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TENTATIVAS DE CONCEITUAÇÃO DO TERRORISMO

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Academic year: 2021

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TENTATIVAS DE CONCEITUAÇÃO DO TERRORISMO

Rafael Nascimento Rocha

Resumo: A definição do que é terrorismo por si é complexa, pois não se consegue com

precisão chegar a um consenso sobre o significado do termo. Entre os estudiosos, há uma unanimidade: não se encontrará uma definição geral acerca do fenômeno em um futuro próximo. Letícia dos S. Colombo no seu artigo Terrorismo: Lacunas Conceituais no Sistema Internacionalafirma que o terrorismo surgiu na época da Revolução Francesa, com o terror jacobino no governo de Robespierre. Tal fenômeno sofreu diversas modificações de suas manifestações, passando de um adjetivo que caracterizava esse período histórico para um termo pejorativo, amplamente divulgado e entendido em grande parte do mundo, embora este entendimento não seja unânime. Assim, a falta de consenso sobre o terrorismo é um problema a ser compreendido.

Palavras-chave: Conceitos. Definições de Terrorismo. Segurança Internacional.

Sentido.Significado.

Introdução

A disparidade entre as diversas concepções de terrorismo aumenta a necessidade de analisar os diversos significados atribuídos ao tema. É necessária uma conceituação de terrorismo apropriada para as diversas manifestações do fenômeno e, ao mesmo tempo, para compreendê-la em sua singularidade. Para bem entender o conceito é importante realizar um levantamento histórico, pois um dos diversos fatores que geram a falta de consenso conceitual sobre o terrorismo é a complexidade da evolução histórica do fenômeno, sem esquecer da diferenciação entre a luta por direitos empreendida pela população necessitada de direitos básicos e a manutenção do status quo promovida pelo Estado.

Aluno da Disciplina Ética II, ministrada pelo Professor Doutor Padre Marcos Mendes, curso Bacharelado em Filosofia, da Faculdade Católica de Fortaleza, 2017.I.

(2)

O sentido histórico e o pejorativo

O termo terrorsurgiu na época da Revolução Francesa (séc. XVIII),1pois era tido como um instrumento para se garantir a virtude,2 mas também era uma mensagem clara para terrorizar o inimigo. É tanto que foi usado para descrever o período da intimação realizada no Regime do Terror durante o governo de Robespierre.No entanto,

Já em 1980, os anarquistas inverteram a lógica do termo, transformando o terrorismo de um ato de Estado para atos praticados contra o Estado. O terrorismo se tornaria, então, uma ferramenta para a ação política (Nemer; Brant; Lasmar, 2004). Assim, o conceito moderno é mais comumente associado a ações violentas, com intuito de alterar a ordem vigente, realizadas mais por indivíduos e grupos do que por Estados.3

Como o foco dessa reflexão é compreender mais apropriadamente o conceito de terrorismo, é necessário fazer um resgate histórico para que seja possível associá-lo ao “desenvolvimento do Estado moderno, caracterizado por um longo processo de acumulação de recursos e apropriação territorial, que teve o uso da violência e a coerção como instrumento”.4

Desta forma, o terrorismo passou a indicar violência desmedida seja protagonizada pelo Estado seja por grupos de cidadãos em busca de interesses diversos.A intencionalidade de um ato violento é o que distingue terrorismo e assassinato. Este “busca a morte da vítima, o terrorismo não se importa com a vítima em si, e o resultado comportamental do primeiro seria mais próximo de raiva e tristeza do que terror. Embora o assassinato e terrorismo cometam atos de homicídio, as intenções são distintas”.5 É necessário fazer diferenciação entre terrorista, delinquente ou insurgente para dar uma base sólida para a conceituação do terrorismo. Isso porque o paradigma terrorismo versus resistência trava o consenso em torno de uma definição, pois muito se discute onde termina um e começa o outro.

1

Cf. COLOMBO, Letícia dos S. Terrorismo: Lacunas Conceituais no Sistema Internacional. Revista

LEVS/UNESP, Marília, SP, pp. 42-67, aqui p. 44, 2015. Disponível em www2.marilia.unesp.br/revistas/

index.php/levs/article/download/5589/3838. Acesso em 20/05/2017, às 15h.

2

Cf.ALCÂNTARA, Priscila Drozdek. Terrorismo: Uma Abordagem Conceitual, Curitiba, p. 5, 2012. Disponível em http://www.humanas.ufpr.br/portal/nepri/files/2012/04/Terrorismo_Uma-abordagem-conceitual.pdf. Acesso em 02/05/2017, às 14:30h.

3

REZENDE, Lucas P.;SCHWETHER, Natália D. Terrorismo: a Contínua Busca por uma Definição.

Revista Brasileira de Estudos de Defesa, v. 2, nº. 1, pp. 87-105, aqui pp. 89-90, 2015. Disponível em

seer.ufrgs.br/index.php/rbed/article/download/58349/35236. Acesso em 12/05/2017, às 20:30h. 4

Ibidem, p. 89.

(3)

O vazio jurídico

Os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque (EUA), fizeram com que o mundo se atentasse para a problemática do terrorismo. Não que tal data tenha sido o ponto de partida para a ocorrência de atentados. Depois desse dia, na verdade, “foram expostas as fraquezas e os vazios jurídicos da inteligência e segurança que as principais potências [mundiais] tinham sobre o tema, como a falta de um conceito universal do terrorismo [...]”6 bem “como as instituições de segurança coletiva, assim como os Estados, não conseguiram acompanhar o ritmo com as mudanças na natureza das ameaças”.7

Ora, a falta de consenso acerca do terrorismo cria entendimentos duvidosos e ambíguos, ocasionando uma lacuna no arcabouço normativo sobre o tema e favorecendo um vazio jurídico, beneficiando os terroristas, pois o espaço está livre “para manobras legais de grupos e organizações que empregam métodos de terror”.8A Organização das Nações Unidas (ONU) diversas vezes tentou estabelecer uma normatização do terrorismo no ambiente internacional. No entanto, geralmente as convenções estabelecidas preveniram e sancionaram atos terroristas, mas não o terrorismo em si. A importância de definir o terrorismo ultrapassa certa vaidade estética. A definição do fenômeno proporciona um entendimento seguro e, portanto, mune os Estados a traçar estratégias para combater o terror. Sem parâmetros bem definidos, não há ação para combater o fenômeno.

A falta de consenso

Letícia dos S. Colombo no seu artigo Terrorismo: Lacunas Conceituais no Sistema Internacional afirma queafalta de consenso conceitual no âmbito das relações internacionais se dá pela agenda de interesses estatais, pelas organizações internacionais sem capacidade de impor normas e devido à complexidade da evolução histórica do terrorismo. Muitos Estados não fecharam acordo numa tentativa de definição do terrorismo por não quererem nomear certos grupos como terroristas, pois simpatizavam com suas causas. As definições existentes nos Estados que lutam contra o terrorismo são resultado da política externa que estes construíram através de sua formação

6 Ibidem, p. 50. 7

Ibidem, p. 54. 8 Ibidem, p. 51.

(4)

histórica. A ONU, apesar de diversas tentativas de conceituação, não tem legitimidade para formular uma resolução que contenha uma definição consensual simplesmente porque os Estados membros não entraram em consenso.

Entre as dificuldades na definição de terrorismo, encontra-se o caráter subjetivo do fenômeno, já que é uma forma de violência cuja realização se concretiza no psicológico do indivíduo. E a dificuldade em distinguir entre força e violência. De um lado, há a chamada racionalidade da violência dos governos; e de outro, a chamada irracionalidade da violência individual contra os governos. Cada definição de terrorismo elaborada traz um traço de subjetividade daquele que o define, como observa Priscila Drozdek de Alcântara em Terrorismo: uma abordagem conceitual: “Todos os debates sobre o que é terrorismo levam em consideração uma série de argumentações distintas e que como podemos observar, argumento irá pesar de acordo com o ponto de vista daquele que o expõe”.9

A falta de uma definição adequada de terrorismo ocasiona também a seguinte reflexão: Movimentos que lutam por melhores condições de vida dos povos podem ser considerados terroristas? As ações das forças armadas de algum Estado são de cunho terrorista? São terroristas os grupos dissidentes dos que estão no poder atualmente? Realizar protestos e greves é difundir o terror? Ora, “o terrorismo vitimiza pessoas que não estão diretamente relacionadas ao conflito. Esta concepção é de suma importância para diferenciar terrorismo de outras formas de luta armada [...]”.10

É amplo o leque de autores que tratam sobre o tema. São confusos os sentidos que dão ao termo. A definição acerca do terrorismo é algo tão distante de se atingir que mesmo nas instâncias de um governo não há consenso, pois cada setor deste governo tem necessidade de incluir ou excluir elementos relacionados a aspectos de sua área de atuação.

A formulação inicial do fenômeno é perpetuada. Mas o terrorismo evoluiu e evolui através das ondas, nas quais práticas são acrescidas, como conotações revolucionárias e uma postura anti-estado. Um fator que reforça a finalidade do terrorismo e não pode ser lançado aos porcos é a mídia. Ela favorece a sensação de insegurança e terror na contemporaneidade. Os meios de comunicação de massa

9

ALCÂNTARA, Priscila Drozdek. op. cit., p.4. 10 Ibidem, p.8.

(5)

divulgam de maneira mais rápida e alarmante as ações terroristas. É como se o terrorismo necessitasse de audiência e de mídia afim de criar um ambiente favorável para si, ou seja, dá ao grupo terrorista poder para influenciar a humanidade. O terrorismo assim ganha o mundo e deixa de agir localmente. A globalização também colaborou para que a violência desmedida, ou a ameaça à violência, alcançasse os quatros cantos do mundo.

Há um registro, considerado o primeiro, no sentido de normatizar o terrorismo no ambiente internacional. Iniciou em 1937 no âmbito da Sociedade das Nações estabelecendo que atos terroristas são os atos criminais contra um Estado ou então que tenham a finalidade de introduzir terror na vida das pessoas, dos grupos bem como ao público em geral.

Para muitos, o fator fundamental que distingue o terrorismo de outra forma de violência é o fato da presença de um objetivo de intimidação. A violência contra a vítima adquire também um valor de ameaça para os outros ligados à vítima. As formas de atuação concreta do terrorismo são especificadas na base dos objetivos a serem atingidos:

- os fatos intencionalmente diretos contra a vida, a integridade corporal e a saúde de chefes de Estado, seus sucessores hereditários ou designados; familiares ou outros ligados às pessoas citadas; pessoas investidas de funções ou cargos públicos;

- a destruição intencional de bens públicos ou destinados a uma utilização pública, que pertença a outro Estado;

- o fato de colocar intencionalmente em perigo a vida humana com o objetivo de criar um dano comum;

- o fato de fabricar, de procurar, de deter ou de fornecer armas, munições, produtos explosivos ou substâncias nocivas em vista da execução, não importa em qual país, de uma infração prevista na lei.11

Já para o manual militar dos Estados Unidos (EUA), “um ato de terrorismo é considerado uma atividade que:

11

Cf. RAPETTO, Umberto; DI NUNZIO, Roberto. Le nuove guerre. Milano, BUR Editora, 2001, pp. 308-311.

(6)

A) Implique em uma ação violenta ou uma ação perigosa para a vida humana, que seja violação da lei penal dos EUA ou de qualquer outro Estado, ou que constitua um crime se feito ao interno da jurisdição dos EUA ou de qualquer outro modo;

B) Aparece com o objetivo: de (i) intimidar e obrigar com força a população civil; (ii) influenciar a política de um governo através da intimidação ou coerção; (iii) de orientar a conduta de um governo através do assassinato ou sequestro.”12

Considerações Finais

A definição elaborada pela Sociedade das Nações em 1937 foi considerada imprecisa porque o texto trata apenas de atos criminais não especificando os atos ilícitos no contexto do terrorismo. As tentativas seguintes sempre trouxeram em sua estrutura brechas que não contemplavam elementos importantes para a definição de terrorismo.

Pode serobservado que há muitas controvérsias na elaboração de uma definição adequada do terrorismo. Tenta-se encontrar uma forma de conceitua-lo que abarque todas as faces do fenômeno. Existemmuitas abordagens diferenciadas sobre o tema o que gera um grande relativismo do termo, causando a falta de consenso. Além da abstração encontrada na essência do conceito bloqueando a conjugação de todos os significados e sentidos do fenômeno.

A subjetividade pesa quando o assunto é definir terrorismo, pois já como discursado no presente trabalho, não há possibilidade de estabelecer uma definição neutra, de cunho universal, pois a mesma estará vinculada a questões políticas, ideológicas, crenças e valores daquele (ou daqueles, no caso de um grupo definidor) que se dedicam a encontrar um denominador comum ao estabelecer uma conceituação.

Sabe-se que é necessária uma discussão profunda e séria a respeito do tema, pois isto garantirá o entendimento necessário do termo. Uma definição sem dubiedades favorecerá, entre outras coisas, ações contra-terrorismo, bem como um melhor desenvolvimento de direitos civis. Apesar de ser um fenômeno antigo, o terrorismo

12

Cf. CHOMSKY, Noam. 11 setembre – Le ragionidi chi?, Milano, Marco Tropea Editore, 2002, pp. 11-12.

(7)

aparece como uma novidade a ser compreendida, dadas suas peculiaridades. O que se depreende é que a falta de consenso sobre sua definição por certo perdurará.

Referências Bibliográficas

ALCANTARA, Priscila Drozdek. Terrorismo: Uma Abordagem Conceitual, Curitiba, 2012. Disponível em http://www.humanas.ufpr.br/portal/nepri/files/2012/04/

Terrorismo_Uma-abordagem-conceitual.pdf. Acesso em 02/05/2017, às 14:30h.

COLOMBO, Letícia dos S. Terrorismo: Lacunas Conceituais no Sistema Internacional. Revista LEVS/UNESP, Marília, SP, v. , n. , pp. 42-67, 2015, Disponível em www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/levs/article/download/5589/3838.

Acesso em 20/05/2017, às 15h.

REZENDE, Lucas Pereira; SCHWETHER, Natália Diniz. Terrorismo: a Contínua Busca por uma Definição. Revista Brasileira de Estudos de Defesa, v. 2, nº. 1, pp. 87-105, 2015. Disponível em seer.ufrgs.br/index.php/rbed/article/download/58349/35236. Acesso em 12/05/2017, às 20:30h.

YAROCHEWSKY, Leonardo Isaac. É preciso separar terrorismo, vandalismo e manifestação. Revista Consultor Jurídico, 2014. Disponível em http://www.conjur.com.

br/2014-fev-19/leonardo-yarochewsky-preciso-separar-terrorismo-vandalismo-manifestacao. Acesso em 15/05/2017, às 15h.

RAPETTO, Umberto; DI NUNZIO, Roberto. Le nuove guerre. Milano, BUR Editora, 2001. CHOMSKY, Noam. 11 setembre – Le ragionidi chi?, Milano, Marco Tropea Editore, 2002. RABELLO, Aline Louro de Souza e Silva. O conceito de terrorismo nos jornais americanos. Uma análise de textos do New York Times e do Washington Post, logo após os atentados de 11 de setembro. Editora PUC-Rio, Rio de Janeiro, pp. 32-83, 2007.

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