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Infecções Intestinais em Populações Indígenas de Rondônia (Distrito Sanitário Especial Indígena Porto Velho)

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Academic year: 2021

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Infecções Intestinais em Populações Indígenas de Rondônia (Distrito

Sanitário Especial Indígena Porto Velho)

Documento de Trabalho no. 8

Moacir Haverroth

Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

Ana Lucia Escobar

Centro de Estudos em Saúde do Índio de Rondônia, Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho

Carlos E.A. Coimbra Jr.

Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

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As atividades de pesquisa, ensino e extensão do Centro de Estudos em Saúde do Índio de Rondônia (CESIR) são financiadas pela Fundação Ford.

Endereço para contato: Profa. Ana Lucia Escobar

Centro de Estudos em Saúde do Índio de Rondônia (CESIR) Universidade Federal de Rondônia – Centro

Av. Presidente Dutra 2965, sala PS2 78900-500 - Porto Velho – RO fax: (69) 216-8516

endereço eletrônico: ana@unir.br ou cesir@unir http://www.cesir.org

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Infecções Intestinais em Populações Indígenas de Rondônia (Distrito

Sanitário Especial Indígena Porto Velho)

Segundo a UNICEF, anualmente 2,2 milhões de mortes de crianças são devidas à desidratação causada por diarréia, comumente agravada pela desnutrição (UNICEF, 1998; Mabilia, 2000). Doenças diarréicas continuam sendo uma das maiores causas de morbi-mortalidade nos países em desenvolvimento e possuem relação estreita com a desnutrição infantil. Se, do ponto de vista terapêutico, dispõe-se da terapia de reidratação oral (TRO) como medida eficaz, em relação à prevenção da diarréia não há recurso tecnológico de similar impacto. Nesse contexto, há a necessidade de estudos epidemiológicos sobre as doenças diarréicas na infância a fim de prover mais informações para melhorar sua prevenção e manejo (Mølbak, 2000).

A diarréia caracteriza-se como uma síndrome que pode ser causada por uma grande variedade de agentes etiológicos, muitos dos quais encontram um ambiente adequado para a proliferação nas aldeias indígenas e em outras comunidades rurais amazônicas, que em geral carecem de saneamento básico. Apesar da importância das diarréias nas populações indígenas, poucas investigações epidemiológicas têm sido conduzidas. Um estudo realizado numa comunidade da periferia de Manaus verificou a ocorrência de 0,2 a 4,8 episódios de diarréia por pessoa por ano, sendo as crianças de 0 a 35 meses as mais afetadas (Giugliano et al., 1986). Entre os Karitiána de Rondônia, Coimbra Jr. et al. (1985) observaram a ocorrência de 3,9 episódios por pessoa ao ano. Os principais agentes etiológicos identificados foram bactérias (Escherichia coli enterotoxigênica e Shigella sp.) e protozoários (Giardia lamblia e Entamoeba

histolytica).

Os rotavírus figuram dentre as principais agentes que ocasionam diarréias entre os indígenas (vide Linhares, 1992, 1997, 2000). Dentre os casos melhor documentados, podem ser mencionadas as investigações epidemiológicas realizadas entre os Tiriyó no norte do Pará (Linhares et al., 1981), entre os Suruí e Karitiána de Rondônia (Santos et al., 1991) e de diversas outras comunidades amazônicas (Linhares, 1992).

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Como reportam vários autores, as precárias condições de saneamento nas comunidades indígenas favorecem a alta incidência de infecções gastrointestinais. A concentração de domicílios, o sedentarismo, a convivência direta com animais domésticos, aliados à falta de infraestrutura adequada de abastecimento de água potável e coleta de dejetos, criam um ambiente propício à propagação de enteropatógenos de veiculação hídrica e alimentar (Linhares, 1992; Coimbra Jr. & Mello, 1981; Santos et al., 1991; Escobar & Coimbra Jr., 1998; Coimbra Jr. & Santos, 2001).

Este trabalho apresenta uma análise preliminar sobre a epidemiologia das gastrenterites nas populações indígenas de Rondônia, enfocando dados relativos às populações cobertas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Porto Velho no período 1993 a 2001.

População e Métodos

Área investigada e grupos étnicos

O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Porto Velho foi implantado no final de 1999 como parte da nova estrutura nacional dos serviços de atenção à saúde indígena, cuja responsabilidade passou a ser da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). O DSEI abrange dez municípios, nove dos quais em Rondônia e um no sul do Amazonas (Humaitá). Cinco pólos-base (PB) estão ligados ao DSEI Porto Velho: PB de Humaitá (PB-HMT, 11 aldeias), PB de Porto Velho (PB-PVH, 3 aldeias), PB de Guajará-Mirim GMI, 21 aldeias), PB de Ji-Paraná JPA, 26 aldeias) e PB de Alta Floresta (PB-AFLO, 15 aldeias). A população indígena do DSEI é de 5.773 pessoas, com 47,5% do sexo feminino e 52,5% do masculino (FUNASA, 2002). Aproximadamente 15% da população encontra-se na faixa etária de 0 a 5 anos, a mais vulnerável para as doenças diarréicas.

O PB-GMI atende cerca de 2.900 pessoas (FUNASA, 2002) e contempla principalmente a população Wari’ (Pakaanóva), além de outras etnias (Jabuti, Makuráp,

Tuparí, Kanoê, Ajurú, Aruá, Kujubim e Masaká). O contingente indígena corresponde a aproximadamente 7,5% da população total do município de Guajará-Mirim, que é de 38.045 pessoas (IBGE, 2002). Os Wari’, grupo da família lingüística Txapakura (Rodrigues, 1986), representam a maior população indígena do PB-GMI, totalizando

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mais de 2.000 pessoas. O crescimento da população da região que compreende o PB-GMI foi de cerca de 30% no período de 1993 até 2001. Segundo dados da FUNASA (2002), aproximadamente 15 % da população do PB-GMI encontra-se na faixa etária de 0 a 5 anos de idade. O PB-GMI abrange as Terras Indígenas (TI) Lage, Ribeirão, Pacaas Novos, Rio Negro Ocaia, Guaporé, Sagarana e Posto Indígena São Luis (TI Uru-Eu-Wau-Wau). A TI Pacaas Novos possui quatro postos (Pacaás Novos ou Tanajura, Santo André, Deolinda e Sotério). As outras terras indígenas possuem um posto cada.

Coleta dos dados

A pesquisa foi realizada em janeiro de 2002 e envolveu a coleta de dados secundários de atendimento a pacientes indígenas nas cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim. O estudo teve como unidade de referência o DSEI Porto Velho, com ênfase no pólo-base de Guajará-Mirim.

Para a construção do banco de dados sobre diarréia, foram consultados os registros de atendimento das seguintes instituições: DSEI Porto Velho, Coordenação da União das Nações e Povos Indígenas de Rondônia (CUNPIR) e Casa de Saúde do Índio de Porto Velho (CASAI-PV). Foram ainda coletados dados na sede do Pólo-Base de Guajará-Mirim e na Casa de Saúde do Índio de Guajará-Mirim (CASAI-GMI).

Um dos maiores problemas na obtenção de dados sobre morbidade em indígenas diz respeito à falta de sistematização na coleta e no armazenamento dos registros, dificultando análises epidemiológicas. A dificuldade começa na própria definição do diagnóstico. Várias categorias de sinais e sintomas relacionados a distúrbios gastrointestinais aparecem nos registros. Na maioria dos casos, os diagnósticos não são confirmados com base em exames laboratoriais que permitam a confirmação etiológica. Os diagnósticos constantes dos registros podem ter sido feitos tanto por profissionais de saúde com nível superior (médico ou enfermeiro) como por agentes indígenas de saúde na aldeia. Para fins deste trabalho, optamos por considerar registros do tipo “dor abdominal”, “desidratação”, “infecção intestinal”, “disenteria”, dentre muitos outros, como indicativos de doença diarréica lato sensu.

Os dados obtidos na sede do DSEI referem-se aos relatórios consolidados enviados pelos cinco Pólos-Base (Humaitá, Porto Velho, Guajará-Mirim, Ji-Paraná e Alta

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Floresta d´Oeste). Infelizmente, não há consistência em relação à disponibilização desses dados, segundo os períodos estudados. A depender do pólo-base, os dados estão disponíveis a partir de abril ou maio de 2000. No caso do PB-PVH, não houve preenchimento ao longo de 2000. Por ocasião da coleta de dados, os três últimos meses de 2001 também ainda não haviam sido sistematizados. Embora a transição da responsabilidade pelo atendimento da saúde indígena para o convênio entre o DSEI Porto Velho/FUNASA e CUNPIR tenha ocorrido em dezembro de 1999, a implantação do Sistema de Informações de Saúde Indígena (SIASI) não foi imediata e diferentes formulários de coleta de informações foram utilizados nesses dois anos. Verificaram-se ainda problemas no preenchimento dos formulários, resultantes de falta de padronização.

No PB-GMI e, mais especificamente, na CASAI-GMI, foram obtidos dados referentes ao período de 1993 a 2001 (não havia registros para novembro-dezembro de 1993, dezembro de 1999 e janeiro-abril de 2000). Os dados de 1993 a 1999 referem-se a registros de atendimentos realizados pela Administração Regional da FUNAI em Guajará-Mirim, período quando o serviço de saúde era de responsabilidade desse órgão. O problema da não padronização dos dados ao longo do período dificulta a comparabilidade. A FUNAI utilizava como referência os postos indígenas mantidos por esse órgão em pontos estratégicos nas terras indígenas. A FUNASA, através dos DSEI, passou a utilizar como referência as aldeias, que são unidades populacionais específicas, porém mais sujeitas a flutuações populacionais devido, principalmente, às constantes migrações internas. As faixas etárias utilizadas variam de acordo com o formulário utilizado. Por exemplo, as faixas utilizadas para o registro de casos de doenças não são as mesmas dos formulários de levantamento populacional e variam também segundo o período analisado. Além disso, não há registro de dados por etnia.

A CASAI-PVH recebe pacientes encaminhados pelos diversos pólos-base do DSEI. Os casos não solucionados na própria CASAI são encaminhados para a rede de hospitais de Porto Velho e, se necessário, para unidades de tratamento mais especializadas fora do estado.

Foi possível realizar uma análise mais detalhada dos dados oriundos do PB-GMI, já que envolviam um período mais longo. Para tanto, foram feitos alguns ajustes entre dados de origem da FUNAI (período de 1993 a 1999) e da FUNASA (anos de 2000 e

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2001). Por exemplo, dados por aldeia registrados pela FUNASA foram agrupados segundo posto indígena correspondente, de maneira que se mantém a unidade de análise ‘Posto Indígena’.

Resultados

DSEI Porto Velho (2000-2001)

Para a região de abrangência do DSEI-PVH, composto por cinco pólos-base, os dados de morbidade aparecem somente a partir de março, abril ou maio de cada ano, dependendo do pólo, e vão até setembro de 2001 (Tabela 1). Nessa tabela são apresentados os números de casos de doenças diarréicas comparados com a totalidade das outras patologias registradas pelo serviço de saúde. No ano de 2000, as doenças diarréicas somaram 1995 casos, correspondendo a 27,8% do total de casos registrados. Em 2001, as diarréias totalizaram 908 registros (13,4%).

A maior freqüência de casos de diarréia concentra-se na faixa etária de 0 a 5 anos (Tabela 2). Em 2000, as crianças entre 0-1 ano apresentaram 380 casos (19,8%) e aquelas entre 1-5 anos 750 casos (39,2%). Portanto, mais da metade dos casos de diarréia estão concentrados nas crianças <5 anos. Chama atenção o elevado número de casos cuja faixa etária é ignorada (11,3% do total de casos em 2000). Em 2001, quando foi possível determinar as idades na totalidade dos registros, a proporção de casos de diarréia nos menores de 5 anos mostrou-se ainda mais elevada. Naqueles entre 0-1 ano de idade, ocorreram 181 casos (23,5%) e, entre 1-5 anos de idade, foram registrados 378 casos (49,0%).

Pólo-Base de Guajará-Mirim (PB-GMI) (1993-2001)

Na Tabela 3 apresentamos as informações para o PB-GMI, região onde predomina a população Wari’. Não há uniformidade ao longo dos anos, de maneira que a comparabilidade fica prejudicada, principalmente quando consideramos o quadro de morbidade como um todo. Por exemplo, para 1995 os dados referem-se somente à diarréia e à malária; para 1997 referem-se à diarréia e às infecções respiratórias agudas (IRA); para 1999, além de diarréia, aparecem apenas malária e IRA (Tabela 3). Mesmo com essas deficiências, percebe-se a importância das doenças diarréicas no quadro geral

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de morbidade da população indígena do PB-GMI, com cifras sempre superiores a 20%, em geral situando-se na faixa de 30-40% do total da morbidade.

Os dados sobre doenças diarréicas por faixa etária restringem-se aos anos de 1998-2001, percebendo-se número considerável de casos com idade ignorada (12,9%) (Tabela 4). A faixa etária mais prevalente foi 1-5 anos (35,8%) que, somada à faixa etária 0-1 ano (16,9%), constitui praticamente a metade dos casos. No ano de 1998, 57,6% dos casos concentraram-se nas crianças de até 5 anos de idade. Essa concentração é visível nos diversos anos e contrasta com a percentagem das faixas etárias de 0 a 5 anos na população geral do PB-GMI. Os dados indicam uma participação de 15% (2001) a 25% (1998 e 1999) de pessoas de 0 a 5 anos de idade no contingente populacional total.

Há uma série de falhas nos processos de notificação dos casos ao longo dos anos e, particularmente, para alguns postos indígenas (Tabela 5). Para 2001, por exemplo, 291 registros não indicam o PI do paciente (resultados não mostrados). Os dados da Terra Indígena Sagarana são os mais irregulares, provavelmente devido ao fato de que essa TI esteve sob a administração da Diocese de Guajará-Mirim, o que pode ter criado dificuldades de comunicação com a FUNAI. Essa deficiência de informação reflete-se nos baixos valores apresentados para essa TI. Já o PI São Luis apresenta dados somente a partir de 2000, quando implantaram-se o DSEI-PVH e seu respectivo PB-GMI. Em 2000 e 2001, os formulários da FUNASA destinados ao preenchimento das informações do serviço de saúde nos PB não discriminavam aldeias, posto ou etnia. Em 1995 e 1999, não são informados os casos atendidos na CASAI-GMI. Boa parte dos casos ali atendidos referem-se a pacientes oriundos das TI Lage e Ribeirão, que estão situadas mais próximas e por acesso terrestre de Guajará-Mirim.

Considerando-se apenas o ano de 2001 e tomando-se os dados populacionais disponíveis (Tabela 5), o PI onde as doenças diarréicas mostraram-se mais prevalentes foi o PI Sotério, com 136 casos numa população de 300 pessoas. O que apresentou menor prevalência de diarréia (desconsiderando-se Sagarana devido aos problemas apontados) foi o PI Pacaás Novos, com 41 casos numa população de 346 pessoas .

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Discussão

O perfil epidemiológico dos povos indígenas no Brasil é pouco conhecido, o que se deve à exigüidade de investigações, à ausência de censos e de outros inquéritos regulares e à precariedade dos sistemas de registro de informações sobre morbidade, mortalidade e cobertura vacinal, entre outros fatores (Coimbra Jr. & Santos, 2000).

Tal como se observa no restante do país, os dados sobre morbi-mortalidade dos povos indígenas em Rondônia são precários, em geral não havendo desagregação por sexo, idade ou etnia, além da ocorrência de descontinuidade e subnotificação dos registros (Coimbra Jr. & Santos, 2000; Coimbra Jr. et al., 2000; Escobar, 2001; Escobar & Coimbra Jr., 1998; Escobar et al., 2001). Em larga medida, esse quadro dificulta análises mais elaboradas. Por exemplo, por ocasião da coleta de dados que resultou neste estudo, detectamos que os diferentes formulários reportavam dados segundo diferentes faixas etárias.

Diversos estudos têm demonstrado uma relação estreita entre amamentação e introdução de novos alimentos, acarretando variações nos graus de proteção e exposição a patógenos intestinais e, conseqüentemente, na incidência de doenças diarréicas em crianças (Mølbak, 2000; Mabilia, 2000; Linhares, 1997; Ryder et al., 1985). Nos primeiros meses de vida, crianças indígenas geralmente são mantidas exclusivamente com amamentação, o que lhes confere maior proteção. Ao iniciar o processo de desmame e a introdução de novos alimentos, o grau de exposição a patógenos intestinais aumenta consideravelmente (Coimbra Jr. et al. 2002; Coimbra Jr. & Santos, 1991).

Apesar das deficiências dos dados, fica evidente a importância das doenças gastrointestinais no quadro geral de saúde dos povos indígenas atendidas pelo DSEI Porto Velho, bem como a grande concentração de casos em crianças de 0-5 anos, que alcança por vezes 50% dos casos reportados. Para o DSEI Porto Velho, em 2000 as doenças diarréicas representaram 27,8% dos registros de morbidade analisados; em 2001, 13,4%. A menor percentagem observada em 2001 deve-se, provavelmente, a um maior registro de outras doenças nos formulários da FUNASA, possivelmente decorrente de melhorias na estruturação do DSEI. Os registros de morbidade passaram a ser mais precisos e, com o treinamento das equipes de saúde, houve possivelmente um aumento no número de registros de doenças anteriormente pouco reportadas ou “valorizadas”. A

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magnitude das doenças diarréicas, bem como a concentração em crianças, foi também verificada nas análises apresentadas para o pólo-base de Guajará-Mirim.

Para a população de Rondônia como um todo, as diarréias constituem importante problema de saúde pública. Informações fornecidas pela SESAU-RO indicam que houve um aumento no número de casos notificados de doenças diarréicas entre os anos de 1996-2000. Foram notificados, respectivamente, 7.022, 12.701, 16.571, 17.010 e 32.439 de diarréia na população do Estado. Não foi possível identificar as causas desse abrupto aumento verificado no último ano. Em parte, pode estar associado a melhorias no sistema de informação em saúde de Rondônia.

Concomitante à implantação dos distritos sanitários, a FUNASA propôs-se a estruturar o Sistema de Informações de Saúde Indígena (SIASI) com o objetivo de coletar e disponibilizar informações demográficas, epidemiológicas e de serviços, de modo a fornecer subsídios para a construção de indicadores que avaliem as condições de saúde e que, indiretamente, avaliem a atenção à saúde (FUNASA, 2000). Um problema a ser superado na implantação do sistema de informação diz respeito à qualidade dos dados. Os problemas de saúde ocorrem na base, nas aldeias, e é justamente lá que estão as maiores necessidades de treinamento de pessoal para que haja diagnósticos e registros corretos, melhorando, assim, a confiabilidade dos dados de morbi-mortalidade das populações indígenas. Há, portanto, a necessidade de preparação constante e progressiva dos agentes indígenas de saúde que atuam nas aldeias e das equipes profissionais de saúde que atuam nos DSEI (Athias & Machado, 2001).

Os resultados dessa análise demonstram que as doenças diarréicas constituem importante problema de saúde em populações indígenas de Rondônia, perfazendo porcentagem expressiva da morbidade, principalmente em crianças. É importante que haja um aprimoramento do sistema de informação em saúde para que se disponha de melhores bases para planejar e atuar no controle dessa endemia.

Agradecimentos

À Daniella Sá, colega da ENSP, aos estagiários do CESIR (Aline Rodrigues, Cristiano Alves e Jesem Orellana) e à enfermeira Isabel Araújo, pelo apoio durante a pesquisa. À SESAU-RO, à coordenação do DSEI Porto Velho, e aos profissionais do Pólo-Base

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Guajará-Mirim e das Casas de Saúde do Índio de Porto Velho e de Guajará-Mirim pelo acesso às várias fontes de dados. Ao CIMI-RO e a CUNPIR pelo apoio recebido. Ao CNPq, pela bolsa de doutorado (processo nº 141243/00-7), e à Fundação Ford, pelo apoio financeiro à pesquisa.

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Tabela 1: Casos registrados de doenças diarréicas e outras patologias no Distrito Sanitário Especial Indígena Porto Velho (DSEI-PVH) no ano de 2000 (março a dezembro) e 2001 (janeiro a setembro), segundo mês.

Doença/ Mês

jan fev mar abr maio jun jul ago set out nov dez Total

Diarréia ... ... 40 37 72 235 259 636 171 169 184 192 1995 Outras ... ... 201 168 349 128 515 1572 514 432 343 968 5190 Total 2000 ... ... 241 205 421 363 774 2208 685 601 527 1160 7185 Diarréia 76 126 35 57 125 109 137 162 81 … … … 908 Outras 781 483 479 658 871 768 568 692 543 … … … 5843 Total 2001 857 609 514 715 996 877 705 854 624 … … … 6751

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Tabela 2: Casos notificados de diarréia em 2000 e 2001 no Distrito Sanitário Especial Indígena Porto Velho (DSEI-PVH) por faixa etária e por Pólo-Base (PB).

Pólos-base Número de casos (% em relação ao total do PB) por faixa etária < 1 ano 1-5 anos 5-15 anos > 15 anos Ignorada Total (%

geral) Guajará-Mirim 298 (20,9) 490 (34,4) 286 (20,1) 145 (10,2) 206 (14,5) 1425 (74,4) Ji-Paraná 51 (15,0) 196 (57,7) 72 (21,2) 11 (3,2) 10 (2,9) 340 (17,8) Alta Floresta 18 (78,3) 5 (21,7) - - ... 23 (1,2) Porto Velho ... ... ... ... ... ... Humaitá 13 (10,2) 59 (46,5) 22 (17,3) 33 (26,0) - 127 (6,6) Total 2000 380 (19,8) 750 (39,2) 380 (19,8) 189 (9,9) 216 (11,3) 1915 (100,0) Guajará-Mirim 121 (25,3) 236 (49,3) 63 (13,2) 59 (12,3) - 479 (62,1) Ji-Paraná 7 (8,9) 60 (76,0) 6 (7,6) 6 (7,6) - 79 (10,2) Alta Floresta 31 (35,6) 41 (47,1) 4 (4,6) 11 (12,6) - 87 (11,3) Porto Velho 7 (16,3) 13 (30,2) 13 (30,2) 10 (23,3) - 43 (5,6) Humaitá 15 (18,1) 28 (33,7) 29 (34,9) 11 (13,3) - 83 (10,8) Total 2001 181 (23,5) 378 (49,0) 115 (14,9) 97 (12,6) - 771 (100,0) 2000: Guajará-Mirim: dados disponíveis para maio a dezembro; Ji-Paraná e Humaitá: abril a dezembro; Alta Floresta: somente mês de abril com informação; Porto Velho: sem informação. 2001: janeiro a setembro para todos os Pólos-Base.

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Tabela 3: Casos de doenças diarréicas e de outros agravos registrados no Pólo-Base de Guajará-Mirim (PB-GMI) de 1993 a 2001 (% em relação ao total de registros do ano).

Ano de registro 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Diarréias 1392 (20,8) 2499 (36,0) 2582 (65,2) 2212 (43,5) 1199 (44,3) 1236 (39,3) 1077 (40,6) 1425 (26,5) 1124 (17,1) Outros agravos 5301 (79,2) 4442 (64,0) 1376 (34,8) 2875 (56,5) 1509 (55,7) 1911 (60,7) 1574 (59,4) 3947 (73,5) 5441 (82,9) Total 6693 6941 3958 5087 2708 3147 2651 5372 6565

1993: meses de novembro e dezembro sem informação; 1995: outros agravos incluem somente malária; 1997: outros agravos incluem somente IRA; 1999: sem dados para dezembro e outros agravos incluem somente malária e IRA; 2000: em maio e junho, dados oriundos somente da Casa de Saúde do Índio de Guajará-Mirim (CASAI-GMI).

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Tabela 4: Casos de doenças diarréicas registrados no Pólo-Base de Guajará-Mirim (PB-GMI) de 1998 a 2001 por faixa etária (% em relação ao total de registros do ano).

Ano Faixa etária

(anos) 0–1 1–5 5 –10 > 10 Ignorada Total 1998 181 (14,6) 531 (43,0) 248 (20,1) 144 (11,7) 132 (10,7) 1236 1999 142 (13,2) 357 (33,1) 280 (26,0) 298 (27,7) -1077 2000 298 (20,9) 490 (34,4) 222 (15,6) 211 (14,8) 204 (14,3) 1425 2001 201 (17,9) 362 (32,2) 131 (11,7) 139 (12,4) 291 (25,9) 1124 Total 822 (16,9) 1740 (35,8) 881 (18,1) 792 (16,3) 627 (12,9) 4862

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Tabela 5: Casos de doenças diarréicas registrados no Pólo-Base de Guajará-Mirim (PB-GMI) de 1993 a 2001, segundo Posto Indígena (PI) e na Casa de Saúde de Guajará-Mirim (CASAI-GMI), com indicação da porcentagem relativa de casos entre os PI em 2001 e população de 2001 por PI.

Localidade (no. de aldeias) Ano de registro 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 (%)* pop. 2001 (%) CASAI-GMI 84 112 - 71 69 107 - 324 92 (11,0) -Ribeirão (1) 188 215 152 146 149 176 115 36 40 ( 4,8) 204 (7,2) Lage (3) 197 866 92 226 152 170 111 98 114 (13,7) 316 (11,2) Pacaás Novos (6) 122 137 473 160 81 101 81 95 41 (4,9) 346 (12,3) Santo André (2) 144 159 192 453 175 113 156 101 89 (10,7) 321 (11,4) Rio Negro Ocaia

(1) 312 532 259 324 223 213 209 94 87 (10,4) 483 (17,1) Deolinda (1) 33 70 510 266 107 36 24 20 16 (1,9) 84 (3,0) Sotério (1) 102 264 222 314 93 119 155 152 136 (16,3) 300 (10,6) Sagarana (1) - - 328 - - 47 31 27 16 (1,9) 210 (7,4) Guaporé (3) 210 144 354 252 150 154 195 243 181 (21,7) 497 (17,6) São Luis (2) ... ... ... ... ... ... ... 31 21 (2,5) 60 (2,1) Total 1392 2499 2582 2212 1199 1236 1077 1221 833 (100,0) 2821 (100,0)

* Em 2000 e 2001 foram registrados, respectivamente, 204 e 291 casos de diarréia em indivíduos cuja aldeia ou posto indígena de origem não foram registrados.

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