ASMA
EM
ADULTOS
GRAU
DE
CONHECIMENTO
SOBRE
SUA
DOENÇA.
Dissertação apresentada
ao
Cuiso
de Pós-Graduação
em
Medicina
Intema do Departamento
de
ClínicaMédica, Centro
de
Ciênciasda
Saúde
da
Universidade
Federalde
Santa Catarina,como
requisito parcial àobtenção
do
Grau
de
Mestre.F
lorianópolis
- S.C.ASMA EM
ADULTQS
GRAU
DE
CONHECIMENTO
soBRE
SUA DQENÇA.
Dissertação apresentada
ao
Curso
de Pós-Graduação
em
Medicina
Intema do Departamento
de
ClínicaMédica,
do
Centro de
Ciênciasda
Saúde
da
Universidade
Federalde
Santa Catarina,como
requisito parcial àobtenção
do
Grau
de
Mestre.Orientador: Prof. Dr.
Bruno
Rodolfo
Schlemper
Jrper
Paria
e
lenubi
e
ilsereno
ed
ogni
tempo,
col
quale
ale
tue creature
mantiene
la vita.Aos
meus
pais.A
Livia,Romano
e
Marcia.
Ao
ProfessorBruno
RodolfoSchlemper
Iúnior, pela orientação sábia e paciente.Agradeço
particularmente o incentivo e a generosidadedos
comentários,assim
como
o zelona
revisão criteriosado
texto. Possonão
ter incorporado todas as sugestões feitas,sem
prejuízode
sua crítica, eassumo
que
todas as imperfeições sãode
minha
inteira lavra.Ao
Dr.C
E
Bucknall, auditor coordenadordo
Greater Glasgow Health Board,por
ter
me
confiado
partenão
publicadade
sua pesquisa, atravésda
qualpude
obter a validação externa deste estudo. Sou-lhe especialmente grato pela presteza e pela
maneira
gentil e interessadacom
que
atendeu
àminha
solicitaçao.
Ao
ProfessorWaldomiro
Dantas,Coordenador
do
Mestrado de Medicina
Interna, pelo estímulo,
compreensão
e pelo apoio constante.Ao
Professor Lúcio José Botelho, professorda
Disciplinade
Epidemiologia Clínicado
Mestrado
em
Medicina Intema
da UFSC.
A
supervisão atenta e a segurança das suas intervençoesforam
elementos encorajadores e estimulantes.À
ProfessoraMaria de Lourdes
Souza, responsável pela Disciplinade
Epidemiologia Clinica
do
Mestrado de Medicina lntema da
UFSC,
pelo auxílio prestadona
elaboraçaodo
projeto desta dissertaçao.Aos
integrantesdos
Serviçosde Pneumologia
edos
Serviçosde Emergência
do
Hospital Universitário, Hospital
Nereu
Ramos
e HospitalGovernador
CelsoRamos, por permitirem
o acesso a seus pacientes e à suadocumentação
médica.III
Maria Léa
Campos,
à Dra. RachelDuarte
Moritz, ao Dr. Eliezer Silva e Dr. Gil VicenteMachado
de
Farias, integrantesda
disciplinade Medicina de
Urgência eda
Residênciaem
Terapia Intensiva, pela cooperação e apoio.Aos
Residentesde
ClinicaMédica
ede
Pneumologia,do
Hospital Universitário,por
sua colaboração e disponibilidade durante a execução deste estudo.Aos
professores e funcionáriosdo
Departamento de
ClinicaMédica por
fornecerem estímulo e suporte adicionais aomeu
trabalho.Aos
professores, aos colaboradores e à secretáriado
Mestrado
em
Medicina
hiterna pelo pioneirismo e entusiasmocom
que
aceitaram odesafio de
irnplantar o primeiro
mestrado
em
medicina,em
Santa Catarina.Ao
Dr. Iosé PauloDrummond
pela revisãodo
textoem
português.Ao
ProfessorLeopoldo Saldanha
pela revisaodo
textoem
inglês.A
ambos
meu
sincero louvor pela gentil colaboração.À
minha
esposa, Professora MarciaMargaret
Menezes
Pizzichini, pelo estímulo, pelo apoio e pelo auxílioque
efetivamenteme
deu
em
todas as fases deste trabalho.Aos
meus
familiares e amigos, que, dasformas mais
variadas, contribuíram paraque
este estudopudesse
ser concluído.O
objetivodo
presente estudo foi determinar o nivelde
conhecimentosque
asmáticos hospitalizados
têm
sobre sua doença,além
de
oferecer subsídiosque
suportem
a criaçãode
um
centro destinado ao atendimento e àeducação
destes pacientes,bem
como
ao desenvolvimentoda
pesquisa nesta área.O
estudo incluiu 43 asmáticos adultos internadosem
três hospitaisde
Florianópolis,em
crise
de
agudizaçãode
sua doença,com
idademédia
de
41,9 anos, entre os quaispredominaram
mulheres
(2.3:1) enão fumantes
(5.1:1),em
sua maioriacom
renda
familiar inferior a 5 saláriosminimos,
aos quais foi aplicadoum
questionário padrão,por
meio de
entrevista interpessoal.A
maioria destes pacientes (86%) era portadorade
asma moderada ou
grave,com
tempo médio
de
evoluçãode doença de
24,8 anos eem
uso de medicação
predominantemente
broncodilatadora. Dezoito pacientes (41,9%)tinham
alguma
noção
sobre oque
era asma, 12 (27,9%)conheciam
omecanismo
de
ação das drogasempregadas
e46%
daquelesque
usavam
broncodilatadorespor
via inalatórianão
utilizavam corretamente o nebulímetro dosificador.Apesar de
73,4%
dos
entrevistados sentirem sintomas noturnos e/ou
referiremuso
aumentado
de
broncodilatadoresou
diminuiçãoda
eficiênciados
mesmos,
somente
16,3% correlacionaram estes fatoscom
piorada
doença.Apenas
32,5%
dos
pacientesfaziam
acompanhamento
ambulatorial ecumpriam
ordensmédicas nos
seismeses que antecederam
à internação. Cercade
metade
dos
pacientes foi orientada,
por
seus médicos, para evitar fatores desencadeantesda
crise e
como
se utilizardos
nebulimetros.Estes
dados
demonstram
que
os pacientes estudadospossuem
conhecimentos insuficientes sobre suadoença
e sobre a terapêuticaempregada,
além
de
apresentarem controle
inadequado de
sua doença, a nível ambulatorial. Estes achadossuportam
a idéiade
que
é necessário a criaçãode
um
centrode
estudos multidisciplinar, visando assistência,educaçao
continuada e pesquisas nesta1. Introdução 2. Objetivos 3. Revisão
da
Literatura 3.1. Aspectos Históricos 3.2. Conceituaçâo 3.3. Aspectos Epidemiológicos3.4. Aspectos Clínicos e Diagnósticos
3.5. Aspectos Fisiopatológicos 3.6. Aspectos
da
Terapêutica 4. Casuística eMétodos
4.1.Desenho
do
Estudo
4.2. Análise Estatística 5. Resultados 5.1. Caracterizaçãoda
Casuística5.2.
Conhecimentos
sobre aDoença
5.3.
Conhecimentos
sobre a Terapêuticada
Asma
6. Discussão
6.1. Considerações Gerais
6.2.
Conhecimentos
sobre aDoença
eTratamento
9. Referências Bibliogzráficas
TABELAS
Tabela I Tabela II Tabela 111 TabelaIV
TabelaV
TabelaVI
Tabela VII Tabela VIIIGRÁ1=1cos
GraficoI Gráfico 11Gráfico
Il]Características
da
asma
em
43 pacientesConhecimentos
que
43 pacientesem
crisede
agudizaçãotinham
sobre suadoença
Crenças e percepções sobre a qualidade
de
sua vida, relatadaspor
43 pacientes asmáticosCondições
consideradaspor
43 pacientes asmáticoscomo
indicadorasde
deterioraçãode
suadoença
Eventos relacionados à atual internação
de
43 pacientes portadoresde
asma
Orientações
que
43 pacientes asmaticosinformaram
ter recebidode
seusmédicos
Grau
de compreensão de
43 pacientes asmáticos sobre osmedicamentos usados
para o tratamentode
suadoença
Motivos
alegadospor
43 pacientes asmáticos para oabandono
da
terapêutica prescritapor
seusmédicos
Distribuição
dos
43 pacientes asmáticosde
acordocom
a gravidadede
suadoença
Drogas
utilizadaspor
43 pacientes asmáticos antesda
atual internaçãoModo
de
utilizaçãodos
nebulimetros dosificadorespor
37
pacientes asmáticosque receberam
ou
não
receberam
treinamento prévio sobre omesmo
au
INTRODUÇAO
Grande
parteda
atenção destinada à asma,na
última década, resultado
aparenteparadoxo
entre os recentes avançosna compreensão de sua
fisiopatologia e
abordagem
clínica e oaumento da
prevalência eda
mortalidadeda
doença,em
diversos países.Até
recentemente,asma
era vistaquase
que
exclusivamentecomo
enfermidade
caracterizada
por
broncoespasmo
resultanteda
açãode
mediadores
primários e secundários, liberados pela degranulaçãodos
mastócitos,em
resposta a certos estímulos antigênicos(AMERICAN THORACIC
SOCIETY,
1962;SCADDING,
1976).Atualmente
é bastante claroque
asma
éuma
doença
inflamatória crônica,na
qual estão envolvidas diversas células e seus produtos,provocando
contração
da musculatura
lisados
brônquios,edema,
hipersecreçãode muco,
alterações
no
controle neural autonômico,além de
lesão microvascular eepitelial
(WOOLCOCK,
1988a;BARNES,
1992b).Estes conceitos
têm
seacompanhado
de
ações terapêuticas diferenciadasque
objetivamnão
apenas
reverter obroncoespasmo
resultantemas,
fundamentalmente,
prevenir, controlarou
suprimir a inflamação das vias aéreasSurpreendentemente, parece haver dificuldade
na
transferência, aos pacientes asmáticos,dos
ganhos
obtidoscom
estes conhecimentos.A
asma
é a únicadoença não
infecciosaque
nos últimos anostem
sofrido deterioraçãode
sua siazzçâo epâàenúológrza(PARTRHDGE,
1991).com
efeito, entre 1970 e 1990,surgiram
numerosas
evidênciasde
que
a mortalidade, a prevalência e amorbidade da
asma
vem
aumentando
nos
paises industrializados.(BURNEY,1986;
WEISS
&
WAGENER,
1990,GERGEN
&
WEISS,
1992).Estas observações, consideradas alarmantes
(PETTY,
1992),trouxeram
à tonanumerosos
questionamentos e entre estes, a realadequação
dos cuidados dispensados aos asmáticos (SLY, 1992).A
abordagem
desteproblema
tem
sido clinico-epidemiológica e os resultados,embora
conflitantes,demonstram
com
clarezaque muito
resta a ser aprendido sobre estadoença
(STRUNK,
1992). Perguntas taiscomo
a "incidênciada
asma
está realmenteaumentando?"
ou
"por
que
a gravidade e mortalidadeda
asma
estão aume.ntando?"não
foram
satisfatoriamente respondidas
(GERGEN
&
WEISS,
1992;Mc
FADDEN
Ir&
GILBERT,
1992;STRUNK,
1992).Apesar de
seu caráter especulativo,algumas
respostasreúnem
quatro possíveis explicações: 1°) omaior
número
de mortes e de drogas utilizadas refletiria oaumento
da
prevalência; 2°) o tratamento seria prejudicial; 3°) adoença
estaria se tornandomais
grave e, 4°) existemproblemas
relacionados à ofertado
tratamento tais
como,
diagnóstico tardio e cuidadosinadequados
ou
inexistentes.
(WEISS
&
WAGNER,
1990;WOOLCOCK,
1990;PARTRIDGE,
1991;STRUNK,
1992;PETTY,
1992).O
cerne parece estar realmente ligado à ofertado
tratamento, à relação médico-paciente, à aderência ao tratamento e à educaçãodo
paciente e seus familiares(LARSEN,
1992;PARTRIDGE,
1991).Apesar de
alguns estudosdemonstrarem
que
informar o paciente,por
si só,não
é capaz
de
levar à diminuiçãoda
mortalidade eda morbidade
da
asma
brônquica(HILTON
et al, 1986;IENÍKINSON
et al,1988),muitos
pacientescometem
erros gravesou
dispensam poucos
cuidados à sua doença,em
decorrênciade
seu desconhecimento sobre aasma
ou
sobre a terapêutica (SIBBALD,1989).Por
isso éfundamental
educar o paciente.A
educação
do
asmáticopor
seu clinico époderosa
arma
que
o ajuda aganhar
motivação
e habilidade para controlar sua doença,além
de
esclarecer suas expectativas e indagações(FELDMAN
et al, 1987).Além
disso,grande
partedestes pacientes são capazes
de
enfocarplenamente
asrecomendações médicas
apenas
quando
seusmedos
e preocupaçoesforam amplamente
discutidos(PARKER
et al, 1989).O
objetivode
educar o paciente asmático, oque deve
serum
processo continuo, éo de
fornecer ao paciente e seus familiares aoportunidade
de
conhecer suficientemente suadoença
e as opções terapêuticas disponíveis,com
conseqüentemudanças
de
seucomportamento.
Deve
ficar bastante claro para o pacienteque
o estabelecimentode
uma
parceriacom
seumédico
possibilitará sua participaçãono
planejamento terapêutico(NATIONAL
HEART,
LUNG,
and
BLOOD
INSTITUTE,
1991).Partindo dessas premissas questiona-se qual seria,
na
realidade, aabordagem
clínica
dos
pacientes asmáticos, residentesem
Florianópolis? Esses pacientes sãoadequadamente
tratados?Conhecem
suadoença
e omecanismo
de
ação das drogasque
utilizam?Qual
é sua postura frente à suadoença
?Quais
são suascrenças sobre sua enfermidade?
É
de
seuconhecimento
a parceriano
manuseio
da medicação
para otimizar a terapêutica?Com
estas questõesem
mente, consultamosna
literatura a freqüênciacom
que
os asmáticos são atendidos
em
alguns serviçosde
emergênciade
Florianópolis.Em
estudo recentemente realizadono
Serviçode Emergência
do
Hospital Universitárioda
Universidade Federalde
Santa Catarina, observou-seque
as consultaspor
asma foram
motivo de
3.3%dos
atendimentos.O
atendimentomensal de
adultos neste serviço variou entre 3000 a 4000 oque
permitesupor
que
100 a 130 pacientescom
asma procuram
o setormensalmente
(PED(OTO
FILHO
et al, 1990).Além
disso,dados
registradosno
Serviçode
Prontuáriode
Pacientes daquele Hospital (1992)demonstraram
que
onúmero
de
pacientes asmaticos ambulatoriais, atendidosmensalmente,
correspondeuapenas
àmetade
daquelesque procuraram
atendimentode
emergência.Estas observações
sugerem
que, entre outros motivos, o atendimento ambulatorial a estes pacientespode
não
sercompletamente
satisfatório,quer
por
falhas estruturaisou
querpor
desinformaçãodos
mesmos
a respeitodos
benefícios
do
tratamento ambulatorial continuado e co-participativo.Considerando
as informações e indagações aqui expostas,achamos
oportuno
realizar
um
estudoque pudesse demonstrar
qual é o nivelde
conhecimentoque
os asmáticos
de
Florianópolistêm
sobre suadoença
e,por
conseqüência, qual otipo
de
atençãoque
recebem.Por outro lado, a
magnitude
do
problema, associada à carênciade
dados
locais,justifica a necessidade
do
estudo proposto, o qualpoderá
trazer subsídios parafuturas ações
que
objetivem otimizar a assistência oferecida a esses pacientes,2.
oBJET1vos
O
presente estudotem
os seguintes objetivos:1.
2.
Determinar o
nívelde
conhecimentoque
os asmáticos,que
necessitamde
internação hospitalar,
têm
sobre sua doença.Oferecer subsídios
que
demonstrem
a necessidadeda
criaçãode
um
centro destinado ao atendimento e àeducaçao de
pacientes asmáticos,assim
como
nr
REVISAO
DA
LITERATURA
3 1.
ASPECTOS
HIsTÓR1cosppp
A
palavraasma
(ocpôpoc),de
origem
grega , significa sufocaçaoou
faltade
fôlego(MCFADDEN
Ir&
FELDMAN,
1977).Embora
esparsas, jáhaviam
citações sobreasma
nos
escritosde
Hipócrates,sendo que
as primeiras observações sedevem
a Arateus,no
inícioda
era cristã.Desde
essa época até a idademédia
deu-se àdoença
um
significado abrangente, relacionando-a a diversas enfermidadespulmonares
ou
cardíacas(ROSENBLAT,
1976).Somente
a partirdo
século XV[[,com
Sir John Floyer, ele próprioum
asmático, éque
asma
foimais
adequadamente
definida.Em
seu "Treatíse of theAsthma"
Floyer
aborda
algunsdos
pontos obscurosda
asma
oferecendouma
visãomais
contemporânea.
São
dele as descrições sobre constricção brônquica, periodicidadedas
crises e fatores ambientais desencadeantes.Também
é precisa e completa a descrição sobre o pacienteem
estadode
mal
asmático.Porém,
as intervenções terapêuticas e interpretação fisiopatológicaem
nada
diferiram dasEm
1761,Morgagni
correlacionou os achados clínicos e anatômicosda
asma, descrevendo-acomo
uma
síndrome
que
envolvia obstrução traquealcom
acúmulo
de
humores
viscóides e concreçõesnos
brônquios epulmoes,
alertandoque
"causas externas inaladascom
o
ar" seriam responsáveispor
estemal
(ROSENBLAT,1976).
Cerca
de
quarenta anos depois, Fitzgerald introduziu poeticamenteuma
descriçaocompleta da
crisede
asma, associando-a à constricçao brônquica, hipersecreçãode
muco
e à hereditariedade(ROSENBLAT,
1976).Em
1819com
a publicaçãode
seus trabalhos, Laennec,também
asmático, definiuasma
como
dispnéia paroxística,que
ocorria entre intervalosde
respiração normal.Descreveu
ainda a ausênciade
alterações orgânicas,que
justificassem as crises, discernindoduas
diferentesmodalidades de
asma,uma
catarral e outra espasmódica, conceitos estesque suportaram
a futura subdivisãoda
asma
nasmodalidades
intrínseca e extrínseca(ROSENBLAT,
1976;KEERS,
1981).A
seguir,surgiram
relatos correlacionandoasma
a diversos alergenos e outras condiçõescomo
eczema, rinite alérgica e febredo
feno.A
partirde
entãofoi enfatizada a pesquisa destes alergenos, a caracterização
da
resposta inflamatória e a introduçãode
diversos agentes eesquemas
terapêuticos(ROSENBLAT,
1976).Contudo,
os conhecimentosmais
importantes sobreasma
brônquicasurgiram
nas últimas três décadas entre os quais,
podem
ser ressaltados, a reversibilidadeda
obstrução aofluxo
de
ar, a hiperresponsividade das vias aéreas, a caracterizaçaodos
estímulos desencadeadores e a cronicidadeda
resposta inflamatória(HOLGATE
et al, 1987;BARNFS,
1992b) .3 2.
CONCEITUAÇÃO
Asma
éuma
doença
crônica, caracterizadapor
broncoconstricçao e intlamaçao das vias aéreas(MURRAY
&
PANATTIERI,
1992).Do
ponto de
vista clínico,evidencia-se
por
sua natureza episódicacom
exacerbações agudas, intercaladascom
períodos livresde
sintomatologia(MCFADDEN
Ir, 1988).Não
existe consensomundial
definindoasma
brônquica.Além
disso, sua conceituaçãotem
sofridomudanças
muito
radicaisnos
últimos anos, oque
torna difícil a aceitaçao
uniforme
dos
conhecimentos adquiridos, principalmenteporque
nem
todos eles estãocompletamente
estabelecidos(BARNES,
1991). Classicamente, a definição proposta,em
1962, pelaAMERICAN
THORACIC
SOCIETY
conceituaasma
como
sendo
uma
doença
crônica, caracterizadapor
hiperresponsividade
da
traquéia edos
brônquios a diversos estímulos, resultandoem
estreitamento difuso das vias aéreas, reversívelpor meio de
intervenções terapêuticasou
espontaneamente.Nesta
definição estão sublinhados três dasmais
importantes característicasda
asma, a saber: reversibilidadeda
obstrução, hiperresponsividade das vias aéreas e estí.mulos desencadeantes.Embora
tal conceituação seja útildo
ponto
de
vista clínicoporque
fornece critérios diagnósticos,por
outro lado,não
oferece informaçoes sobre sua patogênese e suas conseqüências fisiológicas(HOLGATE
&
FINNERTY,
1988).Até
recentemente acreditava-seque
o defeito básicoda
asma
repousasse sobreuma
contratilidadeanormal da musculatura
lisa das vias aéreas,determinando
obstrução variável aofluxo
de
ar e sintomascomuns
como
dispnéia e sibilâncíaContudo,
à luzdos
conhecimentos adquiridos, tornou-se claroque
a contratilidadeda musculatura
brônquicana
asma
não
éfundamentalmente
anormal,mas
sim
o
controledo
calibre das vias aéreas(BARNES,
1992a).Além
disso,houve
avanços importantesna compreensão de achados
inflamatórios particulares
da
asma, tendo sido redefinidos o papelde
célulascomo
macrófagos, eosinófilos e mastócitos.Muitos dos mediadores
dessa resposta inflamatória sao conhecidos e,mais
ainda, adoença
deixoude
serconsiderada
apenas
como
resposta inflamatóriaaguda (BARNES,
1991).Baseado
nestas premissas,BARNES
(1989)propõe que
asma
brônquica sejadefinida
como
"doença inflamatória crônica das vias aéreas que, envolve a participaçãode
diversas células ede mediadores
químicos, resultandoem
broncoconstricção,dano
microvascular,edema,
hiperssecreçãode
muco
e estímulode
reflexos neurogênicos".Em
1992, oNATIONAL
HEART, LUNG,
AND
BLOOD
INSTITUTE
OF THE
USA
PUBLIC
HEALTH
SERVICE
reuniu dezoito clínicos e cientistasde onze
diferentes nacionalidadescom
o objetivode
estabelecer consenso sobre definição, diagnóstico,abordagem
terapêutica,educação
e direçãode
futuras pesquisasna
asma.Este
grupo propôs que
asma
fosse definidacomo
"uma
doença
inflamatória crônica das vias aéreasna
qualtomam
partemuitas
células, inclusive mastócitos e eosinófilos.Em
indivíduos suscetíveis, estainflamação
causa sintomasque
usualmente
estão associados à obstrução generalizada,porém
variável,do
fluxo aéreo, reversívelespontaneamente
ou
pela açãode medicamentos, causando
3 3.
ASPECTOS
EPIDEIVIIOLÓGICOS
Asma
brônquica é consideradaum
dos
maioresproblemas
respiratóriosdo
mundo
ocidental(SEARS,
1986). Estima-seque nos
EstadosUnidos
existamcerca
de dez
milhõesde
asmáticos,número
este correspondente aos5%
de
individuos asmáticos encontradosem
países industrializados(MCFADDEN
Ir&
GILBERT,
1992).Além
de
serdoença
comum,
de
ocorrência mundial, constitui importante causade
faltas à escola e ao trabalho,de
consultas aos serviçosde
emergênciamédicas
e
de
internações hospitalares,com
implicações sociais e econômicas,que
determinam
sofrimento ao indivíduo e seus familiares(NEVILLE
et al, 1993). _Em
muitos
países, contudo, ainda é consideradadoença
episódica,que
ocasionahnentemerece
atenção médica.No
entanto,numerosas
publicaçõesdemonstram
que
a realidade êbem
diversa: a cada ano, milhõesde
asmáticos sentirãoalgum
tipode
desconforto torácico, milhares passarão pelomenos
uma
noiteem
algum
leitode
hospital e centenas deles morrerão.À
luzdos
conhecimentos atuais e das facilidades terapêuticas disponíveis, estes
números
são inaceitáveis(MURRAY
&
ENARSON,
1992).No
ano de
1990,apenas nos
EstadosUnidos da América
(EUA), os custos, diretos e indiretos, relacionados aos cuidados dispensados aos asmáticosforam
de
6,2 bilhõesde
dólares. Destes, 2,5 bilhõesde
dólaresforam
perdidos por diminuiçãoda
produtividadeno
trabalho epor
ausência à escola e 2 bilhões,com
custos hospitalares básicos.Além
disto,o
número
de
consultasmédicas
devidas a
asma
foi estimadoem
tornode
6,5 milhões(WEISS
et al, 1992a). Estesnúmeros
são suficientes parademonstrar
amagnitude
do
problema
e oimpacto
Estas observações
somadas
ao aparenteaumento
da
prevalência eda
mortalidade dessa doença, inevitavelmentedespertam grande preocupação
entre os clínicos e pesquisadores dedicados ao estudo e
ao
tratamento deste tipode
paciente(WOOLCOCK,
1988b;PARTRIDGE,
1991).3 3.1. Prevalência entre as diversas
populações
Os
principaismotivos
que
tomam
dificil acomparaçao da
prevalênciada
asma
entre diferentes populações são a ausência
de
uma
definiçãode uso
comum
ede
métodos
uniformesde mensuração
(DODGE
&
BURROWS,
1980).Além
disso, descriçõesde
prevalência entre populações adultas são excepcionais e a maioria das informações originam-sede
estudosem
crianças,onde
amagnitude
do
problema
poderia serminimizada por
sub-diagnósticoda doença
(WOOLCOCK,
1986).A
despeito destas observaçoes, as diferençasna
prevalênciada
asma
sao marcantes. Assim,por
exemplo,enquanto
na
Nova
Zelândia os percentuaisde
prevalência são tão elevados
quanto 17%, na
Austráliacaem
para11%
ena
Inglaterra estão
em
tornode
2%
(WOOLCOCK
et al, 1981;WOOLCOCK,
1986;WOOLCOCK,
1987).Num
mesmo
paístambém
podem
ocorrer diferençasimportantes.
Em
Tucson
(Arizona),nos
EUA,
a prevalênciada
asma
éde
8,5%enquanto
que
nasdemais
regiões estáem
tornode
3,1%(W
OOLCOCK,1986).
No
Brasil,não
se dispõede
informações resultantesde
estudosque
caracterizema epidemiologia
da
asma
a nível populacional.Contudo,
a Sociedade Brasileirade
Pneumologia
e Tisiologiaadmite
que
não
menos
do que
5%
da população
são portadoresda doença
(MARQUES,
1993).Além
disso, os surtosde
crisesde
asma
saocomuns
nos
serviçosde
emergência, resultandoem
importante causaAtualmente, o aspecto
mais
enfatizadoda
epidemiologiada
asma tem
sidoo
incremento
na
prevalência ena
mortalidadeem
diversas populações. Entre 1980 e 1987, a prevalênciada
asma
nos
EstadosUnidos
aumentou
em
29%, sendo que
também
houve
elevação nas taxasde
internação ede
mortalidade(PARKER
etal, 1989;
WEISS
et al, 1992b).Estes
aumentos não
são uniformesem
todas as idades,sendo
maioresem
crianças e adultos jovens(BURNEY
et al, 1990).Em
,estudo recente,YUNGINGER
et al (1992)demonstraram
um
aumento
de
55%
na
incidência anualde
asma
(ajustado para sexo e idade), principalmentena
faixa etáriade
um
a quatorze anos,na
regiãode
Olmsted
(Minnesotta).Conjecturando sobre os
motivos de
talaumento
GERGEN
&
WEISS
(1992)questionaram
se ele é realou
não.Uma
possibilidade seria amelhora
do
diagnóstico
da
doença, tantopor
clínicos alertadospor novos
conhecimentoscomo
pela própria população,educada
atravésde
programas
comunitários sobre cuidados básicoscom
a saúde.Outra
explicação seria a transferênciade
diagnóstico,ou
seja,uma
condiçãopreviamente
nao
caracterizadacomo
asma
passaria a receber este diagnóstico.WILLIAMS
&
McNlCOL,
em
1969,em
estudo sobre história naturalda
bronquite sibilante,
demonstraram
que
ambas
as condiçõesnada mais
representam
que
espectros diferentede
uma
mesma
doença.Assim, crianças sibilantes
que
outroraeram
diagnosticadascomo
portadorasde
bronquite sibilante
ou
asmatiforme atualmente são consideradas asmáticas.Além
disso, supõe-seque
existaaumento
realda
incidênciada
asma
como
conseqüênciada
piora das condições ambientaisou
da maior
suscetibilidadedo
hospedeiro àasma
(GERGEN
&
WEISS,
1992;ASHER
et al, 1988).A
parde
todos estes aspectos, relacionados à epidemiologiada
asma, situa-seo
problema
do
diagnóstico sub-estimadode
asma,em
decorrênciada
utilização isoladade
questionários para estimativasde
prevalência(SPEIGHT
et al,1983).Em
1987,DALES
et aldemonstraram
que apenas
as informaçõesde
um
questionário
padrão de
sintomas respiratórios sãoinadequadas
para discriminar populaçõescom
ou
sem
hiperresponsividadedas
vias aéreas.Para levantamentos
mais
fidedignos, seriam necessários testesde
broncoprovocação
os quais,no
entanto,não
sãode
uso
rotineiro ede
exeqüibilidade desejável
(TOELLE
et al,1992;HARGREAVE
et al, 1990b).Uma
alternativa para estudos longitudinais poderia ser a utilização
da mensuração
da
variabilidadedos
picosde
fluxo
expiratório,como
marcador aproximado da
reatividade brônquica(HIGGINS
et al, 1992).Finalmente, talvez a
adoçao de
uma
definiçao epidemiológicada
asma,que
incluísse a presença
de
sintomas, associada aum
teste positivode
hiperresponsividade inespecífica das vias aéreas,
pudesse minimizar
oproblema da
ausênciade
um
"padrão ouro"no
diagnósticoda doença
(TOELLE
et al, 1992).
3 3.2. Distribuição dentro
da
população
Asma
émais
comum
em
criançasdo
que
em
adultos e naquelas, émais
comum
em
meninos
do
que
em
meninas
(WOOLCOCK,
1988a).Têm
ainda riscoaumentado
de
apresentarasma
as criançascom
baixopeso
ao
nascer, as filhasde
mães
fumantes
ou
de
mães
com
idade inferior a vinte anos, as provenientesde
famílias pobres,numerosas
ou
que habitem
casaspequenas
(SCHAWARTZ
et aL1990;
WEITZMAN
et al, 1990;NELSON,
1991;MORGAN
&
MARTINEZ,
Entre os asmáticos adultos, a incidência e a gravidade
da doença
sãomaiores
nasmulheres
do
que nos homens, na proporção de
3:1, oque
sugereque
alterações
hormonais
ou
bioquimicas relacionadas ao sexopossam
tomar
partena
fisiopatologiada
asma
(SKOBELOFF
et al, 1992).A
asma
também
émais
comum
emais
graveem
negros,em
pobres eem
minorias socialmentedesfavorecidas expostas
ao fumo,
àsuperpopulação
e a poluição ambiental(LANIER,
1989;EVANS
Ill, 1992).As
prováveis explicações para estas observaçõesenvolvem
menor
acesso aos cuidadosde
saúde, faltade
continuidadede
tratamento, dificuldadesna
complacênciacom
o
tratamento, falênciano
reconhecimentoda
gravidadeda
doença
e atençãoinadequada
em
situaçõesde
emergência(STRUNK,
1989;EVANSIII,
1992;PARTRIDGE,
1991;MILLER
et al, 1992;SLY,
1992;WEISS
et al, 1992b).3 3.3. História natural
A
história naturalda
asma
é parcialmente conhecidamas
não
bem
documentada
(WOOLCOCK
&
BARNES
1992).Mais da metade
dos
casosde
asma
na
infância e destes,
um
terçocomeça
antesdos
três anosde
idade(PARTRIDGE,
1991).
Embora
aasma
iniciadana
infância possapermanecer
assintomáticapor
longos periodos, crianças
com
doença mais
graveou
que
sibilam até os 14 anos, continuarão a ter episódiosde
agudização durante a vida adulta(KELLEY
et al,1987).
É
possívelque
criançascom
asma
levepossam
ficar definitivamente livresde
sintomas,mas
aquelascom
asma moderada ou
grave,provavelmente
continuarão tendo sintomas
(WOOLCOCK,
1988a). Pacientescom
asma
na
vida adulta,em
geraltêm
prognósticomais
limitado(BRONNIMANN
&
BURROWS,
1986).No
entanto, estudos epidemiológicosmais adequados
são3 3.4.
Mortalidade
A
mortalidadepor
asma
continua crescendode
forma
progressiva e alarmanteem
diversos paises, ocorrendo principalrnentena
faixa etáriados
5 aos 34 anos eacima dos
65 anosde
idade(SEARS,
1986;IACKSON
et al, 1988;WOOLCOCK,
1988a;MARDER
et al,1992;SLY,
1992).Na
Inglaterra,morrem
em
tomo
de
dois mil asmáticospor ano
(BURNEY,
1986;BERRIL,
1993).Nos
EUA
a mortalidade,que
em
1977 erade
1.6/lmilhão de
habitantes,em
1987aumentou
para 4.2/ lmilhâode
habitantes(WEISS
&
WAGENER,
1990).Em
muitos
outros países,como
por
exemplo Canadá,
Austrália, Suíça eAlemanha,
nestemesmo
períodode
tempo,houve
um
aumento
de
cercade
seis vezesna
taxade
mortalidade(IACKSON
et al, 1988).O
aumento do
número
de mortes
por
essadoença
contrastacom
o
nítidoavanço dos
conhecimentos sobre sua fisiopatologia e terapêutica(KEATING
etal, 1984;
ROBIN,
1988). Especula-se quais fatores estariam envolvidos nesteaumento da
mortalidade(LANIER,
1989; SLY, 1992) epor
que
a mortalidade estáaumentando,
justamentequando
os conhecimentos e opções terapêuticas tornaram-semelhores
(HIGENBOTTAN
&
HAY,
1990;SPEVETZ
et al, 1992) .Realmente,
nos
últimos anos, aasma
tem
sidotema
freqüentede
congressos, simpósios, livros e artigosde
revisão, os quaistêm
levado aos clínicos os recentesavanços
obtidos. Assim,por
exemplo, a hiperresponsividade das vias aéreastem
sido intensamente pesquisada e discutida, as bases molecularesda
inflamação das vias aéreas estão
em
grande
parte descortinadas, drogasmais
potentes e seletivas são disponíveis e utilizadas
(DIUKANOVIC
et al, 1990;Contrariamente, as estatísticas
demonstram
que
em
épocasmenos
iluminadas amortalidade era
menor,
oque deve
alertar parao
fatode que
algo,na
atualabordagem da
asma,pode
estarmuito equivocado
(ROBIN,
1988). Por outro lado,embora
não
seja claro, alguns autoressugerem
que o maior
número
de
mortes por
asma
reflita,na
realidade,um
aumento na
prevalênciada doença
(SEARS,
1986;ROBIN,
1988;PARTRIDGE,
1991).Além
disso, invoca-se o fatode
que
houve
alteraçõesno
Código
Internacionalde
Doenças,
em
1979, a partirde
quando
aasma
recebeuum
código específico.Contudo,
um
estudo recente analisou a tendência internacionalda
mortalidadepor
asma
em
quatorze paísesno
períodode
1970 a 1985, concluindoque o
aumento da
mortalidadepor
essadoença não
parece serdevido
à transferênciade
diagnóstico entre diferentes causasde
obstruçãoao
fluxo
das vias aéreas(IACKSON,
1988).Outras
explicaçõesincluem
associaçãocom
efeitosdanosos
do
tratamento,aumento da
gravidadeda doença
ou, finalmente e, talvezmais
importante,oferta
inadequada
de
cuidadosmédicos (SEARS,
1986;BUIST,
1988;FRANKLIN,
1989;WOOLCOCK,
1990;WHITELAW,
1991;MARDER
et al,1992;
ROBIN
&
McCAULEY,
1992;SPEVETZ,
1992;SPITZER
et al, 1992).Diversos estudos
têm
identificado os fatoresque influenciam o
riscode
morte
por
asma
e estes incluem, principalmente, o retardoao
acesso a cuidadosadequados devido
à falênciano
reconhecimentoda
gravidadeda
crise pelo paciente,por
seus familiaresou
por
seumédico
(BENATAR,
1986;STRUNK,
1989;MURRAY &
PANATTIERI
Ir, 1992).Muitos
destes pacientesdesenvolvem
deterioração
da doença
ao longode muitos
dias, fato estesubestimado
pelo pacienteou
por
seumédico
(SHIM
&
WILLIAMS,
1980;GREENBERGER,
1992a;No
entanto, outros pacientes(em
geral aquelescom
episódios anterioresde
asma
quase
fatal)podem
desenvolver crise fulminante erapidamente
mortalem
questãode
horas(BENATAR;
1986;KUNITOH
et al, 1992;ZIMENT,
1992).3 4.
AsPE.cTos
cLÍN1cos
E
DIAGNÓsT1cos
O
sub-diagnósticona
asma
êum
problema
freqüente,que
acarreta sofrimento desnecessárioem
doença
com
amplas
possibilidades terapêuticas(PARTRIDGE,
1991). Especialmenteem
idosos eem
criançascom
idade inferior aum
ano,o
sub-diagnóstico écomum
(SPEIGTH
et al, 1983;BANERIEE
et al, 1987;BLOOMBERG
&
STRUNK,
1992).LEVY
&
BELL
(1984)demonstraram
que
crianças asmáticas necessitam,em
média,de
16 a 20 consultas paraque
o diagnóstico seja estabelecido.O
diagnósticoda
asma
ébaseado
na
históriado
paciente,no exame
físico eem
testes laboratoriais.
É
importanteque
se reconheçaque
os asmáticos constituemum
grupo
heterogêneode
pacientes,com
inícioda doença na
infânciaou
na
vida adulta,com
espectrode
sinais e sintomas variávelem
intensidadede
paciente para paciente, enum
mesmo
paciente, ao longodo tempo
(MCFADDEN
Ir,&
FELDMAN,
1977;TURNER-WARWICK,
1988;WOOLCOCK,
1988a;WOOLCOCK &
]F.NKIN'S, 1990;NATIONAL
HEART,
LUNG,
and
BLOOD
INSTITUTE,
1992).Os
principais sintomasda
asma
são dispnéia, sibilância, rigidez torácica, tossee expectoração.O
diagnóstico é sugerido se estes sintomasforem
variáveis, matinaisou
noturnos, edesencadeados por
estímuloscomo
frio, exercícioou
inalaçãode
alergenos. Evidência forte para o diagnóstico é amelhora
devidaao
uso de
terapêutica broncodilatadora(HARGREAVE
et al, 1990a).A
históriamédica
do
pacientedeve
incluir ainda o perfil detalhadodos
sintomas (idadede
início, variação sazonal, intensidade e freqüência, ritmo cicardiano, fatores precipitantesou
agravantes), exposição ambientalou
ocupacional, associaçãocom
condições atópicas, qualidadede
vida, animais domésticos, intervenções terapêuticas, episódiosde
asma
quase
fatal, internações anteriores e história familiar(FRANKLIN,
1989;GRAMIVIER
&
GREENBERGER,
1992). Estas informações, associadas aoexame
físico e aosexames
complementares,devem
ser utilizadasna graduação da
gravidadeda doença
e das crises ena
estratégia terapêutica
(DOLOVICH
&
HARGREAVE,
1981;FISCHL
et al, 1981;CORRE
&
ROTHSTEIN,
1985;WOOLCOCK &
IENKINS,
1990;NATIONAL
HEART,
LUNG,
and
BLOOD
INSTITUTE,
1992).Embora
o diagnósticoda
asma
seja essencialmente clínico, osexames
complementares
são necessários para confirma-lo, para quantificar a gravidadeda
obstrução e paraacompanhar
a resposta à terapêutica(HARGREAVE
et al,1990b). Por isso, deve-se ter
em
mente
que
a gravidadeda doença
eda
crisebem
como
a resposta à terapêutica dificilmente serão estabelecidas,com
precisão, apenascom
baseem
parâmetros clínicos,sendo fundamental
amensuração da
função
pulmonar
(SHIM
&
WILLIAMS,
1980;BURDON
et al, 1982;BERNSTEIN,
1985;ADELROTH
et al, 1986;PEAT
et al, 1987;WOOLCOCK
&
]ENI<]NS, 1990;
KAMP,
1992).Não
existeum
teste únicoou
testesque
possam
serrecomendados
para todos os pacientes,embora
as informações oferecidas pela espirometria simplessejam
úteis e objetivas. Portanto, a individualização
da
escolha éum
procedimento
diagnóstico essencial
(NATIONAL
HEART, LUNG,
and
BLOOD
INSTITUTE,
1992;MURRAY
&
PANNATTIERI
Ir, 1992).As
medidas da Capacidade
Vital(CV)
edo
Volume
ExpiratórioForçado
no
primeiro
segundo
(VEF1)usualmente
são suficientes para distinguir os defeitos ventilatórios obstrutivosdos
não
obstrutivos(BATES,
1989;AMERICAN
THORACIC
SOCIETY,1991).
A
melhora
mínima
de
15%
dos
valores iniciais,após
emprego
de
broncodilatadores, ajuda a excluir a presençade
obstrução crônica aofluxo
das
vias aéreas(HARGREAVE
et al, 1990a).Em
presençade
estudo espirométrico normal,há
necessidadede demonstrar
a presençada
hiperresponsividade das vias aéreas, a qualpoderá
sermedida
por
meio
da
variação diurnado
Picode
Fluxo Expiratório (Peak Flow - PF)ou
por
meio
de
testesde broncoprovocação
inespecíficosou
por
alergenos inalados(HARGREAVE
et al, 1990b;HIGGINS e¿
als, 1992;MUELLER
&
EIGEN,
1992).Além
disso, a utilização destes parâmetros é válidanão
apenas
para a classificaçãoda
gravidadeda
doença
eda
gravidadeda
crisede
agudização,mas
também
para identificar a influênciado
ritmo circadiano e para detectar a deterioração assintomáticada doença
(McFADDEN
]r. et al, 1973;IRWIN
&
PRATTER,
1990;KAMP,
1992).3 5.
ASPECTOS
FISIOPATOLÓGICOS
Tendo
em
vistaque não
se dispõede modelos
animais satisfatórios para o estudoda
asma, a maioriados
conhecimentos sobre essadoença
provém
das observaçõesem
humanos.
Estas informações tornaram-semais
consistentesnos
últimos anos, principalmente pela
mensuração da
hiperresponsividade e pela caracterizaçãodo
processo inflamatório das vias aéreas,por
meio
dos
achados anatomopatológicos e bioquímicosde
biópsias brônquicasou
de
lavado broncoalveolar, obtidospor
broncofibroscopia(KIRBY
et al, 1987;BARNFS,
Embora
não
se conheçacom
precisão todos os eventos envolvidosna
asma, considera-seque
esta éuma
doença
inflamatória crônica,da
qualfazem
parte diversas célulasque interagem de maneira complexa
com
células-alvo das vias aéreas,desencadeando
ainflamação
e a hiperreatividade(BARNFS,
1991). Entre estas células inflamatórias estão mastócitos, macrófagos, eosinófilos, célulasepiteliais, neutrófilos, plaquetas e linfócitos
(O'BYRNE,
1986;HOLGATE,
1987;REED,
1988;WARDLAW
et al, 1988;FORESI
et al, 1990;BOUSQUET
et al,1992)
Da
interação destas célulascom
seusprodutos
resulta a característica fisiológicamais
importanteda
asma, o estreitamento das vias aéreas, o qual édeterminado
por
diversos fatores,sendo
estes três osmais
importantes: 1°)espasmo da
musculatura
lisa das vias aéreas, 2°)modificação
das características das secreções respiratóriascom
arrolhamento daspequenas
vias aéreas e, 3°)inflamação do
epitélio brônquicocom
infiltraçãode
eosinófilos e linfócitos,ativação
dos
mastócitos, deposição subepitelialde
colágeno,descamação
eedema
do
epitélio brónquico(DIUKANOVIC
et al, 1990;LEMANSKE
Ir. 1992).Existem
diversasmaneiras
pelas quais esse processo inflamatóriopode
ser despertado,mas
a respostaimunoinflamatória
a poeiras inaladasdesempenha
importante
papel
na
etiologia e patogêneseda
asma.A
sensibilizaçãode
linfócitosT
dentroda
via aérea eo
estabelecimento subseqüentede
populações destas células,com
memória
específica para estes antígenos, sãofundamentais
neste processo
(BARNES,
1991;BUSH,
1992).Contudo,
o tipode
resposta inflamatória serásempre
amesma,
ocorrendo invariavelmente infiltraçãode
eosinófilos, linfócitos T,descamação de
célulasepiteliais e deposição subepitelial
de
colágeno(LAITINEN
et al, 1985;BEASLEY
Estas alterações,
que
podem
ser vistasmesmo
nos
casosde
asma
leve,parecem
ser o substrato
de
outrofenômeno
peculiarda
asma, a hiperresponsividade das vias aéreas(BARNES,
1991).Apesar de poder
ser encontradaem
outras condiçõesque
não
a asma, a hiperresponsividade das vias aéreas é consideradacomo
uma
marca
característica desta enfermidade, estando presente tantonos
períodos
de
crisecomo
nos
intervalos livresde
sintomatologia,independentemente
da
gravidadeda
asma
(NATIONAL
HEART,
LUNG
and
BLOOD
INSTITUTE,
1992).A
hiperresponsividade das vias aéreas é caracterizadapor
resposta broncoconstrictora exagerada a diversos agentes físicos, químicosou
farmacológicos
(BOUSHEY
et al 1980;WOOLCOCK,
1988a). Assim, pacientes asmáticos expostos a determinados estímuloscomo
frio, poeiras, poluentes,exercício, alergenos, infecções,
água
destilada, metacolina, carbacolou
histamina,
desenvolvem
estreitamentode
suas vias aéreas,podendo
apresentar dispnéia, tosse e sibilância(HARGREAVE
et al, 1981;BLEECKER,
1985;HARGREAVE
et al, 1985;FILUCK
et al, 1989;HARGREAVE
et al, 1990b;EICHELER
et al, 1992;ELIASSON
et al, 1992).Muitos
mecanismos
têm
sido propostos para explicar a hiperresponsividade das vias/ aéreasna
asma
brônquica e estesincluem
inflamação
da mucosa,
anormalidades
na
integridadedo
epitélio brônquico, alteraçõesno
controleautonômico da musculatura
brônquica, entre outros.Atualmente
considera-seque
o substratoda
hiperresponsividadena
asma
é a inlclamaçãoda
via aérea, a qual diferede
outros tiposde
inflamação
pelas características histológicas jámencionadas, tais
como
infiltradode
eosinófilos ede
célulasT
e descolamentodo
epitélio brônquico(HARGREAVE
et al, 1990a;HOGG
et al, 1991;BARNES,
Embora
se saiba,desde
há muitos
anos,que
os casosde
asma
fatal seacompanham
de
importantes alterações inflamatórias nas vias aéreas(BULLEN,
1952),
apenas
recentemente,com
oemprego
da
broncofibroscopia para obtençãode
lavado broncoalveolar ede
biópsias brônquicas, éque
sepode
estudar estas alteraçõesem
pacientes portadoresde doença
leve(WORKSHOP
SUMMARY
AND
GUIDELINES,
1991).Até
a presente data,não
foi possível estabelecercom
precisão qual a relação entre hiperresponsividade das vias aéreas, inflamação e sintomasnos
pacientes asmáticos,uma
vez que achados
anatomopatológicosde
extensas alterações inflamatóriastambém
têm
sido encontrados,mesmo
em
portadoresde
asma
leve
ou
sub-clinica(COCKCROFT,
1987;BEASLEY
et al, 1989;VAN
ESSEN-
ZANDVLIET
et a1,1992;HOLGATE
et al, 1992).Estes estudos
levantam
a possibilidadede
que
ainflamação, na
via aéreados
asmáticos,
pode
serperpetuada
mesmo
depoisdo
desaparecimentodo
fator desencadeante. Especula-se se osmecanismos
antiinflamatóriosendógenos da
via aérea destes pacientes estariam
comprometidos.
Outra
possibilidade envolve alteraçõesno
genoma
dos
asmáticos,provocadas por
infecções virais prévias,levando
a alteraçõesna
imunomodulação da
resposta inflamatória(BUSSE
et al, 1992;WOOLCOCK &
BARNES,
1992).Os
aspectos anteriormentemencionados
juntamentecom
a observaçaode que
entre outras particularidades, a resposta inflamatória
na
asma,embora
crônica,não
seacompanha
de
cicatrização, ilustram acomplexidade
destes eventos.A
interdependência destes acontecimentos e a realmagnitude de
cadaum
deles ainda deverão ser estabelecidas(HOLGATE
&
FINNERTY,
1988;WOOLCOCK
3 6.
ASPECTOS
DA
TERAPÊUTICA
A
ação terapêuticana
asma
fundamenta-se
em
medidas
farmacológicas enão
farmacológicas, cujos objetivos são obter e
manter
o controledos
sintomas, prevenir crisesde
exacerbação, possibilitar o retorno ànormalidade
dasprovas
de
função respiratória e das atividades físicas, evitar os efeitosdanosos
dasdrogas
utilizadas e, principalmente, descartaro desenvolvimento de
obstruçãoirreversível ao
fluxo
de
ar, o sofrimento e o óbito(NATIONAL
HEART,
LUNG,
and
BLOOD
INSTITUTE,
1991).Estes objetivos
envolvem,
pelomenos,
quatro importantes componentes:educação
do
paciente,__ terapêutica farmacológica co-participativa, monitoriçãodos
resultadospor
meio
de
medidas
objetivas e controledos
fatores ambientais(BARNES,
1989;COCKCROFT
&
HARGREAVE,
1990;HARGREAVE
et al,1990a;
McFADDEN
Ir.&
GILBERT,
1992).Além
disso, deve-se levarem
conta ainda alguns aspectos peculiaresda doença
e,
em
especial, o fatode
ser crônicacom
episódiosde
exacerbações agudas. Istodetermina a necessidade
de
cuidados contínuos dirigidos ao controledos
sintomas, à
prevenção
das exacerbações e à reduçãoda
inflamação subjacente das vias aéreas, oque
basicamente é conseguido atravésde medicamentos
edo
controle ambiental(HARGREAVE
et al, 1990a;WOOLCOCK
et al, 1991).A
terapêuticamedicamentosa da
asma
é utilizada para prevenirou
reverter a obstrução aofluxo
de
ar e inclui agentes antiinflamatórios e broncodilatadores.Os
primeirostêm
ação supressiva e profilática sobre ainflamação
e a hiperresponsividade das vias aéreas(DUTOIT
et al, 1987;TOOGOOD,
1989;IUNIPER
et al, 1990;LORENTZSON
et al, 1990;WOOLCOCK
et al, 1991;Os
broncodilatadores,por
sua vez, saofundamentalmente
destinados à reversao rápidado
broncoespasmo, possuindo
pouco
ou
nenhum
controle sobre o processo inflamatório(WEINBERGER
&
HENDELES,
1985;HIGGINS
et al,1988;
BARNES,
1989;PAUWELS,
1989;HARGREAVE
et al, 1990a;SEARS
et al,1990;
NELSON
et al, 1991;GREENBERGER,
1992b;TATTERSFIELD
&
BARNES,
1992).Orientações detalhadas sobre o
emprego
das diferentes drogasno
tratamentoda
asma,
em
adultosou
crianças,em
criseaguda
ou
inter-crise,foram
publicadaspor
diversos autoresou
associaçõesmédicas
(HARGREAVE
et al, 1990a;CHAPMAN
et al, 1991;SPECTOR,
1991; GRAIVIIVIER, 1992;NATIONAL,
HEART,
LUNG,
and
BLOOD
INSTITUTE,
1991 e 1992;STEMPEL
&
SZEFLER,
1992;
BRITISH
THORACIC
SOCIETY,
1990 e 1993). Discussões adicionais sobre estes aspectosfogem
ao
escopodo
presente estudo.I
3 6.1.
Educação
do
paciente asmaticoA
despeitode
todos cuidadosno
manuseio dos
pacientes asmáticos, o sucesso obtidocom
os diversosesquemas
terapêuticosempregados
para o tratamentoda
asma
está longedo
idealizado(BRITISH
THORACIC
SOCIETY,
1993).Conforme
já assinalado anteriormente,nos
últimosanos
houve
aumento, não
apenas
da
prevalênciada
asma,mas também
do
número
de
internações hospitalares ede mortes por
essadoença
(JACKSON
et al, 1988;PARKER
et al,1989;
WOOLCOCK &
BARNES,
1992).'
Embora
as razoespara
essa deterioraçao epidemiológicanao
estejamcompletamente
determinadas,tomam
corpo evidênciasde que
existem sériosproblemas na
aceitaçãoda
terapêutica proposta ena
execução das ordensmédicas por
partedos
asmáticos,como
resultado de barreiras estabelecidasno
relacionamento médico-paciente(PARTRIDGE,
1991).Durante
a última década, diversos estudos revisaram e avaliaram os diferentesprogramas
destinados à educaçãodos
pacientes asmáticos(WILSON-PESSANO
&
MELLINS,
1987;RACHELEFSKY,
1987;CONBOY,
1989;HOWELL
et al,1992). Neste período,
muitas
premissaspuderam
ser testadaspor
clínicos e pesquisadores,de
tal sorteque
hoje existe consensode que o ponto
centraldo
tratamentoda asma
é o pacientecomo
um
todo. Esta afirmação,que
parece óbvia,tem
implicaçõesque
envolvem
mudanças
comportamentais
do
paciente ede
seu própriomédico
e portanto, extrapolam a ciênciada
terapêutica para abranger questoesde
ordem
sociológica, filosófica e psicológica(THORESEN
&
KIRMIL-GRAY,
1983).Nesse
sentido, aeducação
do
paciente asmático objetiva alcançar dois aspectos fundamentais: 1°)mudanças
na
relação médico-paciente para propiciar o estabelecimentode
uma
parceria, permitindoque
ambos
compartilhem da
elaboraçãodo
plano
terapêutico; 2°) transferênciade
informaçõesbuscando
mudanças na
postura e nas crençasdo
paciente e, se possível,de
sua família,em
relação à
doença
(CREER,
1987;NATIONAL
HEART, LUNG,
and
BLOOD
INSTITUTE,
1992).A
aderênciaao
tratamento,por
partedo
doente, resultada compreensao da
situaçao (doença) edos
objetivos aserem
alcançados.A
despeitodas
informações iniciais,