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ARTIGO
ORIGINAL
Practices
related
to
late-onset
sepsis
in
very
low-birth
weight
preterm
infants
夽
Maria
Regina
Bentlin
a,∗,
Ligia
M.S.S.
Rugolo
a,
Ligia
S.L.
Ferrari
be
em
nome
da
Rede
Brasileira
de
Pesquisas
Neonatais
aHospitaldasClínicas,FaculdadedeMedicinadeBotucatu,UniversidadeEstadualPaulista(Unesp),Botucatu,SP,Brasil bHospitalUniversitáriodeLondrina,UniversidadeEstadualdeLondrina(UEL),Londrina,PR,Brasil
Recebidoem6denovembrode2013;aceitoem2dejulhode2014
KEYWORDS
Sepsis; Newborn; Premature;
Handhygiene;
Prevention
andcontrol
Abstract
Objective: Tounderstandthepracticesrelatedtolate-onsetsepsis(LOS)inthecentersofthe BrazilianNeonatalResearchNetwork,andtoproposestrategiestoreducetheincidenceofLOS. Methods: This was a cross-sectional descriptive multicenter study approved by the Ethics Committee. Three questionnaires regarding hand hygiene, vascular catheters, and diagno-sis/treatmentofLOSweresenttothecoordinatorofeachcenter.Thecenterwiththelowest incidenceofLOSwascomparedwiththeothers.
Results: All16centersansweredthequestionnaires.Regardinghandhygiene,87%use chlorhe-xidineor70%alcohol;alcoholgelisusedin100%;80%usebedsidedispensers(50%hadone dispenserforeverytwobeds);practicaltrainingoccursin100%andtheoreticaltrainingin70% ofthecenters,and37%trainonceayear.Catheters:94%haveaprotocol,and75%havealine insertionteam.Diagnosis/treatment:completebloodcountandbloodcultureareusedin100%, PCRin87%,hematologicalscoresin75%;oxacillinandaminoglycosidesistheempiricaltherapy in50%ofcenters.CharacteristicsofthecenterwithlowestincidenceofLOS:stricterhand hygi-ene;catheterinsertionandmaintenancegroups;useofbloodculture,PCR,andhematological scorefordiagnosis;empiricaltherapywithoxacillinandaminoglycoside.
Conclusion: Theknowledgeofthepracticesofeachcenterallowedfor theidentificationof aspectstobeimprovedasastrategytoreduceLOS,including:alcoholgeluse,handhygiene training,implementationofcatheterteams,andwiseuseofantibiotictherapy.
©2013SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.07.004
夽 Comocitaresteartigo:BentlinMR,RugoloLM,FerrariLS,onbehalfoftheBrazilianNeonatalResearchNetwork(RedeBrasileirade
PesquisasNeonatais).Practicesrelatedtolate-onsetsepsisinverylow-birthweightpreterminfants.JPediatr(RioJ).2015;91:168---74.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:mbentlin@fmb.unesp.br(M.R.Bentlin).
PALAVRAS-CHAVE
Sepse;
Recém-nascido; Prematuro;
Higienedasmãos;
Prevenc¸ão&controle
Práticasrelacionadasàsepsetardiaemprematurosdemuitobaixopeso
Resumo
Objetivo: Conheceraspráticasrelacionadasasepsetardia(ST)noscentrosdaRedeBrasileira dePesquisasNeonatais(RBPN)eproporestratégiasparareduc¸ãodaST.
Métodos: Estudotransversal, multicêntricoda RBPN, aprovado peloCEP.Três questionários sobrehigienizac¸ãodasmãos,cateteresvascularesediagnóstico/tratamentodaSTforam ela-boradoseenviadosaoscoordenadoresdecadacentro.OcentrocomamenorincidênciadeST foicomparadoaosdemais.
Resultados: Todosos 16 centrosresponderam aosquestionários. Quanto àhigienizac¸ãodas mãos: 87%usamchlorhexidine ouálcool70%;100%álcool gel;almotolia/leito em80% (50% dispõem de um dispensador para cada dois leitos); Treinamento prático ocorre em 100%, teórico em70%doscentrose37%treinamumavez/ano.Cateteres:94%têmprotocolopara passagem, 75% grupo de inserc¸ão. Diagnóstico/tratamento: hemograma e hemocultura são usados em 100% dos centros; PCR em 87%; 75% usam escores hematológicos; oxacilina e aminoglicosídeo são usados como terapia empíricaem 50% dos centros. Característicasdo centro com menor incidência de ST: rigorosa higienizac¸ão das mãos; grupos de inserc¸ão e manutenc¸ãodecateteres;usodehemocultura,PCReescoreshematológicosparadiagnóstico daST;tratamentoempíricocomoxacilinaeaminoglicosídeo.
Conclusões: Oconhecimentodaspráticasdecadacentropermitiuidentificaraspectosaserem aprimoradoscomoestratégiaparaareduc¸ãodaSTincluindo:usodeálcoolgel,treinamento emhigienizac¸ãodasmãos,implantac¸ãodegruposdecatetereseusoracionaldeantibióticos. ©2013SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.
Introduc
¸ão
A sepse tardia (ST) é uma das principais causas de
mor-bimortalidade neonatal. A Organizac¸ão Mundial da Saúde
(OMS) estima que dos quatro milhões de mortes
neona-tais que ocorrem nomundo ao ano, maisde um terc¸o é
causada porinfecc¸õesgraves e umquartodevido à sepse
neonatal/pneumonia.1,2 NoBrasil, amortalidade neonatal
correspondea60%damortalidadeinfantileasepseéuma dasprincipaiscausasdosóbitosneonatais.3
Redesdepesquisasemtodomundotêmsededicadoao estudodasepseneonatal.ARede AmericanadePesquisas Neonatais (NICHD Neonatal Research Network) documen-tou incidência de 21% de ST confirmada em prematuros < 1.500g, com variac¸ão de 10-38% entre os centros.4 Na RedeBrasileiradePesquisasNeonatais(RBPN),formadapor 16 centros de referência para a área da saúde materno--infantil, o grupo de estudo sobre ST evidenciou em 2009-2010incidênciade50%deST(variac¸ãode29-72%entre oscentros)emprematuros<1.500g,27,5%deSTconfirmada (dadosnãopublicados).
ASTrelaciona-secomoambientepós-natal, caracterís-ticasdorecém-nascidoepráticasassistenciais.Entreessas práticas,ousodecateteresvascularesenutric¸ãoparenteral éimportantefatorderisco paraasepse.5,6Ahigienizac¸ão das mãos é outra prática que merece destaque, pois a transmissãodemicroorganismospelasmãosdoscuidadores éumapreocupac¸ãoconstante.OCenterforDiseaseControl (CDC),a OMSe aAgência NacionaldeVigilânciaSanitária (Anvisa)publicamperiodicamenteguiasparaahigienizac¸ão de mãos, mas alertam que a adesão dos profissionais de saúde é baixa mesmo em períodos de campanha.7-9
O percentual de adesão dos profissionais à lavagem das mãosvariade28% a 62%e a maioradesãoàspráticasde higienizac¸ãoestáassociadaàreduc¸ãodastaxasdeinfecc¸ão hospitalar.10 Outro aspecto relevante é a dificuldade no diagnósticodasepse,umavezquedadosclínicoseexames laboratoriaissãoinespecíficoseahemocultura,considerada padrãoouro,apresentabaixapositividade.11,12Adificuldade nodiagnósticopodelevaraatrasosnotratamentoouaouso abusivode antibióticose propiciar a selec¸ão deflora e o desenvolvimentoderesistênciabacteriana,outroproblema frequenteemUTINeonatal.
Aescassez dedadosnacionais arespeito desepse tar-dia, aliada ao fatode asUTIsneonatais que fazem parte daRBPNrepresentaremunidades dereferência, torna pri-oritáriaanecessidadedeanalisarasituac¸ãoatualdasUTIs daRBPNedivulgarosdados,paramapeararealidade naci-onale orientarquantoàsmedidaspreventivasquedevem serinstituídas comvistasa reduziraincidência daST em prematurosdemuitobaixopeso.Essesaspectosmotivaram afeitura dessapesquisa, que tevecomoobjetivos conhe-ceraspráticasassistenciaisrelacionadasàsepsetardianos 16centros daRBPN, com foco na higienizac¸ão das mãos, nousodecateteresvasculares,nodiagnósticoe no trata-mentoempíricodasepse,eidentificaraspectosquepossam ser melhorados como estratégia para a reduc¸ão dasepse tardia.
Método
Estudotransversalmulticêntricoqueenvolveuos16centros
cadacentro.Todososcentrossãoreferênciaparaaáreada
saúdematerno-infantileatendemgestac¸õesdealtoriscono
sistemaúnico desaúde.NaRBPNocritérioparadefinic¸ão
desepse tardia incluia presenc¸a dealterac¸õesclínicas e
hematológicasapós72horasdevidaeéconsideradaST
con-firmadaquandoahemoculturaforpositivaeclínicaquando
ahemoculturafornegativa.
Em2011,ogrupodeestudodasepsetardiadaRBPN
for-muloueenviouaoscoordenadoresdecadaumdos16centros
trêsquestionáriosquecontemplavamquestõesabertasede
múltiplaescolha,referentesàspráticasassistenciaisusadas
emsuasunidades.Essesquestionáriosabordavamquestões
sobrehigienizac¸ãodas mãos,usodecateteresvasculares,
diagnósticoetratamentoempíricodasepsetardia.As
prin-cipaisquestõesabordadasnosquestionáriosforam:
Questionário1:Higienizac¸ãodasmãos
Produto usado na higienizac¸ão, informac¸ões específicas
sobreousodoálcoolgeletreinamentodaequipedesaúde
queprestaassistênciaaosrecém-nascidos.
Questionário2:Cateteresvasculares
Presenc¸adegruposdeinserc¸ãoemanutenc¸ãodecateteres,
protocolodeinserc¸ãode cateter,tempodepermanência,
enviodapontadecateterparaculturaeinformac¸õessobre
curativosetrocadesistemasdeinfusão.
Questionário3:Diagnósticoetratamentodasepse tardia
Examesusados parao diagnóstico desepse tardia:
hemo-cultura (periférica e/ou central, método usado para
sua realizac¸ão, interpretac¸ão do resultado levando em
considerac¸ão tempo e curva de crescimento), uso de
hemograma, reagentes de fase aguda, escores
hematoló-gicos, indicac¸ões da coleta de líquor e da repetic¸ão da
punc¸ãolombar,interpretac¸ãodocrescimentode
estafiloco-coscoagulasenegativa emhemocultura (contaminac¸ão ou
infecc¸ão).Antibióticosmaisusadosnaterapia
antimicrobi-anaetempodeuso.
Análise
estatística
As respostas foram tabuladas e analisadas em tabelasde
frequênciaedeassociac¸ão.Manteve-seosigiloquantoaos
centros,queforamidentificadosapenasporletras.As
práti-casdocentrodaRBPNcommenorincidênciadeST,incluindo
asepseclínicaeaconfirmada(incidênciade29%---dadonão
publicado)foramcomparadascomasdemais.Apartirdesses
dadosforamfeitaspropostasparareduc¸ãodaST.
Resultados
Os16centrosparticipantesdaRBPNresponderamaostrês
questionários.Nenhumaquestãofoiexcluídaeopercentual
foicalculadocombasenonúmeroderespostasobtidaspara
cadaquestão.
Questionário1:Higienizac¸ãodasmãos(tabela1)
Amaioriadoscentrosusaaclorexidinaeouálcool70%para
ahigienizac¸ãodasmãosetemalmotoliasdeálcoolgelpor
leito.Entretanto,quantoaousodedispensadores,apenas
setecentrosdispõemdedispensadoresemproporc¸ão
ade-quada (≥0,5porleito).Os16 centrosfazemtreinamento
práticodehigienizac¸ãodasmãos,porémapenas25%deles
fazemotreinamentonumafrequênciasuperioraduasvezes
aoano.
Questionário2:Cateteresvasculares(tabela2)
Todososcentros, excetoum,usamprotocolospara
passa-gem decateter, masapenas12 têmgrupodeinserc¸ão de
PICC(catetercentraldeinserc¸ãoperiférica)compostopor
enfermeirose10centrostêmgrupodemanutenc¸ãode
cate-teres.Namaioriadoscentrosocatetervenosoumbilicalé
mantidoporperíodo≥a5dias,ocateterarterialportrês
aseisdiaseoPICCporaté30dias.Todososcentrosusam
curativostransparentes,56%trocamoscurativosapenasse
houversujidade.Amaioriasolicitaculturadapontade
cate-tersehouversuspeitadeinfecc¸ão.Todososcentrosretiram
o cateter deformaimediata na presenc¸ade hemocultura
positivaparafungos,56%napresenc¸adeGram-negativosou
S. aureus e 12,5%na presenc¸ade estafilococos coagulase negativa.
Questionário3:Diagnósticoetratamentoempírico dasepsetardia(tabela3)
Todososcentroscolhemhemoculturaantesdoinícioda
anti-bioticoterapia,15usamométodoautomatizadodecultura
e a maioria faz apenasacoleta desangue periférico.Em
11centrosoestafilocococoagulasenegativaéconsiderado
agenteetiológicodeinfecc¸ãosehouveralterac¸ãoclínicae
laboratorialassociada,12centros(75%)valorizamotempo
decrescimentobacterianoparadiagnósticodeinfecc¸ão.
Quantoaosexamesinespecíficos,amaioriadoscentros
usaaproteínaCreativa(PCR)comooreagentedefaseaguda
econsideraessemarcadorútiltantoparaexclusãodo
diag-nósticodeinfecc¸ãocomoparacontroledainfecc¸ão.Escores
hematológicossãousadosnamaioriadoscentros,
especial-menteo escoredeRodwell.Cincocentrosnãorepetemos
exames inespecíficos na suspeita de infecc¸ão se o exame
inicialfornormal.Agrandemaioriafazpunc¸ãoliquóricana
suspeitadeinfecc¸ãoerepeteapunc¸ãoseoresultadodo
pri-meirolíquorforanormal.Apenasametadedoscentrosusa
oxacilinaeaminoglicosídeocomoesquemaempíricoinicial
nasepsetardiae50%dosservic¸osmantêmotratamentoaté
anegativac¸ãodasculturas.
Práticasdocentrodemenorincidênciadesepse tardia
O centro de menor incidência deST (29%) noperíodo de
2009-2010apresentouosseguintesresultados:
- Higienizac¸ão das mãos (tabela 1): usa clorexidina 2%
Tabela1 Principaisrespostasdoquestionáriosobrehigienizac¸ãodasmãosnos16centrosdaRBPNeaspráticasdocentrode menorincidênciadesepsetardia
n◦centros/n◦centrosresponderam(%) CentrodemenorincidênciadeST
Produtousado
Clorexidine 12/15(80) Sim
Álcool70% 11/14(79) Sim
Basedeiodo 2/13(15) Não
Usodoálcoolgel
Almotolia/leito 13/16(81) Sim
Almotolia/profissionais 3/16(19) Não
Dispensador/leito≤1:2 7/14(50) Sim
Dispensador/leito1:3a1:7 7/14(50) Não
Treinamento
Prático 16/16(100) Sim
Teórico 11/16(69) Não
Folhetos 10/16(62) Sim
ResponsávelCCIH 14/16(87) Sim
Frequênciadetreinamento
1vez/ano 6/16(37,5) Não
2vezes/ano 5/16(31) Sim
≥3vezes/ano 4/16(25) Não
CCIH,ComissãodeControledeInfecc¸ãoHospitalar.
dispensadores1:2 leitos;treina toda aequipe desaúde
duasvezesaoanopormeiodeatividadespráticase
folhe-tos.
- Cateteres vasculares (tabela 2): tem protocolo de
pas-sagemdecatetere grupodeinserc¸ãoe manutenc¸ão de cateteres;mantémocatetervenosoumbilicalporatésete
dias,oarterialporatécincodiaseoPICCporaté15dias. Usacurativotransparenteetrocaocurativoacadasete dias, colhe cultura daponta de cateter na suspeita de infecc¸ão,usaatécnicaderolagemparaacultura,retira ocateterdeformaimediataseahemoculturaforpositiva parafungos.
Tabela2 Principaisrespostasdoquestionáriosobreusodecateteresvascularesnos16centrosdaRBPNeaspráticasdocentro demenorincidênciadesepsetardia
n◦centros/n◦centrosresponderam(%) CentrodemenorincidênciadeST
Grupodecateteres
Inserc¸ãodePICC 12/16(75) Sim
Manutenc¸ãodecateteres 10/16(62,5) Sim
Tempodepermanênciadoscateteres Venosoumbilical
≤3dias 4/16(25) Não
≥5dias 11/16(69) Sim
Arterialumbilical
≤3dias 5/16(31) Não
>3dias 10/16(62,5) Sim
Nãousamcateterarterial 4/16(25)
PICC
7a15dias 5/16(31) Sim
16a30dias 6/16(37,5) Não
Indeterminado 5/16(31) Não
Culturadapontadecateter
Nasuspeitadeinfecc¸ão 13/15(87) Sim
Sempre 2/15(13) Não
Técnicaderolagem 10/15(67) Sim
Tabela3 Principaisrespostasdoquestionáriosobrediagnósticoeterapiaempíricadasepsetardianos16centrosdaRBPNe aspráticasdocentrodemenorincidênciadesepsetardia
n◦centros/n◦centrosresponderam(%) CentrodemenorincidênciadeST
Coletadehemocultura
Apenasperiférica 10/16(62,5) Sim
Periféricaecentral 6/16(37,5) Não
Métodoautomatizado 15/16(93,7) Sim
Tempocrescimento 12/16(75) Sim
Estafilocococoagulasenegativa
Infecc¸ãoealterac¸ãoclínica/laboratorial 11/16(69) Sim
Examesinespecíficos
Hemograma 16/16(100) Sim
EscoredeRodwell 8/12(66) Sim
PCR 14/16(87,5) Sim
Líquor
Suspeitadesepse 12/16(75) Sim
Tratamentoempírico
Oxacilina+aminoglicosídeo 8/16(50) Sim
Vancomicina 6/16(37,5) Não
Cefalosporinas/carbapenêmicos 3/16(18,7) Não
PCR,proteínaCreativa.
- Diagnósticoetratamentoempíricodasepsetardia(tabela
3):colhehemoculturaperiférica,temdisponívelométodo
automatizado,usaotempodecrescimentopara
diferen-ciar infecc¸ão e contaminac¸ão, considera o estafilococo
coagulase negativa como patógeno se houver alterac¸ão
clínicaelaboratorial.Osexamesinespecíficosincluemo
hemogramaeaPCRe évalorizadooescoredeRodwell.
Usaoxacilinaeaminoglicosídeocomoterapiaempíricada
ST.
Discussão
Redesdevigilânciadeinfecc¸ãoneonataltêmsido
implanta-dasemmuitospaísescomoobjetivodeconhecerarealidade
nacional,compararosresultadoscomoutrasredesepropor
estratégiasparamelhoraraqualidadedaassistência
pres-tadaaos recém-nascidos. NaRede Brasileirade Pesquisas
Neonataistodososcentroscontribuemparaamanutenc¸ão
deumbancodedadosdeprematurosdemuitobaixopeso,
oquepermiteamonitorac¸ãodasmorbidades,daspráticas
assistenciaisedastaxasdemortalidade.Umadas
morbida-desdemonitoramentoprioritárionaRBPNéaST.13
ASTécomumemprematuros,associa-seaalta morbi-mortalidadeepodecomprometeroneurodesenvolvimento dos sobreviventes.14 Estudo da RBPN mostrou que 27% dos prematuros de muito baixo peso evoluíram com ST confirmada(variac¸ãode14-51%)e23%(variac¸ãode7,5%a 41%)comSTclínica(dadosnãopublicados).Amortalidade dos grupos sépticos foi maior em relac¸ão ao grupo sem sepse, mesmo considerando a variabilidade entreos cen-tros.Agrandevariabilidadenastaxasdeinfecc¸ãoentreos centroséumachadofrequentenasredesdepesquisaeas diferenc¸asnaspráticasassistenciaistêmsidoapontadasna literaturacomoumdosfatorescontributivos.15-18Conhecer
as práticas relacionadas à assistência é fundamental na elaborac¸ão deestratégias paraareduc¸ãodasepsetardia. Intervenc¸ões para a melhoria das práticas assistenciais podemamenizaressasdiferenc¸as.
A higienizac¸ão das mãos é uma prática que desperta grandepreocupac¸ãoedevesempresermonitorada.Os prin-cipais produtos usados na higienizac¸ão das mãos são os alcoóis(concentrac¸ãode70%,semefeitoresidual)ea clo-rexidina(concentrac¸ãode2%ou4%,comefeitoresidualde seishoras).10,19NaRBPNagrandemaioria doscentrosusa clorexidinaeálcool70%,temalmotoliasdeálcoolgelefaz treinamentosobrehigienizac¸ãodasmãos.Issomostra que ositensbásicosestãodisponíveiseprovavelmenteoquefaz adiferenc¸aentreoscentroséaqualidadenaprática,oque reforc¸ando a hipótese de que o maisimportante é inves-tiremeducac¸ãocontinuadadosprofissionaisdesaúdepara melhoraraadesãoaosprocedimentosrecomendados.Uma propostadesteestudoéampliarousodeálcoolgel,queéo preferidopelosprofissionaisporserdefácilaplicac¸ão,levar menostempoparausoeportereficáciacomparávelaoutros antissépticos,desdequenãohajasujidadenasmãos.10,20
17,3/1.000 CVC dia naqueles entre 1.501-2.500g e 18,1/1.000 CVC dia nos recém-nascidos > 2.500g.23 Esses índicessãomuitomaiselevadosdoqueosencontradosna National Healthcare Safety Network (NHSN), que mostra taxasde4,4/1.000CVCdianos<1.000g,4,8/1.000CVCdia entre1.001-1.500g,4,2/1.000CVCdiaentre1.501-2.500g e 3,1/1.000 CVC dia nos >2.500g e reforc¸am a importân-cia da infecc¸ão associada a cateter no nosso meio, bem como anecessidadedemedidaspreventivasfrenteaessa preocupantecondic¸ão.5,24,25
Noquestionáriosobrecateteres vascularesobservou-se que apenas 2/3 dos centros têm equipe de inserc¸ão de PICC e grupo de manutenc¸ão de cateteres. É umaspecto asermelhoradoequepodesercrucialcomoestratégiade prevenc¸ãodasepsetardia.Osdemaiscuidadoscom catete-resforamsemelhantesemtodososcentros.
Noterceiroeúltimoquestionáriosobrediagnósticoe tra-tamento empírico da sepse, as repostas foram variáveis, mostraramgrandeheterogeneidadeentreoscentros.Todos oscentros usam hemograma, PCR, hemocultura, masnão deformaprotocolada.Recém-nascidosprematurossão imu-nocomprometidos e expostos a muitas situac¸ões de risco infeccioso que favorecem o uso de antibióticos. Outro aspecto que propicia o uso frequente de antibióticosé a dificuldadenodiagnósticodasepse,devidoàbaixa especi-ficidadedoexameclínicoedosexameslaboratoriais,bem comoàbaixapositividadedehemoculturas,oquetemsido classicamentereferidonaliteratura.14Aantibioticoterapia, por sua vez, altera a flora intestinal e propicia a emer-gência decepas resistentes.26-28 A estratégiaproposta foi aprimorarainterpretac¸ãodohemograma,valorizarescores hematológicos,comoodeRodwell,eassociarousodaPCR quantitativaseriadaparaexclusãoecontroledeinfecc¸ão.
Dentreositensdemaiorvariabilidade entreoscentros estáaantibioticoterapiaempírica.Paradefinic¸ãode proto-colosdeusoempíricodeantibióticosháanecessidadedese conhecerosagentesprevalentesdecadaunidade,mas sabe--seque o usode antibióticosdeamploespectro aumenta a colonizac¸ão e infecc¸ão por germes multirresistentes.27 Apresenc¸adoestafilocococoagulasenegativacomoumdos principaisagentesdaSTnaRBPN(60%doscasos)podeter favorecidoousodevancomicinanaterapiaempírica.Ouso deantibióticos,assimcomootempodeuso,deveser rigo-rosamente monitorado e reavaliado e a terapia empírica com antibióticosde amploespectro deveser evitada.27,28 Umavezafastadoodiagnóstico deinfecc¸ão esses antibió-ticos devemser suspensosdeformaimediata ese houver aconfirmac¸ãodoagenteemhemoculturaououtrosfluidos estéreis,odescalonamentodeantimicrobianosdevesempre serfeito.
OcentrodemenorincidênciadeSTnãoapresentou prá-ticaextraordináriaoudealtocusto parajustificarosseus resultados.Deumaformageral,aspráticas entreos cen-trosforamsemelhantes,oquereforc¸aahipótesedequea diferenc¸aestejanaqualidadedeaplicac¸ãodessaspráticas enocompromissodetodaaequipeenvolvidanaassistência aorecém-nascidoemaplicá-las.
Adiversidadeencontradanos16centrosdaRBPNreflete o que acontece em um país com dimensões continentais como o Brasil e mostra a nossa realidade. O fato de os centros se unirem em prol de um objetivo, que é a reduc¸ão da ST, fazerem o diagnóstico da situac¸ão atual,
identificaremnos centrosde menoresincidênciasquais as melhores práticas e terem como meta melhorar os seus resultadosjustificaotrabalhodogrupodeestudodasepse naRBPN,queapartirdessesdadospropôsumconjuntode medidascomvistasàareduc¸ãodaST:
- Instituirousodealmotoliasdeálcoolgel/glicerinadouma paracadaleitodaUTIneonatal.
- Aoseusaremdispensadoresdeparededeálcoolgel, man-teraproporc¸ãodepelomenosumparadoisleitos. - Fazertreinamentoteóricoepráticodehigienizac¸ãodas
mãosmaisdeduas vezesaoano,paratoda aequipede saúde.
- Terpadronizac¸ãoparainserc¸ão dePICCe paracuidados comcateteres.
- Terumgrupofixohabilitadoparainserc¸ãodePICCepara oscuidadoscomcateteres.
- Fazer reuniões periódicas(mensais) coma Comissão de ControledeInfecc¸ãoHospitalar paramonitorarastaxas deinfecc¸ão.
- Garantir a adequac¸ão da relac¸ão dos recursos huma-nos (médico e enfermagem) por leito conforme as recomendac¸õesvigentes.
- Analisar periodicamente na unidade os resultados obti-dos na reduc¸ão da sepse e instituir diversos meios de disseminac¸ão dessa análise: reuniões, quadro de aviso, mensagenseletrônicas.
Medidas de baixo custo como as propostas pela RBPN podemteraltoimpactoe fazeradiferenc¸ana prevenc¸ão dasepse,diminuir otempodeinternac¸ão,reduziros cus-tossociaiseeconômicosegeraraexpectativademelhoria naqualidadedaassistênciaaosprematurosdemuitobaixo pesonoscentrosdaRBPN.
Uma das limitac¸ões do estudo encontra-se no fato de que o questionárionão foi enviado aos médicos diaristas eenfermeiras, masaoscoordenadoresdos centrosquese responsabilizarampelas informac¸ões. Apesar da possibili-dade de condutas individualizadas, houve o compromisso docoordenador de responder de acordo com os protoco-losdoservic¸oeapósachecagemdasinformac¸õescomsua equipe.Outralimitac¸ãofoiodesconhecimentodopadrãode sensibilidadedos agentesdasepseemcadaunidade,para quea avaliac¸ão daterapia empíricapudesse ser aprofun-dada.Háque seconsiderar tambémqueo objetivodeste estudo foi avaliar as práticas assistenciais relacionadas à sepse,enãoinvestigarfatoresderiscoparaST.Porissoas característicasdapopulac¸ãoatendidaemcada centronão foramanalisadas,o quelimita ainterpretac¸ãodos dados, masnãointerferena proposta doestudoquanto às medi-dasparaprevenc¸ão daST, umavezque ascaracterísticas dapopulac¸ão atendidanãosão evitáveis,enquanto que a melhoriadas práticasassistenciais podeminimizaro risco deST.
A grande contribuic¸ão do estudo foi mostrar o que é feitona prática de centrosde referência no Brasil e que mesmo nesses centros as práticas e os procedimentos de rotinapodemsermelhorados.
gel,otreinamentoemhigienizac¸ãodasmãos,aimplantac¸ão degruposdecatetereseousoracionaldeantibióticos.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Apêndice.
Material
adicional
Pode consultar o material adicional para este artigo na
sua versão eletrónica disponível em doi:10.1016/j.jpedp.
2014.07.004.
Referências
1.StollBJ,HansenN,FanaroffAA,WrightLL,CarloWA, Ehren-kranz RA, et al. Late-onset sepsis in very low birth weight neonates: the experience of the NICHD neonatal research network.Pediatrics.2002;110:285---91.
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