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A MODERNIZAÇÃO NO CAMPO E A PRECARIZAÇÃO DO EMPREGO URBANO: O CASO DOS CATADORES DE RECICLÁVEIS EM CASCAVEL/PR.

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A MODERNIZAÇÃO NO CAMPO E A PRECARIZAÇÃO DO EMPREGO URBANO: O CASO DOS CATADORES DE RECICLÁVEIS EM

CASCAVEL/PR.

Solange Queiróz Ribeiro - Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon

Solange_geo07@hotmail.com

Teresa Itsumi Masuzaki - Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon

itsumi_28@hotmail.com

Marcelo Dornelis Carvalhal – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon

mdcarvalhal@hotmail.com Resumo

A modernização no campo entre as décadas de 50/60 favoreceu a ampliação do mercado de trabalho capitalista no país, concomitante à intensa migração rural em decorrência da aplicação do pacote modernizante na agropecuária, com seu viés autoritário e conservador, fortalecendo a concentração fundiária. Isso significa no campo a expropriação dos trabalhadores rurais, tanto pela concentração fundiária como pelo esgotamento do modelo baseado na pequena produção agropecuária, ambos os processos estimulados pelas ações estatais, que promovem a intensificação das relações capitalistas no campo, não sem contradições como atestam os conflitos sociais no campo, assim como a recriação de formas aparentemente condenadas pelo desenvolvimento capitalista, como são as relações camponesas de produção que são recriadas em diversos lugares. Cascavel no Paraná localiza-se em uma região predominantemente agrícola, e enfrenta os mesmo problemas decorrente da modernização no campo, que destinou significativa parcela da população brasileira para os centros urbanos em busca de emprego industrial.Como em muitas cidades brasileiras, que se caracterizam como pólos regionais, o município enfrenta problemas, decorrente do crescimento demográfico intenso das últimas décadas, como não houve crescimento de postos de trabalho no mesmo ritmo elevou-se a precarização do emprego, e conseqüentemente o número de trabalhadores no setor da economia informal, a exemplo dos trabalhadores catadores que sobrevivem da catação de reciclável nas ruas da cidade.

Palavras Chaves: Modernização no Campo; Industrialização; Precarização do

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Introdução

O presente texto tem como objetivo compreender a modernização no campo, que forçou grande parcela de trabalhadores migrarem do meio rural para os centros urbanos em busca de emprego industrial. A modernização agropecuária, com seu viés autoritário e conservadora tinha como objetivo atender ao capital industrial. Como alternativa de sobrevivência muitos trabalhadores se deslocaram do meio rural em busca de emprego nos centros urbanos, não correspondendo as exigências de perfil de trabalhadores aptos para o mercado de trabalho do setor industrial. Restando minimamente as atividades que compõe o setor informal.

Como os postos de trabalhos industriais não abrangiam toda reserva de mão-de-obra excedente, a alternativa que lhes restaram como meio de garantir a sobrevivência foi no setor da economia informal, como no caso dos catadores de material reciclável do município de Cascavel, estes estão sujeitos a flexibilização e a desregulamentação do mercado de trabalho pela adesão do Estado ao neoliberalismo.

A Modernização da Agricultura

O desenvolvimento tecnológico capitalista é a base material que permite o aumento da produtividade do trabalho, seja no campo ou na cidade. No campo o resultado conhecido é o aumento da concentração fundiária e a expulsão de contingente de trabalhadores do meio rural, intensificando a migração campo-cidade que acompanhou o processo de industrialização, fato que marcou as transformações espaciais na Inglaterra do Século XVIII, sendo que no Brasil isso ocorreu principalmente após a década de 1960. Este cenário favoreceu a ampliação do mercado de trabalho capitalista no país, concomitante à intensa migração rural em decorrência da aplicação do pacote modernizante na agropecuária, com seu viés autoritário e conservador, fortalecendo a concentração fundiária.

Tradicionalmente isso significa no campo a expropriação dos trabalhadores rurais, tanto pela concentração fundiária como pelo esgotamento do modelo baseado na pequena produção agropecuária, ambos os processos estimulados pelas ações estatais, que promovem a intensificação das relações capitalistas no campo, não sem contradições como atestam os conflitos sociais no campo, assim como a recriação de formas aparentemente condenadas pelo desenvolvimento capitalista, como são as relações camponesas de produção que são recriadas em diversos lugares.

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Para Mendonça (2005) a expropriação e o empobrecimento dos camponeses, a precarização das relações sociais de trabalho, a depredação ecológica e desterritorialização dos trabalhadores da terra são resultantes da histórica opção feita pelo capital que, patrocinado pelo Estado, obteve todas as condições para a sua ampliação e reprodução.

A expansão das relações capitalistas altera o processo de territorialização da sociedade, modificando a relação campo-cidade, processo que se inicia com a própria expansão mercantil no Século XV e que se alastrou pelo mundo, de forma mais intensa na segunda metade do Século XX.

A modernização do campo, em nosso país, formou um novo modo de produzir no meio rural destacando-se entre as décadas de 1950 e 1960. Com o aumento do consumo de insumos industriais e a incorporação de tecnologias modernas, causou grandes transformações na produção rural, o novo modo de produção no Brasil tem como o capital o principal impulsionador. A modernização no campo é responsável pelo deslocamento da força de trabalho do campo rumo à cidade e considerada a principal determinante do crescimento do setor informal urbano, a chegada de trabalhadores oriundo do campo aos centros urbanos nos países em processo de industrialização, a exemplo o Brasil, trabalhadores que vinham em busca de meios para assegurar a sua sobrevivência, que se tornara quase impossível no campo devido principalmente ao movimento de concentração de terras nas mãos de grupos de latifundiários.

Em Cascavel a desapropriação e expulsão de trabalhadores do campo não foi diferente, por estar localizada em uma região predominantemente agrícola enfrenta os mesmos problemas, decorrente da concentração de terra, inviabilizaram a permanência de pequenos proprietários em suas terras devido à pressão dos grandes latifundiários que compraram ou forçaram os pequenos produtores a venderem suas terras formando grandes latifúndios. Para Roos (2007) as relações de parceria e arrendamento foram diretamente influenciadas pela modernização no campo, em que os grandes proprietários não necessitavam mais de arrendar suas terras, pois se tornou mais lucrativo o investimento em máquinas que desfazia de grande contingente de trabalhadores, essa expulsão caracteriza-se pelo fato de estes não serem proprietários de suas terras de trabalho, não se trata necessariamente de expropriação dos trabalhadores rurais, mas de mudanças que levaram à expulsão, pois estes trabalhadores não eram os proprietários da terra.

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A construção de usinas hidrelétricas a partir da década de 70 foi outro elemento que ocasionou a expulsão de trabalhadores do campo, com o objetivo de desenvolvimento ampliado das atividades industriais e de serviços, que garantia os interesses da classe hegemônica, deixando em segundo plano os proprietários que foram obrigados a deixar suas terras produtivas, que apesar de serem afetados pela construção desses complexos hidrelétricos, não tiveram pagamento justos das indenizações.

Diante dessas implicações muitos trabalhadores migraram-se para as cidades, ou outras regiões como a Amazônia, ou até mesmo para o Paraguai. Neste sentido, entende-se concentração populacional de trabalhadores na área urbana do município de Cascavel. Os trabalhadores concentram–se na periferia da cidade formando aglomerados de miseráveis despossuídos, de educação, saúde etc. A alternativa que muitos deles encontram como meio de sobrevivência no centro urbano são os trabalhos temporários, por não possuírem qualificação profissional exigida pelo mercado de trabalho capitalista. No discurso do capital os trabalhadores não qualificados são excluídos do mercado de trabalho formal.

Como alternativa de trabalho e meio de sobrevivência muitos trabalhadores “excluídos do mercado de trabalho” como é o caso de uma grande parcela dos catadores de material reciclável de Cascavel que tem sua origem no campo, devido a modernização no campo migraram dos locais de origens para o município de Cascavel em busca de emprego, como não atende as exigências do mercado de trabalho formal, eles têm se destinado ao circuito da informalidade, que garanta apenas uma renda miserável, como é o caso dos catadores de material reciclável em Cascavel. Que podemos verificar a renda mensal dos catadores de material reciclável entrevistados na (tabela 01), abaixo.

Tabela 01- Renda Mensal dos Catadores de Cascavel Obtida da Coleta de Material

Reciclável Catadores Renda (R$) 1 800,00 2 700,00 2 600,00 2 500,00

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2 415,00 3 400,00 1 300,00 1 Varia de 250,00 a 300,00 7 Varia de 200,00 a 400,00 7 200,00 1 150,00

Fonte: Trabalho de Campo realizado em Cascavel, Janeiro de 2009.

Conforme Gonçalves (2002) os recém chegados a cidades, e em condições de serem empregados, cumpriam o papel de aumentar a força de trabalho disponível no mercado, pressionando os salários dos que se encontravam empregados, já que a oferta tornava-se maior que a demanda.

Como em muitas cidades brasileiras, que caracterizam-se como pólos regionais, o município de Cascavel no Paraná enfrenta problemas, decorrente do crescimento demográfico intenso das últimas décadas, como não houve crescimento de postos de trabalho no mesmo ritmo elevou-se a precarização do emprego, e conseqüentemente o número de trabalhadores no setor da economia informal, a exemplo dos trabalhadores catadores que sobrevivem da catação de reciclável nas ruas da cidade.

Como nas demais cidades e centro regionais, Cascavel no Paraná enfrenta os mesmos problemas, decorrente do crescimento demográfico intenso das últimas décadas, conforme (Tabela 2). Como não houve crescimento de postos de trabalho no mesmo ritmo elevou-se a precarização do emprego, fazendo com que muitos não usufruam de produtos que a sociedade consumista utiliza e logo descarta.

Tabela 2 – Crescimento demográfico em Cascavel / PR

1970 1980 1991 2000 Total 89.9 21 163.4 70 192.9 90 245.3 69 Urbana 34.950 123.656 177.766 228.673 Rural 54.9 71 39.81 4 15.22 4 16.69 6 Pop. Urbana % 38.9% 75.6% 92.1% 93.2%

Tx. Crescimento da pop. Urbana -

253.8

% 43.8% 28.6%

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Por não cumprirem as exigências técnicas e educacionais do capital industrial urbano, sendo visto por está ótica como não aproveitáveis e incapazes de serem empregados, restavam lhe como alternativa a busca de ocupação que lhes proporcionasse alguma renda e que lhes garantisse minimamente a sua sobrevivência nas atividades que compunham o setor informal. Neste contexto que surgem os catadores de papel, a ideologia pregada pelo capital, trabalhadores não qualificados é excluído do mercado de trabalho formal.

Mediante a este contexto, aumentou consideravelmente no cenário brasileiro o índice de desemprego, subemprego, terceirização, precarização e informalidade proveniente da mundialização do capital da reestruturação produtiva e mais recentemente o neoliberalismo.

A Precarização do Mercado de Trabalho

As profundas transformações ocorridas no mercado de trabalho sob a égide da Reestruturação Produtiva e dos avanços tecnológicos industriais dos últimos anos acirram problemas já existentes no mercado de trabalho. As novas tecnologias geraram excedentes de força de trabalho, em razão a estes fatores, direcionaram significativamente grande parcela da população brasileira para o circuito da informalidade, esses problemas ocorrem em países considerados de Terceiro Mundo, que possuem uma industrialização intermediária combinada a uma grande desigualdade econômica e social.

O Brasil é um exemplo, que se adequa a nova ordem econômica mundial sem atentar para os problemas socioeconômicos existentes, esses fatores são intensificados nos centros urbanos, em que há a presença de diversificadas formas de trabalho informal, como os trabalhadores que sobrevivem da catação de material recicláveis, que é marcada pelo trabalho precário e insalubre.

É nesse contexto que proliferaram o subemprego, o trabalho informal e incerto, a contratação de trabalhadores por tarefas ou em tempo parcial, ocorrendo uma maior precarização dos empregos e dos salários, aumentando o processo de desregulamentação do trabalho e da redução dos direitos sociais para os empregados em geral e para os terceirizados em particular.

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A desativação de um conjunto de instituições estatais e as privatizações provocaram o acirramento do desemprego e do aumento da informalidade, agravando a situação geral do mercado de trabalho, que a despeito da diminuição da taxa de desemprego nos últimos anos, ela mantêm-se em patamares elevados, conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1 - Taxa de Desemprego Brasil 8 8.5 9 9.5 10 10.5 11 11.5 12 12.5 13 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 -até Julho Fonte: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego.

Concomitante à desestruturação do mercado de trabalho as políticas neoliberais desencadearam mudanças na legislação trabalhista brasileira, suprimiram muitos direitos ligados ao trabalho, articulações essas acentuadas na década de 1990 com a implantação do Plano Real. Essas medidas agravaram a situação do emprego precário.

O que é lixo para um, pode ser reutilizado, reaproveitado e reciclado para outro, pode servir de consumo e meio de sobrevivência para aqueles que são expostos às crueldades da sociedade capitalista (ALVARES, 2006).

As mutações ocorridas no novo modo de produção atingem a classe que vive do trabalho através da redução dos direitos trabalhistas, conquistas históricas que se não são eliminadas do direito trabalhista, são ignoradas pelos empresários sob a fiscalização negligente do Estado. A substituição de trabalhadores menos qualificados, ou até mesmo a substituição do homem pela máquina (trabalho vivo pelo trabalho morto), ampliou o número de desempregados no Brasil.

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O novo padrão leva a uma escala maior de produção, atendendo à lógica do mercado, mas as condições de trabalho têm se precarizado, ampliando o trabalho parcial e temporário.

O trabalho formal é caracterizado como um vínculo legal a uma determinada empresa ou entidade empregatícia, em que os direitos conquistados pelos trabalhadores devem ser respeitados, tais como; jornada de trabalho definida, décimo terceiro salário, seguro desemprego, devido a isso é um emprego mais estável e de melhor remuneração.

A tabela 1 (a seguir) reflete a diferenciação existente entre mercado de trabalho formal e informal no Brasil:

Tabela 1 – Diferencial da remuneração média segundo a formalização/informalização do vínculo trabalhista – 2000

Fonte: IBGE – Censo Demográfico. SIDRA, www.ibge.gov.br, acesso em 05 de Setembro de 2008. Dados na tabela 1 demonstram a relação salarial de trabalhadores empregados com carteira de trabalho assinada e trabalhadores empregados sem carteira assinada no Brasil, evidenciando como a condição informal significa uma remuneração correspondente à aproximadamente metade da remuneração dos trabalhadores formalizados, o que é determinante da condição precária de sua inserção no mundo do trabalho.

Embora em Cascavel essa proporção seja um pouco mais favorável aos empregados sem carteira, ainda assim a remuneração média desses trabalhadores corresponde a 59% da remuneração média dos empregados com carteira assinada, evidenciando o grande diferencial entre essas categorias e que a condição de informalidade significa via de regra uma remuneração menor e, por conseguinte numa condição de vida pior do que aqueles trabalhadores com carteira assinada

Não restando alternativa para aqueles que são “rejeitados” do mercado de trabalho formal, do que buscar um meio de outra sobrevivência através da auto-exploração ou venda da sua força de trabalho sob condições degradantes, como os exemplos extremos do trabalho escravo contemporâneo.

Brasil Paraná Cascavel

Empregados com carteira de trabalho assinada (a)

612,68 555,64 540,82

Empregados sem carteira de trabalho

assinada (b) 291,45 295,31 320,55

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Conforme Alvares (2006) o número de trabalhadores em condições precarizadas tem aumentado gradativamente. O metabolismo expresso pelo capital requer a análise de toda a estrutura que se enquadra na precariedade do desemprego, pois a falta de emprego e miséria torna precária a ocupação dos trabalhadores catadores.

Na cidade de Cascavel, local de base do presente estudo as condições de trabalho dos catadores são também degradantes, não se diferenciando de outros catadores que sobrevivem da catação de reciclável nas ruas de todo o Brasil.

A renda obtida da catação está diretamente relacionada à quantidade, o que muitas vezes significa jornadas de trabalho extensas, permanecendo por muitas horas nas ruas para garantir seu sustento. Dessa forma, como podemos verificar em nossa pesquisa muitos catadores trabalham entre oito e doze horas diárias, saem de suas casas em torno de cinco horas da manhã em direção à área central da cidade, local em que encontram maior quantidade de materiais recicláveis devido à concentração comercial/industrial, e retornando para suas casas à noite após longa jornada de trabalho.

Devido à exposição solar muitos deles desenvolvem a atividade no final da tarde, já que é o período também em que encontram grande quantidade de material reciclável deixado pelos comerciantes e moradores das residências.

Uma das maiores dificuldades encontradas pelos catadores de papelão está na separação do lixo daquilo que pode ser reciclado e, portanto reentrar no circuito mercantil. Conforme é destacado no comentário a seguir pelo “S”1 que trabalha na catação de reciclável há 15 anos:

“Pois as pessoas não separam os materiais e isso acaba dificultando o meu trabalho se todos colaborassem na separação do reciclável/lixo, meu rendimento seria maior, o tempo em que levo para abrir o saco e procurar o que é reciclável faz cair a produção, e minha condição de trabalho não seria tão desumana.” (“S” catador de Cascavel/PR).

Para os catadores de papel/papelão quanto mais tempo permanecerem nas ruas e nos aterros sanitários maior será a quantidade de produto recolhido por eles, dessa forma os catadores poderão aumentar sua rentabilidade com longas jornadas de trabalho.

Sabemos que as amarras e as várias formas de coerção social e econômica existentes na sociedade do capital obrigam aqueles que têm como único meio para assegurar a sua força de trabalho, a se sujeitar às condições extremamente

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precarizadas e destrutivas, estando dentro ou fora do mercado formal de trabalho. (GONÇALVES, 2006.p.53).

Sendo assim, os trabalhadores que são “excluídos” do mercado de trabalho formal procuram a catação como meio de sobrevivência, e são “obrigados” a trabalhar em péssimas condições de trabalho.

A necessidade de encontrar um comprador para sua força de trabalho, tida como condição natural na sociedade do capital, aparece então como a única coisa a fazer, pois ficar fora desse mercado, como acontecem os catadores, é ser excluído das relações de trabalho assalariadas, é ter a vida dificultada, ou mesmo ser privado das condições mínimas de sobrevivência. É ser colocado à margem, é converter-se do ponto de vista do sistema produtor de mercadoria, em coisa inútil, sem valor (ANTUNES, 1998.) apud (GONÇALVES, 2006. p.53)

O trabalho dos catadores de papel é um trabalho precário, eles não possuem carteira assinada, seguro desemprego entre outros benefícios, assim como o seguro acidente, pois vivem expostos aos riscos de sua atividade, como a contaminação com objetos ao mexerem no lixo, além disso, correm o risco de serem atropelados quando estão desenvolvendo o trabalho nas ruas.

As condições de trabalho dos trabalhadores de frigoríficos são extremamente destrutivas, em ambientes inadequados para a saúde, como câmeras frias, ou em ambientes com barulho ensurdecedor de máquinas com longas jornadas de trabalho e rebatimento salarial mensal que vária de 400,00 a 600,00 R$. Como relata VOLL (2007):

Um catador de recicláveis, como todos os problemas que trazem à sua atividade, não e necessariamente mais precarizado que o de um trabalhador de um frigorífico, que apesar de registrado, se submete às péssimas condições de trabalho, estando também expondo a sua saúde a risco, assim como também recebe uma renda muita baixa pelo seu trabalho. ( p.14).

Com todos os problemas citados, o trabalho do proletário do frigorífico não é mais precarizado do que o trabalho do catador de papel/papelão, pois ele possui carteira assinada, seguro desemprego, décimo terceiro salário, férias entre outros direitos trabalhistas e suas condições de trabalho não é mais insalubre e precária do que daqueles que sobrevivem da catação/garimpagem em lixões ou nas ruas.

Ao contrário do catador/carrinheirro que não possui nenhum tipo de beneficio, mesmo estando trabalhando organizado em associações/cooperativas ou desenvolvendo a atividade individual, muitas vezes para conseguir algum tipo de beneficio os catadores

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arcam com seu próprio custo, como exemplo aposentadoria via INSS – Instituto Nacional do Seguro Social.

Além, dos problemas já citados anteriormente em relação aos “agentes ambientais”, as condições de trabalho são péssimas para conseguir o material para a venda, segundo o catador “I”2 que trabalha na catação de reciclável desde 2005, com uma jornada de trabalho diária de 9 horas: “o catador necessita caminhar muito empurrando o carrinho que é pesado e cansa muito, isso acaba prejudicando o meu trabalho, para conseguir duzentos reais por mês” (Catador “I”, Cascavel, 2009).

A renda mensal3 do “agente ambiental” varia entorno de R$ 150,00 à R$ 700,00, isso dependendo de sua produção.

Na maioria das vezes como pode ser observado em Cascavel, os catadores de papel/papelão procuram desenvolver trabalho individual, vendem os materiais recolhidos e selecionados para donos de depósitos (intermediários, sucateiros, aparistas) grandes ou pequenos, dependendo da remuneração de cada depósito e que fazem a intermediação com as indústrias recicladoras.

Pelo fato dos trabalhadores não possuírem o carrinho para a coleta de reciclável e os aparistas/intermediários fornecerem alimentos, devido aos catadores morarem distantes do local de entrega do material, de certa maneira esses são subordinados e “obrigados” a comercializar seus produtos com os donos de depósitos.

Essas relações fazem dos catadores os sujeitos fragilizados na relação trabalhista e comercial, submetendo-se às condições de trabalho degradantes e sendo mal remunerados por isso.

O trabalho dos catadores de papel de Cascavel contribui indiretamente para a qualidade do meio ambiente, o que ocorre muitas vezes é um certo sensacionalismo ambiental que a sociedade produz em relação ao trabalho dos catadores, exaltando-o como exemplo de atividade que contribui para a preservação da natureza, porém isso camufla as condições econômicas e sociais, principalmente pelas condições de trabalho e desrespeito à legislação trabalhista.

Embora esteja presente também nessa retórica a recuperação da auto-estima dos catadores, apresentados como agentes ambientais, que não deixa de camuflar suas condições de trabalho precário.

2 Entrevista realizada em Cascavel, 2009

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Segundo Gonçalves (2006) o fato é que há o interesse de algumas administrações municipais com o trabalho dos catadores de papel, cuja utilidade decorre da reciclagem de parte importante do lixo urbano, contribuindo para a diminuição dos custos da destinação final do lixo, mesmo quando trabalham nos lixões. De alguma forma é a utilização da força de trabalho dos catadores, por meio de acordos e projetos sociais, não implicando nenhum vínculo empregatício com Prefeitura.

Com as atividades desenvolvidas por eles sem nenhum custo adicional, os catadores contribuem na organização dos aterros/lixões.

Os catadores retiram embalagens das valas que ocupariam a maior parte da área destinada ao aterro, aumentando a vida útil da área, o que a longo prazo diminui os gastos do poder público municipal com aquisição de terrenos para essa finalidade, o trabalho dos catadores é importantíssimo para a limpeza pública urbana, sem qualquer tipo de reconhecimento institucional.

A precariedade do trabalho da catação revela-se para nós como fundamental para os ganhos dos demais agentes do circuito, já que o cumprimento das leis trabalhistas e os contratos formais de trabalho dos catadores tornariam a reciclagem dos resíduos menos rentável e economicamente inviável para as indústrias. Neste caso, seria preferível ao capital produzir mercadoria a partir de materiais-primas virgem, o que é sempre opção, à medida que haja contratempo que encareçam o processo de reciclagem nos moldes existentes atualmente. (GONÇALVES, 2006.p.23).

Outro segmento da sociedade que se beneficia com a reciclagem são as indústrias, os custos de produção com material reciclável são menores que a produção a partir da matéria bruta.

Considerações Finais

A modernização da agricultura expulsou/expropriou os trabalhadores do campo em que sua maioria não estavam na condição de proprietários, mas que podiam contar com excedente produzido nos pequenos estabelecimentos. Com a migração forçada dos camponês para a cidade, tornou-se difícil tirar meios para a sua subsistência, em que muitos não correspondiam às qualificações necessárias para a demanda do mercado de trabalho formal urbano, que aumentou a reserva de mão-de-obra, o desemprego, forçou a assumirem uma ocupação que garantisse minimamente sua sobrevivência, no setor da economia informal, como é o caso dos catadores de materiais recicláveis em Cascavel,

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que para garantir sua sobrevivência enfrenta condições de trabalho precário, longas jornadas de trabalho entre outros.

Percebe-se que a modernização da agricultura e o processo de urbanização são extremamente excludentes, em que nem toda a sociedade pode usufruir deste modelo de desenvolvimento, pois não houve políticas públicas que assegurassem o trabalhador no campo, nem mesmo uma preocupação em absorvê-lo no mercado de trabalho na cidade, a não ser em condições precárias e degradantes, como ocorre com os catadores de materiais recicláveis em Cascavel.

O mercado de trabalho passa por transformações em nome do desenvolvimento capitalista, como a flexibilização nas relações de trabalho e a desregulamentação dos direitos trabalhistas, a lucratividade é adquirida com a exploração da força de trabalho, como ocorre com os catadores.

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Referências

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