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Répteis. Marcos Di-Bernardo Márcio Borges-Martins Roberto Baptista de Oliveira

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Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Répteis

Marcos Di-Bernardo Márcio Borges-Martins Roberto Baptista de Oliveira

De modo geral, répteis despertam pouco interesse popular no que concerne à conservação das espécies. Este descaso se deve, em parte, à falta de informação, ao medo, ou à antipatia que a maioria das pessoas tem em relação a al-guns desses animais, como lagartos, serpentes e cobras-de-duas-cabeças (ou anfisbenas). Recentemente, porém, alguns répteis vêm recebendo crescente atenção através de cam-panhas destinadas especificamente à sua proteção, como é o caso das tartarugas marinhas e alguns crocodilianos (ja-carés e crocodilos). Mesmo assim, ainda hoje muitos répteis continuam sendo propositadamente exterminados, a des-peito do apelo pela conservação da biodiversidade em ní-vel global. Embora o extermínio de indivíduos contribua para o declínio populacional de algumas espécies, é a descaracterização e a destruição dos hábitats que constitu-em a ameaça mais generalizada e severa.

Répteis ocorrem no mundo inteiro, exceto nos pólos, ocupando os mais diversificados hábitats. Atualmente são reconhecidas 8.051 espécies, sendo 4.636 de lagartos, 2.930 de serpentes, 300 de quelônios (tartarugas, cágados e jabutis), 160 de anfisbenas, 23 de crocodilianos e duas de tuataras (Uetz 2002). Dessas, 617 espécies ocorrem no Brasil (312 ser-pentes, 214 lagartos, 51 anfisbenas, 35 quelônios e 5 jacarés; Pinto 2002) e 111 no Rio Grande do Sul (73 serpentes, 21 lagartos, 11 quelônios, 5 anfisbenas e 1 jacaré).

A aplicação dos critérios empregados na elabora-ção da lista das espécies da fauna ameaçadas de extinelabora-ção no Rio Grande do Sul (Marques et al. 2002) resultou no enquadramento de 15% das espécies de répteis do Estado em alguma categoria de ameaça. Quatro espécies de ser-pentes e uma de lagarto foram consideradas Em Perigo e nove espécies de serpentes e três de lagartos foram consi-deradas Vulneráveis (Borges-Martins et al. 2002).

O conhecimento atual sobre a diversidade de rép-teis do Rio Grande do Sul pode ser considerado satisfatório, em grande parte devido ao trabalho realizado por T. de Lema e colaboradores (ver Lema & Fabián-Beurmann 1977; Lema et al. 1980, 1984; Lema 1987, Lema & Ferreira 1990 e Lema 1994 para listas regionais de espécies). Mais re-centemente, estudos de cunho ecológico, notadamente sobre reprodução, dieta, comportamento alimentar e perí-odo de atividade, proveram informações sobre a história natural de espécies e comunidades (Verrastro & Krause 1994, 1999; Di-Bernardo 1998; Verrastro & Bujes, 1998; Almeida 1999; Cechin 1999; Oliveira 2001; Oliveira & Di-Bernardo 2001; Oliveira et al. 2001; Maciel 2001; Aguiar 2002). Mesmo assim, apesar do conhecimento acumulado ao longo dos anos, algumas espécies foram raramente observadas no Estado. Para essas espécies, a escassez de informações sobre ecologia e distribuição geográfica

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Répteis

de conservação atual. A lagartixa-listada (Cercosaura ocellata petersi), por exemplo, foi registrada para o Rio Grande do Sul com base em dois exemplares coletados há várias décadas no município de Santa Maria (Ruibal 1952). Casos similares são os da lagartixa-azul (Stenocercus azureus), conhecida apenas de Quaraí e Tupanciretã (Lema & Fabián-Beurmann 1977, Lema 1994), de uma espécie de cobra-coral (Micrurus decoratus), citada para São Leopoldo e para uma localidade não especificada do Esta-do (Esta-dois indivíduos; Lema & AzeveEsta-do 1969, Hoge & Ro-mano-Hoge 1979), de outra cobra-coral, Micrurus lemniscatus, registrada somente para Eugênio de Castro (um indivíduo; Di-Bernardo et al. 2001), da serpente Apostolepis quirogai, registrada para Santo Ângelo (um indivíduo; Lema & Cappellari 2001), de uma espécie de muçurana (Clelia bicolor), indicada para Pelotas (um indi-víduo; Zaher 1996) e, por fim, do cágado-de-barbelas-pintado (Phrynops geoffroanus), registrado para Severiano de Almeida (um indivíduo; Lema & Ferreira 1990).

Outras duas espécies, uma cobra-de-vidro (que, apesar do nome, é um lagarto) e uma cobra-de-duas-cabeças (uma anfisbena), foram citadas para o Rio Grande do Sul sem indicação precisa das localidades onde os registros ocorreram. Isto impediu qualquer avaliação do estado de conservação dos hábitats que essas espécies ocupam e, em conseqüência, a inferência de possíveis ameaças que as afetam, comprometendo a aplicação de alguns dos critérios propostos. Nesta situação enquadra-ram-se a cobra-de-vidro-pequena (Ophiodes vertebralis), cuja série-tipo é composta por exemplares procedentes do “sul do Brasil e Uruguai” (Borges-Martins 1998), e a cobra-de-duas-cabeças Leposternon microcephalum, da qual somente um exemplar é conhecido para o Estado (Gans 1971).

Há ainda o caso de outras quatro espécies de ser-pentes registradas para o Rio Grande do Sul através de exemplares depositados em coleções científicas, mas cujos dados de procedência são questionáveis. Para a maioria delas, os registros são antigos, baseados em poucos exem-plares, e as localidades citadas como sendo as de coleta são distantes e possuem ecossistemas muito diferentes das regiões para as quais existem registros atuais confir-mados. Equívocos na indicação da procedência de exem-plares eram muito freqüentes no passado, principalmen-te quando pesquisadores estrangeiros realizavam expe-dições científicas por diferentes regiões da América do Sul, ou mesmo se estabeleciam nelas, coletando muitos animais que eram posteriormente enviados aos museus de seus países de origem. Dessa maneira, é possível que

nham sido registrados como procedentes de um mesmo local. A serpente Ditaxodon taeniatus, por exemplo, foi registrada para o Rio Grande do Sul com base em dois exemplares. Um é o holótipo da espécie e consta ter sido coletado em Porto Alegre no século XIX (Hensel 1868); o outro exemplar não tem localidade específica (Morato 1995). Atualmente, porém, essa espécie tem sido encon-trada apenas na região dos campos do segundo planalto paranaense, onde é rara (Morato et al. 1995a). Da mes-ma formes-ma, há dois registros no Estado para a cabeça-preta-de-cinco-listras (Elapomorphus quinquelineatus), um sem localidade específica e outro para Canguçu, na região sul (Lema 1992, 1994). No entanto, essa espécie é própria da Mata Atlântica, ecossistema muito diferente do existente na região em que foi supostamente regis-trada no Estado. A cobra-coral-de-cintas-simples (Micrurus corallinus) foi registrada para várias localida-des do Rio Grande do Sul, mas sua ocorrência provavel-mente está restrita às regiões de floresta atlântica. Acre-dita-se que os registros para o RS tenham sido feitos a partir de exemplares obtidos junto a museus escolares, cuja proveniência nem sempre é confiável. Essa espécie é muito comum no litoral catarinense, região que recebe grande número de veranistas gaúchos. Portanto, é possí-vel que os exemplares depositados em escolas do Rio Grande do Sul (e mesmo em coleções científicas) tenham sido coletados em Santa Catarina. Caso similar é o da serpente Chironius laevicollis, que foi registrada para o RS por Lema et al. (1984), com base em um exemplar encontrado na coleção didática da Escola Estadual Olinda Flores da Silva, de São Leopoldo. Esta espécie ocorre principalmente ao longo da floresta atlântica da costa sudeste do Brasil, desde Espírito Santo e Minas Gerais até Santa Catarina (Dixon et al., 1993). A eventual con-firmação da ocorrência dessas quatro espécies no Estado poderia ser suficiente para o seu enquadramento em al-guma das categorias de ameaça.

A fim de utilizar critérios objetivos e consisten-tes, seguiu-se aqui a proposta a ser adotada por Di-Bernardo et al. (em preparação), de desconsiderar as es-pécies cuja ocorrência no Rio Grande do Sul tenha sido registrada com base apenas em informações de terceiros, sem que os espécimes correspondentes tenham sido coletados e depositados em coleções científicas. Nesta situação encontram-se a sucuri-amarela (Eunectes notaeus) e outras oito espécies de serpentes (Chironius flavolineatus, Liophis meridionalis, Liophis reginae, Liophis typhlus, Lystrophis semicinctus, Rachidelus brazili, Sibynomorphus mikanii e Siphlophis pulcher).

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Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

litoral do Rio Grande do Sul (Lema & Ferreira 1990, Lema 1994). Como nos demais estados da Região Sul do Bra-sil, o litoral do RS não apresenta áreas próprias para a desova de tartarugas marinhas, mas é utilizado regular-mente por algumas espécies como área de alimentação, pelo menos em alguma etapa do seu desenvolvimento. Por esta razão, o litoral sul do Brasil foi recentemente considerado uma área de extrema importância biológica para a conservação das tartarugas marinhas (Fundação BIO-RIO et al. 2002). A tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e a tar-taruga-verde (Chelonia mydas) são espécies registradas com freqüência no Rio Grande do Sul, enquanto a tarta-ruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga-oliva (Lepidochelys tartaruga-olivacea) ocorrem apenas ocasional-mente (Nakashima et al. 2001). Pressões antrópicas so-bre as tartarugas marinhas têm sido detectadas na re-gião, como por exemplo a captura acidental em redes de pesca costeira (Areco 1997, Ott et al. 1999) e em espinhéis oceânicos (Barata et al. 1998), além da ingestão de plás-ticos e outros detritos (Bugoni et al. 2001). Contudo, de-vido ao comportamento altamente migratório das tarta-rugas marinhas, é difícil avaliar criteriosamente a mag-nitude dessas ameaças à sobrevivência das espécies em escala regional. Somem-se a isto a carência de informa-ções históricas e recentes sobre as tendências populacionais dessas espécies e a falta de estimativas de mortalidade associadas às diferentes artes de pesca. Ainda, pouco se conhece sobre a composição populacional das diferentes espécies no Atlântico sul, especialmente nas áreas de alimentação do sul do Brasil. Considerou-se, assim, que avaliações em nível global são mais apropri-adas para as tartarugas marinhas, motivo pelo qual elas não foram incluídas no presente capítulo.

Todas as espécies de tartarugas marinhas que ocor-rem no Brasil estão protegidas por leis federais e por acor-dos internacionais acor-dos quais o Brasil é signatário. As cinco espécies que ocorrem no Rio Grande do Sul estão incluídas na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção. A tartaruga-de-couro e a tartaruga-de-pente estão incluídas na lista da IUCN como criticamente ameaçadas e as demais como ameaçadas (Hilton-Taylor 2000). Todas estão incluí-das no Apêndice I da CITES. Recentemente, o Brasil tor-nou-se signatário da Convenção Interamericana para a Pro-teção e a Conservação das Tartarugas Marinhas.

O jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) é o único crocodiliano registrado no Rio Grande do Sul. A espécie ocorre em todas as áreas baixas do Estado, desde as lagoas costeiras até a fronteira oeste. Na E. E. do Taim,

1994). No passado, essa espécie sofreu uma pressão de caça relativamente intensa, que visava principalmente a utilização do seu couro, considerado de melhor qualida-de que o das qualida-demais espécies do gênero (Scott et al. 1990, Ross 1998). Atualmente, a caça diminuiu consideravel-mente em razão de vários fatores, como a diminuição da densidade da espécie na natureza, o aumento da fiscali-zação, o aumento dos custos da caça ilegal e a preferên-cia dos comerpreferên-ciantes por couros oriundos de abatedouros legalizados (Ross 1998). Por outro lado, a destruição do hábitat aumentou sensivelmente nos últimos anos, sendo considerada atualmente a principal ameaça à espécie. Contudo, o jacaré-do-papo-amarelo é tolerante em re-lação à qualidade do hábitat e sobrevive em ambientes moderadamente alterados, podendo ser observado em áreas utilizadas para agricultura (MBM, obs. pes.) ou para a criação extensiva de gado (Scott et al. 1990, Verdade & Lavorenti 1990). Atualmente, está incluído na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção, que se encontra em revisão, e já foi considerado amea-çado pela IUCN (Groombridge 1982, Thorbjarnarson 1992). Entretanto, a IUCN não relaciona o jacaré-do-papo-amarelo como espécie ameaçada desde 1996 (IUCN 1996, Hilton-Taylor 2000).

Em vista de sua área de ocupação atual no Esta-do, da redução significativa da caça e de sua aparente capacidade para resistir às principais alterações de hábitat, o jacaré-do-papo-amarelo não foi enquadrado como espécie regionalmente ameaçada. Sugere-se, con-tudo, que sejam seguidas as ações prioritárias indicadas pela IUCN para a espécie no Brasil (Ross 1998), que incluem a execução de monitoramentos para avaliação detalhada do estado de conservação da espécie e a de-marcação de sua distribuição atual. A utilização de Sis-temas de Informação Geográfica e de imagens de saté-lite foi recomendada (Ross 1998) para que se obtenha um panorama preciso das áreas ainda disponíveis e ocupadas pela espécie.

Uma análise sobre os hábitats ocupados pelos rép-teis ameaçados de extinção no Rio Grande do Sul aponta os ambientes florestais como aqueles que concentram a maior parte das espécies nessa situação. Pelo menos 11 das 17 espécies enquadradas em alguma categoria de ameaça ocupam esses ambientes. Sete dessas espécies ocor-rem, de forma exclusiva ou não, na floresta atlântica, e quatro em outros ecossistemas de floresta (floresta com araucária e floresta estacional). Três espécies são de am-bientes abertos, sendo duas de áreas de campo e uma da região das dunas costeiras.

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Répteis

Calamodontophis paucidens (Amaral, 1935)

Nome vulgar: Não possui

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Vulnerável

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A3 B+ C1 D3 E+)

Distribuição Geográfica

É encontrada no extremo sul do Brasil (Depressão Central do Rio Grande do Sul) e no Uruguai (Franco et al. 2001). No Estado, a espécie foi registrada apenas em três municípios (Cacequi, Cachoeira do Sul e Rio Pardo). Sua ocorrência no Uruguai está baseada no registro de um exemplar, encon-trado no Departamento de Treinta y Tres (Franco et al. 2001).

Figura ???

(2001) descreveram o comportamento defensivo da es-pécie: durante a captura e em seus primeiros dias em cativeiro, alguns indivíduos achataram o corpo dorso-ventralmente, se enrodilharam à semelhança de uma mola, esconderam a cabeça entre os anéis do corpo e desferiram falsos botes.

Situação Populacional

Não existem informações disponíveis sobre a situação populacional de C. paucidens. No entanto, a espécie é considerada rara, existindo apenas 12 exemplares deposi-tados em coleções. Entre eles, nove procedem de um mes-mo município do Rio Grande do Sul, Cachoeira do Sul (Franco et al. 2001). O achado de indivíduos em áreas acentuadamente alteradas pela ação antrópica e a captura recente (posterior a 1990) de oito dos 12 exemplares co-nhecidos dificultam ainda mais as interpretações sobre a situação populacional da espécie.

Ameaças

Embora não tenham sido identificadas ameaças especí-ficas, a espécie é considerada Vulnerável devido à restri-ção de sua distribuirestri-ção geográfica e sua raridade natu-ral. Como C. paucidens parece tolerar alterações antrópicas no hábitat, vivendo mesmo em jardins residenciais e no interior de monoculturas arbóreas, a interação com humanos pode ser freqüente e resultar no abate de exemplares.

Ações Recomendadas

Desenvolver um programa de educação ambiental jun-to à comunidade rural e urbana de Cachoeira do Sul – município de onde provieram nove dos 12 exemplares conhecidos de C. paucidens – para auxiliar no reco-nhecimento da espécie e na compreensão da necessida-de necessida-de sua conservação.

Localizar populações adicionais da espécie. Investigar a biologia da espécie.

Colaborador

Edson L. Salomão

Biologia

Todos os exemplares procedentes do Rio Grande do Sul foram coletados em localidades situadas na Depressão Central, entre o Planalto Sul-Rio-Grandense (ou Serra do Sudeste) e a borda sul do Planalto Meridional do Bra-sil (Franco et al. 2001). Essa região foi originalmente coberta por savanas e por florestas decíduas e semidecíduas (IBGE 1986). Como cinco indivíduos fo-ram encontrados em jardins de casas ou em plantações de nogueiras (Carya illinoensis), Franco et al. (2001) con-sideraram os 12 registros existentes insuficientes para caracterizar o hábitat da espécie. Por outro lado, o en-contro desses exemplares parece indicar a capacidade que a espécie tem de sobreviver em hábitats alterados. Devido principalmente à sua raridade, quase nada se conhece sobre a biologia de C. paucidens. Franco et al.

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Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Clelia plumbea (Wied-Neuwied, 1820)

Nome vulgar: Muçurana-de-barriga-branca

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A3 B3 C+ D3 E+) Figura ????

Distribuição Geográfica

Ocorre em todas regiões do Brasil situadas ao sul da bacia amazônica, e no Paraguai (Zaher 1996). No Rio Grande do Sul, foi registrada apenas no extremo nordeste, no mu-nicípio de Dom Pedro de Alcântara.

Biologia

É uma serpente de grande porte. O maior exemplar conheci-do é uma fêmea com mais de 250 cm de comprimento total (Zaher 1996). Possui dentes injetores de peçonha localizados na região posterior das maxilas (serpente opistóglifa), mas os indivíduos são usualmente dóceis e não costumam morder quando manuseados (Morato et al. 1995a). Contudo, Pinto et al. (1991) relataram um caso de envenenamento humano por essa espécie, que provocou edema e hemorragia no local da picada. Tem hábito terrícola e atividade predominante-mente noturna, alimentando-se de outras serpentes, lagar-tos, marsupiais e roedores (Cunha & Nascimento 1978, Vanzolini et al. 1980, Zimmerman & Rodrigues 1990, Cos-ta-Pinto 1994, Marques 1998, Marques et al. 2001). É ovípa-ra, depositando de 8 a 14 ovos (Morato et al. 1995a, Mar-ques 1998, MarMar-ques et al. 2001). Há variação ontogenética na coloração: os juvenis apresentam cabeça negra com uma faixa amarela transversal, dorso vermelho e ventre amarela-do, enquanto os adultos apresentam toda a região dorsal cinza-escuro e ventre esbranquiçado (Cunha & Nascimento 1978, Zaher 1996). Segundo Marques et al. (2001), a muçurana-de-barriga-branca é uma espécie raramente en-contrada e difícil de ser avistada.

Situação Populacional

Há um único registro de C. plumbea para o Rio Grande do Sul, em área de floresta atlântica, o que dificulta in-terpretações sobre a situação populacional do táxon no Estado. Provavelmente, essa espécie sofreu acentuado declínio populacional ao longo de sua distribuição geo-gráfica, em virtude da intensa destruição e descaracterização do hábitat que ocupa. A espécie está incluída na Lista Vermelha dos Animais Ameaçados de Extinção no Estado do Paraná, onde aparentemente suas populações vêm declinando (Morato et al. 1995a). Ameaças

A principal ameaça à muçurana-de-barriga-branca no Rio Grande do Sul é a destruição e descaracterização dos re-manescentes da floresta atlântica de planície. Pouco resta desse ecossistema no Rio Grande do Sul e as áreas atual-mente protegidas são pequenas.

Ações Recomendadas

Proteger de forma efetiva os remanescentes de flores-ta atlântica do Esflores-tado, em particular aqueles ainda existentes no litoral norte do Rio Grande do Sul. Garantir a preservação da mata do Faxinal (ou de Itapeva), em Torres, através da implementação do P. E. de Itapeva (em processo de criação pela SEMA), e dos remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma unidade de con-servação.

Implementar uma campanha de conscientização junto a proprietários rurais, alertando sobre a importância da preservação e ampliação das áreas florestadas para a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas do nordeste do Estado.

Observações

Lema (1994) afirmou ter referências sobre a ocorrência de C. plumbea na Encosta Inferior do Nordeste e no Planalto Central do Rio Grande do Sul. Contudo, o único espéci-me-testemunho conhecido para o Rio Grande do Sul (MCP 5736) procede de Dom Pedro de Alcântara (anteriormente parte do município de Torres, como citado por Lema 1994). A situação taxonômica da espécie foi revisada por Zaher (1996); trabalhos anteriores referem essa serpente sob os nomes Clelia clelia plumbea (e.g., Cunha & Nascimento 1978) e Clelia clelia (e.g., Morato et al. 1995a).

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Répteis

Dipsas incerta (Jan, 1863)

Nome vulgar: Dormideira-das-árvores

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A0 B2 C3 D3 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre no Brasil oriental, desde Alagoas ao Rio Grande do Sul (Porto & Carcerelli 1992, Morato 1995). Há três registros para o Rio Grande do Sul, nos municípios de Torres, Itati e Caxias do Sul. O registro para Itati é recente (2001) e está baseado em um exemplar coletado na R. B. E. Mata Paludosa.

Figura ???

(1998) registrou, na floresta atlântica de São Paulo, restos de um molusco gastrópodo no estômago de um indivíduo; esse tipo de presa parece constituir o ali-mento exclusivo de todas as espécies do gênero (Sazima 1989, Marques 1998). As espécies de Dipsas são oví-paras e depositam de um a cinco ovos (ver Marques 1998 e referências inclusas).

Situação Populacional

Não há informações sobre a situação populacional da dormideira-das-árvores no Rio Grande do Sul. Contudo, em decorrência da acentuada destruição e descaracterização da Mata Atlântica no Estado, pode-se inferir que a espécie tenha sofrido um significativo declínio populacional.

Ameaças

A principal ameaça para D. incerta é a destruição e descaracterização do hábitat.

Ações Recomendadas

Proteger de forma efetiva os remanescentes dos ecossistemas floresta com araucária, floresta atlânti-ca e floresta estacional na área de ocorrência conhe-cida e potencial da espécie.

Garantir a preservação da mata do Faxinal (ou de Itapeva), em Torres, através da implementação do P. E. de Itapeva (em processo de criação pela SEMA), e dos remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma unidade de con-servação.

Conduzir campanhas informativas junto a proprietá-rios rurais, conscientizando-os da importância das regiões florestadas para a sobrevivência da espécie, o que pode contribuir também para a ampliação de sua hoje restrita área de ocorrência no Rio Grande do Sul.

Colaboradores

Ronaldo Fernandes, Francisco L. Franco e Giovanni Vinciprova.

Biologia

Muitos aspectos da biologia e ecologia da dormideira-das-árvores são completamente ignorados, provavel-mente pela dificuldade que se têm de observar indiví-duos na natureza e, conseqüentemente, de se capturar e depositar exemplares em coleções. Ao longo de sua área de ocorrência, ocupa os ecossistemas floresta atlântica, floresta com araucária e floresta estacional (Porto & Carcerelli 1992, Morato 1995). No Rio Gran-de do Sul, há dados sobre um exemplar, que estava em atividade durante a noite, no mês de novembro, des-locando-se sobre a vegetação em floresta atlântica de planície (G. Vinciprova, verb.). Na ausência de dados específicos, algumas inferências sobre a história na-tural de D. incerta podem ser feitas a partir de dados conhecidos para outras espécies do gênero, que habi-tam os mesmos ecossistemas. Para D. petersi, Marques

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Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Helicops carinicaudus (Wied-Neuwied, 1825)

Nome vulgar: Cobra-d’água-do-litoral

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A3 B1 C1 D2 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre exclusivamente no Brasil, nos estados da Região Sul e também no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo (Yuki 1993). No Rio Grande do Sul, foi registrada apenas no extremo norte da Planície Costeira, nos muni-cípios de Torres e Dom Pedro de Alcântara (Deiques & Cechin 1991; coleção MCP).

Figura ???

ovidutos. No Rio Grande do Sul, H. carinicaudus foi re-gistrada tanto em ambientes lênticos (Lagoa do Violão e Lagoa do Jacaré, em Torres) quanto lóticos (rio Mampituba) (Deiques & Cechin 1991).

Situação Populacional

As informações sobre a situação populacional da cobra-d’água-do-litoral no Rio Grande do Sul são fragmentá-rias. O extremo norte da Planície Costeira é a única re-gião em que a espécie ocorre, mas aí parece não ser rara. Na coleção MCP estão depositados 21 indivíduos, que foram coletados entre 1985 e 1997 na localidade Canto dos Leffa (município de Dom Pedro de Alcântara). No entanto, para o mesmo período e localidade, o número de indivíduos coletados de uma espécie congênere e com modo de vida similar, H. infrataeniatus, foi cerca de cinco vezes maior.

Ameaças

Embora não tenham sido identificadas ameaças específi-cas, a espécie é considerada Vulnerável devido à sua dis-tribuição geográfica extremamente restrita e sua densida-de populacional aparentemente baixa no Rio Grandensida-de do Sul. As unidades de conservação existentes na área de ocorrência da espécie são pequenas e a descaracterização dos ecossistemas naturais nessa região tem sido generali-zada.

Ações Recomendadas

Implementar medidas que protejam os corpos d’água localizados no extremo norte da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, de modo a garantir a manutenção da população local da espécie.

Garantir a preservação da mata do Faxinal (ou de Itapeva), em Torres, através da implementação do P. E. de Itapeva (em processo de criação pela SEMA), e dos remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma unidade de con-servação.

Biologia

É uma espécie aquática. Apresenta características morfológicas e fisiológicas comuns a espécies altamente adaptadas a este modo de vida, como olhos e narinas voltados para a região superior da cabeça, escamas quilhadas e viviparidade. Mede cerca de 90 cm de com-primento total (Deiques & Cechin 1991) mas, a julgar por um exemplar mencionado por Marques (1998), com 91 cm de comprimento rostro-cloacal, a espécie pode, excepcionalmente, ultrapassar um metro. Quando ameaçada, defende-se desferindo botes e mordendo. Ali-menta-se predominantemente de peixes e ocasionalmente de anfíbios (Nogueira & Marques 1998). A espécie é vivípara e bastante prolífera; Nogueira & Marques (1998) encontraram fêmeas contendo de 7 a 26 embriões nos

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Répteis

Hydrodynastes gigas (Duméril, Bibron & Duméril, 1854)

Nome vulgar: Boipevaçu

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A3 B1 C1 D2 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre no Peru, Bolívia, Paraguai, nordeste da Argentina e norte, centro-oeste, sudeste e sul do Brasil (Strüssmann & Sazima 1990, Cunha & Nascimento 1993, Lema 1994, Williams & Scrocchi 1994). No Rio Grande do Sul, foi en-contrada apenas no extremo oeste, nos municípios de Itaqui, Maçambará e Uruguaiana. Foi registrada na R. B. de São Donato.

Figura ???

Situação Populacional

Há poucas informações sobre a situação populacional da boipevaçu no Rio Grande do Sul. Aparentemente é pouco abundante, suposição sustentada pelo fato de habitar áre-as abertáre-as, apresentar grande porte e, mesmo áre-assim, con-tar com poucos registros e/ou exemplares colecionados. É muito comum, porém, em outras regiões dentro de sua área de ocorrência, sendo uma das serpentes mais freqüentemente encontradas no Pantanal matogrossense (Strüssmann & Sazima 1990).

Ameaças

Embora não tenham sido identificadas ameaças específi-cas, a espécie é considerada Vulnerável devido à sua distri-buição geográfica extremamente restrita e sua densidade populacional aparentemente baixa no Rio Grande do Sul. Por ser uma serpente grande, provavelmente é abatida com freqüência por humanos quando encontrada no campo. Ações Recomendadas

Avaliar a situação populacional da espécie na R. B. de São Donato, unidade de conservação potencialmente importante para a sua conservação no Estado.

Localizar e proteger outras áreas úmidas com ocorrên-cia da boipevaçu, de modo a garantir a manutenção da população local da espécie.

Conduzir campanhas informativas na área de ocorrên-cia da boipevaçu, voltadas ao reconhecimento da espé-cie e à divulgação da importância da conservação dos corpos d’água onde ela ocorre.

Observações

Orejas-Miranda & García (1971) registraram a ocorrência da boipevaçu no Uruguai com base em um espécime cole-tado em 1959, no Departamento de Florida; esse espécime teria sido depositado na Colección Herpetológica del Museo Nacional de Historia Natural de Montevideo, sob o núme-ro 1457. Achaval-Elena (2001), entretanto, não citou H. gigas na “Actualización sistemática y mapas de distribución de los reptiles del Uruguai”, trabalho elaborado a partir da revisão das espécies atualmente depositadas nas prin-cipais coleções científicas daquele país.

Colaboradores

Airton Batista Santos, Jan Karel Felix Mähler Jr., Marcos Vinícius Querol e Moema Leitão de Araujo.

Biologia

É uma serpente de grande porte, que atinge até 250 cm de comprimento total (Strüssmann & Sazima 1990). Quando ameaçada, pode achatar dorso-ventralmente a região do pescoço (Strüssmann 1992), intimidando predadores por parecer maior ou por assumir repentinamente uma forma diferente (Greene 1988). A boipevaçu possui hábito semi-aquático e se alimenta de anfíbios, peixes, outras serpen-tes, aves e roedores (Amaral 1978, Bels 1987, Strüssmann 1992, Yanosky et al. 1996). Hábitos necrófagos também foram observados (Sazima & Strüssmann 1990). Sazima & Strüssmann (1990) registraram um interessante com-portamento de caça, no qual a serpente esquadrinha o substrato com a cauda para provocar o salto de anfíbios anuros, que são então visualmente percebidos e captura-dos. É diurna e ovípara (Yanosky et al. 1996). Cordeiro & Rubinstein (1986) registraram desovas de 14 e 18 ovos.

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(9)

Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Lystrophis histricus (Jan, 1863)

Nome vulgar: Nariguda-rajada

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A0 B+ C3 D3 E2)

Distribuição Geográfica

Ocorre no centro-sul do Brasil, desde Mato Grosso do Sul ao Rio Grande do Sul, no nordeste da Argentina, Paraguai e sudeste do Uruguai (Hoge et al. 1975, Achaval-Elena 2001). No Rio Grande do Sul, foi regis-trada em várias localidades dos biomas Mata Atlântica e Campos Sulinos (Lema 1994).

Figura ??? Situação Populacional

Há mais de 70 anos, Devincenzi (1925) já considerava a nariguda-rajada uma espécie rara. Embora existam diversos exemplares depositados em coleções científi-cas do Brasil, Argentina e Uruguai, os registros indi-cam que a maioria dos indivíduos foram coletados antes de 1950 (Orejas-Miranda 1966, Viñas & Olmedo 1988; F. Franco, in litt.). Na Argentina e Uruguai, os exemplares mais recentes foram coletados em 1937 e 1962, respectivamente (Achaval & Olmos 1997, Giraudo 2001), e no Brasil, em 1973 (em Ponta Gros-sa, Paraná). No Rio Grande do Sul, o espécime mais recente, com data de coleta registrada, foi coletado em 1958 (mas há um indivíduo depositado na coleção do MCN, sem data anotada, que pode ter sido coletado na década de 1970, a julgar por seu número de tom-bamento). Estes dados históricos indicam que a nari-guda-rajada, embora aparentemente sempre tenha sido rara, teve suas populações reduzidas em toda a sua área de ocorrência.

Ameaças

Provavelmente, a descaracterização do hábitat.

Ações Recomendadas

Localizar populações remanescentes nas áreas de ocor-rência provável da espécie, especialmente nos arredo-res das localidades de registros históricos.

Investigar a biologia da espécie, em especial os seus requerimentos de hábitat.

Observações

O exemplar de L. histricus citado para a E. E. do Taim (Gomes & Krause 1982, Lema 1994), depositado na cole-ção herpetológica do Departamento de Zoologia da UFRGS, foi examinado pelos autores e trata-se de outra espécie (Lystrophis dorbignyi).

Colaboradores

David Gower, Francisco L. Franco, Júlio César de Moura Leite, Renato Bérnils, Ronaldo Fernandes e Sérgio Augusto Abrahão Morato.

Biologia

Não há dados sobre a história natural e ecologia dessa espécie. A maior fêmea conhecida mede 44,1 cm de comprimento total, e o maior macho, 27,9 cm (Hoge et al. 1975). O hábitat ocupado, dentro dos biomas Mata Atlântica e Campos Sulinos, ainda é desconhe-cido. Provavelmente a ocorrência da nariguda-rajada esteja circunscrita a ambientes bem preservados, vis-to que indivíduos não são encontrados há vários anos. Esta suposição é reforçada pelo fato de haver indiví-duos depositados em coleções científicas procedentes de Caxias do Sul, Passo Fundo, Montenegro e São Leopoldo – municípios nos quais têm sido feitas cole-tas sistematizadas nos últimos 10 anos, sem que essa espécie tenha sido encontrada.

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(10)

Répteis

Philodryas arnaldoi (Amaral, 1932)

Nome vulgar: Parelheira-do-mato

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A0 B1 C3 D3 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre na região oriental da floresta com araucária e na floresta atlântica do sul do Brasil, desde o sudeste do Paraná até o nordeste do Rio Grande do Sul (Morato 1995, mas veja item observações). No Estado, foi registrada em áreas densamente florestadas do leste do Planalto das Araucárias (Bento Gonçalves e São Francisco de Paula) e da encosta atlântica (Itati).

Figura ???

1995, Morato et al. 1995a). Embora não existam informa-ções precisas, suas populainforma-ções devem ter declinado ulti-mamente, em virtude da intensa destruição das áreas florestadas que habita. A espécie está incluída na Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção no Estado do Paraná, devido à sua raridade natural e à destruição e descaracterização das florestas com araucária naquele es-tado (Morato et al. 1995a).

Ameaças

A principal ameaça para a espécie é a destruição e descaracterização da floresta com araucária e da floresta atlântica.

Ações Recomendadas

Proteger efetivamente os remanescentes dos ecossistemas floresta com araucária e floresta atlân-tica.

Implementar uma campanha de conscientização junto a proprietários rurais, alertando sobre a importância das regiões florestadas para a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas.

Observações

Na coleção herpetológica do Instituto Butantan, São Pau-lo, há um exemplar procedente do município de Franca (SP). R. A. Thomas (in litt.), pesquisador engajado na visão do gênero Philodryas, sugere que este seja um re-gistro errôneo, já que Franca está situada em região com ecossistema diferente daquele normalmente ocupado pela espécie. Neste caso, não haveria registro da ocorrência de P. arnaldoi no Estado de São Paulo. Não obstante, a parelheira-do-mato é citada como provavelmente ameaçada na lista de espécies ameaçadas de extinção da-quele estado (São Paulo 1998).

Colaborador

Francisco L. Franco, Glaucia M.F. Pontes, Júlio César de Moura Leite, Renato Bérnils, Robert A. Thomas e Sérgio Augusto Abrahão Morato.

Biologia

É um colubrídeo de porte médio. Os filhotes nascem com pouco mais de 30 cm de comprimento total e atingem cerca de 133 cm quando adultos. Informações sobre his-tória natural e ecologia são escassas, em parte devido à raridade da espécie. Morato et al. (1995a) sugeriram que, à semelhança das demais espécies do gênero, a parelheira-do-mato tem hábito semi-arborícola e se alimenta de pe-quenos mamíferos, anfíbios e lagartos. Di-Bernardo (1998) registrou uma fêmea procedente de São Francisco de Paula que pôs 14 ovos no final de dezembro; os ovos foram incubados em laboratório e onze filhotes nasceram em meados de março.

Situação Populacional

A parelheira-do-mato é uma espécie naturalmente rara em toda a sua área de ocorrência (Lema 1994, Morato

(11)

Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Pseudoboa haasi (Boettger, 1905)

Nome vulgar: Falsa-muçurana

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A2 B1 C2 D2 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre desde o sudeste de São Paulo até o nordeste do Rio Grande do Sul, no Brasil, e em Misiones, na Argentina (Bailey 1970, Giraudo 1992, Lema 1994, Morato et al. 1995b). No Rio Grande do Sul, foi registrada no nordeste (Lema & Ely 1979, Lema 1994), na região da floresta atlân-tica, em Osório, Três Forquilhas e Dom Pedro de Alcântara.

Figura ???

da araucária; ressalvou, entretanto, que dois desses espéci-mes foram coletados em áreas baixas, caracterizadas por florestas de “palo rosa” e palmito.

Situação Populacional

Embora não haja estudos específicos, a exígua representatividade dessa espécie de porte relativamente gran-de em coleções indica que a falsa-muçurana apresenta bai-xa densidade populacional no Rio Grande do Sul. É prová-vel que suas populações tenham sofrido acentuado declínio nos últimos anos, em virtude da destruição de seu hábitat.

Ameaças

A principal ameaça no Rio Grande do Sul é a destruição e descaracterização dos remanescentes de floresta atlântica. A floresta atlântica de planície do litoral norte do Estado en-contra-se quase completamente destruída e descaracterizada, e as áreas oficialmente protegidas são pequenas.

Ações Recomendadas

Proteger de forma efetiva os remanescentes da flo-resta atlântica na região de ocorrência da espécie. Implementar o P. E. de Itapeva, em Torres (atualmente em processo de criação pela SEMA), e garantir a preser-vação dos remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma unidade de conservação.

Implementar uma campanha de conscientização jun-to a proprietários rurais, alertando sobre a impor-tância da preservação e ampliação das áreas florestadas para a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas.

Observações

Um exemplar depositado na coleção do Instituto Butantan, São Paulo, tem como procedência “Santa Cruz”, Rio Grande do Sul. Este registro, provavelmente, se refere ao municí-pio de Santa Cruz do Sul. Neste caso, o registro parece ser um erro de procedência, visto que esse município está situado em região geograficamente distante e fisionomicamente diferente da conhecida para a falsa-muçurana no Rio Grande do Sul.

Biologia

É uma espécie terrícola de porte médio, que atinge cerca de 120 cm de comprimento total (Giraudo 2001, Marques et al. 2001). Possui atividade noturna, alimenta-se de lagartos e roedores e é ovípara (Amaral 1978, Marques et al. 2001). Há variação ontogenética na coloração: juvenis apresen-tam conspícuo colar nucal claro, faixa negra longitudinal na região vertebral e lados do corpo de cor rosada; os adul-tos possuem coloração dorsal negra, desde a cabeça até a cauda. Embora tenha sido citada como endêmica da flores-ta com araucária (Morato et al. 1995 a), no Rio Grande do Sul foi registrada apenas em áreas baixas de floresta atlân-tica. Provavelmente, ocorre em altitudes menores nas regi-ões de latitudes mais altas, em razão de restriçregi-ões climáti-cas (em especial, a temperatura). Giraudo (2001) registrou três exemplares em Misiones, na Argentina, provenientes de localidades compreendidas dentro da área de domínio

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(12)

Répteis

Siphlophis longicaudatus (Andersson, 1907)

Nome vulgar: Dormideira-cipó

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Em Perigo (A3 B3 C3 D3 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre no sudeste e sul do Brasil, desde o Espírito Santo ao Rio Grande do Sul (Prudente 1998). Para o Rio Grande do Sul existe o registro de ocorrência de apenas um exem-plar, coletado no município de Dom Pedro de Alcântara, região nordeste do Estado (Lema 1964, 1994, mas veja item observações).

Figura ???

corrência da acentuada destruição da floresta atlântica. Lema (1994) já havia afirmado que a espécie está em extinção no Estado.

Ameaças

A principal ameaça no Rio Grande do Sul é a destruição e descaracterização dos remanescentes de floresta atlânti-ca. A floresta atlântica de planície, em particular, encon-tra-se já quase completamente destruída no Estado e as áreas atualmente protegidas por unidades de conservação são pequenas.

Ações Recomendadas

Proteger efetivamente os remanescentes de floresta atlântica do litoral norte do Estado.

Implementar o P. E. de Itapeva, em Torres (atualmente em processo de criação pela SEMA), e garantir a preser-vação dos remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma unidade de conservação.

Implementar uma campanha de conscientização jun-to a proprietários rurais, alertando sobre a impor-tância da preservação e ampliação das áreas florestadas para a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas.

Observações

Na coleção do Instituto Butantan, São Paulo, há um exem-plar de S. longicaudatus registrado como procedente do município de Dom Pedrito, Rio Grande do Sul. Este regis-tro foi considerado como provavelmente errôneo por Pru-dente (1998). De fato, Dom Pedrito está situado no extre-mo sudoeste do Estado, na fronteira com o Uruguai, em bioma e hábitats diferentes daqueles ocupados pela espé-cie em toda a sua área de ocorrência. O único exemplar de S. longicaudatus registrado para o Rio Grande do Sul foi utilizado por Lema (1964) como espécime-tipo de Siphlophis cinereus; posteriormente, Hoge & Romano (1969) consideraram S. cinereus sinônimo de S. longicaudatus.

Colaboradores

Ana Lúcia da Costa Prudente e Thales de Lema.

Biologia

É uma espécie semi-arborícola que habita exclusiva-mente o ecossistema floresta atlântica (Prudente 1998, Marques et al. 2001). Possui atividade noturna e se ali-menta de pequenos lagartos e serpentes (Prudente et al. 1998, Marques et al. 2001). O único registro sobre a reprodução da espécie consiste no encontro de uma fê-mea que continha cinco ovos nos ovidutos, em estágio avançado de desenvolvimento (Prudente 1998). O exem-plar procedente do RS foi coletado dentro de uma bromélia, a cerca de 2 m de altura do solo (Lema 1964, 1994).

Situação Populacional

A dormideira-cipó é considerada rara (Lema 1994, Mar-ques et al. 2001). Provavelmente as populações da espécie declinaram drasticamente no Rio Grande do Sul em

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(13)

Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Tropidodryas striaticeps (Cope, 1870)

Nome vulgar: Jiboinha

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Em Perigo (A3 B3 C2 D2 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre no sudeste e sul do Brasil, desde o Espírito Santo ao Rio Grande do Sul, associada ao ecossistema floresta atlântica (Thomas & Dixon 1977, Lema 1994). No Estado, foi registrada para três municípios: Dom Pedro de Alcântara, Três Forquilhas e Viamão.

Figura ???

et al. 2001). A espécie é ovípara (Amaral 1978, Mar-ques et al. 2001); não se conhece outros dados sobre sua reprodução.

Situação Populacional

É pouco freqüente ao longo de sua área de ocorrência (Oliveira & Di-Bernardo 1996, Marques et al. 2001). No Rio Grande do Sul, tem sido registrada apenas em áreas de floresta atlântica de planície, no nordeste (vá-rios registros) e centro-leste do Estado (um registro). É provável que as populações da jiboinha tenham so-frido acentuado declínio populacional no Rio Grande do Sul, em virtude da extensiva destruição de seu hábitat.

Ameaças

A principal ameaça à espécie no Rio Grande do Sul é a destruição e descaracterização dos remanescentes de resta atlântica, único ecossistema que habita. As flo-restas atlânticas de baixada do Estado, em particular, já se encontram quase completamente descaracterizadas e as unidades de conservação que as protegem são pe-quenas.

Ações Recomendadas

Proteger efetivamente os remanescentes de floresta atlântica do litoral norte do Estado.

Implementar o P. E. de Itapeva, em Torres (atualmente em processo de criação pela SEMA), e garantir a preser-vação dos remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma unidade de conservação.

Implementar uma campanha de conscientização jun-to a proprietários rurais, alertando sobre a impor-tância da preservação e ampliação das áreas florestadas para a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas.

Biologia

Serpente de porte médio que atinge cerca de 130 cm de comprimento total (Sazima & Puorto 1991). A des-peito de seu nome vulgar, não apresenta parentesco próximo com as verdadeiras jibóias, serpentes constritoras de grande porte que pertencem a outra família (Boidae). Possui hábito semi-arborícola e ati-vidade diurna (Sazima & Puorto 1991, Marques et al. 2001). Indivíduos juvenis apresentam a porção termi-nal da cauda com escamas eriçadas e coloração ama-rela-clara, utilizando-a como isca para atrair presas – um comportamento denominado “engodo caudal” (veja Sazima & Puorto 1991). Juvenis se alimentam de an-fíbios anuros e pequenos lagartos, e adultos de lagar-tos e roedores (Sazima & Puorto 1991, 1993, Marques

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(14)

Répteis

Uromacerina ricardinii (Peracca, 1897)

Nome vulgar: Cobra-cipó-metálica

Ordem: Squamata

Família: Colubridae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Em Perigo (A3 B3 C3 D3 E+)

Distribuição Geográfica

Ocorre apenas no Brasil e apresenta distribuição geo-gráfica aparentemente disjunta. É encontrada ao longo da costa atlântica, nas regiões florestadas da Bahia ao Rio Grande do Sul, e há registros isolados para o Esta-do Esta-do Pará (Cunha & Nascimento 1982, Zamprogno 1997, Argôlo 2001). Sua ocorrência no Rio Grande do Sul está baseada em um exemplar coletado no municí-pio de Osório, nas proximidades da Lagoa dos Quadros (Lema 1973).

Figura ??? Situação Populacional

É uma espécie rara (Lema 1973, Amaral 1978). Foi considerada provavelmente ameaçada na lista da fauna em extinção do Estado de São Paulo (São Paulo 1998) e ameaçada no Paraná, dado seu caráter estenóico (grande dependência de um hábitat particular) (Morato et al. 1995a). Embora não existam informações sobre o status da espécie no Rio Grande do Sul, acredita-se que a intensa destruição das áreas florestadas que ha-bita tenha causado um declínio populacional consi-derável.

Ameaças

A principal ameaça é a destruição e descaracterização dos remanescentes da floresta atlântica, ecossistema do qual é exclusiva no Rio Grande do Sul. As florestas atlânticas de planície do Estado, em particular, já se encontram quase completamente descaracterizadas e as unidades de conservação que as protegem são peque-nas.

Ações Recomendadas

Proteger efetivamente os remanescentes de floresta atlântica do litoral norte do Estado.

Implementar o P. E. de Itapeva, em Torres (atualmen-te em processo de criação pela SEMA), e garantir a preservação dos remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/ Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma unidade de conservação.

Implementar uma campanha de conscientização junto a proprietários rurais, alertando sobre a importância da preservação e ampliação das áreas florestadas para a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas do nordeste do Estado.

Biologia

Possui características morfológicas próprias das serpen-tes de hábito arborícola, como o corpo extremamente delgado e a cauda proporcionalmente longa. Segundo Amaral (1978), atinge cerca de 120 cm de comprimen-to comprimen-total. Apresenta atividade diurna e se alimenta de anfíbios anuros (Marques 1998, 2000) e lagartos (Amaral 1978). É ovípara. Morato & Bérnils (1989) registraram uma desova constituída por três ovos, e Marques (1998), uma fêmea contendo seis ovos nos ovidutos.

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(15)

Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Distribuição Geográfica

Ocorre no sudeste e sul do Brasil, mais especificamente no sudoeste de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e em Misiones, na Argentina (Campbell & Lamar 1989, Giraudo 2001). No Rio Grande do Sul, está restrita ao Planalto das Araucárias. Em unidades de conservação, são conhecidos registros para o P. E. de Espigão Alto, P. N. de Aparados da Serra e FLONA de Passo Fundo.

ecossistema, na Argentina. Poucos aspectos de sua histó-ria natural são conhecidos e as informações existentes resultam de observações ocasionais. Segundo Amaral (1978) e Morato et al. (1995a), alimenta-se de pequenos roedores e marsupiais. É vivípara, com ninhadas variando entre 4 e 12 filhotes.

Situação Populacional

Aparentemente, apresenta densidade populacional natu-ralmente baixa. Essa espécie sofreu uma brusca redução populacional no passado, visto que a área da floresta com araucária, único ecossistema que habita, encontra-se hoje reduzida a pequena percentagem de sua cobertura origi-nal, tendo sofrido redução de mais de 80% no último sé-culo (Hilton-Taylor 2000). No Rio Grande do Sul, a flores-ta com araucária cobre hoje menos de 4% da área origi-nalmente ocupada (Capobianco 2001). No Paraná, as po-pulações da cotiara estão em declínio devido às alterações que as florestas com araucária vêm sofrendo. Esta constatação resultou na inclusão da espécie na Lista Ver-melha de Animais Ameaçados de Extinção no Estado do Paraná (Morato et al. 1995a). A espécie também foi inclu-ída na lista da fauna ameaçada de extinção do Estado de São Paulo (São Paulo 1998), na categoria Em Perigo. Giraudo (2001) considerou a cotiara uma das serpentes mais ameaçadas da Argentina.

Ameaças

A principal ameaça para a espécie, em toda a sua área de ocorrência, é a destruição e descaracterização das flores-tas com araucária.

Ações Recomendadas

Proteger de forma efetiva os remanescentes de floresta com araucária do Estado.

Divulgar informações sobre a cotiara e seu hábitat em programas de conscientização e educação ambiental direcionados a proprietários rurais, proporcionando-lhes o correto reconhecimento da espécie e o entendimento de sua precária situação populacional no Rio Grande do Sul.

Biologia

É uma serpente terrícola, peçonhenta, cujo comportamento defensivo inclui botes e injeção de peçonha. Assim como as demais espécies do gênero Bothrops, apresenta veneno de ação proteolítica, coagulante e hemorrágica, podendo causar acidentes fatais ou mutiladores quando não corre-tamente tratados. Para acidentes botrópicos, o prognósti-co geralmente é bom e a letalidade nos casos tratados é baixa (0,3%) (Fundação Nacional de Saúde 1999). Os in-divíduos dessa espécie medem usualmente entre 70 e 80 cm, podendo atingir cerca de um metro de comprimento total (Campbell & Lamar 1989). Habita as florestas com araucária (Campbell & Lamar 1989, Morato et al. 1995a) e, segundo Giraudo (2001), também áreas limítrofes desse

Bothrops cotiara (Gomes, 1913)

Nome vulgar: Cotiara

Ordem: Squamata

Família: Viperidae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A1 B2 C3 D2 E+) Figura ???

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(16)

Répteis

Distribuição Geográfica

Ocorre no centro-sul do Brasil, leste do Paraguai, sudeste da Bolívia e nordeste da Argentina. No Brasil, ocorre do extremo sul da Bahia, Mato Grosso do Sul, sul de Minas Gerais e Espírito Santo para o sul, até o noroeste do Rio Grande do Sul (Campbell & Lamar 1989). No Estado, a es-pécie foi registrada no P. E. do Turvo, localizado no muni-cípio de Derrubadas (Lema & Araujo 1980, Lema 1994).

senta veneno de ação proteolítica, coagulante e hemorrágica, podendo causar acidentes fatais ou mutiladores quando não corretamente tratados. Para aci-dentes botrópicos, o prognóstico geralmente é bom e a letalidade nos casos tratados é baixa (0,3%) (Fundação Nacional de Saúde 1999). Entretanto, a jararacuçu tem uma quantidade excepcionalmente grande de veneno (Campbell & Lamar, 1989), o que pode resultar em aci-dentes graves. Habita exclusivamente os ecossistemas flo-resta atlântica, floflo-resta estacional e floflo-resta com araucária, geralmente próximo a corpos d’água (Amaral 1978, Campbell & Lamar 1989). Na Argentina, o limite de dis-tribuição da espécie coincide com o limite das selvas con-tínuas, embora espécimes sejam ocasionalmente encon-trados em áreas de capoeiras, próximas daquelas (Giraudo 2001). No Rio Grande do Sul, as informações sobre a bio-logia da jararacuçu são escassas e resultam de observa-ções ocasionais. Na floresta atlântica de São Paulo, Mar-ques (1998) registrou uso exclusivo do solo da mata como substrato de atividade, modo reprodutivo vivíparo, com número de embriões variando de 13 a 37, e dieta compos-ta por anfíbios, lagartos e mamíferos (marsupiais e roedo-res). Indivíduos juvenis possuem a ponta da cauda com coloração amarelada ou marrom-clara, a qual é movi-mentada e usada como isca para atrair presas ectotérmicas (de “sangue frio”) comedoras de insetos, como anfíbios anuros (Sazima 1991). À medida que os indivíduos cres-cem, a ponta da cauda vai escurecendo, adquirindo colo-ração semelhante à do restante do corpo. A mudança ontogenética (de acordo com a idade) na coloração da cauda de serpentes é geralmente associada a uma varia-ção ontogenética na dieta (Greene & Campbell 1972, Heatwole & Davison 1976).

Biologia

É uma espécie terrícola de grande porte, que atinge até 220 cm de comprimento total (Campbell & Lamar 1989). É a maior serpente peçonhenta do Rio Grande do Sul e uma das maiores de toda a região neotropical. Seu com-portamento defensivo inclui botes e injeção de peçonha. Assim como as demais serpentes do gênero Bothrops, apre-Lema (1994) afirmou que a cotiara ainda parece ser bastante freqüente no noroeste do Rio Grande do Sul, referindo-se especificamente ao P. E. do Turvo (T. Lema, verb.; ver tam-bém Lema 1994). Não há exemplares daquela região deposi-tados em coleções e a espécie não foi detectada em inventá-rios recentes da fauna de répteis daquele parque (MBM). O

carece de documentação: o autor fez referência a um exem-plar visto no serpentário do Instituto Butantan, de São Pau-lo, que seria proveniente daquela região.

Colaboradores

Markus Monzel, Noeli Zanella e Thales de Lema.

Bothrops jararacussu (Lacerda, 1884)

Nome vulgar: Jararacuçu

Ordem: Squamata

Família: Viperidae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Em Perigo (A3 B3 C3 D1 E+) Figura ???

EN

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(17)

Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Não existem informações precisas sobre a situação populacional da jararacuçu no Rio Grande do Sul, mas a espécie parece ser relativamente abundante no P. E. do Turvo, como constatado em inventários recentes (MBM) e através de depoimentos de pesquisadores e funcionários que trabalham naquela unidade de conservação. Paradoxalmente, o P. E. do Turvo parece ser o único local onde a espécie é encontrada no Estado. Provavel-mente a jararacuçu possuía distribuição mais ampla no passa-do, supondo-se que a intensa destruição da floresta estacional no noroeste do Rio Grande do Sul tenha ocasionado grande declínio de sua população original.

Ameaças

A principal ameaça para a jararacuçu no Rio Grande do Sul é a substituição da floresta estacional por áreas de

remanescente desse ecossistema no Rio Grande do Sul, onde parece estar confinada a única população conhecida da espécie no Estado.

Ações Recomendadas

Localizar populações residuais da espécie fora da área do P. E. do Turvo.

Proteger efetivamente os últimos remanescentes de flo-resta estacional do noroeste do Estado.

Implementar programas de educação ambiental no no-roeste do Estado, com o objetivo de conscientizar a po-pulação rural sobre a importância das regiões florestadas para a sobrevivência da jararacuçu. Esta medida tam-bém pode contribuir para a ampliação de sua hoje res-trita área de ocorrência no Rio Grande do Sul.

Distribuição Geográfica

Ocorre no extremo sul do Brasil (sul do Rio Grande do Sul), centro e sul do Uruguai e em Punta Lara, na Provín-cia de Buenos Aires, Argentina (Etheridge & Williams 1991, Langone et al. 2000, Achaval-Elena 2001). No Rio Grande do Sul, há registros precisos apenas para São Lourenço do Sul, localidade-tipo da espécie (11 indivíduos coletados, segundo Etheridge & Williams 1991). Para outros 20 exem-plares procedentes do Estado, as localidades de coleta são desconhecidas (Etheridge & Williams 1991).

Biologia

É uma espécie de pequeno porte, que atinge cerca de 30 cm de comprimento total; a cauda é longa, correspondendo a cerca de 70% do comprimento dos indivíduos (Etheridge & Williams 1991). Pouco se conhece sobre sua biologia. Gallardo (1980) afirmou que possui hábito arborícola, subindo nos troncos de árvores na mata, mas Etheridge & Williams (1991) ponderaram que estas observações po-dem ter sido baseadas em outra espécie do mesmo gênero, A. grilli. Rand (1982) e Langone et al. (2000) menciona-ram que o papa-vento-do-sul é ovíparo e citamenciona-ram o regis-tro de fêmeas contendo quaregis-tro e sete ovos, com volume de 0,5 ml cada. Segundo Achaval & Olmos (1997), ali-menta-se de artrópodos e vive sobre árvores e arbustos, a

Anisolepis undulatus (Wiegmann, 1834)

Nome vulgar: Papa-vento-do-sul

Ordem: Squamata Família: Polychrotidae

Situação Mundial: Vulnerável

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Em Perigo (A3 B3 C2 D3 E+) Figura ???

EN

dois ou mais metros de altura, podendo também se deslo-car pelo solo. É uma espécie de difícil visualização devido à sua coloração críptica (que se confunde com o meio). No Rio Grande do Sul, as populações de A. undulatus devem estar restritas às matas de galeria da região sul do Estado, nas proximidades da Lagoa dos Patos, e aos rema-nescentes florestais da Serra do Sudeste.

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Répteis

Distribuição Geográfica

Ocorre no leste do Brasil, desde Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, onde vive associado ao bioma Mata Atlântica (Etheridge & Williams 1991). No Rio Grande do Sul, foi registrado no Planalto Médio (Passo Fundo), nos Campos de Cima da Serra (São Francisco de Paula), na Encosta Inferior do Nordeste (Riozinho) e no leste da Depressão Central (Porto Alegre).

Biologia

É um lagarto de pequeno porte, que atinge cerca de 15 cm de comprimento total; a cauda é longa e corresponde a cerca de 60% do comprimento dos indivíduos (Etheridge & Williams 1991). Possui hábito subarborícola e se mo-vimenta lentamente, permanecendo imóvel por longos períodos (Rand 1982, Sazima & Haddad 1992). Apresen-ta atividade diurna e é ovíparo, com desovas consistin-do de seis a treze ovos (Rand 1982). Alimenta-se de ortópteros (grilos) e coleópteros (besouros) (Sazima & Haddad 1992). As táticas defensivas dessa espécie pro-vavelmente incluem a camuflagem, dada a coloração críptica dos indivíduos e o hábito que têm de permane-cerem imóveis quando alarmados (Sazima & Haddad 1992).

Situação Populacional

O papa-vento-de-barriga-lisa é raro no Rio Grande do Sul (Lema 1994), mas há registros ao longo de uma extensa área geográfica. Considerando que ocupa mente ambientes de floresta, é provável que tenha so-frido grande redução populacional, tendo em vista a É uma espécie rara e recentemente não tem sido encontrada

em algumas localidades onde foi registrada no passado, como Punta Lara, na Argentina (Gallardo 1977, Etheridge & Williams 1991). No Uruguai, Achaval & Olmos (1997) clas-sificaram a espécie como ameaçada em razão da destruição de seu hábitat. É provável que as populações do Estado também tenham sofrido uma considerável redução em con-seqüência da acentuada destruição do hábitat, particular-mente na região de São Lourenço do Sul.

Ameaças

No Rio Grande do Sul, a principal ameaça é a destruição e descaracterização dos hábitats florestais das regiões su-deste e sul, particularmente a sudoeste da Lagoa dos

Pa-provável, já que dela procedem todos os exemplares do RS com procedência conhecida (Etheridge & Williams 1991). Não há unidades de conservação federais ou esta-duais nessa parte do Estado.

Ações Recomendadas

Garantir a proteção dos remanescentes de floresta estacional e matas de galeria das regiões sudeste e sul do Estado, inclusive através da criação de unidades de con-servação em áreas ainda florestadas da Serra do Sudeste. Implementar programas de conservação e educação ambiental voltados à preservação e recuperação dos ecossistemas florestais do sudeste e sul do Rio Grande do Sul.

Urostrophus vautieri Duméril & Bibron, 1837

Nome vulgar: Papa-vento-de-barriga-lisa

Ordem: Squamata

Família: Polychrotidae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A0 B2 C2 D3 E+) Figura ???

VU

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Livro vermelho

da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul

Cnemidophorus vacariensis Feltrim & Lema, 2000

Nome vulgar: Lagartinho-pintado

Ordem: Squamata

Família: Teiidae

Situação Mundial: Não ameaçada

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A3 B1 C1 D2 E+)

Distribuição Geográfica

Foi registrado apenas na região dos Campos de Cima da Serra, nos municípios de Vacaria (Feltrim & Lema 2000) e Bom Jesus.

Figura ???

VU

ras da manhã e final da tarde (Feltrim & Lema 2000), indica que a espécie apresenta hábitos diurnos.

Situação Populacional

A espécie foi descrita recentemente e não existem informa-ções sobre sua situação populacional. Além dos dez exem-plares listados na descrição original, coletados em Vacaria (Feltrim & Lema 2000), três outros foram capturados poste-riormente em Bom Jesus. Os afloramentos rochosos especí-ficos onde os 13 exemplares conhecidos foram coletados são extremamente restritos, tendo poucas centenas de metros quadrados, e estão em meio a campos de criação de gado; no entanto, a espécie parece ser abundante nesses locais. Muitos exemplares avistados não foram coletados.

Ameaças

Aparentemente, a principal ameaça para esse lagarto no Rio Grande do Sul é a utilização dos campos onde a espé-cie ocorre para a atividade pecuária. Embora hoje algu-mas populações coexistam com o gado, o pisoteio prova-velmente representa um fator impactante ainda não ade-quadamente avaliado.

Ações Recomendadas

Avaliar o impacto da atividade pecuária sobre as popu-lações de C. vacariensis.

Realizar um levantamento detalhado das áreas de ocor-rência da espécie.

Criar unidades de conservação que incluam hábitats pro-pícios para a espécie; como o lagartinho-pintado ocor-re em afloramentos rochosos pouco extensos, áocor-reas pro-tegidas pequenas (como RPPNs) podem ser efetivas para a sua conservação.

Biologia

É uma espécie de lagarto de pequeno porte. Os dez espéci-mes coletados em Vacaria apresentam comprimento total em torno de 15 cm (Feltrim & Lema 2000). As únicas in-formações disponíveis sobre a biologia do lagartinho-pin-tado consistem de observações sobre o seu hábitat e ativi-dade, obtidas em coletas. A espécie é terrícola e vive em afloramentos rochosos situados em áreas de campo. O re-gistro de indivíduos ativos (termorregulando) entre 10 e15 h, e de indivíduos inativos (sob pedras) nas primeiras ho-restais do bioma Mata Atlântica.

Ameaças

A principal ameaça é a destruição e descaracterização dos ecossistemas florestais do bioma Mata Atlântica, hoje re-duzidos a apenas 3,8% de sua cobertura original no Esta-do (Capobianco 2001).

Proteger de forma efetiva os remanescentes dos ecossistemas floresta com araucária e floresta atlân-tica.

Implementar campanhas de educação ambiental junto à população rural, visando conscientizar sobre a im-portância das áreas florestais para a sobrevivência des-sa e de outras espécie ameaçadas de extinção.

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Répteis

Distribuição Geográfica

Ocorre na costa atlântica do sul do Brasil, nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Peters & Donoso-Barros 1970, Müller & Steineger 1977). No Estado, distri-bui-se ao longo de toda a zona costeira, desde Torres até o Chuí (Verrastro & Bujes 1998). Há exemplares proceden-tes das seguinproceden-tes unidades de conservação do Rio Grande do Sul: H. F. do Litoral Norte, P. N. da Lagoa do Peixe e E. E. do Taim.

A lagartixa-da-praia é uma espécie ovípara, com atividade reprodutiva ocorrendo nos meses de primavera e verão (se-tembro a março) (Verrastro & Krause 1994). As fêmeas de-positam até quatro ovos por desova (L. Verrastro, verb.).

Situação Populacional

É abundante nas costas arenosas do Rio Grande do Sul (Lema 1994, Bujes & Verrastro 1998, Verrastro & Bujes 1998; obs. pes.). No entanto, o rápido processo de urbani-zação do litoral norte do Rio Grande do Sul, associado à baixa plasticidade ecológica da espécie, tem ocasionado um acentuado declínio em suas populações. Atualmente, a lagartixa-da-praia não é mais encontrada em muitas localidades onde era abundante no passado recente. Por exemplo, há cerca de 20 anos, indivíduos dessa espécie eram freqüentemente avistados nas dunas frontais à praia de Imbé e no solo arenoso contíguo aos molhes do rio Tramandaí. Não há registros recentes da lagartixa-da-praia nesses locais. No Rio de Janeiro, uma espécie semelhante, Liolaemus lutzae, cujos hábitats e modo de vida são simi-lares aos de L. occipitalis, também está ameaçada de extinção em virtude da ocupação humana e descaracterização dos ambientes de duna, tendo sido ex-tinta em algumas praias; naquele Estado, L. lutzae é siderada uma importante espécie bioindicadora das con-dições dos hábitats de dunas (Rocha 1992).

Ameaças

A principal ameaça à espécie no Rio Grande do Sul é a destruição e descaracterização das dunas costeiras, em de-corrência do processo de urbanização da região litorânea do Estado. Embora o litoral sul do Rio Grande do Sul seja ainda relativamente pouco impactado, abrigando grandes populações da espécie, o panorama no litoral norte é o oposto: grande parte das populações foram reduzidas ou até mesmo desapareceram. A única unidade de conserva-ção existente (H. F. do Litoral Norte) tem área irrisória e é pouco efetiva para a manutenção da população local, além de sofrer forte impacto dos núcleos humanos adjacentes.

Biologia

É um lagarto de pequeno porte, que atinge cerca de 12 cm de comprimento total. O comprimento rostro-cloacal mé-dio é de 6,2 cm para machos e 5,3 cm para fêmeas (Verrastro & Bujes 1998). Possui hábito terrícola e ocorre exclusiva-mente em ambientes arenosos, apresentando coloração críptica em relação à areia. Pode enterrar-se superficial-mente no solo arenoso ou escavar tocas de 20 a 30 cm de profundidade (Bujes & Verrastro 1998, Verrastro & Bujes 1998). Sua atividade é exclusivamente diurna e determina-da pela temperatura do substrato (Verrastro & Bujes 1998). A dieta é basicamente insetívora (Verrastro & Krause 1999).

Liolaemus occipitalis Boulenger, 1885

Nome vulgar: Lagartixa-da-praia

Ordem: Squamata

Família: Tropiduridae

Situação Mundial: Vulnerável

Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada – Vulnerável (A2 B1 C3 D0 E1) Figura ???

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Referências

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