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O Acesso aos “Artefatos Culturais” e a Produção Original de Blogs Educacionais

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Academic year: 2021

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Marcelo Cunhaa*

Resumo

Os blogs educacionais podem ser valiosos instrumentos para o desenvolvimento de habilidades e competências diversas no Ensino Fundamental e Médio, tendo em vista que é notória a dificuldade de nossas crianças e adolescentes em atingir o letramento convencional e digital. Os blogs são uma das estratégias possíveis nos processos educomunicativos, privilegiando a emissão e recepção de informações além das fronteiras escolares. Eles podem estimular a produção de textos bem como outras formas de linguagem de modo colaborativo, favorecendo o exercício das inteligências múltiplas e da inteligência coletiva. A produção socializada de blogs educacionais pode contribuir para a formação de cidadãos críticos e criativos, fortalecendo o protagonismo do aluno no processo ensino-aprendizagem. As dificuldades de letramento e literacia digital podem estar relacionadas à privação cultural. Identificar se as limitações de acesso aos artefatos culturais podem interferir de modo negativo na capacidade de produção de blogs é o objetivo desta pesquisa.

Palavras-chave: Educomunicação. Letramento Digital. Privação Cultural. Produção Socializada. Inteligência Coletiva. Abstract

The educational blogs can be valuable tools for developing skills and competencies in several Primary and Secondary Schools, with a view that is notoriously the difficult for our children and teenagers achieve conventional and digital literacy. Blogs are one of the possible strategies in processes of educommunication, favoring the emission and reception of information across borders school. They can stimulate the production of texts as well as other forms of speech so collaborative, favoring the exercise of multiple intelligences and collective intelligence. The socialized production of educational blogs can contribute to the formation of critical and creative citizens, strengthening the role of the student in the learning process. The difficulties of literacy and digital literacy may be related to cultural deprivation. Identify if the limitations of access to cultural artifacts may have an adverse effect on the capacity of blogs is the objective of this research.

Keywords: Educommunication. Digital Literacy. Cultural Deprivation. Socialized Production. Collective Intelligence.

O Acesso aos “Artefatos Culturais” e a Produção Original de Blogs Educacionais

The Access to the “Cultural Artifacts” and Original Production of Educational Blogs

aCentro Universitário Anhanguera de Santo André, SP, Brasil *E-mail: marcelo.cunha@aedu.com

1 Introdução

Os blogs educacionais são uma das várias ferramentas que podem ser utilizadas na Educação Fundamental. Estas ferramentas eletrônicas são bastante versáteis por convergir mídias distintas e graças a esta característica, podemos denominá-los como instrumentos multimídias. Eles podem ser empregados na produção de textos, além de veicular seus conteúdos em formas de expressão diversas, entre elas os vídeos, as produções em áudio ou podcasts, os desenhos e as fotografias, configurando assim os blogs como instrumentos versáteis e ambientes favoráveis para as produções coletivas.

Portanto, os blogs são propícios ao exercício das inteligências múltiplas, podendo os mesmos serem usados para o desenvolvimento de diversas atividades, oferecendo oportunidade de expressão para alunos com características diversas; por exemplo, um aluno com dificuldades com a linguagem escrita pode encontrar nos blogs oportunidade para expressar-se verbalmente ou por meio da produção de gravuras e imagens. Ao mesmo tempo, graças ao caráter coletivo na produção, este mesmo aluno terá oportunidade de desenvolver

habilidades e competências com as quais tem embaraço. Produzir textos de autoria própria e articular discursos originais é uma das grandes dificuldades observáveis no cotidiano dos alunos, independente do tipo de tecnologia de que se valha. Porém, as facilidades oferecidas pelos recursos da internet aparentemente podem gerar uma espécie de acomodação, tornando os plágios muito fáceis de serem cometidos, já que copiar e colar estão ao alcance dos “clicks do mouse”; é o que muitos educadores apontam.

A preocupação em tornar o aluno efetivamente participativo no desenvolvimento das mais diversas atividades pedagógicas vem permeando o trabalho docente. O que se espera do aluno em uma sociedade tecnologicamente desenvolvida não é a formação de indivíduos que reproduzam o conhecimento, mas sim cidadãos capazes de questionar e expressar as suas próprias ideias.

A internet e seus recursos devem ser estudados para que haja maior compreensão de como estas “ferramentas” podem ser usadas na “Educomunicação” e de que maneira elas podem contribuir para a formação destes cidadãos intelectualmente autônomos, criativos e críticos.

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Sabe-se que antes da popularização dos recursos da internet, o protagonismo e a originalidade sempre foram questionáveis. Muito antes do advento da web os professores queixavam-se de plágio em pesquisas de seus alunos bem como da dificuldade em desenvolver a criticidade na criança e no adolescente.

Alguns educadores no exercício do magistério no Ensino Fundamental e Médio alegam que as facilidades tecnológicas disponíveis na internet auxiliam no plágio, anulando os esforços para desenvolver a criatividade e a criticidade do aprendiz. Esta suposição parece ser vazia de evidências concretas; pelo menos é o que tem demonstrado a prática quando o professor desempenha seu papel de mediador, valendo-se do potencial educomunicativo desses recursos.

As tecnologias de informação, principalmente a internet, oferecem hoje infinitas possibilidades interativas. Por meio delas as trocas de conhecimentos e informações são vastas e na web, as produções culturais se encontram; nela convergem recursos e linguagens diversas. A produção compartilhada da internet influencia as produções das outras mídias e muito provavelmente essas produções distintas são influenciadas também pela web.

O aluno carrega consigo saberes e um sistema de significação, originária da web e do seu cotidiano principalmente pelos veículos de comunicação de massa, sendo este sistema dinâmico, gerando interações do saber formal com a vivência cultural.

Logo o conhecimento não está limitado às quatro paredes de uma sala de aula; ou seja, o aluno dentro da escola não é uma ilha; ele interage com a sociedade, sendo o contato com a produção cultural do seu meio social um elemento importante para o desenvolvimento de suas habilidades e competências.

Assim, é importante descobrir até que ponto fatores culturais podem interferir no protagonismo discente, no desenvolvimento de blogs, de modo a nortear práticas educomunicativas no uso e produção de mídias que favoreçam a aquisição de competências leitora e escritora, além da oralidade e outros modos de expressão, no Ensino Fundamental.

Blogs educacionais apresentam característica importante: eles são propícios para o desenvolvimento de ecossistemas comunicativos no ambiente escolar, ecossistemas esses onde podem atuar professores, alunos e pessoas não obrigatoriamente ligadas à escola, extrapolando a área de influência habitual da comunidade escolar.

O estudo de fatores que interferem qualitativamente na produção de blogs pode contribuir para o entendimento de como é possível fortalecer o papel do aluno como autor, melhorar a interação com elementos pertencentes à comunidade escolar, e como o professor pode melhor mediar e intervir na linguagem escrita, e em outras formas de expressão sustentáveis pelas múltiplas mídias desta ferramenta.

A articulação entre as práticas escolares no contexto do desenvolvimento de “Educomunicação” por meio de blogs educacionais, e compreensão da extensão da influência que o acesso aos “artefatos culturais” pode causar na produção destes blogs, possibilita trazer pistas de como melhorar o processo de ensino-aprendizagem em outros instrumentos educacionais convencionais e não apenas dentro dos blogs educacionais.

A habilidade escritora e de expressão de um modo geral, entre elas a capacidade de criação crítica de vídeos e de textos na forma de entrevistas dentro de tecnologias de informação, são os destaques desta pesquisa. Os alunos investigados são pertencentes ao nono ano de 2012 da E. E. Papa João Paulo I, situada no município de Santo André, região metropolitana de São Paulo. A questão investigada neste trabalho é: o acesso à produção cultural pode favorecer ou influenciar a autoria original de produções de blogs educacionais no nono ano do ensino fundamental?

Entende-se como “produção cultural” a materialização dos princípios que mantêm a sociedade coesa, podendo ser eles mais ou menos tradicionais, manifestando-se nas mais diversas formas, desde produtos industrializados, tais como CDs, livros, jornais, revistas, manifestações artísticas e espetáculos, bem como, festas e eventos populares típicos do folclore, com suas músicas, danças e jogos, assim como as manifestações oriundas de tecnologias de informação como rádio, TV, cinema e internet.

Atualmente as nossas crianças e adolescentes estão inseridos no contexto de progressiva digitalização em que conhecimentos e comunicação da nossa sociedade não ocorrem mais de forma rígida e linear como nas gerações analógicas. A interatividade nas diversas ferramentas digitais presentes nos blogs já é algo perfeitamente natural para os alunos desta faixa etária.

A escolha de alunos do nono ano do ensino fundamental é relevante devido à terminação de ciclo, o que torna as classes de nono ano críticas, uma vez que é esperado dos aprendizes a conquista de um certo grau de autonomia, visão crítica e desenvoltura com habilidades de expressão, em especial a escrita e a oral.

2 Material e Métodos

A metodologia usada para analisar a produção de textos escritos bem como vídeos na modalidade de entrevistas foi de natureza qualitativa. Para tentar compreender se os fatores socioeconômicos e o acesso aos artefatos culturais interferem na produção de blogs educacionais, levou-se em conta dados quantitativos levantados durante a pesquisa, que foram analisados, confrontando com informações disponíveis nos meios acadêmicos. Para tanto, utilizou-se os seguintes recursos:

Revisão bibliográfica: realizada para buscar o embasamento teórico necessário para a reflexão sobre os fatos observados, procurando garantir diálogo com outros trabalhos.

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Desenvolvimento de seis blogs de produção coletiva, um por classe, cujo tema central foi “Cidadania e Qualidade de Vida”, nos quais foram realizados vários trabalhos com o objetivo de desenvolver a visão crítica das questões levantadas nas inúmeras pesquisas e produções propostas. Para a análise foram utilizadas como referência duas atividades distintas, porém, bastante ricas para o desenvolvimento crítico de pontos de vista, como articulações do trabalho discente no sentido de buscar comunicação com elementos além dos limites físicos da escola, e que culminaram com a publicação de blogs, sendo elas:

Entrevista com um morador do bairro sobre as enchentes na localidade: nesta entrevista espera-se que os alunos articulem questões que levem o entrevistado a comentar as causas das enchentes, espera-se que os alunos interroguem sobre a má disposição do lixo e a interação com as enchentes;

Entrevista a um profissional de Educação Física sobre o uso de anabolizantes: nesta entrevista almeja-se que o aluno manifeste preocupação com os problemas de saúde (efeitos colaterais) que o uso de anabolizantes pode vir a oferecer aos atletas. As questões formuladas devem demonstrar tal preocupação;

Análise e avaliação individual: foram tomadas como referência qualitativamente três aspectos das produções – originalidade, criticidade e a coerência na elaboração das questões usadas nas entrevistas de seis blogs desenvolvidas pelos alunos –, bem como a produção de fotos, vídeos e elementos gráficos. Para tanto, foram analisados continuamente durante os quatro bimestres do ano letivo de 2012. Foram considerados como alunos do grupo A que até o final do projeto “Cidadania e Qualidade de Vida” atingiram nota cinco ou maior que cinco, numa escala até dez, e alunos do grupo B, aqueles que até o final das atividades com blogs não atingiram nota igual ou superior a cinco;

Confronto da análise qualitativa dos blogs com as características dos alunos responsáveis pela produção dos mesmos, levando-se em conta as observações apontadas no trabalho diário dos alunos, tendo como referência anotações das avaliações cotidianas.

Foram interrogados 131 alunos do nono ano do Ensino Fundamental, Ciclo I da E.E, todos do período da manhã, da E.E. Papa João Paulo I, por meio do questionário disponibilizado via Google Docs, e os dados coletados foram tabulados automaticamente por essa tecnologia.

O público investigado foi dividido em dois grandes grupos independentes da classe da qual os alunos pertenciam.

Foram denominados Grupo A, compreendendo 65 alunos com desempenho satisfatório dentro dos critérios citados; são adolescentes que responderam bem aos estímulos, apresentaram sensível evolução em suas habilidades no transcorrer da produção coletiva de blogs educacionais.

O Grupo B compreende 66 alunos que apresentaram pequena evolução nas habilidades trabalhadas na produção coletiva de blogs educacionais

3 Resultados e Discussão 3.1 Revisão de literatura

3.1.1 O desenvolvimento cognitivo como construção social Segundo alguns teóricos, entre eles Vigostski (2007) e Montoya (1996), a construção do conhecimento sofre forte interferência do meio social em que está inserido o aprendiz.

A fala é fundamental para a integração e a interação social, e a criança em seu desenvolvimento cognitivo, nos seus primeiros anos de vida, tem como desafio unir a suas ações cotidianas com a pronúncia das palavras.

A articulação de ideias por meio de palavras é primordial para estabelecer contato com o ambiente e entendê-lo. Este fato permite à criança estabelecer novos patamares de conhecimento graças à interação social.

O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem (VIGOTSKI, 2007, p.11).

A linguagem baseada em signos é uma característica exclusivamente humana e a significação abre possibilidades espetaculares na solução de problemas complexos. Os signos usados na escrita são uma construção social poderosa para solucionar problemas e transmitir saberes, costumes, ou seja, difundir cultura por meio da comunicação. Há de se presumir que as outras formas de linguagem além da fala e da escrita, tais como a música e as artes visuais, também desempenham papel similar. Vigostski estabelece em sua teoria da interação social uma relação importante entre a comunicação e o desenvolvimento cognitivo. Esta associação comunicação-aprendizagem pode ser assim resumida:

A capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciar instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superar a ação impulsiva, a planejar uma solução para um problema antes de sua execução e a controlar seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para criança, primeiro acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se, então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais (VIGOTSKI, 2007, p.17).

A obra de Vigotski influenciou inúmeros autores, entre eles Cláudia Davis e Zilma de Oliveira (1993), que resumem o pensamento socioconstrutivista ao conectar o papel da cultura como elemento integrador.

O processo de desenvolvimento nada mais é do que a apropriação ativa do conhecimento disponível na sociedade em que a criança nasceu. É preciso que ela aprenda e integre em sua maneira de pensar o conhecimento da sua cultura. O funcionamento intelectual mais complexo desenvolvendo-se graças a regulações realizadas por outras pessoas que, gradualmente, são substituídas por auto regulação (DAVIS; OLIVEIRA, 1993, p.54).

A importância dos signos é compreensível quando se observa a abordagem de Vigotski (2007) para o desenvolvimento cognitivo. Segundo o autor, temos

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dois níveis observáveis de desenvolvimento, o nível de desenvolvimento real (que nada mais é que aquilo que uma pessoa é capaz de resolver sozinha, sem o auxílio de ninguém) e o nível de desenvolvimento potencial ou zona de desenvolvimento proximal (que seria aquilo que o indivíduo consegue resolver com o auxílio de outra(s) pessoa(s)). É na zona de desenvolvimento proximal que se dá a interação comunicação-educação e é nela que o indivíduo por meio dos signos consegue ampliar seus conhecimentos pelo contato com o meio social e cultural.

A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamados de ‘brotos’ ou ‘flores’ do desenvolvimento. O nível de desenvolvimento real caracteriza o nível de desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto o nível de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente (VIGOTSKI, 2007, p. 98).

Para Davis e Oliveira,

o aprendiz é um organismo atuante; ele desenvolve o conhecimento de forma gradual, recebe e assimila interferência do meio, porém interage de forma ativa com o meio social (DAVIS; OLIVEIRA, 1993, p.19).

O aluno, então, passa a incorporar em sua “bagagem” intelectual uma história coletiva, assim como seu universo cognitivo conterá o significado de palavras que representam “instrumentos” físicos, por exemplo, cadeira, copo, talheres e “instrumentos” simbólicos como a cultura, assim como as tradições herdadas de seus ancestrais.

O fator continuidade nessas interações revela o quanto a cultura é importante na elaboração dos nossos processos mentais, uma vez que pelas necessidades sociais expressas na cultura o sujeito vai ao longo da vida se adaptado e se desenvolvendo.

Quando nascemos, começamos a receber uma série de influências do grupo com o qual vivemos: as maneiras de nos alimentarmos, de nos vestirmos, a cama ou a rede para dormirmos, a língua que falamos, a maneira como identificamos e nos comportamos com nosso pai e nossa mãe, e assim por diante. À medida que crescemos, recebemos novas influências desse mesmo grupo e vamos nos integrando à sociedade. Esses padrões são justamente a cultura da sociedade em que vivemos (STREY; KAPITANSKI, 2011, p.54).

Segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), a cultura é um conjunto de valores imateriais, entre eles a língua e outros signos de naturezas diversas, que contribuem para a efetiva integração social, resultando em valores materiais.

A cultura gera uma série de produtos, livros, revistas, músicas, danças, cinema, teatro, programas de televisão e rádio, exposições artísticas diversas, bem como a própria internet. Estes produtos culturais também podem ser chamados de “artefatos culturais”.

O conceito de mídia é abrangente e se refere aos meios de comunicação massivos dedicados, em geral, ao entretenimento, lazer e informação – rádio, televisão, jornal, revista, livro, fotografia e cinema. Além disso, engloba as mercadorias

culturais com a divulgação de produtos e imagens e os meios de comunicação, ou seja, jogos eletrônicos, celulares, DVDs, TV a cabo ou via satélite e por último, os sistemas que agrupam a informática, a TV e as telecomunicações – computadores e redes de comunicação (SETTON, 2011, p.14).

A materialização da cultura em seus artefatos culturais tem forte conexão com as condições socioeconômicas, uma vez que boa parte da cultura se manifesta na forma de produtos comercializáveis, fica evidente que nem sempre a produção cultural, por questões de ordem econômica, consegue ser acessível para todos da mesma forma.

Nas sociedades industrializadas surge o fenômeno dos veículos de comunicação de massa, que mantém os mesmos aspectos discutidos anteriormente da cultura, ou seja, a interatividade, a integração social e a participação na construção do conhecimento. Porém, de modo mais abrangente, quebrando fronteiras geográficas e trazendo novos significados e novos valores, quase sempre mais coletivos e menos personalizados.

Ao observarmos os outros e interagirmos com eles, e ao sermos expostos à comunicação de massa, entendemos as palavras dentro de referências mais coletivas, quando aprendemos a língua (a palavra cachorro) e o que ela significa (um animal de estimação, um animal que ajuda no trabalho ou um alimento), no contexto coletivo a palavra cachorro pode ter outros significados. Em outras palavras, ao aprendermos a língua, aprendemos o valor da nossa cultura (WOOD, 2009, p.205).

A partir da indagação central desta pesquisa, procura-se investigar procura-se as vivências com os produtos culturais massificados como a televisão, cinema e internet, assim como as produções de natureza impressa, tais como os jornais, revistas e livros, interferem qualitativamente na capacidade de criação dos blogs educacionais, uma vez que por razões tecnológicas todas essas mídias podem convergir na produção de blogs.

Neste contexto, surge a hipótese de que o acesso prévio aos artefatos culturais afeta positivamente a produção de blogs educacionais, pois tornam os alunos originalmente mais criativos, transpondo a barreira do plágio e das citações pura e simples, bem como mais críticos e participativos em suas produções coletivas valendo-se desta ferramenta.

Alguns autores têm trabalhado para detectar possíveis interferências geradas pelos veículos de comunicação de massa e eles assinalam a possibilidade de influência na maneira como as pessoas perceberem a realidade a sua volta.

A autora Monica Rabello de Castro (apud RANGEL; FREIRE, 2010) apresenta na obra “Ensino – Aprendizagem e Comunicação” uma severa crítica à cultura de massa que, segundo ela, mais trabalha em função dos interesses dos anunciantes do que em prol da cidadania, e do desenvolvimento crítico das pessoas que se valem destes veículos.

A atitude passiva da massa fez que a cultura fosse vista como algo sujeito à banalização e a vulgarização. As emoções e a sensibilidade são manipuladas, suas necessidades e desejos distorcidos e frustrados em benefício do consumo, passando

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a ser explorado o sentimento barato. A sociedade abandona as pessoas à exploração da cultura de massa (RANGEL; FREIRE, 2010, p.78).

Por outro lado, as telecomunicações, em especial os veículos de massa, podem representar o surgimento de renovação social, uma forma nova que vem se desenvolvendo e pode mudar radicalmente as relações sociais, dentro de novos parâmetros, uma vez que a tecnologia aqui encurta distância e oferece oportunidade inédita de culturas diversas interagirem.

A comunicação proporcionada pelas telecomunicações implica o reconhecimento do outro, a aceitação e a ajuda mútuas, a cooperação, a associação, a negociação para além das diferenças de pontos de vista e interesses. As telecomunicações são responsáveis de fato pelo contato amigável, de transformações contratuais, de transmissão de saber, de trocas de conhecimentos, de descoberta pacífica das diferenças (SETTON, 2011, p.97). Soares (2005, p.9) aponta para essa nova realidade em que “os veículos de comunicação voltados para o grande público desempenham um importante papel e exigem do professor cuidados especiais”. O educador não pode negar mais a importância das mídias como colaboradora na formação dos alunos na atualidade, esta nova realidade redefine a atuação do professor, fazendo dele um “educomunicador”.

A “Educomunicação” é uma nova área do conhecimento que busca compreender e aplicar na prática as interações entre educação e a comunicação. Essa nova área de conhecimento nasce das mudanças históricas e sociais, a escola está inserida em um contexto comunicativo e não pode mais ficar alheia aos conhecimentos assimilados pelos alunos por meio dos veículos de comunicação.

Diante de toda esta avalanche de possibilidades, é importante verificar se as privações de acesso a artefatos culturais específicos podem impactar de forma adversa o protagonismo na produção de blogs educacionais. Mediante essa necessidade faz-se necessário entender como a privação cultural poderia afetar o desenvolvimento cognitivo.

Alguns autores têm realizado uma análise crítica sobre a privação cultural e eles procuraram avaliar quão uma criança privada culturalmente pode ter um desempenho escolar influenciado pela qualidade da sua vida cultural.

Montoya (1996) diz que a teoria da “privação cultural” presume que as classes menos favorecidas economicamente não conseguem entrar em contato com manifestações culturais, tais como cinema, teatro, jornais, livros, concertos e todas as formas de produção cultural que as crianças das classes abastadas usufruem, produções estas muitas vezes consideradas preconceituosamente como “elitizantes”. Esta privação, segundo o autor, pode prejudicar o desenvolvimento da linguagem.

A deficiência verbal da criança ‘privada culturalmente’, explica-se pelo domínio, no seu ambiente próximo de um tipo de linguagem onde as conjunções são usadas repetitivamente e as orações usadas de um modo simples, sem a complexidade gramatical e sintática, próprias do universo linguístico das crianças pertencentes às classes médias e altas (MONTOYA, 1996, p.17).

O autor ainda afirma que a origem dos problemas apresentados pelas crianças em idade escolar pode estar relacionada à vivência familiar. Em grande parte, estas experiências ocorrem em lares onde a transmissão de padrões culturais não é adequada. Esta situação pode afetar os resultados de alunos privados de acesso aos “artefatos culturais”, comprometendo o desempenho destas crianças em testes na escola e futuramente no desempenho na sociedade em geral. O déficit de aprendizagem que eventualmente pode ser observado pode ter sua origem na falta de estímulos sensoriais que desenvolvam habilidades cognitivas.

A teoria da privação cultural, que sistematiza este ponto de vista, explica a deficiência perceptiva atribuída às crianças de baixa renda como resultado de um treinamento visual e auditivo menor que aquelas economicamente mais favorecidas, razão pela qual apresentam níveis de prontidão deficientes nas aprendizagens da leitura e da escrita (MONTOYA, 1996, p.17).

Neste contexto, surge a hipótese de que o acesso prévio aos artefatos culturais afeta positivamente a produção de blogs educacionais, pois o mesmo estimularia sensorialmente a criança, melhorando seus níveis de prontidão.

Esse trabalho é uma pesquisa-ação. A caracterização desse gênero de pesquisa se deu para atender à necessidade de buscar respostas que permitam diagnosticar a origem de um problema, permitindo assim, propor intervenções e possibilitando uma série de reflexões que podem vir a nortear ações diante de uma realidade concreta.

3.2 Resultados

A análise dos dados referentes ao acesso às mídias da população investigada revela que os alunos do Grupo A mantêm mais contato com as mídias impressas (livros, jornais e revistas). Eles ainda têm mais acesso à internet banda larga e ouvem mais rádio que seus colegas do Grupo B. A exposição à televisão paga é maior no Grupo A, porém o acesso à televisão aberta é maior no Grupo B.

Figura 1: Acesso às tecnologias de informação de naturezas diversas pelos alunos do Grupo B

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Figura 2: Acesso às tecnologias de informação de naturezas

diversas pelos alunos do Grupo A de partida para o trabalho pedagógico e jamais tais limitações podem ser empregadas como argumento determinista para a

acomodação.

A “Educomunicação” pode ser uma ferramenta para a superação das prováveis limitações. As práticas “educomunicativas” são propícias a ampliar a interação entre os alunos e outros grupos sociais, portanto, potencializando o compartilhamento de vivências culturais. Ela pode ainda auxiliar na superação das dificuldades de acesso às mídias, colaborando para o letramento convencional e digital.

Ao executar o projeto de produção coletiva de blogs educacionais, o professor pesquisador se deparou com uma parcela de alunos, aproximadamente metade da clientela, resistente aos estímulos para autoria. A pesquisa posteriormente identificou nesse grupo de alunos resistentes, certa dificuldade em acessar produções culturais em mídias específicas.

A produção dos blogs revelou ser um poderoso fomentador da interação social, favorecendo a criatividade, o espírito colaborativo e crítico na produção coletiva de textos, vídeos, fotos e outros recursos gráficos. Ao longo do desenvolvimento das atividades foi observada evolução na maioria dos alunos, de suas competências relacionadas à expressão oral e escrita. Mesmo os alunos do Grupo B acabaram sendo envolvidos de forma mais discreta e manifestaram algum progresso.

A web pode, por meio de seus recursos de convergência, facilitar o acesso do aprendiz a produções relativamente caras, tais como, teatro, exposições de artes, show e espetáculos de modo geral, além de livros, revistas e mídias impressas digitalizadas e disponíveis na internet, minimizando assim os efeitos da privação cultural.

Referências

DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z.M.R. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1993.

ENGEL, J.F.; BLACKWELL, R.D.; MINIARD, P.W.

Comportamento do consumidor. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

MONTOYA, A.O.D. Piaget e a criança favelada: epistemologia genética, diagnóstico e soluções. Petrópolis: Vozes, 1996. SETTON, M.G. Mídia e educação. São Paulo: Contexto, 2011. SOARES, I.O. Alfabetização e educomunicação: o papel dos meios de comunicação e informação na educação de jovens e adultos ao longo da vida. In: TELECONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, 3. 2005. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/89.pdf>. Acesso em: 12 maio 2013.

STREY, M.N.; KAPITANSKI, R.C. Educação & Internet: a era da informação e a vida continua. São Leopoldo: Sinodal, 2011. VIGOTSKI, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins, 2007.

Fonte: Dados da pesquisa. 3.3 Discussão

A análise dos dados coletados revela uma interação entre o acesso às mídias impressas e as habilidades de escrita na produção de blogs educacionais. Os alunos investigados com bom desempenho nas atividades propostas do Grupo A, dos nonos anos do Ensino Fundamental da E.E. Papa João Paulo I, declararam ter maior contato com livros, revistas e jornais e afirmaram considerar agradável a leitura.

Os adolescentes com desempenho sofrível, Grupo B, mostraram ter pouco hábito de leitura e não possuírem afinidade pela mesma.

A interação leitura-produção de blogs pode ser consequência da ampliação do sistema de significação proporcionado pela leitura das mídias impressas. Elas provavelmente promovem a ampliação do vocabulário, desenvolvem a concentração e a imaginação.

A leitura das mídias impressas ainda deve atuar de modo muito forte nas elaborações da zona de desenvolvimento proximal, ou seja, elas podem ser aliadas para que o aluno aprenda a aprender, tornando-o mais crítico. Talvez isso ocorra graças à disciplina mental promovida pela leitura linear e pela forma concisa usadas por algumas literaturas, e isso talvez interfira positivamente na produção dos blogs educacionais. 4 Conclusão

Os dados da pesquisa sinalizam que pode haver forte relação entre os fatores socioeconômicos e a acessibilidade a determinados artefatos e produções culturais dentro do público investigado. Porém, essas supostas limitações não devem ser consideradas como obstáculo ao desenvolvimento das habilidades leitora e escritora. Elas podem servir de ponto

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