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ALEMANHA DE 1945 ATÉ OS DIAS DE HOJE

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ALEMANHA

DE 1945 ATÉ OS DIAS

DE HOJE

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Apresentação

Este é um trabalho de pesquisa realizado por Rodrigo de Jesus Marinho Monteiro, aluno do Curso de Letras - Português / Alemão da UFRJ, orientado pela Professora Dr. ª Izabela Maria Furtado Kestler do Dept.º de Letras Anglo-Germanicas da UFRJ.

O objetivo deste material é apresentar os acontecimentos que

marcaram e marcam a Alemanha após o ano de 1945 até os dias de

hoje, passando pelo fim de Segunda Guerra Mundial, a influência

soviética ao fim da Segunda Guerra, a divisão da Alemanha em

duas (Ocidental e Oriental), o processo de reunificação, até

chegarmos aos dias de hoje.

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Alemanha no pós Guerra

Tudo o que aconteceu na Alemanha após 1945 teve sua origem na Segunda Guerra Mundial e na forma como o conflito foi conduzido. O procedimento bárbaro de Hitler e seus seguidores provocou reações dos seus adversários que, inicialmente, eram caracterizadas pela revanche nas questões da reparação e pela destituição dos alemães do poder.

Principalmente as potências ocidentais viam na história alemã, desde Frederico, o Grande, até Hitler, uma linha contínua marcada pelo imperialismo violento. Com o objetivo de eliminar definitivamente essa forma de domínio, elas planejavam tutelar os alemães e transformar o pais num vácuo econômico e político.

É o que provam leis e decretos dessa época, publicadas no diário oficial do governo militar dos Aliados. Reuniões públicas e particulares, de cinco ou mais pessoas, por exemplo, eram proibidas. Podiam-se realizar cultos religiosos, mas tocar ou cantar o hino nacional ou outras canções patrióticas era vedado. Todos os cidadãos com mais de 12 anos de idade eram obrigados a portar sempre a carteira de identidade.

Apesar de todas as restrições, o cotidiano e a vida política entraram numa certa rotina, a partir de 1945. Pela chamada Declaração das Quatro Potências, de 5 de julho de 1945, o Conselho de Controle dos Aliados (formado pelos Estados Unidos, França, Inglaterra e União Soviética) decidiu criar zonas de ocupação na Alemanha e Áustria, ignorando as divisões político-administrativas internas anteriores.

Em regra, as novas fronteiras foram fixadas de acordo com as posições ocupadas pelos respectivos exércitos no fim da guerra. Na Alemanha, os

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Estados Unidos fizeram uma exceção: em julho de 1945, cederam a Turíngia aos soviéticos, o que significou um deslocamento da fronteira alemã.

A Conferência de Potsdam (17 de Julho a 2 de Agosto de 1945) confirmou a redução de quase 25% do território do antigo império alemão. Nesse encontro, em que Churchill, Truman e Stalin discutiram o futuro da Alemanha ocupada, foi decidido que o território alemão a leste dos rios Oder e Neisse passaria à administração da Polônia, e uma parte da Prússia Oriental ao controle soviético. Decidiram implementar também na Alemanha ocupada os seguintes planos: desmilitarização; desnazificação; democratização e descentralização do país, cujo território no entanto deveria continuar sendo considerado como “unidade econômica”; exigência do pagamento de reparações de guerra a serem debitadas da produção industrial alemã, desmontagens de fabricas e complexos industriais nas respectivas áreas de ocupação assim como confiscos das reservas monetárias alemãs no exterior. Conseqüentemente, o

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destino da Alemanha do pós-guerra passou a depender das relações entre as potências vencedoras.

A Alemanha foi dividida em quatro zonas de ocupação: os russos, no leste; os ingleses, no noroeste; os franceses, no sudoeste; os norte-americanos, no sul. Berlim, a ex-capital do Terceiro Reich, foi compartilhada entre as

quatro potencias.

O país estava passando por um quadro de destruição, desolação e caos administrativo, político e econômico que imperou na Alemanha como um todo após o fim do regime nazista e a derrota na II Guerra Mundial. Lembrando também que todas as grandes cidades alemãs (Frankfurt, Berlim, Colônia, Hamburg por exemplo) estavam 75% destruídas em conseqüência dos intensos bombardeios da forças aéreas aliadas, assim como as regiões industriais (Região do Ruhr por exemplo).

Nenhum dos países aliados iniciou a ocupação de forma tão bem elaborada quanto a União Soviética. Para isso, no entanto, era preciso definir claramente as fronteiras estaduais. A zona soviética instituiu uma nova divisão político -administrativa. Pouco tempo após o fim da guerra, a União Soviética criou novos estados alemães: Meclemburgo, Saxônia, Turíngia e Brandemburgo. Através de uma Ordem, chamada Ordem 17 da Administração militar Soviética, de 27 de julho de 1945, foram instituídas administrações centrais que serviram de base para o novo regime estatal antifascista. Seu primeiro objetivo era fundar o Partido Comunista da Alemanha (KPD), registrado a 10 de junho de 1945.

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“Na zona de ocupação soviética na Alemanha, é permitida a formação e atividade de todos os partidos antifascistas que tenham como objetivo a eliminação definitiva dos remanescentes do fascismo e o estabelecimento dos princípios da democracia, da liberdade e da participação política e o desenvolvimento da iniciativa própria da população nesse sentido”, dizia um decreto da Administração Militar Soviética.

Embora nas outras três zonas de ocupação os partidos políticos só fossem autorizados meses mais tarde, uma reorganização política da Alemanha parecia mais do que necessária. A estrutura administrativa estadual e municipal precisava ser urgentemente reformulada. Um outro fato importante que deve ser mencionado aqui é que com o declínio enorme da produção industrial, havia fome generalizada assim como falta de moradias e de emprego. Tais fatos eram agravados também com a vinda em massa de cerca de 12 milhões de refugiados das regiões leste e dos países do leste europeu, expatriados conforme diretiva da Conferencia de Potsdam.

Completando o panorama de ruína quase total, nestes primeiros anos de ocupação com a libertação dos campos de concentração e das prisões, os alemães viram-se confrontados finalmente com os horrores praticados pelo regime nazista: a política de extermínio dos judeus, os crimes de guerra nos países ocupados pelas tropas alemãs durante a II Guerra e o aprisionamento e assassinato de inimigos políticos do regime nazista. A partir da exposição destes horrores, “o mundo exterior passou a ver os alemães como a personificação do mal”. A ruína do país como um todo veio assim acompanhada da ruína moral.

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Desde o inicio da ocupação em 1945, começam a se delinear as divergências políticas e sobretudo de política econômica entre EUA, França e Inglaterra de um lado e a União Soviética de outro. Enquanto que os EUA e seus pares perseguiam uma política de inclusão da Alemanha no contexto capitalista ocidental, no intuito de transformar a Alemanha em contrapeso na Europa Central à expansão soviética na Europa oriental, a União Soviética pretendia que a Alemanha se tornasse um país neutro, uma espécie de estado tampão, entre sua zona de influência na Europa oriental e os países europeus ocidentais.

Um passo decisivo para a separação em duas Alemanhas deu-se em abril de 1946, com a unificação compulsória do Partido Comunista e do Partido Social Democrata, na zona de ocupação soviética, para formar o Partido Socialista Unificado da Alemanha e, simultaneamente, a reunião de todos os outros partidos num bloco partidário de orientação comunista. No lado ocidental também houve mudanças, como, por exemplo, a demarcação das fronteiras com a Polônia passou a ser considerada provisória, e a presença dos aliados ocidentais na Alemanha passava a ser encarada menos como ocupação e mais como uma proteção contra o comunismo. Após os franceses se convencerem das vantagens de uma cooperação mais estreita, surge então uma área econômica ocidental unificada na “trizona”.

Com a introdução do marco alemão na “trizona”, Josef Stalin, aproveitou para fazer um bloqueio a Berlim Ocidental, na busca de sua incorporação na zona de ocupação soviética. Visto que este desejo soviético não foi realizado, os soviéticos interditaram todas as conexões por terra entre as zonas ocidentais a Berlim Ocidental, paralisando também o abastecimento da cidade com energia elétrica e gêneros alimentícios a partir das zonas de ocupação circundantes.

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Os países aliados responderam com uma ponte aérea que abasteceu a população de Berlim ocidental até maio de 1949, milhares de vôos com toneladas de alimentos, medicamentos, combustível e materiais de construção, garantindo assim a sobrevivência da cidade.

Ainda em 1948 as potências ocidentais recomendam na Conferência de Londres a cooperação conjunta das três potências ocidentais na Alemanha, a implantação de um regime político federativo e a participação da Alemanha no Plano Marshall de recuperação econômica e de reconstrução da Europa ocidental. No dia 8 de maio de 1949 entra em vigor a nova constituição alemã ocidental de caráter parlamentarista. Em agosto do mesmo ano ocorrem as eleições gerais para a primeira legislatura do pós-guerra. Com a vitória do partido Cristão-democrata, seu candidato a primeiro-ministro, Konrad Adenauer, assume o governo do novo país, República Federal da Alemanha. Tanto Adenauer quanto o primeiro presidente da Alemanha , Theodor Heuss (FDP), o pai do “milagre econômico”, Ludwig Erhart (CDU), os grandes lideres da oposição (SPD) Kurt Schumacher e Erich Ollenhauer, bem como o cosmopolita Carlo Schmid, conferiram ao novo sistema partidário da Alemanha Ocidental um perfil inconfundível e criaram uma nova confiança no Estado alemão.

Política

A singular estrutura política da atual República Federal da Alemanha tem origem na Lei Fundamental de Bonn, promulgada em 1949 por um conselho parlamentar constituído por 65 representantes dos Estados. Nela se estabeleceu a divisão do território em 10 estados autônomos, cada um dos quais regido por leis ditadas por seu próprio Parlamento regional. Em 1990, os 15 distritos da RDA foram redefinidos como cinco novos Estados integrados à

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RFA. Berlim tornou-se também um Estado autônomo que reúne os antigos setores ocidental e oriental da cidade.

Milagre Econômico Alemão

Para falarmos do milagre Econômico Alemão, é necessário começar citando a reforma monetária que entrou em vigor no ano de 1948 na Alemanha destruída devido a Segunda Guerra.

Na sexta-feira, 18 de junho de 1948, os alemães ouviram no rádio sobre a primeira lei da reforma do sistema financeiro alemão, anunciada pelos governos militares da Grã-Bretanha, Estados Unidos e França, para entrar em vigor em 20 de junho. A moeda alemã válida será tirada de circulação por essa lei. O novo dinheiro se chama marco alemão. No dia 20 de junho foi distribuído o novo dinheiro nos guichês onde as pessoas pegavam suas senhas para adquirir alimentos. Cada alemão, tinha direito a retirar 40 marcos e no mês seguinte mais 20, com isso todos os alemães eram igualmente ricos ou pobres naquele domingo. Porém, os alemães custaram a acreditar no que aconteceu na segunda-feira e dias posteriores, pois as lojas se encheram de mercadorias. Podia-se comprar de tudo. Uma das explicações para isso, foi o fato de as empresas terem produzido bastante para o “dia D”, mas retiveram suas mercadorias, a fim de não receber a velha moeda sem valor algum e sim a nova.

O milagre econômico gerado pela reforma monetária, não se deveu só as potencias aliadas de ocupação, mas também a Ludwig Erhard. Como diretor de economia da zona dupla norte-americana e britânica, esse alemão declarou a invalidez da senha de racionamento simultaneamente à reforma monetária. Erhard apostava nas forças do livre mercado. Em meio à escassez, os preços deveriam estimular a produção para garantir o abastecimento das mercadorias.

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Os críticos previam o fracasso da política de Erhard, que mais tarde foi ministro da Economia e tornou-se o segundo chanceler federal alemão do pós-guerra. Sua estratégia funcionou, a economia alemã cresceu de 10% a 12% por trimestre, com taxas moderadas de inflação e produção crescente. Isso dava margem para aumento dos salários e novo poder aquisitivo.

No final dos anos 60, já havia emprego pleno na Alemanha. O comercio exterior crescia, pois o marco alemão, altamente desvalorizado nos primeiros anos, permitia a colocação dos produtos alemães a preços baixos no mercado mundial. Com isso surgiu uma forte indústria de exportação e com ela, o marco se valorizou e tornou-se uma das reservas monetárias mais cobiçadas do mundo e uma âncora de estabilidade na Europa .

Surge a República Democrática Alemã

Com a constituição do SED e o desmantelamento do SPD dá-se o primeiro passo rumo à consolidação da presença soviética na Alemanha. A progressiva deterioração das relações entre as potências ocidentais e a União Soviética, potencializada pela adoção da política do “containment” por parte de Truman e pelo plano Marshall, tende a afastar também a hipótese da unidade alemã. Com isso, a necessidade de reforçar ainda mais a hegemonia comunista na região, onde, mesmo obrigados a aderir ao bloco patrocinado pelos soviéticos, os chamados “partidos burgueses” ainda resistem com sucesso..

Através da chamada Ordem 17 da Administração Militar Soviética, de 27 de julho de 1945, foram instituídas administrações centrais que serviram de base para um novo regime antifascista. Enquanto na Alemanha Ocidental era implantado o modelo da economia social de mercado, na zona de ocupação soviética se processava a socialização da industria. No dia 10 de outubro de

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1949 é fundada a República Democrática Alemã na área de ocupação soviética, governada a partir daí pelo partido socialista unificado da Alemanha (SED – Sozialistische Einheintspartei Deutschlandas) sem que no entanto eleições gerais fossem realizadas para ratificar a escolha deste partido pela população. No papel, o novo Estado não é explicitamente socialista. A sua Constituição ecoa em não poucos pontos aquela constituição democrático – burguesa de Weimar; de fato, para Stalin continua sendo importante a exigência de apresentar este Estado como potencial núcleo de uma futura Alemanha unida, opção a qual ele não renunciou de todo.

As Alemanhas tornam-se a partir de 1949 o palco privilegiado do jogo maniqueísta da Guerra Fria. Neste jogo incluem-se a construção do muro de Berlim e o conseqüente fechamento das fronteiras entre os dois países, a instalação de mísseis nucleares de curto alcance pelas potências EUA e União Soviética respectivamente na Alemanha Ocidental e na Alemanha Oriental.

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É necessário salientar também que a Alemanha Oriental só existiu devido à Guerra Fria, pois antes mesmo de acabar a Segunda Guerra Mundial os aliados já traçavam planos de repartição de zonas que seriam ocupadas quando Berlim caísse. Com isso, a Guerra Fria já havia começado com os bombardeios dos soviéticos e aliados nas áreas alemãs que seriam controladas pelos adversários, que até então eram aliados na luta contra o nazismo.

Madrugada do dia 13 de Agosto de 1961 surge O Muro de Berlim.

Überraschend! Surpreendente, esta deve ter sido a palavra mais citada pela

maioria dos alemães na construção do Muro de Berlim. De modo repentino, da noite para o dia, os alemães perdiam o seu direito de ir e vir e mais, deixavam de ser alemães apenas e se tornavam ocidentais e orientais. Berlim via seus bairros serem divididos ao meio, enquanto vizinhos, parentes e amigos não mais se veriam por vinte e oito longos anos.

Diferenças econômicas

A divisão da Alemanha, ocorrida ao fim da Segunda Guerra Mundial, tornou necessária a reestruturação da atividade econômica nos dois Estados. A Alemanha ocidental realizou um esforço exemplar para a reconstrução, de forma que, na segunda metade do século XX, o país se situava entre as primeiras potências econômicas do mundo. O chamado “Milagre Alemão”, que criou um padrão de desenvolvimento sustentado que se manteve, com algumas flutuações, até a primeira valorização da moeda, o marco alemão (Deutsche Mark), ocorrida em 1961, um novo período de crescimento

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terminou em 1973-1975, quando se produziu uma recessão internacional devido à alta no preço do petróleo. Na década de 80, e mesmo depois da reunificação, a economia da região ocidental do país continuou a ser uma das mais vigorosas do mundo.

Já a Alemanha Oriental sofreu maiores danos econômicos em conseqüência da guerra e da ocupação soviética, ao que se somou a interrupção dos vínculos industriais e comerciais que essa zona do país havia tradicionalmente mantido com as regiões da Alemanha Ocidental. Porém, a partir de 1954, quando a URSS permitiu a suspensão do pagamento das indenizações da guerra e cedeu ao governo as empresas criadas após o conflito, a economia alemã oriental cresceu com grande ímpeto e o país se tornou um dos mais industrializados do mundo. No entanto o sistema de planificação centralizada se mostrou ineficaz para sustentar o crescimento econômico e no fim da década de 80a economia alemã oriental manifestou uma profunda crise, como aconteceu com outros países do bloco socialista.

Enquanto o lado ocidental florescia, principalmente com a ajuda do Plano Marshall de recuperação de países europeus, o lado oriental mudava radicalmente de planos com uma economia estratificada e orientada pelos russos.

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Revolução política

A Alemanha Oriental tinha uma economia nacionalizada e um sistema de planejamento da produção, o essencial de uma economia socialista. Mas a semelhança acabava aqui. Uma economia genuinamente socialista requer uma democracia dos trabalhadores que controle e faça a gestão do planejamento da produção da mesma forma que um organismo humano saudável requer oxigênio para funcionar.

Mas a Alemanha, assim como o resto do Bloco do Leste, uma pequena burocracia, afastada da classe trabalhadora, arbitrária nas suas decisões e ditatorial em todos os aspectos, executava o seu plano para manter os seus próprios privilégios.

Esta contradição entre uma forma socialista de propriedade e uma elite burocrática iria, dentro de 40 anos, conduzir à estagnação e ao colapso do stalinismo.

O ódio a esses burocratas levou os trabalhadores que construíam uma esquadra da policia próxima ao local de construção do hospital Friedrischshain, e aos trabalhadores do local de construção de Stalinallee a seguirem seu exemplo. Na manhã seguinte os trabalhadores de Friedrischshain e da Stalinallee percorriam outros locais de construção da cidade chamando outros trabalhadores. Rapidamente os manifestantes chegaram a 10.000. Os seus líderes levavam uma faixa pintada a mão dizendo “Abaixo o aumento de 10% das normas!”. Trabalhadores das fábricas, empregados de escritórios, mesmo funcionários dos escalões mais baixos da burocracia juntaram-se aos manifestantes gritando em coro: “Somos trabalhadores, não somos escravos! Fim a normas exorbitantes! Queremos eleições livres, não somos escravos!”

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A manifestação tomou uma forma política. O ditador da União Soviética, Josef Stalin, tinha morrido há apenas três meses. A sua morte foi o sinal para a eclosão da revolta latente contra as burocracias do Leste Europeu.

Esse mesmo mês, um pouco antes, as tropas tinham sido enviadas para dispersar uma manifestação em Pìlsen, na Tchecoslováquia. Agora, menos de uma semana depois, uma revolta operária estava a desenvolver-se em Berlim Oriental.

O Secretário do Partido Comunista (SED) em Berlim, Heinz Brant, explicava: Os trabalhadores da construção civil lançaram uma fagulha para as massas. A fagulha irrompeu em chamas. Os trabalhadores exigiram conversações com os dirigentes do governo Pieck e Grotewohl. Um trabalhador apelou à greve geral se o governo não aparecesse em meia hora. Não apareceu e os trabalhadores saíram em manifestação para ampliar a greve.

Carros de som foram enviados para apelar aos trabalhadores para que voltassem ao trabalho, mas a multidão os ocupou para chamar à greve geral em Berlim no dia seguinte.

No dia 17 de junho a greve tinha se espalhado pela maioria das cidades industriais da Alemanha Oriental, envolvendo 300.000 trabalhadores. Realizaram-se plenárias em fábricas de Berlim, levando a detalhadas discussões sobre os crimes do regime do SED. Foram formados também comitês de trabalhadores e apelos a novas manifestações.

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As imagens da luta desigual de 17 de junho de 1953 correram o mundo: manifestantes corajosos, armados só com pedras, tentam deter os tanques soviéticos que avançam sobre Berlim.

A ação dos manifestantes foi vã: graças às armas, as tropas soviéticas e os integrantes da Polícia Popular (Volkspolizei) da República Democrática Alemã conseguiram manter a situação sob controle. A rebelião que levara às ruas em todo o país mais de um milhão de manifestantes contra o regime do Partido Socialista Unificado (SED), desmoronou. A liderança do partido, embora afetada, conseguiu sobreviver graças ao apoio dos soviéticos. Amargo balanço: 50 mortos e centenas de feridos.

Em Berlim Oriental, o centro das turbulências, a situação escalou. Os governantes da RDA perderam o controle da situação, solicitando auxílio dos soldados soviéticos estacionados no país. Durante muito tempo, não se soube ao certo qual foi o papel do governo na repressão da revolta.

Documentos que se tornaram acessíveis recentemente esclarecem que Otto Grotewohl (Primeiro Ministro da RDA) e Walter Ulbricht (Secretário Geral do SED) pediram expressamente aos soviéticos na madrugada de 17 de junho, o

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envio de tropas à capital. No dia 17, militares soviéticos avançaram com tanques contra os manifestantes desarmados. Em alguns pontos da cidade (Friedrichstrasse e Postdamer Platz), chegaram a atirar contra os trabalhadores, saindo os mesmos correndo em pânico.

Nos dias subseqüentes, cerca de 10.000 manifestantes e membros do comitê de greve foram presos. Pelo menos dois condenados à morte foram executados. Mais de 1.600 participantes cumpriram em parte longas penas na prisão. Walter Ulbricht (foto ao lado), que não era visto com bons olhos pelo Politburo e pela liderança soviética, conseguiu consolidar seu poder. Porém é necessário frisar, que esta manifestação não era pela reunificação alemã, e sim, luta pelos direitos que foram tirados dos trabalhadores.

Facção Exército Vermelho

A facção Exército Vermelho (Rote Armee Fraktion) ou simplesmente RAF, foi criada na Alemanha Ocidental. A organização de esquerda mais ativa e mais proeminente do terrorismo; descreveu-se como um grupo de “guerrilha urbano”. O RAF foi ativo dos anos de 1970 até 1998 causando uma grande apreensão na população. No outono de 1977 lideraram uma crise nacional, que ficou conhecida como: “O Outono Alemão”. Esse evento foi responsável pela morte de 34 pessoas, incluindo muitos alvos secundários e muitos outros ataques em aproximadamente 30 anos de existência. Esse grupo foi associado com outras organizações terroristas alemãs, como a J2M e o SPK e nos anos 80, o grupo manteve contatos com outros grupos terroristas como: a Brigada Vermelha (Itália), CCC (Bélgica), PFLP (Palestina) e o francês “Ação direta” assim como o IRA e o PLO.

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As origens do grupo podem ser traçadas, por protestos calmos de estudantes no fim dos anos 60. Mas os protesto pacíficos se transformaram em motins, em 2 de Junho de 1967 quando Mohammed Reza Pahlavi, o Shah da Pérsia visitou a Alemanha Ocidental, foi alvo de protesto dos estudantes contra o exílio de persas para a Alemanha. Quando visitava a Ópera de Berlim, uma multidão de estudantes protestavam e durante uma das apresentações, um estudante Benno Ohnesorg que apresentava seu protesto, foi atingido de maneira fatal por policiais alemães.

A morte de Ohnesorg serviu de impulso para a criação de um novo movimento de esquerda na Alemanha Ocidental, sendo criado o grupo anarquista 2 de Junho, lembrando a data da morte de Ohnesorg.

No dia 2 de Abril do ano de 1968, lideres do grupo foram presos por atearem fogo em prédios do governo alemão.

Alguns lideres da R.A.F. foram presos, separados em solitárias e autorizados a receber visitas de seus parentes a cada duas semanas. Quando um dos presos (Gudrun Ensslin) teve a ideia de usar nomes falsos entre eles, foi possivel novamente se comunicar entre si através de cartas enviadas por seus advogados de defesa.

Para protestar contra o tratamento que vinham sofrendo, organizaram diversas greves de fome, algumas vezes eram alimentados a força. Holger Meins morreu em 9 de Novembro de 1974. Depois de um protesto público, as condições foram um pouco melhoradas pelas autoridades.

Em fevereiro de 1975, Peter Lorenz, candidato a prefeito de Berlim foi sequestrado por um grupo simpatizante do Movimento 2 de Junho, para forçar a libertação dos presos e que também não fossem à julgamento por assassinato, sendo então atendidos e com isso Lorenz foi libertado.

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No dia 24 de abril de 1975, a embaixada Alemã em Estocolmo foi ocupada por membros da R.A.F. e 2 reféns forma assassinados, pois o governo não aceitou as condições impostas. No mês seguinte, alguns lideres do grupo foram transferidos para uma prisão em Stuttgart. Um ano depois um deles foi encontrado morto enforcado dentro da cela, o que acabou sendo considerado um suicidio.

No período dos anos 80 e 90 houve vários ataques orquestrados pelo grupo, como o carro-bomba que matou um executivo da Siemens (Karl-Heinz Beckurts) e o atentado contra o Ministro de Relações Exteriores alemão Gerold von Braunmühl.

A Queda do Muro “Wir sind das Wolk!”

Os meses que antecederam à queda do Muro de Berlim foram de manifestações em massa, que se espalharam pelas cidades da Alemanha Oriental, entre elas: Leipzig, Berlim Oriental, Dresden.

Cansadas do regime que governava a RDA, as pessoas pediam reforma no governo, eleições livres, liberdade de ir e vir assegurada e de forma indireta a queda do muro.

Otto Reinhold, ideólogo do SED, Partido Comunista da Alemanha Oriental, tornara-se porta-voz dessa antiga sabedoria; para ele, a única base de legitimidade da RDA consistia em seu caráter socialista. Reinhold alertava contra a introdução de fragmentos de capitalismo e de democracia, a partir das quais surgiria a crise final do país. Ajudando a esta previsão, Berlim Ocidental, a vitrine do Ocidente, e a mídia alemã ocidental, a que os alemães orientais tinham acesso apesar da proibição, eram um constante convite a deixar o país de falta de opções e liberdade, da impossibilidade de viajar

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livremente para o exterior. E pressionada um período de tempo longo demais, a panela destampar-se-ia assim que surgisse uma pequenina brecha.. De fato, diferentemente dos demais satélites de Moscou, a RDA não era um Estado Nacional, mas uma porção do Reich recortado de uma maneira bastante casual no coração do continente. Um monstro criado pela Guerra Fria e destinado a desaparecer com ela.

A oposição, inicialmente sem partido algum, se uniu sob a proteção da Igreja Protestante, mas devido à espionagem onipresente do Stasi, o Serviço de Segurança do Estado, e dos mecanismos de controle do Estado, a oposição que se fermentava há anos no país só conseguiu se manifestar em 1989.

Além disso, os dissidentes mais ativos deixavam o país, muitas vezes com a permissão das autoridades. De 1984 a 1988, 104 mil puderam ir para o Ocidente, perdendo a nacionalidade da RDA. Em 1989, 161 mil pessoas solicitaram a expatriação. Porém, isso passou a não ser mais necessário, quando a Hungria decidiu abrir sua fronteira com a Áustria, em Maio, abrindo então uma brecha na Cortina de Ferro. No início, Budapeste não permitia a passagem de alemães orientais muitos deles refugiados na Embaixada da República Federal da Alemanha (RFA). As embaixadas da RFA em Praga e Varsóvia também estavam lotadas, bem como sua representação permanente em Berlim Oriental.

Em 11 de setembro, a fronteira húngaro-austriaca, foi totalmente aberta. Em 30 de setembro, o ministro do Exterior da RFA, Hans-Dietrich Genscher, anunciou a 6000 alemães orientais refugiados em Praga que eles poderiam ir para a Alemanha Ocidental. Ao todo, 344 mil pessoas deixaram a RDA em 1989, o que deixou o governo comunista desorientado.

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A queda do Muro ocorreu em 9 de Novembro de 1989, mas, mesmo com a queda ocorreram manifestações com mais de 300 mil pessoas (Leipzig) pedindo eleições livres.

Registros também relatam na história deste período as vozes no coro das manifestações: “Wir sind das Wolk!” (“Nós somos o povo!”). A essa altura o Muro não se sustentava em pé, mas no entanto, não se previa sua “queda”, pouco tempo depois. Também é necessário citar que poucos dias após o 9 de novembro de 1989, no dia 22 daquele mês, em outra manifestação em Leipzig, seria ouvida pela primeira vez a exigência de reunificação, e o lema que vinha do coro da multidão seria mudado para: “Wir sind ein Wolk!” (“Nós somos um só povo!”), não havendo unanimidade para este coro.

Aparentemente insensível ao movimento, a cúpula da RDA festejou com desfiles militares, em 7 de outubro o 40º aniversário da fundação do Estado Comunista (foto ao lado). Foi por ocasião dessas festividades que Gorbatchev pronunciou a célebre frase ao conversar com o chefe de Estado, Erich Honecker, que estava com 77 anos: “A vida castiga quem chega tarde”. Numa tentativa de salvar o que ainda era possível, Egon Krenz tido como sucessor de Honecker, encenou um golpe branco para o qual contou com a ajuda de Gorbatchev.

A Revolução Alemã não teria sido possível sem as transformações do cenário centro-europeu introduzidas por Gorbatchev num brilhante memorando redigido em 18 de abril de 1989 pelo professor Dasicev, um pesquisador do Instituto para Economia do Mundo Socialista e destinado à cúpula do Kremlin.

Com toda essa instabilidade, bastou um equivoco para dar fim ao regime alemão oriental. No dia 9 de novembro, o secretário de informação do Comitê Central, Günter Schabowski, anunciou à imprensa as novas diretrizes sobre

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viagens ao exterior. Essas diretrizes eliminavam qualquer condição prévia para concessão de vistos para deixar o país.

Estas medidas serviriam para melhorar a imagem do governo diante da população que a essa altura estava nas ruas protestando, porém Schabowski, não percebeu que estas medidas só deveriam ser divulgadas no dia seguinte, e quando perguntado por um jornalista sobre a data em que entraria em vigor aquelas novas normas, hesitou e pronunciou a frase que derrubaria o Muro: “Que eu saiba, ela pode entrar em vigor... agora, de imediato”, na verdade, ele queria dizer “amanhã cedo” quando as repartições abrissem, pois ainda era necessário solicitar o visto de saída. Porém os alemães orientais tomaram como senha as suas palavras para avançar em direção à fronteira.

Como o Conselho de Ministros ainda não havia aprovado as novas diretrizes, as tropas e os postos fronteiriços foram pegos de surpresa com a massa de gente que se aglomerou nos postos de Berlim Oriental. Porém, não houve um tiro sequer quando centenas de pessoas passaram para Berlim Ocidental, chegando os primeiros a receberem carimbo de “expatriado”, mas depois os soldados não tiveram outra alternativa a não ser abrir as fronteiras. Porém, até os soldados que guardavam as fronteiras, com seu semblante fechado diante daquela população, foram vistos também abrindo um pequeno sorriso com a felicidade da população durante aquele momento. Mas havia a necessidade de que a população retornasse até determinada hora para o lado oriental, mas isso já não era problema. Depois de anos de espera, a população aguardaria mais algumas horas e regressaria para o lado ocidental e lá, seriam muito bem recebidos, pois o governo da RFA autorizou que os bancos dessem uma quantidade em dinheiro (Begrüßungsgeld) para aqueles que estavam vindo da RDA, para que pudessem gastar no lado Ocidental, visto que o dinheiro da Alemanha Oriental não era aceito do outro lado.

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O SED ainda tentou salvar o regime, mas já era tarde demais. Hans Modrow, considerado adepto de Gorbatchev, tornou-se o novo Chefe de Estado da RDA em 13 de novembro.

Inicialmente o governo ocidental reagiu de forma reservada aos acontecimentos no outro Estado Alemão. Ao aumentar o clamor popular pela unificação e vendo que Moscou não iria se opor a ela, Helmut Kohl passou à ofensiva e apresentou ao parlamento um programa com dez pontos para a Superação da Divisão Alemã.

Helmut Kohl contava com três ou mais anos até a reunificação, mas mudou de opinião ao ser calorosamente recebido em Dresden em 19 e 20 de dezembro. Foi quando notou que não havia margem para um tempo de transição, e que o regime estava no fim.

O governo Modrow, porém, perdia rapidamente a autoridade, as instituições de Estado estavam em processo de dissolução e a situação econômica piorava a olhos vistos. Neste cenário, realizaram-se as primeiras eleições livres para o parlamento da RDA para o qual 75% do eleitorado votou em partidos favoráveis à unificação. O SED, que logo se transformaria no Partido do Socialismo Democrático (PDS), obteve 16,3%. A função do ultimo governo da RDA, encabeçado por Lothar de Maiziére, era encaminhar a unificação e negociar as melhores condições possíveis para os alemães orientais.

No dia 18 de maio de 1990, os parlamentos dos dois Estados aprovaram o tratado que praticamente estendeu o sistema monetário, econômico e social da República Federal da Alemanha à República Democrática Alemã. O Marco alemão ocidental tornou-se, assim, a moeda dos dois países.

As negociações dos dois Estados alemães com os aliados da Segunda Guerra Mundial (EUA, França, Reino Unido e União Soviética), as chamadas conversações 2+4, culminaram com a assinatura em Moscou, em 12 de

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setembro de 1990, de um tratado dando soberania à Alemanha unificada. A Alemanha, por sua vez, reconheceu como invioláveis as fronteiras vigentes na Europa, comprometendo-se a reafirmar a fronteira com a Polônia, demarcada pelos rios Oder e Neisse, num tratado bilateral com esse país, assinado em 14 de novembro do mesmo ano.

No dia 20 de setembro, os parlamentos de Bonn e Berlim Oriental aprovaram o tratado de reunificação. Os cinco estados alemães orientais (Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia), passaram a integrar o território da República Federal da Alemanha a partir de 3 de outubro de 1990. No dia 2 de dezembro, foram realizadas as primeiras eleições parlamentares da Alemanha unificada. Sagrou-se vencedora a coalizão entre democrata-cristãos e liberais, liderada por Helmut Kohl, que assim tornou-se chanceler federal pela quarta vez e o primeiro chefe de governo da nova era na história da Alemanha.

Referências

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