APAC: UM MÉTODO INOVADOR
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Apac-Associação de proteção e assistência aos condenados é um método revolucionário, apontado como a solução para nosso sistema prisionalO
clamor por justiça e o sofrimento de mães e familiares de presos, levou um grupo de 15 pessoas, lideradas pelo advogado Mário Ottoboni, a criarem um método revolucionário para ser aplicado nas penitenciárias. Assim surgiu a APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, cujo método tem como objetivo oferecer ao condenado condições de se recuperar para que este possa ser reintegrado na sociedade.• Texto
Andréa Marques
CAPA
O clima dentro de uma APAC é de total harmonia e descontração. Todos conscientes de seus direitos e deveres, cumprindo regras com disciplina e
pontualidade. Quem desobedece, recebe punição, como por exemplo, ficar sem o banho de sol.
O método APAC foi criado no ano de 1974 e foi implanto pela primeira vez no Presídio Humaitá, na época, localizado na rua Humaitá no centro de São José dos Campos, interior de São Paulo. A Associação é uma entidade civil de direito privado, ou seja, tem autonomia para eleger seus dirigentes e estabelecer a aplicação daquilo que se propõe a realizar. O método tem como foco a valorização humana, com o tem o propósito de também proteger a sociedade, socorrer as vítimas e promover a Justiça.
No ano de 1986, o método foi implantado na cidade de Itaúna- M.G, período que a cadeia de São José dos Campos deixou de existir por motivos até hoje
desconhecidos. Itaúna passou a ser a Sede das APACs e a segunda depois de São José dos Campos, a administrar um presídio sem a presença de policiais civis e militares. Hoje, essa experiência se espalhou pelo mundo todo e o método APAC já existe em 35 países.
Atualmente existem 147 APACs, organizadas
juridicamente em 19 Estados da Federação. Devido esse
avanço no método, a APAC filiou-se a um órgão chamado FBAC - Fraternidade Brasileira de Assistência aos
Condenados, que coordena, orienta a aplicação do método e fiscaliza as atividades das APACs.
Minas gerais é o estado em que o método mais cresceu, pois conta com o apoio do governo estadual e do tribunal de justiça mineiro. Das APACs organizadas juridicamente, 36 delas estão em pleno funcionamento, com atividades em Centros de Reintegração Social no Brasil.
Tanta evolução chamou a atenção da PFI- Prisional Fellowship International, órgão consultivo da ONU para assuntos penitenciários, no qual a APAC se tornou filiada. Assim, outros países como Costa Rica e Chile avançaram rapidamente na expansão do método.
O que diferencia o método APAC do sistema prisional comum é seu índice de reincidência de 8,01 %, enquanto a média nacional é de 85%. Não há registros de fugas e os próprios recuperados, como são chamados os condenados na APAC, ficam com as chaves das celas, apenas com o acompanhamento dos voluntários e funcionários, sendo esse o maior desafio do método.
ENXERGAR O PRÓPRIO VALOR
Bruno Campolina, 34 anos, passou por uma infância bem difícil, ele cresceu sem a presença do pai, do qual
só tinha recordação das vezes que ia visitá-lo na cadeia, junto com sua mãe. Foi assim que ele cresceu e se tornou uma
pessoa, segundo ele, rebelde, sem perspectiva de vida e sem sonhos.
Campolina começou a se envolver com drogas, começando por cigarro, segundo ele, porque achava bonito os colegas fumando. Depois veio a maconha, bebidas e finalmente o crack, que para começar a manter o vício deu início a sua vida
CAPA
“Tem coisa que acontece que
é para o bem da gente”, acredita Bruno. “A APAC serviu de experiência para minha transformação, meu crescimento”.
no crime.
Chegou ao fundo do poço, foi condenado a vinte anos de prisão, porém conseguiu redução de pena para onze anos no regime fechado. Desses onze anos, sete e meio foram cumpridos na APAC, onde, de acordo com ele, foi lá que ele entendeu que ainda tinha chance de recuperar sua vida. “Ao invés de ser chamado por número, a gente é chamado pelo nome. A gente come de garfo e faca, come na mesa e tem tratamento mais humano, isso faz diferença”, explica.
Exemplo de uma vida
transformada pelo método, Bruno Campolina se destacou dentro da APAC de Itaúna pelos seus
trabalhos de pintura em vasos, bom comportamento e dedicação em seus deveres. Para ele, o mais difícil dentro do método é adaptar-se as regras e disciplina. “Quando se está preso, a gente não gosta de ser mandado”, afirma o recuperando.
Campolina diz que quando chegou na APAC ficou surpreso. “Vi que tinha um jardim, não tinha lugar sujo, policia. Eu podia andar de um lado para o outro. Não ficava preso na cela o dia todo. Podia assistir uma televisão, tomar banho quente e ainda ter uma cama só para mim. Na APAC eu tinha a impressão que não estava preso. Lá a gente ocupa a mente”, conta. Outra surpresa foi o fato de não ser rotulado já que, segundo ele, o delito fica realmente do lado de fora.
Disciplinado, praticou esporte e artes plásticas. As transformações também ocorreram na vida espiritual, pois aprendeu a dar valor ao ser humano e a família, além de “conhecer a palavra de Deus”. Ele conta que foi na APAC que aprendeu a ter laço afetivo com a família e a amar a si próprio.
Hoje fora da APAC, Bruno diz que tudo valeu a pena. “Serviu de experiência pra minha transformação, meu crescimento. Se eu não tivesse sido preso, hoje eu não seria a pessoa que eu sou. Talvez estivesse até morto, pois eu era muito rebelde, por isso acredito que tem coisa que acontece que é para o bem da gente”, afirma.
UMA VIDA TRANSFORMADA
Atualmente, Bruno é mecânico e também artista plástico, além de professor de jiu-jítsu. Casado e pai de dois filhos, deseja que seus filhos não cometam os mesmos erros que cometeu. “Tento dar para eles tudo que não tive. Procuro transmitir amor, carinho e atenção. Acho que essa é melhor forma para educar um filho”, conclui ele.
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A RESPONSABILIDADE PELO MÉTODO
DECÁLOGO APAQUEANO
A APAC propõe:
O amor como caminho
1
O diálogo como
entendimento
2
A disciplina com amor
O trabalho como
o essencial
4
3
A fraternidade e o
respeito como metas.
5
A responsabilidade
para o soerguimento
6
A humildade e
a paciência
para vencer
7
O conhecimento
para ilustrar a razão
8
A família
organizada
como suporte
9
10
Deus como
fonte de tudo
O presidente da APAC,Valdeci Antônio Ferreira,
diz que em Itaúna, A PAC é hoje uma referência nacional e internacional no que se refere a recuperação de presos.
Segundo ele, nunca foram registrados casos de
violência e rebeliões dentro do presídio e praticamente
todos aqueles que evadiram, voltaram depois com as próprias pernas. Além disso, o custo do preso na APAC é bem menor do que do preso no Estado.
Apesar desses resultados positivos, Valdeci diz que este será sempre um caminho com confronto, com dificuldades, traições, calunias e difamações. "Acredito que estou no caminho certo, pois a certeza do caminho certo é a existência das dificuldades. Se elas não existem, então alguma coisa está errada", afirma.
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Elementos fundamentais
para o desenvolvimento do método APAC
O método apaqueano parte do pressuposto de que todo ser humano é
recuperável, desde que haja um tratamento adequado. Para tanto, trabalha-se
com 12 elementos fundamentais. Vale ressaltar que, para o êxito no trabalho
de recuperação do condenado, é imprescindível a adoção de todos eles.
1- participação da comunidade;
2- recuperando ajudando recuperando;
3- trabalho;
4- religião;
5- assistência jurídica;
6- assistência à saúde;
7- valorização humana;
8- a família;
9- o voluntário e sua formação;
10- Centro de Reintegração Social-CRS (que
possui três pavilhões destinados ao regime
fechado, semi-aberto e aberto);
11- mérito do recuperando;
12- a Jornada de Libertação com Cristo
O fundador do Método
Ottoboni conta que se dedicando à APAC
que encontrou a paz e o verdadeiro
sentido da sua vida.
O criador e fundador do método APAC Mário Ottoboni diz que, no início, seu trabalho não foi fácil. “Muita perseguição e discriminação! Como tem gente que discrimina, não acredita, não conhece. E as coisas só têm sentido quando nós as conhecemos”, diz.
Ottoboni foi processado por 10 vezes e perdeu o seu
companheiro da causa, Franz de Castro durante uma rebelião num presídio. Mesmo com esses fortes motivos, nunca deixou de lutar. Foi após a morte de Franz de Castro que o método APAC se expandiu e passou a ser conhecido nacional e internacionalmente.
De acordo com Ottoboni foi na APAC que ele encontrou a paz e que descobriu o verdadeiro sentido da vida. Atualmente, ele se dedica a escrever livros e dar palestras sobre o método.