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Revista
Brasileira
de
CIÊNCIAS
DO
ESPORTE
ARTIGO
ORIGINAL
Conhecimento
de
performance
com
base
no
Teste
do
Desempenho
Motor
do
Nado
Crawl,
na
aprendizagem
do
nado
crawl
Juliana
Izabel
Katzer
a,∗,
José
Francisco
Gomes
Schild
a,
Cassio
de
Miranda
Meira
Junior
b,
Sara
Teresinha
Corazza
ce
Suzete
Chiviacowsky
aaEscolaSuperiordeEducac¸ãoFísica,UniversidadeFederaldePelotas(UFPel),Pelotas,RS,Brasil bEscoladeArtes,CiênciaseHumanidades,UniversidadedeSãoPaulo(USP),SãoPaulo,SP,Brasil
cDepartamentodeMétodoseTécnicasDesportivas,CentrodeEducac¸ãoFísicaeDesportos,UniversidadeFederaldeSantaMaria
(UFSM),SantaMaria,RS,Brasil
Recebidoem7dedezembrode2012;aceitoem12demarçode2014 DisponívelnaInternetem12dejunhode2015
PALAVRAS-CHAVE
Aprendizagem motora;
Conhecimentode performance; Feedback; Natac¸ão
Resumo Oobjetivo desteestudofoi verificaros efeitosdo conhecimentode performance (CP),combasenotestedodesempenhomotordonadocrawl(TDMND)(Corazzaetal.,2006), naaprendizagemdonadocrawl.Participaramdoestudo41adultos.Enquantoumgruporecebeu CPapósboastentativas,ooutrorecebeuCPapósasmástentativas.OTDMNC,compostopor 29itens,foiusadoparaaelaborac¸ãodasinformac¸õesdeCP,assimcomoparaaconstatac¸ãodos níveisdeaprendizagem.Paraambososgrupos,independentementedoCPfornecido,foi detec-tadadiferenc¸aentreopréeopós-teste,oqueindicasucessonoprocessodeaprendizagem. Noentanto,nacomparac¸ãoentreospós-testes,nãoforamobservadasdiferenc¸assignificativas entreosgrupos.Acomplexidadedotesteeadificuldadedosaprendizesemdiscriminarentre boasemástentativasdepráticasãodiscutidos.
©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
KEYWORDS
Motorlearning; Knowledgeof performance; Feedback; Swimming
Knowledge of performance based on the swimming crawl motor performance test inthelearningofswimmingcrawl
Abstract Theobjectiveofthisstudywastoverifytheeffectsofknowledgeofperformance (KP)basedontheSwimmingCrawlMotorPerformanceTest(SCMPT)(Corazzaetal.,2006)on thelearningofswimmingcrawl.Forty-oneundergraduatestudents,dividedintotwogroups,
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:julikatzer@gmail.com(J.I.Katzer). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.05.002
participatedinthestudy.WhileonegroupreceivedKPaftergoodtrials,theotherreceivedKP afterpoortrials.TheSCMPT,consistingof29items,wasusedforKPelaboration,aswellasfor motorlearningassessment.Differencebetweengroupswasnotobservedonthepost-test.The complexityofthetestandthedifficultyoflearnersindiscriminatingbetweengoodandbad trialsarediscussed.
©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights reserved.
PALABRASCLAVE
Aprendizajemotor; Conocimientodela performance; Feedback; Natación
Conocimientodelaperformanceenbasealapruebaderendimientomotornatación estilo crawl, luegode buenoscontra malos intentosdepráctica, enel aprendizaje delestilocrawl
Resumen Elobjetivodeesteestudiofueevaluarlosefectosdelconocimientodela perfor-mance(CP)enbasealaPruebadeRendimientoMotordelEstiloCrawl(Corazzaetal.,2006), enelaprendizajedelnadocrawl.Participarondelestudio41adultos,divididosendosgrupos: G-buenosquerecibieronunCPluegodebuenosintentosdeprácticayG-malosquerecibieron CPluegodemalastentativasdepráctica.Laprueba,queconstade29artículos,seutilizópara lapreparacióndelainformaciónparaCP,asícomoparalaevaluacióndelosnivelesde aprendi-zaje.Paraambosgrupos,independientementedelCPrealizado,fuedetectadaunadiferencia entreelpreyelpostest,indicandounamejoraenelprocesodeaprendizaje.Noseencontró diferenciaentrelosgrupospostest.Lacomplejidaddelapruebayladificultaddelosalumnos adiscriminarentrelosbuenosymalosintentosdeprácticasediscuten.
©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos derechosreservados.
Introduc
¸ão
Nos momentos iniciais da aquisic¸ão de uma habilidade motora,o aprendiz lida com muita incertezaproveniente dasdemandasdoambiente,datarefae doprópriocorpo, como,porexemplo,compreenderosrequisitosespecíficos da tarefa ou como coordenar os seus movimentos a fim dealcanc¸arumpadrãosemelhanteao objetivofornecido. Nessafase,édifícilrespondercomsucessoatantas deman-dase,assim,asac¸õesmotorassãodesorganizadas,pouco eficazeseapresentammuitoserros.Aolongodoprocessode aprendizagem,ofeedbackrecebidoduranteeapósas ten-tativasdepráticaéumelementoimportantenoprocessode resoluc¸ãodoproblemamotoretornaocomportamentomais consistentee eficiente. O feedback extrínseco (FE), tam-bémconhecidocomofeedbackaumentado,éainformac¸ão externa que suplementa a fonte interna de feedback em relac¸ãoàinformac¸ãosobreodesempenho.Dentrediversas formas, esse pode ser fornecido ao aprendiz após tenta-tivas consideradas boas, ou seja, astentativas em que o aprendizapresentaalgumgraudeeficiênciaousucessona tarefa,ou,ainda,apóstentativasruins,nasquaiso movi-mentoapresentadoénormalmenteineficienteoucommaior grau de insucesso, em relac¸ão às outras tentativasfeitas (ChiviacowskyeWulf,2007).
A mensagemcontidano FE podeserreferente ao pró-prioresultadodaac¸ãomotoranoambiente(conhecimento deresultado[CR])ouaopadrãodemovimentoquecausou talresultado(conhecimentodeperformance[CP]).Ambos têmimportância especial em pesquisasporque se consti-tuemnumaformaobjetivadefornecerainformac¸ãosobre
aexecuc¸ãodatarefa.Porsuavez,oCPéfornecidosobre opadrãodemovimentousadoparaalcanc¸arameta---por exemplo,quandooinstrutorinformaemqueposic¸ãoo coto-velodonadadorestava,numciclodebrac¸adas(flexionado ouestendido).OCPpodeauxiliaroaprendizatomar deci-sõessobreoquefazerparaajustaropadrãodemovimento e, assim, melhorara qualidade deexecuc¸ão daac¸ão. Tal informac¸ãoéparticularmenteimportantenasfasesiniciais de aprendizagem, quandoos aprendizessão incapazesde interpretaraspropriedadesdeseusmovimentos(Guadagnoli etal.,2002).
Por ter relac¸ão com a qualidade do movimento, o CP podeterumviéssubjetivonainformac¸ãoquecarrega.Essa limitac¸ãorefleteapoucacargadepesquisaquando compa-radacomapesquisacomCR.Entretanto,ospoucosestudos comCPmostramque hábenefíciosdessainformac¸ãopara aaprendizagemdehabilidadesmotorasnoesporte(Boyce, 1991; Smith e Loschner, 2002). No âmbito não esportivo que investiga osefeitos do CPe as estratégias cognitivas na aprendizagem motora de crianc¸as com paralisia cere-bral,ThorpeeValvano(2002)verificaramqueindivíduosque usaramCPjuntamentecomestratégiascognitivas apresen-taram melhoriassignificativasna habilidade demoverum pedalparatrás.Ainda,comousodahabilidadedeequilíbrio sobreatravedeginástica,SeldereDelRolan(1979) concluí-ramque,apósseissemanasdeprática,oCPdadopormeio devídeobeneficiouaaprendizagemquandocomparadocom ofeedbackverbal.
pesquisadores). Entretanto, para comprovar o discerni-mento das informac¸ões recebidas por parte do aprendiz,
Chiviacowsky eWulf (2002),como usodequestionáriose aanálisedastentativascomesemCR,descobriramqueos aprendizesnãosolicitamCRdeformaaleatória,masusam umaestratégia, ade solicitarCR após boastentativas de prática,ouseja,apóstentativascommaiorgraudesucesso natarefa;issofoiinterpretadopelasautorascomoummeio usadopeloaprendizparaconfirmarumbomdesempenho.
Em estudo subsequente, Chiviacowsky e Wulf (2007)
verificaram que participantes adultos que receberam CRdeformaexternamentecontrolada,apósboastentativas depráticanafasedeaquisic¸ão,obtiverammelhor aprendi-zagememumatarefadearremessoaoalvoemcomparac¸ão comosaprendizesque receberamCRapósmástentativas deprática.Resultadossemelhantesforamencontradoscom idosos (Chiviacowsky et al., 2009). Esse padrão de resul-tadoscontradiz a hipótese deorientac¸ão (Salmoni et al., 1984),segundoaqualafunc¸ãodofeedbackna aprendiza-gemmotoraéguiaroaprendiznadirec¸ãodameta.Entãoo
feedbackseriamaisimportanteapósasmástentativas,ou seja,apósoserros maisgrosseiros. Alémdisso, deacordo comessahipótese,apósboastentativasenofimdaprática ofeedbacké considerado comomenosimportante. Entre-tanto, ao considerar os resultados de pesquisas sobre CR apósboasemástentativasdeprática,parecequeafunc¸ão motivadoradoFEnãodevesernegligenciada.
Defato,maisrecentemente,Badami etal.(2011) con-firmaram a proposic¸ão dos efeitos motivacionais do CR colocadospreviamenteporChiviacowskyeWulf(2007),por meio do uso de questionário. Os resultados desse estudo mostraram queo CR fornecido após astentativas eficien-tesresultouemmaiormotivac¸ãointrínseca,principalmente relacionadaàpercepc¸ãodecompetência,doqueoFE for-necidoapósastentativasmenoseficientes deprática.Em estudosubsequente,Badamietal.(2012)comprovaramos efeitos positivosdoCRapós boastentativasdepráticano aumentodaautoconfianc¸aeconfirmarammaior aprendiza-gem deumatarefadeputtingdogolfeem relac¸ãoao CR fornecido após asmástentativas.Resultados semelhantes foram encontrados tambémna aprendizagem de crianc¸as (Saemietal.,2011).
Embora seja inegável a importância do FE no ensino dashabilidadesmotoras,agrandemaioriadosestudosque investigam essa variável é conduzida em ambiente labo-ratorial. São poucos os estudos aplicados em situac¸ões (próximas)domundoreal(HodgeseFranks,2002;Goodman etal.,2004).Emsituac¸õesdeintervenc¸ãomotora,oFEé umavariávelextremamenteimportante,porquedizrespeito ao que o professor/técnico/terapeuta informa ao apren-dizsobreo movimento. Nessesentido,pesquisas sobreos fatores que afetam a aprendizagem motora são as mais próximasdaintervenc¸ão,pois essesfatoressão manipula-dos pelos profissionais noensinodashabilidades motoras. O conhecimento produzidopor pesquisas desse tipo, por-tanto, pode ser útil aos profissionais que lidam com a melhoria, a manutenc¸ão ou a reabilitac¸ão do movimento humano (Tani etal.,2010).Apartirdessasconsiderac¸ões, o objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos do conhecimentodeperformanceapósboas emástentativas depráticanaaprendizagemdonadocrawlemadultos uni-versitários.
Materiais
e
métodos
Participantes
Participaramdoestudo41adultosuniversitários,deambos os sexos, com média de idade 25,11 (± 5,3 anos), dis-tribuídos em dois grupos (G-Boas=21 sujeitos e G-Más= 20sujeitos), deacordo com osdiferentes tipos de forne-cimentode CP.Todosparticiparam como voluntáriosapós assinarumTermodeConsentimentoLivreeEsclarecido.O estudofoiaprovadopeloComitêdeÉticaemPesquisacom SeresHumanos.Osparticipantesnãotinhamconhecimento doobjetivodoexperimentoetambémnãotinham experi-ênciaanteriorcomatarefa.Entreoscritériosdeinclusão, osparticipantesdeveriamestarfamiliarizadoscomomeio líquido,ouseja,flutuaremdecúbitoventraledorsal, imer-girafacenaágua,abrirosolhoseexpirarembaixod’água, passardaposic¸ãoverticalparaahorizontalautonomamente edeslizarnasuperfície.
Instrumentos
Osparticipantestiveramasaulasetodasasavaliac¸õesdos préepós-testesnapiscinasemiolímpica(25mx12,5m)do CentrodeEducac¸ãoFísicadauniversidade. Paraavaliac¸ão do desempenho foi usado o teste do desempenho motor donadocrawl(TDMNC)(Corazzaetal.,2006).Esse instru-mentotemcomoformadeavaliac¸ãoaexecuc¸ãotécnicado nadoem 29 itens.É dado umpontoparacada item cum-pridodeformacorreta.Oescoremínimoédezero(quando o sujeito não faz qualquer movimento corretamente) e o escoremáximoéde29(quandotodosositensquecompõem o testesão feitos de formacorreta). Os pré e pós-testes foramaplicadosindividualmenteemcadaparticipantepor três avaliadores treinados. Os avaliadores observaram os participantesdabordadapiscinaetransitandopelo ambi-ente, para melhor visualizac¸ão a partir dos critérios de avaliac¸ãoqueconstamnoteste.
Procedimentos
Osparticipantesforamdistribuídosaleatoriamenteemdois gruposexperimentais:G-Boas,compostopor21alunos(12 homense nove mulheres) que tiveramaulase receberam CP após boas tentativas do nado crawl, e G-Ruins, tam-bémcom20alunos(10homense10mulheres),quetiveram aulasereceberamCPapósmástentativasdonadocrawl. OconteúdoinformacionaldoCPdependiadaqualidadedo desempenhodoparticipante,erafornecidoemtrêsdecada seistentativas deprática, paraas melhores(as que mais seaproximaram datécnica donado) noG-Boas e para as piores(asquemaissedistanciaramdatécnicadonado)no G-Ruins.O CPfoifornecido deformasumariada,ouseja, todasasinformac¸õesforamprovidasapósasseistentativas dobloco.
paraogrupo‘‘boas’’e asquemaissedistanciaramdessa descric¸ão ealcanc¸aram menorpontuac¸ãodentro dobloco comoinformac¸ãodeCPparaogrupo‘‘más’’.
Com os participantes familiarizados ao meio líquido, foiaplicado o pré-teste. Em seguida participaram de dez aulasconsecutivas,duasvezesnasemana,comdurac¸ãode 50minutoscada.Asaulasforamdivididasemaquecimento (atividadesdealongamentoeiniciac¸ãodamovimentac¸ão), parteprincipal(educativosdahabilidade-alvojádivididaem partes---respirac¸ão, pernada,brac¸ada,coordenac¸ãogeral do nado) e descontrac¸ão/relaxamento (atividades livres). Ointervalo detempoentreo pré-testee o pós-testefoi, portanto,de cincosemanas. Considerou-se umatentativa depráticaaexecuc¸ãodonadocrawlem25metrosde des-locamento;seistentativascompunhamumblocodeprática. Asavaliac¸õesdodesempenhodonadocrawldecada parti-cipante,queresultaramnasinformac¸õesdeCP,foramfeitas peloexperimentador,queobservavacadaparticipante indi-vidualmenteduranteaaula.Todososparticipantesfizeram doisblocosdeseis tentativasdonadocrawlem cadaaula ereceberamfeedbackespecífico(referenteàsmelhores ---grupo 1--- ou piorestentativas --- grupo 2),após o fimde cadabloco.Norestantedaaulacadaparticipantefaziaos educativosespecíficos,semfeedbackalgumdo experimen-tador.Duranteoexperimentoasaulasforamministradasem gruposdeseisparticipanteseoCPfoifornecidodeforma sumariadanofimdecadabloco,individualmente.
Tratamentoestatístico
Inicialmente para caracterizac¸ão dos dados foi usada a estatística descritiva com média e desvio padrão. Comaviolac¸ãodopressupostodenormalidade,para verifi-caradiferenc¸aintragrupoentreopréeopós-teste,usou-se otestenãoparamétricodeWilcoxon.Comointuitode veri-ficaradiferenc¸aentreostratamentos(diferentesregimes deCP,apósboasemástentativas),osgruposforam compa-radoscomotestenãoparamétricodeMann-Whitney.Para issousou-seosoftwareStatisticalPackageforSocial Scien-ces(SPSS 14.0)e foiadotadoumníveldesignificânciade 5%.
Resultados
Os resultados da análise descritiva são apresentados na
tabela1.Paraverificarseambososgruposiniciarama pes-quisacom níveis similares de desempenho, foi aplicadoo testedeMann-Whitney,quemostrouqueosgruposnão dife-riramentresinopré-teste(p=0,568).Ahomogeneidadede desempenhoinicialdos grupos é umacondic¸ão necessária
0 5 10 15 20 25 30 35
9 10 8 7 6 5 4 3 2 1
Escore no TDMNC
Sujeitos Desempenho dos sujeitos
Pré-teste G-boas
Pré-teste G-ruins
Pós-teste G-boas
Pós-teste G-ruins 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11
Figura1 Desempenhodosgruposnopréepós-testes.
em estudos deaprendizagem motora.De outra forma,se osgrupos apresentassemdesempenhos iniciaisdiferentes, nãosepoderiaatribuirosresultadosapenasàmanipulac¸ão experimental,mastambémàsdiferenc¸asiniciais(Barrocal etal.,2006). Pelosvaloresbaixosdedesempenho (tabela 1),tambémsepodededuzirqueosparticipantesdeambos osgruposeraminiciantesnonadocrawl.
Ao comparar o desempenho dos grupos em pré e pós--testes, pode-se observar na figura 1 que o grupo que recebeuCPapósboastentativasdepráticateveseu desem-penho melhorado após o programa de ensino da técnica do nado crawl, fato que também ocorreu para o grupo querecebeuCPapósmástentativas.Pode-sedestacarque, independentemente de se fornecido após boas ou más tentativas, o CP foi fundamental, pois os participantes modificaramo seucomportamentoapós otratamento. No entanto,pararevelarserealmente houvediferenc¸aentre o prée o pós-testepara ambos osgrupos usou-seo teste deWilcoxon.Foiencontradaumadiferenc¸aaltamente sig-nificativa, tanto parao G-Boas (Z= -3,727para p<0,000) quantoparaoG-Más(Z=-3,731parap<0,000).
Essesresultados mostramque ambos os grupos melho-raramduranteo experimento,ouseja,modificaramo seu comportamento para um nível superior de desempenho. Com ointuito deverificarqualtratamento foimaiseficaz nesteestudo,aplicou-seotestedeMann-Whitney.Nãofoi encontrada diferenc¸asignificativaentreosgrupos no pós--teste(Z=-1,239parap=0,215).
Discussão
A presente pesquisa investigou um importante fator que afeta a aquisic¸ão de habilidades motoras --- o feedback
extrínseco em forma de CP --- em uma situac¸ão real de
Tabela1 Análisedescritivadosdados
Variáveis N Mínimo(acertos) Máximo(acertos) Média Desviopadrão
Pré-testeG-Boas 21 0 9 3,18 3,20
Pós-testeG-Boas 21 16 29 25,71 2,33
Pré-testeG-Más 20 0 9 3,77 3,10
Pós-testeG-Más 20 9 28 22,95 5,23
aprendizagem motora. Diferentemente depesquisas labo-ratoriais queprimam pelavalidade interna,esta pesquisa privilegiou a validade externa (aulas de natac¸ão) na conduc¸ãodosprocedimentosexperimentais.Aintenc¸ãofoi enfatizaravalidadeecológicaparaqueosresultadospossam sertransportadosparaasituac¸ãodepráticaprofissionalcom maiorfacilidade.ParafraseandoTanietal.(2010),buscou-se aquiuma‘‘maioraproximac¸ãoentreaaprendizagemmotora eapedagogiadomovimento’’,comotestedeumahipótese operacionalsobreosefeitosdofeedbackextrínseco forne-cidoapósboastentativasdepráticaemestudosanteriores, feitas em laboratório ou com ênfase na validade interna (Chiviacowsky;Wulf,2007;Chiviacowskyetal.,2009,Saemi etal., 2011).Essa aproximac¸ão coma práticavem sendo estimuladademodorecorrenteporTani(2006,2008),que pregaveementementeafeituradepesquisasaplicadasem situac¸ãorealdeensino-aprendizagemoupróximasdissoque envolvamacoparticipac¸ãodepesquisadoreseprofissionais efetivamenteengajadosnaintervenc¸ãomotora.
Osresultadosapresentadospermitemafirmarqueambos os grupos modificaram o seu comportamento e aprende-ramduranteoexperimento,apósasdezsessõesdeprática. Mostrandosimilaridadecomalgunsestudosjáfeitossobre o feedbackextrínseco naaprendizagem dehabilidades da natac¸ão,estudosessesque nosquaisforamusados alguns procedimentos similares, como o fornecimento de CP de forma reduzida e sumariada. Os estudos de Chambers e Vickers (2006) e Santos et al. (2008) com natac¸ão demonstrarambenefícios,pormeiodofornecimentodeFE. Oprimeiroestudoverificouosefeitosdafaixadeamplitude defeedbacknodesempenho denadadorescompetitivos e os resultados mostraram que o grupo que recebeu feed-backatrasadocompostoporquestionamentosdirecionados à técnica do nado obteve melhoria na execuc¸ão donado enotempodemovimento.Jánosegundoestudo, relacio-nadoàfrequênciadeCP,Santosetal.(2008)verificaramos efeitosdoFEnosindicadoresbiomecânicosdedesempenho davirada nonadocrawleforneceramCPe CRem60%da tentativas.Foramencontradasmelhoriasnotestede trans-ferência,quecaracterizoumudanc¸asnocomportamentoem func¸ãodofeedbackusado.Entretanto,nopresenteestudo não foi observada diferenc¸a estatisticamente significativa na aprendizagem em func¸ão dostipos deCPusados,após boasoumástentativasdeprática.
Apesar deestudos anteriores demonstrarem que infor-mar sobre o comportamento motor mais parecido com o padrão correto, ou seja, após as tentativas mais eficien-tes, causa um impacto mais positivo no aprendiz do que informar sobre erros maisgrosseiros (Chiviacowsky; Wulf, 2007;Chiviacowskyetal.,2009;Badamietal.,2011;Badami etal.,2012;Saemietal.,2011)equeosaprendizes prefe-remreceberinformac¸õesdefeedbackprincipalmenteapós astentativasmaiseficientes deprática,quando praticam emarranjosautocontroladosdefornecimentodefeedback
(ChiviacowskyeWulf,2002),taisresultadosnãoforam con-firmadosnopresenteestudo.
Essadiscrepância podeserresultadodeaspectos diver-sosque fazemopresenteestudodiferirdos experimentos anteriores. As tarefas usadas nos estudos anteriores, por exemplo, arremessarimplementos em direc¸ão a um alvo (Chiviacowsky e Wulf, 2007; Chiviacowsky et al., 2009,
Saemietal.,2011),ouoputtingdogolfe(Badami etal.,
2012),podem serconsideradas demenor complexidade e commenoselementos doque a tarefausada nopresente estudo,a qual podeser consideradade grande complexi-dadeecommuitoscomponentesparaacorretaexecuc¸ão. Outro aspecto importante a ressaltar é que, nopresente estudo,foramusadasinformac¸õesemformadeCPque tive-ramcomobaseoscritériosdoTDMNC,oqualécompostopor várioselementos constituintesdatarefa.Tais informac¸ões podemterexigidoumprocessamentodeinformac¸ões bas-tanteelaboradoporpartedos aprendizes,enquanto ouso de informac¸ões de CR dos estudos anteriores frequente-menteenvolveuumprocessamentomenoselaborado,oque indicaoerroemrelac¸ãoaapenasumaspectoespecíficoda tarefa.Aconsequênciapodetersidoamaiordificuldadedos aprendizesdediferenciartentativasboasderuinsno pre-senteestudo,oque diminuiosefeitosque amanipulac¸ão dessavariável poderia causarna aprendizagem da habili-dademotorausada.Se,deacordocomChiviacowskyeWulf (2007),osbenefíciosdofeedbackapós boastentativasde práticapodemsercausadospelofatormotivacional, relaci-onadoàpercepc¸ãodecompetência(Badamietal.,2011),a faltadeclarezaemrelac¸ãoaoquepodeounãoser consi-deradoumaboatentativadepráticapodeterdiluídoesse efeito.
Ainda, o presente experimento foi feito em um con-textoaplicado,emvezdelaboratorial,noqualavalidade ecológicaémaximizada,enquantoavalidadeinternapode tersofrido interferênciasdocontexto.Pode-seconsiderar, assim, que as informac¸ões de CP fornecidas aos aprendi-zesapósboaseapósmástentativasfacilitaramigualmente o alcance da meta noprocesso de aquisic¸ão de habilida-desmotoras,querpelamodificac¸ãooupelamanutenc¸ãodo padrãodemovimentoexecutado(SmethursteCarson,2001; Liebermannet al., 2002; Ayers etal., 2003; Goodman et al.,2004;SchmidteLee,2005).TantooCPapósas tenta-tivasmaiseficientesquantooCPapósastentativasmenos eficientesauxiliaramnodesenvolvimento,porpartedos par-ticipantes,deum mecanismo deavaliac¸ão domovimento (detecc¸ãoecorrec¸ãodeerros).
Conclusão
Osresultadosobtidosnapresentepesquisapermitem con-cluirqueforneceraadultosCPtantoapósboascomoapós más tentativasde prática, com base no TDMNC, durante aulaspráticas de natac¸ão, ocasionasimilar aprendizagem donadocrawl.Acomplexidadedotesteeadificuldadedos aprendizesde discriminarentre boas e mástentativasde práticapodemtercontribuídoparaosresultados encontra-dos.
Financiamento
Coordenac¸ãodeAperfeic¸oamentodePessoaldeNível Supe-rior(Capes),pormeiodeconcessãodebolsadeestudosem níveldemestrado.
Conflitos
de
interesse
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