REVISTA
PAULISTA
DE
PEDIATRIA
www.rpped.com.br
ARTIGO
ORIGINAL
Incidência
de
infecc
¸ões
comunitárias
de
vias
aéreas
inferiores
em
crianc
¸as
Ana
Luisa
Oenning
Martins
a,
Deisy
da
Silva
Fernandes
Nascimento
a,
Ione
Jayce
Ceola
Schneider
be
Fabiana
Schuelter-Trevisol
a,c,∗aUniversidadedoSuldeSantaCatarina(Unisul),Tubarão,SC,Brasil
bUniversidadeFederaldeSantaCatarina(UFSC),Florianópolis,SC,Brasil
cCentrodePesquisasClínicasdoHospitalNossaSenhoradaConceic¸ão,Tubarão,SC,Brasil
Recebidoem18dejunhode2015;aceitoem3desetembrode2015 DisponívelnaInternetem2demarçode2016
PALAVRAS-CHAVE
Pneumonia; Bronquiolite; Crianc¸a; Epidemiologia; Fatoresderisco
Resumo
Objetivo: Estimaraincidênciadeinfecc¸õescomunitáriasdeviasaéreasinferioreseosfatores deriscoassociadosàsuaocorrênciaemlactentesemseuprimeiroanodevida.
Métodos: Estudo prospectivodecoorte comlactentesqueforamacompanhadosduranteos primeiros12mesesdevida.Foramfeitasentrevistascomasmãeseascrianc¸asforam clinica-mentemonitoradasbimestralmenteparainvestigaraocorrênciadadensidadedeincidênciade infecc¸õescomunitáriasdasviasaéreasinferiores.AanálisederegressãodeCoxfoiusadapara estimaroriscorelativobrutoeajustadodasvariáveisassociadascomodesfecho.
Resultados: Amédiadeidadedasmãesfoide26anos,62%tinhammaisde11anosde escolari-dadee23,5estavamemriscodeexclusãosocialemrelac¸ãoàrenda.Adensidadedeincidência depneumoniaebronquiolitefoi,respectivamente,0,51e3,10episódiospor100crianc¸as-mês. Crianc¸ascombaixopesoaonascer(<2.500gramas)foram5,96vezes(IC95%1,75-20,40)mais propensasaterpneumoniadoquecrianc¸ascompesode2.500gramasoumais.
Conclusões: Aincidênciadainfecc¸ãoagudadasviasaéreasinferioresemcrianc¸asfoi seme-lhante àencontradaem outrosestudos. Apenasbaixopeso aonascer foium fator derisco independenteparaaocorrênciadepneumonia.
©2015SociedadedePediatriadeSãoPaulo.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Esteéumartigo OpenAccesssobalicençaCCBY(https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt).
KEYWORDS
Pneumonia; Bronchiolitis; Child;
Incidenceofcommunity-acquiredinfectionsoflowerairwaysamonginfants
Abstract
Objective: Toestimatetheincidenceofcommunity-acquiredinfectionsofthelowerrespiratory tractandtheriskfactorsassociatedwithitsoccurrenceininfants,intheirfirstyearoflife.
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.rppede.2015.10.005
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:fastrevisol@gmail.com(F.Schuelter-Trevisol).
0103-0582/©2015SociedadedePediatriadeSãoPaulo.PublicadoporElsevierEditoraLtda.EsteéumartigoOpenAccesssobalicençaCC
Epidemiology; Riskfactors
Methods: Aprospectivecohortstudyofinfantswhowerefollowedupduringthefirst12months oflife.Interviewswereconductedwiththeirmothers,andchildrenwereclinicallymonitored bimonthlytoinvestigatetheoccurrenceoftheincidencedensityofcommunity-acquired infec-tionsofthelowerrespiratorytract.Coxregressionanalysiswasusedtoestimatethecrudeand adjustedrelativeriskofthevariablesassociatedwiththeoutcome.
Results: Themeanageofthemotherswas26years,62%ofthemhadmorethan11yearsof schooling,and23.5wereatriskofsocialexclusionregardingeconomicincome.Theincidence density ofpneumonia andbronchiolitiswere, respectively, 0.51and 3.10episodes per100 children-months. Childrenwhohadlowbirthweight(<2500g)were 5.96(95%CI1.75---20.40) timesmorelikelytohavepneumoniathaninfantsweighing2500gorover.
Conclusions: Theincidenceofacutelowerrespiratorytractinfectioninchildrenwassimilar tothatfound inotherstudies.Onlylowbirthweightwasanindependentriskfactorforthe occurrenceofpneumonia.
©2015SociedadedePediatriadeSãoPaulo.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisanopen accessarticleundertheCCBYlicense(https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Introduc
¸ão
Asinfecc¸õesrespiratóriasagudas(IRA)sãoumadas princi-paiscausas de morbidadee mortalidade em crianc¸as. Em 2010 asdoenc¸asinfecciosascausaram 58%das mortesem âmbito mundialentreas crianc¸asmenores decinco anos. Pneumonia,diarreia e maláriaforam responsáveisporum terc¸o das mortes nessa faixa etária.1 Na América Latina,
asinfecc¸ões respiratóriasforamresponsáveis por maisde 80.000mortesdecrianc¸asporano,40%dasquaisocorreram noBrasil.2AOrganizac¸ãoMundialdaSaúde(OMS)considera
queabronquioliteeapneumoniasãooscomponentes epide-miológicosmaisimportantesdasIRAnoiníciodainfância.3
Abronquioliteéumainfecc¸ãoagudadaspequenasvias aéreas que afeta principalmente bebês, frequentemente crianc¸asentredoise24meses.Adoenc¸asegueumpadrão sazonal, compicosduranteo invernoemclimas tempera-dos e durante a estac¸ão chuvosa em climas tropicais.4 A
pneumoniaéaprincipalcausademorbidadeemortalidade entrecrianc¸asmenores decincoanos,com 95%dos casos registradosnospaísesemdesenvolvimento.3 Estudos
ante-rioreslistaram osfatoresderisco paraodesenvolvimento de infecc¸ões respiratórias, entre os quais encontram-se fatoressocioeconômicos(renda familiarbaixa,baixo nível de educac¸ão parental e elevado número de pessoas por domicílio), interrupc¸ão precoce da amamentac¸ão, baixo pesoaonascer,desnutric¸ão,tabagismopassivoefrequentar creches.5,6
Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi estimar a incidênciadeinfecc¸õesdotratorespiratórioinferior adqui-ridasnacomunidadeeosfatoresderiscoassociadosàsua ocorrênciaemcrianc¸as deatéumanoem Tubarão,suldo Brasil.
Método
Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-quisa da Universidade do Sul de Santa Catarina (código 12.035.4.01III)em27deabrilde2012.
Esteéumestudodecoorteprospectiva.Omunicípiode Tubarão é o local de residênciade 96.284 habitantes. De acordocomoDepartamentodeTecnologiadaInformac¸ãodo
SistemaÚnicodeSaúde(Datasus),cercade2.000crianc¸as nascememTubarãoanualmente(médiadosúltimos10anos) eacimade80%aoano,emmédia,namaternidadedo Hospi-talNossaSenhoradaConceic¸ão(HNSC).OHNSCécentrode referênciaeéoúnicohospitalquefornececuidados neona-taisintensivosnaregião.Éum‘‘HospitalAmigodaCrianc¸a’’ desde2001.
Estima-se que um terc¸o das crianc¸as tem pelo menos umepisódiode infecc¸ão dotrato respiratório inferior em seuprimeiro ano devida.7 O cálculo amostral considerou
oseguinte:oaleitamento maternoexclusivoé oprincipal fatordeprotec¸ãoparareduzirasinfecc¸õesdotrato respi-ratórioinferior(ITRI);reduc¸ãodasITRIproporcionadapelo aleitamentomaternoexclusivoemcercade65%8;poderde
80%;erroalfade5%;eníveldesignificânciade95%.Foifeita umaadic¸ãode20%paracobrireventuaisperdas relaciona-dasaoseguimentoechegou-seumaamostramínimade106 indivíduos.
Osdadosforamcoletadosentrejunhode2012esetembro 2013demãesderecém-nascidosnoHospitalNossaSenhora daConceic¸ão.Apósaobtenc¸ãodotermodeconsentimento, osparticipantes foramentrevistadosparacoletadedados sobreoatendimentopré-natal,detalhesdopartoe carac-terísticas demográficas e socioeconômicas da família. As mães que concordaram em participar receberam um diá-riodasaúdeparafazeranotac¸õessemanaissobreosdados clínicosdeseusfilhos.Osdiáriosdasaúdeforamcoletados emcada consultamédicae novosdiáriosforamentregues novamenteàsmães.Cuidadosdesaúdeforamfornecidosa todasascrianc¸asincluídasnoestudo,comconsultas médi-casagendadasbimestralmente porumano.Duranteessas visitas,foramcoletadosdadosclínicosdeacompanhamento efoifeitaaconfirmac¸ão dosdadosfornecidospelasmães nosdiáriosdasaúde.Seisconsultasmédicasforam forneci-dasacada crianc¸aao longodeumano.Ascrianc¸as foram examinadaspormédicospediatras eprofessores da Facul-dadedeMedicinaemdoisambulatóriosadministradospela UniversidadedoSuldeSantaCatarina.
Primeiro nível
• Sexo da criança • Renda per capita
• Idade e escolaridade maternas
• Baixo peso ao nascer • Amamentação
• Aglomeração • Frequenta creche • Tabagismo passivo Segundo nível
Terceiro nível
Figura1 Descric¸ãodaanálisehierárquicaparainfecc¸ões agu-dasdotratorespiratório.
bronquioliteforamtaquipneia,tosseechiadocompresenc¸a ouausência de febre e coriza. Osdados foram coletados duranteasconsultaspediátricaserelatadospelasmães.
OOpenSourceEpidemiologicStatisticsforPublicHealth (OpenEpi), versão 2.3.1, foi usado para calcular o tama-nho da amostra. Os dados coletados foram inseridos no programaEpiDataversão3.1(EpiDataAssociation,Odense, Dinamarca)ea análiseestatísticafoifeitacom oProduct andService SolutionsSoftware(SPSS)for Windows,versão 20(IBMSPSSStatistics,Chicago,IL, EUA).Aincidência do desfechofoicalculadacomoataxadedensidadede incidên-cia,expressacomoonúmerodeeventosporpessoa-tempo. AanálisederegressãodeCoxfoiusadaparacalcularorisco relativo bruto e ajustado para as variáveis de desfecho. O nível de significância foi fixado em 5%. A análise multivariadafoiusadaparaajustedefatoresdeconfusão, deacordocomo modelohierárquicopropostoporVictora etal.,9,conformemostradonafig.1.
Resultados
Entre junhode 2012e setembrode 2013,210 entrevistas foramfeitascommãesqueamamentavam.Afig.2mostra umfluxogramaquedemonstraaselec¸ão dosparticipantes doestudo.Aamostracomdadoscompletosconsistiuem187 crianc¸as(89%),dasquais87(46,5%)eramdosexomasculino. Amédiade idadematernafoi 26anos (variac¸ãode14-45 anos).Emrelac¸ãoao nívelsocioeconômico,a renda fami-liarmédiafoideR$1.866,enquantoqueocálculode60% damedianadorendimentopercapita,umparâmetrousado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) paraindicarapobrezarelativa,resultouemR$248,80.No quedizrespeitoàeducac¸ão,62%(IC95%:54,5-69)das nutri-zestinhammaisde11anosdeescolaridadee65,8%(IC95%: 59,1-72,6)dosentrevistadosmoravamcommaisdetrês pes-soasnamesmacasa.Apenas27(14,4%)dascrianc¸asforam exclusivamenteamamentadasatéosseismeses.
Duranteo períododeestudo, houve11casos de pneu-monia(6,5%,0,51episódio por100 crianc¸as-mês)e 71de bronquiolite(42,3%,3,10 episódiospor100crianc¸as-mês). Apenasumbebêtevepneumoniaemduasocasiões,aosoito edezmeses.Emrelac¸ãoàbronquiolite,14crianc¸as apre-sentaramumepisódioderecorrência,quatrotiveramdois episódioseumaapresentouquatroepisódiosde bronquio-litenoprimeiroanodevida.Detodasascrianc¸asqueforam
Excluídos
15 internados na UTI 220 não-residentes no local de estudo
140 declinaram em participar
Avaliação clínica basal: 210
22 perdas no seguimento 1 óbito
Seguimento clínico: 187 children 585 recém-nascidos entre junho e
setembro de 2012
Perdas no seguimento: 3 com 6 meses 6 com 8 meses 4 com 12 meses
Analisadas: 187 crianças (pessoa-tempo)
Figura2 Fluxogramadeparticipantesdoestudo.
diagnosticadas comIRA, apenasumafoi hospitalizadapor pneumonianoprimeiromêsdevida.Atabela1apresenta osdadosreferentesàexposic¸ãoàIRAeaosfatoresderisco perinatais(fig.1).
Com o uso da análise de regressão de Cox, o baixo pesoaonascerfoiassociadocomaocorrênciade pneumo-nia.Ascrianc¸as quenasceramcompesoinferiora2.500g apresentaram5,96vezesmaischancesdedesenvolver pneu-moniadoqueascrianc¸ascompeso normalaonascer.Não foi encontradaassociac¸ão significativaentrepneumoniae amamentac¸ão,ofatodefrequentarcreches,tabagismo pas-sivo e outras variáveisestudadas. Não foramencontradas associac¸ões significativas entrebronquiolitee asvariáveis doestudo.Atabela2apresentaoriscorelativodosajustes dasvariáveiscomousodeummodelohierárquico.
Tabela 1 Fatores de risco perinatais e exposic¸ão a infecc¸õesagudasdotratorespiratório(n=187)
n % IC95%a
Pesoaonascer<2.500g 17 9,1 5,4-13,4
Sexomasculino 87 46,5 39,6-53,5
Tabagismopassivo 53 28,3 21,9-34,8
Frequentarcreche 28 15,0 10,2-20,9
Amamentac¸ãoexclusiva <6meses
89 47,6 40,6-54,5
Tabela2 Riscorelativodevariáveisrelacionadasàpneumoniaebronquioliteajustadodeacordocomomodelohierárquico paraestimaradensidadedeincidência
Fatoresderisco RRajustado(IC95%) p-valor RRajustado(IC95%) p-valor
Pneumonia Bronquiolite
Primeironível
Sexo 0,454 0,332
Masculino 1,58(0,49-5,22) 0,78(0,47-1,29)
Rendapercapitaa 0,452 0,606
<BRL248.80 0,44(0,05-3,68) 1,16(0,65-2,07)
Frequênciaescolar 0,139 0,640
0-11anos 0,20(0,02-1,67) 0,88(0,51-1,51)
Idadematerna 0,913 0,907
<20anos 1,01(0,90-1,12) 1,00(0,96-1,04)
Segundonível
Pesoaonascer 0,006 0,592
<2.500g 5,96(1,75-20,4) 0,78(0,31-1,94)
Amamentac¸ãoexclusiva 0,234 0,859
<6meses 0,45(0,12-1,68) 1,06(0,54-2,07)
Terceironível
Pessoaspordomicílio 0,212 0,448
>3 3,73(0,47-29,4) 0,83(0,51-1,34)
Frequentacreches 0,643 0,143
Sim 1,38(0,35-5,49) 1,52(0,87-2,65)
Tabagismopassivo 0,960 0,779
Sim 0,93(0,56-1,54) 1,08(0,65-1,78)
a Pontodecorte:60%dorendimentomediano.
Nenhum dos fatoresde risco maternos(renda familiar, idade,escolaridadeenúmerodepessoaspordomicílio)foi associadocomasIRAnopresenteestudo.
Apósosajustesderiscorelativodeacordocomomodelo hierárquico,obaixopesoaonascerfoiassociadocoma ocor-rênciadepneumonia. Ascrianc¸asque nasceramcompeso inferiora2.500gapresentaram(IC95%1,75-20,4)5,96vezes maischancesdedesenvolverpneumoniaquando compara-dascomaquelascompesoaonascerde2.500goumais.
Discussão
Nopresenteestudo,houveumaaltaincidênciacumulativa de bronquiolite (42,3%) e pneumonia (6,5%), o que evi-denciaa relevância dessasmorbidades respiratóriasentre as crianc¸as. Esses resultados são consistentes com vários outrosestudosqueconsideramasIRAcomoeventoscomuns duranteaprimeirainfânciaeainfância.Noentanto,estudos publicados mostramvariac¸ão na incidência depneumonia e bronquiolite, provavelmente devido a diferentes crité-rios para definir a incidência dessas ocorrências. Em um estudo feito com 936 crianc¸as, Aldous et al.10 relataram
que32%dosparticipantes tinhampelomenosumepisódio deIRAnoprimeiroanodevida.Flahermanetal.11 fizeram
umestudodecoorteretrospectivoem123.264crianc¸asna Califórniaerelataram que16,7%das crianc¸as desenvolve-rambronquioliteantesdosegundoanodevida.Umestudo recente feito na África do Sul constatou que 87,4% das crianc¸as menoresdecincoanosapresentaram pelomenos umepisódio de bronquioliteou pneumonia em 18 meses.
Dessascrianc¸as, 10,5%apresentaramdoisepisódiosdeIRA e1,7%,trêsepisódios.12 Batesetal.13relataramque49,5%
dascrianc¸as participantesdeseuestudonoNepal tiveram bronquioliteoupneumonia.
Adensidadedeincidênciadebronquiolite(3,1episódios por 100 crianc¸as-mês) e pneumonia (0,51 episódio por 100crianc¸as-mês)nopresenteestudopodesercomparada com os achados de diferentes autores. Em uma recente revisãosistemática,Rudanetal.14encontraramuma
densi-dadedeincidênciamédiadepneumonia(1,83episódiopor 100crianc¸as-mês)emcrianc¸ascommenosdecincoanosem países de baixa e média renda. Em outro estudo feito em crianc¸as menores de cinco anos, uma densidade de incidênciadepneumoniade2,4episódiospor100 crianc¸as--mês foi encontrada em países em desenvolvimento.3
Weber et al.15 relataram que a densidade de incidência
de bronquiolite em Gâmbia foi de 7,3 episódios por 100 crianc¸as-mês entre crianc¸as de 19 a 25 meses. Em um estudodecoortefeitoem crianc¸asdeatétrêsanos,Broor etal.16relataramqueadensidadedeincidênciadeIRAfoi
de4,5episódiospor100crianc¸as-mêsembebêsmenoresde umano,semdiscriminarentrebronquioliteepneumonia.
No estudo atual, o baixo peso ao nascer foi um fator deriscoindependenteparaaocorrênciadepneumonia.As crianc¸asquenasceramcompesoinferiora2.500g apresen-taram5,96 vezesmaischancesdedesenvolverpneumonia doqueaquelascompesode2.500goumais.Prietschetal.2
mortalidadeemváriosestudos.17,18 Emumestudode
caso--controle,Nascimentoetal.19descobriramqueobaixopeso
aonascerdobrouoriscodehospitalizac¸ãoporpneumonia. Omesmoautorexplicaqueascrianc¸ascombaixo pesoao nascertêmarespostaimunológicadiminuídaefunc¸ão pul-monarcomprometidadevidoaomenordiâmetrodasgrandes viasaéreaseàobstruc¸ãomaisfácildasviasaéreas perifé-ricasdoque ascrianc¸as compeso normal ao nascer.20 No
entanto,arelac¸ãocausalentreobaixopesoaonascerea ocorrênciadepneumoniaécomplexa,representaumefeito cumulativodediversasexposic¸õespré-nataisnutricionaise nãonutricionais.21
Vários estudos têm demonstrado que a amamentac¸ão reduzo riscode morbidade ehospitalizac¸ões porIRA.22,23
Emumametanálisefeitaemcrianc¸asdeatédoisanosnos paísesdesenvolvidos, Bachrach etal.7 constataramque a
amamentac¸ãofoiumfatorprotetor:oaleitamentomaterno exclusivopor maisde quatromeses podereduzir em 70% o risco de hospitalizac¸ão por doenc¸as respiratórias. No presenteestudonãofoiobservadaassociac¸ãoentreo alei-tamentomaternoeaocorrênciadeIRA.Emestudosfeitos porNascimentoetal.19eporPavi´cetal.,24aamamentac¸ão
tambémnãomostrouefeitoprotetorcontraessasinfecc¸ões. Umapossívelexplicac¸ãoparaessesresultadosconflitantesé queaamamentac¸ãoreduzagravidadedadoenc¸aeoriscode hospitalizac¸ãoporIRA,masnãoeliminaaocorrênciadessas infecc¸ões.
Apenas15%dascrianc¸asqueparticiparamdesteestudo frequentavamcrecheseelasnãoapresentarammaiorrisco deIRAdoqueaquelasquenãofrequentavam,deacordocom asanálisesfeitas.Emumestudodecaso-controle,Macedo et al.22 não encontraram associac¸ão significativa entre o
fato de frequentar creches e o aumento das internac¸ões porIRA. Essesresultadosestãoemdesacordocoma maio-riadosestudosqueassociamofatodefrequentarcreches comumaumentosignificativodaincidência eprevalência deIRA.25,26 Possivelmente, ascrianc¸as frequentavam
cre-chescomventilac¸ão,higieneecuidadosadequados,oque proporcionou condic¸ões semelhantes àquelas encontradas emcasa.Osresultadostambémpodemtersido influencia-dospelabaixaporcentagemdecrianc¸asquefrequentavam creches.Alémdisso, adurac¸ãodaestadanascrechesnão foiinvestigada,outrofatorquepoderiaexplicarafaltade associac¸ãoentreessasvariáveis.
Em relac¸ão ao tabagismo passivo, 28,3% das crianc¸as neste estudo foram expostas ao fumo passivo por viver comfumantes.Noentanto,essavariávelnãofoiumfator derisco significativo paraIRA, o que contradiz a maioria dos estudos que associam o tabagismo com a ocorrên-ciadebronquiolite.27---29 Welliver etal.,30 noentanto,não
encontraramassociac¸ãoentretabagismopassivoe bronquio-lite aguda, mas com sibilânciarecorrente posterior. Com relac¸ãoàpneumonia, muitosestudostambémnão encon-traramassociac¸ãoentretabagismo passivo e aocorrência dadoenc¸a.19,23,26 Além disso, esseestudo não quantificou
aingestãodetabacodascrianc¸as enãomediua frequên-ciadeexposic¸ãoaotabaco,oquepodeexplicarafaltade associac¸ão.Nenhum dosfatores derisco maternos (renda familiar,idade,escolaridadeenúmerodepessoaspor domi-cílio)foiassociadocomIRAnopresenteestudo.Aelevada porcentagem de mães com mais de 11 anos de escolari-dade (62%) pode ter favorecidoa ausência de associac¸ão
entrebaixaescolaridadeeaocorrênciadedesfechosnessa coorte.
Esteestudotemalgumaslimitac¸õesquedevemser con-sideradas ao se interpretarem os resultados. O período de acompanhamento foi bastante curto para analisar se os resultados tinham significância estatística. A falta de avaliac¸ãodaqualidadeambientaldoarfoioutralimitac¸ão doestudo.Ésabidoqueapoluic¸ãoatmosféricaéum impor-tantefatorderiscoparaodesenvolvimentodeIRA,masas crianc¸asqueparticiparam desteestudoviviamemcidades ondenãohaviaacompanhamentosistemáticodaqualidade doareavaliac¸ãodaexposic¸ão.Tambémdeveser mencio-nadoquehá outramaternidadeprivadanomunicípiopara aqueles que podempagarpor ela outêm plano desaúde privado. Assim,a amostra incluídaneste estudo podeter apresentado uma situac¸ão socioeconômica homogênea, o que podeter influenciadoa ausênciade associac¸ãoentre rendafamiliareocorrênciadedesfechos.
Adensidadedeincidência depneumoniaebronquiolite foi de 0,51 e 3,10 episódios por 100 crianc¸as-mês, res-pectivamente. Não houve correlac¸ão significativa entre a ocorrênciadebronquioliteeasvariáveistestadas.
Combasenosresultadosdesteestudo,pode-seconcluir queascrianc¸asque nasceramcompeso inferiora2.500g têm maiorrisco de pneumonia doque crianc¸as com peso normal ao nascer, o queevidencia anecessidade demais estudosparaidentificarfatoresrelacionadosaobaixopeso ao nascere mecanismosdeprevenc¸ãopara evitara ocor-rênciadadoenc¸a.
Financiamento
Oestudonãorecebeufinanciamento.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.World Health Organization [homepage on the Internet]. Causesof childmortality for theyear 2010. Available from: http://www.who.int/gho/childhealth/mortality/causes/en/ index.html[accessed07.11.12].
2.PrietschSO,FischerGB,CésarJA,LempekBS,BarbosaLV,Zogbi L,etal.Acutelowerrespiratoryillnessinunder-fivechildren inRioGrande,RioGrandedoSulstate,Brazil:prevalenceand riskfactors.CadSaudePublica.2008;24:1429---38.
3.RudanI,Boschi-PintoC,BiloglavZ,MulhollandK,CampbellH. Epidemiologyandetiologyofchildhoodpneumonia.BullWorld HealthOrgan.2008;86:408---15.
4.AmericanAcademyofPediatrics,SubcommitteeonDiagnosis, Management of Bronchiolitis. Diagnosis and management of bronchiolitis.Pediatrics.2006;118:1774---93.
5.Lopes CR, Berezin EN. Fatores de risco e protec¸ão à infecc¸ãorespiratóriaagudaemlactentes.RevSaudePublica. 2009;43:1030---4.
7.BachrachVR,SchwarzE,BachrachLR.Breastfeedingandthe riskofhospitalizationforrespiratorydiseaseininfancy:a meta--analysis.ArchPediatrAdolescMed.2003;157:237---43.
8.DuijtsL,JaddoeVW,HofmanA,MollHA.Prolongedand exclu-sivebreastfeeding reducesthe risk ofinfectious diseases in infancy.Pediatrics.2010;126:18---25.
9.VictoraCG,HuttlySR,FuchsSC,OlintoMTA.Theroleof con-ceptualframeworksinepidemiologicalanalysis:ahierarchical approach.IntJEpidemiol.1997;26:224---7.
10.AldousMB,HolbergCJ,WrightAL,MartinezFD,TaussigLM. Eva-porativecoolingandotherhomefactorsandlowerrespiratory tractillnessduringthefirstyearoflife.GroupHealthMedical Associates.AmJEpidemiol.1996;143:423---30.
11.FlahermanVJ,RaginsAI,LiSX,KipnisP,MasaquelA,EscobarGJ. Frequency,durationandpredictorsofbronchiolitisepisodesof careamonginfants≥32weeksgestationinalargeintegrated healthcaresystem: aretrospective cohortstudy.BMCHealth ServRes.2012;12:144.
12.Sinha A,Kim S,Ginsberg G, FranklinH, Kohberger H, Strut-tonD,etal.Economicburdenofacutelowerrespiratorytract infectioninSouthAfricanchildren.PaediatrIntChildHealth. 2012;32:65---73.
13.BatesMN,ChandyoRK,Valentiner-BranthP,PokhrelAK, Mathi-senM, BasnetS, et al. Acute lower respiratoryinfection in childhoodandhouseholdfueluseinBhaktapur,Nepal.Environ HealthPerspect.2013;121:637---42.
14.RudanI,O’BrianKL,NairH,LiuL,TheodoratouE,QaziS,etal. Epidemiologyandetiologyofchildhoodpneumoniain2010: esti-matesofincidence,severemorbidity,mortality,underlyingrisk factors and causative pathogens for 192 countries. JGlobal Health.2013;3:010401.
15.WeberMW,MilliganP,GiadomB,PateMA,KwaraA,SadiqAD, etal.Respiratoryillnessaftersevererespiratorysyncytialvirus diseaseininfancyinTheGambia.JPediatr.1999;135:683---8.
16.BroorS,ParveenS,BharajB,PrasadVS,SrinivasuluKN,Sumanth KM,etal.Aprospectivethree-yearcohortstudyofthe epide-miologyandvirologyofacuterespiratoryinfectionsofchildren inruralIndia.PLoSOne.2007;2:e491.
17.ColesCL,FraserD,Givon-LaviN,GreenbergD,GorodischerR, Bar-ZivJ,etal.Nutritionalstatusanddiarrhealillnessas inde-pendentriskfactorsforalveolarpneumonia.AmJEpidemiol. 2005;162:999---1007.
18.SuwanjuthaS,RuangkanchanasetrS,ChantarojanasiniT, Hotra-kityaS.Riskfactorsassociatedwithmorbidityandmortalityof pneumoniainThaichildrenunder5years.SoutheastAsianJ TropMedPublicHealth.1994;25:60---6.
19.NascimentoLF,MarcitelliR,AgostinhoFS,GimenesCS.Análise hierarquizadadosfatoresderiscoparapneumoniaemcrianc¸as. JBrasPneumol.2004;30:445---51.
20.Wilcox AJ.Onthe importance--- and theunimportance ---of birthweight.IntJEpidemiol.2001;30:1233---41.
21.Roth DE, Caulfield LE, Ezzati M,Black RE.Acute lower res-piratory infections in childhood: opportunities for reducing theglobalburdenthroughnutritionalinterventions.BullWorld HealthOrgan.2008;86:356---64.
22.MacedoSE,MenezesAM,AlbernazE,PostP,KnorstM.Risk fac-tors for acute respiratorydisease hospitalization inchildren underoneyearofage.RevSaudePublica.2007;41:351---8.
23.VictoraCG,FuchsSC,FloresJA,FonsecaW,KirkwoodBR.Risk factorsforpneumoniaamongchildreninaBrazilian metropoli-tanarea.Pediatrics.1994;93:977---85.
24.Pavi´cI,Jurkovi´cM,PastarZ.Riskfactorsforacuterespiratory tractinfectionsinchildren.CollAntropol.2012;36:539---42.
25.FonsecaW,KirkwoodBR,BarrosAJD,MisagoC,CorreiaL, Flo-resJAM.Attendanceatdaycarecentersincreasestheriskof childhoodpneumoniaamongtheurbanpoorinFortaleza,Brazil. CadSaudePublica.1996;12:133---40.
26.FuchsSC,MaynartRC,CostaLF,CardozoA,SchierholtR.Tempo depermanêncianacrècheeinfecc¸ãorespiratóriaaguda.Cad SaudePublica.1996;12:291---6.
27.VonLinstowM-L,HolstK,LarsenK,KochA,AndersenPK,Høgh B.Acuterespiratorysymptomsand generalillnessduringthe firstyearoflife:apopulation-basedbirthcohortstudy.Pediatr Pulmonol.2008;43:584---93.
28.SempleMG,Taylor-RobinsonDC,LaneS,SmythRL.Household tobaccosmokeandadmissionweightpredictsevere bronchio-litisininfantsindependentofdeprivation:prospectivecohort study.PLoSOne.2011;6:e22425.
29.Simões EA, Maternal smoking. asthma, and bronchioli-tis: clear-cut association or equivocal evidence? Pediatrics. 2007;119:1210---2.