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Jovens trabalhadores do período noturno: a complexa relação entre escola e trabalho

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Educação Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009. Vivian Cristina de Menezes Eugenio Kauling Faculdade Anhanguera de Indaiatuba vikauling@yahoo.com.br. JOVENS TRABALHADORES DO PERÍODO NOTURNO: A COMPLEXA RELAÇÃO ENTRE ESCOLA E TRABALHO. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a relação do jovem trabalhador do período noturno com a escola, a posição que ocupa no mundo do trabalho e como este jovem, baseado em uma pesquisa descritiva quantitativa, situa-se dentro do modelo neoliberal que permeia as políticas públicas da Secretaria Estadual de São Paulo. Palavras-Chave: aluno desigualdade; trabalho.. trabalhador;. neoliberalismo;. escola. pública;. ABSTRACT The present project proposes a reflection about the relationship between the young worker of the night shift and the school, the position that he occupies in the work universe and how this young worker, based on a descriptive quantitative research, is situated inside the neoliberal model that permeates the public policy of the State Secretary of São Paulo. Keywords: young working student; neoliberalism; public school; unevenness; work.. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Informe Técnico Recebido em: 29/10/2009 Avaliado em: 22/9/2010 Publicação: 18 de agosto de 2011. 145.

(2) 146. Jovens trabalhadores do período noturno: a complexa relação entre escola e trabalho. 1.. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, sobretudo a partir da década de 90, a política educacional adotada no Estado de São Paulo intensifica seu caráter neoliberal e dentro deste contexto a retórica neoliberal faz uso de uma série de palavras que passam a orientar as políticas educacionais:. produtividade,. qualidade. total,. competitividade,. competência. e. “trabalhabilidade” ganham amplo espaço, o que demonstra que o aluno da escola pública também é visto como um cliente e por isso a escola deve ser tratada de acordo com as leis do mercado. Em virtude disso o discurso neoliberal defende que a educação é o instrumento que pode, se eficaz for, preparar o jovem para que este ingresse com sucesso no mundo do trabalho, portanto, cabe a escola preparar força de trabalho “qualificada” para o novo mercado de trabalho, discurso este, entretanto, que deve ser analisado e discutido pelos educadores na medida que o neoliberalismo torna-se hegemônico num momento em que a revolução tecnológica impõe o desemprego estrutural (...) o que nos faz pensar que atualmente o mundo do trabalho é mais excludente que o sistema escola (MARRACH, 1996, p.4). Assim, o discurso dominante que permeia as ações da Secretaria do Estado da Educação, doravante denominada SEE, e está presente nas escolas mascara uma realidade complexa, pois as questões que envolvem a tríade trabalho-escola-qualificação estão inscritas dentro um modelo que amplia as desigualdades na medida em que o Estado ausenta-se cada vez mais das políticas sociais. Partindo dessa visão defendem cada vez mais que, compete a escola desenvolver nos alunos a chamada cultura da trabalhabilidade, que segundo publicação do Instituto Ayrton Senna (CADERNO, 2003, p.29) “pode ser compreendida como sendo a capacidade de desenvolver no jovem a visão das possibilidades do “novo” mundo de trabalho a fim de que o mesmo possa ingressar , permanecer e ascender socialmente através do trabalho.” O presente discurso, bastante difundido pela Secretaria do Estado da Educação, coloca nas mãos da escola a responsabilidade por desenvolver nos jovens habilidades que por si só garantam seu sucesso profissional, discurso este que desconsidera as profundas modificações pelas quais passou e continua passando o mundo do trabalho e a própria estrutura do mercado de trabalho que [...] tem passado por mudanças tais como altas taxas de desemprego que são acompanhadas da crescente insegurança e precariedade das novas formas de ocupação e a própria flexibilização da força de trabalho inscreve-se no mesmo processo que articula o discurso por maiores níveis de escolaridade [...] (SEGNINI, 2000).. Para que possamos pensar a relação entre o jovem trabalhador do período noturno e sua relação com o trabalho e escola a indagação é: a cultura da trabalhabilidade pode efetivamente ser desenvolvida pela escola? A que modelo econômico de fato Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 145-153.

(3) Vivian Cristina de Menezes Eugenio Kauling. 147. interessa este discurso? Em que medida a supervalorização de atributos pessoais não vem corroborar com o modelo econômico que predomina em nossa sociedade e norteia as políticas educacionais do estado de SP nos últimos anos? Que posição o jovem, aqui enfatizado: o jovem trabalhador do período noturno da Escola Suzana, periferia de Indaiatuba, ocupa realmente no mundo do trabalho e quais são expectativas em relação à escola e ao trabalho? Existem conteúdos ou projetos, que desenvolvidos pela escola, seriam capazes de subverter a lógica que: [...] exclui o jovem do mundo do trabalho e que estes sem perspectiva de emprego, acabam muitas vezes engrossando as fileiras dos trabalhos precários, dos desempregados, sem perspectiva de trabalho, dada a vigência da sociedade do desemprego estrutural” (ANTUNES, 2004, p.339).. Como o jovem trabalhador estudante percebe sua realidade e quais suas expectativas em relação a sua escolarização e o trabalho. Assim o objetivo deste artigo é, partindo da realidade vivida na EE SuzanaIndaiatuba, demonstrar dados e situações que permitam um olhar mais detalhado sobre as questões que envolvem o jovem estudante trabalhador do período noturno e sua real condição de trabalho. Os dados apresentados neste trabalho, foram obtidos a partir do questionário composto por 15 (quinze) questões sendo 12 (doze) questões objetivas e 03 (três) dissertativas, que foi respondido por 211 (duzentos e onze) jovens estudantes trabalhadores do período noturno regularmente matriculados na E.E Professora Suzana Benedicta Gigo Ayres no ano letivo de 2006 sendo: 6 (seis) alunos da 8a série; 77 (setenta e sete) alunos do 1ºE.M, 66 (sessenta e seis) alunos do 2°E.M; 62 (sessenta e dois) alunos do 3ºE.M. O questionário foi aplicado após conversarmos sobre questões referentes à escola e trabalho, foi facultativa a participação dos alunos e estes demoraram em média 20 minutos para responder o questionário.Com a finalidade de obter um perfil mais embasado do tipo de trabalho realizado pela comunidade foram utilizados os dados que constam em uma pesquisa realizada com os pais no ano de 2007 para subsidiar o Plano Gestor da Escola.. 2.. CONCEITOS NEOLIBERAIS QUE PERMEIAM A CONDUÇÃO DO PROCESSO EDUCATIVO DE JOVENS E ADULTOS O discurso recorrente na SEE, sobretudo, a partir de 1995 com o início do Governo de Mario Covas, com a Professora Rose Neubauer a frente da SEE de que a escola deve desenvolver nos alunos competências e habilidades requeridas pelo mundo do trabalho. Hoje a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, defende que o trabalho pedagógico deve ser conduzido a fim de que os alunos dominem o Código da Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 145-153.

(4) 148. Jovens trabalhadores do período noturno: a complexa relação entre escola e trabalho. Modernidade, elaborado pelo educador colombiano Bernardo Toro, que compreende: 1domínio da leitura e escrita; 2-capacidade de fazer cálculos e resolver problemas; 3capacidade de descrever, analisar e interpretar dados, fatos e situações; 4–capacidade de compreender e atuar em seu entorno social; 5- capacidade de receber criticamente os meios de comunicação; 6-capacidade de localizar,acessar e usar melhor a informação acumulada; 7-capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo, os alunos estarão aptos a uma inserção com sucesso no mundo do trabalho. Sem dúvida dominar o código da modernidade é fator importante para formação dos alunos, entretanto, as questões referentes à inserção do jovem no mundo do trabalho não são muito mais complexas? Os resultados amplamente divulgados das avaliações institucionais demonstram que a escola pública não tem atingido seus objetivos do que se refere à formação elementar. Surge neste contexto a ênfase no desenvolvimento da chamada cultura da trabalhabilidade. A cultura da trabalhabilidade é analisada pelo Instituto Ayrton Senna - que promoveu em 2003 uma parceria com a rede estadual, de acordo com o que consta na publicação institucional denominada Caderno de Decisores (2003, p.29), da seguinte forma: O conhecimento entra no ser humano por meio da aprendizagem e sai dele sob a forma do exercício de competências e habilidades que entre outras funções, cumprem a de nos tornar aptos a participar dos processos de geração de bens, serviços e conhecimentos na vida produtiva. Trabalhar é praticar habilidades básicas, específicas e de gestão. Quanto mais uma pessoa conhece aquilo que faz, maior sua capacidade de fazê-lo cada vez mais e melhor (produtividade e qualidade). A quantidade e a diversidade dos conhecimentos adquiridos por uma pessoa ao longo da vida tornam-na mais polivalente e flexível, aumentando suas possibilidades de adaptar-se às mudanças e de aproveitá-las para o seu crescimento pessoal e profissional. [...] O mundo do trabalho está passando por transformações profundas. Desenvolver uma cultura da trabalhabilidade, ou seja, de ver as possibilidades do novo mundo do trabalho para poder ingressar, permanecer e ascender nele, é um dos maiores desafios da juventude e da nossa era.. Este discurso está em sintonia com o ideário neoliberal. Cabe ressaltar que, segundo Marrach (1996, p.8), o neoliberalismo impõe-se em um momento onde os EUA dominam o cenário econômico mundial tornando-se uma ideologia dominante com o objetivo de responder a uma crise provocada pela globalização. As mudanças promovidas na educação estadual paulista, sobretudo a partir da década de 90, evidenciam que as políticas educacionais ditadas pelo Banco Mundial são conduzidas por economistas que observam e quantificam dados em detrimento da qualidade, professores e pedagogos não estão presentes nas mudanças promovidas e o grande desafio passa a ser vencer a ineficiência e trazer maior produtividade para a SEE, neste momento os critérios do mercado passam a ditar o rumo da escola pública paulista que passa a utilizar. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 145-153.

(5) Vivian Cristina de Menezes Eugenio Kauling. 149. amplamente palavras, entre elas: qualidade, produtividade, polivalente, flexível que deslocam a responsabilidade do plano social e a transferem para o plano individual. No contexto neoliberal, cabe ao jovem tornar-se polivalente e flexível como se a estrutural exclusão do jovem do mercado de trabalho, produzida por uma má distribuição de riqueza e grande concentração do capital, pudesse ser reduzida a questões de iniciativa, competência e habilidade. Este discurso acaba mascarando as desigualdades e retirando o foco da principal discussão que deve ser feita: como educar e preparar para o trabalho dentro de um contexto marcado pela falta de emprego e oportunidade para o jovem? Na medida em que o Estado continua ausentando-se e as políticas sociais são consideradas menos importantes e devem ser resolvidas através de parcerias com setores privados, que instrumentos a escola pode oferecer ao aluno?. 3.. HISTÓRIAS DA ESCOLA E TRABALHO O questionário citado no início deste artigo procurou dar voz ao aluno trabalhador do período noturno e permite que tracemos um perfil e com isso possamos entender melhor as complexas questões presentes no cotidiano escolar: atrasos freqüentes, evasão, indisciplina, desmotivação, absenteísmo, tentativa cotidiana de “pular os muros” da escola, baixo rendimento, sérios problemas de escrita e leitura, aulas superficiais com conteúdos mal preparados, portanto, desmotivadores, Alguns dados permitem-nos elucidar que este jovem inserido em um contexto maior é parte integrante de uma sociedade que transforma sua força de trabalho em mercadoria, limita suas possibilidades de se desenvolver dignamente, entretanto, inscritos dentro de um modelo capitalista também são vítimas do estímulo exagerado ao consumo e diante da frustração alguns se tornam vulneráveis e partem para a criminalidade. Este fato pode ser observado no levantamento realizado, que indicou no ano letivo de 2007 dos 465 alunos do período noturno, 14 (quatorze) foram detidos em unidades da FEBEM e 6 maiores de 18 anos em presídio comum. Dos 211 (duzentos e onze) jovens, 33 (trinta e três), ou seja, 16% estão desempregados, o que reflete em nossa escola a realidade que é sabida, exclui como já afirmado o jovem do mundo do trabalho. Os dados obtidos evidenciam que os jovens trabalhadores são vítimas do trabalho precário, mas mantém expectativas em relação à escolaridade acreditando que, quanto maior for a escolarização mais chances terão de progredir e ascender socialmente, Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 145-153.

(6) 150. Jovens trabalhadores do período noturno: a complexa relação entre escola e trabalho. conforme algumas falas retiradas dos questionários. Quando foi perguntado aos alunos, se acreditavam que a escola pode melhorar sua condição de vida, alguns depoimentos transcritos abaixo elucidam essa questão (transcrição literal): “Concerteza, primeiro de tudo que no mundo de hoje “ninguém” nunca será “alguém” sem o estudo concluído, e a forma com que a escola pode melhorar nossa condição é entender a rotina corrida de um estudante-trabalhador- noturno” (M-16 anos-1° E.M) “Sim, pois quem tem estudo é bem mais fácil e também tem que ter muito força de vontade para alcançar seu objetivo” (M-17 anos-1°E.M) “Sim, pois terminando o colegial, podemos procurar uma faculdade, terminando a faculdade teremos uma profissão e um trabalho melhor” (M-18 anos-3° E.M) “Consiguindo o diploma tendesa a arrumar um emprego melhor”( H-18 anos-1° E.M) “Sim, pois pode me propor uma condição melhor, por que, conta muito nos curriculuns o Ensino Médio”(H-16 anos-1°E.M) “Um cidadão só consegue um bom emprego se tiver estudos. A escola ajuda muito, mas com auxílios de alguns cursos” ). Alguns, entretanto, consideram a importância da escola dando ênfase ao empenho pessoal e determinação como fator essencial para que sua condição de trabalho e vida mude: “Ela pode depende somente de mim em querer aprender, posso obter o ensino médio, a faculdade e depois a pós-graduação” (H-17 anos-3° E.M) “Sim, aprendendo e adquirindo mais conhecimento tanto na sala de aula como no geral com as pessoas que estão ao nosso redor. A condição de vida depende da sua força de vontade” (H-19 anos- 3° E.M). Outros apresentam uma percepção maior da complexa relação entre escola-trabalho: “dificilmente” ( H-16 anos- 2°.E.M) “Não, por que com a competitividade completar o ensino médio é somente o básico” (M17 anos- 3°E.M.) “Um pouco, com o E.F e o E.M concluído, fica um pouco mais fácil arrumar um emprego, mas mesmo assim enfrento dificuldades” (M-19 anos- 3°E.M). Os depoimentos seguem essa tendência e, a maioria dos alunos, acredita que a escola pode modificar sua posição na sociedade e a quase totalidade dos alunos afirma que o trabalho bom é aquele que supre suas necessidades e faz com que possam comprar as coisas que possibilitam maior conforto material. São,portanto, imbuídos da cultura consumista que os domina, o prazer no trabalho está muito mais ligado ao que poderá comprar com seu salário do que a forma como sua força de trabalho será tratada pelo sistema, entretanto de forma paradoxal observa-se que não se sentem confortáveis em seu trabalho. Os jovens trabalhadores do período noturno da EE Suzana classificaram seu trabalho como: Cansativo (21%); Repetitivo (19%), Braçal (10%), Entediante (10%); Prazeroso (9%), Realizador (4%) e Criativo (4%). Constata-se que a maioria não está satisfeita ou sente-se realizada com o trabalho e diante da forma como se organiza dentro do modelo produtivo atual as relações de trabalho que tem como foco central o aumento da produtividade, consumo e lucro este jovem está inserido da pior forma no contexto do trabalho. Ao analisar os questionários é interessante notar que entre os que afirmam que o trabalho era criativo estão: auxiliar de sapateiro; auxiliar de marceneiro, músico, eletricista, talvez pelo fato de que essas ocupações envolvem a produção direta e gera elementos que o satisfazem, a força de Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 145-153.

(7) Vivian Cristina de Menezes Eugenio Kauling. 151. trabalho ainda conserva uma dimensão que possibilita a realização, na medida em que podem colocar elementos de sua inteligência e criatividade a serviço de seu trabalho, tal como dizia Marx, representam, no entanto menos de 5% dos alunos trabalhadores demonstrando claramente que a precarização do trabalho é uma realidade entre esses jovens e a escola por si só não mudará sua inserção no mercado de trabalho. Não se trata de negar a importância da escola na formação dos seres sociais, porém, devemos situar a escola dentro do contexto social que tem o neoliberalismo como a ideologia, que embasa a idéia da globalização como elemento de crescimento e, portanto, faz com que essa ideologia espalhe-se pelo mundo, dessa forma os jovens trabalhadores são apenas uma das peças dessa engrenagem e não será a escola que, solitária, promoverá sua inclusão e a diminuição da precarização do trabalho.. 4.. CONCLUSÃO A escola, além de afastar-se do seu objeto a cada dia, que é o trato com o conhecimento acumulado historicamente pela humanidade, é assolada hoje por grande número de projetos e teorias, em sua grande maioria meramente retóricas, que não cumprem sua principal função: formar seus alunos dignamente e com ferramentas para uma inserção cidadã na sociedade. Legitimar a criticidade, a investigação, a polêmica, a conscientização efetiva dos jovens, faz-se necessário, pois eles são as maiores vítimas de uma visão distorcida da realidade, na medida em que, a escola não os instrumentaliza para que percebam o tipo de sociedade na qual estão inseridos e a forma precária a que são submetidos em termos de trabalho e mais, cria expectativas irreais e que promovem a exploração da força de trabalho desses jovens e conseqüentemente a frustração e o sentimento de abandono social. A complexidade das relações de trabalho hoje e suas grandes transformações requer que pensemos o desenvolvimento do discurso de habilidades e competências a fim de promover uma educação mais comprometida com o homem e que pretenda a transformação, entretanto, o que vemos é que a ideologia dominante busca adaptar o trabalhador e neste caso, o aluno, ainda no espaço escolar através da flexibilização dos programas escolares, sistemas de avaliação visando melhor adaptar o aluno a um mercado de trabalho cada vez mais retraído e que exige, como o documento institucional já citado, um trabalhador polivalente e flexível e relacionado a essa questão. É interessante refletir sobre a análise feita por essa autora:. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 145-153.

(8) 152. Jovens trabalhadores do período noturno: a complexa relação entre escola e trabalho. Os conhecimentos adquiridos pelo trabalhador através de diferentes processos e instituições sociais - família, escola, empresa, etc. - somados às suas habilidades, também adquiridas socialmente e acrescidas de suas características pessoais, de sua subjetividade, de sua visão de mundo, constituem um conjunto de saberes e habilidades que significa, para ele, trabalhador, valor de uso, que só se transforma em valor de troca em determinado momento histórico se reconhecido pelo capital como sendo relevante para o processo produtivo. (SEGNINI, 2000, p.79).. Assim, quem ditará ou não os rumos do trabalho para esses jovens será a lógica do mercado e não a escola, que hoje, também, enfrenta dificuldades relacionadas a política que envolve o saneamento das despesas com educação: salas superlotadas e, o aumento das salas de supletivo faz com que os cursos regulares, tenham dificuldade em manter-se como o caso da E.E. Suzana, entretanto, devemos conferir um novo sentido a palavra qualidade que no Estado é reduzida à diminuição de gastos e eficácia, a qualidade que defendida e possível é aquela que promove relações no interior da escola que leve o jovem a aprender e situar-se dentro de sua realidade a fim de que tenha uma dimensão crítica a respeito da sociedade em que vive, sobretudo, do modelo excludente modelo econômico excludente a que está submetido que limita e reduz suas potencialidades.. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo; ALVES, Giovanni. As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital. Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 87, 2004. CADERNO dos Decisores. Publicação do Instituto Ayrton Senna em parceria com a Secretaia Do Estado da Educaçâo de Sâo Paulo, 2003. DOWBOR, Ladislau . O que acontece com o trabalho? 3.ed. São Paulo: SENAC, 2006. v.1., 120 p. FUNDAÇÃO IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios-PNDA. Rio de Janeiro ,1980 a 2000 HELOANI, J.R.M. O ovo da serpente: consolidação do pós-fordismo e ascensão do neoliberalismo. BITTENCOURT, Agueda Bernadete; OLIVEIRA JUNIOR, Wenceslao Machado de (Org.). Estudo, pensamento e criação. 1.ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2005, v. 3, p. 55-60. LEITE, M.P. Trabalho e sociedade em transformação. Sociologias, Porto Alegre, Ano 2, n. 4, p. 6686, 2000. MACHADO, Lucília. A institucionalização da Lógica das Competências no Brasil. Revista Pro– Posições, v. 13, n.1 (37), jan./abr. 2002. NEPO- Núcleo de Estudos de População – Universidade Estadual de Campinas, Unicamp. Disponível em: <http://www.nepo.unicamp.br>. SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Educação e trabalho: uma relação tão necessária quanto insuficiente. São Paulo Perspec., São Paulo, v. 14, n. 2, 2000. SILVA JR., Celestino A. da; BUENO, M. Sylvia; GHIRALDELLI JR., Paulo; MARRACH, Sonia A. Infância, Educação e Neoliberalismo. São Paulo: Cortez Editora, 1996. p. 42-56. SOUZA, A.N. A política educacional do Banco Mundial. In: BITTENCOURT, Agueda Bernadete; OLIVEIRA JUNIOR, Wenceslao Machado de (Org.). Estudo, pensamento e criação. Campinas: Editora da Unicamp, 2005, p. 99-117. VASAPOLLO, Luciano. O trabalho atípico e a precariedade. São Paulo: Expressão Popular, 2005.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 145-153.

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