alimentos: abrigo, educação, cuidados de saúde e valores morais e espirituais necessários à formação do caráter.

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A sensibilização e a formação do corpo docente têm importância fundamental para que a educação para a saúde exista, de facto, e seja bem trabalhada dentro das escolas. De acordo com Leonello e L Abbate ( 6), o educador trabalha diariamente com os alunos de ensino fundamental e médio, sendo essencial a sua atuação consciente e crítica na formação dos estudantes. Para isso, o professor tem de estar bem preparado, bem formado pelos cursos de graduação das universidades.

3.1. A escola como realidade social

Em Moçambique, no período entre 1975-1992, o slogan político “fazer da escola a base para o povo tomar o poder”, traduzia a missão da escola e da sociedade em tornar o espaço outrora estratificado, num lugar de acesso massivo.

Acreditava-se que o desenvolvimento económico e social do país dependia da escolarização massiva da população. Esta ideia foi defendida nos termos em que a revolução moçambicana impunha o fim das relações de classe, a divisão tribal o étnica, a discriminação racial e a busca da unidade nacional.

Na verdade, o sistema educativo em Moçambique procura constituir um espaço para todos, crianças, jovens e adultos, independentemente do estrato social a que os intervenientes pertencem, cumpriu-se através dessa forma de superação dos privilégios que um grupo de indivíduos detinha no período colonial, instaurando o direito à educação para todos.

A visão sociocultural da educação assume cada vez mais um papel de referência. Esse interesse deve-se a diversos fatores, entre eles, o lugar de destaque e a aceitação, cada vez mais generalizada, de uma visão dos processos escolares de ensino e aprendizagem apoiada nas teorias socio construtivistas.

A aprendizagem é concebida como um processo de construção, com um caráter intrinsecamente social, interpessoal e comunicativo. E o ensino é visto como um processo complexo de estruturação e orientação, mediante diversos apoios e suportes dessa construção (Coll, 2004; Pontecorvo, 2003 e Zucchermaglio, 2005). É, portanto, um processo no qual a diversidade presente em todos os alunos representa um papel exclusivo e absolutamente necessário como fonte de desenvolvimento cognitivo e social.

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Na perspetiva de Belluzzo (2001) viver numa sociedade multicultural exige que o conceito de educação ultrapasse a fronteira espácio-temporal, proporcionando uma aprendizagem ao longo da vida. Isto é, facultando a cada indivíduo a capacidade de saber conduzir o seu destino, num mundo onde a rapidez das mudanças se conjuga com o fenómeno da globalização.

Nesse sentido, a escola deverá transformar-se num lugar mais atraente para os alunos, fornecendo-lhes as ferramentas para uma compreensão verdadeira da sociedade de informação. Assim, a escola não pode mais alhear-se da realidade social marcadamente pela tecnologia. Efetivamente, fazendo parte de uma sociedade em constantes mudanças, a escola, enquanto instituição social, é pressionada no sentido de acompanhar as transformações que ocorrem dentro dela, confrontando-se com novos desafios.

A escola é pressionada para a busca de respostas a vários problemas da sociedade. Ao mesmo tempo, no seu meio, muitos dos seus atores, sobretudo os professores, sentem a necessidade de intervir na resolução desses problemas, para poder desempenhar as suas funções educativas. É neste encontro de funções entre a educação e os outros serviços, nomeadamente, os da saúde, que surgiria a educação para a saúde nas escolas.

A educação desempenha um papel fundamental para a construção da cidadania e para a aquisição de competências que interagem com as condições para uma vida saudável na terra, em geral, e nas zonas de pobreza absoluta, em particular. Tal como a saúde, são recursos para a vida, potenciando-se mutuamente. Cada cidadão tem um percurso de vida com implicações no outro e no espaço que o rodeia.

3.2. A escola como necessidade de transformação

A maioria da população ativa moçambicana tem uma escolaridade baixa ou é analfabeta. Apesar do crescente desenvolvimento socioeconómico, a família não chega a satisfazer as expectativas sociais quanto ao cumprimento de sua gestão educativa. Há problemas comuns às famílias, as situações típicas de violência, de abuso infantil, de negligência emocional, o sexismo, a incompreensão, os interesses e os desejos dos filhos, assim como a impossibilidade de atender as suas necessidades afetivas, as formativas e académica. É a escola que deve assumir um papel importante na formação da personalidade dos adolescentes, pois isso é uma das tarefas sociais que ela deve cumprir.

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No ponto de vista de Rodríguez (2005), a escola deveria converter-se numa fonte diagnóstica, não só descritiva, mas sim com força casual, que permite a orientação educativa da família e da comunidade académica, servindo-lhes de referência para auto educarem-se, diagnosticar e avaliar o comprimento das suas funções e da qualidade de sua função educativa.

A escola está a afastar-se da realidade dos seus atores e do contexto social que o rodeia, desconsiderando as demandas não ditas, mas percetíveis (para aqueles que se predispõem). Cada vez mais, as crianças e os adolescentes a sentem como um espaço alheio, não acolhedor e ao qual não pertencem. Por isso, se crê que as escolas, em particular as instituições de educação secundária, devem abrir-se às novas subjetividades de adolescentes, às novas culturas juvenis, permitindo aos jovens apropriarem-se dos espaços, impregná-los de seus códigos estéticos, desenvolver iniciativas próprias e participar em diferentes níveis de decisão institucional (Meresman et al., 2008:27).

Na perspetiva de satisfazer as expectativas que a sociedade deposita na escola como instituição educativa de forma crescente, esta deveria converter-se no centro a partir do qual, transmitir-se-iam as melhores influências para os adolescentes e jovens que se formam na comunidade a que pertence a escola.

Cada escola tem características únicas que as diferencia das outras: o bairro, a região onde está localizada, são destintos e por conseguinte os estudantes que as frequentam também têm características diferentes. Isso determina a necessidade de ter estes elementos em consideração ao organizar o processo educativo. Daí que a escola seria chamada a converter-se em organizadora e coordenadora de todo o sistema de influência educativa, o qual representaria uma importante mudança, uma vez que significa, para além dos limites da parte de construção de escolas do ensino, estabelecer uma cooperação sistemática com as outras instituições.

Para Blanco (2001), a educação é um fenómeno complexo que se manifesta em múltiplas formas, como praxis social e como atividade diversa de todos os membros da sociedade de forma organizada. As influências educativas da escola deveriam transcender as referências das aulas, porque o processo de formação da personalidade é multisetorial, por conseguinte, a escola deveria atender as necessidades educativas dos que intervêm neste processo. Uma delas é a família, instituição a que se deveria dar

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especial atenção devido ao facto desta ser o motor das primeiras influências e de onde começa o processo de educação dos futuros educandos.

A responsabilidade da educação e da formação é reconhecida como uma das funções mais importantes da sociedade. Na verdade, não é possível conceber o desenvolvimento da humanidade, nem a sua própria história, se não for, de uma forma ou de outra, a transmissão da experiência anterior para as novas gerações; se não tiver encontrado os meios e as vias para transmitir de anciões para jovens, de pais para filhos, a herança cultural contida nos instrumentos de trabalho, as técnicas e habilidades, as tradições e conhecimentos, os hábitos e os modelos educativos.

O desenvolvimento de ações de educação para a saúde numa perspetiva dialógica, participativa, criativa de modos de cuidado mais humanizados, compartilhados integrais e solidários, requereria abordagens diferentes ao que tradicionalmente tem sido utilizado. Dever-se-iam realizar ações de forma planificada, consciente e sistemática, o que colocaria a escola de forma muito favorável e, ocasionalmente, com grandes vantagens sobre a própria família que, contribuiria no processo de socialização e de formação do indivíduo. Caberia ao professor a responsabilidade de se fazer cada dia mais capaz de realizar essa tarefa enorme que a sociedade deposita em suas mãos dentro da sua escola.

Apresentar-se-ia a educação para a saúde como portadora da coerência política da participação social e das possibilidades teóricas e metodológicas para transformar as tradicionais práticas em práticas pedagógicas que levem à superação das situações que limitam o viver com o máximo de qualidade de vida que todos nós merecemos.

Ainda, realce-se que não é só a escola que deve sofrer mudanças, mas também o perfil do professor.

O professor, deve possuir uma experiência profunda e necessária em termos de comunicação e relações humanas, relevando um novo perfil capaz de acompanhar as mudanças da contemporaneidade em marcha e ser um gestor de um saber coletivo. Para Teixeira (2000), o modelo de educação para a saúde assentar-se-ia nos princípios - de tolerância, de respeito pela diferença, de solidariedade e de muita afetividade. Baseado no conhecimento científico, mas também no profissionalismo e no cumprimento rigoroso dos seus deveres profissionais. Deverá ouvir tanto, ou mais, do que falar.

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Tabela 1. Categorias, objetivos específicos e questões de partida na investigação
Figura 1.1: Vista anterior da Escola Secundária de Nampula
Figura 2: Vista lateral da Escola Secundária de Nampula

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