• Nenhum resultado encontrado

1. A senhora Conservadora da Conservatória do Registo Predial de endereçou ao IRN uma consulta sumariada nos seguintes termos:

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "1. A senhora Conservadora da Conservatória do Registo Predial de endereçou ao IRN uma consulta sumariada nos seguintes termos:"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4 N.º 53/ CC /2014 N/Referência: PROC.: C. P.33/2014 STJ-CC Data de homologação: 20-10-2014

Consulente: Conservadora da Conservatória do Registo Predial de ….

.

Assunto: Atualização oficiosa da descrição ao abrigo do nº 2, do art.90º do Código de Registo Predial. Âmbito da previsão legal, quanto aos factos na dependência de cujos registos a falta de intervenção da pessoa com legitimidade não determina uma qualificação desfavorável nem impede a atualização por anotação, e quanto ao objeto da atualização - Atualização prevista nos artigos 28º-B e 28º-C do Código de Registo Predial - Inclusão da apreciação da viabilidade da atualização na quallificação do registo pedido.

Palavras-chave: Atualização oficiosa da descrição - art.s 28º-A a 28º-C e art. 90º/2 do Código do Registo Predial – Legitimidade para pedir averbamentos à descrição - Harmonização – Qualificação.

Relatório

1. A senhora Conservadora da Conservatória do Registo Predial de …… endereçou ao IRN uma consulta sumariada nos seguintes termos:

“1. Qualificação de registo de penhora/declaração de insolvência, com divergência de área entre descrição e matriz.

2. Qualificação de registo de aquisição com base em título de compra e venda em processo de insolvência, de prédio com a área de 24050m2, mas com anotação à descrição, na sequência daquele registo de insolvência, da área de 9982m2, sem qualquer documento instrutório para além da certidão matricial, onde consta a área dos 9982m2. Neste caso:

- é de lavrar o registo de aquisição definitivamente com conversão da anotação em averbamento. - ou deve ser pedida justificação para a divergência de área com junção dos documentos justificativos e sendo erro de medição, planta de técnico habilitado e declarações do artigo 28º-C do CRP”.

1.1. Começando pela indicação do Normativo aplicável - artigos 28º, 28º-A, 28º-B, 28º-C, 36º, 38º e 90º do Código de Registo Predial (CRP1) – refere a consulente que a questão já foi objeto de debate em reuniões de conservadores, nas quais foram propostas soluções divergentes, e que o problema “residirá na

interpretação dada aos vários pareceres já emitidos, nomeadamente quanto à possibilidade de atualização das descrições por anotação, na falta de legitimidade do requerente do registo, a efetuar nos termos do artigo 90 do CRP.”

(2)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

1.2. Manifestando discordância com a prática que afirma ser a seguida em algumas conservatórias - que se traduzirá em considerar que qualquer divergência de área entre a descrição e a matriz ou entre o título e a descrição cabe na previsão do art.90º/2 -, a qual considera não ser suportada pelos pareceres emitidos sobre a matéria, nem pelo normativo aplicável - defende a consulente que na previsão legal apenas cabem as situações de atualização (v.g. quanto ao artigo matricial e quanto à construção de edifício em prédio rústico ou terreno para construção urbana), embora admitindo que nela possam caber o caso de a descrição ser omissa quanto à área (anotando a que consta da matriz) e as situações de divergência de área inferiores às margens constantes do art. 28º-B, mas considerando inaceitável dar por abrangidas situações de alteração ou retificação que, em situação normal teriam que ser instruídas com outros meios, pelo titular inscrito, como sucede nas situações abrangidas pelo art. 28º-C.

Relativamente às situações abrangidas pelo art. 28º-C, a consulente refere ter conhecimento de que há quem, efetuando a anotação, adie para o registo de aquisição a exigência de prova do erro de medição e quem dispense essa prova tanto no registo da penhora/declaração de insolvência como no registo da aquisição ocorrida no respetivo processo.

2. A existência de diversas dúvidas, de muitas práticas divergentes e de muitas interrogações na interpretação da doutrina constante dos pareceres já emitidos sobre a matéria (ressaltadas pela consulta formulada e por outros processos autuados nos serviços jurídicos, designadamente na sequência da comunicação da realização de reuniões de conservadores e respetivas atas), a relevância prática da matéria e a frequência com que a questão se coloca, levaram a que superiormente tenha sido determinado que sobre a mesma este Conselho se pronunciasse.

Pronúncia

1. Antes de dar início à apreciação das questões em tabela, enquadradas da mesma forma com referência ao registo de penhora e ao registo de declaração de insolvência, impõe-se referir que os poderes do administrador de insolvência, ao contrário dos do agente de execução, compreendem o pedido de averbamento à descrição de prédio integrado na massa insolvente (art. 81º/4 do CIRE)2, pelo não se colocam neste caso as

2 A matéria foi já objeto de apreciação no Pº C.P.74/2013 STJ-CC, disponível em www.irn.mj.pt (Doutrina), no qual

se concluiu:

“VII - Os poderes do administrador de insolvência para liquidar os bens da massa insolvente compreendem todos os atos cuja prática se mostre indispensável para o sucesso da operação, entre os quais podem figurar, designadamente, os pedidos de averbamento à descrição dos prédios que componham a massa insolvente, visto que se traduzem, afinal, em atos instrumentais da liquidação da massa”

(3)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

questões decorrentes de falta de intervenção da pessoa com legitimidade para pedir averbamentos à descrição, isto é, da aplicação do regime constante do art.90º/2.

2. Os elementos de identificação do prédio constantes da descrição – de natureza física, económica ou fiscal - podem ser alterados ou completados, seja a pedido do detentor de legitimidade para o efeito, seja oficiosamente, na dependência de registo cujo pedido tenha sido instruído com documento expedido por entidade competente para comprovar o facto (ou haja acesso à respetiva base de dados) ou com documento em que tenha tido intervenção a pessoa detentora de legitimidade para pedir a atualização [art.s 79º/1, 38º e 90º/1).

A regra, que ressalta da conjugação das indicadas disposições legais com o princípio da legalidade (art. 68º do CRP), traduz-se em fazer corresponder, à falta de comprovação do facto ou à falta de intervenção da pessoa detentora de legitimidade, uma qualificação desfavorável do pedido de registo, tenha este por objeto a própria atualização da descrição ou qualquer um dos factos previstos nos artigos 2º e 3º. Em caso de qualificação favorável, a descrição é alterada por meio de averbamento,

A matéria submetida a consulta situa-se no plano do regime excecional previsto no nº 2 do mesmo art.90º, em que, apesar da falta de intervenção do detentor de legitimidade, se procede, na dependência do registo pedido, ao registo da alteração, só que por anotação.

3. Se, relativamente à forma do registo da alteração, a letra da lei não consente dúvidas, o mesmo não pode dizer-se – em face da referência ao prazo de vigência do registo que lhe deu origem - em relação à qualificação do registo “principal” (aquele de que a alteração depende): deve, de acordo com o regime regra, ser efetuado provisoriamente por dúvidas ou, pelo contrário, a falta de intervenção do titular inscrito não deve, neste caso, constituir obstáculo ao registo definitivo? E, entendendo-se que não deve, é a anotação compatível apenas com um registo provisório por natureza ou com um registo definitivo sujeito a prazo de caducidade ou também com um registo definitivo não sujeito a esse prazo?

Apesar de as questões formuladas pela consulente não se situarem no mencionado plano da interferência da falta de legitimidade na qualificação do pedido de registo, mas antes no da definição do âmbito do objeto da atualização a que se refere a mencionada previsão legal, parece-nos pertinente fazer referência à evolução da posição deste Conselho sobre aquele ponto do regime em causa, tanto mais que assim de fará ressaltar a ratio da mesma previsão, que será útil para a apreciação daquelas questões.

3.1. Durante algum tempo3 vingou o entendimento de que a anotação da atualização não libertava o registo pedido da qualificação desfavorável, colocando-se a racionalidade da previsão legal exclusivamente na

3 É “desse tempo” o ensinamento de Mouteira Guerreiro [então vogal do Conselho Técnico, relator do parecer

emitido no Pº R.P.1/91 R.P.4, cujas conclusões foram publicadas no BRN nº 6/95 ( Caderno I) e do Pº R.P.44/98 DSJ-CT, seguidamente referido no texto)], constante das Noções de Direito Registral (Predial e Comercial), 1993, pág. 194.

Já “noutro tempo” (depois de o mesmo Conselho Técnico ter alterado o seu entendimento), Maria Ema A. Bacelar

(4)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

intenção de assegurar que nenhuma outra alteração, incompatível com os termos da anotação, pudesse ser introduzida na descrição, conforme constou do Pº R.P.67/97 DSJ-CT4, a propósito do registo de penhora:

“ É que o nº 2 do citado artigo 90º do CRP, ao prever a anotação da atualização da descrição, que

será inutilizada caso se não comprove a intervenção prevista no nº 1 do mesmo artigo dentro do prazo de vigência do registo que lhe deu origem, impede que no período de vigência deste registo ingresse, com caráter definitivo, nas tábuas outro qualquer ato que implique a atualização da descrição em termos que se não compatibilizem com os elementos identificativos do prédio constantes da anotação. Mas não evita que o registo tenha que ser lavrado por dúvidas dado que a identidade do prédio, que não pode deixar de ser verificada pelo conservador, é conditio sine qua non da segurança do comércio jurídico imobiliário a tal ponto que, verificando-se incerteza do objeto da relação jurídica a que o faço registado verificando-se refere, o registo é nulo (artigos 68º e 16º, alínea c), do CRP).

A anotação em causa não é assim mais do que o corolário e prevenção tabular do princípio da prioridade do registo estabelecido no artigo 6º, nºs 3 e 4 do CRP, aplicado agora aos averbamentos oficiosos de atualização da descrição na dependência do pedido de outro registo que, por falta de intervenção da pessoa com legitimidade para pedir aqueles averbamentos, vê impedido o seu (definitivo) ingresso tabular. Não se trata, por isso, de uma forma de suprir tal falta, que continua a constituir circunstância a opor ao registo pedido, não alterando as regras que devem presidir à qualificação deste ato de harmonia com o disposto no citado art. 68º. Trata-se, isso sim, de prevenir um eventual motivo tabular superveniente a obstar à conversão do registo lavrado provisoriamente por impossibilidade de atualização da descrição nos termos sobreditos”.

3.2. No Pº R.P.44/98 DSJ-CT5, a propósito do arresto, foi equacionada uma interpretação que afastava a qualificação desfavorável do registo com fundamento na falta de intervenção da pessoa com legitimidade, mesmo no caso de registo definitivo, desde que este estivesse sujeito a prazo da caducidade.

“A ideia do legislador de permitir que a descrição seja simplesmente anotada apenas se compagina com um registo que tenha determinado «prazo de vigência», como se vê da última parte do preceito.

Mas será que esse prazo de vigência apenas existe no caso do registo provisório? Pensamos que pode haver uma leitura mais ampla, de forma a abranger a hipótese, ora em tabela, do arresto. Isto não só porque, como nota o recorrente, se trata de registo que contraria o normal interesse do titular inscrito (e que pode dele nem ter tido conhecimento – art. 408º, nº 1 do C.P.C.), como também porque na perspetiva do C.R.P. se trata de um registo com prazo de vigência (cf. nº 1 do art. 12º)”.

3.2.1. A interpretação apenas equacionada no processo anteriormente indicado veio a ser adotada no Pº R.P. 158/99 DSJ-CT6, igualmente a propósito do arresto7, nos seguintes termos:

4 In BRN nº 1/98 (Caderno II). 5 In BRN nº 10/98(Caderno II). 6 In BRN nº 6/2000(Caderno II).

(5)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

“Ora a feitura de uma inscrição de arresto, considerando as especiais características deste

procedimento cautelar, não pode ficar dependente da intervenção do titular inscrito para a atualização da respetiva descrição, pois essa intervenção dificilmente será conseguida, como acabamos de constatar no caso sob judicio. Aliás, o arresto é providência cautelar sem audiência da parte contrária - art. 408º, nº 1 do CPC – perante o justificado receio de perda da garantia patrimonial do crédito por parte do credor.

Há que encontrar uma solução adequada para as situações idênticas à do caso dos autos, para que a vida tenha uma resposta do sistema jurídico, no seu todo.

E a solução será a encontrada no art. 90º, nº 2 do CRP, mediante anotação da atualização da descrição, por dependência do registo de arresto, quer este seja lavrado como provisório, ou como definitivo, como veremos.

Com efeito, como se afirmou no Pº R.P.69/97 «(…8)».

No caso dos autos, a inscrição de arresto foi lavrada como provisória por natureza, nos termos da alínea n) do nº 1 do art. 92º do CRP, pela que se lhe aplica diretamente esta disposição, devendo ter sido mencionada, por simples anotação, a atual composição do prédio que constava da decisão de arresto, apresentada a registo.

Mas ainda que o registo estivesse em condições de ser feito com caráter definitivo, ainda assim tal anotação era de efetuar.

Esta solução já fora equacionada no Proc. RP 44/98, que passamos a citar, por espelhar, com grande clareza o entendimento que julgamos dever vir a ser fixado sobre esta matéria: «…9».

Cremos que este entendimento tem toda a justificação, atendendo à natureza deste procedimento cautelar. E nem se diga que o titular inscrito sai prejudicado com esta solução.

Por um lado, porque não se trata de um averbamento à descrição, que envolve uma alteração definitiva desta, mas uma simples anotação à mesma que, por definição, é sempre precária. Por isso, a anotação de atualização da descrição, no caso do registo de arresto ser definitivo, fica sempre a aguardar: a) por ser transformada em averbamento, quer no caso de o titular inscrito o requerer, quer se verifique a intervenção do interessado inscrito (o arrestante) com legitimidade, por ter desencadeado o mecanismo previsto no art. 38º, nº 1, al. c) do CRP (que não é o caso dos autos), quer ainda a requerimento do adquirente na venda executiva consequente de instauração do respetivo processo executivo; ou b) ser dada sem efeito, por ter terminado a vigência do registo que lhe deu origem.

O que não pode é, enquanto a anotação estiver em vigor por dependência do registo que levou à sua feitura, ser feito novo registo com caráter definitivo que implique a atualização da descrição em termos

7 Cfr. a propósito do registo de ação, o ulterior Pº R.P.67/2000 DSJ-CT, in BRN nº 1/2001(Caderno II). 8 É feita citação do primeiro período do texto que já citámos supra.

(6)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

incompatíveis com os elementos do prédio constantes da anotação (não será o caso, v.g., da atualização do valor patrimonial do prédio com base em documento matricial atualizado.

Por outro lado, porque o titular inscrito tem sempre à sua disposição os meios de reação ao arresto previstos no CPC: o recurso, nos termos gerais, do despacho que decretou o arresto, ou a oposição, quando pretenda alegar factos ou socorrer-se de meios de prova não tidos em conta pelo tribunal, e que possam afastar os fundamentos do mesmo ou determinar a sua redução – art. 388º do CPC. Através de qualquer deles pode o arrestado reagir ao arresto e, consequentemente, pôr em causa a identificação do prédio que foi levada às tábuas, por anotação.

Concluindo, e no seguimento do que acabamos de defender – se no caso se verificarem efetivamente os pressupostos de que partimos -, deverá ser agora oficiosamente efetuada a anotação de atualização da descrição do prédio objeto do recurso, por dependência do registo de arresto.

Com esta anotação – e não necessariamente com o averbamento de atualização - ficará solucionado o problema do recorrente, uma vez que sempre poderá a inscrição de arresto, provisória por natureza, ser convertida mantendo-se a anotação à descrição enquanto aquela inscrição estiver em vigor; e a anotação poderá vir a ser transformada em averbamento a requerimento de pessoa com legitimidade para pedir a atualização – v.g. o titular inscrito ou o adquirente na venda executiva, consequente ao processo de execução que venha a ser instaurado”.

3.3. Finalmente, com o Pº R.P.279/2008 SJC-CT10, a propósito de registo de penhora e já depois da entrada em vigor das alterações introduzidas ao CRP pelo D.L. nº 116/2008, de 4 de julho – concretamente do art. 12º, que deixou de prever a caducidade dos registos definitivos de penhora, arresto e outras providências cautelares11 - foi dado mais um “passo” na interpretação da previsão do dito nº 2 do art.90º, admitindo-se a qualificação favorável e a atualização por anotação mesmo para casos de registo sem prazo:

“Não obstante o registo de penhora tenha deixado de figurar no elenco dos registos com prazo especial de vigência não deixou de revestir, ipso facto, um cariz temporário (pese embora a inexistência de um prazo legal previamente fixado).

O regime legal vigente nada alterou (nem pretendia, ainda que pudesse) quanto à substância da penhora (…) sendo respetivo registo, pela sua própria natureza, um registo provisório, não no sentido rigoroso de provisório por natureza ou por dúvidas, mas antes no sentido de que a sua vigência é necessariamente temporária (transitória) – a sua inscrição nas tábuas dá expressão a um iter para atingir um determinado fim, não é um fim em si mesmo.

10 Disponível em www.irn.mj.pt (Doutrina)

11 Também alguns registos provisórios por natureza passaram a não estar sujeitos a prazo de caducidade ( cfr.

(7)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

Ora, considerando as características especiais da penhora, bem como os efeitos que visa alcançar, o seu registo não pode ficar à mercê da intervenção do titular inscrito para atualizar a descrição, pois essa colaboração, não é demais repeti-lo, dificilmente seria conseguida tendo em conta os interesses antagónicos dos protagonistas em presença.

Em face do exposto e tendo em conta o princípio da prova atrás referido, parece de admitir aqui a figura da anotação visto que responde com razoável eficácia à situação de precariedade com que nos deparamos”.

3.4. Em síntese da evolução da doutrina deste Conselho, temos: começou por se entender que a falta de intervenção do detentor de legitimidade determinava, em si mesma, necessariamente uma qualificação desfavorável, sem embargo de se efetuar a anotação; depois passou a considerar-se que essa qualificação, fundamentada na falta de intervenção, só deveria ter lugar no caso de registo que estivesse em condições de ser efetuado com a natureza de definitivo e não estivesse sujeito a prazo de caducidade; e finalmente, admite-se que a não sujeição do registo a prazo de caducidade não deve, em si mesma, constituir obstáculo à qualificação favorável e à anotação da alteração.

4. Do entendimento de que, no âmbito do art. 90º/2, a falta de legitimidade para a atualização da descrição, não determina a qualificação desfavorável do pedido de registo – como vimos, determina apenas que os novos elementos sejam anotados em vez de averbados - não decorre que se deva entender que a atualização em si mesma não deva ser objeto de qualificação, da mesma forma que o seria no caso de ocorrer intervenção do detentor de legitimidade, ou que essa qualificação possa ser adiada para o momento em que, assegurada que esteja aquela intervenção, estejam reunidas as condições de transformação da anotação em averbamento.

A atualização da descrição, visando a coincidência entre a realidade física e a realidade registral, constitui um imperativo da segurança do comércio jurídico imobiliário, finalidade do registo predial (art.1º) e a

identidade do prédio (princípio da legalidade – art. 68º) não pode deixar de ser incluída logo na qualificação do

registo pedido, apesar da natureza precária da atualização por anotação, tal qual o é na situação em que exista intervenção da pessoa legítima. A precariedade está no registo de atualização, não na qualificação.

5. As questões formuladas pela consulente não têm a ver com o regime, em si mesmo, de harmonização entre descrição e matriz e título e descrição (artigos 28º a 28º-C) - matéria que já foi objeto de apreciação aprofundada no Pº R.P. 179/2008 SJC-CT12 – mas “apenas” com a sua conjugação com o disposto no art.90º/2, estando a dúvida essencialmente em saber se as alterações da descrição previstas nos artigos 28º-B e 28º-C (fixação da área de matriz como correta/ alteração da descrição por erro de medição) podem ter lugar

(8)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

com base em pedido de registo não instruído com prova da intervenção do detentor de legitimidade para pedir averbamentos à descrição e, em caso afirmativo, em que termos.

5.1. Antes de mais importa que nos detenhamos brevemente na ratio da previsão do nº 2 do art.90º e no que dela decorre para a delimitação do seu âmbito de aplicação, quer relativamente aos factos - que, apesar da falta de intervenção do detentor de legitimidade, podem ser objeto de qualificação favorável, embora determinando uma atualização feita por anotação - quer quanto ao objeto da anotação.

5.1.1. A lei só admite uma qualificação favorável do registo pedido, no pressuposto de que a intervenção em falta, da pessoa que detém ou venha a ser detentora de legitimidade, pode derivar do “desenvolvimento” do próprio facto registado (v.g. o registo da decisão final de procedência da ação ou o registo de aquisição em processo de execução), com transformação da anotação em averbamento. Faltando esse pressuposto, a falta de intervenção não é transitoriamente suprível, aplicando-se o regime regra da qualificação desfavorável, sem anotação da atualização.

Daí que, no que respeita aos factos e como vimos já, não seja pelo lado da natureza provisória ou definitiva do respetivo registo que deve aferir-se a sua inclusão ou não no dito âmbito.

5.1.2. A opção legal pelo registo da atualização por anotação traduz a intenção de lhe atribuir caráter precário e de, ao mesmo tempo, assegurar que, vindo a ser transformada em averbamento, conservará a respetiva prioridade, à semelhança do que se passa com a conversão de registo provisório em definitivo (art.6º/3), obstando a que, na sua vigência, a descrição seja atualizada em sentido incompatível com o conteúdo da anotação. O facto de se efetuar a anotação não significa que esteja “definitivamente” suprida a falta de intervenção, mas que a realidade descritiva fica a aguardar que ela ocorra.

Há, no entanto, que realçar que a ratio deste regime excecional tem como pressuposto que a descrição esteja apenas desatualizada quanto ao elemento de identificação em causa, estando assim inequivocamente afastada a divergência fundada em erro da descrição, a sanar ao abrigo do processo previsto nos artigos 120 e seguintes.

6. Assentámos já que, em cumprimento do princípio da legalidade, a viabilidade da atualização não pode deixar de ser incluída na qualificação do pedido de registo, o que responde a uma parte das dúvidas formuladas pela consulente, faltando abordá-las no plano do próprio objeto da atualização.

6.1. Não podem suscitar-se dúvidas quanto a situação de atualização resultante de alteração superveniente (v.g. a construção de um edifício no terreno para construção urbana constante da descrição) - que pode designar-se por atualização em sentido restrito ou próprio - que foi manifestamente visada pela previsão legal, impondo-se apreciar se também podem considerar-se como visadas outras situações, nomeadamente as que caibam no âmbito do regime constante dos artigos 28º-B e 28-C e aquela em que a descrição seja omissa quanto à área, ainda que qualificando-as como atualizações em sentido amplo ou impróprio.

(9)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

6.2. Importa antes de mais realçar que a lei admite a coexistência de divergência de área entre a descrição e a matriz, desde que situada dentro das percentagens previstas no art. 28º-A, donde decorre que, perante título que, explícita ou implicitamente ( cfr. art. 44º/1/b)), adote a área que consta da descrição, o facto de constar da matriz área diversa não pode constituir fundamento de qualificação desfavorável, isto é, não é exigível prova do pedido de alteração da matriz ou de que se deu conhecimento do erro da matriz às entidades competentes (art..31º/1 a 4).

Diversamente, se a diferença for superior àquelas percentagens, o registo só não será desfavoravelmente qualificado mediante comprovação daquele pedido de retificação da matriz ou daquele conhecimento.

6.3. Não nos parece que o completamento da descrição com o elemento área possa deixar de ser considerado uma atualização da descrição para o efeito aqui em tabela. Sendo a área um elemento obrigatório da descrição (art.82º/1/d)), ao averbá-la (ou anotá-la, como sucede no âmbito em causa) estamos obviamente a proceder a uma atualização, no sentido de que passamos a ter uma descrição conforme (atualizada) com a determinação legal (cfr. art.88º/1).

6.4. A questão em tabela resume-se a saber se, no âmbito dos indicados artigos 28ºB e 28ºC, é ou não é possível evitar uma qualificação desfavorável com fundamento em divergência de área e efetuar a anotação à descrição, não sendo as declarações prestadas por quem tem legitimidade para pedir averbamentos á descrição (e mostrando-se feita a prova legalmente exigida, em caso de erro de medição).

É certo que é por atualização que a lei designa as situações de alteração da descrição previstas nos artigos 28º-B e 28º-C, mesmo no caso de a alteração se fundar em erro de medição de valor superior às percentagens fixadas no art. 28º-A. Mas deverá essa circunstância ser determinante para efeito da previsão do art. 90º/2? Não nos parece.

A área do prédio, desligada da ocorrência de qualquer facto que tenha causado a sua modificação (v.g. desanexação de uma parte), é um elemento insuscetível de alteração superveniente.

O regime de atualização da descrição por anotação funda-se “apenas” na falta de intervenção da pessoa com legitimidade para pedir a atualização, na identificação do prédio submetido a registo de forma atualizada, relativamente ao que consta da descrição. Para que a atualização deixe de ser precária, basta que no ato de intervenção em falta seja “confirmada” a identificação do prédio conforme foi submetido a registo, transformando-se a anotação em averbamento.

O regime do art.90º/2 permite suprir transitoriamente a falta de intervenção do titular inscrito na identificação do prédio a que respeita o facto submetido a registo, mas não a falta de declarações que só por ele podem ser prestadas (que a área correta é a que consta da matriz/que a divergência provém de simples erro de

(10)

Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4

medição/que não ocorreu alteração na configuração do prédio) - admitindo-as prestadas pelo interessado no registo –, tenham ou não que ser acompanhadas de prova documental.

Em suma, o registo não pode deixar de ser desfavoravelmente qualificado, pelo facto de o pedido ter sido instruído com as declarações prestadas pelo interessado no registo e, no caso de erro de medição, com a prova do erro de medição legalmente prevista.

A não se entender assim, para a ulterior transformação da anotação em averbamento não bastaria a intervenção em falta relativamente a um objeto identificado de acordo com a descrição precariamente atualizada, e haveria que exigir “novamente” aquelas declarações, agora por parte da pessoa com legitimidade para as prestar. Não é este, claramente, o sentido a retirar da previsão legal em causa.

Do anteriormente exposto, que pensamos ter respondido às questões formuladas pela consulente, extraímos as seguintes

Conclusões

1. A partir do momento em que nos consideramos perante facto abrangido pela previsão do nº 2 do art.90º do CRP, como é o caso da penhora, a falta de intervenção da pessoa com legitimidade para pedir averbamentos à descrição não constitui fundamento da qualificação desfavorável do respetivo registo, independentemente da natureza provisória ou definitiva que lhe deva caber.

2. Daí não decorre que a viabilidade da atualização (máxime quanto à identidade do prédio – art.68º do CRP) não deva ser abrangida pelo juízo de viabilidade do registo pedido, tal como sucede no caso em que não está em causa a falta daquela intervenção.

3. A previsão do mencionado artigo 90º/2 admite o suprimento transitório da falta de intervenção da pessoa com legitimidade para pedir averbamentos à descrição na identificação atualizada do prédio, mas não da falta de declarações que pudessem ser prestadas ao abrigo do disposto nos artigos 28ºB/1 e 28º-C do mesmo CRP.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 16 de outubro de 2014.

Luís Manuel Nunes Martins, relator, Maria Madalena Rodrigues Teixeira, António Manuel Fernandes Lopes, Blandina Maria da Silva Soares, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes.

Referências

Documentos relacionados

Os resultados apresentados permitiram concluir que o reator acidogênico tubular é viável como unidade de pré-tratamento de esgoto doméstico proporcionando uma redução de DQO da

O kit Canine Leptospira foi projetado para determinar em soros de caninos, títulos de anticorpos séricos de diferentes sorovares patogênicos de Leptospira interrogans,

Doença coronariana e acidente vascular cerebral: a TRE não deve ser mantida nem iniciada para a prevenção de doença cardíaca coronariana; o estudo WHI indicou

Em outras áreas do megaleque, fora do cinturão de meandros e do lobo distributário atual, uma complexa rede de paleocanais de diversos lobos abandonados testemunha que a evolução

DE ACORDO COM O PARECER DA PROCURADORIA E PARECER DA CON- TROLADORIA, CONSIDERANDO O RELATÓRIO FINAL DE LICITAÇÃO NA MODALIDADE PREGÃO ELETRÔNICO Nº 032/CPL/2019, APRESENTADO PELO

servidores; havia programas de mestrados profissionais que não tinham bolsas 210. para administrar mas tinham servidores e outros programas de mestrado

O Macan Turbo com pacote Performance não somente apresenta uma potência de motor mais elevada, como também um sistema de freios reprojetado, o chassi esportivo controlado

Para os dados já disponíveis em 2009 (Janeiro a Novembro), verifica-se que foram os seguintes grupos que apresentaram maiores valores de exportação: produtos alimentares