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Determinantes que impactam na probabilidade de o jovem não participar do mercado de trabalho e simultaneamente não estudar 1

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Determinantes que impactam na probabilidade de o jovem não

participar do mercado de trabalho e simultaneamente não estudar

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REMY, M. A. P. A.♣ VAZ, D. V.♦

Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar o perfil dos jovens que não estudam e não trabalham ao longo da primeira década dos anos 2000 no estado do Rio de Janeiro, tendo em vista a acelerada dinâmica de investimentos e consequente atividade econômica nessa unidade da federação. Procurou-se comparar o perfil desses jovens no início e no final dos anos 2000 para em seguida analisar os fatores que influenciam, isoladamente, esta condição específica (não estudar e não trabalhar simultaneamente). Para isso estabeleceu-se uma relação logística entre a probabilidade dessas pessoas não buscarem emprego estando desempregada e não estudar e diversas características domiciliares. Os principais resultados revelam que persistem as propensões a essa condição entre as camadas mais frágeis da população.

Palavras-chave: Juventude; Mercado de Trabalho; Educação; Logit.

1Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014.

Doutora em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (mariaalice.pestana@gmail.com).

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1. Introdução

Este estudo tem por escopo analisar uma condição social de jovens que vem ocorrendo tanto em países centrais como também no Brasil. A literatura especializada tem indicado que a falta de perspectivas no mercado de trabalho nos países centrais tem mantido esses jovens no seio familiar e fora do mercado de trabalho a despeito de sua instrução. O tema é substancialmente relevante para o Brasil, que tem vivenciado taxas de desemprego muito baixas e, paralelamente, aumento nos níveis de escolaridade de sua população. Se na dimensão educacional pesquisas indicam que a redução da desigualdade ocorrida na primeira década dos anos 2000 no Brasil estaria associada à elevação dos anos de estudos (BARBOSA-FILHO e PESSOA, 2008; PAES DE BARROS et al., 2007), o dinamismo do mercado de trabalho permitiria a inserção da população que busca emprego. Muitos especialistas, inclusive, adjetivam o nível de desocupação atual no país como expressão de um desemprego friccional. Contudo, há uma parcela significativa de jovens com idade entre 15 e 29 anos que não trabalha, não procura emprego e sequer estuda. O tema merece atenção pelas razões mencionadas: o país vivencia um aumento da escolaridade com baixas taxas de desemprego.

De acordo com a Teoria do Capital Humano (BECKER, 1967), a produtividade de um país aumenta justamente em função da elevação da escolaridade e habilidades do trabalhador. Analistas econômicos têm atribuído a baixa elevação do crescimento brasileiro, a partir de 2011, justamente à baixa produtividade de nossa economia. A ocasião, assim, é propícia para se investigar o que determina uma quantidade significativa de jovens manterem-se à margem do mercado de trabalho e sem inserção escolar.

Dentre as unidades da federação da região Sudeste, a mais rica do Brasil, o Rio de Janeiro apresenta a situação mais preocupante, pois, entre seus jovens, 16,3% estão na condição de simultaneamente não trabalhar (ou procurar emprego) nem estudar. O mais curioso é que durante a década de 2000 a atividade econômica intensificou-se nesta unidade da federação, dinamizada pela emergência das atividades petrolíferas no

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norte do estado, de tal forma que a taxa de desocupação reduziu-se em 9,2 pontos percentuais2, uma das maiores reduções dentre os estados da região.

Em vista do quadro de recuperação do emprego e do dinamismo econômico no estado do Rio de Janeiro, este trabalho realiza um estudo exploratório com a finalidade de verificar se houve alterações importantes na composição do contingente de jovens que não estudam nem trabalham nesta unidade da federação. Para tanto, são analisados os dados dos Censos demográficos do IBGE, com ênfase nas dimensões sexo, cor, estado civil, posição na família, escolaridade e situação censitária do domicílio.

O artigo está dividido em quatro partes, sendo a primeira delas esta introdução. Na segunda seção é traçado um panorama dos jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham ou procuram emprego no Brasil, com base em estudos anteriores. Na terceira seção são analisados e comparados os dados dos Censos demográficos de 2000 e de 2010, com o intuito de traçar o perfil sócio-demográfico do subgrupo populacional de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham, residente no estado do Rio de Janeiro, avaliando eventuais alterações em sua composição. Por fim, na última seção são sumariados os principais resultados e elencadas possíveis vias para desenvolvimentos futuros da pesquisa.

2. Panorama dos “nem-nem” no Brasil

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2012 chamaram a atenção para o contingente de jovens de 15 a 29 anosque não estudam, não trabalham e tampouco procuram trabalho no Brasil: 9,6 milhões de indivíduos, ou 19,6% da população nessa faixa etária (IBGE, 2013). Esse subgrupo populacional recebeu a alcunha de “nem-nem” e sua persistência surpreende em vista do desempenho favorável do mercado de trabalho nos anos 2000, com redução da taxa de desocupação ― de 16,9% em 2000 para 7,6% em 2010 ―, e elevação da taxa de participação ― de 51,1% para 57,7%, respectivamente.

Camarano e Kanso (2012) identificaram um forte componente de gênero no fenômeno “nem-nem”: 67,5% deles são mulheres e, entre estas, há a preponderância das casadas ― cerca de 2/3 ― e com filhos ― 61,2%, segundo dados do Censo 2010. As autoras mostram, ainda, que os jovens que não estudam nem trabalham estão inseridos

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justamente nos domicílios de mais baixa renda3. Assim, a maternidade precoce, associada à divisão tradicional de papéis sexuais, que atribui às mulheres a maior parte das responsabilidades pelo cuidado da família e do lar e penaliza a inserção ocupacional das mulheres mais pobres, explicaria, em parte, o fenômeno “nem-nem”.

Além dos fatores associados ao ciclo de vida, a origem sócio-econômica do jovem é outro fator fundamental que explica sua decisão entre trabalhar e estudar. Os jovens oriundos de famílias mais pobres são obrigados a abandonar mais cedo os estudos para se dedicar integralmente ao trabalho. Quanto maior a renda domiciliar, maior a probabilidade de o jovem estudar e não participar do mercado de trabalho (Leme e Wajnman, 2000). Além disso, ceteris paribus, a mera existência de outras fontes de rendimento, como as advindas de aposentadorias e pensões, também contribui para aumentar essa probabilidade (Hoffmann, 20104; Camargo e Reis, 2007).

No que tange à escolaridade, os jovens que não estudam nem trabalham possuem um número médio de anos de estudo inferior aos jovens de mesma faixa etária que apenas estudam, estudam e trabalham ou somente trabalham. O jovem “nem-nem” do sexo masculino, por exemplo, embora tenha apresentado uma elevação de sua escolaridade média entre 2000 e 2010, em média não concluiu o ensino fundamental (Camarano e Kanso, 2012). Entre as razões que explicariam a evasão escolar estariam a necessidade de trabalhar para complementar a renda familiar; o desestímulo ocasionado por seguidas repetências, que levariam ao descompasso entre a idade do aluno e a série frequentada; a baixa qualidade das escolas; a falta de interesse tanto dos pais como do jovem; e a dificuldade de acesso à escola, seja pela insuficiência de oferta ou pela dificuldade de transporte (Neri, 2009).

A baixa escolaridade, associada ao maior desemprego juvenil, sugere o desalento como outra possível causa do fenômeno. A taxa de desemprego enfrentada pelo jovem de 15 a 17 anos é de 21% e para o jovem de 18 a 24 anos é de 13,2%, ao passo que a média nacional é de 6,1%, segundo dados da PNAD 2012 (IBGE, 2013).

Entre as causas da elevada taxa de desemprego juvenil, pode-se mencionar a elevada taxa de rotatividade do jovem no mercado de trabalho (Flori, 2005). Sete em

3 As famílias com pelo menos um jovem “nem-nem” têm rendimento domiciliar per capita

médio de R$ 418,55, ao passo que as famílias com pelo menos um jovem que não está na PEA e estuda têm rendimento domiciliar per capita médio de R$ 676,05, segundo dados da PNAD 2011.

4 Ao ajustar um modelo de lógite multinomial a dados da PNAD 2006, Hoffmann (2010) verifica

que a presença de aposentado e/ou pensionista no domicílio contribui para reduzir a probabilidade de um jovem de 15 a 21 anos trabalhar e não estudar, aumenta substancialmente a probabilidade de estudar e não trabalhar e reduz a probabilidade de não trabalhar nem estudar.

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cada dez trabalhadores de 15 a 24 anos, em média, desligam-se de seus postos de trabalho ao longo de um ano, considerando apenas o mercado formal de trabalho (Corseuil et al., 2013).

Além das elevadas taxas de desemprego, o padrão de inserção ocupacional do jovem é caracterizado por maiores taxas de informalidade, pela prevalência de vínculos de trabalho mais frágeis — como contratos temporários ou empregos em cooperativas —, pela utilização do estágio como uma relação disfarçada de emprego, pelas baixas remunerações e por jornadas mais longas de trabalho (CAMPOS, 2013).

A situação é ainda pior no caso das mulheres jovens, pois, apesar de apresentarem maior escolaridade média que os homens — mesmo considerando apenas o subgrupo dos “nem-nem” ―, enfrentam maiores taxas de desemprego, maior rotatividade no mercado de trabalho e menores rendimentos. Além disso, uma das principais formas pelas quais se inserem no mercado de trabalho é o trabalho doméstico remunerado, caracterizado por menos direitos trabalhistas.

No estado do Rio de Janeiro, o fenômeno “nem-nem” é igualmente preocupante. No segmento de 15 a 29 anos de idade, eles representam 16,3% dos indivíduos. No estado de São Paulo, por exemplo, esse valor é de 13,4%, enquanto Minas Gerais soma 14,7% e o Espírito Santo, 15,2%, segundo dados do Censo demográfico de 2010.

A distribuição dos “nem-nem” não é homogênea no estado fluminense, havendo uma maior concentração na Baixada Fluminense, onde 32,2% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos não trabalham ou procuram emprego e tampouco estudam, segundo dados do Censo 2010. No município de Japeri essa proporção é de alarmantes 40,7% (Barros, 2014). Entre as particularidades da região que contribuiriam para explicar o fenômeno estaria a mobilidade até a capital fluminense, onde estão concentradas as oportunidades de trabalho. Além do elevado custo do transporte intermunicipal, que compromete uma fração importante do orçamento familiar, o tempo comprometido com o deslocamento urbano mostra-se maior na região metropolitana do Rio de Janeiro em comparação a outras regiões metropolitanas brasileiras (Pero e Mihessen, 2012).

Na próxima seção realiza-se uma análise comparada dos dados dos Censos demográficos de 2000 e de 2010, com o intuito de avaliar se houve alterações

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importantes no perfil do jovem de 15 a 29 anos de idade que não pertence à PEA e não estuda, residente no estado do Rio de Janeiro5.

3. Material e métodos

Para este trabalho a base utilizada foi o Censo Demográfico 2000 e 2010. Foram selecionados apenas os domicílios particulares permanentes e descartados os pensionistas, empregados domésticos bem como seus parentes além do indivíduo residente em domicílio coletivo. Foram consideradas jovens as pessoas com idade de 15 a 29 anos, moradoras daqueles domicílios (particulares permanentes).

Propensão do jovem a não estudar e não trabalhar

Para avaliar como fatores influenciam, isoladamente, a condição do jovem não trabalhar e não estudar simultaneamente, estabeleceu-se uma relação logística entre a probabilidade dessa pessoa estar desempregada além de não estudar e diversos fatores associados a essa condição. Essa relação pode ser analisada através de um modelo de regressão lógite, que se baseia na função de probabilidade logística acumulada e é especificado por (Pindyck; Rubinfeld, 2004)

= (1)

Onde é a probabilidade da i-ésima pessoa estar desempregada e com h=1, ..., k, são as k variáveis observáveis consideradas. Fazendo-se as devidas transformações, o modelo (1) pode também ser expressão pela seguinte relação log-linear:

ln (2)

5 Foram selecionados apenas os domicílios particulares permanentes e descartados os

pensionistas, empregados domésticos bem como seus parentes, além do indivíduo residente em domicílio coletivo.

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A variável dependente do modelo (2) é o logaritmo natural da razão de chances de estar desempregado e não estudar, ou seja, da razão entre a probabilidade do jovem estar desempregado/não estudar à de estar ocupado seja trabalhando ou estudando. Essa razão, também denominada de odds ratio (ou, neste trabalho, chance de desemprego/não estudo ou propensão do jovem a não estudar nem trabalhar) expressa quantas vezes a chance de estar desempregado e não estudar é maior que a chance da pessoa estar ocupada em uma das duas atividades (trabalho ou estudo). O coeficiente representa, dessa forma, a variação no logaritmo da razão de chances em virtude de uma variação unitária de . Para obter a relação direta entre a variação de e a variação no odds ratio deve-se calcular o antilogaritmo de , ou seja, calcular .

Foi ajustado um modelo, utilizando a população de jovens que não trabalham nem estudavam em 2010, sendo consideradas as seguintes variáveis:

a) idade (idade) do jovem e o quadrado dessa idade (idade2).

b) uma binária (sexo), assumindo o valor 1 para masculino e 0 para feminino; c) uma variável binária (branco) que assume 1 quando a pessoa for da cor

branca ou amarela e 0 caso contrário (negro, pardo ou indígena);

d) uma binária (cri6), assumindo o valor 1 quando no domicílio houver criança de até 6 anos de idade;

e) uma binária (cri10) assumindo o valor 1 quando houver no domicílio criança de 6 a 10 anos de idade;

f) uma binária (cri14) assumindo o valor 1 quando houver no domicílio criança de 11 a 14 anos;

g) uma binária quando o responsável pelo domicílio for um jovem de 15 a 29 anos

h) 3 binárias para maior escolaridade da pessoa da família excluindo o jovem que não estuda e não trabalha.

i) uma binária (rm) que assume o valor 1 quando a pessoa reside em área metropolitana e zero quando não é metropolitana;

j) uma binária (urbano) que assume o valor 1 quando a pessoa reside em área urbana e zero quando é rural;

k) logaritmo da renda domiciliar per capita.

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4. Resultados

O estado do Rio de Janeiro, apesar de ter apresentado uma das maiores reduções na taxa de desemprego nos anos 2000 e grande dinamismo econômico, mostra uma das maiores proporções de jovens economicamente inativos e que não estudam entre as unidades da federação. Em números absolutos fica somente atrás de São Paulo, Bahia e Minas Gerais.

Tabela 1

População total, população de 15 a 29 anos e população de 15 a 29 anos que não estuda e não trabalha, segundo UF. Brasil, 2010.

UF População total População de 15 a 29 anos Em % da população total Que não estuda e não trabalha, em % da população de 15 a 29 anos AC 733.559 28,7 22,8 AM 3.483.985 28,9 20,9 AP 669.526 30,0 20,0 PA 7.581.051 28,9 23,0 RO 1.562.409 28,3 18,5 RR 450.479 28,9 21,1 TO 1.383.445 27,8 18,8 MA 6.574.789 29,0 25,2 PI 3.118.360 27,8 22,3 CE 8.452.381 28,1 22,8 RN 3.168.027 27,9 22,2 PE 8.796.448 27,0 21,4 PB 3.766.528 26,9 22,4 AL 3.120.494 27,6 24,5 SE 2.068.017 28,2 19,2 BA 14.016.906 27,6 19,1 MG 19.597.330 25,8 14,7 ES 3.514.952 26,4 15,2 RJ 15.989.929 24,2 16,3 SP 41.262.199 25,4 13,4 PR 10.444.526 25,4 12,9 SC 6.248.436 26,3 9,8 RS 10.693.929 24,2 11,7 GO 6.003.788 26,8 14,8 MT 3.035.122 27,5 16,5 MS 2.449.024 26,4 15,1 DF 2.570.160 27,6 11,7 Total 190.755.799 - -

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Fonte: Censo 2010. Elaboração própria.

É possível observar que as UFs das regiões Norte e Nordeste mostraram, segundo o Censo Demográfico de 2010, uma participação maior de jovens que não trabalham e não estudam concomitantemente, vis-à-vis às demais regiões.

Gráfico 1

Participação dos indivíduos que não estudam e não estão na PEA no total de jovens de 15 a 29 anos, segundo UF. Brasil, 2010.

Fonte: Censo 2010. Elaboração própria.

Para se analisar a trajetória dos jovens que não trabalham ou estudam, há que se verificar o que ocorreu demograficamente com todos os jovens. O aumento do número deles no estado do Rio de Janeiro durante a década foi de 3,5%, mas entre aqueles que não estudam ou trabalham o aumento em termos absolutos indicam uma variação mais vigorosa, de 8,5%. Embora essa unidade da federação tenha vivenciado uma aceleração nos investimentos econômicos, com consequente surgimento de oportunidades de emprego, as mulheres foram as mais beneficiadas. Elas reduzem seu contingente entre os que não estudam ou trabalham enquanto os jovens de sexo masculino sofrem

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expansão (65,7% a mais). Esse movimento é captado em termos relativos, conforme ilustra o Gráfico 2, que revela o crescimento da participação masculina vis-à-vis o início da década e a redução feminina.

Gráfico 2

Distribuição dos jovens que não trabalham nem estudam, segundo sexo. RJ, 2000/2010.

Fonte: Censo demográfico – elaboração própria.

Da mesma forma constatada para a característica “sexo”, a evolução da última década em relação à raça/cor da pessoa revela um movimento oposto entre jovens brancos e pardos. Enquanto os primeiros (brancos) reduzem sua participação (8,1 pontos percentuais, de 49,1% para 41%), os segundos (pardos) aumentam sua representatividade, passando de 37,8% em 2000 para 44,2% em 2010. É preciso ainda complementar que os que se autodeclaram pretos acompanham o comportamento vivenciado pelos pardos. Amarelos, indígenas e informações ignoradas sobre raça somavam pouco mais de 1% do total.

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Gráfico 3

Distribuição dos jovens que não trabalham nem estudam, segundo raça/cor. RJ, 2000/2010.

Fonte: Censo demográfico – elaboração própria.

Quanto ao nível de instrução desses jovens, em 2000 cerca de 66% tinham até o nível fundamental enquanto no final da década 44,4% deles possuíam este mesmo nível de instrução, numa indicação clara de que o aumento de escolaridade e o aquecimento do mercado de trabalho do brasileiro têm permitido maior inserção social para esses jovens.

Vale também salientar que este fenômeno é, sobretudo, urbano. Durante a década estudada ocorre um encolhimento de 27,5% desses jovens em áreas rurais e um aumento de quase 11% em áreas urbanas. Essa evolução em termos relativos pode ser constatada no Gráfico 4

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Gráfico 4

Distribuição dos jovens que não trabalham nem estudam segundo o domicílio. RJ, 2000/2010.

Fonte: Censo demográfico – elaboração própria.

Quanto à posição do jovem na família, a maior expressão fica por conta de cônjuge e filhos, que representam cerca de 70% das pessoas que não trabalham, não estudam. Contudo, ao longo da década os cônjuges reduziram em 39% a sua participação enquanto os filhos tiveram uma varição positiva de 34%. Em termos relativos o Gráfico 5 revela indiretamente o encolhimento dos cônjuges em relação total da situação civil. Chama a atenção, ainda o aumento do número de pessoas de referência da família que declararam não estudar, não trabalhar ou buscar emprego, as quais quase triplicam. Talvez uma explicação para isso seria o fato de no início da década essas pessoas não se reconhecerem como referência, uma espécie de chefe da família, e que no final da década essa característica não seria mais um impeditivo.

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Gráfico 5

Distribuição dos jovens que não trabalham nem estudam segundo estado civil. RJ, 2000/2010.

Fonte: Censo demográfico – elaboração própria.

O modelo econométrico aplicado indica que entre as diversas características (variáveis explanatórias) a propensão de o jovem estar na condição de não trabalhar e não estudar simultaneamente recai mais intensamente sobre o perfil masculino, para pretos, pardos e índios, em domicílios com crianças menores que 10 anos de idade, para escolaridade do responsável da família com ensino fundamental. Trata-se também de um fenômeno que ocorre em regiões urbanas e metropolitanas.

5. Considerações finais

Os resultados parciais indicam que o fenômeno é metropolitano, relacionado mais às mulheres que aos homens, sendo mais significativo entre negros e pardos do que entre brancos e envolvendo uma gama significativa de pessoas de baixo rendimento. Algumas informações também nos levam a crer que há uma limitação empírica, pois jovens que não trabalham e freqüentam um curso não regular, como o curso de inglês, por exemplo, são contabilizados entre aqueles que não estudam.

Portanto, entre as considerações finais do estudo ainda há que se destacar alguns eixos para aprofundamento futuro da pesquisa. O primeiro refere-se à limitação empírica, o que implicará a separação da categoria entre dois perfis dos “nem-nem”, isto

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é, aqueles advindos de famílias de maior rendimento e que se enquadram temporariamente na categoria por participarem de um curso não regular e os demais. O segundo investiga a situação domiciliar, ou seja, as relações entre características domiciliares e o fato do jovem em tela não estudar e não trabalhar e o terceiro o de características individuais, possivelmente relacionadas ao desenvolvimento histórico desta peculiar unidade da federação que ao longo dos séculos abrigou a capital do reino, a capital federal, a capital do estado. Além disso, vivenciou uma perda econômica apenas ressuscitada após a emergência das atividades petrolíferas no norte do estado.

Caminhos em termos de políticas públicas: ampliação de creches e melhoria na mobilidade urbana.

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6. Referências bibliográficas

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