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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj – 5 a 9 de setembro de 2005

XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação:

A Comunicação Como Facilitadora da Autogestão: Estratégias de Comunicação para INCOOP - Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar.1

Vanessa Maria Brito de Jesus2.

Incubadora Regional de Cooperativas Populares da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.

Resumo

A Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar tem como propósito difundir a Economia Solidária por meio de assessoria a grupos comunitários que desejem trabalhar e produzir coletivamente. Deve dar formação em Economia Solidária, Cooperativismo e Autogestão, além de apoio técnico, logístico e jurídico para que possam viabilizar seus empreendimentos de maneira solidária e democrática.

Um dos grandes desafios da incubadora é praticar a autogestão em seu ambiente interno, composto por professores, graduados e graduandos. Assim, apresenta-se no presente trabalho a Comunicação como facilitadora da autogestão, através de estratégias comunicacionais que possam organizar e distribuir o fluxo de informações que se fazem presentes em seu cotidiano.

Palavras-chave

Comunicação; Autogestão; Economia Solidária.

O século XX foi palco de profundas transformações econômicas, sociais e culturais no mundo, que afetam o cotidiano tanto de pequenos povoados no interior de paises subdesenvolvidos como o das grandes metrópoles dos países desenvolvidos. A revolução tecnológica, ainda em curso, que se centra nas tecnologias de informação, vem remodelando a base material da sociedade e condicionando alterações importantes nas relações entre economia, Estado e a sociedade.

1

Trabalho apresentado à Sessão de Temas Livres. 2

Graduada em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – campus Bauru. Desenvolve pesquisas sobre o tema Relações Públicas, Comunicação Social e Economia Solidária. vmbjesus@yahoo.com.br

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A configuração contemporânea do capitalismo acirra cada vez mais a desigualdade social nos países subdesenvolvidos. Reconfigurou as relações trabalhistas e o uso dos avanços tecnológicos de forma incontida contribuíram para a intensificação do desemprego. Assim, as mudanças ocorridas na esfera do trabalho criaram novas possibilidades de organização do trabalho. Surge, nesse cenário, a Economia Solidária, que é, de acordo com Singer3, precursor das discussões sobre essa teoria no Brasil, um outro modo de produção que não o capitalista, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual.

Arruda4 vê a Economia Solidária como outra forma de organizar a produção, o consumo, o comércio, as finanças, a comunicação e a educação, tendo como centro “o homo, seu trabalho, seu saber socialmente acumulado e sua criatividade”, de modo que as necessidades materiais e imateriais do homem sejam tratadas individual e coletivamente de forma justa, fraterna e sustentável.

Funda-se, portanto, nos valores da cooperação, da democracia e da solidariedade, propondo uma organização do trabalho de forma autogestionária e a partir das necessidades, desejos e aspirações das pessoas e da comunidade em que se insere.

As formas de organização da Economia Solidária podem ser via cooperativas populares, clubes de trocas, empreendimentos solidários e outras organizações que contemplem os valores propostos por esse sistema. Nas universidades, os fomentadores são as incubadoras tecnológicas de cooperativas populares, que buscam formar grupos em Economia Solidária, Cooperativismo e Autogestão.

Uma Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) tem por princípio atender grupos comunitários que desejem trabalhar e produzir coletivamente, dando-lhes formação em Economia Solidária, em cooperativismo e o apoio técnico, logístico e jurídico para que possam viabilizar seus empreendimentos autogestionários. (SINGER, 2002, p. 123).

O universo acadêmico é o mais propício para o surgimento de uma incubadora, devido à função triádica das universidades, em especial das públicas, que é ensino, pesquisa e extensão. É um projeto que se enquadra, burocraticamente, como extensão e tem como ideal a multidisciplinariedade dos saberes, isto é, deve contar com a participação de

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professores, estudantes e funcionários das diversas áreas do conhecimento. É importante ressaltar que o conceito de extensão aqui empregado ultrapassa os limites dos trâmites burocráticos das universidades e transcende conceituações tradicionais. O conceito de extensão universitária deve ser visualizado no campo teórico da categoria trabalho; ao trabalho social útil com uma explícita intencionalidade acadêmica5.

No Brasil, as mais relevantes universidades possuem ITCP, que se organizaram em rede6 para trocar experiências, aprimorar a metodologia de incubação e se posicionar no movimento nacional de Economia Solidária.

Pontualmente, discutir-se-á a relação da comunicação como facilitadora da autogestão na INCOOP – Incubadora Regional de Cooperativas Populares. A INCOOP é um programa de extensão da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) que amplia as possibilidades de produção de conhecimento, simultaneamente à formação de estudantes e profissionais em processos de incubação de cooperativas populares e empreendimentos solidários, com participação de professores de várias áreas do conhecimento, de alunos de diversos cursos da UFSCar e de profissionais graduados.

Surgida em 1999, a partir de um grupo de estudos sobre Economia Solidária, teve como motivação a possibilidade de proporcionar uma alternativa de geração de renda e a promoção da cidadania à população excluída do mercado de trabalho da cidade de São Carlos e região.

Capacitar grupos populares para trabalharem sob as bases da economia solidária, da autogestão e do cooperativismo faz parte dos desafios enfrentados por todos os membros de uma equipe que compõem uma incubadora. No entanto, desafio maior é praticar a autogestão em seu interior.

A autogestão, de acordo com Albuquerque, em seu sentido lato, é "o conjunto de práticas sociais que se caracteriza pela natureza democrática das tomadas de decisão, que propicia a autonomia de um coletivo" (2001, p.20). Para Pontes, "autogestão é uma ação reflexiva de

4 ARRUDA, M. Humanizar o infra-humano : a formação do ser humano integral – homo evolutivo, práxis e economia solidária. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 224.

5

MELO NETO, J.F. Extensão Universitária – uma análise crítica. Tese de Doutorado, UFRJ, 1997. 6

Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, a saber: Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade do Estado da Bahia, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade Federal de São João Del Rei, Universidade dos Vales dos Rios dos Sinos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de São Carlos, Universidade Estadual de Campinas, Pontifícia Universidade Católica, Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Regional de Blumenau e Universidade Católica de Pelotas.

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sujeitos ativos que estão se propondo pensar e agir diante de um determinado contexto das Relações de Trabalho". (1999, p.109).

É mais que uma simples modalidade de gestão. É um exercício que envolve a partilha de poder, que independe do tipo de estrutura organizacional ou mesmo das atividades, pois busca expressar relações sociais mais horizontais.

Ainda, para Albuquerque:

“(...) é um sistema de representação cujos valores, princípios e práticas favorecem e criam condições para que a tomada de decisão seja o resultado de uma construção coletiva que passe pelo poder compartilhado - de opinar e decidir, de forma a garantir o equilíbrio de forças e o respeito aos diferentes atores e papéis sociais de cada um dentro da organização". (ALBUQUERQUE, 2001, p. 20).

Pode-se apontar, portanto, que o maior desafio para o exercício da autogestão no interior da INCOOP fica explícito na colocação do autor sobre equilibrar as forças e o respeito pelos diferentes atores e papéis sociais que cada um desempenham. Os atores sociais que compõem a organização são docentes, estudantes de pós-graduação, profissionais e estudantes de graduação.

É perceptível a dificuldade de quebrar as barreiras hierárquicas que se estabelecem na incubadora. Essas barreiras são resquícios de um passado educacional positivista e de posturas socioculturais construídas ao longo da história da sociedade contemporânea. Outro aspecto que também influencia a incorporação da autogestão como prática é sua relação com a universidade que a abriga. A UFSCar, assim como outras universidades, possui instâncias de organização legitimadas que tradicionalmente representam a formalidade do meio acadêmico. A incubadora, enquanto projeto de extensão, relaciona-se cotidianamente com os departamentos e com a pró-reitoria de extensão que pouco possuem a mesma visão de extensão praticada no interior da incubadora. Assim, fica presente uma dualidade de ações, comportamentos e discursos nos diferentes ambientes em que convive.

Galvão e Cifuentes (2001, p. 35) colocam que para haver autogestão é preciso informação. Percebe-se que um dos possíveis caminhos para construção de uma relação de trabalho horizontal é através do acesso e organização da informação. A partilha do conhecimento gerado no cotidiano de uma organização pode ser considerado como fator que contribui

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para a autogestão, na medida em que abre espaços participativos. Em relação à participação, Pateman (1992, p.107) expõe, “(...) a posse de informação indispensável é uma condição necessária para participação”.

Nessa perspectiva, observou-se necessário inserir a discusão sobre o papel da comunicação como facilitadora da autogestão na INCOOP e tal discussão só foi possível com a inserção de um profissional da Comunicação em sua equipe. Foi importante dar início a um processo de construção de um referencial sobre comunicação que transcendesse a simples compreensão do esquema “emissor-receptor-mensagem-canal”. Julgou-se mais eficaz mostrar que a comunicação, em suas diversas modalidades, permite a organização do fluxo da informação através da disponibilização de canais de comunicação de fácil acesso a todos seus membros.

Buscou-se, portanto, elaborar estratégias de comunicação que permitissem disponibilizar as informações que jorram no dia-a-dia da incubadora. Para a execução do plano de comunicação, foi preciso direcionar as ações para os diferentes atores sociais que possuem relações sociais diretas e indiretas com a INCOOP.

Desse modo, a equipe INCOOP, composta por professores, profissionais graduados e alunos da UFSCar, totalizando quarenta e duas pessoas, foi criado o produto comunicacional INFOCOOP, nas versões: mural interno, boletim eletrônico semanal e informativo semestral. Uma vez que a incubadora não possuía material institucional foi proposto também a criação de folder, banner, cartão de visita, clipping e um website. Abaixo, o cabeçalho do INFOCOOP versão boletim eletrônico elaborado pela profissional de Comunicação.

O boletim eletrônico tem como objetivo repassar as notícias que chegam diariamente a incubadora de maneira fácil e objetiva, com texto curtos e local onde é possível encontrar

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mais informações sobre os assuntos publicados. Tem sido o produto comunicacional mais lido pela equipe devido a sua capacidade de sintetização das informações.

O caráter do INFOCOOP versão informativo semestral é retratar os fatos e atividades relevantes que aconteceram no primeiro semestre do ano. As seções são compostas por textos de reflexão, notícias sobre políticas públicas em Economia Solidária provenientes da Secretaria Nacional de Economia Solidária, vinculada ao Ministério do Trabalho, intercâmbio de informações com a Rede Universitária de ITCPs, produções acadêmicas dos bolsistas da UFSCar que tiveram como objeto de estudo o ambiente da incubadora, entre outros fatos. A primeira edição trouxe como matéria especial a visita dos índios da tribo Kalapalos que saíram do Alto Xingu para estudar como o homem branco organiza as atividades produtivas de sua comunidade.

O INFOCOOP versão informativo também foi enviado as instâncias da universidade, os governos regionais municipais e estaduais e atores sociais envolvidos com o Movimento Nacional de Economia Solidária foram considerados público externo da incubadora, como forma de divulgação dos trabalhos desenvolvidos pela incubadora e de fomentador de novas parcerias.

Os grupos populares incubados possuem uma relação ao mesmo tempo direta e indireta com a INCOOP. Direta porque convivem diariamente com a equipe responsável pela incubação do grupo. Indireto, pois não convivem com a realidade da incubadora e não participam de suas instâncias deliberativas. Para esse público, pensou-se que a contribuição maior da comunicação seria enquanto articuladora entre os diversos grupos incubados, nas diferentes regiões em que isso acontece. Planejou-se, portanto, a elaboração de um jornal mural que retrate as informações e conhecimentos gerados nos grupos, o que poderá permitir a constituição de uma rede de relações tanto comerciais quanto sociais. O jornal mural ainda está em fase de elaboração e conta com a colaboração dos jornalistas da Assessoria de Comunicação da UFSCar.

Não foi realizada até o presente momento uma avaliação formal das estratégias de comunicação implantadas na incubadora. No entanto, conversas informais demonstram grande receptividade por parte dos membros de sua equipe, que vêm manifestando contentamento em receber as informações de forma mais organizada e sistematizada.

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Também não foi possível avaliar ainda quais impactos as informações contidas no informativo semestral causaram nos parceiros como prefeituras e movimentos sociais de Economia Solidária. No entanto, sabe-se que o envio do informativo é de suma importância para manter abertas as possibilidades de diálogo entre incubadora e público externo.

Não é possível dizer se com essa estratégia de comunicação que a autogestão se efetivará enquanto prática constante da incubadora. Ainda são muitos os resquícios da heterogestão presente nos histórico de vida de cada membro da equipe INCOOP. No entanto, a possibilidade de visualizar um futuro autogestionário para a organização é que incita a busca por formas e estratégias que levem a relações de trabalhos mais justas e significativas.

Referências Bibliográficas

ARRUDA, M. Humanizar o infra-humano: a formação do ser humano integral – homo evolutivo, práxis e economia solidária. 2. ed. São Paulo: Vozes, 2004.

DAL RI, N.M (org). Economia Solidária: o desafio da democratização das relações de trabalho. São Paulo: 1999.

KUNSCH, M. M. K. Planejamento em Relações Públicas na Comunicação Integrada. 4ª ed. São Paulo: Summus, 2001.

MELO NETO, J.F. Extensão Universitária – uma análise crítica. Tese de Doutorado, UFRJ, 1997.

PATEMAN, C. Participação e teoria democrática. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

SINGER, P. Introdução à economia solidária. 1. ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.

VIEITEZ, C.G. DAL RI, N.M (org). Organização e Democracia. Marília: UnespMarília -Publicações, 2000-2001.

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