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Palavras-chave: práticas educativas; formação docente; prevenção às drogas; representações sociais.

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DE DROGAS ENTRE ALUNAS DO CURSO DE PEDAGOGIA

Luci Mara Bertoni Andressa Mendes da Silva Dias Antonio Xavier da Silva Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Resumo

Diante das diversas temáticas que circundam o universo escolar trazemos, para reflexão, a importância de situar a discussão das representações e do consumo de drogas entre as alunas do Curso de Pedagogia com o objetivo de destacar a influência da formação de professores para atuação posterior em projetos de prevenção ao uso de drogas nas escolas. Tendo como pano de fundo as premissas da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 2005), busca-se investigar o conceito e a incidência do consumo de drogas por estas discentes, ao mesmo tempo, que tenta desmistificar a docência como vocação e que as alunas não usam drogas. Por esta pesquisa, podem-se apreender as diversas representações que se tem de que o exercício do Magistério ainda está ligado à vocação materna do cuidado e de que as mulheres (professoras ou estudantes de Pedagogia) não fazem uso de substâncias psicoativas. Duas representações tão usuais e que trazem em comum uma carga de conceitos e de preconceitos que nos fazem repensar o que é a profissão docente e qual impacto social do uso abusivo das drogas, e como faltam políticas efetivas de prevenção nas escolas e na sociedade. A pesquisa ainda aponta para as premissas que são consideradas drogas apenas as substâncias ilícitas, quando há estudos e comprovações que a legalidade das drogas não está determinada pelos danos que podem provocar à saúde dos usuários. Importante salientar que mesmo sendo um problema social, o uso/abuso de drogas está presente no cotidiano escolar, portanto busca-se aqui repensar o papel da escola em ações educativas de prevenção e da própria formação docente para lidar com estas questões tão complexas e atuais.

Palavras-chave: práticas educativas; formação docente; prevenção às drogas; representações sociais.

Considerando que a problemática social do uso/abuso de drogas é tema atual e preocupante em muitas de nossas escolas, realizamos esta pesquisa com o intuito de se levantar a discussão sobre a importância deste na formação inicial e continuada de professores e refletir sobre quais ações educativas poderão ser desenvolvidas no âmbito escolar visando derrubar preconceitos e encarar honestamente esta problemática.

Partindo das premissas da Teoria das Representações Sociais (RS) de Moscovici (2005), buscamos entender como socialmente é reconhecida a profissão docente, quais os conceitos que as professoras em formação inicial têm sobre as drogas e quais suas experiências com relação ao seu uso. Por se tratar de um assunto

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tão relevante, apontamos algumas reflexões sobre as práticas educativas que podem estar presentes no cotidiano escolar como subsídios para políticas efetivas de prevenção ao uso/abuso dessas substâncias.

Com relação às RS, Sá (2004) afirma que há três décadas começou a se refletir sobre o termo, na França. Nos primeiros dez anos, a teoria de Moscovici não foi bem aceita pela comunidade científica mas, na metade do percurso, trabalhos foram sendo publicados na área e na última década os discursos foram mais fortemente aprofundados, passou por críticas que tornaram o campo de estudo mais produtivo.

As RS foram, primeiramente, pensadas pelo psicólogo social Sèrge Moscovici, que toma por base a sociologia dos conhecimentos para elaborar outro campo epistemológico que seria a psicossociologia. Não pensou somente na criação de uma nova área, mas no “processo de renovação temática teórica e metodológica da psicologia social” (SÁ, 2004, p. 20). É relevante salientar que a psicossociologia da qual Moscovici faz parte, diverge das teorias psicossociológicas dos norte-americanos, pois “tal perspectiva simplesmente não se mostra capaz de dar conta das relações informais, cotidianas, da vida humana, em um nível mais propriamente social ou coletivo” (SÁ, 2004, p.20).

Os mais variados temas que são discutidos no cotidiano, passaram a ser considerados por Moscovici como “verdadeiras „teorias‟ do senso comum, „ciências coletivas‟ sui generis pelas quais se procede à interpretação e mesmo a construção das realidades sociais”. As RS são expressas mais frequentemente nos encontros casuais onde as pessoas se comunicam informalmente e revelam suas opiniões sobre assuntos recorrentes no meio em que estão envolvidos (MOSCOVICI, 1979 apud SÁ 2004, p.26). No entanto, não se tratam de opiniões vagas e sem sentido, mas

fazem uma articulação ou combinação de diferentes questões ou objetos, segundo uma lógica própria, em uma estrutura globalizante de implicações, para a qual contribuem informações e julgamentos valorativos colhidos nas mais variadas fontes e experiências pessoais e grupais (SÁ, 2004, p. 26).

Leme (2004, p.48), com base em Moscovici, sustenta que é da pesquisa científica que são remontados conceitos, objetos e análises que os sujeitos fazem do dia a dia, pelo fato de não terem acesso direto a esses conhecimentos que não acompanham

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o cotidiano. “O ato de representar não deve ser encarado como processo passivo, reflexo na consciência de um objeto ou conjunto de idéias, mas um processo ativo, como reconstrução do dado em um contexto de valores, reações, regras e associações”. A autora observa que as representações não podem ser consideradas como opiniões supérfluas, mas como “teorias” de organização da realidade e que são internalizadas.

Sá (2004) nos leva a pensar sobre a gênese da compreensão que tem os sujeitos sobre diferentes assuntos do cotidiano que são tão seguramente explicados. O autor revela que as origens das RS acontecem quando pessoas pensam sobre determinado fato simultaneamente, assim que manifestados e exteriorizados por meio das conversas informais. É um argumento da teoria psicossociológica que difere do antagonismo da sociologia e da psicologia, porque compreende que:

Os indivíduos não são apenas processadores de informações, nem meros “portadores” de ideologia ou crenças coletivas, mas pensadores ativos que mediante inumeráveis episódios cotidianos de interação social, “produzem e comunicam incessantemente suas próprias representações e soluções específicas para as questões que se colocam a si mesmos”. (MOSCOVICI, 1984 apud SÁ, 2004, p. 28).

Sá (2004, p. 28) reitera que, para Moscovici, o trecho supracitado não possui aplicabilidade em todos os modos de conhecimento de uma sociedade, mas acrescenta duas classes que se diferem: “os universos consensuais” e os “universos reificados”. Os primeiros estão relacionados às “atividades intelectuais da interação social cotidiana pelas quais são produzidas as representações sociais”, e os segundos se referem à origem e à divulgação dos conhecimentos cientificamente comprovados. Dentro da classe de “universos consensuais” está a “lógica natural” provinda das “teorias” do senso comum e não possuem limites.

Neste sentido, dentre as inúmeras representações que se tem acerca do Magistério, a que destacamos aqui é que por ser uma profissão prevalentemente feminina, tem-se a impressão que o curso tem uma vocação materna para se relacionar e cuidar da criança. No mesmo sentido que para muitos há a dificuldade de aceitação de que as mães possam ser usuárias ou dependentes de quaisquer tipos de drogas, a mesma tônica é dada à professora, o que tem colaborado para a mistificação de que as alunas do Curso de Pedagogia estão isentas de qualquer envolvimento ou uso de substâncias psicoativas.

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Segundo Lapate (2001), droga se caracteriza como sendo qualquer substância, sintética ou natural que introduzida no organismo humano, altera as funções do sistema nervoso central. As drogas podem ser classificadas como depressoras (álcool, ansiolíticos, inalantes ou solventes, ópio, calmantes e sedativos), estimulantes (cocaína, crack, anfetaminas, tabaco, esteroides anabolizantes) ou perturbadoras (maconha, esctasy, LSD).

Tendo em vista que o senso comum considera como drogas apenas aquelas substâncias proibidas, de uso ilegal, por se saber que são capazes de causar dependência, de modificar as funções, as sensações, o humor e o comportamento do indivíduo, aqui é importante lembrar que as drogas consideradas legais também podem causar os mesmos danos ao usuário. De acordo Lorencini Jr. (1998), para se classificar uma droga como lícita ou ilícita, não se deve levar em consideração apenas os aspectos psicológicos dos usuários ou as propriedades químicas das drogas. Deve-se, também, considerar o contexto sociocultural e histórico de cada sociedade, pois, uma droga pode ser legal em um país e ser proibida em outro. Por isso é importante frisar que a legalidade ou não de uma droga está mais relacionada a fatores políticos e sociais do que aos efeitos que pode proporcionar.

A primeira compreensão que pretendemos é verificar o que as alunas entendem por drogas e consequentemente como se relacionam com este conceito ao afirmarem ou negarem que já utilizaram alguma dessas substâncias.

Assim, devido à confusão que se faz entre a legalidade e a ação da droga é que aplicamos um questionário com 22 questões a 100 alunas do Curso de Pedagogia para verificarmos se há prevalência desta compreensão e se há o consumo de tais substâncias entre elas. A pesquisa é de cunho qualitativo e ainda está em andamento. Portanto, apresentamos aqui os dados parciais analisados até o momento.

Ao questionarmos sobre a experimentação da droga, 52% afirmou nunca ter experimentado. Porém, na questão onde foram marcadas mais de uma alternativa, quando perguntado se as alunas já fizeram ou fazem uso de drogas, como cerveja, vinho, cigarro, maconha, ecstasy, calmante, antidepressivo, 61% faz ou fez uso de cerveja, 77% de vinho, 15% de cigarro, 6% de maconha, 1% de ecstasy, 12% de calmante, 6% de antidepressivo e 14% respondeu que nunca fez uso de drogas.

É importante ressaltar que há uma incoerência nas respostas quando 52% declarou nunca ter experimentado algum tipo de droga, na outra questão, apenas 14%

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respondeu que não fez ou não faz uso de tais substâncias. Há aqui indícios de que a representação da droga pode girar em torno de se conceber que é substância ilícita quando na verdade, como já consideramos é toda e qualquer substância, natural ou sintética que introduzida no organismo humano, modifica as funções do sistema nervoso central.

Em contradição com estes dados, 63% das alunas usaram algum tipo de bebida alcoólica no último ano. No Brasil, o álcool é uma droga lícita e o seu uso é socialmente estimulado e as alunas do Curso de Pedagogia, como mostram os dados, não estão de fora desse incentivo. Sabe-se também, que o consumo de álcool sempre esteve presente na cultura humana, segundo Lapate (2001, p. 100), “o álcool é a mais antiga e a mais usada droga psicoativa conhecida pela humanidade, sendo tolerada na maioria das culturas, por ser um hábito social, que acompanha o homem há milênios”. Assim, existem bebidas alcoólicas, que estão presentes na cultura humana há milhões de anos, como é o caso da cerveja e do vinho. Em nosso país, o consumo destas substâncias é legalizado apenas para os maiores de 18 anos (BRASIL, 1990).

Nas respostas das discentes, nota-se que 56% experimentou bebidas alcoólicas antes dos 18 anos de idade (entre 7 e 17 anos). Embora os facilitadores tenham sido os familiares e os(as) amigos(as), não podemos desconsiderar que este é o período que todas frequentavam a escola da Educação Básica. Com relação a esta última, é possível se pensar em formas de atuação nos processos de prevenção, entendendo a prevenção em três níveis: primário – antes que os problemas apareçam; secundário – quando já existe o problema, e terciário – quando a pessoa já apresenta alguns traços de possível dependência ou a dependência (FEBRACT, 1998).

Ainda sobre a prevenção, o que temos constatado nas escolas é que a maioria de suas ações está voltada para a prevenção secundária e terciária (BERTONI, 2011). O que propomos é a viabilização de projetos que perpassem pela discussão da prevenção primária. Porém, não é possível se falar do que não se conhece. Neste sentido, as práticas educativas relacionadas à prevenção ao uso abusivo de drogas deveriam estar presentes em cursos de formação inicial e continuada de professores. Considerando que,

a implementação de uma educação preventiva contra as drogas requer um eficiente planejamento de atividades a serem desenvolvidas. Assim, para que essas atividades possam ser desenvolvidas a contento, a escola deve previamente atingir alguma metas, tais como: repensar o programa de conteúdos e objetivos das disciplinas, de modo que o

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problema das drogas seja contemplado; conhecer o grau de disseminação das drogas entre os alunos; possuir materiais didáticos como livros e vídeos especializados e atualizados sobre o tema, e, ainda, conseguir aglutinar alunos, pais, discussão da temática. (LORENCINI JR, 1998, p. 41).

Mesmo que a escola não consiga incluir, em suas práticas, a prevenção ao uso de drogas, há ações educativas que podem ser realizadas a qualquer tempo e por todos nós. Neste sentido, Albertini (1998, p. 55) recomenda que a escola “deve estar atenta para não contribuir com qualquer forma de rotulação, discriminação ou marginalização do usuário, eventual ou assíduo, de drogas”.

Um programa de prevenção como prática educativa deve levar em consideração outros aspectos além das informações sobre a composição ou efeitos das drogas pois muitos adolescentes e jovens têm essas informações mais detalhadas do que seus pais e professores.

Como toda ação educativa precisa ser muito bem planejada.

Assim, um projeto de prevenção ao uso de drogas, além de garantir que os alunos recebam informações corretas e não preconceituosas, deve contemplar a vertente emocional da questão. Nesse sentido, deve acolher a inquietação própria dos adolescentes, sem abrir mão de estabelecer limites claros e não arbitrários. Para tanto, é essencial a abertura de diferentes canais de participação dos alunos em múltiplas atividades artísticas e esportivas,desenvolvidas ou propiciadas pela escola. (ARATANGY, 1998, p. 15)

Ignorar ou negar que este problema existe no cotidiano escolar, definitivamente não ajudará a resolvê-lo. Por outro lado, temos consciência que este não é um problema restrito ao ambiente escolar, mas que tem raízes sociais mais profundas. Neste sentido, a escola não é a única responsável por ações no intuito de realizar a prevenção em qualquer nível. Mas poderá contribuir levando a discussão para os cursos de formação de professores e por meio de ações intencionais com o intuito de desmistificar que o dependente pode ser qualquer um de nós, inclusive as professoras, e que o Magistério é uma profissão exercida por pessoas que necessitam estar munidas dos mais diversos conhecimentos, entendendo que a formação do indivíduo está para além do domínio das letras e dos números.

As representações que temos com relação ao consumo de drogas entre as alunas do Curso de Pedagogia podem nos dar pistas de como podemos repensar as práticas educativas em todos os níveis de ensino e nos empenharmos em realizar ações que

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favoreçam o diálogo verdadeiro, dando-nos condições de opções livres, porém com as devidas informações. Constatar seu uso por parte das discentes não desmerece o curso, muito menos a profissão docente, apenas acena para a importância de não negligenciarmos a questão e dar-lhe o devido tratamento. É preciso estar atento PR o fato de que repensar o papel da escola implica na mudança do nosso pensamento em relação à própria formação de professores, inclusive no tocante à prevenção ao uso/abuso de drogas lícitas ou ilícitas.

Referências

ALBERTINI, Paulo. Drogas: mal-estar e prazer. In: AQUINO, Julio Groppa. (org). Drogas na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.

ARATANGY, Lídia Rosenberg. O desafio da prevenção. In: AQUINO, Julio Groppa. (org). Drogas na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.

BERTONI, Luci Mara. Campanhas educativas de prevenção às drogas: um mapeamento do Ensino Fundamental e Médio em Vitória da Conquista. Anais... IX Colóquio Nacional e II Colóquio Internacional do Museu Pedagógico. Vitória da Conquista - BA, 2011.

BRASIL. Lei Federal n.8069, 13 de julho de 1990. Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Brasília, 1990.

FEBRACT. Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Drogas: prevenção. Manual da Febract. Campinas: 1998.

LAPATE, Vagner. Hora Zero: a independência das drogas – antes que os problemas cheguem. São Paulo: Scortecci, 2001.

LEME. Maria Alice Vanzoline da Silva. O impacto da teoria das representações sociais. In: SPINK, Mary Jane (org). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. SP: brasiliense, 2004.

LORENCINI JR, Álvaro. Enfoque contextual das drogas: aspectos biológicos, culturais e educacionais. In: AQUINO, Julio Groppa. (org). Drogas na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.

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MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

SÁ, Celso Pereira de. Representações sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: SPINK, Mary Jane (org). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. SP: brasiliense, 2004.

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