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POR TRÁS DA FARDA: CONSTRUÇÕES SUBJETIVAS DE POLICIAIS MILITARES

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Academic year: 2021

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POR TRÁS DA FARDA: CONSTRUÇÕES SUBJETIVAS DE POLICIAIS MILITARES

Larissa Helena GUIRAO1 ;Larissa de Paula MATIAS1;Ederval BISCALCHIN1; Eneida S. SANTIAGO2

FAI- Adamantina RESUMO: Este trabalho foi desenvolvido em uma instituição do serviço militar situada no interior do Estado de São Paulo, participaram voluntariamente deste trabalho, policiais militares e os encontros aconteciam semanalmente conforme as escalas dos próprios policiais. Foram montadas duas equipes para a realização dos mesmos. O principal objetivo dessa atividade foi propor uma discussão da realidade vivida pelos policiais militares, possibilitando vivências de situações de seu dia-a-dia enquanto trabalhador e enquanto sujeito, levando-os a refletir sobre seu cotidiano bem como proporcionar um maior crescimento e conhecimento de si. Para que atingíssemos o objetivo, utilizamos, técnicas grupais disparadoras, como dinâmicas, músicas e vivências em grupo operativo, que se fundamenta em uma concepção de aprendizagem, com a finalidade de propiciar disparadores de diversas temáticas. Esta técnica está centrada na tarefa, não limitando-se somente ao sujeito, mas sim no processo de interação desse sujeito. Através disso e dos recursos utilizados durante o estágio, percebemos que a grande maioria não consegue se desligar totalmente da arma (a maioria fica armado todo tempo em serviço caracterizando este objeto como um instrumento de trabalho) e nem da sua postura militar diante da sociedade, sendo assim, mesmo não estando trabalhando eles se portam como se assim tivessem, mantendo-se atentos a todos os movimentos e a todas as pessoas que os rodeiam. Essa atitude talvez esteja ligada ao treinamento pelo qual os policiais são submetidos e em uma dificuldade de separar tempo no trabalho e tempo livre. Percebemos também que a relações intersubjetivas dentro e fora da corporação são permeadas pelo medo e pelo receio do erro, devido às repercussões que isso acarreta na sua vida, seja na profissional, respondendo pelos seus atos através de punições, que vai de uma repreensão verbal até detenção ou prisão, dependendo da gravidade do ato ocorrido. Já na vida pessoal, há uma grande expectativa por conta de sua profissão, assim procura sempre não “decepcionar a ninguém”, conforme falam. Concluímos assim que, através das atividades, criamos um espaço para reflexão das situações que podem ocasionar angústia no trabalho, e de problemas encontrados no dia-a-dia. Pudemos ter a visão de que o policial acaba incorporando à instituição em todos os âmbitos de sua vida e também leva para a instituição dificuldades pessoais, algumas vezes, até mesmo, levando os problemas da instituição para a sua casa.

1 Estudantes do 7º termo do curso de Psicologia.

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POR TRÁS DA FARDA: CONSTRUÇÕES SUBJETIVAS DE POLICIAIS MILITARES

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi desenvolvido na área de Psicologia do Trabalho em uma instituição do serviço militar do interior do Estado de São Paulo, que é composto por 30 policiais desde tenente até soldados.

Os encontros eram realizados semanalmente e haviam duas equipes formadas de acordo com a escala dos próprios policiais e voluntariamente, variando média de 02 (dois) policiais por encontro.

Durante esses encontros, haviam atividades em grupo para que depois ocorresse uma discussão e reflexão sobre o tema proposto na mesma.

OBJETIVO

Possibilitar dinâmicas e vivências, através das quais os policiais podiam refletir sobre seu cotidiano e seu trabalho, e, também, conhecer melhor seus companheiros de trabalho, bem como refletir sobre os imprevistos que sua profissão proporciona e coloca, discutindo a realidade vivida por eles e as situações de seu dia-a-dia enquanto trabalhador e enquanto sujeito, levando-os a refletir sobre seu cotidiano bem como proporcionar um maior crescimento e conhecimento de si.

METODOLOGIA

Os sujeitos do referido trabalho são os policiais militares que formam o efetivo da instituição militar do interior do Estado de São Paulo.

De acordo com Moscovici (apud MILITÃO & MILITÃO, 2000, p.19), a vivência é “um conjunto metodológico que objetiva o alcance de mudanças pessoais, a partir de

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aprendizagens baseadas em experiências diretas e vivências “. Nesse sentido, durante os encontros recorremos aos recursos de vivências, músicas e atividades grupais que pudessem contribuir para que atingíssemos nossos objetivos.

A Polícia Militar no Brasil é dividida em diferentes setores e com suas determinadas funções: Polícia Federal; Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal; Polícia Civil e Militar e Corpo de Bombeiro.

Especificamente a Polícia Militar é subordinada pelo Comandante Geral da Polícia Militar, desde os responsáveis pelos patrulhamentos.

Para ingressar na corporação, o policial passa por um rigoroso processo seletivo, envolvendo um concurso público e uma investigação pessoal.

De maneira geral, o policial deve assumir uma postura “ética” que envolve patriotismo, disciplina, lealdade, verdade, honra, coragem, etc. Mas se deixar de cumprir algum dever, estará sujeito a aplicação de diversas advertências, variando conforme a sua falta.

Eles têm um horário fixo de trabalho seguindo as escalas determinadas por seus superiores, tanto diurnas como noturnas, independente dos finais de semana ou feriados. O policial pode exercer sua função na administração ou nos serviços externos. Há também tipos de escalas em que o policial permanece de sobreaviso, ou em sua casa ou no quartel.

Em 1.997, no Estado de São Paulo, foi criado o policiamento Comunitário, onde houve uma mudança na postura profissional dos policiais. O principal objetivo desse policiamento foi estabelecer uma relação com a sociedade onde possibilite que os dois juntos solucionem os principais problemas sociais.

Enfim, ao ingressar na corporação o policial deve se submeter seu corpo e sua vida aos mais inesperados acontecimentos, sempre tentando atender às expectativas sociais.

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O trabalho da polícia é sempre realizado em equipes, geralmente uma dupla em cada viatura, com exceção em algumas situações tais como eventos esportivos, culturais (shows, feiras expositivas), ronda escolar, PROERD, força tática (que atua em ocasiões especiais), canil, cavalaria e tropa de choque.

RESULTADOS

As informações recolhidas durante as realizações dos encontros indicaram que a grande maioria não consegue se desligar totalmente da arma e nem da sua postura militar diante da sociedade, dessa forma, mesmo não estando trabalhando eles se portam como se assim tivessem, mantendo-se atentos a todos os movimentos e a todas as pessoas que os rodeiam. Uma outra característica encontrada é que eles assumem uma linguagem própria durante ou fora da atuação militar, utilizando quase que um idioma próprio: positivo (utilizado como uma afirmação), QRU (problema que pode indicar uma futura ocorrência), entre outros.

Essas atitudes talvez estejam ligadas ao treinamento pelo qual os policiais são submetidos, assim como também remetendo-os a uma postura violenta e desigual diante dos “vagabundos” (termo utilizado por eles para se referir aos meliantes). É interessante notar que durante o treinamento de formação destes policiais, eles são designados de “vagabundos”, aos se tornarem policiais as posições se invertem e os “vagabundos” passam a ser os meliantes, em uma clara inversão de papéis.

Percebemos também que a relações intersubjetivas dentro e fora da corporação são permeadas pelo medo e pelo receio do erro, devido às repercussões que isso acarreta na sua vida, seja na profissional, respondendo pelos seus atos através de punições, que vai de uma repreensão verbal até detenção ou prisão, dependendo da gravidade do ato ocorrido. Já

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na vida pessoal, há uma grande expectativa por conta de sua profissão, assim procuram sempre não “decepcionar” a ninguém, sendo que as punições são percebidas como se estivessem humilhando as famílias e o nome da corporação.

Há casos de policiais que escolheram a carreira baseando-se na idealização que a profissão oferece, já que o policial é visto como um ser “inabalável”, que honra sua farda e luta a favor do bem. Porém, após o ingresso na carreira e o contato com as regras e normas institucionais, percebe uma grande mudança na sua subjetividade.

Segundo Piva (2005), a instituição oferece grandes vantagens simbólicas, levando o indivíduo a uma contradição interna, não encontrando assim, meios de reação.

Além disso, o sujeito encontra no trabalho um sentido para sua vida e um espaço de reconhecimento social, que é o que formará a identidade do indivíduo, que momentaneamente suspenderá as angústias e gerará prazer. Segundo Dejours (apud PIVA, 2005, p.53).

O reconhecimento é a retribuição da sublimação. Isso significa que a sublimação tem um papel importante na conquista da identidade. Reconhecimento social e identidade como condição da sublimação conferem a essa última uma função essencial na saúde mental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos assim que, através de nossas atividades, criamos um espaço para reflexão das situações que ocasionam angústia no trabalho, e de problemas encontrados no dia-a-dia. Pudemos ter a visão de que o policial acaba incorporando a instituição em todos os âmbitos de sua vida e também leva para a instituição dificuldades pessoais, algumas vezes, até mesmo, carregando os problemas da instituição para a sua casa.

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Os encontros proporcionaram aos policiais um espaço para pensarem sobre uma série de coisas que, segundo os próprios nunca haviam pensado.

Neste sentido, pretendemos continuar o desenvolvimento desse trabalho nesta instituição, já que, de acordo com Jalowitzki, (2001) o prazer (pela instituição) surge quando há condições de manifestar potencial para o sentimento, para a liberdade e abertura internas, para a expressão de si mesmo, para poder (e querer) fazer aquilo de que é capaz e para estabelecer relações satisfatórias com os outros e com a sociedade.

Assim, contribuiremos para a manifestação desses sentimentos através das vivências e das atividades grupais propostas ao longo do desenvolvimento do trabalho.

BIBLIOGRAFIA

BION, W. R. Experiências com grupos . São Paulo: Edusp, 1975.

GONÇALVES, A. M.; PERPÉTUO, S. C. Dinâmica de grupos na formação de lideranças. Rio de Janeiro: DP&A editora- 6ª edição, 2001.

GREENE, J. R. Administração do trabalho policial: questões e análises. São Paulo: Edusp, 2002.

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. In: www.polmil.sp.gov.br acessado em 27 de maio de 2006.

JALOWITZKI, M. Jogos e técnicas vivenciais nas empresas: guia prático de dinâmica de grupo. São Paulo: Madras Editora, 2001.

LAPLANCHE, J, PONTALIS, J. Vocabulário da psicanálise. 4º ed.- São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MILITÃO, A. & MILITÂO, R. Jogos, dinâmicas & vivências grupais. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 2000.

PIVA, L. Trabalho e sofrimento psíquico: Um Estudo com Policiais Militares. Assis: UNESP, 2004.

Referências

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