QA 216 História e Filosofia da Química Unidade I – PROTOQUÍMICA
A etapa da Protoquímica compreende o período desde a Antiguidade até o início da era Cristã e caracteriza-se por abordar as artes práticas, atividades artesanais, executadas pelos diferentes povos, e os aspectos teóricos ou filosóficos sobre a compreensão da natureza, em especial a constituição da matéria, em diferentes civilizações do mundo.
Em outras palavras, é o período que precede em muito o surgimento da Química e caracteriza-se por associar-se as primeiras impressões teóricas sobre a matéria e sua constituição, e as artes práticas químicas desenvolvidas pelas civilizações antigas.
Uma das características desse período é que a prática e a teoria não andavam juntas.
Pergunta: Quais eram essas práticas e as impressões teóricas desse período? Antes de responder essa perguntar, vale falar um pouco sobre o Fogo, sua descoberta e seu uso.
Um pouco do significado da palavra protoquímica proto- : Início, começo, anterioridade. Exemplos:
proto-história, protótipo, http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf7.php , acessado no dia 10/04/12 O FOGO Descoberta e uso AS ARTES PRÁTICAS
As artes práticas primitivas oferecem informações a partir dos artefatos produzidos sobre as habilidades do ser Humano, apesar da escassez de
documentos escritos, pois as habilidades eram transmitidas de pai para filho e de mestre para aprendiz.
Quais práticas desenvolvidas e a quais materiais estavam associadas?
Metalurgia - Uso de diferentes metais com diferentes aplicação pelas diferentes civilizações.
Ouro Prata Cobre
Estanho e Bronze (liga Cu/Sn) Latão (liga Cu /Zn
Chumbo Ferro Mercúrio
Vitrificação – técnica relativa à descoberta do vidro e sua utilização. Areia Fundida
Cerâmicas – uso do barro na produção de utensílios.
Coloração/Pigmentação - Uso de pigmentos naturais de origem vegetal e mineral.
Conservantes
Conservação de alimentos Técnica de mumificação
Algumas considerações
• As artes práticas primitivas são riquezas de informações de dados referentes às habilidades executadas pela Humanidade ao longo do período de 4500 a.C até o início da Era cristã;
• Os resquícios dos objetos produzidos pelas artes práticas são testemunhos de uma vida vivida e passada;
• Os documentos são muito escassos o que dificulta a aquisição de dados que um mais fidedigno desse período;
• As habilidades eram transmitidas de pai para filho;
AS IMPRESSÕES TEÓRICAS
Quais os pensamentos, teorias, especulações teóricas ou aspectos filosóficos dominantes nesse período?
• A origem da matéria? • A natureza da matéria?
• A Transformação da matéria?
• A relação da matéria com o divino?
As especulações ocorrem sobre os elementos da natureza: terra (sólido), água (líquido) e ar (gasoso).
Bem, cada civilização conduzia essas questões de acordo com as suas crenças, modo de viver, valores, enfim sua cultura e as que destacaram, talvez, por ter possibilitado estudos arqueológicos, foram segundo Maar (1999): grega, romana, hindu e chinesa.
Quais os pensadores de destaque?
Os pensadores de diferentes origens: gregos,romanos, hindus e chineses.
ORIGENS GREGAS (séc. VII a.c – V a.c) Tales, da cidade de Mileto ( 624 a.c – 544 a.c)
• Buscava a unidade da natureza;
• A água era o elemento principal, ao se condensar, tornava-se terra, e ao se rarefazer, torna-se ar, fogo.
• Pai da filosofia jônica e da ciência ocidental. Anaxímandro (610 a.c – 546 a.c)
• Também da cidade de Mileto;
• Introduziu o conceito de LEI ( Princípio , o arché) e dos estudos sobre os fenômenos naturais;
• Contrapôs o princípio primordial da ÁGUA; • Principio
◦ Eterno, imaterial e ilimitado, negava o principio primordial na natureza
APEIRON = Equilíbrio ( restauração do equilíbrio) Anaxímenes (585 a.c – 525 a.c)
• Ar - princípio fundamental (retorno ao concreto) Fogo ←AR→ Água→ Terra →
Pedra
• APEIRON – muito vago Anaxágoras (500 a.c – 428 a.c)
Princípios fundamentais
– Espírito (substância), é o NOUS que coordena os processos de separação
– Matéria: infinitamente divisível e composto de todos os elementos em proporções variáveis.
Heráclito
Princípio fundamental: o FOGO Diógenes
• Primeiro empirista Xenófanes
• Unidade em vez de diversidade; • TERRA - matéria primordial Empédocles
• Introduziu o termo elemento
• Principio dos 4 elementos: AR/ÁGUA/TERRA/FOGO Aristóteles
• Matéria e qualidade: princípio adotado por 2000 anos • Adota os 4 elementos de Empédocles
Umidade → AR ← Quente ↓ ↓ ÁGUA FOGO ↑ ↑ Frio → TERRA ← Seco
Obs.: como teoria e experimentação não andavam juntas, não era possível comparar a teoria da transmutação.
Leucipo
• Átomo – última partícula indivisível da matéria
• Ser/vácuo – espaço infinito que se movia um número infinito de átomos.
• Teoria atômica fundamentada em Leucipo
• Matéria: constituída por átomos eternos e indestrutível, e cada tipo de matéria é formada por átomos, número infinto, qualitativamente iguais em movimento contínuo no vácuo. Átomos diferentes apresentam tamanho e forma diferentes.
• Assim, busca explicar fenômenos físicos observáveis (sensações) sem interferência de divindades ou de forças não-naturais.
• Teoria ≈ fruto da intuição ( Modelo para o mundo físico) Reflexão
O ser é e o não ser (vácuo), não é (éter).
Assim, qual a herança grega? Elemento e átomo.
ORIGENS ROMANAS
Alguns autores dizem que não existe ciência romana, mas será que não existia ciência aplicada romana?.
Um pouco de contexto...
– Contribuíram significativamente no direito, na administração pública ( o município como menor porção do Estado) e na tecnologia (pontes e estradas).
– Contribuição pouco significativa na Ciência.
– São tidos como compiladores do saber antigo, como Lucrécio e Plínio o Velho.
Lucrécio (c. 95 a C. - a C 55) Poeta-filosófo
– “De Natura Rerum” (Sobre a Natureza): nessa obra ele comenta sobre as forças que unem as partículas, sobre a ideia de que na da se cria e nada se perde, sobre partículas (átomos e moléculas) e ideias de “cinética”.
– Ele contrapõe as idéias dos pré-socráticos: os sentidos são infalíveis, não o é a razão, que pode fazer inferências falsas.
– Expoente máximo da “teoria” científica física/química. Plínio o Velho
– “História Naturalis”: primeiro livro profano impresso obra que busca uma “cultura enciclopédica” que trata da descrição física do mundo, zoologia, botânica, agricultura, medicina, mineração, mineralogia e metalurgia.
Dioscórides
– “De Materia Medica”: obra sobre farmacologia, descreve cerca de 1000 drogas de origem mineral e vegetal, além de tratar do valor alimentar (leite e mel)
As contribuições dos romanos na Ciência química resume-se: – informações sobre fatos, materiais e métodos
– conhecimento científico bastante subjetivo e nada invulnerável ao fantástico e ao sobrenatural;
– Atividade mais acadêmica e literária. – Ausência de atividade experimental;
Enfim, não foi forte tal como a filosofia, história ou poesia.
ORIGENS HINDUS
(As influências de cultura sobre a química só foi estudada a partir do séc. XX e dos estudos sobre o sânscrito, pelos ingleses)
Semelhanças entre as concepções gregas e hindus:
– a matéria é essencialmente eterna e indestrutível e constituída por um número limitado de elementos, os quais combinados formam diferentes substâncias;
– inerentes às partículas mínimas estão propriedades que permitem esta combinação e o posterior desenvolvimento de indivíduos;
– ausência de forças sobrenaturais, ao menos até a etapa de combinação destas partículas.
O sistema filosófico hindú são bastante complexos, entre eles destacam-se o Samkhya e , Vaiseshika.
– 5 elementos sutis (som, tato, cor, gosto, odor)
– 5 elementos concretos ( éter, água, ar, fogo e terra)
Obs.: as combinações em proporções variáveis de um a cinco elementos sutis formam diferentes substâncias.
O sistema Vaiseshika
– teoria atômica que contempla átomos como o “anu”=pequeno, e o “param anu”= absolutamente pequeno.
– Os átomos são indestrutíveis e esféricos, caracterizados por gosto, cor e cheiro e se associam em pares e em agregados de pares, e o éter preenche o espaço vazio entre eles.
– Proposta de uma cosmologia atomística:
– com quatro elementos materiais água, ar, terra e fogo
– com as substâncias eternas e imateriais éter, espaço e tempo. O éter é responsável pelo som, o espaço permite distinguir direção , próximo e distante; e o tempo dá ideia de existir simultaneidade ou não.
– Existência de dois elementos associado à união do Homem com a grande Alma Universal.
ORIGENS CHINESAS
-”Science and Civilization in China” de Joseph Needham (1954): v.5 é dedicado à Química
– Filosofias: confucionismo (antropocentrismo e distanciamento da natureza) e o taoismo (Tao, só encontrado na natureza, que unifica o dualismo)
Obs.: o pensamento grego procura diferenciar ao definir e o chinês procura integrar.
– Concepções
– 5 elementos: terra, água, fogo, madeira e metal
– e a dos princípios opostos, yin e yang, não são totalidades distintas, mas se complementam.
yin máximo muito igual menos mínimo água madeira terra metal fogo mínimo menos igual muito máximo yang
Obs.: o elemento metal evidencia uma maior relação entre teoria e prática
Considerações finais
Bom, as impressões ou concepções teóricas ou filosóficas desta etapa da estruturação da Química estão de acordo com o pensamento dominante da civilização que as produziu.
Os gregos são fundamentados na lógica dedutiva, os hindus recorrem ao “interior” e os chineses recorrem a filosofia unificadora das propriedades opostas.
Podemos perguntar e responder:
1. Isso foi independente ou houve intercâmbio de idéias?
2. O que foi apresentado e discutido auxiliam na compreensão dos esclarecimentos das relações do Homem com o mundo natural?
3. Elemento entendido como “constituinte último” é um dos antigos esforços, juntamente com a origem da vida ou mito da criação, do Homem para compreender o mundo natural?
Bibliografia consultada
MAAR, J, H. A pequena história da química – parte I. Florianópolis: Papa-livro, 1999.