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A cooperação agrícola a na organização política do MST: um estudo sobre as experiências desenvolvidas no Maranhão

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Anais do IV Simpósio Lutas Sociais na América Latina ISSN: 2177-9503

Imperialismo, nacionalismo e militarismo no Século XXI 14 a 17 de setembro de 2010, Londrina, UEL

GT 1. Lutas camponesas e indígenas na América Latina

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Michelly Ferreira Monteiro Elias∗

Introdução

Este artigo diz respeito ao estudo realizado durante a pesquisa para a

dissertação de mestrado1, sobre o tema da cooperação agrícola no

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e que teve como principal motivação a atuação profissional e militante nesta organização social, realizada de forma mais específica no Setor de Produção Cooperação e Meio Ambiente (SPCMA) no MST no Maranhão.

A participação no planejamento e nas sistematizações dos debates acerca da organização da produção agrícola e pecuária das famílias assentadas em áreas de reforma agrária no estado do Maranhão foi o ponto

∗ Professora do Curso de Serviço Social da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM – Minas Gerais. Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Franca e Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. michellyeliass@gmail.com

1 Mestrado do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão, concluído em Julho de 2009.

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de partida para o interesse de estudo sobre a cooperação agrícola. A partir, portanto, do debate sobre essa prática envolvendo as famílias assentadas e os militantes ligados ao MST, visualizamos a centralidade da cooperação agrícola principalmente na discussão sobre modelos de agricultura e de construção de uma nova matriz tecnológica e produtiva para os assentamentos de reforma agrária, como uma das questões mais complexas e desafiadoras para o Movimento.

O MST desde 1986, passou a se dedicar a diversos estudos, debates e experiências sobre a cooperação agrícola, pensando principalmente a realidade dos assentamentos e considerando os desafios diante da organização da produção nos novos espaços da vida social dos assentados; estando esta questão central no tocante à formação da consciência crítica e da resistência das famílias assentadas em relação ao modelo de organização da produção vigente na agricultura, no contexto do desenvolvimento capitalista.

A partir dessas indicações, o objeto de estudo o qual nos detivemos neste trabalho foi a relação entre a cooperação agrícola e o processo de organização política do MST, analisando a experiência desenvolvida por este Movimento no Maranhão.

Considerando a realidade das formas de cooperação agrícola desenvolvidas pelo MST no Maranhão, a questão fundamental que se colocou, para o desenvolvimento deste estudo foi: em que medida a cooperação agrícola tem contribuído no processo da organização política do MST, considerando a problemática do desenvolvimento do capitalismo no campo e da luta por reforma agrária no âmbito das lutas sociais em particular no Maranhão?

Para pensar esta questão, tivemos presente as discussões, ações e linhas políticas do Movimento que se depara com limites e dificuldades em

relação às complexas condições objetivas e subjetivas do trabalhador rural2

no atual contexto de desenvolvimento do capitalismo no Brasil e, em particular, no campo e na agricultura, ressaltando-se: nas condições objetivas a questão agrária brasileira, a situação da distribuição da terra e dos meios de produção e do mercado capitalista; e nas condições subjetivas o nível de desenvolvimento da formação do trabalhador rural em relação às exigências

2 Reconhecemos a complexidade e a eminência do debate sobre a denominação da composição da base social do MST, no caso, de trabalhadores rurais ou camponeses. Assim não temos a pretensão de apontar alguma demarcação conceitual definitiva em relação a isto neste trabalho; embora identifiquemos a relevância dessa discussão na abordagem sobre a cooperação agrícola e o processo de organização política do MST. Mas a partir dos estudos realizados, optamos por utilizar durante a pesquisa, a denominação de “trabalhadores rurais sem terra” na definição e referência à base social do MST, considerando para isto, as abordagens desenvolvidas por Germer (2004) e Martins (1991), sem perder de vista o fato de que a questão está em debate.

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da produção e da produtividade e o nível de conscientização e capacidade de organização das famílias assentadas para a realização da cooperação agrícola. A realização da pesquisa, que foi eminentemente qualitativa, partiu de uma revisão bibliográfica sobre os temas de cooperação agrícola e cooperativismo, reforma agrária, lutas sociais e a organização política do MST, relacionados à questão agrária e à luta de classes, buscando os fundamentos da análise na tradição marxista. Com isso, destacamos a abordagem da cooperação agrícola, a partir de um estudo de caráter histórico e teórico sobre a cooperação e o cooperativismo e sua relação com a luta da classe trabalhadora; e a abordagem da organização política enquanto processo. Nesse sentido abordamos o MST situando-o no contexto das lutas sociais, considerando sua participação na luta pela terra e por reforma agrária no Brasil e tendo como perspectiva o movimento real da sociedade de classes. E neste aspecto, tendo presente que a realidade agrária do Maranhão, vem sendo reconfigurada pelo desenvolvimento do agronegócio, a partir da realização de Grandes Projetos ligados à monocultura do eucalipto, da cana-de-açúcar e da soja e a áreas estratégicas de minério e energia; e, sem dúvida, vem reconfigurando a luta de classes no campo, tendo de um lado a classe trabalhadora composta por: camponeses, trabalhadores (as) rurais assentados, assalariados, autônomos, sem-terra, posseiros, meeiros, indígenas, quilombolas, quebradeiras-de-côco babaçu e pequenos agricultores; e de outro lado, os grandes proprietários de terras, empresas, multinacionais e grandes mineradoras de outro, que com o apoio do Estado através de infra-estrutura e políticas de subsídios, demonstram uma clara vinculação da burguesia agrária com o capital financeiro internacional. Sendo que nesta realidade, tanto os trabalhadores do campo quanto da cidade sofrem as conseqüências deste modelo de acumulação capitalista no campo, seja através da expropriação de sua terra, seja através da exploração do seu trabalho.

Nessa perspectiva, ressalta-se neste estudo o desafio do MST articular a luta imediata à luta mediata, na perspectiva de construção de uma nova sociabilidade, tendo como mediações desse processo a luta pela terra e por reforma agrária nas condições objetivas de vida nos assentamentos.

A problemática da cooperação agrícola no MST

Para abordarmos a cooperação agrícola no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), partimos do pressuposto de que a formação dessa organização social compõe o processo de “conflitos de interesses entre as diferentes classes sociais presentes na agricultura brasileira” (GERMER, 2004, p. 264). Assim, a abordagem da questão é realizada, entendendo-a como realidade concreta, permeada por

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contradições que se expressam enquanto síntese de uma construção histórica socialmente determinada.

Na realização da pesquisa, partimos de elementos da economia-política, para posteriormente abordamos o conceito de cooperação enquanto prática socialmente determinada. Nesse sentido, resgatamos a análise de Rios3 (2004), que, aofazer referência aos estudos sobre sociologia

rural de José de Souza Martins, considera a cooperação como um processo de inserção que se dá no âmbito econômico, mas enquanto projeto político.

Comisso, identifica a cooperação do grande capital e a cooperação realizada

por trabalhadores, a qual, na maioria das vezes, está associada a bases artesanais e tecnicamente modestas:

Ora, a cooperação precisa ser considerada antes de tudo como uma prática de que lançam mão justamente os que estão na dianteira econômica. Nesse sentido, o sociólogo e grande estudioso de nossa realidade rural José de Souza Martins (Martins 1991: 57) assinala o descompasso entre a cooperação já praticada em grande escala pelo capital e a cooperação

tolerada dos produtores isolados (...) É o sentido de cooperação como

inserção no processo econômico, como projeto político e não de cooperação como disposição psicológica que se trata de levar em conta. (RIOS, 2004, p. 1).

A partir da realidade vivenciada pelas famílias assentadas, o MST sintetiza cooperação agrícola da seguinte forma:

Cooperação agrícola é a introdução na agricultura dessa divisão social do trabalho, de forma cooperada (...) Então, a cooperação agrícola é o jeito de juntar ou somar os esforços de cada assentado (agricultor individual ou familiar), para fazer coisas em conjunto: comprar ferramentas, comprar e utilizar máquinas (trator, colheitadeira, ordenhadeira, etc.), comprar matrizes animais, produzir uma lavoura em conjunto, montar uma agroindústria e até chegar ao ponto de ter a terra, capital e trabalho em conjunto. Surge assim o agricultor cooperado (CONCRAB, 2007, p. 12).

Como forma de sintetizar sobre o processo da cooperação agrícola

no MST em âmbito nacional, Christoffoli (2000) aponta os seguintes

elementos:

• Período 1984 / 1989: a cooperação se organiza de forma ainda

incipiente através de pequenos grupos e associações de trabalho coletivo (máximo de 10 famílias cada), orientados por princípios comunitário-religiosos;

• Período 1989 / 1993: período de construção do Sistema

Cooperativista dos Assentados (SCA). A organização desse

3 Pesquisador na área de cooperativismo e professor da Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE), nos departamentos de Letras e de Ciências Sociais.

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coletivo proporciona a elaboração de linhas políticas para a organização da produção dos assentamentos e também para a constituição de cooperativas de trabalho coletivo;

• Período 1993 / 1997: constituem-se diversas cooperativas

regionais de comercialização ligadas ao SCA e que atuam na perspectiva de massificar a cooperação entre as famílias

assentadas, incluindo experiências de cooperativas de

industrialização e prestação de serviços, mas esse é também um momento de relativa crise das experiências de trabalho coletivo;

• Período 1997 / 2000: há um acompanhamento mais sistemático

no campo técnico e gerencial das cooperativas coletivas, buscando identificar elementos técnicos e econômicos que orientem uma proposta metodológica e organizativa das formas de organização coletiva do processo de produção nos assentamentos.

De acordo com Christoffoli (2000), ao analisar o processo das cooperativas no MST, os principais limites identificados estão relacionados aos seguintes fatos: os coletivos não conseguirem gerar excedentes econômicos; a produtividade do trabalho ser em geral muito baixa; haver uma baixa composição orgânica de capital; ausência de uma estratégia

econômica que possibilitasse um melhor aproveitamento da força de

trabalho, dos recursos disponíveis e das potencialidades de mercado existentes. Já os dilemas políticos eram gerados a partir de contradições e conflitos que foram aparecendo ao se buscar realizar um cooperativismo respaldado em valores socialistas, que precisavam se manter e estabelecer relações num mercado capitalista.

Muitos assentamentos das diferentes regiões do país fundaram cooperativas que pouco funcionaram. Em outras situações, as cooperativas foram inicialmente formadas, mas não conseguiram se manter por ausência de condições objetivas para sua operacionalização. Essa situação foi se agravando, devido aos problemas gerados pela relação tensa, muitas vezes estabelecida entre as linhas políticas do MST e a exigência do crescimento econômico, por parte do mercado capitalista.

De forma geral, porém, o MST aponta que o incentivo à cooperação agrícola deve ocorrer por razões econômicas, visando: aumentar o capital constante e a produtividade do trabalho; fazer uma adequação tecnológica; conseguir melhores preços para os produtos; desenvolver a agroindústria e a indústria. Deve também ser efetivada por razões sociais: urbanização das moradias; infra-estrutura básica; educação; transporte coletivo; saúde; maiores possibilidades de lazer. E, finalmente, por razões políticas: para ampliar a resistência ao capitalismo; construir a retaguarda do MST;

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desenvolver a consciência política dos assentados; fazer articulação política; acumular forças para a transformação social (CONCRAB, 1998).

Considerando isso e tendo como referência o processo histórico vivenciado nas experiências de cooperação agrícola anteriores, são colocados atualmente como principais desafios para o MST nesse âmbito: planejar e organizar a produção; massificar a cooperação; realizar trabalho político-ideológico permanente; e preparar quadros políticos e técnicos (CONCRAB, 2007).

Aspectos da cooperação agrícola no Maranhão

Para a configuração da cooperação agrícola no MST no Maranhão, realizamos um levantamento sobre as formas de cooperação existentes no conjunto dos assentamentos vinculados ao Movimento. Num segundo momento, realizamos pesquisa de campo específica em quatro assentamentos, situados em diferentes regiões do estado e desenvolvendo formas de cooperação agrícola diferentes. Com isso, visamos conhecer melhor as experiências de cooperação agrícola e observar a dinâmica real dessas comunidades, tendo como foco o processo de organização política e sua relação com a cooperação agrícola.

Observando a realidade dos assentamentos, identificamos que a cooperação no seu sentido amplo, está presente no dia-a-dia das famílias assentadas para: limpeza das áreas de uso comum nos assentamentos; realização de festas típicas ou religiosas; arrecadação de recursos financeiros para demandas do assentamento; realização de mutirões para atividades como pintar, limpar ou construir algo que seja do assentamento.

Identificamos também que a prática de cooperação entre as famílias assentadas, nos vários espaços e dimensões que a vida social do assentamento compreende, ocorre independentemente de discussões, orientações e experiências desenvolvidas pelo MST. Podemos perceber que essa prática se realiza devido à necessidade que há e devido à própria forma com que esses trabalhadores do campo relacionam entre si e com o meio. Essas afirmações têm como base o que constatamos nos quatro

assentamentos pesquisados, onde pudemos observar que,

independentemente da relação estabelecida com o MST, as famílias realizam esse tipo de cooperação.

Assim como está presente no cotidiano das várias atividades desenvolvidas nos assentamentos, percebemos que a realização do mutirão também é comum no trabalho desenvolvido na agricultura. De acordo com a identificação realizada, constatamos que as duas formas existentes em todos os assentamentos são o mutirão e a associação.

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Considerando esse levantamento a partir das seis regiões do MST no Maranhão (Tocantina, Açailândia, Pindaré, Médio Mearim, Baixada e Itapecuru), identificamos que as outras formas de cooperação agrícola existentes nos assentamentos, além da associação e do mutirão, são: grupo semi-coletivo, na região de Açailândia; grupo coletivo, nas regiões Itapecuru e Tocantina; cooperativas, nas regiões Tocantina, Baixada e Itapecuru. Perguntou-se aos entrevistados sobre outras formas possíveis de cooperação agrícola, além das acima mencionadas, mas nenhuma outra foi identificada.

A partir dessa identificação geral das formas de cooperação agrícola no MST/MA, percebemos nos assentamentos que são mais comuns as formas coletivas de organização do trabalho, que não possuem necessariamente uma dinâmica sistemática e que não exigem níveis complexos de organização do trabalho. Nesse sentido, não requerem conhecimentos técnicos e específicos de gestão ou cooperação, não ocupam muito o tempo do trabalho de seus membros e normalmente são realizadas a partir de princípios de ajuda mútua, solidariedade e/ou necessidades momentâneas.

Quando realizadas no campo da produção agrícola e pecuária, sua duração normalmente é por um período determinado e sua organização se estabelece em alguma fase do processo de produção (usualmente a comercialização). Nesse sentido, incluímos as formas de cooperação agrícola, como os mutirões, os núcleos de produção e os grupos coletivos.

Já as associações e as cooperativas, pressupõem algumas situações diferentes e mais complexas.

As associações4, tidas como uma das principais formas de cooperação

agrícola, constituem-se necessariamente em entidades com existência legal como pessoa jurídica e por isso são vistas pelo MST como uma “forma de

cooperação agrícola formal”.

Ao observarmos as declarações feitas pelos informantes de cada região, percebemos que a associação funciona primeiramente como entidade representante das famílias assentadas junto ao Estado e as demais instituições. Normalmente, são espaços onde se toma decisões em reuniões e assembléias, sendo compostas usualmente por uma diretoria, um conselho fiscal e os demais associados.

Segundo constatado, na realidade, as associações têm se tornado entidades que, na prática, em pouco ou nada têm conseguido incentivar e estabelecer a cooperação agrícola entre seus membros. Elas têm o objetivo principal de prestar serviços de interesse comum (como aquisição de

4 De acordo com o último levantamento feito em 2004 pelo MST – Maranhão, havia, no conjunto de assentamentos organizados pelo Movimento, um total de 58 associações.

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animais, máquinas, comercialização), assim como funcionar como uma forma de representação política dos assentados, dentre outros. No entanto, percebemos que a principal – e às vezes única – funcionalidade efetivo das associações tem sido a de intermediar o acesso das famílias assentadas ao crédito agrícola. Isso porque, apesar de cada assentado(a) ser responsável pelo acesso, uso e pagamento do seu crédito, há a necessidade de representação legal dos associados junto aos órgãos financiadores e governamentais. Por isso, a associação é fundamentalmente necessária e criada em toda área de assentamento.

Em relação às cooperativas – tidas como forma mais complexa de cooperação agrícola e vistas como um mecanismo que pode propiciar substantivas melhorias econômicas e sociais para seus membros – identificamos como experiências concretas nos assentamentos até então a COOMARA (Cooperativa Mista dos Assentados de Reforma Agrária da Região Tocantina), a COOPERVID (Cooperativa Agropecuária dos Pequenos Produtores da Vila Diamante) e a COOPAQMA (Cooperativa de Produção Agropecuária do Assentamento 4 de Maio). Mas percebemos que, apesar do apoio técnico e político do MST na organização dessas cooperativas, atualmente nenhuma delas realiza trabalho agrícola de forma coletiva, embora existam como entidades e mantenham a sua estrutura organizacional, com diretorias, membros cooperados e documentação.

Já as cooperativas estaduais – COOPERA (Cooperativa dos Trabalhadores Prestadores de Serviços em Áreas de Reforma Agrária) e CCA (Central de Cooperativas de Reforma Agrária) – estão em funcionamento, mas suas atuações, não se dão no âmbito direto da organização produtiva, mas sim na área de prestação de serviços de assistência técnica e de representação e articulação, respectivamente.

Considerações finais

Na especificidade da realidade agrária no Maranhão, caracterizada pela concentração fundiária, por conflitos agrários e devastação ambiental, apontamos um conjunto de características do processo da cooperação agrícola nos assentamentos do MST. Dentre os vários aspectos constatados, destacamos: a cooperação de forma geral faz parte do cotidiano das famílias assentadas; a necessidade momentânea e/ou permanente é o que leva o assentado a querer cooperar; há uma considerável influência de valores comunitário-religiosos para a realização de algumas formas de cooperação agrícola, como os mutirões e grupos coletivos e semi-coletivos; a cooperação agrícola proporciona uma diminuição no tempo e na penosidade do trabalho; as formas de cooperação agrícola são realizadas a partir de bases técnicas simples e não ocorrem de forma que proporcionem

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agregação de valor e dividendos econômicos significativos para a renda familiar; as experiências realizadas ocorrem como uma forma de complementar as atividades produtivas que já são realizadas individualmente e ela ocorre normalmente em apenas uma fase do processo da produção agrícola, tendo um período pré-determinado de existência.

É importante ressaltar que as experiências no Maranhão, de forma geral, apresentam um caráter esporádico e quando pressupõem a necessidade de existência de entidades, como é o caso das associações e das cooperativas, embora estas existam, na prática pouco realizam a cooperação agrícola. Na complexa realidade do Maranhão, identificamos pelos assentamentos do MST que a questão agrária no Brasil e no estado, tem impedido o desenvolvimento de uma política de reforma agrária que proporcione melhorias das condições de vida das famílias assentadas.

Assim, os assentamentos têm se deparado com uma realidade social e econômica que é agravada pela precariedade das políticas públicas que se reflete na ausência de créditos agrícolas, apropriados para a realidade das famílias assentadas; falta de assistência técnica e de acesso a informações, conhecimento e tecnologias de produção; um quadro que é agravado pelo elevado índice de analfabetismo da população.

A organização produtiva nos assentamentos de reforma agrária se constitui em uma situação problemática para os trabalhadores e suas famílias, que expressa e reproduz as condições geradas pelo desenvolvimento do capitalismo no campo. E nesse sentido identificamos que a cooperação agrícola na organização política do MST no Maranhão não tem conseguido apontar alternativas em relação ao processo produtivo dominante na agricultura brasileira e maranhense.

Embora, as experiências da APRAS e da COOPERVID, desempenhem um papel político no âmbito da política local do assentamento, vemos que isto ocorre mais pelo fato de representarem entidades, do que pelo fato de realizarem a cooperação no processo produtivo. Enquanto que atividades como os mutirões e grupos coletivos, são realizadas momentaneamente ou possuem pouco tempo de duração, ficando limitado o desenvolvimento de um processo mais sistemático.

Assim os assentamentos do MST, no contexto complexo da luta de classes, enfrentam vários desafios em relação à sua proposta de organização política e econômica; percebemos as dificuldades para a organização dos núcleos de famílias, dos setores de trabalho, das discussões acerca das relações de gênero, da agroecologia, da construção de valores voltados para a emancipação da classe trabalhadora, dentre outros.

Reafirma-se, no entanto, a necessidade de o MST continuar atuando no processo de luta política, de enfrentamento ao capital, de

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questionamento à propriedade privada e à concentração dos meios de produção, procurando avançar na luta mais geral no esforço de organização coletiva construindo propostas e formas de organização do trabalho, diferentes da matriz tecnológica e produtiva dominantes. Com isso, é necessário persistir na busca por formas de organização da produção nos assentamentos que produzam modificações na dinâmica de trabalho, nas técnicas de produção e que contribuam para o desenvolvimento econômico das famílias assentadas. Nesta perspectiva a luta por políticas públicas ganha relevância na estratégia do MST no desenvolvimento de propostas que considere as diferentes realidades e culturas existentes nos assentamentos situados em diferentes regiões do país.

Sem um apoio concreto através de políticas públicas e de avanços no âmbito do enfrentamento político ao capital, a tentativa de constituição da cooperação agrícola no MST estará condicionada a uma limitada participação dos trabalhadores rurais Sem Terra, que pouco irá contribuir para a organização dos núcleos de famílias, para as atividades de mobilização social, para a formação político-ideológica e, principalmente, não proporcionará condições concretas de organização da produção dos trabalhadores e suas famílias como fundamento necessário à formação da consciência política e de classe.

Considerando a concepção de cooperação agrícola do MST e a construção de experiências na realidade dos assentamentos no Maranhão, verificamos que a relação entre cooperação e o processo de organização política da classe trabalhadora na atualidade, permanece como um desafio central para o MST.

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