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BARCO DAS CRIANÇAS. Mario Vargas Llosa. Ilustrações: Zuzanna Celej Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman

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Academic year: 2021

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O

BARCO

DAS

CRIANÇAS

Mario Vargas Llosa

Ilustrações: Zuzanna Celej Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman

(2)

Copyright © 2014 by Mario Vargas Llosa

Copyright das ilustrações © 2014 by Zuzanna Celej

Grafi a atualizada segundo o Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original

El barco de los niños

Imagem de capa Zuzanna Celej Revisão Joana Milli Dayana Santos Eduardo Rosal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Vargas Llosa, Mario

O barco das crianças / Mario Vargas Llosa; ilustrações Zuzanna Celej; tradução Paulina Wacht e Ari Roitman. - Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.

Título original: El barco de los niños isbn 978-85-5652-010-4

1. Ficção juvenil. 2. Ficção peruana. I. Celej, Zuzanna. II. Título.

16-00817 cdd: 028.5 Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura juvenil 028.5

[2016]

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“Eles enchiam a estrada como um enxame

de abelhas brancas. Não sei de onde vinham.

Eram peregrinos muito pequeninos. Usavam

cajados de aveleira e de bétula. Levavam

uma cruz no ombro; e todas essas cruzes

eram de várias cores. Vi até verdes, que

deviam ser feitas com folhas costuradas. São

crianças selvagens e ignorantes. Perambulam

não sei em que rumo. Têm fé em Jerusalém.

Pensam que Jerusalém fi ca longe e que

Nosso Senhor deveria estar mais perto

de nós. Não chegarão a Jerusalém. Mas

Jerusalém chegará a elas. Como a mim. O

fi m de todas as coisas santas está na alegria.”

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1

Era uma vez um velhinho

que toda manhã bem

cedo, sentado num

banco de um pequeno

parque em Barranco,

contemplava o mar.

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Fonchito o via de sua casa, enquanto se preparava para ir ao colégio. Aquele velhinho o intrigava: o que fazia ali, sozinho, a essa hora, todos os dias? E sentia um pouco de pena dele.

Um dia, não aguentando mais de curiosidade, logo depois de acordar e antes que o ônibus do colégio viesse buscá-lo, saiu de casa e foi até o parquinho. Sentou no mesmo banco que o velho e, após um instante de hesitação, tomou coragem e murmurou: “Bom dia”.

O velho se virou para olhá-lo. Fonchito reparou que em seu rosto cheio de rugas cintilavam uns olhos vivos e ainda jovens. Uns olhos tão intensos que pareciam ter visto todas as maravilhas que existem no mundo. Seu cabelo era muito branco, assim como as sobrancelhas, e sua cútis, barbeada com esmero, era muito pálida, quase translúcida. Parecia muito fr ágil; sua magreza extrema lhe dava um aspecto quase irreal. Vestia-se com modéstia mas com grande esmero, um terno cinza, um suéter azul, uma gravatinha escura com um nó bem pequeno e sapatos pretos bastante puídos pelo tempo, que pareciam ter

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sido recém-engraxados. Tinha aquela expressão tranquila e profunda das pessoas que sabem muitas coisas.

— Olá, rapazinho — cumprimentou o velhote com uma voz tão suave que se podia confundir com o gorjeio de um passarinho.

— Eu moro ali — disse Fonchito apontando seu prédio. — E vejo o senhor toda manhã enquanto estou esperando o ônibus do colégio.

O velho assentiu, sorrindo:

— Aposto que você quer saber o que faço aqui todas as manhãs e por que olho o mar com tanta insistência, não é mesmo?

Fonchito confi rmou, balançando a cabeça várias vezes.

— Venho ver se o barco das crianças aparece — disse o homem, apontando para o mar com sua mão comprida e magrela, onde transpareciam umas veias azuis.

Fonchito olhou, mas no mar não havia barco algum. Só a espuma de umas ondas mansas e duas

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O barco das crianças

gaivotas brancas sobrevoando a superfície cinza --esverdeada da água. Era uma manhã gris, sem sol, com o céu coberto por nuvens brancas e cinzentas.

— Não estou vendo nenhum barco, moço — atreveu-se a dizer.

— Não vê porque não apareceu esta manhã, mas se aparecesse provavelmente também não o veria. Eu, ao contrário, vejo o barco como estou vendo você agora — afi rmou o velhinho sorrindo. — Porque não são todas as pessoas que merecem vê-lo. Quando você o vê, é como se recebesse um prêmio por alguma coisa que fez. Um grande sacrifício, por exemplo.

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Mario Vargas Llosa

Mario Vargas Llosa

Fonchito tornou a olhar para o mar. Não, não havia barco nenhum, só um pequeno bote de pescadores balançando ao longe, na direção das ilhas. Estaria de gozação este senhor? Ou quem sabe era um desses velhotes decrépitos que não sabem mais onde estão nem o que dizem?

— Se você quiser, posso lhe contar a história desse barco — ouviu o velho dizer. — Gostaria?

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O barco das crianças

— Mas não tenho muito tempo, moço. Só até o ônibus do colégio chegar.

— Muito bem. Então hoje eu conto o começo. Se você não achar minha história chata, podemos continuar amanhã — o velho fez uma pausa e, antes de prosseguir, fechou os olhos como se voltasse no tempo até a época em que ocorreu o que ia contar. — É uma história muito antiga. Começa no século XII, imagine. Há nada menos que nove séculos, lá na Europa. Naquela época, a religião tinha uma importância tão grande que, sem exagero, pode-se dizer que ocupava por inteiro a vida dos seres humanos. Homens e mulheres viviam em função de Deus, do Diabo, do pecado e da morte. Missas, retiros, procissões e rezas ocupavam boa parte dos seus dias. A maior preocupação de todo o mundo era saber se, quando passasse para a outra vida, seria premiado com o céu ou castigado com o inferno. O mundo cristão tinha o sonho de recuperar Jerusalém e todos os lugares santos relacionados com a vida de Jesus Cristo que haviam caído em poder do Islã. Assim surgiram as Cruzadas, que eram

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