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Pesquisa participante: uma alternativa na enfermagem.

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L

ARTIGO C I E NT(F I CO

PESQU I SA PART I C I PANTE - U M A A LT E R N AT I VA NA E N F E R M AG E M

Lé l i a Maria Madei ra ·

MADEIRA, . M. Pesquisa par ticipante - uma al tenat iva na enfermagem. R C 1. Bras. Hlf, Urasília, 3 7 (3/4 ) : 1 8 8-1 94, jul ./dez. 1 9 84.

R ESUMO. Através de um trabalho feito com o grupo de enfermei ras de uma u nidade ped iátrica sobre sua atuação na admissão da criança, a autora procura mostrar a efetivi· dade da pesqu isa participante como metodologia alternativa a ser uti l izada na enfer· magem.

ABS:RACT. The author tries to show the effectiveness of participant investigation as an altenative methodology to be used by nursing service. She describes a group of ped iatric nurses, taking into account thei r participation in a chi ld h'spital admission.

I NTRODUÇÃO

As diiculdades enfrentadas pelos pesquisa­ dores são bastante conhecidas no contexto educa­ cional brasileiro. principalmente no que diz respeito à aplicabilidade dos trabalhos. Sabe·se o quanto é difícil e oneroso o desenvolvimento de uma pesquisa para. após conclu ída, normalmente. ser simplesmente engavetada ou se limitar ao meio acadêmico .

Nas pesquisas tradicionais, apesar de um pro­ b lema ser estudado e analisado criteriosamente, isto só é feito unilateralmente pel o pesquisador. Este é geralmente considerado como alguém de status superior, que analisa a qpestão de fora, sem vivenciá·la. Desta forma. não consegue atingir e envolver os pesquisados para aplicar seus acha- ' dos que com t antas di1culdades foram evidcn­ ciados.

Na enfermagem, como nas ou ':ras áreas, são realizadas ótimas pesquisas, com 'important íssimos

resul tados, mas que, raramente, chegam ao conhe­ cimento da população pesquisada. Estes trabalhos têm sido desenvolvidos através do método tradicio· nal, positivista, de pesquisa, que se limita a classifi­ car, relacionar, descrever e constatar situações ou cven tos, sem se preocupar em modiicar tais situa­ ções ; busca-se apenas o conhecimenl o cien t ífico sem a pretensro de atuar sobre o problema estu­ d ad o . Nesta metodologia se recomeJlda um distan­ ciamento entre o pesquisador e os pesquisados para que não haja "interferência" mi pesquisa ; os fatos são estudados de fora e as pessoas pesqui­ sadas são o "objeto" da pesquisa. Neste caso, segundo V A LLE6 , as popul ações são criteriosa­ men te estudadas e dissecadas para, muitas vezes, no final . na apresentação dos resultados, não aproveitarem nenhuma informação, ncm poss ívcl orientaçãO para de terminados aspectos em que estão envolvidos. Eles são simplesmente esque­ cidos, não considerados, como se fossem produtos descartáveis.

1 . Mestranda de Enfermagem 'ediátrica da Escola de Enfermagem da US'. rofessor Assistente de Enfermagem 'ediá­ trica da Escola de Enfermagem da UrMG.

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Entretanto, um novo tipo de pesquisa vem sendo desenvolvido, provenien te da sociologia e antropologia, porém já com u p : icação em outras áreas. B uma metodologia humanista, tendo sua base no materialismo dialético e na qual , conforme B RUSCHJNI & BARROS02, o processo e o pro­ du to da pesquisa são tomados de forma integrada, gerando resultados que são utilizados na transfor­ mação da realidade estudada e cujo objetivo é trabalhar em estreita interaç50 com os sujeitos pesquisados. numa relação mútua de aprendizagem em todas as etapas do processo.

Para B RANDÃ0 1 , o cientista, nas ciências sociais e humanas, é participante do que estuda e deve se envolver no processo de mudança que o grupo est ;í vivendo, estimuando-o a aprofundar a vis50 de sua a��no conj u n t a . Com se u t raballto deve recriar. de d e u t o para fora . formas concre­ tas, possibilitando às pessoas. grupos e classes participarem do direito de pensar, produzir e diri­ gir os usos de se u saber à respeito de si próprios.

Nest a metodologia os pesq uisadlls passam a ser sujeit os da invest igaç�io ; o pesqu isador nUo é mais o dono do saber e da verdade c, para que a pesquisa seja efet iva é imprescind ívcl o envol­ vimento pesquisador/pesquisados. O mé todo se preocupa com a qualidade do fenômeno e n50 com a quantidade em que ocorre , como na linha positivista. Através da aç50-relex50-aç50, está sempre procurando atuar e modiicar a situaç50 estudada.

No artigo do INSTITUTO DE AÇÃO C U L­ TUR,A L llDAC)3 . airma-se que o observador participante. ao invés de se preocupar e OIl1 as explicações dos fat os que acon tecem, tcn tará, através da aç50 e da pesquisa, fazer brotar no grupo ullla comprcensTo do processo de mudança que está experimen tando, capacit ando assim o grupo a redefinir e aprofundar a viSTO de sua ação conjunta . Para MEN DON ÇA4 , isto vai ocorrer at ravés da ação educa tiva. capaz de desenvolver nas pessoas a consciência cr ítica das causas de seus problemas e , ao mesmo tempo, criar uma pronti­ dãq para atuar no sentido da mudança. A parti­ cipaç50 da população é baseada no "diál ogo entre iguais" que pressupõe a crença de que todas as pessoas possuem um potencial para serem pro­ tagonistas de sua própria história ; estTo forte­ mente motivadas para se organizarem e desenvol­ verem ações comunitárias ; possuem um nível de expectativas sobre as possibilidades de mudança social de sua relidade cotidiana e possuem um acúmulo de experiências de vida, valores, crenças

e conhecimentos que constituem um universo cul tural que deve ser respeitado.

Fren te a estas características da pesquisa participante, conhe,cendo a realidade da pesquisa na área da saúde e a própria realidade da assistên­ cia de enfermagem, fomos levados a implementa­ tar um trabalho com o grupo de enfermeiras de uma unidade pediátrica.

Na enfermagem somos testemunhas da gama de problemas e dif1culdades com que lidam os ' profissionais no seu dia-a-dia. No contexto hospi­ talar, principalmen te, vemos . uma discrepância muito grande na atuação dessas pessoas, en tre o que aprenderam e acreditam estar correto e aquilo que realmcnte estão fazendo. Esta incoerência, freqüen tcmente, l eva-as a agirem com um alto n ível de insa t isfaçao e a té mcsmo a se acomoda­ rCJ\l ;h sil uações,

ralando sobre ação educa tiva como um processo de capacitaç50 de indiv íduos e grupos para assu mireJ\l a solução dos problcmas de saú d e . M E N DO N Ç A" diz que este processo inclui também o crcsciment o dos profissionais de saúde, a t ravés da reflexão conjuntl sobre o trabalho que desenvolvem e suas relações com a melhoria das conuições de saúde da popula­ çãO.

Do mesmo modo, PINTOS ressal ta que o t rabalho educa tivo, com base na participaç50, deve levar à superação da formaç50 academi­ cista e exclusivamente tecnicista que o profissio­ nal de saúde Jnédico, enfermeiro e outros) traz da universidade . É-l he necessírio alcançar uma compreensão mais to tal izadora , mais global da realidade, den tro da qual se insere a problcmá tica de saúde .

O trabalho proposto, inicialmente, ao grupo de enfermeiras seria desenvolvido com a finalidade de proporcionar treinamen to à pesquisadora que implementaria algumas etapas da pesquisa para, concomit an t emen te, trabalhar com . ou tra popu­ laçlio, para sua dissertação de mestrado . No en tan­ to, o próprio compromisso e envolvimento criados pela pesquisa participante , entre pesquisador e pesquisados levou o grupo a se interessar e a soli­ citar a cont inuaç50 do trabalho.

Durante todo o p rocesso e, principalmcn te, na etapa final, percebi que coisas muito signiica­ tivas aconteciam com o grupo e comigo ; a meto­ dologia leva todos a reletirem sobre suas ações, sobre as contradições entre seu pensar, sentir e agir e , conseqüentemente , a um crescimento como pessoa e C0l110 profisssionaJ .

R ev. Bras. EIl., Brasília, 3 7 (3/4), jul./dez, 1 9 84 - 1 89

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Assim , surgiu a necessidade de relatar esta experiência :) comunidade de enfermeiros, para que se amplie o conhecimento de um tipo de

pesquisa alternativa a ser u tilizada na enfermagem.

R E LATO DA EXPE R I �NCIA

o trabalho foi implementado com o grupo de enfermeiras da unidade pediátrica de u m hospital­ escola, govenamental , na cidade de São Paulo. O grupo era constituído por sete enfermeiras que prestavam assistência nas 24 horas.

Etapas do trabalho

A pesquisa participante, segundo autores como B RANDÃO ) , V ALLE6 e artigo do INSTI­ TUTO DE AÇÃO CULTURAL ( ID AC)J , é cons­ tituída por quatro e tapas consideradas fundamen­ tais, que s30 :

I n scrç30 do pesquisador 110 grupo ;

Coleta de informações ;

Organização sistemática das informações;

Devol ução do mat erial ao grupo.

Par t i n d o d a n cccssi ditde de aprcndizad o da própria pesquisadora, esta escol heu o tema e a população com quem trabalhar. Optou-se pela pro�lemática da admissão da criança, no que diz respeito às ações dota) enfermeiro(a).

Inserção no gl1lpO

É o momento em que o pesquisador se apro­ xima do grupo escolhido para se tonar conhecido, para obter o consenso do grupo sobre o trabalho e, ainda, para obter algumas impressões pessoais que lhe possibili tem um diagnóstico provisório

sobré a situaç30 enfocad a . O pesquisador vê o grupo segundo sua percepção pessoal e faz o levan­ tamen t o das primeiras hipóteses.

Nes t a e t apa procurei conhecer a unidade. o grupo de enfermeiras e explicar-lhes qua l era meu

objetivo com aquele trabalho. Foi exposto de for­

ma sucin t a o que se pre t ende com a pesquisa par­

ticipante e, como o tema era da escol ha da pesqui­ sadora, foi necessário buscar no grupo, não só o consentimento para a realização do tra b al ho, mas também saber se haveria interesse por parte das enfermeiras em participarem do mesmo.

Foi bastante destacada a necessidade de que o tema fosse também do interesse do grupo, para que pudéssemos chegar à etapa inal da pesquisa e, .

1 90-Rev. Bras. En[. Brasília, 3 7 (3/4) , jul./dez. 1 9 84.

que, a pesquisa só se realizaria se houvesse um eJlvolvimen to por parte delas.

Frente ao assen t imen to do grupo passei três

dias na unidade, nos horários da manhã e da tarde . Foram feitas observações assistemáticas do processo de admissão, considerando comunicação verbal e não-verbal da criança, pais e pessoal da enfermagem. Após as observações, foi feita uma entrevista não estruturada, com pergunt a aberta às pessoas da enfermagem (en fermeira e atendente de enfermagem) envolvidas nas a dmissões observa­ das. Utilizou-se a seguinte pergunta : - O que você acha da admissão da criança ?

Todas as informações foram colhidas com a inalidade de se conhecer a realidade da admissão da criança, feita pela enfermagem, e assim, traçar um peril provisório da problemática. Após a organização e anál ise desses dados veriicou-se que o processo de admissão da criança estava in­ completo e deficiente ; apesar de haver participa­ ção da e n fe rmeira neste momen to. nUo foi perce· bido u m re l aciona men to e fe t ivo en fermeira-crian­ ça-família e sen tiu-se ainda ullla desintegração

neste grupo, quan to ao que pensam , sentem e

fazem. Apesar de consi d e ra rem i m por t a n t e a admissfio da cri a n ç a , agiam de forma ro t i neira, segundo o que lhes era exigido pela instituição. E mais, não se percebeu uma finalidade em suas a tividades desem penhadas; não se detectou resul­ tados ou efeitos produzidos no cliente ou em si mesmas, pelas suas ações .

Coleta de informações

O obje tivo fundament al nesta e t apa é conhe­ cer o que pensa a população, ou seja, descobrir o grau de percepção e consciência das pessoas sobre o problema. O pesquisador passa a perceber como o grupo se vê na situação em destaque.

Q�an to ao tema em questro era necessário conhecer a percepção das enfermeira s sobre a

admissio da criança, para se ter u ma' visão mais ampla do grupo, de sua organização in tema e de

suas relações C OIl1 a totalidade contextual �m que

estào inse ridas.

(4)

Utilizou-se também o sist ema da gravação das entrevist as, após justiticativa ao en trevistado e permissão do mesmo. Este recurso favoreceu a aquisição das verbalizações na sua íntegra e deu maior oportunidade ao entrevistador de estar atento para pontos de interesse e, principa lmen te,

à comunicação não-verbal, tão importante nesta metodol ogia. Perce beu-se , inicialmen te, por parte de algumas pessoas,"' certa timidez ou receio em falar ; no entanto, à medida que percebiam o clima de aceitação. de não-julgamen to, de interesse pelo que colocavam , se tornavam espontâneas, fazendo col ocações até pessoais, esquecendo-se do gra­ vador.

Foram entrevistadas seis enfermeiras, com

um tempo médio de vinte minutos para cada

en trevista.

No período que se passou e n t re a primeira e a segunda fase . houve um maior envolvimen t o da pesquisadora com o grupo, pelo fato d e ter sido feito acompanhamento de alunos de gradua­ ção na unidade . Nest a oportunidade , procurei conhecer melhor a sistemática da cI ín ica dando para sen tir alguns problemas vividos pela enfer­ magem e sendo possível aprofundar um pouco mais nosso relacionamen t o .

Isto roi importante porque , no momento da cole ta de dados, a maioria das enfermeiras já me conhecia, demonstrava éonfiar no trabalho e percebia meu in teresse em ajudá-las no que fosse possível. Assi m , solicitaram a devolução dos dados, pois queriam aprovei tar o que tinha sido feito, para poderem discutir e analisar a questão da admissão da criança. Elas se sentiam motivadas para isto .

Organização dos dados

Inicialmente foi feita a transcrição

,

na ín te­

gra, de todas as entrevistas, atentando sempre para dados importan tes observados pelo entrevistador

duran t e as e n t revis t a s .

Segundo artigo do INSTITUTO DE A ÇÃO CULTU RAL (\DAC)3 , a organização dos dados não sign ifica a composiç30 de um ret rato defini­ tivo do grupo, nem deve ser vis t a como um pro­ duto final do trabalho realizado. Na pesquisa participan te, os dados devem se constituir num material de trabalho, a través do qual se consiga preencher o espaço entre a realidade e sua percep­ ção pelo grupo.

Procurou-se, dentro das entrevistas, destacar

. fodas . as idéias que fossem signiicativas para o

estudo, ou seja. todas aquelas que , dire t a ou indire­ t amen t e , se relacionavam com o tema ou se cons­ t i tuiriam ·em inst rumen t os potenciais para a discus­ são da fase seguin te. Depois foi feito um agrupa­ mento por pergunt a e uma tentativa de categorizar os dados, de forma a favorecer a compreensão do grupo

.

Considerando as caracter ísticas das enfermei­ ras, como p or exemplo seu nível intelectual , resol­ vemos destacar os dados signiicativos, porém

. mantendo as formas de expressão do próprio .

en trevistado .

Durante a organização dos dados, percebemos várias con tradições en tre o que as enfermeiras diziam e o que faziam na verdade . Dada a impor­ t ância de isto ser do conhecimento do grupo, den­ tro do processo de pesquisa participante , incluímos nos d ados a se rem apresentados, as observaçües de admissões feitas na primeira fase do trabalho.

Devolução do material ao grupo

Esta fase se caracteriza pela tentativa de se fazer alguma coisa além da mera constatação dos fa tós. Aqui perce bemos a nítida diferença entre a pesquisa tradicional e a participan te. A pesquisa participante vai além ; não deve sé deter no reco­ nhecimento do que existe : o grupo deve participar dos dados encontrados para, através da conscien-tização, tentar a superação dos problemas. .

O ponto fundamental desta metodol ogia consiste em cap tar as possibilidades naturais de mudança no interior de cada situação e ativar este potencial na direção desta mudança

.

Através de um processo cont ínuo de ação-relexão o

grupo analisa sua prática e procura redeinir suas

ações.

Segundo trabalhos como os de · BRANDÃO · , V ALLE6 e do INSTITUTO DE

AÇÃO

CULTU­ RAL

(

IDAC

)

3 o grupo, nesta etapa, passa a ser sujeito e objeto do processo. É sujeito enquan to disc u te e ana l isa a situação e se tona o objeto da pesquisa enquanto é a própria realid ade exposta para discussão. O papel do pesquisador consiste em orientar o exame que o grupo fai, dos dados . e ativ;í-Io a ir adian te em sua anál ise .

No presente trabal ho, após organ :zação dos dados, procurou-se contac lar com as enfermeiras e marcar a reunião, quando seria feita a devolução dos dados. Este contato foi feito com antecedên­ cia e o matetial preparado previamente em forma

de apostila foi reproduzido, sendo distribuído à todas .

(5)

Na programação da reunião preocupou-se com princípios de dinâmica de grupo e de comunicação não-diretiva, recomendados ncsta met odol ogia para que as pessoas se sintam num clima aberto, de não-julgamento, onde possam se colocar espon­ taneamente e onde todos devem participar da melhor maneira possível .

Foi pedido consentimento para gravação da reunião, com jutificativa de que a, experiência serviria como aprendizado para os coordenadores e o material poderia também ser usado

posterior-mente pelos participantes. . .

Estavam presentes seis enfermeiras, das quais quatro haviam sido en trevistadas na fase de coleta de dados; a reunião foi coordenada pela pesquisa­ dora e por uma colega que se interessara em continuar o trabalho com as enfermeiras; a reu­ nião teve duração de I h 30 min. , sendo encerrada pelo próprio grupo .

Após esclareciment os iniciais era necessário conhece( como o gru po reagia a o m a t erial orere­

cido; saher o que a queles dados que e l a s prúprias foncce ra m , est avam sign i ficando para cada uma. Para ist o foi feita a seguinte pergun t a :

- O que vocês acharam d o material que têm em mios '?

Obtivemos as seguintes .opiniões :

- "Você coloca com as nossas próprias palavras, tanto que eu consegui me localizar..." - ... . . se a gente lê com calma, a gen te vê que tem muito erro que a gente está cometendo e que não deveria cometer."

- ... . . a gente sente ... o que a gen te falou aqui... se a gente age de acordo, se bate alguma coisa ... se faz de acordo com o que cada uma pensa."

- "A medida que a gente ·Iê, ,tcaba icando consciente de muitos· probleminhas ou falhas ... cada uma q u e leu, ou se acha ou observa de ter­ minadas a titudes que , analisando mais friamente, você não tonaria a fazer.-. você pode ver tudo que está se passando."

- " U , rapidinho, e o que fica bem claro são

as tàlhas, aqui icam bem evidentes, basta ler." - "Pelo material . eu estou sentindo o grupo

um pouco ansioso e acho que é pelo contato diário

com as mães."

Pelas respostas listadas podemos verificar o efeito que o contato com as informações provo­ cou em cada elemento do grupo. Após uma simples leitura já conseguiam se identificar com as verbalizações e também reletir sobre sua prá­ tica. A devolução destes dados funcionou como

1 92 -R ev. Bras. EII!. Brasília, 37 (3/4), jUl./dez. 1 9 84.

um espelho, onde o grupo viu reletida a proble­ mática que estava vivenciando .

Com o objetivo d e dinamizar a discussão e de levar o grupo a retletir e redefinir suas ações frente

à admissão da crinça, foi feita a seguinte per­

gunta :

- O que vocês gostariam d e fazer daqui pra frente ?

Nesta fase da reunião, já com o grupo descon­

traído, discutindo acaloradamente , chegando mui­ tas vezes a falar ao mesmo tempo , surgiram não só propostas do que se poderia fazer como também a maioria dos problemas colocados foram ampla­ mente debatidos, com participaçãO espontânea de todas.

A medida que cada uma ia dando sua sugestão sobre o que fazer dali para diante, a questão colo­ cada e ra discu tida e, muitas vezes, era ampliada e daí surgiram vários temas conside rados prioritários pelo grupo para a con t inuação dos trabalhos. Em tono de alguns deles fech ou-se a d iscussão, che­ ga nd o-se a 1 1 1 1 1 consenso. Ou t ros furaJII levan t a­ dos paa post eriormen te sercm estudados.

Temas discu tidos :

a) QueslOes relacionadas à a tuação da enfer­

mcira na admissão da criança ;

- Atuação da enfermeira para diminuir o

stress dn mãe e da criança na admissão;

- Admissões feitas em horário impróprio ; - Dificuldade de trabalho em equipe na

admissão ;

- Como abordar e o que perguntar à mãe no momento da admissão ;

- Conduta básica para coleta de dados na admissão.

b) Atuação da enfermeira junto à mãe acom­ panhante :

-- Mãe acompanhante como fonte de ansie­ dade para a en fcrmeira ;

- Fal ta de amadurecimento, de preparo do profissional , pela instituição ;

Aprendizagem segundo a vivência de cada uma.

c) Atuação da enfermeira em situações de criança em est ado grave cuja mãe está desespe­ rada :

- Despreparo da enfermeira . para lidar com esta situação ;

Diiculdade para lidar com a própria

ansie-dade ;

Tendência a fugir da situação;

(6)

- Fal ta de efetividade nas açOes da enfennei­

ra , neste momen to.

Analisando as verbalizações das enfermeiras veriicamos que, através da reuniro, elas consegui­ ram também, chegar a conclusões sobre o signii­ cado deste trabalho para elas :

- "A partir do momento que se começa a

pensar, já é um passo a mais."

- "A gen te observa que , por ser

hospital-. escola, a pessoa chega , vê aS ,çoisas erradas, critica aí afora, mas com a gen te mesmo ninguém chega e fala .. . Eu gostei muito da L. ter vol tado . . . o pou­ co que a gente começou a fazer com esse negócio de trablho e tudo é um incentivo para nós ... pelo menos parar para pensar mais uma vez a gente

vai. "

"A gen t e precisa de tempo para refletir,

mas icar em reunião também enche . Não sai nada do que a gen te vai levando no dia-a-dia. Então a gente vê que é importante um espaço destes. "

- " N ós eSt amos precisando de a l gu é m que

sen te com a gente numas reuniOes ."

Pelas informações ob tidas na reuniIo, consta­

t ou -se a import üncia da devolução dos dados na pesquisa participante. Es te encontro proporcionou ao grupo, não ' só a oportunidade para entrar em

contato COI! a realidade d a admiss!io da cr

i

ança que estão vivendo, mas também de discutirem, de questionarém pontos da problemática que consideram prioritários no momento . Paralela­ mente , levou o grupo a conhecer os diversos pon­ tos dê vista sobre a questro e a tentar chegar a consensos, considerando a contribuiçãO de cada uma.

Durante a reunião, através das colocações dás enfermeiras, percebeu-se que elas tomaram cons-· ciência das deic1ências da assistência lue estão

prestando à c riança e à mãe em sua hospi talizaçTo

e , o que é mais significat ivo, elas reconheceralll

suas inadequações, procurando formas de mu­

dança . Acredito que , com isto, abriram novas

perspcd ivas de assist ência para o gru po.

Ficou esclarecida a minha fa l i a de disponi­ bilidade para continuar os traballios e decidiu-se que, assim que elas se propusessem a iniciar algu­ ma atividade , procurariam orientação da colega que se ofereceu como recurso.

Como pesquisadora, nesta etapa, acredito ter atingido os objetivos propostos e, também,

ter conseguido levar o grupo a se tonar o sujeito

d a pesquisa, oferecendo- l h es a oportunidade de

analisar e discutir a questTo da sua atuação na admissão da criança.

CONCLUSOES

Nesta experiência pode-se COnstatar que o trabalho levou o grupo a : reletir sobre suas ações, descobrir contradiçOes existentes entre o que dizem e o que fazem, além de motivá-lo a ir adian­ te em busca de mudanças, visando à melhoria da assistência de enfermagem na admissão da criança no hospital .

Verifica-se também, que o grupo est á apenas

no começo e que o trabalho nrô terminou com a reunião para a devoluçãO dos dados. O grupo, nesta fase , tonou mais clara a sua visão <sobre a

admiss!io d a cri ança c , acred i t a-se que , da í para

frell te, ele próprio tomanÍ a s providências neceSSlÍ­

rias para solucionar as del1ciências detec tadas. Como profissional me sen ti al tamente gratii­

cada ao término deste trabalho. Apesar de todas

as ditlculdades ellfren tadas, especialmente. pela

fal ta de experiência em pesquisa, posso airmar

que valeu a pena , poi. como ficou evidenciado,

é poss ível trabalhar com as enfermeiras, levando-as a participar e a se conscientizar dos problemas que vivenciam, buscando soluções alternativas para os mesmos.

Para mim, esta experiência signiicou não só um treinamento, mas muito mais que isto. A apli­ cação da pesquisa participan te ampliou meus conhecimentos e minha capacidade para com­ preender e abordar os problemas ligados à minha profiSSão.

Acredito que esta metodol ogia se apresenta c omo al terna Uva p a r a a en fermagem , uma vez

que leva o grupo a refletir sobre suas ações e a

rede ini-Ias. E isto acon t ece de uma m anei ra agra­

d lÍvc l , gra l i Ika l l t e , tall to pa ra o pesqui;ador como para os pcsquisados c onde, a relaçlio t, e t roca , de "diálogo en tre iguais" vai proporcionar o cresci­

mento de todos.

MADERA, L. M. Participant research - an altcrnative in nursing. Rev. Bras. Et. , Brasília, 37 (3/4 ) : 1 8 8-1 9 4 , J ul./Dec. 8-1 984.

(7)

R E F E R : N C IAS B I B l I O G R A F ICAS

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Referências

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