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Efeito da restrição de água sobre as performances zootécnicas, comportamento e digestibilidade de coelhos em crescimento

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Efeito da restrição de água sobre as performances

zootécnicas, comportamento e digestibilidade de coelhos

em crescimento

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Juliana da Conceição Gonçalves

Orientador

Prof. Doutor Victor Manuel de Carvalho Pinheiro

CECAV - UTAD

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Efeito da restrição de água sobre as performances

zootécnicas, comportamento e digestibilidade de coelhos

em crescimento

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Juliana da Conceição Gonçalves

Orientador

Prof. Doutor Victor Manuel de Carvalho Pinheiro

CECAV – UTAD

Composição do Júri:

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Vila Real, 2016

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“As doutrinas apresentadas no presente trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor”

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Agradecimentos

Ao Professor Doutor Victor Pinheiro, orientador da dissertação, expresso o meu profundo agradecimento pela indicação do tema, disponibilidade demonstrada, paciência, pela leitura e correção desta tese, por todo apoio, amizade e dedicação dada ao longo deste trabalho, tornou possível a sua realização.

A todos os Docentes do curso (Licenciatura e Mestrado) de Engenharia Zootécnica, pela transmissão dos conhecimentos ao longo destes cinco anos.

Ao Engenheiro António Silva por todo o apoio e ajuda no procedimento experimental.

A todos os funcionários do Laboratório de Nutrição Animal, em especial à Dona Maria Angelina Marques, por toda a prontidão e ajuda no trabalho experimental.

Ao Departamento de Zootecnia e à UTAD por me deixarem utilizar as instalações.

A todos os amigos e colegas mais próximos, que estiveram ao meu lado durante esta fase, pelo apoio e companheirismo.

Ao Tiago, um agradecimento especial, pelos momentos felizes, pelo incentivo dado e essencialmente pela compreensão.

À minha família, em especial aos meus pais, Mário João e Fátima, e ao meu irmão, Mário Jorge, pelo apoio incondicional, incentivo de chegar cada vez mais longe e ajuda na superação de obstáculos que ao longo da vida foram surgindo.

O meu profundo e sincero agradecimento a todas as pessoas que contribuíram para a realização desta dissertação.

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Resumo

O objetivo deste trabalho foi estudar as performances produtivas, digestibilidade dos principais constituintes do alimento e o comportamento de coelhos em engorda, sujeitos a diferentes tempos de disponibilidade de água. Foram utilizados 180 animais, híbridos (Neozelandês x Californiano) de ambos os sexos, divididos em 2 ensaios. No primeiro ensaio, controlamos 144 animais divididos em quatro grupos (36 animais em cada grupo) para determinar as performances produtivas e o comportamento dos coelhos. No segundo ensaio trabalhamos com 36 animais divididos também em quatro grupos (9 animais em cada grupo) para determinar a digestibilidade da dieta. Em ambos os ensaios, procedeu-se a uma restrição de água com um grupo controlo e três níveis diferentes de acesso: 3h/dia durante a manhã (A3M); 3h/dia durante a tarde (A3T) e 6h/dia (A6M) de acesso à água, com começo às 9:00H os tratamentos aplicados durante a manhã e às 18:00H o grupo da tarde. Os coelhos foram controlados desde os 35 dias (idade de desmame) até aos 57 dias e durante todo o trabalho o fotoperíodo foi de 13 horas diárias (8:00H às 21:00H). O peso animal individual e o consumo de alimento foram controlados semanalmente para determinar as performances produtivas. Durante a pesagem dos coelhos eles foram observados a fim de determinar a morbilidade. O comportamento dos animais foi gravado semanalmente com uma camara de vídeo durante o período de restrição, filmando cada jaula 2 vezes por dia, todas as sextas, às 11:00H e às 20:00H durante 90 segundos. Na terceira semana foi realizado o ensaio de digestibilidade.

O ganho médio diário foi significativamente afetado pela restrição de água (P<0,05), com uma diminuição de 23% para A3M em relação ao controlo. Os tratamentos A3T e A6M também desceram, mas sem efeito significativo. Apesar deste crescimento diferenciado, o peso vivo final não foi significativamente afetado. O acesso restringido à água de A3M, A3T e A6M induziu a restrição de alimento nos coelhos para 87%, 85% e 86% do nível ad libitum, respetivamente, mas sem efeito significativo (P>0,05). O índice de conversão foi melhorado, mas também sem efeito significativo (P>0,05). A taxa de mortalidade foi baixa neste ensaio (7 coelhos mortos em 144 coelhos no inicio do ensaio), sem efeito dos tratamentos na mortalidade e morbilidade. O comportamento e a digestibilidade da dieta ingerida também não foram significativamente afetados pela restrição de água (P>0,05).

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Abstract

The aim of this work was to study the productive performance, digestibility of nutrients and behavior of fattening rabbits, subject to different times of water availability. There were used 180 animals, hybrids (Newzealand x Californian) of both sexes, divided into two trials. In the first trial, we controlled 144 animals, divided into four groups (36 animals in each group) to determine the productive performances and behavior of rabbits. In the second, trial we worked with 36 animals, divided also into four groups (9 animals in each group) to determine the diet digestibility. In both trials, we proceeded to a water restriction with a control treatment and three different levels of access: 3h/day during morning (A3M); 3h/day during evening (A3T) and 6h/day (A6M) access to water with started at 9 am the treatments applied in the morning and 6 pm afternoon group. The rabbits were controlled from 35 days (weaning age) to 57 days and throughout the work the photoperiod was 13 hours of light daily (8 am to 9 pm). Individual animal weight and food consumption were monitored weekly to determine productive performances. During weighing the rabbits were observed to determine morbidity. The behavior of the rabbits was recorded weekly by a video camera during the restricted period. Every Friday, the camera was held between 11 am and 8 pm, shooting 2 times a day in each cage, with each film having the duration of 90 seconds. In the third week it was performed a digestibility trial.

Daily weight gain was significantly affected by water restriction (P<0,05), with a decrease of 23% for A3M. The A3T and A6M treatments also decreased 16% and 10% compared with the control group, but without significant effect. Despite this differential growth, final body weight was not significantly affected by the treatment. A restricted access to drinking water of A3M, A3T and A6M induced feed restriction in growing rabbits to 87%, 85% and 86% of the ad

libitum level (P>0,05), respectively, but without significant effect. Feed conversion ratio were

only improved with hydric restriction in A6M, but no significant effect (P>0,05). Death rate was low in this trial (7 dead rabbits over 144 rabbits at the beginning of the study) and there weren’t found any effects of treatments on mortality and morbidity. The animal’s behavior and digestibility intake were not significantly affected by the water restriction (P>0,05).

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Índice geral

Índice de Figuras ... xv

Índice de Tabelas ... xvii

Lista de Abreviaturas ... xviii

Capítulo I – Introdução ... 1

Introdução ... 3

Capítulo II – Estado da Arte... 5

1. Características gerais do coelho ... 7

2. A água de abeberamento ... 8

3. A restrição de água em cunicultura ... 9

4. Enteropatia mucoide ... 14

5. Comportamento e bem-estar do coelho ... 15

5.1 Características gerais do comportamento ... 15

5.2 Avaliação do comportamento em coelhos ... 17

Capítulo III – Trabalho Experimental ... 21

1 – Objetivos ... 23 2 – Materiais e métodos ... 23 2.1 Delineamento experimental ... 23 2.2 Animais e dietas ... 24 2.3 Tratamentos ... 24 2.4 Parâmetros avaliados ... 26 2.4.1 Performances produtivas ... 26 2.4.2 Comportamento ... 27 2.4.3 Digestibilidade ... 29 2.5 Análise estatística ... 30 3 – Resultados e Discussão ... 30 3.1 Performances Zootécnicas ... 30

3.1.1 Peso vivo e ganho de peso ... 30

3.1.2 Ingestão de alimento ... 33

3.1.3 Índice de conversão ... 35

3.1.4 Estado sanitário ... 36

3.2 Comportamento ... 40

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3.2.2 Efeito da hora do dia ... 42

3.2.3 Efeito da idade dos coelhos ... 43

3.3 Digestibilidade ... 43

3.4 Conclusões ... 45

Capítulo IV – Considerações Finais ... 47

Considerações finais ... 49

Capítulo V – Referências Bibliográficas ... 51

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Índice de Figuras

Figura 1 - Comportamento normal – Deitado em estado de alerta. ... 28

Figura 2 - Comportamento social - Lavar/Limpar. ... 28

Figura 3 - Comportamento anormal: roer /mastigar objetos. ... 29

Figura 4 - Evolução do peso vivo dos coelhos de acordo com a restrição de água a que foram submetidos. ... 31

Figura 5 – Mortalidade e morbilidade (número de coelhos) em cada tratamento. ... 37

Figura 6 - Taxa de mortalidade ao longo das 3 semanas de ensaio. ... 38

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Índice de Tabelas

Tabela 1 – Necessidade de água em coelhos. ... 8

Tabela 2 - Resultados de alguns estudos em que foram usadas diferentes restrições em coelhos. ... 11

Tabela 3 - Parâmetros para a mensuração de bem-estar. ... 17

Tabela 4 Comportamento de coelhos e a sua descrição. ... 18

Tabela 5 - Ingredientes e composição química da dieta usada no ensaio. ... 25

Tabela 6- Esquema da disponibilidade de água de acordo com os tratamentos aplicados. ... 26

Tabela 7- Peso vivo e ganho médio diário de peso dos coelhos submetidos aos diferentes tratamentos de restrição de água. ... 32

Tabela 8- Ingestão média diária de alimento de coelhos submetidos a diferentes tratamentos de restrição de água. ... 34

Tabela 9- Índice de conversão alimentar de coelhos submetidos a diferentes tratamentos. ... 35

Tabela 10 - Estado sanitário dos coelhos submetidos a diferentes tratamentos. ... 37

Tabela 11 - Efeito dos diferentes tratamentos sobre o comportamento de coelhos em crescimento (% do tempo). ... 40

Tabela 12 - Efeito da hora do dia sobre o comportamento dos coelhos (% do tempo). ... 42

Tabela 13 - Efeito da idade no comportamento de coelhos em crescimento (% do tempo). ... 43

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Lista de Abreviaturas

AC Tratamento controlo

ADF Fibra de detergente ácido

A3M Tratamento com 3 horas de acesso à água durante a manhã

A3T Tratamento com 3 horas de acesso à água durante a tarde

A6M Tratamento com 6 horas de acesso à água

CxNz Californiano x Neozelandês

FAOSTAT Food and Agriculture Organization of the United Nations Statistic Division

GMD Ganho médio diário de peso vivo

IC Índice de conversão alimentar

IMD Ingestão média diária de alimento

NDF Fibra de detergente neutro

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Introdução

A cunicultura intensiva atual enfrenta alguns problemas relacionados com a elevada mortalidade no período pós-desmame e com o elevado custo que a alimentação representa nos encargos da exploração (Bergaoui et al., 2008).

A incidência de desordens digestivas como a enteropatia mucoide e elevada mortalidade assume por vezes valores preocupantes (Ebeid et al., 2012).

A restrição alimentar é uma prática cada vez mais comum no período pós-desmame para reduzir as elevadas taxas de mortalidade e morbilidade associadas a desordens digestivas como é referido nos trabalhos de Boisot et al. (2004) e Gidenne et al. (2003).

A aplicação de uma restrição alimentar após o desmame tem várias vantagens, pois melhora a eficiência alimentar (Gidenne et al., 2009b; Yakubu et al., 2007; Gidenne et al., 2003; Taha et

al., 2014), reduz a deposição de gordura na carcaça (Elmaghraby, 2011; Tumova et al., 2004),

induz o crescimento compensatório (Yakubu et al., 2007) mas é limitado em boas condições sanitárias (Foubert et al., 2008), melhora a digestibilidade dos nutrientes (Di Meo et al., 2007; Bovera et al., 2013; Abdel-Wareth et al., 2015) e reduz a incidência de desordens digestivas nomeadamente a enteropatia mucoide (Bergaoui et al., 2008; Boisot et al., 2005). Todavia, nem sempre são observados estes resultados e encontramos alguma divergência, possivelmente influenciados pelo tipo e duração da restrição, alimentação, idade, entre outros.

Nem todas as explorações cunícolas têm a capacidade de realizar restrição alimentar, dependendo do grau de mecanização, pelo que poderá ser mais fácil para o cunicultor controlar a distribuição de água do que de alimento. Além disso, é difícil restringir corretamente alimento, uma vez que o número de coelhos por jaula pode não ser o mesmo. Está unanimemente reconhecido que a restrição de água é um método indireto para reduzir o consumo de alimento no período pós-desmame e desta forma reduzir a mortalidade associada à enteropatia mucoide (Bovera et al., 2013).

Na bibliografia consultada encontramos diversos trabalhos que corroboram a teoria que a restrição de água é vantajosa. No entanto, os trabalhos são muito divergentes, pois os resultados dependem da idade dos animais, condições sanitárias, tempo e período de restrição e alimentação. Além disso, poucos trabalhos estudaram o efeito dos tratamentos no

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comportamento e na digestibilidade dos nutrientes, focando-se apenas nas performances zootécnicas.

Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar as performances, a digestibilidade da dieta e o comportamento, em coelhos desde o desmame aos 35 dias até aos 57 dias de idade, sujeitos a diferentes níveis severos de restrição de água.

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1. Características gerais do coelho

O coelho é um mamífero que pertence à ordem dos Lagomorfos e à família Leporidae. O coelho doméstico derivou do coelho europeu silvestre que pertence ao género Oryctolagus, espécie

cuniculus e subespécie cuniculus (Mourão, 2003).

A temperatura elevada e o frio excessivo são prejudiciais aos coelhos, estando a zona de conforto térmico compreendido entre 16 e 21ºC e a humidade relativa do ar deve estar entre 65 e 75%. Os pontos de luz devem estar bem distribuídos, mas não é necessário assegurar iluminação artificial, uma vez que o coelho tem hábitos crepusculares. A ventilação deve eliminar os gases nocivos, renovar o oxigénio e retirar do pavilhão o excesso de humidade e calor produzidos pelos animais (Ferreira et al., 2012).

O sistema digestivo do coelho está adaptado à dieta herbívora. O ceco é o maior segmento do trato digestivo, com pH próximo de 6.0, dependendo da microbiota presente e da alimentação. A particularidade do coelho reside na dupla função do cólon proximal, relacionado com a hora do dia e o tamanho da partícula. Se o conteúdo do ceco entrar no cólon na parte da manhã, as paredes do cólon secretam um muco que o envolve, formando as fezes moles ou cecotrofos. Se o conteúdo do ceco entrar no cólon noutra altura do dia, há contrações e a maioria da fração líquida é forçada a regressar ao ceco, formando desta forma as fezes sólidas. Esta dupla ação permite ao coelho ingerir as fezes moles diretamente do ânus, e desta forma reaproveitar a proteína e as vitaminas do complexo B e C, aumentando a eficiência digestiva para alguns constituintes da dieta (Fortun-Lamothe e Gidenne, 2006).

O consumo da carne de coelho tem subido ligeiramente em todo o mundo, tendo atingido 1,78 milhões de toneladas de carcaças em 2013, ficando muito longe dos consumos de carne de frango ou de porco. A região com mais produção de carne de coelho é a Ásia, com 38,7% e os maiores produtores mundiais são a China, a Itália e a Espanha (FAOSTAT, 2013). A carne de coelho tem boas propriedades nutritivas e dietéticas. É uma carne com pouca gordura, pobre em lípidos saturados, sódio e colesterol e rica em lípidos insaturados, potássio, fósforo e magnésio, com proteínas e aminoácidos de elevado valor biológico (Abdel-Wareth et al., 2015; Mourão e Pinheiro, 2004).

Em Portugal, a produção total de carne de coelho é aproximadamente 20 mil toneladas, valor semelhante ao consumo total, sendo as importações e exportações pouco relevantes (Mourão, 2003). Entre Douro e Minho é a região com o maior número de explorações, tendo 37% do total

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nacional (aproximadamente 60 000) e com o maior número de reprodutoras, com 36% do total nacional, que será cerca de 165 000. Em seguida surgem as regiões da Beira Litoral e Trás-os-Montes (Pinheiro, 2015).

2. A água de abeberamento

A água é o principal constituinte da maioria dos seres vivos, cujo organismo é composto por 40 a 75% de água, dependendo da idade e estado de engorda (Duarte e Carvalho, 1979). A água, além de ser o maior componente dos fluidos corporais, como o sangue, a urina ou a saliva, intervém em variadas reações químicas no organismo (Bawa et al., 2006; Taha et al., 2014). No coelho todos os dias são eliminadas grandes quantidades de líquidos através da urina, respiração e fezes. Por isso a água é o componente quantitativamente mais importante e varia com o seu estado fisiológico, como se pode observar na Tabela 1. No láparo desmamado a relação água-alimento é mais baixa, na ordem de 1,5 (Duarte e Carvalho, 1979). Dependendo da idade, o nível de água consumida representa no coelho adulto cerca do dobro do nível de alimento ingerido (Prud’hon et al., 1975). As condições climáticas também afetam o consumo de água, sendo que a relação água consumida/alimento aumenta no verão.

Tabela 1 – Necessidade de água em coelhos.

Idade animal Quantidade de água ingerida

Animais jovens 120- 200 ml/dia

Coelhas em lactação 1000 ml/ dia

Coelhas secas 400 ml/ dia

Média geral 200 – 250 g/dia/kg PV

(Adaptado de Manzano e Torres, 2005).

O comportamento alimentar é modificado caso os animais não tenham acesso à água. Nas primeiras 24 horas o consumo de alimento baixa, e em 48 horas é quase nulo. A temperatura da água também é importante uma vez que água muito fria sensibiliza a parede do intestino,

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modificando a composição da flora intestinal, e desta forma pode provocar enterite (Duarte e Carvalho, 1979).

No entanto, a água pode transmitir doenças quando atua como veículo do agente infecioso ou contém substâncias químicas como pesticidas. Por isso, é necessário controlar a origem da água das explorações cunícolas e caso seja necessário proceder ao seu tratamento (Coelho, 2011). A qualidade da água pode dividir-se em quatro características: organoléticas, físico químicas, química e microbiológica. Os parâmetros aceites em cunicultura são os mesmos utilizados para consumo humano (Manzano e Torres, 2005).

3. A restrição de água em cunicultura

A restrição alimentar tem sido usada para reduzir a incidência de problemas digestivos como a enteropatia mucoide e ainda acrescentar benefícios como o aumento da eficiência alimentar, em resultado de uma melhor digestibilidade dos nutrientes. Desta forma é possível reduzir os custos de produção, já que a alimentação representa a maioria dos custos inerentes à produção cunícola (Tumová et al., 2016; Elmaghraby, 2011, Matics et al., 2008; Pinheiro et al., 2012; Maertens e Gidenne, 2016). Além disso, a restrição pode ser uma alternativa ao uso de antibióticos usados na prevenção da enteropatia mucoide (Bovera et al., 2013; Gidenne et al., 2012).

A restrição de água pode ser um método indireto para reduzir a quantidade de alimento que o animal ingere durante a fase pós desmame e desta forma melhorar a saúde digestiva (Bovera et

al., 2013). Este método alternativo para redução da ingestão de alimento é mais fácil de aplicar

em cuniculturas do que a restrição de alimento (Foubert et al., 2008).

A restrição de água apresenta várias vantagens. A deposição de gordura na carcaça (perirenal, escapular e intramuscular) é mais reduzida e a taxa de mortalidade e morbilidade diminui (Elmaghraby, 2011). A restrição de alimento tem ainda efeitos ao nível da excreção de azoto (N), pois de acordo com Birolo et al. (2016) verificaram que a restrição de alimento tem efeitos positivos na redução do azoto excretado.

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No entanto, a restrição de água em coelhos desmamados pode apresentar efeitos negativos. Em condições climáticas muito quentes a restrição não deve ser muito severa pois tem um impacto negativo no bem-estar animal (Gidenne et al., 2012). Por outro lado, em boas condições sanitárias o crescimento compensatório, que normalmente é observado quando os animais têm livre acesso após algum período de restrição alimentar, na restrição hídrica foi mais limitado (Foubert et al., 2008; Chodová et al., 2016).

Na Tabela 2 é possível observar a síntese de alguns estudos em que foram usadas restrições hídricas. No que diz respeito à mortalidade, na maioria dos trabalhos foi superior no grupo controlo. A ingestão alimentar foi menor e a eficiência alimentar foi maior na generalidade dos grupos com restrição de água. Também a digestibilidade do alimento aumentou em alguns trabalhos, no grupo com restrição de água.

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11 Tabela 2 - Resultados de alguns estudos em que foram usadas diferentes restrições em coelhos.

Autores Ano Tratamentos Período de restrição

Determinações Resultados

Bovera et

al.

2013 Grupo AL – água ad libitum

Grupo WR

35 aos 41 dias – água disponível 2h/dia

42 aos 48 dias – água disponível 2,5h/dia

49 aos 55 dias – água disponível 3h/dia

55 aos 60 dias – água disponível 4h/dia 35 - 60 dias  Performances  Digestibilidade  Carcaça  Mortalidade  Mortalidade maior no AL  Ingestão alimento maior no AL  Digestibilidade maior no WR

 %Gordura perirenal e escapular maior AL

Elmaghraby 2011 A1 – água disponível 1h/dia

A2 – água disponível 2h/dia A24 – água ad libitum

35 - 63 dias  Ingestão de alimento  Ganho de peso  Eficiência alimentar  Mortalidade

 Ingestão alimento A1 e A2 diminuiu (A1 – 25.1% e A2- 19.1%) quando comparado com A24

 Ganho de peso inferior A1 e A2 (A1 – 26.6% e A2 – 21%) quando comparado com A24

 Eficiência alimentar semelhante  Mortalidade A1 e A2 (1.56%) menor

que A24 (12.5%)

Sitati 2014 C 1 – água disponível 2h/dia (8-10h)

C 2 – água disponível 4h/dia (8-12h) C3 – água disponível 6h/dia (8-14h) Grupo controlo – água ad libitum

30 - 74 dias  Consumo água  Ingestão de alimento  Ganho de peso  Mortalidade

 Grupo controlo consome mais água (442.7ml) vs. C1 (224.4ml).

 Não há grandes variações no consumo de alimento

 Grupo controlo com maior ganho de peso

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 Maior mortalidade no grupo controlo (33%) seguido do C3 (16.7). C1 e C2 não registaram mortes.

Taha et al. 2014 Grupo controlo – água ad libitum

G1 – água disponível 2h/dia (9h-11h) G2 – água disponível 3h/dia (9-12h)

35 - 63 dias  Ganho de peso  Ingestão de alimento  Eficiência alimentar  Carcaça  Comportamento

 Ganho de peso e ingestão de alimento semelhante

 Eficiência alimentar melhor no G1 e G2

 Gordura abdominal é menor em G1 e G2

 Grupo controlo bebe mais água

Bawa et al. 2006 T1 – água ad libitum

T2 - água disponível 18h/dia T3 - água disponível 12h/dia T4 – água disponível 6h/dia

 Ganho de peso  Ingestão de alimento  Ingestão de água  Relação água/alimento (ml/g)  Eficiência alimentar  Mortalidade

 Ganho de peso maior no T1 e T2  Ingestão de alimento maior no T1 e T2  Ingestão de água maior no T1

 Relação água/alimento maior no T1 (2.32ml/g alimento)

 Eficiência alimentar menor no T1 e maior no T4

 Mortalidade maior no T4, não se registaram mortes no T1 e T2.

Verdelhan

et al.

2004a T1 – água ad libitum

T2 – água disponível 1h30/dia T3 – água disponível 2h30/dia T4 – água disponível 4h/dia

32 - 62 dias  Ingestão de água  Ingestão de alimento  Ganho de peso  Eficiência alimentar  Condições sanitárias

 Consumo água de 62 a 87% do nível ad

libitum nos grupos com restrição

 Ingestão de alimento 78 a 87% do nível

ad libitum nos grupos com restrição

 Ganho de peso inferior 3,7 a 6% do nível ad libitum nos grupos com restrição

 Eficiência alimentar melhor nos grupos com restrição

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 Não há diferenças significativas nas condições sanitárias

Rayana et

al.

2008 T - água ad libitum

R2 – água disponível 2h/dia R4 – água disponível 4h/dia

35 - 77 dias  Ganho peso  Mortalidade  Ingestão de alimento  Ingestão de água

 Ingestão de água menor em R2 e R4  Ganho de peso menor no R2 e R4  Ingestão de alimento menor no R2 e R4  Mortalidade maior no R2

Verdelhan

et al.

2004b C – água ad libitum e alimento restrito D – água disponível 2h30/dia e

alimento ad libitum

38 -71 dias

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4. Enteropatia mucoide

Na fisiologia digestiva de um complexo macro organismo como o coelho é necessário considerar as suas reações corporais com as de um vasto número de microrganismos que nele habitam. Estes microrganismos são normalmente associados a mucosas internas, principalmente no sistema digestivo, como a microbiota intestinal (Badiola et al., 2016). Durante toda a vida o organismo hospedeiro é colonizado por uma vasta, complexa e dinâmica quantidade de microrganismos. Dependendo das estirpes de microrganismos, há os que permanecem no organismo sem produzirem doenças e em plena simbiose com o hospedeiro, mas existem também microrganismos patogénicos que reduzem a tolerância do hospedeiro, podendo causar inflamação intestinal crónica e alterações metabólicas significativas (Badiola

et al., 2016).

Em condições normais há alterações significativas na microbiota intestinal dos coelhos durante as primeiras semanas de vida. Inicialmente há uma quantidade mais elevada de Bacteroides spp. que vão diminuindo ao desmame e uma quantidade menor de Firmicutes que aumenta ao desmame. Em animais com enteropatia mucoide não há redução de Bacteroides spp. mas sim o seu aumento, onde o Clostridium perfringens desempenha o papel principal como causador da enteropatia (Badiola et al., 2016).

Desde 1997 a enteropatia mucoide espalhou-se pela Europa, sendo a primeira causa de morte de coelhos na engorda. Esta patologia digestiva reduz o consumo de alimento e água e aumenta a taxa de mortalidade (Huybens et al., 2008). A enteropatia é caracterizada por distensão abdominal, emissão de pequenas quantidades de fezes aquosas e é altamente contagiosa. Esta doença afeta principalmente coelhos em crescimento após o desmame, entre as seis e as sete semanas de idade, mas pode ser também observada em coelhos mais velhos, em adultos e em láparos antes do desmame. Ao contrário de outras doenças epizoóticas (mixomatose, doença vírica hemorrágica), os coelhos selvagens não parecem ser afetados, no entanto a enteropatia já foi observada em unidades de reprodução de coelhos selvagens (Licois et al., 2006).

Os sinais clínicos da enteropatia são tratados com agentes antimicrobianos. No entanto, as limitações legais e sociais para o uso de antibióticos aumentaram as pesquisas sobre medidas alternativas, como o aumento do uso de fibras, redução da quantidade de proteína da ração, restrição alimentar ou uso de probióticos (Badiola et al., 2016).

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Mesmo o tratamento com antibióticos nem sempre se mostrou eficiente no tratamento da doença. A bacitracina e tiamulina são eficazes, no entanto, há a possibilidade de a doença voltar no final do tratamento (Huybens et al., 2008), pelo que se recomenda o uso durante um período de tempo bastante longo e por vezes incompatível com a segurança alimentar na produção.

5. Comportamento e bem-estar do coelho

5.1 Características gerais do comportamento

A domesticação do coelho é bastante recente quando comparada com a de outros animais. Esta domesticação não produziu grandes alterações no seu comportamento em comparação com coelhos selvagens, apenas na intensidade e frequência de alguns tipos de comportamento, como a maior atividade diária em coelhos domésticos (Trocino e Xiccato, 2006).

As investigações sobre o bem-estar na cunicultura tiveram início quando os animais começaram a ser alojados em jaulas individuais (Gunn e Morton, 1995).

É difícil ter apenas uma definição universal de bem-estar animal (Trocino e Xiccato, 2006). Segundo Hughes (1976) bem-estar é “um estado de perfeita integridade física e mental na qual o animal está em completa harmonia com o ambiente que o circunda”. Esta definição sofreu uma evolução por Broom (1986) em que é definido como a capacidade do animal se adaptar rapidamente ao ambiente.

Em 1991, a Farm Animal Welfare Council apresentou uma definição de bem-estar conhecida como “as cinco liberdades”, considerando 1) fome e sede, 2) alojamento inadequado e intempéries, 3) doenças e feridas, 4) medo e ansiedade, e 5) podem expressar o comportamento típico da espécie. As três primeiras liberdades são fáceis de identificar e defendidas pelos produtores uma vez que tem efeitos benéficos na produtividade dos animais. No entanto, as últimas duas liberdades são difíceis de medir pois não temos a certeza que o coelho não tenha medo e ansiedade e que estão a expressar normalmente o seu comportamento (Xiccato e Trocino, 2005).

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16

Uma vez que o coelho é um animal social, muitas vezes em jaulas tradicionais não exprime alguns dos seus comportamentos normais quando estão em jaulas individuais, como tocar em outros coelhos e cavar com a finalidade de fazer o ninho (Hansel e Berthelsen, 2000; Katsarou

et al., 2011). Isto pode resultar num aumento do stress e comportamentos anormais e

estereotipados como roer objetos, escavar ou arrancar e mastigar pelo (Gunn e Morton, 1995; Hansel e Berthelsen, 2000). Além disso, investigações morfológicas e histológicas mostram anormalidades na carcaça de animais em stress (Hansel e Berthelsen, 2000).

O estudo do comportamento do coelho é a base para se conhecer as suas necessidades e adequar as condições de alojamento a essas exigências. Uma medida objetiva das condições de bem-estar é fundamental e pode ser medido utilizando indicadores comportamentais, fisiológicos, patológicos e zootécnicos (Xiccato e Trocino, 2005).

Uma condição de stress prolongada pode ser evidenciada por medidas fisiológicas. O aumento da frequência cardíaca, da atividade adrenal com aumento das hormonas corticosteroides e resposta imunológica reduzida podem indicar que o animal está sob condições de stress. No entanto, com exceção da frequência cardíaca, esta medida não é confiável pois é necessário a recolha de amostras de sangue que podem provocar stress ao coelho e alterar os níveis das variáveis (Trocino e Xiccato, 2006).

Os indicadores patológicos e zootécnicos são facilmente percetíveis, mas devem ser interpretados com zelo. Condições sanitárias inadequadas diminuem o bem-estar e por outro lado, um animal sujeito a stress prolongado está mais suscetível a patologias devido a uma resposta imunológica reduzida. No entanto, o baixo desempenho produtivo e reprodutivo não pode ser associado diretamente a menores condições de bem-estar animal (Xiccato e Trocino, 2005).

Os indicadores comportamentais são utilizados para comparar diferentes situações de maneio e observar possíveis comportamentos estereotipados, que são repetidos de modo obsessivo e sem nenhuma finalidade (Xiccato e Trocino, 2005). Alguns destes indicadores estão na Tabela 3.

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17 Tabela 3 - Parâmetros para a mensuração de bem-estar.

Demonstração de uma variedade de comportamentos

Grau em que comportamentos fortemente preferidos podem ser apresentados Indicadores fisiológicos de prazer

Indicadores comportamentais de prazer Expectativa de vida reduzida

Crescimento ou reprodução reduzidos Danos corporais

Doença

Imunossupressão

Tentativas fisiológicas de adaptação Tentativas comportamentais de adaptação Auto - narcotização

Grau de aversão comportamental

Grau de supressão de comportamento normal

Grau de prevenção de processos fisiológicos normais e de desenvolvimento anatómico

Adaptado de Broom e Molento, 2004.

Apesar de não haver um modelo animal para a avaliação de indicadores de comportamento de coelhos domésticos, a sua observação pode ser usada para os comparar e identificar a possível ocorrência de comportamentos fora do normal (Trocino e Xiccato, 2006).

5.2 Avaliação do comportamento em coelhos

A avaliação do comportamento dos animais pode ser feita através da elaboração de um etograma, que pode ser definido como o produto da observação, anotações e síntese do comportamento observado. Para a realização do etograma torna-se necessário agrupar padrões semelhantes de comportamentos observados em momentos diferentes para assim se tornar mais prático e de fácil compreensão (Mauck, s/d).

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18

Torres (2010) propõe um quadro de comportamentos (Tabela 4), que podem ser observados em coelhos, de acordo com Gunn e Morton (1995) e Hansen e Berthelsen (2000) e que poderão servir de base para a elaboração de um etograma.

As diversas atividades dos animais foram divididas em normais, sociais e anormais. As normais são atividades típicas de conforto e rotina. As sociais são atividades de interação e espontâneas e as anormais são atividades típicas de stress ou desconforto.

Tabela 4 Comportamento de coelhos e a sua descrição.

Comportamento Definição Normais

Movimento Movimento à volta da jaula;

Comer Alimentar-se do comedouro e mastigar o alimento;

Beber Ingestão de água a partir do bebedouro;

Sentado Recolher os membros anteriores para debaixo do corpo

Levantado Ambas as patas anteriores são elevadas do chão;

Dormir Deitado ou sentado com ambos os olhos fechados e quando

nenhum outro comportamento é realizado. As orelhas normalmente encontram-se esticadas sobre o dorso. Deitado em estado de

alerta

Deitado com os olhos abertos e respondendo ao ambiente. Mantêm-se relativamente inativo.

Urinar O animal urina

Defecar O animal defeca

Cecotrofia O animal ingere fezes

Sociais

Lavar/Limpar Lamber o pelo. Normalmente o flanco é limpo com

movimentos deslizantes da cabeça. Durante a limpeza do focinho, uma ou ambas as patas anteriores são lambidas e puxadas para baixo sobre a cabeça. A parte exterior das orelhas é limpa desta forma

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Farejar/cheirar O coelho fareja o ambiente (grades, chão, bebedouro,

comedouro) ou fareja o ar com o seu nariz pelas grades da jaula.

Cheirar outro coelho Um coelho cheira outro coelho

Lavar/Limpar outro coelho

Um coelho lambe o pelo de outro coelho

Coçar As patas traseiras são usadas para coçar o corpo, pescoço,

orelhas e focinho (olhos, nariz, etc.)

Espreguiçar-se O coelho que estende as suas patas anteriores para a frente

com a cabeça tombada para trás

Abanar/Sacudir Abanar ou sacudir o corpo, cabeça e patas. Ocorre com

frequência após a limpeza (lavagem)

Anormais

Roer/mastigar objetos Roer, morder, puxar, mastigar comedouros, bebedouros,

grelha do chão, grades da jaula, pelo, etc.

Movimento rápido Correr depressa à volta da jaula ou do parque

Salto Circundar muito rápido ou saltar à volta da jaula

Escavar Quando todos os objetos presentes na jaula, inclusive outros

coelhos, são sujeitos a uma ação rigorosa das patas escavando

Fungar Um ataque de espirro

Lamber objetos Lamber o chão, grades, comedouro, bebedouro, etc.

Arrancar pelo Um coelho arranca pelo a outro coelho

Mastigar pelo O animal mastiga o seu próprio pelo ou o de outro coelho

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1 – Objetivos

Na revisão bibliográfica anteriormente apresentada e discutida observamos que existem vários trabalhos sobre o uso da restrição de água para indiretamente restringir o consumo de alimento e desta forma reduzir a incidência da enteropatia mucoide. No entanto, os tratamentos aplicados variam na duração e momento de aplicação, pelo que os resultados são também muito divergentes. Assim, o objetivo deste estudo foi o de avaliar as performances produtivas (ingestão de alimento, ganho médio diário), o comportamento, a digestibilidade e a sanidade de coelhos em engorda sujeitos a diferentes níveis de restrição de água, nomeadamente, disponibilidade de água ad libitum, 3 horas no período da manhã ou da tarde e 6 horas que abrangem o período da manhã e da tarde.

Inicialmente estava previsto terminar o ensaio ao abate para os animais terem um período ad

libitum após as três semanas de restrição, no entanto por questões logísticas teve de ser

interrompido e assim este trabalho abrange apenas as 3 semanas iniciais da engorda, entre os 35 e os 57 dias de idade, durante a qual se efetuou a restrição de água.

2 – Materiais e métodos

2.1 Delineamento experimental

O trabalho foi realizado entre abril e maio de 2016, na cunicultura da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em Vila Real, Portugal. Os animais foram manuseados de acordo com as exigências de bem-estar animal (Portarias nº 1005/92 e 635/09 e Decreto Lei nº 81/2013).

Para avaliar as performances e a digestibilidade foi necessário realizar dois ensaios em separado. No ensaio da engorda para avaliar as performances de crescimento e o comportamento, os animais foram alojados em grupos de quatro e no ensaio da digestibilidade foram alojados individualmente.

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A temperatura em ambas as salas variou entre os 15 e os 24ºC e a humidade relativa foi próxima dos 65%. Durante todo o ensaio os coelhos receberam 13 horas de luz por dia (8:00h às 21:00h). Nos dois ensaios o fator de variação foi a duração da disponibilidade de água (restrição de água de abeberamento) aplicando os tratamentos abaixo descritos.

2.2 Animais e dietas

Nos ensaios foram utilizados 180 coelhos híbridos (144 referentes ao ensaio da engorda e 36 ao ensaio da digestibilidade), resultantes do cruzamento de coelhos das raças Californiana e Neozelandês (CxNz) de ambos os sexos. O trabalho experimental teve início aquando do desmame dos coelhos com 35 dias e terminou aos 57 dias de idade.

O alimento composto comercial foi adquirido a uma empresa fabricante de alimentos compostos e distribuído ad libitum durante toda a fase da engorda. O alimento distribuído era suplementado com substâncias medicamentosas. A composição química do alimento composto determinada em laboratório e os ingredientes, cuja informação consta da rotulagem do produto estão apresentados na Tabela 5.

2.3 Tratamentos

O ensaio da engorda iniciou-se com os 144 animais referidos anteriormente, divididos aleatoriamente em 4 grupos de 36 animais cada (4 tratamentos). Cada grupo foi distribuído por 9 jaulas, ficando 4 coelhos em cada jaula. A distribuição dos tratamentos foi feita por fila de jaulas, pois só desta forma se podia adaptar a canalização existente ao horário de abertura e fecho da água de forma a aplicar a restrição pretendida.

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Tabela 5 - Ingredientes e composição química da dieta usada no ensaio.

Ingredientes Nível de incorporação (%)

Bagaço de girassol 23,5 Sêmea de trigo 18,9 Cevada 7,9 Sêmea de arroz 6,7 Bagaço palmiste 6,5 Palha tratada 6,0 Bagaço de uva 4,9 Luzerna 4,7 Polpa de beterraba 4,3 Polpa de citrinos 3,3 Colza 3,3 Melaço de cana 2,6 Aditivos* 4,8

Composição química (g 100-1g Matéria seca (MS))

Matéria seca (%) 96,1 Matéria orgânica 90,0 Proteína bruta (PB) 17,7 Gordura bruta (GB) 3,4 Fibra bruta (FB) 18,2 Energia bruta (MJ Kg-1 MS) 17,8

*Vitaminas (Vitamina A, D3, E, Cloreto de colina), oligoelementos (ferro, granulado revestido de carbonato de cobalto, manganês, zinco, selénio, iodo, cobre), coccidiostáticos (clorhidrato de robenidina), antioxidantes (etoxiquina) e antibióticos (colistina sulfato, tiamulina fumarato A e oxitetraciclina).

No início do ensaio da engorda foram pesados todos os animais e determinado o peso vivo médio de cada grupo para que fosse semelhante. De forma a acompanhar o peso individual de cada coelho, estes foram brincados no início do ensaio. Para distinguir os quatro animais, no primeiro foi colocado um brinco na orelha esquerda, no segundo na direita, no terceiro um brinco cortado ao meio e o quarto coelho não foi colocado nenhum brinco. As jaulas dispunham de um bebedouro tipo “caçoleta” e um comedouro de chapa galvanizada.

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O ensaio da digestibilidade começou no início da segunda semana de restrição, para os animais terem um período de adaptação de cerca de 10 dias antes da recolha, que se iniciou a meio da terceira semana de engorda. A distribuição dos animais foi aleatória e os tratamentos distribuídos por filas de jaulas, como aconteceu no ensaio da engorda e pelos mesmos motivos. No estudo realizado, o alimento foi disponibilizado ad libitum mas o acesso à água esteve controlado de acordo com as restrições estabelecidas e apresentadas na Tabela 6.

Tabela 6- Esquema da disponibilidade de água de acordo com os tratamentos aplicados.

Tratamento 24:00h 6:00h 9:00h 12:00h 15:00h 18:00h 21:00h 24:00h AC

A3M A6M A3T

AC – Tratamento Controlo – água ad libitum; A3M – tratamento com disponibilidade de água 3 horas por dia no período da manhã (das 9:00 às 12:00h); A6M – tratamento com disponibilidade de água 6 horas por dia no período da manhã e tarde (das 9:00 às 15:00h); A3T – tratamento com disponibilidade de água 3 horas por dia no período da tarde (das 18:00 às 21:00h).

2.4 Parâmetros avaliados

Os parâmetros a estudar com este ensaio foram as performances produtivas, o comportamento e a digestibilidade de coelhos em engorda sujeitos a diferentes níveis de restrição de água.

2.4.1 Performances produtivas

O peso dos comedouros e o peso vivo dos animais foram controlados semanalmente a fim de determinar o ganho médio diário de peso vivo (GMD), a ingestão média diária de alimento

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(IMD) e o índice de conversão alimentar (IC). Durante a semana, sempre que necessário foi acrescentado alimento e registado o seu valor.

Diariamente foi controlada a mortalidade e registados os casos ocorridos. Os cadáveres eram recolhidos e entregues no laboratório de patologia para efetuar a necropsia.

Aquando da pesagem semanal os animais eram observados, nomeadamente a parte rectal para verificar a presença de diarreia e o nariz para verificar a presença de corrimento nasal a fim de determinar a morbilidade. Animais com sinais de diarreia em decurso ou passada e com corrimento nasal eram considerados mórbidos. Também os animais que durante a semana perderam peso, mesmo que não apresentassem nenhum dos sinais anteriores, eram englobados nesta categoria. Foi também determinado o risco sanitário sendo calculado como o somatório da mortalidade e da morbilidade.

2.4.2 Comportamento

Um dos parâmetros a analisar com este ensaio foi o comportamento dos coelhos quando sujeitos a uma restrição hídrica. Assim, foi necessário filmar as jaulas para posteriormente elaborar um etograma. Cada jaula foi filmada durante 1min30s, à sexta-feira, em dois períodos do dia: às 11h e às 20h.

No início do ensaio foram colocados brincos nos coelhos de forma a serem identificados nas gravações e permitir a sua análise individual.

Para o registo do comportamento dos animais foi usada uma câmara de vídeo (Fujifilm Finepix AX350). Posteriormente, as gravações foram analisadas em formato digital num computador. O tempo que cada animal gastou na realização de determinado comportamento foi registado numa folha de Excel para posterior análise. Os comportamentos analisados são os que foram descritos anteriormente na revisão bibliográfica na Tabela 4. Alguns comportamentos manifestados pelos animais e considerados no trabalho experimental, são apresentados na Figura 1, Figura 2 e Figura 3 .

Os comportamentos foram divididos em 3 grupos: normal, social e anormal (Lidfords, 1997). O tempo total despendido em cada um dos três grupos foram sujeitos a uma análise estatística, e foram também analisados os três comportamentos mais repetidos dentro de cada grupo.

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Figura 1 - Comportamento normal – Deitado em estado de alerta. (Fonte: Própria)

Figura 2 - Comportamento social - Lavar/Limpar. Fonte: Própria.

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Figura 3 - Comportamento anormal: roer /mastigar objetos. Fonte: Própria.

2.4.3 Digestibilidade

O ensaio de digestibilidade foi realizado na terceira semana com recolhas de fezes durante 4 dias seguidos, de acordo com o método de referência (Perez et al., 1995). No ensaio foram utilizados 36 animais, 9 de cada tratamento. No início do ensaio foram selecionados animais em bom estado sanitário e distribuídos pelos grupos de forma o mais homogénea possível para evitar grandes variações de peso entre os tratamentos. O facto de o ensaio ser realizado na terceira semana permitiu aos animais adaptarem-se ao tratamento a que estavam sujeitos. Durante 4 dias foram recolhidas as fezes dos animais individualmente, sem contabilizar os

cecotrofos, e armazenadas individualmente a -20 o C. Em seguida, as fezes foram secas em

estufa a 50 o C, moídas e foi retirada uma amostra para posterior análise. No laboratório foi

determinada a composição química do alimento e das fezes, nomeadamente matéria orgânica, proteína bruta, gordura bruta, cinzas, NDF, ADF e celulose para depois calcular a digestibilidade aparente (expressa em percentagem de matéria seca). O consumo de alimento foi controlado, pesando o comedouro no início e no fim do ensaio. Para controlar o seu peso vivo, os coelhos foram pesados no início e no fim do ensaio.

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2.5 Análise estatística

Na análise estatística dos dados recorreu-se ao programa JMP (5.01) para realizar uma análise de variância (ANOVA) sendo os tratamentos (tempo de disponibilidade de água) o fator de variação. Quando o efeito do tratamento foi significativo, isto é P <0,05, efetuou-se uma comparação múltipla de médias através do teste de Tukey. Na análise dos dados das performances foram consideradas cada uma das 3 semanas do ensaio e um período global que engloba as três semanas.

3 – Resultados e Discussão

3.1 Performances Zootécnicas

3.1.1 Peso vivo e ganho de peso

Na Figura 4 e na Tabela 7 podemos observar a evolução do peso vivo (PV) e a variação do ganho de peso, calculando o ganho médio diário (GMD) ao longo de 3 semanas e de acordo com os tratamentos a que os animais estiveram sujeitos.

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Figura 4 - Evolução do peso vivo dos coelhos de acordo com a restrição de água a que foram submetidos. Valores para a mesma semana com letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). NS- Não significativo

O PV no início do ensaio (desmame) foi semelhante (P=0,544) entre os tratamentos. No final da primeira semana de restrição o grupo A3M foi significativamente maior (P=0,01) relativamente ao grupo AC. Os grupos A6M e A3T não diferiram significativamente dos restantes.

Na segunda semana o grupo AC teve um peso significativamente superior (P=0,002) aos grupos A3T e A6M. O grupo A3M não diferiu dos restantes grupos. Na última semana do ensaio, o PV não mostrou diferenças significativas (P=0,214) apesar do grupo controlo ser superior aos restantes.

Os resultados da segunda semana estão de acordo com Boisot et al. (2004), em que num ensaio com coelhos alimentados ad libitum e com acesso à água de 3h/dia, obtiveram pesos significativamente inferiores no grupo com restrição quando comparado com o grupo controlo. No entanto, estes autores verificaram que o PV do grupo com restrição foi significativamente inferior ao grupo controlo ao longo de todo o ensaio, o que não aconteceu no presente ensaio.

800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 Desmame S1 S2 S3 Peso vi vo (g) Tempo (semanas)

A3M A3T AC A6M

NS a b abab ab a b b NS

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Bawa et al. (2006), num ensaio com acesso 6h/dia verificaram que a restrição de água diminuía significativamente o PV. Já Taha et al. (2014) não encontraram diferenças significativas em animais com acesso à água 3h/dia em relação ao grupo controlo (24h/dia).

Tabela 7- Peso vivo e ganho médio diário de peso dos coelhos submetidos aos diferentes tratamentos de restrição de água.

Tratamento EPM1 Valor de P

AC A3M A3T A6M

Peso vivo (g)

Desmame 948 989 950 961 11,23 0,544

Final 1981 1842 1849 1865 26,86 0,214

Peso vivo (% AC)

Final 100 93 93 94 - -

Ganho médio diário (g)

Semana 1 43,8 b 54,9 a 47,5 ab 49,7 ab 1,17 0,007

Semana 2 68,9 a 38,4 b 43,9 b 31,4 b 2,17 0,0001

Semana 3 35,8 28,5 33, 5 48,4 2,74 0,06

Total 49,4 a 40,3 b 42,7 ab 45,1 ab 1,19 0,04

Ganho médio diário (% de AC)

Semana 1 100 125 108 113 - -

Semana 2 100 56 64 59 - -

Semana 3 100 80 93 108 - -

Total 100 82 86 91 - -

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). 1 – EPM: erro padrão da média.

Durante a primeira semana de restrição o GMD do grupo A3M (54,9 g/dia) foi significativamente maior (P=0,007) relativamente ao grupo AC (43,8 g/dia). Os grupos A6M (49,7 g/dia) e o A3T (47,5 g/dia) não diferiram dos restantes grupos.

Na segunda semana o GMD do grupo AC é significativamente maior (P=0,0001) relativamente aos restantes grupos.

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Na última semana não se verificaram diferenças significativas entre os tratamentos (P=0,06), no entanto o grupo A6M é o que regista o maior GMD.

No período total de restrição o GMD do grupo AC (49,4 g/dia) foi significativamente maior (P=0,04) relativamente ao grupo A3M (40,3 g/dia), sendo 22,6% superior. Teve um pouco menos para os restantes grupos, 15,7% e 9,5% para A3T (42,7 g/dia) e A6M (45,1 g/dia), respetivamente, sem diferenças significativas.

Os resultados estão de acordo com Bawa et al. (2006) em que animais com acesso à água 6h/dia têm um ganho médio diário significativamente inferior ao grupo controlo. Também Abdel-Wareth et al. (2015) com uma restrição alimentar próxima da do presente estudo (85%) e

duração igual (21 dias) verificou haver diferenças significativas no GMD. Identicamente,

Elmaghraby (2011) e Bovera et al. (2013) constataram que os animais sujeitos à restrição têm menor GMD que o grupo controlo.

3.1.2 Ingestão de alimento

Na Tabela 8 podemos observar os resultados do efeito da restrição de água sobre a ingestão média diária (IMD) de alimento.

Durante a primeira semana do ensaio não houve diferenças significativas (P=0,1698) entre os tratamentos. No entanto, podemos verificar que o grupo A3M tem uma ingestão de alimento 3% superior ao grupo controlo. A redução da ingestão no grupo A3T e A6M foi de apenas 4% e 6%, respetivamente, em relação ao grupo controlo.

Na segunda semana do ensaio a ingestão de alimento do grupo AC foi significativamente maior (P=0,0041) em relação aos restantes tratamentos. A redução da ingestão no grupo A3M, A3T e A6M foi 25%, 24% e 22%, respetivamente em relação ao grupo AC. A esta maior ingestão neste período responderam os animais com um maior crescimento, já referido anteriormente, mas o IC não sofreu diferenças.

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Tabela 8- Ingestão média diária de alimento de coelhos submetidos a diferentes tratamentos de restrição de água.

Tratamento EPM1 Valor de P

AC A3M A3T A6M

IMD (g/d) 1ªsemana 104,0 106,9 100,0 97,8 1,58 0,1698 2ªsemana 144,9 a 109,1 b 110,9 b 112,9 b 4,33 0,0041 3ªsemana 146,4 128,5 123,0 128,2 5,40 0,4595 Total 131,5 114,6 111,3 112,7 3,17 0,0781 IMD (% de AC) 1ªsemana 100 103 96 94 - - 2ªsemana 100 75 76 78 - - 3ªsemana 100 88 84 88 - - Total 100 87 85 86 - -

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). 1 – EPM: erro padrão da média.

No período total de restrição, apesar de não ser significativo verifica-se uma tendência (P=0,0781) em que a IMD foi superior nos animais do tratamento controlo (AC) em relação aos animais dos tratamentos com diferentes níveis de restrição de água (87%, 85% e 86% para A3M, A3T e A6M, respetivamente em relação ao AC). O grupo A3T foi aquele em que a restrição da ingestão de alimento foi mais marcada.

Boisot et al. (2004), num ensaio desde o desmame (32 dias) aos 53 dias de idade efetuaram uma restrição de 3h/dia onde verificaram haver diferenças significativas, com o grupo com restrição a consumir 85% do nível ad libitum, valor muito semelhante ao do presente trabalho. Do mesmo modo, Taha et al. (2014) verificaram que grupos com disponibilidade de água de 2h/dia e 3h/dia o consumo de alimento foi inferior ao grupo controlo. Uma ingestão de 75% e 80% do nível ad

libitum também foi observada por Rayana et al. (2008) com tempos de acesso à água de 2h/dia

e 4h/dia, respetivamente.

Valores semelhantes foram encontrados por Verdelhan et al. (2004a) com restrições diferentes do que as que nós aplicamos. Num ensaio com 3 grupos com acesso à água de 1h30, 2h30 e 4h por dia o consumo de alimento diminuiu para 78%, 83% e 87% respetivamente, do nível ad

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35

3.1.3 Índice de conversão

O índice de conversão (IC) para os diferentes tratamentos a que os coelhos foram submetidos apresenta-se na Tabela 9.

Tabela 9- Índice de conversão alimentar de coelhos submetidos a diferentes tratamentos.

Tratamento EPM1 Valor de P

AC A3M A3T A6M

Semana 1 2,3 1,9 2,1 2,1 0,06 0,1478 Semana 2 2,2 c 3,0 ab 2,7 bc 3,6 a 0,12 0,0001 Semana 3 3,8 4,5 4,2 3,1 0,24 0,1955 Total 2,6 2,7 2,8 2,7 0,05 0,6059 IC em % de AC Semana 1 100 83 96 91 - - Semana 2 100 136 123 164 - - Semana 3 100 118 111 82 - - Total em % de AC 100 104 108 104 - - Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,05).

1 – EPM: erro padrão da média.

Na primeira semana de restrição não se verificaram diferenças significativas entre os tratamentos (P= 0,1478). Durante este período de tempo, os grupos com restrição de água tiveram um índice de conversão ligeiramente melhor que o grupo ad libitum (AC).

Na segunda semana do ensaio com a restrição de água, o índice de conversão do grupo A6M (3,6) foi pior e significativamente superior (P= 0,0001) ao dos grupos AC (2,2) e A3T (2,7). Não foram observadas diferenças entre os grupos tratados.

Na última semana não se verificaram diferenças significativas (P= 0,1955) no índice de conversão entre os tratamentos, no entanto é de salientar que da segunda para a terceira semana houve um aumento do índice de conversão em todos os grupos.

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Também não se verificam diferenças significativas (P=0,6059) neste parâmetro no período total do ensaio. Os valores do índice de conversão nos grupos com restrição de água são muito semelhantes ao grupo controlo, no entanto são ligeiramente superiores, 4% para os tratamentos A6M e A3M e 8% para o tratamento A3T.

Os resultados da primeira semana foram semelhantes aos resultados de Boisot et al. (2004) e Bawa et al. (2006) que referem uma melhoria significativa do IC em relação ao grupo com restrição. No entanto, quando analisamos as outras semanas e o período total de restrição, verificamos que apenas um grupo na terceira semana apresenta um IC melhor que o grupo AC. No período total de restrição não se verificam efeitos significativos, tal como no ensaio de Gualterio et al. (2008), com acesso à água de 4h por dia.

Num estudo feito por Romero et al. (2010) limitando o acesso ao alimento durante 8h/dia desde o desmame aos 35 dias até aos 50 dias conseguiu uma restrição de 80% do nível ad libitum. Estes autores verificaram haver diferenças significativas e os animais ad libitum foram os que registaram melhor IC (2,28 vs. 2,92 para os animais com restrição), como acontece na segunda semana no presente ensaio.

3.1.4 Estado sanitário

Os resultados relativos ao estado sanitário dos coelhos do ensaio estão apresentados na Tabela 10, Figura 5, Figura 6 e Figura 7.

No ensaio a taxa de mortalidade total foi de 4,9% sem diferenças significativas entre os tratamentos. A taxa de morbilidade total foi de 18,8%.

Na Tabela 10 podemos observar que a taxa de mortalidade foi maior no tratamento A3T (8,3%) e menor no AC e A6M (2,7%) tendo o tratamento A3M um valor intermédio. A taxa de morbilidade foi maior no A3M e A6M (25%), seguida pelo A3T (13,9%) e AC (11,1%). Assim, podemos concluir que o risco sanitário é maior no tratamento A3M (30,6%) e menor no AC (13,9%). Na Figura 5 está representado a mortalidade e a morbilidade ao longo do ensaio para cada tratamento.

(55)

37

Tabela 10 - Estado sanitário dos coelhos submetidos a diferentes tratamentos.

Tratamento EPM1 Valor de P

AC A3M A3T A6M

Mortalidade (%) 2,7 5,6 8,3 2,7 0,02 0,6127 Morbilidade (%) 11,1 25,0 13,9 25,0 0,03 0,3245 Risco sanitário (%) 13,9 30,6 22,2 27,8 0,04 0,4504

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). 1 – EPM: erro padrão da média.

Figura 5 – Mortalidade e morbilidade (número de coelhos) em cada tratamento.

Na Figura 6 está registada a taxa de mortalidade ao longo do ensaio. Na primeira e na segunda semana apenas se observou mortalidade no tratamento A3T com 2,8% em ambas as semanas. Verificou-se também que a terceira semana foi a que apresentou um maior valor, sendo o maior

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

A3M A3T AC A6M

N ú m ero d e coel h o s Mortalidade Morbilidade

(56)

38

valor registado de 5,6% para o tratamento A3M Nos restantes tratamentos registou-se apenas uma morte, dando uma taxa de mortalidade de 2,8%.

Figura 6 - Taxa de mortalidade ao longo das 3 semanas de ensaio.

A taxa de morbilidade ao longo das três semanas de ensaio encontra-se na Figura 7. Na primeira semana a taxa de morbilidade é de 0%. Na segunda semana o valor mais alto para o tratamento A3M (14%). Na terceira semana o tratamento A6M foi o que apresentou uma elevada taxa de morbilidade (22,2%) em relação aos restantes tratamentos (11,1% cada).

Os resultados são semelhantes aos encontrados por Bawa et al. (2006) com restrição de água de 6h, 12h e 18h diárias. Estes autores verificaram uma taxa de mortalidade elevada (33%) nos coelhos privados de água 18h/dia seguido pelos animais privados 12 h/dia (16%). Nos grupos

ad libitum e com privação de água 6h/dia não verificaram qualquer mortalidade. Os autores

justificam a elevada taxa de mortalidade nos grupos mais restringidos como sendo a

consequência do elevado stress que a restrição de água causa.

Na maior parte dos trabalhos a restrição diminui a taxa de mortalidade. Gidenne et al. (2009b) num ensaio fornecendo 80% do nível ad libitum, verificou haver diferenças significativas na mortalidade e no risco sanitário com o grupo com restrição a registar o melhor valor, mas não havia diferenças na morbilidade. Da mesma forma, Elmaghraby (2011) constatou que a taxa de

0 1 2 3 4 5 6 s1 s2 s3 % d e m o rtali d ad e Semanas A3M AC A3T A6M

(57)

39

mortalidade foi menor nos coelhos com restrição de água de 1h/dia (3,13%) e 2h/dia (0%) do que os coelhos com água ad libitum (12,5%).

Figura 7 - Taxa de morbilidade ao longo das 3 semanas de ensaio.

No entanto, de acordo com Boisot et al. (2004) não podem ser tiradas conclusões em estudos como este quanto à mortalidade, uma vez que a taxa de mortalidade é muito baixa (4,9%). Foubert et al. (2008) num ensaio experimental com más condições sanitárias (enteropatia mucoide) verificou que os coelhos com restrição tinham menor taxa de mortalidade do que os coelhos ad libitum, o que sugere que a restrição terá melhores resultados em más condições sanitárias. Da mesma forma, Boisot et al. (2005) verificou uma taxa de mortalidade menor no grupo em que foi feita restrição de 23h/dia, num ensaio com incidência de enteropatia mucoide propositada e por isso com taxas de mortalidade superiores ao nosso trabalho.

0 5 10 15 20 25 s1 s2 s3 % d e m o rb ili d ad e Semanas A3M AC A3T A6M

(58)

40

3.2 Comportamento

3.2.1 Efeito dos tratamentos

Na Tabela 11 são apresentados os resultados do efeito dos diferentes tratamentos de restrição de água no comportamento de coelhos em crescimento.

Tabela 11 - Efeito dos diferentes tratamentos sobre o comportamento de coelhos em crescimento (% do tempo).

Tratamentos EPM1 Valor de P

AC A3M A3T A6M

Comportamento normal Total 81,26 76,60 76,56 80,33 1,74 0,6840 Comer 3,95 9,16 11,90 12,76 1,70 0,2581 Sentado 21,23 23,95 22,74 22,02 1,99 0,9692 Deitado em estado de alerta 35,41 30,95 24,84 22,39 2,76 0,3311 Comportamento social Total 18,74 21,75 22,88 16,15 1,68 0,4843 Lavar/Limpar 3,83 6,50 10,43 4,14 1,01 0,0775 Farejar/cheirar 12,61 10,39 8,72 9,44 1,11 0,6306 Cheirar outro coelho 0,76 2,78 1,56 0,45 0,44 0,2474 Comportamento anormal Total 0 1,65 0,56 3,52 0,38 0,0877 Roer/mastigar objetos 0 1,34 0,23 1,79 0,07 0,2753 Salto 0 0 0 0,29 0,33 0,3938 Lamber objetos 0 0,31 0,33 1,23 0,53 0,5794 Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,05).

(59)

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Independentemente do tratamento e em termos médios dos 4 tratamentos, nos comportamentos normais, o que foi mais observado foi o “deitado em estado de alerta” (28%), nos sociais foi “Farejar/cheirar” (10%) e nos anormais foi “Roer/mastigar objetos” (0,84%), do tempo total de análise.

Os comportamentos normais ocuparam a maior parte do tempo de observação, mas as atividades desenvolvidas não foram afetadas pelo tratamento, embora o maior valor (35,4%) tenha sido “deitado”, nos animais do tratamento controlo.

No comportamento social verifica-se uma tendência do comportamento de “Lavar/limpar” (P=0,0775), com o grupo A3T tendo o maior valor (10,43%) e o grupo AC com o menor (3,83%).

Nos comportamentos anormais, os três comportamentos mais observados foram o “roer/mastigar objetos”, “salto” e “lamber objetos”. Não se obtiveram diferenças significativas na manifestação de comportamentos anormais, mas verifica-se uma tendência do “total” (P= 0,0877), sendo o valor de A6M superiores. No grupo controlo não se verifica comportamentos anormais.

Estes resultados estão de acordo com Taha et al. (2014) que num ensaio com disponibilidade de água de 3h/dia verificou não haver diferenças significativas entre o grupo com restrição e o grupo ad libitum, exceto para o tempo gasto a beber, que foi significativamente maior no grupo

ad libitum, o que não se verificou neste trabalho.

Torres (2010) com tempos de acesso diferentes do presente trabalho, com 5h e 10h/ dia e com duração do ensaio de 4 semanas, verificou que não existem diferenças significativas para os comportamentos sociais ao longo de todo o ensaio. No entanto, encontrou diferenças significativas nos comportamentos normais e anormais. O grupo controlo foi significativamente superior aos restringidos nos comportamentos normais e nos comportamentos anormais os grupos com restrição foram significativamente superiores, principalmente o restringido 5h/dia. Apesar de não ser significativo, também no presente estudo o grupo ad libitum tem uma percentagem de tempo superior aos restantes no comportamento normal. No comportamento anormal, há uma tendência sendo os valores dos grupos restringidos superiores, já que o grupo controlo não regista qualquer comportamento anormal.

Imagem

Tabela 1 – Necessidade de água em coelhos.
Tabela 4 Comportamento de coelhos e a sua descrição.
Tabela 5 - Ingredientes e composição química da dieta usada no ensaio .
Tabela 6- Esquema da disponibilidade de água de acordo com os tratamentos aplicados.
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Referências

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