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Teresa Cristina dos Santos Akil de Oliveira. OS BEZERROS DE ARÃO E JEROBOÃO: Uma verificação da relação intertextual entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33

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Teresa Cristina dos Santos Akil de Oliveira

OS BEZERROS DE ARÃO E JEROBOÃO:

Uma verificação da relação intertextual entre

Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33

Tese de Doutorado Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Teologia da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Teologia. Orientadora: Maria de Lourdes Correa Lima

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Teresa Cristina dos Santos Akil de Oliveira

OS BEZERROS DE ARÃO E JEROBOÃO:

Uma verificação da relação intertextual entre

Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo programa de Pós-graduação em Teologia do Departamento de Teologia do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Profa. Maria de Lourdes Corrêa Lima Orientadora Departamento de Teologia – PUC – Rio Prof. Isidoro Mazzarolo Departamento de Teologia – PUC – Rio Prof. Leonardo Agostini Fernandes Departamento de Teologia – PUC – Rio Prof. Vicente Artuso Departamento de Teologia – PUC – PR Profa. Maria de Lourdes Santos Souza Instituto Teológico Arquidiocesano Santo Antônio Prof. Paulo Fernando Carneiro de Andrade Coordenador Setorial de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro de Teologia e Ciências Humanas – PUC-Rio Rio de Janeiro, março de 2010

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador.

Teresa Cristina dos Santos Akil de Oliveira

Graduou-se em Comunicação Social (Universidade Estácio de Sá, 1993) e em Teologia (Seminário Teológico Peniel, 2003 – Convalidação pela Faculdade Teológica Batista do Paraná, 2008). Pós-graduada em Marketing (ESPM, 1994). Mestre em Teologia Bíblica (Faculdade Batista do Rio de Janeiro, 2005). Leciona na Faculdade Batista do Rio de Janeiro e na Faculdade de Teologia Wittemberg. Tem quatro livros publicados: Caminhando com o Povo de Deus - A

História de Israel no Antigo Testamento (MK Editora, 2008),

Hebraico Prático (Quártica Editora, 2006), O Que é Bíblia (MK Editora, 2005) e Noções Básicas de Hebraico Bíblico (Editora Hagnos, 2008, 4ed.). É redatora da Revista Atitude, publicação da JUERP (Junta de Educação Religiosa de Publicação da Convenção Batista Brasileira), destinada à instrução religiosa de jovens entre 18 e 35.

Ficha Catalográfica Oliveira, Teresa Cristina dos Santos Akil de

Os Bezerros de Arão e Jeroboão: Uma verificação da relação intertextual entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 / Teresa Cristina dos Santos Akil de Oliveira; Orientadora: Maria de Lourdes Correa Lima - 2010.

161f.;30 cm

1. Tese (Doutorado em Teologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

Inclui Bibliografia.

1. Teologia – Teses. 2. Bezerro de ouro. 3. Intertextualidade. 4. Análise narrativa. 5. Ex 32,1-6. 6. Rs 12,26-33. 7. Arão. 8. Jeroboão. I. Lima, Maria de Lourdes Correa. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Teologia. III. Título. CDD 200

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Ao meu esposo, Emersen, com todo amor que há nesta vida.

Ao professor Manuel Bouzon, com eternas saudades.

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Agradecimentos

A Deus, pela iluminação.

À minha orientadora, Profª. Dra. Maria de Lourdes Correa Lima, pela atenção e incansável dedicação durante toda realização deste trabalho.

Aos meus pais, pela educação, atenção e carinho de todas as horas.

A todos os professores e professoras do Departamento de Teologia da PUC-Rio. Aos colegas, com os quais dividi a pesquisa e o crescimento acadêmico adquirido. À Vice-reitoria Acadêmica da PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado.

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Resumo

OLIVEIRA, Teresa Cristina dos Santos Akil de. Os bezerros de Arão e

Jeroboão: Uma verificação da relação intertextual entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33. Rio de Janeiro, 2010. 161p. Tese de Doutorado - Departamento de

Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Os bezerros de Arão e Jeroboão: Uma verificação da relação intertextual entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 tem por objetivo tanto verificar a existência das várias relações intertextuais entre as passagens de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 quanto apresentar e demonstrar como se manifesta essa intertextualidade. Esta tese faz uso do método sincrônico da análise narrativa. A necessidade de trabalhar com o método sincrônico da análise narrativa existe porque a verificação, a apresentação e a demonstração das relações intertextuais precisam considerar o texto na sua forma final. Este trabalho visar contribuir para o estudo das relações intertextuais aplicadas aos textos bíblicos tanto propondo uma clara conceituação de intertextualidade quanto apresentando os critérios de classificação de suas manifestações, bem como deseja verificar que existem relações intertextuais específicas entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 e ampliar o horizonte dessas relações intertextuais a todos os versos dos textos de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33.

Palavras-Chave

Bezerro de ouro, intertextualidade, análise narrativa, Ex 32,1-6, Rs 12,26-33, Arão e Jeroboão.

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Abstract

OLIVEIRA, Teresa Cristina dos Santos Akil de. Aaron’s and Jeroboam’s

Calves: An Intertextuality Verification Analyzing Exodus 32, 1-6 and I Kings 12,26-33. Rio de Janeiro, 2010. 161p. Doctorial Thesis - Department of Teology,

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Aaron’s and Jeroboam’s Calves: An Intertextuality Verification Analyzing Exodus 32,1-6 and I Kings 12,26-33 has the purpose not only to verify the existence of a broad intertextuality relations between Exodus 32,1-6 and I Kings 12,26-33 but also to present and demonstrate how this intertextuality relation occurs. This thesis is based using the synchronic method of narrative analysis. The reason to use narrative analysis is because the verification in how the text is presented and demonstrated has to consider the text itself in its final form. This work is focused to shad light in the study of intertextuality relations to or deriving meaning applied to the biblical texts not only proposing a clear concept and thesis but also to present the criteria of classification and manifestation as well. Verifying that there are interrelationships in both texts between Exodus 32,1-6 and I Kings 12,26-33 and to broaden the perspective in these intertextuality to every single verses in Exodus 32,1-6 and I Kings 12,26-33.

Keywords:

Golden Calf, intertextuality, narrative analysis, Exodus 32,1-6 and I Kings 12,26-33, Aaron, Jeroboam.

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Sintesi

I vitelli di Aronne e Geroboamo: Una verifica del rapporto intertestuale tra Es 32, 1-6 e 1 Re 12,26-33. Rio de Janeiro, 2010. 161p. Tesi di Dottorato -

Dipartimento di Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

I vitelli di Aronne e Geroboamo: Una verifica del rapporto intertestuale tra Es 32, 1-6 e 1 Re 12,26-33 ha come oggetto tanto verificare l’esistenza dei vari rapporti intertestuali tra i passaggi di Es 32,1-6 e 1 Re 12,26-33 quanto presentare e dimostrare come si manisfesta questa intertestualità. Questa tesi usa il metodo sincronico dell’analise narrativa. La necessità di lavorare con il metodo sincronico dell’analise esiste perché la verifica, la presentazione e la dimostrazione dei rapporti intertestuali hanno bisogno di considerare il testo nella sua forma finale. Questo lavoro si rivolge a contribuire con lo studio dei rapporti intertestuali applicati ai testi biblichi tanto al proporre un chiaro concetto di intertestualità quanto al presentare i criteri di classificazione delle sue manifestazioni cosí come desidera verificare che ci sono rapporti intertestuali specifichi tra Es 32, 1-6 e Re 12,26-33 e ampliare l’orizzonte di questi rapporti intertestuali a tutti i versi dei testi di Es 32,1-6 e 1 Re 12,26-33.

Parola chiave:

Vitello di oro, intertestualità, analise narrativa, Es 32,1-6, 1 Re 12,26-33, Aronne e Geroboamo

.

(10)

Sumário

1. Introdução 15

2. A intertextualidade na teoria literária e nos estudos bíblicos 21

2.1 O conceito de intertextualidade 21

2.1.1 A definição de intertextualidade 21

2.1.2 As formas e os graus de intertextualidade 23

2.1.3 As manifestações da intertextualidade 26

2.1.3.1 As manifestações explícitas da intertextualidade 26

2.1.3.2 As manifestações implícitas da intertextualidade 28

2.2. A Intertextualidade e o Antigo Testamento 33

2.2.1 O conceito de intertextualidade entre os estudiosos do AT 33 2.2.2. A aplicação da intertextualidade entre os estudiosos do AT 37

2.2.2.1 A partir de elementos inerentes à textualidade 38

2.2.2.1.1 Análise com suporte exegético 38

2.2.2.1.2 Análise sem suporte exegético 41

2.2.2.2 A partir do deslocamento, descentralização, dispersão e

disseminação 43

2.2.2.3 A partir de cenas-tipo 44

2.2.2.4 A partir da textualidade, da cultura e da interpretação 45 2.2.2.5 A partir das formas de manifestação da intertextualidade 46

2.3 Síntese e Perspectivas 47

3. A análise do texto de Êxodo 32,1-6 48

3.1 A tradução do texto e notas de crítica textual 48

3.2 A localização do texto no contexto 51

3.3 A delimitação, unidade e redação do texto 53

3.4 A estrutura interna de Ex 32,1-6 58

(11)

3.5.1 Cena 1: Exposição 64

3.5.2 Cena 2: Momento Estimulante 66

3.5.3 Cena 3: Complicação 69

3.5.4 Cena 4: Clímax 72

3.5.5 Cena 5: Ponto de Virada 80

3.5.6 Cena 6: Conclusão 82

3.6 Síntese e Perspectivas 84

4. A análise do texto de 1 Reis 12,26-33 86

4.1 A tradução do texto e notas de crítica textual 86

4.2 A localização do texto no contexto 90

4.3 A delimitação, unidade e redação do texto 91

4.4 A estrutura interna de 1 Re 12,26-33 93

4.5 A semântica do texto 95

4.5.1 Cena 1: Exposição 95

4.5.2 Cena 2: Momento Estimulante 96

4.5.3 Cena 3: Complicação 99

4.5.4 Cena 4: Clímax 103

4.5.5 Cena 5: Ponto de Virada 104

4.5.6 Cena 6: Conclusão 111

4.6 Síntese e Perspectivas 113

5. As relações intertextuais entre Ex 32,1-6 e 1 Re 12,26-33 115

5.1. A estrutura narrativa comum 115

5.2. Análise da estrutura narrativa comum 116

5.2.1. A - Introdução: Medo de não manter a liderança do povo

(Ex 32,1 e 1 Rs 12,26-27) 116

5.2.2. B - Confecção do Bezerro (Ex 32,2-4c e 1 Rs 12,28a) 120 5.2.3. B’ - Exaltação ao Bezerro (Ex 32,4de e 1 Rs 12,28b) 123 5.2.4. B’’ - Adoração ao Bezerro (Ex 32,5a e 1 Rs 12,29-31) 126 5.2.5. A’ - Conclusão: Festividade de Celebração com o povo

(12)

(Ex 32,5d-6 e 1 Rs 12,32-33) 128

5.3. O texto base da intertextualidade 132

5.4. A função da intertextualidade 137

6. Conclusão 138

(13)

Lista de Abreviaturas

a.C. Antes de Cristo

Ag Ageu

Am Amós

AUSS Andrews University Seminary Studies AT Antigo Testamento

BN Biblische Notizen

BHS Bíblia Hebraica Stuttgartensia CBQ Catholic Biblical Quarterly Cf. Confira Cr Crônicas Bib Bíblica Dn Daniel Dt Deuteronômio Ec Eclesiastes EstBíb Estúdios Bíblicos ExT Expository Times Et Ester

Ex Êxodo

Ez Ezequiel Gn Gênesis

HTS Harvard Theological Studies HUCA Hebrew Union College Annual Int Interpretation

Is Isaías Jn Jonas Jr Jeremias Js Josué

JBQ Jewish Bible Quarterly

(14)

JBL Journal of Biblical Literature JHS Journal of Hebrew Scriptures JSJ Journal for the Study of Judaism

JSNT Journal for the Study of the New Testament JSOT Journal for the Study of the Old Testament

JNTSSA Journal of the New Testament Society of South Africa Jz Juízes

Lm Lamentações LuF Lutheran Forum Lv Levítico LXX Septuaginta Ml Malaquias Mq Miquéias Mt Mateus n. Número Na Naum Ne Neemias Nm Números Ob Obadias

OHD Obra Histórica Deuteronomista OTE Old Testament Essays

Os Oséias

p. Página

pp. Páginas

Rs Reis

ReE Review & Expositor s.d.p. Sem Data de Publicação

Sem Semeia - Intertextuality and The Bible Sf Sofonias

SJOT Scandinavian Journal of the Old Testament

(15)

TET The Expository Times

v. Verso

vol. Volume

VetE Verbum et Ecclesia VT Vetus Testamentum

WTJ Westminster Theological Journal

ZAW Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft Zc Zacarias

(16)

1

Introdução

1. Delimitação do tema

Esta tese tem por temática a verificação, apresentação e demonstração da relação intertextual entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33, duas passagens do Antigo Testamento que abordam o culto ao bezerro de ouro.

2. Abordagem do tema

A pesquisa é consequência de um estudo inicial sobre a relação de simetria existente entre os textos bíblicos, e, posteriormente, sobre a relação intertextual aplicada à Bíblia.

Nesse estudo sobre a intertextualidade aplicada aos textos bíblicos, a passagem de 1 Rs 12,26-33 chamou atenção por sua semelhança, a princípio temática, com Ex 32,1-6.1 Enquanto o texto de 1 Rs 12,26-33 narra que, logo após o cisma monárquico israelita e a ascensão de Jeroboão ao trono, este, por medo de ter seus compatriotas descendo à Judá para participar de festas em Jerusalém, resolve instituir o culto ao bezerro de ouro, colocando um bezerro em Dã e Betel, chamando o povo para adorar os “deuses que os fizeram subir da terra do Egito” numa cerimônia festiva, com sacrifícios e danças, o texto de Ex 32,1-6 narra que, após 40 dias da subida de Moisés ao topo do Sinai, o povo se impacienta com a demora, achando, inclusive, que Moises houvesse morrido, e pede que Arão lhes faça uma divindade que os guie pelo deserto. A fim de acalmar os ânimos, Arão manda que sejam recolhidas as jóias do povo e

1 Cf. ALBERTZ, Rainer. Historia de la Religión de Israel en Tiempos del Antiguo Testamento – De los Comiezos Hasta el Final de la Monarquia , vol. 1. Madrid: Editorial Trotta, 1999, p.258; DONNER, Herbert. A História de Israel e dos Povos Vizinhos, vol. 2. Petrópolis: Vozes, 1997, p.282-283; PFEIFFER, Charles F. The Divided Kingdon. Michigan: Backer Book House, 1967, p.17-18; SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p.166; MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p.335-347; PIXLEY, Jorge. A História de Israel a partir dos Pobres. Petrópolis: Vozes, 2002, p.39; PIXLEY, Jorge. Êxodo. São Paulo: Paulinas, 1987, p.165.

(17)

molda um bezerro de ouro. Com o bezerro pronto, o povo passa a adorar “os deuses que os fizeram subir da terra do Egito” em uma cerimônia festiva, com muito riso e dança.

O interesse pela relação intertextual entre as passagens cresceu na medida em que se constatou que:

a) Os estudiosos de Êxodo e Reis atestam tanto a existência de similaridades superficiais quanto elaboradas entre os textos, sendo apenas uma similaridade superficial apontada entre as passagens: a mesma frase para caracterizar o bezerro como o libertador de Israel – “Eis aqui, ó Israel, os teus deuses, que te fizeram subir da terra do Egito” (Ex 32,4 e 1 Rs 12,28).2 Quanto às similaridades elaboradas, destacam-se as apontadas por Aberbach e Smolar: (1) Tanto Arão como Jeroboão fizeram bezerros de ouro por vontade de outras pessoas: Arão, atendendo a um clamor popular e Jeroboão, atendendo aos seus conselheiros; (2) Tanto Arão como Jeroboão construíram um altar para o bezerro (Arão, aos pés do Sinai, e Jeroboão, em Betel e Dã); (3) Arão e Jeroboão exerceram função sacerdotal oferecendo sacrifícios aos seus respectivos bezerros (cf. Ex 32,6 e 1 Rs 12,32); (4) Ambos os episódios são considerados apóstatas, idólatras ou condenados na literatura bíblica.3

2

Cf. em PFEIFFER, Robert. Images of Yahweh. JBL, n.40, 1926, p.215-216; NOTH, Martin. Exodus – Commentary. London: SCM Press, 1962, p.246-248; HYATT, J. Philip. Commentary on Exodus. Vanderbilt: Oliphants, 1971, p.301-303; CASSUTO, U. A Commentary on the Book of Exodus. Jerusalem: Magnes – Hebrew University, 1974, p.408-409; CHILDS, Brevard S. The Book of Exodus – A Critical, Theological Commentary. Philadelphia: The Westminster Press, 1974, p.559-560 e DURHAM, John I. Word Biblical Commentary - Vol. 3 – Exodus. Texas: Word Books, 1987, p.420-421; TORRALBA, Juán Guillén. Comentário ao Antigo Testamento – Tomo I. São Paulo: Ave Maria, 2002, p.169; KEIL, C.F. e DELITZSCH, F. Biblical Commentary on the Old Testament – The books of the kings. Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co, 1950, p.198; MONTGOMERY, James A. A Critical and Exegetical Commentary on The Books of Kings. Edinburgh: T&T Clark, 1960, p.255; NOTH, Martin. The History of Israel. London: Adam & Charles Black, 1960, p. 232; GRAY, John. I & II Kings – A commentary. London: SCM Press, 1964, p.291; HERRMANN, Siegfried. A History of Israel in Old Testament Times. Philadelphia: Fortress Press, 1973, p.194-195; JONES, Gwilym. New

Century Bible Commentary – 1 e 2 Kings, vol. 1. Michigan: WM.B. Eerdmans Publishing Co., 1984,

p.259; ASURMENDI RUIZ, Jesús María. En Torno del Becerro de Oro. Estúdios Bíblicos, vol. XLVIII, cad. 3, Madrid, 1990, p.293-297; ALBERTZ, Rainer. Historia de la Religión de Israel en Tiempos del Antiguo Testamento – De los Comiezos Hasta el Final de la Monarquia – vol. 1. Madrid: Editorial Trotta, 1992, p.269-270; PROVAN, Ian W. New International Biblical Commentary – 1 and 2 Kings. Massachusetts: Hendrickson Publishers: 1995, p. 110; PAKKALA, Juha. Jeroboam’s Sin and Bethel in 1 Kings 12,25-33. BN, n.112, 2002, p.86.

3 ABERBACH, Moses & SMOLAR, Leivy. Aron, Jeroboam and the Golden Calves. JBL, vol. 86, n. 2, 1967, pp. 129-134. Nesse artigo, os autores apresentam outras semelhanças entre Ex 32,7-34,28 e 1 Rs 13-14: (1) Os levitas aparecem relacionados aos bezerros (em Ex 32,26-29 eles funcionam como oponentes e em 1 Rs 12,31 e 13,33 são colocados como ministros do bezerro); (2) Apesar de tanto

(18)

b) Apesar das similaridades superficiais e elaboradas já apontadas acima, podem ser notadas outras semelhanças existentes na superfície dos textos, como outros paralelos temáticos, além de novas similaridades léxicas, de personagens e de motivos teológicos que ainda não foram apresentadas pelos comentaristas.

c) A maior parte da bibliografia atualmente disponível sobre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 tem um enfoque devocional e pastoral,4 sendo que muitas publicações

apresentam apenas breves comentários sobre os textos. Destaca-se que as obras pontuam uma mesma teologia: ambos são textos que tratam de uma apostasia religiosa.

Diante disso, a relevância deste trabalho e do seu tema encontra-se tanto ligada ao campo da teoria literária quanto à área teológica, pois:

Arão como Jeroboão terem feito coisas nefastas aos olhos de YHWH, ambos tiveram mortes naturais e serenas (cf. Nm 33,38 e 1 Rs 14,20); (3) Em ambos os episódios, interseções foram feitas em favor dos “pecadores” (cf. Ex 32,11; Dt 9,20 e 1 Rs 13,6); (7) Existe uma conexão verbal entre a destruição dos altares de Jeroboão (cf. 1 Rs 13,2) e a “purificação” feita pelos Levitas (cf. Ex 32,26-29); (4) A mesma forma de destruição acometeu o bezerro feito por Arão (cf. Ex 32,20) e os altares de Jeroboão em Betel e Dã (cf. 2 Rs 23,15): todos foram queimados e o solo virou uma fina poeira; (5) YHWH a mesma punição é dada aos adoradores do bezerro e a Jeroboão (cf. Ex 32,35 e 2 Cr 13,20); (10) Os filhos de Arão e Jeroboão têm os mesmos nomes: Nadab e Abihu (cf. Ex 6,23; Nm 3,2; 26,60; 1 Rs 14,1.20 e 15,25); (6) Os filhos de Arão e Jeroboão tiveram as mesmas mortes, que serviram para glória de YHWH (cf. 1 Rs 14,3).

4

Cf em: BEERS, V. Gilbert. The Book of Life Volume 3: Exodus from Bondage. Moses Leads His People out of Egypt. Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing Company, 1980; GRISHAVER, Joel Lurie. Bible People Book Two: Exodus to Deuteronomy. New Jersey: ARE Publishing, 1990; RALPH, Margaret Nutting. Discovering Old Testament Origins: The Books of Genesis, Exodus and Samuel. New York and Mahwah: Paulist Press, 1992; BINZ, Stephen J. The God of Freedom and Life: A

Commentary on the Book of Exodus. Collegeville: Liturgical Press, 1993; TRENCHARD, Ernesto H.

El Libro de Exodo. Madrid: Editorial Portavoz, 1994; ASHBY, Godfrey. Go Out and Meet God: A Commentary on the Book of Exodus. Michigan: Eerdmans Pub. Co, 1998; SCHOVILLE, Keith. Exodus and Leviticus (Genesis to Revelation Book 2). Nashville: Abingdon Press, 1998; GROSSMAN, David. The Second Book of Moses, Called Exodus: Authorized King James Version. New York: Grove Press, 1999; ORTBERG, John; HARNEY, Kevin; HARNEY, Sherry. Exodus: Journey Toward God. Michigan: Zondervan Publishing House, 1999; REAPSOME, James. Exodus. Illinois: Inter Varsiti Press, 2000; STEINBERG, Joseph. Exodus (Book by book). England: Authentic Lifestyle, 2004 e PAUL, Jim P. Timely Lessons from the Book of Exodus. Port Colborne: Gospel Folio Press, 2006; TRAYLOR, John. 1 And 2 Kings, 2 Chronicles. Nashville: Broadman Press, 1981; DILDAY, Russell H. Communicator's Commentary: 1, 2 Kings (Communicator's Commentary OT). Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1987; HOBBS, T. R. 1, 2 Kings (Word Biblical Themes). Texas: Word Books Publisher, 1989; VOS, Howard F. 1, 2 Kings (Bible Study Commentary Series). Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing Company, 1989; SWANSTON, Hamis; BRIGHT, Laurence. Histories I: Judges, 1 and 2 Samuel, 1 and 2 Kings, Ruth (Scripture Discussion Commentary). Chicago, Illinois: Acta Pubns, 1996; KAY Arthur, Brad Bird. Come Walk in My Ways: 1 And 2 Kings with 2 Chronicles (The International Inductive Study Series). Oregon: Harvest House Publishers, 1997; BRITT, Charles R. 1 and 2 Kings, 1 and 2 Chronicles. Nashville: Abingdon Press, 1997; SNIDER, Joseph. Receiving or Refusing Gods Glory: A Study of 1, 2 Kings and 2 Chronicles. Nashville: Thomas Nelson Inc, 1998.

(19)

a) Procura apresentar uma sistematização do conceito e da prática da intertextualidade utilizada pelos estudiosos do Antigo Testamento. Atualmente, a prática da intertextualidade por tais estudiosos não conjuga os avanços da teoria literária com a metodologia exegética, fundamental para a verificação, a apresentação e a demonstração das possíveis relações intertextuais.

b) Visa uma nova forma de se perceber e classificar as relações intertextuais entre passagens bíblicas, que fará uso de uma acurada exegese dos textos e da apresentação de semelhanças e diferenças de temas, personagens, palavras, expressões, sequência narrativa, conceitos e motivos teológicos e a verificação da presença da epígrafe, citação, alusão, referência, paráfrase, paródia, ironia e pastiche entre as passagens.

c) Pretende oferecer um aprofundamento da compreensão dos textos de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33, conjugando a análise semântica com a análise narrativa, valorizando a forma final do texto bem como as sua nuanças literárias, suprindo uma carência no estudo desses textos.

3. Objetivo

Este trabalho tem dois objetivos: (1) verificar a existência das várias relações intertextuais entre as passagens de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-335 e (2) apresentar e

demonstrar como se manifesta essa intertextualidade.

Destaca-se que não é objetivo desta tese apontar: (1) quem produziu as relações intertextuais, quando, onde e em qual contexto histórico surgiram as relações intertextuais; (2) investigar a origem e o contexto dos textos de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33; (3) investigar sobre a importância e a dependência de um texto em relação ao outro; (4) investigar questões relativas à composição, redação e teologia da Torah ou da Obra História Deuteronomista. Respostas para estas questões demandam estudos posteriores à verificação, apresentação e demonstração da relação intertextual.

5 Esse trabalho se propõe a verificar que existem relações intertextuais mais amplas do que as apontadas por alguns estudiosos. Cf. notas 2 e 3 desta parte.

(20)

4. Hipóteses

Partindo da constatação de que Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 são passagens protagonizadas por líderes importantes da historiografia israelita, Arão e Jeroboão, e que se situam em contextos cúlticos, esta tese tem a seguinte hipótese: As passagens de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 apresentam uma mesma estrutura narrativa dentro da qual encontram-se as seguintes relações intertextuais: (1) de grau máximo, com a presença de citação de um texto em outro; e (2) de grau médio, com a presença de paralelos de temas, personagens, espaço narrativo e semelhanças a nível textual.

5. Fundamentos Metodológicos

Esta tese fará uso do método sincrônico da análise narrativa,6 considerando os

textos de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33 na sua forma final bem como os elementos que estes apresentam em si mesmos.

A necessidade de trabalhar com o método sincrônico da análise narrativa existe porque a verificação, a apresentação e a demonstração das relações intertextuais precisam considerar o texto na sua forma final. Em outras palavras, é necessário partir da forma final dos textos para se poder verificar, apresentar e demonstrar as relações intertextuais existentes.7

6 A análise narrativa será baseada na obra de SKA, Jean Louis. Our Fathers have Told Us – Introduction to the Analysis of Hebrew Narratives (Subsidia Biblica 13). Roma: Pontifical Institute, 1990. Entretanto, será enriquecida com as obras: ALTER, Robert. The Art of Biblical Narrative. New York: Basic Books, 1981; GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. São Paulo: Ática, 2004; JUNIOR, Benjamin Abdalla. Introdução a Análise Narrativa. São Paulo: Scipinone, 1995; LEITE, Lígia Chiappine Moraes. O Foco Narrativo. São Paulo: Ática, 1989; REUTER, Yves. A Análise Narrativa – O Texto, a Ficção e a Narração. Rio de Janeiro: Difel, 1987; SKA, Jean Louis. Sincronia: A Análise Narrativa. In: SIMIAN-YOFRE, Horácio (coord). Metodologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 1994, pp.123-148.

7 Uma análise intertextual é feita em duas etapas e com duas abordagens diferentes. Na primeira etapa, utilizando um método sincrônico, se verifica, apresenta e demonstra haver relações intertextuais entre os textos. Na segunda etapa, com as intertextualidades verificadas e apontadas, utiliza-se um método diacrônico e se investiga: quem produziu as relações intertextuais, quando, onde e em qual contexto histórico surgiram; a origem e o contexto dos textos, a importância e a dependência de um texto em relação ao outro e as questões relativas a sua composição, redação e teologia dos textos. Assim, a análise intertextual parte da sincronia (análise do texto final) para a diacronia, a fim de responder questões complementares à verificação da existência de intertextualidades. Esta tese se limitará à primeira etapa da análise intertextual.

(21)

Para verificar, apresentar e demonstrar a intertextualidade entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33, a tese está construída de cinco partes. Na parte 2, “A intertextualidade na teoria literária e nos estudos bíblicos”, apresentará a definição de intertextualidade, descrevendo quais são suas formas, graus e manifestações e, finalizando, será analisado como a intertextualidade tem sido conceituada e utilizada pelos estudiosos do Antigo Testamento.

Na parte 3, “A análise do texto de Êxodo 32,1-6”, e na parte 4, “A análise do texto de 1 Reis 12,26-33”, serão apresentadas análises narrativas e exegéticas de Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33, respectivamente.

Concluindo a pesquisa, na parte 5, “As relações intertextuais entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33”, apresenta-se o confronto entre os textos a partir dos critérios de intertextualidade apresentados na parte 2, “A intertextualidade na teoria literária e nos estudos bíblicos”, apontando as respectivas relações de intertextualidade entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33, tanto a partir da apresentação de semelhanças e diferenças de temas, enredos, personagens, palavras, sequência narrativa, conceitos e motivos teológicos, como será verificada a presença de epígrafe, citação, alusão, referência, paráfrase, paródia, ironia e pastiche.

6. Contribuições

Este tese espera contribuir tanto no aprofundamento exegético das passagens quanto no aprofundamento do estudo das relações intertextuais aplicadas aos textos bíblicos, preenchendo duas lacunas: (1) verificar e analisar novas relações intertextuais específicas entre Ex 32,1-6 e 1 Rs 12,26-33; e (2) propor tanto uma clara conceituação de intertextualidade quanto apresentar os critérios de classificação de suas manifestações.

(22)

2

A intertextualidade na teoria literária e nos estudos bíblicos

Nesta parte será apresentada a conceituação e as principais características da intertextualidade tanto na teoria literária quanto nos estudos bíblicos.

2.1

O conceito de intertextualidade

A conceituação da intertextualidade compreenderá a definição do termo, suas formas, seus graus e suas manifestações.

2.1.1

A definição de intertextualidade

O termo intertextualidade foi cunhado por Julia Kristeva, nos anos 60, quando analisava os estudos da linguagem desenvolvidos pelo formalista russo Mikhail Bakhtin.8

Repensando a teoria de Bakhtin sobre a dimensão da palavra nos espaços dos textos e, principalmente, sobre o conceito de dialogismo9, Julia Kristeva, no quarto

8 Cf. ORR, Mary. Intertextuality: Debates and Contexts. Cambridge: Polity Press, 2003, p. 20; ALLEN, Ghaham. Intertextuality (The New Critical Idiom). London: Routledge, 2000, p.39; VIGNER, Gerard. Intertextualidade, norma e legibilidade. In: GALVES, Charlotte; ORLANDI, Eni P. & OTONI, Paulo. O texto, leitura e escrita. Campinas: Pontes, 1997, p.32.

9 Para Bakhtin a linguagem é dialógica, pois se manifesta sempre entre um falante e um interlocutor que, por sua vez, trazem nos seus enunciados ecos de outros enunciados. Para ele, todo discurso humano é uma rede complexa de inter-relações dialógicas com outros enunciados. Esse elemento dialógico é oposto à ideia de monólogo, no qual os enunciados são proferidos por uma única pessoa ou entidade. A oposição está no fato do primeiro ser constituído de apenas uma voz e reconhecer somente a si mesmo e o seu objeto, não considerando a palavra do outro; ao passo que o segundo, além de ser composto por duas ou mais vozes, leva em conta a palavra do(s) interlocutor(es) e as condições concretas da comunicação verbal. Através do conceito de dialogismo Bakhtin também defende que os

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capítulo do seu ensaio de Introdução à Semanálise, “A Palavra, o Diálogo e o Romance”,10 diz que “a palavra (o texto) é um cruzamento de palavras (de textos), onde se lê, pelo menos, uma outra palavra (texto).11

É com essa frase que Kristeva cunha, elabora e fixa o conceito de intertextualidade, dizendo que um texto é um conjunto de enunciados, tomados de outros textos, que se cruzam e se relacionam ou que “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um em outro texto”.12

Essa concepção de texto como “mosaico de citações” acarreta a infinita reinvenção e repetição de formas e conteúdos, uma rede interminável em que diferentes sequências transformam-se em outras sequências, (re)utilizando de incontáveis maneiras os materiais textuais existentes.13 Em outras palavras, um texto

só existe em relação a outros textos anteriormente produzidos, seja em conformidade ou em oposição ao texto preexistente.14

falantes e os interlocutores, através do diálogo, constituem-se enquanto ser histórico e social, pois cada enunciado exposto é realizado a partir de uma perspectiva de visão do mundo, que reflete a procedência sócio-histórica e cultural do sujeito falante. No âmbito textual, para este formalista russo, todo texto apresenta uma dupla relação dialógica: (1) entre os interlocutores e (2) entre outros textos. Cf. conceito de dialogismo em: LIPTAK, Roman. Tides of Intertextuality. In: Coming to terms with intertextuality: Metodology Behind Biblical Criticism Past and Present. Dissertation. Department of Ancient Languages. University of Pretoria, 2003, pp. 10-20; JUNQUEIRA, Fernanda Gomes Coelho. Dialogismo, Polifonia e Construção de conhecimento. In: Confronto de vozes discursivas no contexto escolar: percepções sobre o ensino de gramática da língua portuguesa. Dissertação. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Letras, 2003, pp. 23-32; LESIC-THOMAS, Andrea. Behind Bakhtin: Russian Formalism and Kristeva's Intertextuality. Paragraph, vol. 28, n.3, 2005, pp.1-20; PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática. São Paulo: Formato/Saraiva, 2005, p. 21.

10 ALLEN , Ghaham. Intertextuality (The New Critical Idiom). London: Routledge, 2000, pp. 14-15 e 35-36; PROENÇA FILHO, Domício. A Linguagem Literária. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 70; BAEL, Timothy. Ideology and Intertextuality: Susplus of Meaing ad Crontrolling the Means of Production. In: FEWELL, Danna Nolan (ed). Reading Between Texts: Intertextuality and the Hebrew Bible (Literary Currents in Biblical Interpretation). Louisville: Westminster/John Knox Press, 1992, p.29; KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. 2ª edição. Trad. Lúcia Helena França Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 2005, pp. 67-68.

11 KRISTEVA, Julia, op .cit., p. 68. 12 KRISTEVA, Julia, loc.cit.

13 PINEDA CACHERO, Antonio. Comunicación e intertextualidad en el cuarto de atrás, de Carmen Martín Gaite (1ª. parte): literatura versus propaganda. Revista Especulo, n.16, nov. 2000/fev. 2001. Disponível em: <http://www.ucm.es/info/especulo/numero16/pineda1.html>. Acesso em 16 ago. 2006 ao referir-se à intertextualidade na obra El cuarto de atrás, de Carmen Martín Gaite, diz: “Textos sobre textos, textos dentro de textos, textos que condicionan y configuran la lectura de otros textos, y que, en última instancia, determinan el mundo de la protagonista.”

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Para Kristeva, o texto literário é uma rede de conexões.15 Por isso, a inserção de elementos dentro do texto constrói uma rede dialógica da escritura-leitura. Um texto estranho entra na rede da escritura e esta o absorve. Assim, no programa de um texto, funcionam todos os textos do espaço lido pelo escritor.16 Nesse sentido, ler é reinterpretar e perceber o trabalho de reescritura.17

Segundo a crítica francesa, a intertextualidade é um fenômeno que se encontra na base do próprio texto literário, imbricada com sua inserção num múltiplo conjunto de práticas sociais relevantes. A partir de Kristeva, texto passa a ser entendido como o evento situado na história e na sociedade, que não apenas reflete uma situação, mas é a própria situação. Pelo seu modo de escrever, lendo o corpus literário anterior ou sincrônico, o autor vive na história, e a sociedade se escreve no texto.18

Após Kristeva, vários estudiosos ampliaram as noções de intertextualidade possibilitando o surgimento de novas teorias, conceitos e aplicações do termo, como as desenvolvidas por Roland Barthes – que aliou o termo à “morte do autor” – e Jacques Derrida.19

2.1.2

As formas e os graus de intertextualidade

A intertextualidade tem duas formas básicas: interna e externa. A intertextualidade interna é compreendida como a relação feita entre dois textos do mesmo campo discursivo ou corrente de conhecimento.20 Koch, que denomina essa

15 KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise, p. 99. 16 KRISTEVA, Julia., op.cit., pp. 67-68.

17 VIGNER, Gerard. Intertextualidade, norma e legibilidade, p. 34. 18 KRISTEVA, Julia., op.cit.., pp. 66-67.

19 ORR, Mary. Intertextuality, pp. 21-22.

20 MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso. Campinas: Pontos, 1989, p. 87; BRANDÃO, Maria Helena Nagamine. Introdução à análise do discurso. 2ª ed. São Paulo: Unicamp, 1993, p. 76; CHARAUDEAU, Patrick e MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2004, p. 289; KOCH, Ingedore Villaça. O Texto e a Construção dos Sentidos. São Paulo: Contexto, 2005, p. 62. Diz-se que quando um advogado redige uma petição e cita artigos da Constituição Federal, faz uma intertextualidade com textos de mesmo campo discursivo – neste caso, do direito –, entre a sua petição (novo texto jurídico) e o texto do Constituição (antigo texto jurídico).

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forma de intertextualidade de conteúdo, acrescenta que os textos em diálogo, além de serem do campo discursivo, se servem de conceitos e expressões comuns.21 A intertextualidade externa é entendida como relação dum texto com outro texto e feita entre um discurso e discursos de campos distintos.22

Além de ser interna e externa, a intertextualidade pode ser explícita e implícita. A intertextualidade é explícita quando a fonte usada está explícita no novo texto através de citações e referências23 e é implícita quando ocorre sem a citação expressa da fonte, mas através da alusão, paródia, ironia e paráfrase, tornando perceptível ao leitor com qual texto se está dialogando.24

A relação entre os textos também é mesurada em graus. Para Carlos Reis, a intertextualidade tem três graus: (1) mínimo, (2) médio e (3) máximo. O grau mínimo de intertextualidade é marcado pelas características formais, como o ritmo e as estruturas narrativas e os tipos de personagem. O grau médio é marcado por reflexos discretos de uns textos em outros que, por continuidade ou por rejeição, contribuem para a configuração do espaço intertextual. O grau máximo, quando um texto altera ou não o sentido de outro pela presença das epígrafes, citações e referências.25

21 KOCH, Ingedore Villaça. O Texto e a Construção dos Sentidos, p. 62. 22

MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso, p.87; BRANDÃO, Maria Helena Nagamine. Introdução à análise do discurso, p. 76 e CHARAUDEAU, Patrick e MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso, p. 289.A matéria da revista Veja “Quanto o cérebro é o médico e o monstro” (São Paulo, 28 de junho de 2006, edição 1962, n.25) ao relacionar literatura com medicina utilizou-se de uma intertextualidade externa. Ao abordar o impacto das emoções e da psique na cura das doenças faz uma alusão ao clássico “O Médico e o Monstro” (STEVENSON, R. L. O Médico e o Monstro. São Paulo: Martin Claret, 2002) e usa a dualidade do personagem principal de R. L. Stevenson, que tinha dentro de si um lado bom e um lado mau, para aludir a pessoas que tanto podem somatizar como ajudar no processo da cura das doenças.

23 KOCH, Ingedore Villaça. O Texto e a Construção dos Sentidos, p. 63.

24 KOCH, Ingedore Villaça, loc.cit. Como exemplo de intertextualidade implícita tem-se o quadro no programa Fantástico, da Rede Globo, “Ser ou não Ser”, da filósofa e escritora Viviane Mosé, que faz uma alusão à conhecida frase de Shakespeare em “Hamlet” e remete o telespectador à pergunta existencial da filosofia.

25 REIS, Carlos. Técnicas de Análise Textual – Introdução à Leitura Crítica do Texto Literário. Coimbra: Almedina, 1981, p.133. Como exemplo de grau mínimo tem-se o poema “O Amor Bate na Aorta”, de Carlos Drummond, que faz referência a Carlitos, um famoso personagem cinematográfico: “Meu bem, não chores, / hoje tem filme de Carlito!”. Exemplo de grau médio é a capa e a matéria principal da revista Veja, “Apocalipse já”, onde se faz alusão ao livro do Apocalipse e as catástrofes como indícios de final dos tempos. Como exemplo grau máximo tem-se a primeira estrofe do poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá; / As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”, que tem seu sentido alterado quando citado por Oswald de Andrade: “Minha terra tem palmares / onde gorjeia o mar / os passarinhos daqui / não cantam como os de lá”.

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Ampliando essa classificação, Markl aponta cinco critérios para medir os graus de intertextualidade: (1) Referência (considera-se a intensidade das referências entre os textos e em que medida um texto espelha outro pela temática); (2) Comunicação (se há ou não a clareza acerca da relação entre os textos; se há como determinar que um texto queira referir-se com outro; se o autor deixa algum traço de que conhece o outro texto, através de indicações como a utilização de termos, expressões, construções); (3) Estrutura (a proporção em que os textos apresentam elementos que mostram semelhanças de função dentro da estrutura do texto); (4) Seletividade (a proporção do uso das palavras entre os textos e em relação aos restantes textos); e (5) Diálogo (o espelhamento da tensão semântica e de pensamento entre os dois textos e em que medida os contextos dos textos se relacionam nestes dois aspectos).26

Para o autor, dá-se o grau máximo de intertextualidade: (a) quanto menor for a frequência dos elementos linguísticos comuns aos dois textos na Bíblia; (b) quanto maior for o número dos elementos linguísticos entre os dois textos; e (c) quando há termos e expressões que são utilizados exclusivamente entre dois textos.27

Enquanto presença de um texto em outro texto, a intertextualidade é manifestada na estrutura do texto, nas personagens e suas ações, na trama dos fatos, em referências a determinados objetos, enfim, em tudo que estabelece um diálogo entre os textos. Esse diálogo manifesta-se pela presença de epígrafe, citação, referência, alusão, eco, traço, paráfrase, paródia, ironia e pastiche. 28

26 MARKL, D. Hab 3 in intertextueller und kontextueller Sicht, Bib, n.85, 2004, p.100.

27 Segundo Markl, o critério (c) seria o que Fischer chamou de “exklusive Verbindungen”. Cf. G. Fischer, Das Trostbüchlein. Text, Komposition und Theologie von Jer 30–31 (SBB 26). Stuttgart: 1993, pp. 186-224.

28 Vários autores sinalizam sobre as manifestações da intertextualidade, conf. em MISCALL, Peter. Isaiah: New Heavens, New Earth, New Book. In: FEWELL, Danna Nolan (ed). Reading Between Texts: Intertextuality and the Hebrew Bible (Literary Currents in Biblical Interpretation). Louisville: Westminster/John Knox Press, 1992, p. 44 diz que a intertextualidade pode ser baseada em citações, referências diretas, alusões, semelhanças de palavras, etc.; RASHKOW, Ilona N. Intertextuality, Transference and the Reader in/of Genesis 12 and 20. In: FEWELL, Danna Nolan (ed). Reading Between Texts: Intertextuality and the Hebrew Bible (Literary Currents in Biblical Interpretation). Louisville: Westminster/John Knox Press, 1992, pp. 57-58 diz que a tipologia é uma das manifestações de intertextualidade encontrada nos textos bíblicos, haja vista prefigurarem simbolicamente características e cenas de eventos futuros; AICHELE, George & Phillips, Gary. Introduction: Exegesis, Eisegesis, Intergesis. Semeia – Intertextuality and The Bible, n.69/70, 1995, p. 11 diz que a intertextualidade se manifesta na alusão, citação e alegoria; MOYISE, Steve. Intertextuality and Biblical Studies: A Review. VetE, n. 23, 2002, p. 428 diz que a intertextualidade através das citações, alusões e ecos permite uma nova compreensão dos textos bíblicos; GROHMANN, Marianne. The Word is Very Near to You! (Deuteronomy 30:14). Reader-Oriented Intertextuality in Jewish and

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2.1.3

As manifestações da intertextualidade

A manifestação de um texto em outro pode ocorrer de forma explícita, na superfície do texto, através da epígrafe, citação e referência, ou implícita, dentro do discurso, através da alusão, eco, traço, paráfrase, paródia, ironia e pastiche.29

2.1.3.1

As manifestações explícitas da intertextualidade

A primeira manifestação explícita de intertextualidade é a epígrafe, uma escrita introdutória a outra que deixa sua marca quando a menção de um texto ou parte dele na introdução de outro dá novo valor e sentido ao primeiro.30

Considerada o modo mais evidente de intertextualidade,31 a segunda

manifestação explícita de um texto em outro é a citação, a retomada de um fragmento de texto no corpo de outro texto32 ou, como define Glenna Jackson, “a reprodução de

Christian Hermeneutics. Old Testament Essays: Festschrift James Alfred Loader: Special Issue, vol. 18, n.2, 2005, p. 240 defende que a intertextualidade se manifesta através da citação, referência e alusão; SHARON, Diane M. Some Results of a Structural Semiotic Analysis of The Story of Judah and Tamar. JSOT, n.29, 2005, pp. 292-230 diz, citando V. M. Colapietro, que “as relações intertextuais incluem anagrama, alusão, adaptação, tradução, paródia, pastiche, imitação e outros tipos de transformações”; KOCH, Ingedore Villaça. O Texto e a Construção dos Sentidos, pp. 62-63; PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática, pp. 28-42 e OLIVEIRA, Wellington de; SANTOS, Raida Barbosa dos; SILVA, Denise Gallo da; SANTOS, Rosângela Aparecida dos. A escritura intertextual - Um estudo comparado entre os textos de Clarice

Lispector e Lewis Carroll. Disponível em <http://www.brazcubas.br/professores

/sdamy/mubc11.html> . Acesso em: março de 2006.

29 A proposição de classificar as manifestações da intertextualidade entre explícitas e implícitas deu-se pela necessidade de clarear a opinião de estudiosos quando estes afirmavam, por exemplo, que a citação é uma manifestação forte de diálogo entre textos enquanto que a alusão, o eco e o traço são manifestações fracas. KEESMAAT, Sylvia C. no seu artigo Exodus and the Intertextual Transformation of Tradition in Romans 8.14-30. JSNT, vol.16, 1994, p. 32, cita Morgan dizendo “as relações entre textos podem ocorre em numerosos caminhos: elas podem ser explícitas ou implícitas, intencionais ou não intencionais. A mais explícita relação intertextual é a citação e a mais implícita é a alusão ou eco”. Cf. também em: PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática, p.25-26; MOYISE, Steve Intertextuality and Biblical Studies: A Review. VetE, n. 23, 2002, pp. 421-422.

30 PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda, op. cit., pp. 25-26.

31 MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso, p. 87 e PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda, op.cit., p. 28.

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várias palavras consecutivas de um texto em outro texto”.33 Segundo Júnia Lessa

França, as citações “são trechos transcritos ou informações retiradas das publicações consultadas para a realização de um trabalho, sendo mencionadas no texto com a finalidade de esclarecer ou completar as ideias do autor, ilustrando e sustentando afirmações”.34 Já Moiyse diz que a citação “envolve uma quebra consciente no estilo do autor para introduzir palavras de outro contexto”.35

Enquanto manifestação da intertextualidade, a citação deixa claro para o leitor que houve o empréstimo de um texto em outro texto, que houve uma relação dialógica de textos. Essa explicitação dialógica tem por função reforçar para o leitor uma espécie de repetição, estabelecendo uma espécie de conveniência e ancorando o discurso recém-produzido no discurso já conhecido.36

A terceira manifestação explícita de intertextualidade é a referência, que Glenna Jackson define como a “menção de um texto ou a direção individual para um texto abrigado na livraria portátil do leitor”37 e Graça Paulino como algo explícito de um

texto em outro que possibilita o leitor a fazer uma associação.38

Já para Lowell, referência é um tipo de citação onde “um poeta não simplesmente cita as palavras de outro poeta, mas alguém [no texto] está falando essas palavras”.39

33 JACKSON, Glenna S. Enemies of Israel: Ruth and the Canaanite Woman. HTS, vol. 59, n.3, 2003, pp. 782-783.

34 FRANÇA, Júnia Lessa et al. Normas para normalização de publicações técnico-científicas. Belo Horizonte: UFMG, 1996, p. 128.

35 MOYISE, Steve. Intertextuality and Biblical Studies: A Review, VetE, p. 419.

36 VIGNER, Gerard. Intertextualidade, norma e legibilidade, p. 34. No romance machadiano “Memórias póstumas de Brás Cubas”, no capítulo “O Emplasto”, há a citação “decifra-me ou devoro-te”, frase com que a esfinge, híbrido da mitologia grega de leão e mulher, iniciava a proposição de enigmas, devorando aqueles que não conseguissem responder-lhe: “Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.” Cf. ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 28ª edição, São Paulo: Editora Scipione, 1994, p. 8.

37 JACKSON, Glenna S. Enemies of Israel: Ruth and the Canaanite Woman, loc.cit.

38 PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática, p. 29.

39 LOWELL, Edmunds. Intertextuality and the Reading of Roman Poetry. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2001, p. 134. Exemplo de referência é o verso do Hino Nacional Brasileiro (“nossos bosques têm mais vida / nossa vida, no teu seio, mais amores”) que faz referência ao poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, reafirmando o sentido de exaltação à natureza do Brasil (“Nossos bosques têm mais vida / nossa vida mais amores”). Apesar de ser um tipo de citação, a

(29)

2.1.3.2

As manifestações implícitas da intertextualidade

A primeira manifestação implícita de intertextualidade é a alusão ou “uma leve menção a um texto ou a um de seus componentes em um segundo texto”40 ou, como prefere Moyise, é “uma citação menos precisa de um texto em termos de palavras”41.

Para Donna Fewell a alusão é “a mobilização de inominadas fontes e endereços”, “uma referência implícita, indireta e escondida de um texto em outro” ou ainda, citando Ziva Ben-Perat, é “um dispositivo de ligação entre textos que transpassa os limites do texto no qual é achado”.42 Para Sylvia Keesmaat, alusão é uma menção

intencional e consciente de um texto em outro.43 Já B.D. Sommer define o termo como “um identificável elemento ou modelo em um texto que pertence a outro texto independente”.44 Segundo Glenna Jackson, a alusão ocorre quando “um texto partilha algo com outro texto, sem, entretanto, reproduzir exatamente as palavras deste; estabelece o último como um substrato para o leitor”.45 Ampliando um pouco esses conceitos, Williamson, citando B.D. Sommer, diz que a alusão “pode ser reconhecida a partir de um produtor, de um elemento identificável ou do modelo de um texto por baixo de outro texto independente.”46

Para França, existem quatro tipos de alusão: (1) nominal, quando se refere a um nome próprio do conhecimento geral; (2) pessoal, quando se refere a um indivíduo do conhecimento particular do autor, podendo incluir-se nesta categoria as autorreferências; (3) histórica, quando se refere a acontecimentos passados ou

referência é necessariamente curta – uma palavra, expressão ou pequena frase – ao passo que a citação é longa – trechos ou partes maiores de textos.

40

PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática, p. 29.

41 MOYISE, Steve. Intertextuality and Biblical Studies: A Review, VetE, p. 419.

42 FEWELL, Danna Nolan (ed). Reading Between Texts: Intertextuality and the Hebrew Bible (Literary Currents in Biblical Interpretation). Louisville: Westminster/John Knox Press, 1992, p.21. 43 KEESMAAT, Sylvia C. Exodus and the Intertextual Transformation of Tradition in Romans 8.14-30. JSNT, vol.16, 1994, p. 32.

44 WILLIAMSON, H.G.M. Isaiah 62:4 and the problem of inner biblical allusions. JBL, vol. 119, n.4, 2000, p. 734.

45 JACKSON, Glenna S. Enemies of Israel: Ruth and the Canaanite Woman, pp.782-783. 46 WILLIAMSON, H.G.M., op. cit., p. 734.

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recentes; e (4) textual, quando remete a textos preexistentes na tradição literária através referência, citação ou alusão.47

A segunda manifestação implícita de intertextualidade é o eco ou traço. Para Sylvia Keesmaat eco é a “manifestação não intencional de um texto em outro”48 e para Moyise, o eco é “o tênue traço de texto, provavelmente, quase inconsciente, mas que emerge da mente impregnada na herança textual de Israel”.49 Danna Fewell diz

que o valor do eco está na possibilidade de “expressar caráter intertextual de cada escrito ainda que mantendo, mesmo que através da metáfora, a estrutura textual”.50

Junto ao conceito de eco, tem-se o de traço, que Fewell define como algo que, num determinado texto, foi excluído, reprimido ou que ficou totalmente ausente, mas a partir do qual o leitor, via comparação, torna perceptível o significado do texto.51

A terceira manifestação implícita de intertextualidade é a paráfrase, que em grego significa “continuação ou repetição de uma sentença”, e pode ser definida como “o desenvolvimento de um texto mantendo as mesmas ideias do original, cujo objetivo é reescrever e interpretar um texto”52 ou como “a reafirmação, em palavras diferentes, do mesmo sentido de uma obra escrita, podendo ser uma afirmação geral

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FRANÇA, Júnia Lessa et al. Normas para normalização de publicações técnico-científicas, p. 128. Exemplo de alusão nominal são os versos de António Ferreira em “Carta a D. Simão Silveira”, em Poemas Lusitanos: “Quantos antes de Homero mal cantaram! / Quanto tempo Sicília, quanto Atenas, / Que depois tal som deram, se calaram!”. Nos versos, “Homero” representa o primeiro modelo de poeta; “Sicília”, a escola de poetas e “Atenas” sintetiza a tradição literária pré-clássica e clássica, que serviu de modelo a toda a cultura ocidental. Como exemplo de alusão é histórica tem-se a fala de Boileau dizendo de Homero que “tudo quanto tocou se transformou em ouro”, aludindo à lenda do rei Midas. Quanto à alusão textual, tem-se exemplo em “Homenagem a Tomás António de Gonzaga”, onde Jorge de Sena escreve que “Gonzaga, podias não ter dito mais nada,/ (…) Mas uma vez disseste: ‘eu tenho um coração maior que o mundo’” (SENA. Jorge de. Poesia III. Lisboa: Edições 70, 1989, p. 95). A alusão textual mencionada por França é também uma citação.

48 KEESMAAT, Sylvia C. Exodus and the Intertextual Transformation of Tradition in Romans 8.14-30, p. 32, afirma que a utilização de uma tradição pode ser não intencional (eco) ou intencional (alusão). Em outras palavras, quando um autor, de maneira inconsciente, utiliza o texto de outro autor, faz um “eco” intertextual. Em seu texto, exemplifica dizendo que Paulo, em Romanos, faz uso de tradições do Antigo Testamento de forma não intencional, quase inconsciente (eco), mas, outras vezes, faz intencionalmente, aludindo a textos veterotestamentários.

49 MOYISE, Steve. Intertextuality and Biblical Studies: A Review, VetE, p. 419.

50 FEWELL, Danna Nolan (ed.). Reading Between Texts: Intertextuality and the Hebrew Bible (Literary Currents in Biblical Interpretation), p. 21.

51 FEWELL, Danna Nolan (ed.), op. cit., p. 24.

52 PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática, p. 30; DUARTE, Paulo Mosânio Teixeira. Elementos para o estudo da paráfrase. Revista Letras, Curitiba, n.59, jun./jul. 2003, p. 242.

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da ideia de uma obra como esclarecimento de uma passagem difícil”.53 Diante dessas

definições, entende-se que a paráfrase, mais do que um efeito retórico e estilístico, é um efeito ideológico de continuidade de um pensamento ou procedimento estético.54

Um reforço dos paradigmas já estabelecidos, a paráfrase é um desvio mínimo e tolerável de um texto. Um desvio que conteria o máximo de inovação que o texto poderia admitir sem que seja subvertido ou pervertido o seu sentido.55

A paródia, quarta manifestação implícita de intertextualidade, é um efeito sintomático de linguagem nascido entre os séculos V-VI a.C. e que originalmente foi definida para o âmbito musical como “uma ode que perverte o sentido de outra ode”.56 Em livro dedicado ao estudo da paródia, Margaret A. Rose diz que,

originalmente, o termo nomeava a literatura clássica ou poética grega e era entendida como um poema ou uma canção burlesca ou uma citação cômica, imitação ou transformação.57

Trazida para a tradição ocidental, a paródia foi definida como o emprego da fala de um autor por outro com uma intenção que se opõe diretamente à original, entrando em antagonismo com a voz original que a recebeu, forçando-a a servir a fins diretamente opostos.58 Reforçando essa definição, Maingueneau e Graça Paulino concordam que a paródia se manifesta quando autor escreve um texto que foge às intenções sérias do original e utiliza a caricatura e a intenção jocosa para com este.59 Ainda em termos de conceituação, Pippin diz que a paródia pode ser “algo a-histórico e não-histórico (...) entretanto, por um duplo processo de instalação e ironização,

53 SANT'ANNA, Affonso Romano. Paródia, Paráfrase e Cia. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1988, p.17. 54 SANT'ANNA, Affonso Romano, op. cit., p. 22.

55 SANT'ANNA, Affonso Romano, op. cit., pp. 27-28; 38-39. Exemplos dessas inovações estão os versos de Carlos Drummond, nos quais há uma paráfrase do poema “Canção do Exílio”: “Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’? / Eu tão esquecido de minha terra.../ Ai terra que tem palmeiras/ onde canta o sabiá”.

56 SANT'ANNA, Affonso Romano, op. cit., p. 7.

57 ROSE, Margaret A. Parody: Ancient, Modern and Post-modern. London: Cambridge University Press, 1995, pp. 5-6 e 49. No primeiro capítulo do seu livro a autora dedica-se a fazer uma extensa etimologia da palavra chegando à conclusão que, independente dos teóricos do termo, a paródia sempre foi entendida como algo humorístico ou ridicularizante (pp. 5-53).

58 SANT'ANNA, Affonso Romano, op. cit., pp. 13-14.

59 MAINGUENEAU, Dominique. Elementos de Linguística Para o Texto Literário. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 100; PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática, pp. 34-36.

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sinaliza como uma representação ganha novas ideologias”.60 Também analisando a

paródia pelo viés histórico, Lowell vai dizer que a paródia não é uma ridicularização com intenção destrutiva, simplesmente. Para ele, “a paródia não destrói o passado; de fato, parodiar é tanto iluminar o passado como questioná-lo”.61

Enquanto antagônica à voz original, a paródia faz uma disputa com o texto original, inaugura um novo paradigma e constrói uma evolução do discurso e da linguagem que resulta num choque de interpretação.62

Quanto aos tipos, a paródia pode ser: (1) verbal (com alteração de uma ou outra palavra do texto); (2) formal (quando o estilo e os efeitos técnicos de um escritor são usados como forma de zombaria); e (3) temática (quando se faz a caricatura de forma e do espírito do autor).63 Quanto à função, é catártica, haja vista propor uma nova e diferente maneira de ler o convencional. Nas palavras de Sant'Anna “é um processo de libertação do discurso; é uma tomada de consciência crítica (...) é um ato de insubordinação, (...) um gesto inaugural da autoria e da individualidade”.64

A quinta manifestação é a ironia, cuja definição é dizer o que é contrário ao real; é, de forma paradoxal, anular o que se está dizendo sem diretamente negá-lo65

ou “dizer por uma derrisão, ou humorística ou séria, o contrário do que se pensa ou do que se quer que se pense”66 ou ainda “dizer alguma coisa de forma a ativar, não uma, mas uma infinidade de interpretações subversivas”.67

Sofrendo diversas modificações conceituais desde o século XVI, a ironia fora já utilizada por Sócrates, significando uma forma de persuadir alguém, por Demóstenes, para significar que alguém fugiu à sua responsabilidade como cidadão por fingir ser inadequado e por Aristóteles, que refutou utilizar o vocábulo com a idéia de

60 PIPPIN, Tina. Jezebel Re-Vamped. Semeia - Intertextuality and The Bible, n. 69/70, 1995, p. 228. 61 LOWELL, Edmunds. Intertextuality and the Reading of Roman Poetry, p. 142.

62 SANT'ANNA, Affonso Romano. Paródia, Paráfrase e Cia, pp.27-30. 63 SANT'ANNA, Affonso Romano, op. cit., p.12.

64 SANT'ANNA, Affonso Romano, op. cit., pp.30-32. Alguns versos de Carlos Drummond de Andrade parodiam e polemizam com “Canção do Exílio”: “Minha terra tem palmeiras? / Não. Minha terra tem engenhocas de rapadura e cachaça / E açúcar marrom, tiquinho, para o gasto”.

65 MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso, pp. 98-102; COLEBROOK, Claire. Irony. London: Routledge, 2004, p.5; ROSE, Margaret A. Parody: Ancient, Modern and Post-modern, p. 87.

66 MAINGUENEAU, Dominique. Elementos de Lingüística Para o Texto Literário, p. 95.

67 LINAFELT, Todd. Taking Women in Samuel: Readers/Responses/Responsibility. In: FEWELL, Danna Nolan (ed). Reading Between Texts: Intertextuality and the Hebrew Bible (Literary Currents in Biblical Interpretation), p. 122.

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“autodissimulação”. Abandonando seu berço grego e passando para o latino, a ironia foi utilizada pela primeira vez em inglês em 1502, mas foi entre os séculos XVII e XVIII que ela começou a ser empregada com freqüência, significando “escarnecer, zombar de” ou como “dizer o contrário do que significa”, “dizer algo mas significar o contrário”. Em 1748, ironia foi empregada como uma estratégia satírica. Em 1752, foi usada em conexão com “contradição”, mas foi em 1800 que a palavra ganhou novos e importantes significados: “trazer algo para oposição”, “algo que reside na atitude de um observador irônico ou na situação observada”, “uma visão da vida que reconhece que a experiência é aberta para múltiplas interpretações e que coexiste com incongruências como parte da estrutura da existência”.68

Apesar de ter assumido diversos significados, atualmente o emprego da ironia resume-se em fazer um contraste entre a realidade e a aparência; entre dizer uma coisa, causando uma aparência que não corresponde à realidade.69

A sexta manifestação implícita de intertextualidade é o pastiche, definido geralmente como uma imitação estilística.70 Para Margaret A. Rose o pastiche é a falsificação de algo, mas nem sempre com a intenção de falsear ou enganar.71 Apesar

de entender o termo como uma imitação, Peter e Linda Murray o definem como uma criação original feita pela primeira vez por um artista, cuja base é a recombinação de motivos trazidos de outros trabalhos.72 Mantendo a ideia de que o pastiche é um trabalho original e não simplesmente uma imitação, Edward Lucie-Smith diz que o

68 MUECKE, C.D. Irony. London: Methuen & Co., 1970, pp. 14-24. O autor apresenta em seu livro um extenso status quaestionis sobre as ocorrências da palavra ironia ao longo dos séculos, apontando os escritores famosos que a empregaram e como se processou a evolução de sua conceituação.

69 MUECKE, C.D., op.cit., p.30. Muecke dedica várias páginas (pp. 25-58) para expor sobre os elementos da ironia, como: (a) a inocência e a inconsciência; (2) contraste entre realidade e aparência; (3) elemento cômico; (4) elemento de indiferença ou neutralidade; (5) elemento de estética. De todos os elementos expostos, o mais interessante para esta tese é o segundo, o qual converge para atual emprego do termo entre os estudiosos bíblicos.

70 MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso, pp. 104-106; MAINGUENEAU, Dominique. Elementos de lingüística para o texto literário, p. 101; PAULINO, Graça; WALTY, Ivete e CURY, Maria Zilda. Intertextualidades: Teoria e Prática, p. 40; ROSE, Margaret A. Parody: Ancient, modern and post-modern, p. 73 diz que no vol. 11 do Old English Dictionary, p. 321 o pastiche é definido como a imitação do estilo de outro artista.

71 ROSE, Margaret A. Parody: Ancient, Modern and Post-modern, p. 72.

Referências

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