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FELIZMENTE HÁ LUAR! Luís de Sttau Monteiro. ORIENTAÇÃO DO ESTUDO PROPOSTA DE ANÁLISE Português 12º Ano Prof. António Costa

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FELIZMENTE HÁ LUAR!

Luís de Sttau Monteiro

ORIENTAÇÃO DO ESTUDO

PROPOSTA DE ANÁLISE

Português 12º Ano

(2)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Introdução

• TEATRO É…

O Teatro é um lugar de exaltação, mistério e liberdade, onde a

gente pode sentir o que não quer, onde a gente pode amar, sofrer,

rir e chorar, fingir à vontade, mascarar-se, declamar, correr atrás

dos outros e perder-se invariavelmente na confusão das cordas e

dos bastidores, das lonas e armações, baldes de água e serradura,

até se sentir angustiado, sem saber o caminho lá para fora. Então,

esbarra-se num bombeiro fardado, de capacete engraxado e

esbarra-se num bombeiro fardado, de capacete engraxado e

cinturão às riscas, com a machadinha ao lado muito areada, ou com

um polícia que nos agarra a fingir de estás-preso, e a gente dá a

entender que não quer, que tem medo, e tem mesmo, mas sente

uma consolação, um pavor gostoso em acreditar nele e ser salvo.

Sobretudo quando toda esta gente é nossa conhecida, e anda a

fazer de contas que não é. O Teatro é como o Carnaval. Excita,

comove, amedronta, duplica a vida. Sente-se a gente com alma à

solta.

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Luís de Sttau Monteiro – Actividade Jornalística

em imagens

Poupança a Poupança…

…Enche a Gente o Papo de Ar.

“Estou farta de batatas até aos olhos não posso ver batatas à minha frente porque tenho um azar danado enquanto toda a gente hoje tem o DIA mundial da poupança eu nasci numa casa em que andamos há cinco anos ou mais sim ou mais que eu tenho a impressão de que nunca vivemos senão assim mas o melhor é voltar ao que eu estava a contar enquanto toda a gente tem um dia mundial da poupança nós lá em casa andamos no ANO inteiro da poupança e o pior é que já vamos no quarto ano da poupança e para quê sim para quê?” (...)

Luís de Sttau Momteiro, Redacções da Guidinha

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“Angústia Para o Jantar” - Excertos

«- Meu pai dizia-me que da janela da repartição onde trabalhava se via o mar… - Que fazia teu pai?

- Que fazia meu pai? Não fazia nada, era oficial da marinha. Entrava na repartição às 10 e saía às 6… Lá o que ele fazia na repartição não sei… Preenchia papelada ou sonhava com navios… sei lá… talvez olhasse para o mar através da janela… Quando chegava a casa lia o jornal, fazia as palavras cruzadas e ia para a cama. Era oficial da marinha, digo-te eu…» (trecho inicial)

«Nunca vi nada que não fosse lógico. Tudo tem uma lógica, muito embora esteja por vezes escondida. É a isso que chamamos o segredo das coisas. O que distingue os homens lúcidos dos inconscientes é que os primeiros procuram descobrir a lógica das coisas, ao passo que os segundos julgam que as coisas surgem por si próprias e procuram, não a sua lógica, mas a sua rima.» pg.24

rima.» pg.24

«Gonçalo entrara um dia, à hora do almoço, em casa do porteiro dum dos seus prédios. A família estava reunida em torno da mesa. A mãe e os filhos comiam batatas fritas e o pai o único bife. Fora-lhe impossível não comentar.

- Então a carne é toda para si, João?

A mulher saltara logo a defender a casa portuguesa: - Carne é para quem trabalha, Sr. Doutor.

O porteiro passara a manhã sentado numa poltrona, no átrio do prédio, lendo O Século, enquanto a mulher varrera a escada, limpara a casa, cozinhara e olhara pelas crianças. - Parece-me que a Maria é quem mais trabalha nesta casa...

O porteiro, de pé, com o guardanapo na mão, esclarecera a situação: - O marido sou eu, Sr. Doutor.» pg.29,30

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“Angústia Para o Jantar” - Excertos

«- A cidade, vista à noite, é estranha. Já pensou no que farão em casa todos esses tipos que a gente vê na rua, com emblemas do Benfica na lapela? Uns emblemas feitos de pedrinhas? - Sou um deles.

- É? E que faz você à noite, em casa?

Hoje era capaz de responder. À noite, em casa, repetimos o que fizemos durante o dia: nada. À noite, em casa, continuamos a esperar pela morte e, quando ela se aproxima, compreendemos que devíamos ter feito mais qualquer coisa.» pg.144

Estas são personagens que vivem diariamente com o medo: da morte e da vida adiada, de que os 2500$00 não cheguem até ao fim do mês, que da vida adiada, de que os 2500$00 não cheguem até ao fim do mês, que a fortuna e o estatuto já não passem para a geração seguinte, que a primeira vez nunca mais volte a acontecer. Isto num cenário em que todas as posições estão bem definidas, patrões e empregados, senhoras e pegas, em que a palavra “revolução” das conversas da malta tinha um sentido diferente do que lhe conhecemos hoje.

Depois de lermos esta obra, não nos espantamos que Luís de Sttau Monteiro tenha sido várias vezes preso pela PIDE. Embora não encontremos referências directas ao regime político de então, elas estão dissimuladas em expressões como “Isto já não chega aos nossos filhos...”. No fundo, “quem vence as batalhas é quem está dentro do seu tempo.”.

(8)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Introdução

 Luís de Sttau Monteiro

publicou

Felizmente Há Luar! (FHL)

,

em1961.

. a censura não a deixou subir à cena;

. a representação só virá a acontecer em 1978, no Teatro

Nacional (encenação do próprio autor).

 “

FHL”

é um drama narrativo, na linha do teatro brechtiano.

.

o protagonista, o General Gomes Freire de Andrade (GFA),

.

o protagonista, o General Gomes Freire de Andrade (GFA),

nunca aparece em cena.

 A acção narrativa:

- o calvário de GFA, da prisão à fogueira;

- a perseguição que lhe movem “

os três

conscienciosos governadores do reino

”;

- a forçada resignação de um povo dominado pela

"

miséria, o medo e a ignorância

”;

(9)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Introdução

“FHL”

aborda um tema da nossa história:

A Conspiração de 1817

A obra apresenta

dois tempos

:

A obra apresenta

dois tempos

:

- o tempo da história

século XIX (1817)

época em que começa a desenhar-se a oposição do movimento liberal

- o tempo da escrita

o ano de 1961

ano de convulsões de oposição ao regime salazarista

(10)

FELIZMENTE HÁ LUAR!

Teatro Épico

• A peça “

FHL

” é uma peça épica, inspirada na teoria marxista, que

apela à reflexão, não só no quadro da representação, como

também na sociedade em que se insere.

• O teatro de

Brecht

pretende representar o mundo e o homem em

constante evolução de acordo com as relações sociais.

• Estas características afastam-se da concepção do

teatro aristotélico

pretendia despertar emoções,

pretendia despertar emoções,

levando o espectador a identificar-se

com o herói.

• O

teatro moderno/contemporâneo/épico

tem como preocupação fundamental levar os

espectadores a pensar, a reflectir sobre os

acontecimentos passados e a tomar

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FELIZMENTE HÁ LUAR!

Teatro Épico

• Surge assim a

técnica do distanciamento

(Distanciação)

- propõe um afastamento:

- entre o actor e a personagem;

- entre o espectador e a história narrada.

Objectivos:

Objectivos:

- todos possam fazer juízos de valor sobre o que está a

ser representado, de uma forma mais real e autêntica;

- envolver o espectador no julgamento da sociedade,

tomando contacto com o sofrimento dos outros;

- o espectador deve possuir um olhar crítico para

melhor se aperceber de todas as formas de injustiça e

opressões.

(12)

FELIZMENTE HÁ LUAR! Teatro Épico: desenvolvimento

Carácter épico da peça

Distanciação histórica (técnica realista; influência de Brecht)

“FHL”

é um drama narrativo, de carácter social, dentro dos

princípios do teatro épico.

Na linha do teatro de

Brecht

- exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é

- exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é

necessário mostrar o mundo e o homem em constante

devir;

- Defende as capacidades do homem que tem o direito e o

dever de transformar o mundo em que vive;

- oferece-nos uma análise crítica da sociedade;

- procura mostrar a realidade em vez de a representar;

- quer levar o espectador/testemunha a reagir criticamente

e a tomar posição face aos acontecimentos sociais.

(13)

FELIZMENTE HÁ LUAR! Teatro Épico: desenvolvimento

 Assim, o teatro épico é encarado…

- como uma forma de análise das transformações sociais que ocorrem ao

longo dos tempos,

- como um elemento de construção da sociedade.

 A ruptura com a concepção tradicional da essência do teatro é evidente:

- o drama já não se destina a criar o terror e a piedade,

- já não se busca a função catártica, purificadora, realizada através das

emoções,

- há uma identificação do espectador com o herói da peça,

- há uma identificação do espectador com o herói da peça,

- estimula-se a capacidade crítica e analítica de quem observa.

 Brecht

pretendia substituir o “sentir” pelo “pensar”.

«Há homens que lutam um dia, e são bons;

Há outros que lutam um ano, e são melhores;

Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;

Porém há os que lutam toda a vida

Estes são os imprescindíveis.»

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FELIZMENTE HÁ LUAR! Teatro Épico: Influências Bertolt Brecht

(Poeta e dramaturgo alemão)

Samuel Bechett

(Prof. Univ. em França; dramaturgo)

John Osborne (dramaturgo inglês) n. 1898 Augsburgo m. 1956 Berlim n. 1906 Dublin, Irlanda m. 1989 Paris n. 1929 Londres, Inglaterra m. 1994 Shropshire, Inglaterra

- dava grande importância à dimensão pedagógica das suas obras de teatro: contrário à passividade do espectador, sua intenção era formar e estimular o pensamento crítico do público. - Para isso, servia-se de efeitos de distanciamento, como máscaras,

- um dos fundadores do teatro do absurdo e é considerado um dos principais autores do século XX;

- Com "Esperando Godot",

Beckett iniciou, ao mesmo tempo que Ionesco, o teatro do

absurdo;

-Ligado ao movimento dos «rapazes zangados» (“angry young men”);

- Com a obra Look Back in Anger (1956) revolucionou o teatro Inglês como seu protagonista, Jimmy Porter;

-uma declaração de guerra distanciamento, como máscaras,

entreatos musicais ou painéis nos quais se comentava a acção.

- Ideais marxistas levam-no a romper com o teatro naturalista. - Para ele, Teatro é

comprometimento, com o

objectivo de mudar a sociedade.

absurdo;

- As suas personagens reflectem um mundo onde não se acredita no universal e no divino, no qual o homem é deixado sozinho e sem nenhum suporte de fé. -Em 1969, Beckett ganhou o Prémio Nobel de Literatura.

-uma declaração de guerra contra um império em decadência (anos 50);

- causas: nostalgia; depressão; perda de notoriedade de Ingl.. - No seu mais famoso jogo,

Osborne castigou a hipocrisia da classe média baixa, com o seu humor “excoriating”.

Lema:

“O Teatro não está ao serviço do poeta, está ao serviço da sociedade.”

Temas:

Solidão, isolamento, sofrimento.

Lema:

Ser contra o Establishement: pôr em causa as bases do poder tradicional; visa a reforma social.

(15)

FELIZMENTE HÁ LUAR!

Teatro Épico: desenvolvimento

 Ao lermos Felizmente Há Luar! verificamos que são estes

também os objectivos de

Sttau Monteiro

.

-

evoca situações e personagens do passado

(movimento liberal oitocentista em Portugal);

- usa-as como pretexto para falar do presente

(Ditadura, nos anos 60 do século XX);

(Ditadura, nos anos 60 do século XX);

- põe em evidência a luta do ser humano contra a tirania, a opressão, a

traição, a injustiça e todas as formas de perseguição.

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FELIZMENTE HÁ LUAR! Teatro Épico: desenvolvimento

Tempo da História (século XIX – 1817) Tempo da escrita(século XX – 1961)

- agitação social que levou à revolta liberal de 1820 – conspirações internas;

- revolta contra a presença da Corte no Brasil e influência do exército britânico

- regime absolutista e tirânico

- classes sociais fortemente hierarquizadas - classes dominantes com medo de perder privilégios

- povo oprimido e resignado

- a “miséria, o medo e a ignorância”

- agitação social dos anos 60 – conspirações internas; guerra colonial

- regime ditatorial de Salazar

- maior desigualdade entre abastados e pobres - classes exploradas, com reforço do seu poder - povo reprimido e explorado

- miséria, medo e analfabetismo

- obscurantismo, mas crença nas mudanças - luta contra o regime totalitário e ditatorial absolutista

- a “miséria, o medo e a ignorância”

- obscurantismo, mas “felizmente há luar” - luta contra a opressão do regime absolutista - Manuel, “o mais consciente dos populares”, denuncia a opressão e a miséria

- perseguições dos agentes de Beresford

- as denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipócritas, e sem

escrúpulo denunciam - censura à imprensa

- severa repressão dos conspiradores - processos sumários e pena de morte - execução do General Gomes Freire

absolutista

- agitação social e política com militares e populares denuncia a opressão e a miséria - Perseguições da PIDE

- denúncias dos chamados “bufos”, que surgem na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar

- censura

- prisão e duras medidas de repressão e de tortura - condenação em processos sem provas

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FELIZMENTE HÁ LUAR!

 Quadro exemplificativo das duas épocas, tendo em conta as duas classes que se apresentam dicotomicamente: o povo e a classe governante.

Tentativa de implantação do regime liberal em Portugal

- primeiro quartel do século XIX A ditadura salazarista - década de 60 (século XX)

- As figuras populares vivem em péssimas condições (“dormem estendidas no chão”; “uma velha, sentada num caixote, cata piolhos a uma rapariga nova”; Manuel anda “andrajosamente vestido”);

Idêntica situação se verifica no país:

- Durante a ditadura salazarista, houve também exemplos de antifascistas que sempre desejaram a liberdade, apesar da forte repressão;

- Manuel, símbolo da consciência popular, tenta participar numa conspiração destinada a romper com o regime vigente;

- Denunciantes hipócritas e sem escrúpulos que tentam impedir a união popular em torno do general Gomes Freire de Andrade (Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento); - Dois polícias (“iguais a tantos outros”) que tentam dispersar o povo

- Dentro das camadas populares, também havia indivíduos que compactuavam com o regime opressor, denunciando elementos da

mesma classe, a fim de obterem

determinados benefícios;

- A polícia e a PIDE, ao serviço do regime, através da repressão, conseguiam impedir a coesão nas camadas populares.

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FELIZMENTE HÁ LUAR!

• Este paralelismo é até visível entre as personagens intervenientes na peça e individualidades do século XX, década de 60.

Gomes Freire e os outros onze condenados General Humberto Delgado e os outros presos políticos

Principal Sousa Cardeal Cerejeira e a posição da igreja em Portugal

Beresford Influência / ajuda estrangeira ao regime, particularmente a inglesa, que tinha interesses económicos, mesmo consciente do regime ditatorial

D. Miguel Pereira Forjaz A burguesia dominadora que deseja manter o poder económico e social

Vicente / Andrade Corvo / Morais Sarmento Os delatores ou “bufos” que, em geral, melhoram a sua condição social através da denúncia

Os dois polícias A polícia e a PIDE Os dois polícias A polícia e a PIDE

Matilde As mães, esposas, irmãs dos presos políticos que, lentamente, vão tomando consciência da situação política e que hesitam entre salvar o familiar ou defender o povo

Manuel / Rita / Antigo Soldado / Outros populares As pessoas que acreditam em Humberto delgado, mas que não intervêm e são marcadas pelo desespero

Sousa Falcão O amigo do preso político que, mesmo consciente da situação, não ousa intervir por medo de represálias

Frei Diogo de Melo A facção da igreja que está consciente da situação (grupo da Tribuna Livre, 1968)

Tribuna Livre – grupo de padres, criado em 1968, que se reunia mensalmente, a fim de trocar ideias, informações e reflexões sobre a situação que se vivia em Portugal na época. Começou em Lisboa e cedo se espalhou ao resto do país.

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FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

• Se procedermos a uma leitura metódica da obra, constatamos a existência de uma problemática social, baseada em duas forças de acção (a favor da mudança e contra ela), envolvidas num determinado espaço e num determinado tempo.

• Não podemos alhear-nos do facto de Felizmente Há Luar! constituir, obviamente, a verdade de Luís de Sttau Monteiro (que não é objecto da nossa análise), que a faz chegar até ao leitor – espectador através das personagens e das suas acções, transformando-se ao longo da história em sinais, em símbolos.

• A análise dessas personagens, que apresentamos a seguir, parte de uma hierarquia social, assente em quatro grandes grupos sociais:

Os Governadores do reino

Os Delatores

O Povo

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FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

Grupo Personagens

Os governadores do reino D. Miguel Forjaz

Principal Sousa Beresford (Criado) Os delatores Vicente Andrade Corvo Morais Sarmento Manuel O povo Manuel Rita Vicente Antigo Soldado Dois polícias Grupo anónimo:

Primeiro Popular, Segundo Popular ,Terceiro Popular, Uma velha, Uma Voz

Outras Personagens Gomes Freire

Matilde

Sousa Falcão Frei Diogo

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FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

Personagens: Os governadores do reino

Representam o poder político e a fragmentação nele existente: Principal Sousa o poder da Igreja, Beresford o poder dos oficiais ingleses e D. Miguel o poder da nobreza.

D. Miguel Forjaz

revela um carácter prepotente e corrupto, representante da classe da nobreza, sujeita ás imposições estrangeiras pelo facto de D. João VI estar ausente do reino. Orgulhoso da sua origem nobre, despreza o povo, demonstrando assim um carácter antipopular. É um homem de carácter calculista, prepotente, o protótipo do tirano que se opõe ao progresso por razões meramente pessoais. Defensor do absolutismo, sente-se ameaçado pelas ideias de liberdade. É um homem de gabinete, que exerce o absolutismo, sente-se ameaçado pelas ideias de liberdade. É um homem de gabinete, que exerce o poder com prepotência, sentindo-se ameaçado pela figura de Gomes Freire, seu primo, pois reconhece nele qualidades que não possui.

Principal Sousa é um representante da igreja que defende um Deus feito à imagem e semelhança dos homens. Pretende manter o povo na ignorância para poder exercer a sua tirania. Preocupam-no também as ideias revolucionárias, oriundas de França, uma vez que a sua divulgação poria em causa o poder eclesiástico. É cúmplice e comprometido com o poder, aspecto evidenciado no seu diálogo com Beresford. Revela ser hipócrita e falso, quando demonstra uma preocupação não sincera em relação à condenação de um inocente.

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FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

Personagens: Os governadores do reino

Beresford representa o domínio do exército inglês em Portugal. Revela preocupação em denunciar e castigar os traidores. É autoritário e detentor de grande poder. É irónico, pelo tom jocoso quando se refere a Portugal; país em relação ao qual assume uma posição de superioridade. Quando fala com Matilde revela-se um homem trocista e insensível. Adopta uma atitude de antipatia relativamente ao catolicismo caduco e ao incompetente exercício uma atitude de antipatia relativamente ao catolicismo caduco e ao incompetente exercício do poder. Pretende acabar com a possível conspiração de Gomes Freire de Andrade, não por razões nacionais ou militares mas sim pessoais, nomeadamente a manutenção do seu posto e da sua renda anual.

Nota: Beresford apresenta ao longo da acção um tom sarcástico e autoritário, manifestando um certo desprezo pelos seus companheiros governantes.

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FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

Personagens: Os delatores

Representam os denunciantes que vendem informações ao Poder em troca de dinheiro. Homens sem escrúpulos, de personalidades mesquinhas, que não respeitam os seus próprios códigos morais.

Morais Sarmento, um capitão do exército, atormenta-se com o facto de o poderem rotular de traidor. Andrade Corvo, um oficial, pensa apenas no dinheiro que irá receber, não se preocupando com aquilo que dele poderão dizer.

Vicente surge enquadrado no grupo dos delatores, uma vez que se trata de uma personagem que numa primeira fase pertence a um grupo (povo) e posteriormente passa para outro (delatores).

Trata-se, portanto, de uma personagem modelada, que revela evolução.

Inicialmente, vive as mesmas dificuldades, a mesma miséria e o mesmo terror dos seus companheiros de Inicialmente, vive as mesmas dificuldades, a mesma miséria e o mesmo terror dos seus companheiros de classe, mas, graças á sua astúcia, ganha a confiança dos governadores. Renega as suas origens,

mostrando-se frustrado por ser um elemento da trapeira (quando fala com o Primeiro polícia). Tem consciência das injustiças sociais, mas a ganância em subir mais alto, mesmo sem olhar a meios, é mais forte. Apresenta um tom de voz irónico, fingindo interesse e piedade pelos seus “irmãos”, quando toma consciência do perigo das suas palavras ao renegar a “cambada” a que pertence. Mostra-se falso nas palavras, nas atitudes e nos gestos que encena e estuda como se fosse um membro da nobreza, à qual desejava ter pertencido. Pretende a promoção social, facto que vai fazer dele um delator, mesmo que para isso tenha de trair a confiança do povo. Francamente ambicioso, mostra-se altivo e insensível para com os da sua classe, quando passa a “chefe de polícia”, como diz o Primeiro Popular aos seus amigos. É um homem sem escrúpulos, como tantos outros, que se perdem pelo preço de um emprego, perdendo a sua dignidade.

(24)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

Personagens: o Povo

- Enquanto personagem colectiva, abstractizada, constitui o pano de fundo da acção dramática.

- É a vítima de um regime opressor e absolutista, a classe explorada, que vive na ignorância, na miséria e na desilusão.

Nota: Manuel é um elemento do povo que vive sob a opressão do regime instaurado, Nota: Manuel é um elemento do povo que vive sob a opressão do regime instaurado, contudo consciente da injustiça em que vive, ainda que impotente para mudar a situação. Simboliza, assim, a desilusão, a frustração daqueles que alimentam a chama da liberdade, todavia interceccionada pelo poder da corrupção.

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FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

Os amigos do general Gomes Freire de Andrade

Como já dissemos, formam um grupo destacado, revelando-se ao longo da acção fiéis aos seus valores e a si próprios, e unidos pela fidelidade e amizade a Gomes Freire.

Matilde, mulher de Gomes Freire e sua amiga, é uma personagem forte, com grande densidade psicológica, combativa e extremamente apaixonada.

Não surge no primeiro acto de peça e podemos dizer que é a figura central do segundo acto, uma vez que é ela que vai tentar salvar Gomes Freire da condenação, tentando tudo ao seu alcance para o tirar da prisão.

alcance para o tirar da prisão.

Verificamos que é uma mulher sofrida, angustiada pelo facto de o marido estar preso

injustamente, chegando mesmo a contestar os valores que defendia, tal era o seu desespero. Estamos perante uma personagem carregada de simbologia, que luta por causas perdidas – a justiça, a lealdade, a valentia. Esse simbolismo é evidente na cor da saia que tem vestida no fim da peça, aquando da execução de Gomes Freire – possivelmente a imortalidade e a esperança numa sociedade mais justa.

Na sua condição de mulher digna e lutadora, enfrenta heroicamente, recorrendo à hipocrisia e ao sarcasmo, os membros da Igreja, na pessoa de Principal Sousa, pondo a nu os vícios de toda uma classe – o clero.

Matilde atinge o auge do seu sofrimento quando, num longo discurso, carregado de intensidade dramática, questiona o Deus redentor.

(26)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Personagens

Sousa Falcão é um amigo fiel do general Gomes Freire e de Matilde. Tal como Matilde, também só surge no segundo acto, acompanhando-a no seu sofrimento.

Mostra-se solidário com Matilde, nomeadamente quando esta decide ir falar com os governadores.

Nutre uma grande admiração pelo general e pelos princípios que defende. A morte leva-o a reflectir sobre si próprio, pois a sua falta de coragem e a sua cobardia distinguem-no do amigo.

General Gomes Freire de Andrade é a personagem central da peça, embora ausente General Gomes Freire de Andrade é a personagem central da peça, embora ausente fisicamente. O que sabemos sobre ele é através das outras personagens, que nos seus diálogos, discutem a figura do general. Assim, para os populares ele é um herói de grande coragem e justiça. Para Matilde e Sousa Falcão é um amigo, honesto, destemido, corajoso; aquele que luta pelos seus ideais, enfrentando o poder instituído. Para os governadores é uma ameaça ao poder absolutista, pelas suas ideias liberais, e até mesmo pela firmeza de carácter, que estes não possuem. Constitui, em suma, um “alvo” a abater.

É amado pelo grupo de personagens que aspiram à liberdade, à abolição do regime

absolutista instituído, e odiado por aquelas que vêem a sua presença como uma ameaça aos privilégios até então obtidos.

(27)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Símbolos

SAIA VERDE

- A felicidade – a prenda comprada em Paris (terra da liberdade), no

Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas;

- Ao escolher aquela saia para esperar o companheiro após a morte,

destaca a “alegria” do reencontro (“agora, que se acabaram as batalhas,

vem apertar-me contra o peito”).

Convém recordar, a propósito, que a saia é uma peça eminentemente

Convém recordar, a propósito, que a saia é uma peça eminentemente

feminina e que o verde está habitualmente conotado com tranquilidade e

esperança, traduzindo uma sensação repousante, envolvente e

refrescante. O Dicionário dos Símbolos diz-nos que:

“Entre o azul e o amarelo, o verde resulta das interferências cromáticas.

Mas entra com o vermelho no jogo simbólico de alternâncias. A rosa

floresce entre folhas verdes. Equidistante do azul-celeste e do vermelho

infernal, ambos absolutos e inacessíveis, o verde, valor médio, mediador

entre o quente e o frio, o alto e o baixo, é uma cor tranquilizadora,

(28)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Símbolos

A

luz

, simbolicamente, está associada à vida, à saúde, à felicidade, enquanto a

noite e as trevas se associam ao mal, à infelicidade, ao castigo, à perdição e à

morte. Na linguagem e nos ritos maçónicos, após ter participado de olhos

vendados em alguns rituais, após prestar juramento, o neófito poderia “receber

a luz”, o que significava ser admitido...

A fogueira / o lume

A fogueira / o lume

Após a prisão do General, num diálogo de tom “profético” e com “voz triste” (

segundo a didascália), o Antigo Soldado, acabrunhado, afirma: “Prenderam o

general... Para nós, a noite ficou ainda mais escura...”. A resposta ambígua do

primeiro Popular pode assumir também um carácter de profecia e de

esperança: “É por pouco tempo, amigo. Espera pelo clarão das fogueiras...”

Matilde, ao afirmar que aquela fogueira de S. Julião da Barra ainda havia de

“incendiar esta terra!”, mostra que a chama se mantém viva e que a liberdade

há-de chegar.

(29)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Símbolos

• A lua, simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol, e por atravessar fases, mudando de forma, representa a dependência, a periodicidade e a renovação. A lua é, pois, símbolo de transformação e de crescimento.

- A lua é ainda considerada como “o primeiro morto”, dado que durante três noites em cada ciclo lunar ela está desaparecida, como morta; depois reaparece e vai crescendo em tamanho e em luz... Ao acreditar na vida para além da morte, o homem vê na lua o símbolo desta passagem da vida para a morte e da morte para a vida...

- Por isso, na peça, nestes dois momentos em que se faz referência directa ao título, a afirmação de que “felizmente há luar” pode indiciar duas perspectivas de análise e de posicionamento das personagens:

posicionamento das personagens:

- As forças das trevas, do obscurantismo, do anti-humanismo utilizam, paradoxalmente, o lume (fonte de luz e de calor) para “purificar a sociedade” ( a Inquisição considerava a fogueira como fonte e forma de purificação).

- Se a luz é redentora, o luar poderá simbolizar a caminhada da sociedade em direcção à redenção, em busca da luz e liberdade...

- Assim, dado que o luar permitirá que as pessoas possam sair de suas casas (ajudando a vencer o medo e a insegurança, na noite da cidade), quanto maior for a assistência, isso significará:

- para uns, que mais pessoas ficarão “avisadas” e o efeito dissuasor será maior;

(30)

FELIZMENTE HÁ LUAR! -

Simbologia do Título

 O TÍTULO

FELIZMENTE HÁ LUAR!

(surge 2 vezes ao longo da peça, inserido nas falas das personagens)

página 131 – D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções,

querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo.

página 140 – Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de

coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania.

Num primeiro momento,

o título representa as trevas e o obscurantismo;

Num segundo momento,

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FELIZMENTE HÁ LUAR! - Simbologia do Título

A acção / a tragédia

A acção: o protagonista, General Gomes Freire de Andrade, e a sua execução: da

prisão à fogueira, com descrições da perseguição dos governadores do Reino, da

revolta desesperada e impotente da sua esposa e da resignação do povo que a

"miséria e a ignorância" dominam.

A figura central é o general Gomes Freire de Andrade "que está sempre presente

embora nunca apareça" (didascália inicial) e que, mesmo ausente, condiciona a

estrutura interna da peça e o comportamento de todas as outras personagens.

A defesa da liberdade e da justiça, atitude de rebeldia constitui a hybris (desafio)

A defesa da liberdade e da justiça, atitude de rebeldia constitui a hybris (desafio)

desta tragédia. Como consequência, a prisão dos conspiradores provocara o

sofrimento (páthos) das personagens e despertará a compaixão do espectador.

O crescendo trágico, representado pelas diversas tentativas desesperadas para

obter o perdão, acabará em clímax, com a execução pública do General Gomes

Freire e dos restantes presos.

Este desfecho trágico conduz a uma reflexão purificadora (cathársis) que os

opressores pretendiam dissuasora, mas que despertou os oprimidos para os

valores da liberdade e da justiça.

(32)

FELIZMENTE HÁ LUAR! - Simbologia do Título

A intencionalidade da obra

• Quando iniciámos o estudo do modo dramático, referimo-nos à intenção do autor ao conceber a sua obra, indicando as funções crítica, social, moralizadora, didáctica e lúdica como inerentes à obra de teatro.

• Sendo Felizmente Há Luar! Uma peça de teatro, certamente que também veicula uma intenção, até porque, tratando-se de uma obra de um dramaturgo da década de 60, enquadra-se no conjunto das peças que evidenciam uma função social e um empenhamento ideológico. Daí dizermos que ilustra a doutrina do chamado teatro épico, de participação política, preconizado por Brecht.

de participação política, preconizado por Brecht.

• Servindo-se de uma metáfora (século XIX) para atingir o presente (século XX), Felizmente Há Luar! revela uma dupla intenção crítica: à sociedade oitocentista (1817), feita de uma forma clara e bem explicita, e à sociedade da época de 60 (1961), feita de uma forma camuflada, através da técnica de distanciação. É com ela que Sttau Monteiro obriga o leitor-espectador a analisar e a reflectir sobre a situação política, social, económica e cultural do seu país, nomeadamente sobre o regime opressivo vigente que se fazia notar através das injustiças, das condenações e das torturas de todos aqueles que não comungavam das ideias salazaristas. É notória a preocupação do autor em despertar as consciências, levando o espectador a ser um agente de mudança, que reage criticamente e que toma decisões.

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FELIZMENTE HÁ LUAR!

Censura

no período do Estado Novo, o medoapoderava-se dos cidadãos, conforme o demonstra o seguinte poema de José Cutileiro:

"É a medo que escrevo. A medo penso. A medo sofro e empreendo e calo A medo peso os termos quando falo. A medo me renego, me convenço.

A medo amo. A medo me pertenço. A medo repouso no intervalo

A medo repouso no intervalo

De outros medos. A medo é que resvalo O corpo escrutador, inquieto, tenso.

A medo durmo. A medo acordo. A medo Invento. A medo passo. A medo fico. A medo meço o pobre, meço o rico.

A medo guardo confissão, segredo Dúvida, fé. A medo. A medo tudo. Que já me querem cego, surdo, mudo"

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Vídeos

Até ao dia da

Liberdade…

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FHL – Canções de Intervenção

Eles comem tudo e não deixam nada, ZECA AFONSO

No céu cinzento sob o astro mudo Batendo as asas pela noite calada Vêm em bandos com pés veludo Chupar o sangue fresco da ma nada Se alguém se engana com seu ar sisudo E lhes franqueia as portas à chegada Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada [bis] A toda a parte chegam os vampiros

Poisam nos prédios poisam nas calçadas

No chão do medo tombam os vencidos Ouvem-se os gritos na noite abafada Jazem nos fossos vítimas dum credo E não se esgota o sangue da manada Se alguém se engana com seu ar sisudo E lhe franqueia as portas à chegada Eles comem tudo eles comem tudo Eles comem tudo e não deixam nada Eles comem tudo eles comem tudo Eles comem tudo e não deixam nada Poisam nos prédios poisam nas calçadas

Trazem no ventre despojos antigos Mas nada os prende às vidas acabadas São os mordomos do universo todo Senhores à força mandadores sem lei Enchem as tulhas bebem vinho novo Dançam a ronda no pinhal do rei Eles comem tudo eles comem tudo Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo Eles comem tudo e não deixam nada No chão do medo tombam os vencidos Ouvem-se os gritos na noite abafada Jazem nos fossos vítimas dum credo E não se esgota o sangue da manada Se alguém se engana com seu ar sisudo E lhe franqueia as portas à chegada Eles comem tudo eles comem tudo Eles comem tudo e não deixam nada Eles comem tudo eles comem tudo Eles comem tudo e não deixam nada

Referências

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