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RICHARD WAGNER 1. Ensaio apresentado ao curso Ícones da Música Ocidental III, elaborado por Vanessa Madrona Moreira Salles, em julho 2015.

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RICHARD WAGNER1

Alguns dados biográficos

No ano de 2013, completou-se o segundo centenário de nascimento de Wilhelm Richard Wagner, um dos mais importantes músicos da cultura ocidental. Nascido na cidade alemã de Lepzig, na Saxônia em 1813, além da música, demonstrou desde a juventude interesse também pelo teatro, pela literatura e pela filosofia.

Em relação à música, diz-nos Leonardo Gomes (2013, p. 131), que Wagner fez [...]de uma geração que, a partir da exigente herança de Beethoven, Mozart e Haydn, ampliou os horizontes de sua arte ao lançar uma nova perspectiva estética, que libertava os gêneros estabelecidos, o concerto, a sinfonia, o quarteto e a sonata, do rigoroso aspecto formal estabelecido pela forma sonata e por uma linguagem harmônica tradicional.

O cenário histórico onde se dá a vida de Wagner é um palco em transformação. A sociedade europeia do século XIX, particularmente na Alemanha, caminha para o declínio da aristocracia e a consolidação da burguesia como força econômica, social e política. A importância dos fenômenos massivos se intensifica. A existência de Wagner será, então, marcada pela autoconsciência da própria genialidade e a ambiguidade assinalada por seus biógrafos de ter se empenhado em defesa de ideais republicanos mas de receber a admiração e apoio financeiro de um príncipe. Um acontecimento exemplar desse envolvimento direto do músico com as condições políticas alemãs ocorre no final dos anos 1840. Wagner participará do movimento revolucionário que pretendia promover a unificação da Alemanha, na esteira dos ventos revolucionários franceses que, em 1848, haviam deposto o rei francês Luís Felipe. Fracassada a empreitada levada a cabo junto ao pensador russo Mikhail Bakhtin, Wagner foge de Dresden e viverá no exílio entre 1849 e 1860, passando por várias cidades, como Paris, Zurique, Veneza e Lucerna. Em 1860, finalmente, recebe a anistia e pode retornar à Alemanha.

Em 1864, Ludwig II assume o trono da Baviera. O jovem soberano era grande admirador de Wagner e sua música e convida o músico a viver na corte. Assume as dívidas do artista e passa a remunerá-lo com uma vultosa pensão. Wagner muda-se para Munique.

Ainda neste ano, Wagner conhece Cosima, filha de Franz Liszt, à época esposa do regente e pianista Hans von Bülow e que se tornará sua esposa, em 1870, e mãe de seus filhos. Mas nesta época ainda estava casado com a cantora lírica e atriz, Mina Planner, que conhecera em 1836.

O processo de unificação da Alemanha se consolida em 1871, o rei da Prússia, Guilherme é proclamado imperador e Berlim se torna a capital do império, do segundo Reich. (GOMES, 2013, p. 147).

Em 1876, é inaugurado em Bayreuth, no norte da Baviera, o Teatro de Festivais (Festspielhaus), teatro de ópera construído com o auxílio de amigos e do rei, especialmente para o artista.

Wagner morre, em 1883, durante uma temporada de inverno, em Veneza.

1 Ensaio apresentado ao curso Ícones da Música Ocidental III, elaborado por Vanessa Madrona

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Obras

Wagner compôs óperas, canções, músicas para orquestra, para corais, para piano, além de redigir poesia, panfletos, uma autobiografia, cartas e ensaios de conteúdo político, musical e estético, como “O Trabalho Artístico do Futuro” (Das Kunstwerk

der Zukunft), “O Judaísmo na Música” (Das Judentum in der Musik), “Ópera e

Drama” (Oper und Drama), “A Ópera Alemã” (Die Deutsche Oper), e “Minha vida” (Mein Leben), etc.

As óperas wagnerianas podem ser divididas em três fases. Na fase inicial (1832 – 1840), que se inicia quando o compositor tinha dezenove anos, temos os esboços de O Casamento (Die Hochzeit) e as óperas As Fadas (Die Feen), Amor Proibido

(Das Libesverbot) e Rienzi, o Último dos Tribunos (Rienzi). Este foi o primeiro grande

sucesso de público, sendo obra no estilo da grande ópera francesa.

No segundo período (1840 – 1848) inicia com O Holandês Voador, ou Le Vaisseau

Fantôme, O navio Fantasma (Der fliegende Holländer), Tanhäuser e Lohengrin.

Nesta fase insinuam-se as grandes inovações estéticas musicais de Wagner que se consolidarão em seus trabalhos de maturidade (1850 – 1882) quando compôs

Tristão e Isolda (Tristan und Isolde); Os Mestres Cantores de Nuremberg (Die Meistersinger von Nürnberg) e O anel de Nibelungo (Der Ring des Nibelungen),

tetralogia de quatro óperas baseadas na mitologia germânica. O anel de Nibelungo [...] levou vinte e seis anos para ser completada, exigindo cerca de quinze horas para ser executada. Ela é composta por Das Rheingold (O Ouro do

Reno) (1853-1854), Die Walküre (A Valquíria) (1854-1856), Siegfried

(1856-1857 e 1864-1871) e Götterdämmerung (Crepúsculo dos Deuses) (1869-1874).2

A última ópera composta por Wagner foi Parsifal.

Mas além dos escritos musicais, o músico publicou ensaios teóricos, artigos de jornal, autobiografias, estabeleceu preceitos para a encenação de seus dramas musicais e para a regência.

Destaca-se particularmente uma área de interesse: os mitos da tradição germânica.

Contribuições para a história da música

Wagner revoluciona a ópera em seu país, contribuindo para a criação de uma identidade nacional, dentro do espírito de unificação por que passa a Alemanha e que só se realiza plenamente com a proclamação do Império Alemão.

O teatro wagneriano, em Bayreuth, apresenta novidades:

[...] como o fosso projetado de maneira a internar por completo a orquestra sob o palco, tornando vedado ao público visualizar a atuação dos músicos. No espaço constituído por lances de escada, ou patamares, foram acomodados, em sequência descendente, os naipes tradicionais da orquestra. (GOMES, 2013, p. 167).

Wagner trouxe uma série de inovações para a música. A contrapelo da ópera italiana tradicional, Wagner destaca a orquestra sinfônica, chegando a desenvolver

2 RICHARD WAGNER. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Wagner>. Acesso em:

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um novo instrumento, a trompa wagneriana. Passa a fazer uso recorrente do

Leitmotiv, ou seja, estabelece um motivo condutor, um pequeno tema que servirá

para identificar musicalmente situações, personagens, um objeto ou uma ideia. Para Wagner o regente deveria interpretar o trabalho musical e não somente ser um sincronizador da orquestra. Wagner inovou também em sua proposta de iluminação do palco que de maneira dramatica, diminuindo e aumentando a iluminação conforme a dramaticidade das cenas.

Em suas óperas, além da composição, foi o responsável pela escrita de todos os libretos, instaurando a integração total entre teatro, poesia e música.

Algumas personagens das óperas wagnerianas exigem do cantor uma grande resistência física e potência vocal, promovendo o surgimento de um novo tipo de cantor, o tenor heróico (Heldentenor).

Em suas obras de maturidade introduz a modulação constante de um tom a outro, o cromatismo, que afetará de forma revolucionária a harmonia. Nos anos de 1840, Wagner interessa-se pelas tragédias gregas, particularmente a trilogia Orestes, de Ésquilo. Assim como os gregos tematizavam seus mitos em suas tragédias, Wagner passa a recorrer aos mitos dos povos germânicos em suas composições. Passa a estuar os épicos alemães e a mitólogia nórdica. Inspira-se na obra de Jacob Grimm e do escritor medieval alemão Wolfram von Eschenbach, como se observa na ópera Parsifal, baseada no romance de mesmo nome, redigido pelo poeta Eschenbach.

Wagner e a filosofia

Wagner publicou em 1870, um livro em homenagem a Beethoven, cujo título é o nome do homenageado. Neste texto o elogio é feito a Beethoven, mas também é um autoelogio, onde Wagner identifica alguns elementos que fazem de um compositor um gênio e essas palavras ressoam como se estivessem falando de si mesmo. Mas o que nos interessa, é que nesse estudo sobre Beethoven, podemos evidenciar a influência do filósofo alemão Schopenhauer, autor de O mundo como vontade e

representação, nas ideias estéticas de Wagner.

Schopenhauer estabelece uma hierarquia das artes em que a música está em primeiro lugar, sobrepondo-se à pintura e à poesia, graças ao caráter absoluto da melodia.

Wagner compartilha a compreensão schopenhaueriana de que a música é uma arte diferenciada, sendo que a melodia seria a única forma artística que conseguiria ir além do “caráter nacional e linguístico”, sendo, pois, criação absoluta, pois não tem que se restringir à linguagem, como fazem os poetas, nem tampouco às imagens existentes, como os pintores. (BURNET, 2009). Mas Wagner não despreza a palavra, que teria a função de esclarecer qual o sentimento expresso musicalmente. Para Wagner a música nos conectaria com o sublime, “a música suprema faz ver dentro de nós o fundamento de todas as coisas, tornando-se uma fonte inesgotável de criação divina." (BURNET, 2009, p. 2).

Mas, surpreendentemente, o livro de Wagner inspirou um dos mais importantes textos da filosofia moderna: “O nascimento da Tragédia”, de Nietzsche.

O projeto nietzschiano desta fase está completamente ligado ao Wagner do

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direção de um renascimento de uma cultura orgânica (de acentuado caráter hierárquico) sobre a base estética afinada com a potência do encanto onírico visionário suscitado do gênio musical, segundo a tese do Beethoven de Wagner [...]. O dionisíaco de Nietzsche contém, no centro, o tema da autonomia mágica da música do Beethoven. (CAMPIONI, 1993, p. 203-4 apud BURNET, 2009, p. 1)3

Wagner e Nietzsche tomaram postura consensual, no período em que foram amigos, em torno de três temas: oposição ao cristianismo, valorização dos poetas gregos e análise crítica da vida moderna.

Além do Beethoven, outros ensaios escritos por Wagner nos tempos de exílio - A

arte e a revolução (1849), Ópera e Drama (1851) e A obra de arte do futuro (1851) -

influenciaram o jovem Nietzsche. Nesses escritos o músico reflete sobre a decadência dos valores gregos, como sendo a principal causa para o estabelecimento das condições improdutivas da época moderna. (MACEDO, 2005) Em 1878, Nietzsche e Wagner rompem a amizade, ano em que Nietzsche publica

Humano, demasiado humano, e se distancia dos seus pensamentos de juventude

inspirados em Schopenhauer e Wagner. Passa a combater Wagner, especialmente devido a sua grande notoriedade à época. “Wagner passou a ser para Nietzsche, um renovador dos velhos ideais, e nisso consistia seu maior perigo, sua mais intensa nocividade.” (MACEDO, 2005)

Considerações finais

Richard Wagner sempre despertou grande interesse seja sobre sua vida pessoal, sobre seu posicionamento político ou sobre sua influência sobre os alemães não somente no campo da música e do teatro.

Tornou-se o arquétipo do artista romântico, preocupado com o reconhecimento, galante, com uma vida amorosa intensa, detentor de amizade com príncipes e inimizades importantes. Muitas viagens, um grande volume de escritos, em resumo, uma vida vivida de forma extraordinária.

Mas, talvez o mais relevante: Wagner será considerado como um dos grandes compositores capazes de, em combinações múltiplas de sons, traduzir a complexidade da alma humana.

REFERÊNCIAS

BURNETT, Henry. O Beethoven-Schrift: Richard Wagner teórico. Trans/Form/Ação, Marília, v. 32, n. 1, p. 159-173, 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732009000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 20 Jun. 2015.

GOMES, Leonardo José Magalhães. Richard Wagner. In: BAUDELAIRE, Charles. Richard Wagner e Tanhäuser em Paris. Organização e tradução Eliane Marta Teixeira Lopes. Belo Horizonte: Autêntica, 2013, p. 131-158.

MACEDO, Iracema. Nietzsche, Bayreuth e a época trágica dos gregos. Kriterion, Belo Horizonte, v. 46, n. 112, p. 283-292, Dec. 2005. Disponível em:

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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2005000200012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 Jun. 2015.

RICHARD WAGNER. Disponível em:

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