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www.eerp.usp.br/rlae
Endereço para correspondência: Dagmar Willamowius Vituri
Universidade Estadual de Londrina. Hospital Universitário Gerência de Riscos
Av. Robert Koch, 60 Vila Operária
CEP: 86038-350, Londrina, PR, Brasil E-mail: dagmar@uel.br
Dagmar Willamowius Vituri
2Yolanda Dora Martinez Évora
3Objetivo: testar a concordância e confiabilidade interavaliadores de quinze indicadores de qualidade
da assistência de enfermagem. Método: pesquisa quantitativa, metodológica, experimental e
aplicada, realizada em um hospital terciário, de grande porte, de ensino público do Estado do
Paraná. No tratamento dos dados foi utilizada a estatística Kappa para análise das variáveis
categóricas – indicadores de 1 a 11 e 15; e o coeficiente de correlação interclasses para as variáveis
contínuas – indicadores 12, 13 e 14, considerando-se o intervalo de confiança de 95%. Os dados
categóricos foram tratados utilizando-se o software Lee, do Laboratório de Epidemiologia e Estatística
do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – Brasil e os dados contínuos pelo software BioEstat
5.0. Resultados: os resultados pela aplicação da estatística Kappa demonstraram excelente grau
de concordância, estatisticamente significante; os valores obtidos para o coeficiente de correlação
interclasses denotaram reprodutibilidade/concordância excelente e estatisticamente significante
para os indicadores avaliados. Conclusão: os indicadores apresentam excelente confiabilidade e
reprodutibilidade, o que evidencia que o desenvolvimento de instrumentos de avaliação válidos e
fidedignos é possível, além de imprescindível para gerenciamento da assistência de enfermagem.
Descritores: Enfermagem; Auditoria de Enfermagem; Indicadores de Qualidade em Assistência à
Saúde; Estudos de Validação como Assunto; Reprodutibilidade dos Testes.
1 Artigo extraído da tese de doutorado “Avaliação como princípio da Gestão da Qualidade Total: testando a confiabilidade interavaliadores de indicadores de qualidade da assistência de enfermagem” apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil.
2 Doutoranda, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil. Enfermeira, Hospital Universitário, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. 3 PhD, Professor Titular, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento
da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil.
Fidedignidade de indicadores de qualidade do cuidado de enfermagem:
Introdução
A preocupação com a qualidade dos produtos e
serviços tem sido objeto de apreensão nos diversos tipos
de organização, principalmente no setor saúde, pois, além
da inluência direta desses serviços sobre a economia,
seus clientes estão cada vez mais exigentes quanto ao
atendimento de suas necessidades com qualidade(1).
Um grande aliado das organizações de saúde na
busca pela qualidade das ações é o enfermeiro e, nesse
sentido, existe expectativa dos gestores quanto ao papel
desse proissional no gerenciamento do cuidado nas
instituições hospitalares, pois, uma das características
da prática do cuidar em enfermagem é o contato direto
com o cliente, que possibilita conhecer suas necessidades
e expectativas(1), além do fato de a proissão ter papel
fundamental no resultado da atenção.
Gerenciar implica conhecer o desempenho da
instituição em função de seu objetivo e em relação às
suas metas(2) e isso requer a implementação de sistemas
de avaliação e indicadores adequados, que permitam a
(re)formulação de diretrizes(3). Contudo, a quantiicação
da qualidade da atenção em saúde tem sido um grande
desaio, que se inicia com a decisão do que medir e,
depois, encontrar medidas estatísticas de qualidade(4).
Indicador é uma unidade de medida de uma atividade,
que pode ser utilizado para mensurar qualidade e
quantidade em organizações de saúde, avaliando aspectos
de estrutura, processos e resultados(5-6). A possibilidade de
desenvolvê-los é ilimitada; porém, a diiculdade está em
encontrar um indicador de alta validade para o domínio em
estudo(7), ou seja, para o aspecto do cuidado a ser medido.
O uso de medidas válidas e idedignas propicia
monitorar a qualidade do cuidado dispensado aos
pacientes, identiicar situações de riscos evitáveis, bem
como subsidiar o planejamento de ações corretivas, além
de direcionar estratégias e reajuste de metas por meio de
ações educativas e de valorização proissional. Ressalta-se que o uso de instrumentos válidos e idedignos pode contribuir para o avanço do conhecimento da proissão e
para o desenvolvimento da teoria que a sustenta(8).
Fidedignidade implica coniabilidade e concordância,
que são aspectos importantes no desenvolvimento de
instrumentos de medida. Seus resultados fornecem
informações sobre a quantidade de erro inerente a essa, o
que relete a qualidade da medição(9).
Concordância é o grau em que os escores ou
classiicações são idênticos(9) e coniabilidade o grau em
que o resultado medido relete o resultado verdadeiro,
ou seja, o quanto uma medida está livre da variância
dos erros aleatórios(10). Pode ainda ser deinida como a
proporção da variância nos escores de medição, que se
devem às diferenças no escore verdade, não ao erro
aleatório(11-12). Sendo assim, a coniabilidade estima a
consistência e estabilidade da medida e aumenta à medida
que o componente de erro diminui(11).
Considerando-se a preocupação histórica da
enfermagem com a busca pela qualidade da atenção,
assinalada desde as ações de cuidado de Florence
Nightingale, bem como pela crise de credibilidade
atualmente associada aos serviços de saúde brasileiros
e pelo potencial do proissional enfermeiro em contribuir
para a mudança dessa realidade, por meio da mensuração
da qualidade do cuidado prestado, ica evidente a
necessidade de que as medidas da qualidade da assistência
sejam coniáveis.
O desenvolvimento de instrumentos avaliativos é
complexo e objeto de estudo de várias disciplinas. No
contexto da prática da enfermagem, observam-se muitas
críticas quanto ao seu uso em função de se pretender
mensurar construtos e conceitos considerados abstratos
e subjetivos.
Acredita-se, contudo, que essas críticas se devam
à falta de conhecimento sobre o processo envolvido na
concepção e validação de medidas avaliativas, o que
resulta em desmotivação para o seu desenvolvimento
e, consequentemente, impede o avanço da ciência
na área.
Diante desse cenário e dando continuidade ao estudo
que se iniciou com a validação de conteúdo de indicadores
de qualidade da assistência de enfermagem(13), tem-se,
como questão de pesquisa: o instrumento constituído
por indicadores de qualidade de cuidados básicos de
enfermagem atende ao requisito de coniabilidade
para avaliação da qualidade da assistência dispensada
a pacientes adultos, internados em unidade
médico-cirúrgica de um hospital público de ensino do norte do
Estado do Paraná?
A presente pesquisa tem como objetivo testar a
concordância e coniabilidade interavaliadores de quinze
indicadores de qualidade da assistência de enfermagem.
Metodologia
Trata-se de pesquisa quantitativa, metodológica,
experimental e aplicada, realizada em três fases
(validação de face, teste-piloto e teste de coniabilidade),
desenvolvida em um hospital terciário de grande porte,
de ensino público do Estado do Paraná, Brasil.
Ressalta-se que, no preRessalta-sente estudo, o foco da apreRessalta-sentação dos
resultados e discussão é o teste de coniabilidade da
O estudo iniciou-se com a validação de face de um
instrumento composto por quinze indicadores de qualidade,
considerando o percentual mínimo de concordância(14) de
80%, com base no instrumento proposto por Vituri(13),
validado pela estratégia de validação de conteúdo por
experts e reformulado com base nas necessidades sentidas
por meio de sua aplicação rotineira na prática diária.
Para o procedimento de validação de face
selecionou-se uma amostra intencional de juízes, estagiários do
serviço de avaliação da qualidade da assistência de
enfermagem do hospital em estudo. Esse serviço funciona
como campo de estágio curricular não obrigatório para
alunos do terceiro e quarto anos do curso de graduação
em enfermagem, que desenvolvem atividades de auditoria
operacional e retrospectiva, avaliando a qualidade da
assistência de enfermagem, por meio da aplicação
sistemática do instrumento de Vituri(13).
O teste-piloto do instrumento de medida foi realizado
por uma amostra intencional de três juízes, sendo dois
enfermeiros da instituição (um assistencial e outro
gerente em nível de direção) mais a pesquisadora. Esse
número foi deinido por meio dos estudos de Crocker,
Llabre e Miller(15), pois, quanto maior o número de juízes
maior a heterogeneidade e, consequentemente, menor a
coniabilidade e concordância(16).
A compreensão dos indicadores, metodologia de
avaliação e aplicabilidade do instrumento foi testada por
meio da avaliação de uma amostra aleatória de quinze
pacientes adultos, internados em unidade de clínica
médica e cirúrgica.
Para determinação da idedignidade, dentre as três
categorias de estimação de concordância (estimativa
de consenso, estimativa de consistência e estimativa de
avaliação/medição), utilizou-se a estimativa de consenso,
que tem como base a suposição de que deva existir
perfeita concordância entre os juízes no uso de escalas
de pontuação para comportamentos observáveis, o que
caracteriza a mesma compreensão do construto(17).
O método utilizado foi o de equivalência, que é usado
para avaliação da coniabilidade mediante a aplicação
do mesmo instrumento por observadores diferentes,
para medir os mesmos fenômenos (coniabilidade
interavaliadores ou precisão do avaliador)(11).
Esse tipo de teste é indicado, principalmente, para
instrumentos clínicos, em que se depende do julgamento
do avaliador. Sendo assim, é fundamental estimar a
precisão pela correlação dos resultados obtidos de cada
sujeito, pois é evidente a variância existente entre os
avaliadores(11).
A concordância e a idedignidade dos indicadores
foram testadas pelos mesmos juízes que participaram
do teste-piloto, pois já estavam capacitados para o uso
do instrumento, que foi aplicado de forma concomitante
e independente a uma amostra de 33 pacientes,
considerando-se os quinze pacientes já avaliados
anteriormente no teste-piloto.
Para a avaliação dos indicadores de 1 a 11 e 15,
o juiz leu o descritor que deine o padrão de qualidade
e assinalou, no instrumento de avaliação, se o aspecto
do cuidado observado estava adequado ou inadequado
em relação ao padrão. Para os indicadores 12, 13 e 14,
com base na explicitação do padrão de qualidade, cada
juiz registrou a quantidade de checagens e registros de
sinais vitais realizados de forma adequada e a quantidade
inadequada.
Quanto ao tratamento dos dados, foi utilizada
a estatística Kappa (k) para análise das variáveis
categóricas – indicadores de 1 a 11 e 15 e o Coeiciente
de Correlação Interclasses (CCI) para as variáveis
contínuas – indicadores 12, 13 e 14, considerando-se o
Intervalo de Coniança (IC) de 95%(12,18).
O coeiciente de Kappa é uma medida de associação,
que mede o grau de concordância para além do que
seria esperado pelo acaso, com pesos iguais para
as discordâncias(17); o Fleiss Kappa é uma extensão
da estatística Kappa para avaliar a concordância
entre mais de dois avaliadores, sem aplicação
de ponderação(19).
O Coeiciente de Correlação Interclasses ou coeiciente de Reprodutibilidade (R) é uma estimativa
da fração da variabilidade total de medidas, devido a
variações entre os indivíduos(20-21).
Apesar de não fornecer informações detalhadas sobre
a estrutura da concordância e discordância(22) a estatística
Kappa é melhor do que os percentuais simples de
concordância(17). Autores airmam que, para a estimação
da coniabilidade interobservadores, a estatística Kappa e o Coeiciente de Correlação Interclasses são os métodos
mais apropriados(9).
Paralelamente à estatística Kappa e CCI, também
foram calculados os percentuais simples de concordância
para se ter uma ideia detalhada da coniabilidade e
concordância(9).
Os valores de Kappa foram interpretados da
seguinte forma: menor que 0 como indicativo de no
agreement; entre 0 e 0,19 poor agreement; 0,20 a
0,39 fair agreement; 0,40 a 0,59 moderate agreement;
0,60 a 0,79 substantial agreement e 0,80 a 1,00 almost
perfect agreement(23). Para o CCI foram utilizados os
valores de 0,4 a 0,59 razoável reprodutibilidade; 0,6 a
0,74 boa reprodutibilidade e acima de 0,74 excelente
Os dados categóricos (estatística k) foram
tratados utilizando-se o software Lee, do Laboratório de
Epidemiologia e Estatística do Instituto Dante Pazzanese
de Cardiologia – Brasil e os dados contínuos (CCI) pelo
software BioEstat 5.0. O p-value de <0,05 foi considerado
estatisticamente signiicante.
O estudo foi conduzido em concordância com
todos os preceitos éticos, tendo sido aprovado pela
direção da instituição e pelo Comitê de Ética em
Pesquisas Envolvendo Seres Humanos da Universidade,
sob Parecer n° 126/10, CAAEE
n°0113.0.268.000-10. Todos os sujeitos de pesquisa, juízes e pacientes,
assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE).
Resultados
Os resultados do procedimento de validação de
face apontaram para a validade aparente de todos os
indicadores. Quanto ao teste-piloto, o parecer dos juízes
foi favorável no que tange à adequação do instrumento
relacionada aos quesitos compreensão e aplicabilidade.
Considerando-se que não houve dúvidas nem sugestões, o
instrumento foi considerado apropriado para continuidade
do teste de coniabilidade interavaliadores.
A Tabela 1, a seguir, apresenta os resultados da
aplicação da estatística Kappa para os indicadores de 1 a
11 e 15, além do percentual de concordância simples para
todo o conjunto dos indicadores.
Tabela 1 - Determinação da concordância interavaliadores pela aplicação da estatística Kappa aos indicadores de 1 a 11
e 15. Londrina, PR, Brasil, 2013
*Indicadores 1 – 11; 15
1. Identiicação do leito do paciente. 2. Identiicação de risco para queda do leito. 3. Identiicação de acessos venosos periféricos. 4. Veriicação de lesões cutâneas pós-iniltrativas.
5. a – Identiicação de equipes para infusão venosa (soro de manutenção). b – Identiicação de equipes para infusão venosa (soro para diluição de medicação). c – Identiicação de equipes para infusão venosa (soro – droga 1).
6. a – Identiicação de frascos de infusão venosa – rótulo (soro de manutenção). b – Identiicação de frascos de infusão venosa – rótulo (soro para diluição de medicação). c – Identiicação de frascos de infusão venosa – rótulo (soro – droga 1).
7. Identiicação do controle de velocidade de infusão – escala graduada. 8. Identiicação de sondas gástricas – oro e nasogátricas para drenagem.
9. Fixação da sonda vesical de demora.
10. Posicionamento da bolsa coletora de diurese, da sonda vesical de demora.
11. Posicionamento do prolongamento distal de drenagem da bolsa coletora de diurese – spigot. 15. Elaboração da prescrição diária e completa pelo enfermeiro.
†Número de pacientes em que se aplica a avaliação do indicador.
Indicador* N† % concordância Fleiss k 95% CI p-valor Concordância
01 33 100 1,000 0,803-1,000 <0,001 Excelente
02 25 100 1,000 0,835-1,000 <0,001 Excelente
03 22 100 1,000 0,852-1,000 <0,001 Excelente
04 25 97 0,970 0,830-1,000 <0,001 Excelente
05a 10 97 0,956 0,795-1,000 <0,001 Excelente
05b 23 94 0,969 0,829-1,000 <0,001 Excelente
05c 04 100 1,000 0,847-1,000 <0,001 Excelente
06a 10 100 1,000 0,845-1,000 <0,001 Excelente
06b 23 97 0,969 0,829-1,000 <0,001 Excelente
06c 02 100 1,000 0,846-1,000 <0,001 Excelente
07 09 100 1,000 0,837-1,000 <0,001 Excelente
08 03 100 1,000 0,803-1,000 <0,001 Excelente
09 05 100 1,000 0,846-1,000 <0,001 Excelente
10 05 100 1,000 0,803-1,000 <0,001 Excelente
11 05 100 1,000 0,846-1,000 <0,001 Excelente
15 27 100 1,000 0,855-1,000 <0,001 Excelente
Os valores da Tabela 1 demonstram um
percentual de concordância simples superior a 80%,
considerado adequado para todos os indicadores
avaliados(14).
A estatística Kappa variou entre 0,956 a 1,000, ou
seja, os indicadores de 1 a 11 e 15 demonstram excelente
grau de concordância, estatisticamente signiicante –
p-valor <0,001(23).
Os indicadores que não obtiveram concordância
total pela aplicação do Fleiss k foram: indicador 4 –
veriicação de lesões cutâneas pós-iniltrativas (k=0,970,
Tabela 2 - Determinação da concordância interavaliadores pela aplicação do Coeiciente de Correlação Interclasses aos
indicadores de 12, 13 e 14. Londrina, PR, 2013
*Indicadores 12 – 14
12. a – Checagem dos procedimentos na prescrição de enfermagem (adequado). b – Checagem dos procedimentos na prescrição de enfermagem (inadequado).
13. a – Registro de veriicação dos sinais vitais prescritos (adequado). b – Registro de veriicação dos sinais vitais prescritos (inadequado).
14. a – Checagem dos procedimentos de enfermagem na prescrição médica (adequado). b – Checagem dos procedimentos de enfermagem na prescrição médica (inadequado).
†Sinônimo de coniabilidade.
infusão venosa (soro de manutenção) (k=0,956, IC 95%:
0,795- 1,000); 5b – identiicação de equipes para infusão
venosa (soro para diluição de medicação) (k=0,969, IC
95%: 0,829-1,000) e 6b – identiicação de frascos de
infusão venosa – rótulo (k=0,969, IC 95%: 0,829-1,000).
Indicador* N % concordância CCI 95% CI p-valor Reprodutibilidade†
12 - a 559 99,7 0,992 0,983-0,996 <0,001 Excelente
12 - b 81 98,1 0,980 0,959-0,990 <0,001 Excelente
13 - a 56 98,2 0,957 0,914-0,979 <0,001 Excelente
13 - b 44 97,8 0,951 0,903-0,976 <0,001 Excelente
14 - a 354 99,6 0,969 0,938-0,985 <0,001 Excelente
14 - b 64 97,5 0,859 0,732-0,929 <0,001 Excelente
Os resultados da aplicação do Coeiciente de
Correlação Interclasses para os indicadores 12, 13
e 14 e o percentual de concordância simples, para
o conjunto dos indicadores, estão apresentados na
Tabela 2.
Para aos indicadores 12, 13 e 14 (Tabela 2), o percentual
de concordância simples variou entre 89,4 e 92,5%, que
caracteriza concordância adequada(14). Os valores de CCI
variaram entre 0,859 e 0,992 e os indicadores avaliados
obtiveram reprodutibilidade/concordância excelente e
estatisticamente signiicante – p-valor <0,001(24).
O menor Coeiciente de Correlação Interclasses –
o CCI obtido foi de 0,859 (IC 95%: 0,732-0,929) para
o indicador 14b – checagem dos procedimentos de
enfermagem na prescrição médica (adequado); o maior
valor de CCI foi de 0,992 (IC 95%: 0,983-0,996) para
o indicador 12 a – checagem dos procedimentos na
prescrição de enfermagem (adequado), caracterizando
reprodutibilidade/concordância excelente para os
indicadores avaliados.
Discussão
A coniabilidade interavaliadores, testada pela
estatística Kappa, encontrou valores que caracterizam
concordância excelente entre os juízes, no que se refere
ao construto, aos descritores e aos critérios de avaliação
dos indicadores testados.
Cabe ressaltar que o que está sendo medido não é
a validade dos resultados, mas, sim, o grau de erro na
medida, que se deve às diferenças no escore verdade(8,10-11).
Sendo assim, é possível airmar que os indicadores 4,
5-a, 5-b, 6-b, 12-a, 12-b, 13-a, 13-b, 14-a e 14-b, que
não obtiveram resultados de Fleiss k e CCI de 1,000, não
são100% precisos. Porém, ressalta-se que, por melhor
que seja um instrumento de medida, os escores obtidos
nunca estarão livres de erros(11).
Os erros que afetam as medidas são classiicados
em dois subgrupos: os erros aleatórios, que derivam
de fatores que afetam a medição da variável de forma
acidental em toda a amostra, adicionando variabilidade
aos dados, mas não afetando o desempenho médio para
o grupo, e os erros sistemáticos, que são causados por
qualquer fator que sistematicamente afete a medição da
variável em toda a amostra e que tendem a ter um efeito
consistentemente positivo ou negativo, sendo, por vezes,
em razão disso, considerados como viés de medição(11).
Acredita-se que os fatores que possivelmente tenham
afetado a precisão da medida, contribuindo para os
erros de medição, sejam fatores pessoais transitórios(25),
como pressa e fadiga, pois um dos juízes encontrava-se
participando do estudo após a jornada diária de trabalho.
Além disso, existiu a referência por parte dos dois juízes de
diiculdades quanto à legibilidade das escritas referentes
às checagens nas prescrições médicas e de enfermagem,
o que gerou dúvidas em relação ao atendimento total ao
padrão de qualidade adotado.
Os valores obtidos para o k e CCI desses indicadores
reproduzem o quanto os resultados da aplicação da
medida reletem o resultado verdadeiro(10). Mesmo não tendo alcançado um Fleiss k de 1,000, ainda
assim os indicadores 4, 5-a, 5-b, 6-b evidenciaram
um grau de concordância classiicado como excelente
– almost perfect agreement – k 0,80 a 1,000(23). Os
evidenciaram concordância excelente, com valores de CCI
acima de 0,74(24).
Os resultados encontrados sugerem a idedignidade
interavaliadores dos indicadores e instrumento de medida,
indicando sua precisão e a possibilidade de utilização para
avaliação da qualidade da assistência de enfermagem.
Cabe ressaltar que coniabilidade e concordância não são propriedades ixas dos instrumentos de medida,
mas sim, o produto da interação entre o instrumento/
ferramenta, os sujeitos/objetos e o contexto da
avaliação(9).
Para que essa propriedade não seja afetada em
contextos diversos, é importante estabelecer o controle
sobre as variáveis que interferem no processo de medição.
Para tanto, os avaliadores devem ser capacitados quanto
ao construto, descritores, índice de conformidade ideal,
critérios de avaliação, assim como a padronização do
procedimento avaliativo.
Conclusão
Com base no estudo, conclui-se que os quinze
indicadores de qualidade da assistência de enfermagem
estudados, já validados anteriormente pela estratégia
de validação de conteúdo, apresentam excelente
coniabilidade e reprodutibilidade entre os itens.
A concordância e coniabilidade dos indicadores, estimadas pela estatística Kappa e Coeiciente de
Correlação Interclasse demonstraram a relevância
desse instrumento para a prática clínica da avaliação da
qualidade da assistência de enfermagem.
A conirmação de sua idedignidade comprova a
contribuição do estudo para acrescentar evidências
de que o desenvolvimento de instrumentos válidos e
idedignos para a avaliação da qualidade da assistência
de enfermagem é possível e imprescindível para
gerenciamento efetivo e eicaz da assistência, pois possibilita a identiicação de riscos evitáveis, subsidia o
planejamento de ações corretivas e direciona estratégias
para o reajuste de metas.
Diante da evidência de idedignidade dos quinze
indicadores, acredita-se que sua utilização em outras
instituições de saúde possa aprimorar consideravelmente a
gestão de enfermagem e, consequentemente, a qualidade
da assistência e a segurança dos pacientes.
Métodos de desenvolvimento e validação de sistemas
de avaliação são extremamente discutidos e empregados
em ciências sociais e comportamentais e sua aplicação,
neste estudo, demonstra que seus princípios podem ser
adaptados para a criação de instrumentos de avaliação
das práticas de enfermagem.
As potenciais limitações do estudo incluem a técnica
de amostragem intencional e o tamanho da amostra de
juízes. O que determinou a opção por essa técnica foi a
inviabilidade em conduzir o estudo caso fossem sorteados
enfermeiros no seu turno de trabalho.
A opção pelo número mínimo de três juízes justiica-se pela diiculdade em avaliar, de forma concomitante
e independente, todos os pacientes acomodados em
enfermarias de três a seis leitos, o que poderia resultar
em tumulto, desconforto e constrangimento, além de
atuar como contaminante situacional, favorecendo o erro
de medição.
Em relação aos indicadores testados, seguramente
não abrangem todos os aspectos importantes da
assistência de enfermagem, mas, certamente, abarcam
cuidados relevantes para a prevenção de riscos e
altamente sensíveis à melhoria com investimentos
simples, como estratégias educativas. Infelizmente, a
seleção desses quinze indicadores resultou na exclusão
de outros aspectos relevantes do cuidado, o que pode ser
uma limitação do presente estudo.
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