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EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR ANTONIO CARLOS ARRÁBIDA PAES, RELATOR DO AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0062012-89.2016.8.19.0000— EGRÉGIA 23ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
BIANCA MENDES ROMANO, nos autos do agravo de instrumento
com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, na qual é agravante, sendo agravadas UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO RIO DE JANEIRO
LTDA. e CLINICA SÃO GONÇALO LTDA. (HOSPITAL ICARAÍ), vem, por suas advogadas
abaixo assinadas, com fundamento no art. 1.021, do Código de Processo Civil, opor
AGRAVO INTERNO, COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, em face da r. decisão
monocrática de fls. 22/25, que concedeu parcialmente a antecipação da tutela recursal, pelos fatos e fundamentos adiante expostos.
I. DA TEMPESTIVIDADE E DO PREPARO
1. A r. decisão monocrática foi proferida pelo eminente Desembargador
Relator no dia 29/11/2016 – terça-feira. Conquanto a agravante ainda não tenha sido intimada, está ciente de seus termos através do portal eletrônico do TJRJ, assim, é tempestivo o presente recurso, interposto nesta data, 02/12/2016 – sexta-feira, considerando a urgência do provimento que pleiteia – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
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2. Informa, ainda, que foi concedido à agravante o benefício da
gratuidade de justiça, motivo pelo qual não há recolhimento a ser realizado para interposição do presente recurso.
II. DA R. DECISÃO AGRAVADA
3. A r. decisão ora recorrida, proferida monocraticamente, concedeu
parcialmente a antecipação da tutela recursal, APENAS NA HIPÓTESE DE
REALIZAÇÃO DE PARTO CESÁRIO PELA GESTANTE.
4. Todavia, data maxima venia, EM PARTE, a r. decisão monocrática não
merece prosperar, eis que viola direitos fundamentais da gestante e do nascituro, ao apenas conceder o direito pretendido em hipótese de realização de cesariana, sendo certo que é violência obstétrica a imposição de parto cesáreo.
5. A violência obstétrica se caracteriza pela apropriação do corpo e
processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais da saúde, através do tratamento desumanizado, abuso da medicação e patologização dos processos naturais, causando a perda da autonomia e da capacidade de decidir livremente sobre seus corpos e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres.1
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3 6. No Brasil, as formas mais comuns de violência obstétrica no parto são a recusa de atendimento em hospital ou maternidade (peregrinação por leito),
cesariana sem indicação clínica ou consentimento da mulher, dentre outras práticas,
que torna o país “campeão” em cesarianas no mundo.2
7. Sendo assim, embora a decisão agravada tenha concedido
parcialmente a pretensão da agravante no que tange a cobertura médica e hospitalar para a realização de parto, na qualidade de segurada da Unimed Rio, em plano de ABRANGÊNCIA NACIONAL, da forma como proferida, violou o direito da gestante à escolha por parto vaginal.
8. Assim, requer a agravante a reconsideração parcial da r. decisão
monocrática proferida, para que seja assegurado o direito da agravante ao atendimento hospitalar seja em parto normal ou cesáreo, bem como o reembolso das despesas médicas, independente da tabela do plano de saúde, tanto para parto normal ou cesáreo ou, caso assim V. Exa. não entenda, o que se admite em atenção ao princípio da eventualidade, que receba o presente agravo interno, encaminhando os autos para julgamento em mesa, a fim de que seja apreciado por essa e. Câmara.
III. BREVE RESUMO DA LIDE
9. Trata-se de agravo de instrumento com pedido de tutela antecipada
tendo em vista decisão do MM. Juízo a quo em ação com pedido de tutela de urgência requerida em caráter antecedente para COBERTURA MÉDICO-HOSPITALAR DE PARTO em razão da primeira agravada – Unimed Rio, atualmente, não dispor de
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4 médicos obstetras cooperados para acompanhamento pré-natal e realização de parto vaginal na Cidade de Niterói, e da segunda agravada – Hospital Icaraí, apenas admitir o ingresso de gestantes conveniadas da Unimed Rio – Individual/Familiar Beta – Abrangência Nacional, para a realização partos eletivos – cesarianas, ferindo o direito da agravante e do nascituro de realização de parto normal.
10. A r. decisão proferida pelo MM. Juízo da 1ª Vara Cível da Região Oceânica da Comarca de Niterói indeferiu o pedido de tutela antecipada, “por entender ainda ausentes os elementos ambasadores (sic) de sua concessão”, e que ao segurado não seria “permitida a livre escolha de hospital e de profissional médico, sob pena de se conceder maior cobertura do que a efetivamente contratada”.
11. Interposto agravo de instrumento com pedido de antecipação de
tutela, o mesmo foi parcialmente concedido, monocraticamente, nos seguintes termos:
“Ante o exposto, 1.019, I, do Código de Processo Civil, CONCEDO PARCIALMENTE A ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL para, deferindo o efeito suspensivo ativo, determinar a intimação das Rés para que:
a)A segunda Agravada, CLINICA SÃO GONÇALO LTDA. (HOSPITAL ICARAÍ), garanta à Agravante o atendimento para internação e realização de parto cesáreo, em data agendada pelo médico assistente da Autora;
b)A primeira Ré, UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA., suporte os custos de internação e demais gastos inerentes ao parto cesáreo em hospital de sua rede credenciada – inclusive no segundo Agravado;
c) A primeira Ré, UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA., reembolse a Autora, limitado à sua tabela, mediante apresentação de recibo, os gastos com consultas ao médico de livre escolha da Autora, assim como a equipe médica que irá acompanhar a Autora no procedimento de parto cesáreo;”
5 12. Embora seja parcialmente favorável, a r. decisão proferida em juízo monocrático viola o direito da agravante de livre escolha por um parto vaginal, a critério do médico obstetra, a ser custeado pelo plano de saúde, ao qual arca com o pagamento das mensalidades há 9 (nove) anos, denominado INDIVIDUAL/FAMILIAR
BETA – AMBULATORIAL E HOSPITALAR COM OBSTETRÍCIA, DE ABRANGÊNCIA NACIONAL (fl. 30 do processo originário).
IV. DA REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA
13. Data venia, a r. decisão monocrática, ora agravada, merece ser
reformada, uma vez que assegura o direito da agravante apenas para a hipótese de parto cesáreo, o que, até a presente data, não é a opção desejada pela gestante, tampouco a indicação do médico obstetra que acompanha seu pré-natal, conforme expressamente consignado no laudo médico acostado à exordial – fl. 31 do processo originário.
14. É imperioso destacar que jamais, em tempo algum, o contrato de
plano de saúde a que a agravante está vinculada limitou a cobertura hospitalar e despesas médicas a realização de parto cesáreo, não sendo razoável que em decisão judicial seja excluída da cobertura contratual de assistência médico-hospitalar o atendimento para parto vaginal, caso esta seja a escolha da gestante e do médico obstetra.
15. Conforme já salientado, é modalidade de violência obstétrica o
agendamento de cesariana sem recomendação baseada em evidências científicas, atendendo aos interesses e conveniências dos médicos e hospitais.
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16. Assim, verifique-se que a decisão agravada garantiu a gestante o
direito ao atendimento hospitalar a ser custeado pela Unimed Rio, mas apenas para a hipótese de cesariana, bem como para o reembolso de despesas com a equipe médica e, considerando que não tem condições financeiras para arcar com tais despesas, não resta alternativa para a demandante, em termos de atendimento particular, a não ser a submissão ao parto cesáreo, ferindo de morte o seu direito de escolha a realização de um parto natural, caso seja esta a indicação do médico obstetra.
17. Diga-se que, conforme documento novo obtido – em anexo, a
contraprestação devida ao Hospital para a realização de parto cesáreo é superior a de parto normal, o que se diz apenas para efeito de ter a r. decisão recorrida ter sopesado sobre esta questão, não havendo razões de ordem econômica para a priorização de parto cesáreo em detrimento do parto normal.
18. Somado a isto, a r. decisão monocrática estabeleceu em sede de
antecipação dos efeitos da tutela que o reembolso das despesas com a equipe médica se limite à tabela da Unimed Rio.
19. Todavia, com a manutenção da referida decisão, é a agravante quem
é penalizada por inexistir médicos obstetras cooperados que possam prestar atendimento pré-natal e acompanhar o seu parto na Cidade de Niterói, posto que a Unimed Rio irá arcar com o mesmo custo que teria se estivesse fornecendo o serviço de forma adequada para a segurada.
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20. Não é razoável que a agravante arque com o pagamento da diferença
entre a tabela de honorários médicos da Unimed Rio e dos honorários do médico/equipe escolhida para a realização de consultas e parto, se alternativa não lhe foi dada pela primeira agravada com a indicação de um único médico sequer que pudesse atender a necessidade da consumidora.
21. Deste modo, data venia, também neste ponto a r. decisão
monocrática deve ser parcialmente reformada, a fim de que a agravante seja reembolsada das despesas com consultas médicas de exame pré-natal e equipe médica para parto, conforme orçamento de honorários médicos que consta na peça inaugural.
V. CONCLUSÃO
22. Diante de tais razões, requer que V.Exa. se digne de, exercendo seu
juízo de retratação, reconsidere os termos da r. decisão agravada.
23. Caso não haja retratação, requer seja o presente recurso levado a julgamento, para que esta e. Câmara conheça e dê provimento ao presente agravo a fim de
a. Determinar que a segunda agravada, CLINICA SÃO GONÇALO LTDA. (HOSPITAL ICARAÍ), garanta à agravante o atendimento para internação e realização de parto cesáreo ou parto vaginal;
b. A primeira ré, UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO
RIO DE JANEIRO LTDA., suporte os custos de internação e demais gastos inerentes ao parto cesáreo ou parto vaginal em hospital de sua rede credenciada – inclusive no segundo agravado;
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c. A primeira ré, UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO
RIO DE JANEIRO LTDA., reembolse a autora, mediante apresentação de recibo, os gastos com consultas ao médico de livre escolha da autora, assim como a equipe médica que irá acompanhar a autora no procedimento de parto cesáreo, conforme orçamento anexado à
petição inicial (fl. 39 do processo originário).
Nestes termos, Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 02 de dezembro 2016.
CAROLINA MENEZES FERREIRA LUCIANA PERES BATISTA ROMANO