Três formas de intervenção para a adesão ao
tratamento dietético da obesidade em cardiologia:
estudo comparativo
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências
Área de concentração: Fisiopatologia Experimental Orientadora: Profa. Dra. Bellkiss Wilma Romano
“Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, porque cada pessoa é única para nós, e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só e nem nos deixa só. Leva um pouco de nós mesmos e deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não deixam nada. Esta é a maior responsabilidade de nossas vidas e a prova evidente de que duas almas não se encontram por acaso”.
William Shakespeare
À memória de Carmen Cecília Mendes Bruno
À minha filha, Isabel, fonte de inspiração e motivo de muito orgulho.
À minha mãe, Yvonne, pelo carinho e apoio que me
dedica ao longo de minha vida.
Ao meu tio, Oswaldo Bruno, exemplo de dedicação e
generosidade, por me haver ensinado a priorizar a saúde como um valor fundamental.
- À minha orientadora, Bellkiss Wilma Romano, pela forma espontânea e cortês com a qual me dedicou sua atenção.
- À nutricionista Mitsue Isosaki, diretora do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração, por seu imenso incentivo e apoio, sem os quais não teria sido possível realizar este trabalho. Espero que os frutos desta pesquisa possam retribuir sua generosidade e colaborar no cumprimento da missão deste serviço.
- À nutricionista chefe, Maria Kimiko Nishida Nazima, da Seção de
Assistência Nutricional ao Paciente Internado do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração, por sua total receptividade e colaboração.
- À nutricionista chefe, Miyoko Nakasato, do Serviço de Nutrição e Dietética
do Instituto do Coração, por criar condições propícias para que o desafio de conciliar as atividades profissionais com as da pós-graduação fosse vencido.
- Às nutricionistas da Seção de Assistência Nutricional ao Paciente Externo do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração, na pessoa da
nutricionista chefe Adriana Lúcia van-Erven Ávila, com admiração e
respeito pelo carinho e profissionalismo que dedicam aos pacientes.
- Às demais nutricionistas do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração, as quais, de forma direta ou indireta, colaboraram na realização deste trabalho, pela demonstração de companheirismo.
- Ao Sr. Wallace Fernandes, chefe da Seção de Processamento e Arquivo
da Unidade de Informações Médico Hospitalares do Instituto do Coração, pela forma atenciosa e cortês de seu atendimento.
- Às nutricionistas Iara de Cássia Damasceno Bastos, Vivian Palo Pereira
e Érica Dias, pela forma generosa e interessada de colaboração na coleta de dados.
- Aos pacientes da Seção de Assistência Nutricional do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração que participaram desta pesquisa, por sua boa vontade em colaborar.
Esta tese está de acordo com:
Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals
Editors (Vancouver).
Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de Biblioteca e
Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias
da FMUSP. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Júlia A. L.
Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de S. Aragão, Suely C. Cardoso, Valéria Vilhena. São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação; 2005.
Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals
Indexed in Index Medicus.
Lista de abreviaturas, siglas e símbolos ... xiii
Lista de quadros ... xvi
Lista de figuras ... xvi
Lista de tabelas ... xvii
Lista de gráficos ... xx
Resumo ... xxii
Summary ... xxiv
1 INTRODUÇÃO... 1
1.1 A obesidade no Brasil e no mundo ... 2
1.2 Causas da epidemia de obesidade ... 4
1.3 Obesidade e doenças cardiovasculares ... 6
1.4 Conceito ... 8
1.5 Classificação etiológica da obesidade ... 9
1.6 Diagnóstico da obesidade ... 12
1.7 Síndrome metabólica ... 14
1.8 Aspectos psicológicos da obesidade ... 15
1.9 Tratamento da obesidade ... 17
1.10 Conceito e considerações relevantes na avaliação da adesão ... 20
1.11 Adesão ao tratamento dietético da obesidade ... 21
1.12 Impacto e causas da baixa adesão ... 25
1.13 Medidas para assegurar a adesão ... 26
1.14 Assistência nutricional ao cardiopata obeso ... 28
1.14.1 Atendimento em grupo ... 29
1.14.2 Atendimento individual ... 32
1.14.3 Atendimento em grupo informativo de obesidade ... 34
2 JUSTIFICATIVA ... 36
3 OBJETIVOS ... 38
4 METODOLOGIA ... 40
4.1 Delineamento ... 41
4.2 População ... 41
4.2.1 Fase preliminar: 105 participantes ... 42
4.2.2 Fase principal: 80 participantes ... 42
4.3 Termo de consentimento livre e esclarecido ... 44
4.4 Aprovação do protocolo ... 44
4.5 Material e métodos ... 45
4.5.1 Fase preliminar ... 45
4.5.2 Fase principal ... 46
4.6 Análise estatística ... 50
5 RESULTADOS/DISCUSSÃO ... 53
5.1 Fase preliminar ... 54
5.2 Fase principal ... 67
5.2.1 Comparação dos grupos em relação às características e doenças avaliadas ... 67
5.2.2 Comparação dos grupos em relação a Peso, IMC e CA 70 5.2.3 Comparação dos grupos em relação à CA risco ... 75
5.2.4 Comparação dos grupos em relação aos exames laboratoriais ... 77
5.2.5 Estudo dos fatores positivos (FP) e negativos (FN) ... 89
5.3 Limitações do estudo ... 111
6 CONCLUSÃO ... 112
7 REFERÊNCIAS ... 115
8 ANEXOS ... 124
ANEXO A ... 125
ANEXO B ... 128
ANEXO C ... 130
ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
AHA American Heart Association
AVC acidente vascular cerebral
CA circunferência do abdome
CA1 circunferência do abdome medida na 1ª entrevista
CA2 circunferência do abdome medida na 2ª entrevista
CT colesterol total
CT1 medida do colesterol total obtida na 1a entrevista
CT2 medida do colesterol total obtida na 2ª entrevista
DCV doenças cardiovasculares
DLP dislipidemia(s)
DM diabetes melito
DM tipo 2 diabetes melito tipo 2
FP fatores positivos
FP1 fatores positivos apontados na 1ª entrevista
FP2 fatores positivos apontados na 2ª entrevista
FN fatores negativos
FN1 fatores negativos apontados na 1ª entrevista
FN2 fatores negativos apontados na 2ª entrevista
FR fator(es) de risco
G glicemia
G1 medida da glicemia obtida na 1ª entrevista
G2 medida da glicemia obtida na 2ª entrevista
GIO grupo informativo de obesidade
HA hipertensão arterial
HAS hipertensão arterial sistêmica
HDL–c HDL colesterol
HDL-c 1 medida do HDL colesterol obtida na 1ª entrevista
HDL-c 2 medida do HDL colesterol obtida na 2ª entrevista
HIPERCOL hipercolesterolemia
HIPERTRIG hipertrigliceridemia
IMC índice de massa corporal
IMC1 índice de massa corpórea, calculado na 1ª entrevista
IMC2 índice de massa corpórea, calculado na 2ª entrevista
INCOR HCFMUSP Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
IR insuficiência renal
LDL-c LDL colesterol
LDl-c 1 medida do LDL colesterol obtida na 1a entrevista
LDL-c2 medida do LDL colesterol obtida na 2ª entrevista
MR marcador(es) de risco
NCEP National Cholesterol Education Program
NCEP- ATP III National Cholesterol Education Program’s Adult
Treatment Panel III
NCHS National Center for Health Statistics
NHANES National Health and Nutrition Examination Survey
NSR Não Sabem Referir
OMS Organização Mundial de Saúde
P peso corporal
P1 peso corporal na 1ª entrevista
P2 peso corporal na 2ª entrevista
PA pressão arterial
PA1 medida da pressão arterial obtida na 1ª entrevista
PA2 medida da pressão arterial obtida na 2ª entrevista
SANPE Seção de Assistência Nutricional a Pacientes Externos
SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia
SM Síndrome Metabólica
SND Serviço de Nutrição e Dietética
SOCESP Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo
SUS Sistema Único de Saúde
TG triglicérides
TG1 medida do triglicérides obtida na 1a entrevista
TG2 medida do triglicérides obtida na 2ª entrevista
UAPA Unidade de Atendimento ao Paciente Ambulatorial
UIMH Unidade de Informações Médicas e Hospitalares
WHO World Health Organization
QUADROS
Quadro 1 - Relação do índice de massa corporal e classificação
do risco de co-morbidades ... 13
FIGURAS
Figura 1 - Esquema de atendimento dos pacientes na SANPE ... 32
Figura 2 - Esquema de atendimentos na SANPE com destaque
para os tipos selecionados para a pesquisa ... 43
Figura 3 - Esquema de recrutamento/ divisão dos participantes e
drop out ... 49
TABELAS
Tabela 1 - Distribuição dos pacientes entrevistados de acordo
com a faixa etária / Fase preliminar ... 54
Tabela 2 - Anos de estudo dos pacientes da SANPE SND
INCOR / Fase preliminar ... 55
Tabela 3 - Índice de massa corpórea dos pacientes da SANPE
SND INCOR/ Fase preliminar ... 55
Tabela 4 - Características dos participantes segundo o grupo de
estudo ... 67
Tabela 5 - Presença de antecedentes de doença dos
participantes segundo o grupo de estudo ... 68
Tabela 6 - Tempo de doença dos participantes segundo o grupo
de estudo ... 69
Tabela 7 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e
máximo do peso dos participantes segundo o grupo de estudo ... 70
Tabela 8 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e
máximo do IMC dos participantes segundo o grupo de
estudo ... 71
Tabela 9 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e
máximo da CA dos participantes, segundo o grupo de
estudo ... 73
Tabela 10 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância da CA de risco segundo o grupo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 75
Tabela 11 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo da glicemia dos participantes segundo o grupo de estudo ... 77
Tabela 12 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo do colesterol total dos participantes segundo
o grupo de estudo ... 79
Tabela 13 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo do LDL colesterol dos participantes segundo
o grupo de estudo ... 81
Tabela 14 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo do HDL colesterol dos participantes segundo
o grupo de estudo ... 82
Tabela 15 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo dos triglicérides dos participantes segundo o grupo de estudo ... 83
Tabela 16 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo da PAS dos participantes segundo o grupo de estudo ... 85
Tabela 17 - Valores de média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo da PAD dos participantes segundo o grupo de estudo ... 87
Tabela 18 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator positivo 1 segundo o grupo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 89
Tabela 19 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator positivo 2 segundo o grupo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 91
Tabela 20 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator positivo 3 segundo o grupo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 93
Tabela 21 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator positivo 4 segundo o grupo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 95
Tabela 22 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator negativo 1 segundo o grupo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 97
Tabela 23 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator negativo 2 segundo o grupo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 99
Tabela 24 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator negativo 3 segundo o grupo, nos
momentos T1 e T2 do tratamento ... 102
Tabela 25 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator negativo 4 segundo o grupo, nos
momentos T1 e T2 do tratamento ... 104
Tabela 26 - Freqüências absolutas e relativas do grau de importância do Fator negativo 5 segundo o grupo, nos
momentos T1 e T2 do tratamento ... 106
Tabela 27 - Freqüências absolutas e relativas do grau de
importância do Fator negativo 6 segundo o grupo, nos
momentos T1 e T2 do tratamento ... 108
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Fatores que facilitam a adesão à dieta (FP)/ Fase
preliminar ... 57
Gráfico 2 - Fatores que dificultam a adesão à dieta (FN)/ Fase
preliminar ... 58
Gráfico 3 - Média e desvio padrão do peso dos participantes
segundo o grupo de estudo ... 71
Gráfico 4 - Média e desvio padrão do IMC dos participantes
segundo o grupo de estudo ... 72
Gráfico 5 - Média e desvio padrão da CA dos participantes
segundo o grupo de estudo ... 74
Gráfico 6 - Porcentagens de participantes com CA de risco
segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 76
Gráfico 7 - Média e desvio padrão da glicemia dos participantes
segundo o grupo de estudo ... 78
Gráfico 8 - Média e desvio padrão do colesterol total dos
participantes segundo o grupo de estudo ... 80
Gráfico 9 - Média e desvio padrão do LDL colesterol dos
participantes segundo o grupo de estudo ... 82
Gráfico 10 - Média e desvio padrão do HDL colesterol dos participantes segundo o grupo de estudo ... 83
Gráfico 11 - Média e desvio padrão dos triglicérides dos participantes segundo o grupo de estudo ... 84
Gráfico 12- Média e desvio padrão da PAS dos participantes
segundo o grupo de estudo ... 86
Gráfico 13 - Média e desvio padrão da PAD dos participantes
segundo o grupo de estudo ... 88
Gráfico 14 - Porcentagens dos graus de importância do Fator positivo 1 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 90
Gráfico 15 - Porcentagens dos graus de importância do Fator positivo 2 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 92
Gráfico 16 - Porcentagens dos graus de importância do Fator positivo 3 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 94
Gráfico 17 - Porcentagens dos graus de importância do Fator positivo 4 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 96
Gráfico 18 - Porcentagens dos graus de importância do Fator negativo 1 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 98
Gráfico 19 - Porcentagens dos graus de importância do Fator negativo 2 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 100
Gráfico 20 - Porcentagens dos graus de importância do Fator negativo 3 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 103
Gráfico 21 - Porcentagens dos graus de importância do Fator negativo 4 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 105
Gráfico 22 - Porcentagens dos graus de importância do Fator negativo 5 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 107
Gráfico 23 - Porcentagens dos graus de importância do Fator negativo 6 segundo o grupo de estudo, nos momentos T1 e T2 do tratamento ... 109
Bruno MLM. Três formas de intervenção para a adesão ao tratamento
dietético da obesidade em cardiologia: estudo comparativo [dissertação].
São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2006. 130p.
Trata-se de pesquisa realizada em hospital da rede pública estadual de São Paulo, especializado em cardiologia com pacientes obesos em acompanhamento ambulatorial pelo Serviço de Nutrição e Dietética (SND) dessa instituição. As formas de intervenção nutricional investigadas foram: atendimento individual, em grupo (controle) e grupo multiprofissional (com nutricionista e psicóloga). Na fase preliminar do estudo, realizou-se pesquisa de opinião que possibilitou o embasamento das variáveis analisadas. Na fase principal, os participantes foram divididos em grupos, sendo realizadas duas entrevistas individuais no intervalo de seis meses. Foram investigados apenas os pacientes de alta. Compararam-se os resultados obtidos quanto ao peso corporal, índice de massa corpórea, circunferência do abdome; o acompanhamento dos fatores de risco cardiovascular (hipertensão arterial, diabetes melito, dislipidemias) foi feito através da variação das medidas de pressão arterial e níveis sanguíneos de glicose, triglicérides, colesterol total e frações. Analisaram-se as opiniões sobre as facilidades e dificuldades para seguir as orientações recebidas por meio de instrumento próprio, não validado. No atendimento em grupo, foram obtidos resultados satisfatórios, porém não ideais, e verificou-se que os participantes passaram a valorizar o apoio familiar. No atendimento individual, os participantes conseguiram maior redução da glicemia e triglicérides, porém isso não pode ser atribuído exclusivamente à dieta. No atendimento em grupo multiprofissional, houve mudança de comportamento com valorização desse tipo de atendimento.
Descritores: 1.obesidade/dietoterapia 2.dieta redutora/psicologia 3.avaliação nutricional 4.resultado de tratamento 5.conduta na alimentação 6.doenças cardiovasculares/dietoterapia
xxv
Bruno MLM. Interventional actions directed to compliance with dietetic
management in obesity and cardiology: comparative study [dissertation]. São
Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2006. 130 p.
The study was performed in a cardiology specialty hospital of Sao Paulo state public system with obese outpatients followed up by the Sector of Nutrition and Dietetics of the institution. Nutritional intervention actions that were assessed include: individual visit, group approach (control) and multiprofessional group (including dietitian and psychologist). In the preliminary phase of the study, an opinion survey was performed, which supported many of the studied variables. In the main phase of the study, the participants were divided into groups, and 2 individual interviews were conducted within a 6-month interval. Only patients who had been discharged were assessed. The results concerning body weight, body mass index, abdominal circumference, and follow up of cardiovascular risks (arterial hypertension, diabetes mellitus, dyslipidemia) were compared using variation of blood pressure measures and blood levels of glucose, triglycerides and total and fractioned cholesterol. We also checked whether patients found it easy or difficult to follow the received instructions, using our own non-validated instrument. In the group activities, results were satisfactory but not optimal and participants started to value family support. In the individual approach, participants reached higher reduction of glucose and triglyceride levels, but they could not be explained exclusively by the diet. In the multiprofessional group, there was change in behavior and recognition of multiprofessional approach.
1.1 A OBESIDADE NO BRASIL E NO MUNDO
A obesidade é uma doença crônica cuja prevalência está aumentando
em índices alarmantes no mundo inteiro. Neste início de século XXI,
constata-se uma estatística de dimensão epidêmica cujo índice crescente
não atinge apenas os países considerados de Primeiro Mundo, mas também
aqueles em desenvolvimento, embora existam grandes variações entre os
países e dentro de um mesmo país. (Almeida, 2005; Cormick, 2004; WHO,
2000; WHO, 2002)
A obesidade emergiu como uma epidemia em países desenvolvidos,
durante as últimas décadas do século XX. (Bernardi, 2005)
Os primeiros dados mundiais sobre o aumento da prevalência da
obesidade em adultos foram obtidos pelo Estudo MONICA (Monitoring of
Trends and Determinants in Cardiobascular Disease), no período de 1983 a
1986. Nessa ocasião foram estudadas 48 populações de diversos países e,
apesar da maior parte ser da Europa, a limitação de nacionalidade não
impediu a comparação dos dados obtidos pelo fato de terem sido coletados
Atualmente, a epidemia da obesidade atinge todos os níveis
socioeconômicos e sua incidência vem aumentando também nos países em
desenvolvimento. (Bernardi, 2005)
Estudos prévios recentes apontavam para a prevalência no mundo
todo de um bilhão de adultos com excesso de peso, dos quais trezentos
milhões com diagnóstico de obesidade. (WHO, 2003)
Dados atualizados, fornecidos pela Força Tarefa Internacional de
Combate à Obesidade (IOTF) - programa de colaboração existente entre a
Associação Internacional para o Estudo da Obesidade (IASO) e a
Organização Mundial de Saúde (OMS) -, estimam que tenha aumentado
para 1,7 bilhões o número de indivíduos com excesso de peso no mundo
todo. Isso indica que a maioria dos governos tem ignorado um dos maiores
riscos à saúde e que afeta a população mundial. (Deitel, 2003)
Nos Estados Unidos, tem-se observado um crescimento dramático
nos casos de obesidade, tanto em adultos quanto em crianças, nos últimos
dez anos. Os primeiros sinais de alerta foram emitidos pelo National Center
for Health Statistics (NCHS) em 1994, através da divulgação dos dados dos
três anos iniciais do estudo National Health and Nutrition Examination
Survey (NHANES). Esses pesquisadores, nas fases que se seguiram,
observaram um aumento da prevalência da obesidade em adultos de 22,9%
a 30,5%. (Poirier, 2006; Nemerson, 2004)
A prevalência da obesidade na Europa está em torno de 10 a 20% em
50% das pessoas apresentam excesso de peso ou obesidade. (13th
European Congress on Obesity, 2004)
Estudos epidemiológicos realizados com populações
latino-americanas também apresentam dados alarmantes. Em países como a
Argentina a prevalência da obesidade é de 27% e no Peru, de 12%. No
Uruguai, 13% dos homens e 26% das mulheres são considerados obesos.
(Consenso Latino-Americano de Obesidade, 1998)
No Brasil, a prevalência do excesso de peso e obesidade na
população adulta é um problema que alcança grande expressão em todas as
regiões do país, no meio urbano e rural, e em todas as classes sociais.
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 2002 e
2003, em âmbito nacional, cerca de 40% dos indivíduos adultos do país
apresentam excesso de peso, sendo que 8,9% dos homens e 13,1% das
mulheres são obesos. (IBGE, 2006)
1.2 CAUSAS DA EPIDEMIA DE OBESIDADE
A epidemia crescente é representativa das mudanças negativas no
estilo de vida, dentro do contexto da sociedade moderna. Fatores ambientais
e comportamentais, particularmente o declínio da atividade física no lazer e
no trabalho, associados a um maior consumo de alimentos ricos em gordura
e calorias, ocasionaram a elevação da obesidade que atinge índices muito
Estudo transversal de base populacional, realizado entre 1974 e
1989, no município de Pelotas, Rio Grande do Sul, com indivíduos entre 20 e
69 anos de idade, demonstrou prevalência de 21% de obesidade, a qual se
mostrou significativamente mais elevada em mulheres do que em homens
(25% e 15%, respectivamente). Os resultados indicaram que os
determinantes dessa patologia são diferentes de acordo com o gênero.
(Gigante, 1997)
No mesmo estudo, observou-se associação inversa entre obesidade e
nível de escolaridade, ou seja, as pessoas com maior escolaridade eram
significativamente menos obesas. Apesar de tal achado, não se encontrou
associação entre obesidade e outras variáveis econômicas, como renda
familiar e classe social. (Gigante, 1997)
Para alguns autores, a principal causa para o aumento da prevalência
de obesidade nas populações seria o incentivo crescente de fatores
ambientais obesogênicos, o qual teria mais influência que a genética
individual ou defeitos metabólicos. O impacto ambiental atual na promoção
da obesidade é definido por diversos autores como uma soma de influências
que cercam o indivíduo ou populações. Em relação aos alimentos, isso se
refere à enorme oferta de produtos prontos para o consumo, encontrados
em supermercados, restaurantes, escola e trabalho. O acesso cada vez
maior a esses alimentos relativamente de baixo custo, práticos, saborosos e
de grande concentração calórica, combinado com o aumento do tamanho
casa, tem contribuído para o ambiente obesogênico. Tal fato sugere que a
obesidade não poderá ser controlada enquanto não se tiver o controle do
fator ambiental, responsável pela epidemia. (Cormick, 2004; Wansink, 2005)
No Brasil, a tendência de evolução dos padrões de consumo
alimentar nas últimas três décadas nas áreas metropolitanas do país indica
persistência de um teor excessivo de açúcar na dieta e aumento no aporte
relativo de gorduras em geral e de gorduras saturadas, não evidenciando
qualquer tendência de superação dos níveis insuficientes de consumo de
frutas e hortaliças. (IBGE, 2006)
1.3 OBESIDADE E DOENÇAS CARDIOVASCULARES
A obesidade, com grande freqüência, está associada a condições
como dislipidemias (DLP), diabetes melito (DM) e hipertensão arterial (HA),
as quais lesam o sistema vascular e favorecem a ocorrência de eventos
cardiovasculares, em particular os coronarianos. (Zanella, 2005)
O National Cholesterol Education Program (NCEP), a American Heart
Association (AHA), a Sociedade Européia de Cardiologia e a Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC) têm assinalado a implicação fundamental da
obesidade, da dieta e da inatividade física no risco cardiovascular. (Castro,
2004)
A relação entre o grau de obesidade e a incidência de DCV foi
em 5209 homens e mulheres participantes do Estudo de Framingham. As
conclusões desse estudo, relativas a um período de 26 anos, revelaram que
a obesidade é um fator de risco independente para a ocorrência de DCV,
principalmente em mulheres. (Zanella, 2005)
O reconhecimento da distinção entre o conceito de FR (agente
causal) e marcador de risco (MR) (associação com maior risco, porém sem
causalidade estabelecida) é fundamental para o estabelecimento de
estratégias de prevenção das DCV. (Castro, 2004)
Estudos longitudinais têm demonstrado, de forma consistente,
aumento do risco de mortalidade por doença coronária em indivíduos com
uma história de grande variabilidade em seu peso corporal. Tal achado é
validado mesmo quando se realiza o ajuste para a idade e outros fatores de
risco cardíaco conhecidos, embora não esteja esclarecida a sua
fundamentação. (Hart, 2005)
Em um estudo brasileiro sobre prevalência de obesidade, realizado na
região sul do país entre 1974 e 1989, hipertensos e diabéticos apresentaram
risco 2,6 vezes maior de serem obesos do que aqueles que não referiram
essas patologias. (Gigante, 1997)
A epidemia de obesidade é a maior responsável por várias doenças
não comunicáveis, e suas implicações na saúde pública incluem a redução
na qualidade de vida, aumento do risco de doenças cardiovasculares (DCV),
tipo2 (DM), doenças da vesícula biliar, problemas ortopédicos e morte
prematura. (Cormick, 2004; Cooper, 2001)
No ano de 2003, foram registrados no Brasil 274.068 óbitos por
doenças do aparelho circulatório, classificação em que estão incluídas as
doenças hipertensivas, as doenças isquêmicas do coração, como o infarto
agudo do miocárdio, as doenças cerebrovasculares e a aterosclerose.
(Ministério da Saúde, 2006)
Esse conjunto de doenças foi responsável por 85.526 das internações
hospitalares que ocorreram em nosso país, no mês de fevereiro de 2006. Só
na região sudeste, registraram-se 38.466 hospitalizações, sendo a taxa de
mortalidade de 8,31 no mesmo período. (Ministério da Saúde, 2006)
Ainda que não se encontrem disponíveis resultados de estudos
epidemiológicos mostrando que o tratamento efetivo da obesidade diminui o
risco de ocorrência de eventos cardiovasculares, não existem dúvidas de
que a redução de peso é efetiva para combater os demais fatores de risco.
Desse modo, o combate à obesidade parece indispensável para a
prevenção de DCV. (Zanella, 2005)
1.4 CONCEITO
A obesidade é definida como uma condição de acúmulo excessivo de
gordura no tecido adiposo, numa extensão tal que possa ocasionar prejuízos
peso. Entretanto, indivíduos obesos diferem entre si não somente quanto ao
excesso de tecido adiposo estocado, mas também na distribuição regional
da gordura pelo corpo. (WHO, 2000)
A gordura corporal pode apresentar a seguinte distribuição:
• andróide/central - excesso de gordura corporal na região troncular
e abdominal, principalmente no compartimento visceral;
• ginecóide/periférica - excesso de gordura na região glúteo-femoral;
• mista - apresenta aumento difuso do tecido adiposo sem uma
localização particular. (Halpern, 2002)
1.5 CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DA OBESIDADE
•
•
•
•
Obesidade por desbalanço nutricional: ocasionadas por dietas
com alto teor de gorduras saturadas, ingestão de guloseimas.
Obesidade por inatividade física: resultante do sedentarismo,
incapacidade física, avanço da idade.
Obesidade secundária a doenças endócrinas: como por
exemplo, a doença hipotálamo-hipofisária, síndrome de Cushing,
hipotireoidismo, entre outras.
Obesidade secundária a drogas: como por exemplo os
• Obesidade genética: sindrômicas e não-sindrômicas. (Halpern,
2002)
A obesidade se desenvolve como resultado de um desequilíbrio
energético crônico, na qual o consumo contínuo mais elevado de calorias é
responsável pela manutenção do estado de obesidade. Fatores biológicos
(incluindo a genética), comportamentais e ambientais interagem na
regulação do balanço energético e na manutenção das reservas de gordura.
Dietas com alta densidade calórica, adoção de um estilo de vida sedentário
e transtornos alimentares são considerados como importantes fatores de
risco para o desenvolvimento da obesidade. (13th European Congress on
Obesity, 2004)
Devido à sua etiologia multifatorial, é difícil mensurar a força de cada
uma das variáveis envolvidas no processo de ganho excessivo de peso. A
obesidade é uma doença de difícil controle, com altos percentuais de
insucessos terapêuticos e de recidivas, podendo apresentar sérias
repercussões orgânicas e psicossociais, especialmente nas formas mais
graves. (Bernardi, 2005)
Pesquisas recentes na área do metabolismo mostram que o adipócito
é capaz de sintetizar várias substâncias e, diferentemente do que se
supunha antes, o tecido adiposo não é apenas um sítio de armazenamento
de triglicérides, mas é, hoje, considerado um órgão endócrino. (Romero,
A leptina, produzida e secretada exclusivamente por adipócitos
diferenciados e carreada por proteínas circulantes, é um hormônio que
exerce uma função importante na regulação do apetite e do gasto
energético. Pequenas variações da gordura corpórea determinam grandes
variações em seus níveis. A porcentagem de leptina livre é maior em obesos
do que em indivíduos magros, demonstrando seu papel na regulação do
peso corporal. (Costa, 2001; Houseknecht, 2003)
Há maior incidência de obesidade entre os consumidores habituais de
alimentos ricos em lipídios do que entre consumidores de alimentos com
baixo teor do referido nutriente. Há evidências de que a gordura dietética
pode enfraquecer a regulação da energia consumida, isto é, refeições ricas
em lipídios reduzem os níveis de leptina no plasma, o que pode
desencadear a liberação desse neuropeptídio, que tem o papel de aumentar
a ingestão alimentar. Conseqüentemente, o consumo de alimentos ricos em
lipídios contribui diretamente para o equilíbrio energético positivo por
aumentar a fome e quantidade de energia consumida, o que conduzirá ao
ganho de peso. (Bernardi, 2005)
Além dos avanços no estudo da célula adiposa, um novo hormônio
relacionado com o metabolismo foi descoberto recentemente, a grelina.
Trata-se de um peptídio produzido nas células do estômago e está
diretamente envolvida na regulação do balanço energético a curto prazo.
crônicas do estado nutricional, encontrando-se reduzidos na obesidade.
(Romero, 2006)
1.6 DIAGNÓSTICO DA OBESIDADE
Para o diagnóstico da obesidade, a OMS recomenda a utilização da
relação peso-estatura, denominada de Índice de Massa Corporal (IMC). Sua
medição oferece baixa margem de erro. Tem o inconveniente de não
distinguir o aumento de gordura ou músculo, ainda que, com ele, tenhamos
a melhor correlação entre peso e massa de gordura (grau de correlação
0,7 - 0,8) Ademais, o IMC não fornece informação sobre a distribuição de
gordura corporal. (Castro, 2004; Departamento de Aterosclerose, Cardiologia
Clínica e FUNCOR SBC, 2002)
O cálculo do IMC é realizado utilizando-se o peso em quilogramas
dividido pela altura em metros ao quadrado. À medida que o IMC aumenta, o
mesmo ocorre com o risco do desenvolvimento das co-morbidades
relacionadas com a obesidade, como DM, HAS, DLP, entre outras (Quadro
Quadro 1 – Relação do índice de massa corporal e classificação do risco de co-morbidades
IMC (kg/m2) Classificação Risco de co-morbidade
<18,5 Baixo peso Outros problemas clínicos 18,5 – 24,9 Normal Ausente
25,0 – 29,9 Pré-obeso Aumentado 30,0 – 34,9 Obesidade grau I Moderado 35,0 – 39,9 Obesidade grau II Grave
≥ 40,0 Obesidade grau III Muito grave
(WHO, 2000; Halpern, 2002)
A medida da circunferência do abdome (CA) é um critério que avalia a
distribuição da gordura corporal caracterizando o tipo de obesidade. É um
indicador aproximado da gordura abdominal e da distribuição da gordura
corporal total, por meio do qual se identificam os riscos de complicações
metabólicas associadas à obesidade. A CA é medida no meio da distância
entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior e, além de ser o índice
antropométrico mais representativo da gordura abdominal, é de aferição
simples e reprodutível. Recomenda-se, para mulheres com CA entre
80-88 cm e homens entre 94-102 cm, uma monitorização mais freqüente dos
fatores de risco para doenças coronarianas. (Sociedade Brasileira de
Hipertensão/Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia/Sociedade Brasileira de Diabetes/ Associação
Estudo realizado em uma amostra da população do Município de São
Paulo, no estado de São Paulo, composta por 1042 indivíduos adultos,
mostrou associação forte entre a medida da circunferência do abdome (CA)
com a idade, gênero e sedentarismo, tendo as mulheres apresentado maior
risco de obesidade centralizada. A CA associou-se de modo significativo
com a hipertensão arterial isoladamente, com a hipercolesterolemia e com a
presença concomitante de alterações ligadas à síndrome metabólica.
(Martins, 2003)
1.7 SÍNDROME METABÓLICA
A Síndrome Metabólica (SM) compreende, na sua definição, doenças
crônicas como a HA, DM e DLP que, isoladamente, apresentam controle
pouco satisfatório devido à baixa adesão ao tratamento. É um transtorno
complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular,
usualmente relacionado com a deposição central de gordura e com a
resistência à insulina. É importante destacar a associação da SM com a
doença cardiovascular, aumentando a mortalidade geral em cerca de 1,5
vezes e a cardiovascular em cerca de 2,5 vezes. (Sociedade Brasileira de
Hipertensão, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia, Sociedade Brasileira de Diabetes, Associação
Brasileira para Estudos da Obesidade, 2004)
A SM tem sido associada ao aumento de incidência do diabetes tipo 2
epidemia da obesidade e com as características do mundo ocidental, como a
ingestão excessiva de gordura e a inatividade física, contribuem
significativamente para o aumento da morbimortalidade. (Sharovsky, 2005)
Dentre todos os fatores de risco que fazem parte da SM, a presença
de sobrepeso/obesidade aparece como o mais importante, em especial nos
Estados Unidos, onde sua prevalência aumentou de duas a quatro vezes,
particularmente entre os afros e latino-americanos. (Brandão, 2005)
1.8 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA OBESIDADE
Pode haver relação entre a lógica cultural do consumismo e o
aumento da prevalência mundial da obesidade. Vivemos numa sociedade de
consumo que promete e exibe, através dos meios de comunicação, um
mundo sem frustrações e de prazer contínuo. (Perez, 2003)
A obesidade pode ser causa de sofrimento, depressão e de
comportamentos de esquiva social, os quais prejudicam a qualidade de vida.
(Ades, 2002)
Na medicina, a possibilidade da obesidade ser um sintoma de
distúrbio emocional foi discutida, em primeiro lugar, na literatura francesa do
século XIX, quando se atribuiu o desenvolvimento da obesidade a eventos e
períodos de grande estresse emocional.No dias atuais, o efeito negativo da
obesidade sobre a sensação de bem-estar geral se potencializa com as
implicações estéticas são, freqüentemente, o motivador maior na procura do
tratamento. (Loli, 2000)
Pessoas obesas são estigmatizadas e discriminadas em várias áreas,
como a profissional e a social, e até na interação com os profissionais de
saúde. Ao contrário do que ocorre com outros grupos que sofrem com essa
influência negativa, o preconceito contra o obeso é aceito e estimulado no
nosso meio. (Wang, 2004)
O estresse também é apontado como fator que pode estar associado
à obesidade, pois altera mecanismos tanto fisiológicos como psicológicos.
As alterações fisiológicas, no caso, reportam-se às alterações dos níveis de
cortisol, associadas ao aumento da obesidade abdominal. Uma de suas
conseqüências é o fato de criar condições psicológicas desfavoráveis para a
manutenção de hábitos de vida saudáveis. (Perez, 2004)
Em relação ao obeso que também é cardiopata, percebe-se uma
interferência real no emocional de uma pessoa que adoece do coração,
influenciada pela carga simbólica atribuída a esse órgão. Observa-se uma
mitificação do coração por toda a sociedade, pois, considerado como fonte
de vida, seu adoecimento é vivido como uma ameaça à integridade e à
1.9 TRATAMENTO DA OBESIDADE
Pessoas com diagnóstico de pré-obesidade (IMC de 25 a 29 kg/m2) e
dois ou mais fatores de risco cardiovasculares, bem como aquelas com
obesidade grau I (IMC de 30 a 34), devem reduzir 500kcal/dia na ingestão
calórica. Esse déficit de energia resultará em perda aproximada de
0,5 kg/semana e cerca de 10% do peso inicial em seis meses. Pessoas com
obesidade grau II (IMC de 35 a 39) ou III (IMC acima de 40) devem
direcionar o tratamento para déficits calóricos mais agressivos (500 a 1000
kcal/dia) para conseguir perder cerca de 500g a 1 kg/semana e atingir cerca
de 10% de perda de peso em um período de seis meses. (Zanella, 2005)
Se por um lado as dietas para redução de peso representam a base do
tratamento da obesidade, estas apresentam uma grande variedade em
relação ao valor calórico preconizado e composição nutricional, sendo que a
efetividade e a segurança das mesmas é incerta, principalmente quanto à
perda de peso a longo prazo e aos efeitos benéficos sobre as doenças e os
fatores de risco associados. Em uma revisão sistemática realizada com o
objetivo de verificar estes aspectos mencionados, os autores encontraram
poucos estudos randomizados controlados comprovando o efeito positivo do
uso de dietas para redução de peso em adultos. Embora o exercício físico
e/ou intervenções comportamentais sejam freqüentemente associados às
dietas de emagrecimento, são necessárias mais informações sobre a
efetividade destas. Em vista do aumento da prevalência da obesidade,
consideraram ser necessária a realização de novos estudos randomizados
controlados, que avaliem o efeito destas dietas mais amplamente. Estes
recomendaram ainda que além da continuidade, estes novos estudos devem
ter poder estatístico para examinar os benefícios à saúde a longo-termo e à
qualidade de vida, assim como sobre os fatores de risco e as mudanças do
peso. (Avenell, 2004)
Considera-se que aproximadamente 75% do peso perdido com a
dieta é composto de gordura e 25% de massa magra. A associação da
atividade física a um programa de emagrecimento pode diminuir a
porcentagem de massa magra perdida pela metade. Além disso, a perda de
peso resulta de uma diminuição do tamanho das células adiposas, e não de
um decréscimo de seu número. A distribuição da gordura eliminada é
heterogênea, com maior redução da gordura visceral em relação à gordura
total do corpo. (Klein, 2004)
Doenças crônicas, como a obesidade, requerem treinamento especial
do paciente para sua reabilitação, ou podem requerer um longo período de
supervisão, observação e cuidado. (WHO, 2003)
A obesidade é uma condição complexa, com etiologia multifatorial
evasiva à intervenção. As opções de tratamento convencional nem sempre
levam ao sucesso e a manutenção da perda de peso por um longo prazo é
rara. Nos Estados Unidos, o Protocolo Nacional Controle de Peso (NWCR)
que avalia a perda de peso e as estratégias de sucesso de manutenção do
que a média de redução de peso dos participantes é de 30 kg, e que a
média de manutenção deste peso reduzido é de 5,5 anos. (Nemerson, 2004)
Estima-se que, atualmente, um em cada três adultos nos Estados
Unidos está tentando perder peso. As tentativas de emagrecimento,
entretanto, freqüentemente resultam em fracasso. No prazo de cinco anos, a
maior parte recuperará o peso perdido e, depois de cinco anos, o peso inicial
será excedido. (Knauper, 2005)
O controle e tratamento da obesidade têm objetivos mais amplos que
a diminuição do peso em si, e incluem redução do risco e melhora da saúde.
Isso pode ser alcançado mesmo com perda modesta de peso, com melhora
do conteúdo nutricional da dieta e discreto aumento da atividade e aptidão
física. Dado que a obesidade é uma doença crônica, a manutenção do peso
necessita ser feita por toda a vida. (Cormick, 2004)
Mesmo considerando que os tratamentos existentes para a obesidade
estão aquém do ideal, uma redução modesta entre 5% e 7% do peso
corporal, associada ao aumento da atividade física, pode ter um efeito
positivo sobre a saúde do paciente. (Kuehn, 2005)
Nos últimos anos, tem-se tornado cada vez mais claro que uma perda
de peso, ainda que modesta, está associada a significativos benefícios para
a saúde. Uma redução de 5 a 10% do peso corporal é acompanhada por
uma melhora clínica importante do colesterol, pressão sanguínea, glicemia e
outros índices de saúde. Existe evidência de que tais benefícios se perdem
tratamento da obesidade tenham como meta essa porcentagem de redução
de peso. (Cooper, 2001)
1.10 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES RELEVANTES NA AVALIAÇÃO
DA ADESÃO
A adesão é uma variável que mede o nível de participação do
paciente em seu tratamento, seguindo as orientações de um profissional da
saúde. Não é uma questão fácil de ser estudada, pois não existe um padrão
ouro que possa medi-la. Os especialistas concordam que o comportamento
de adesão deve ser medido como uma variável contínua, preferivelmente à
sua categorização como aderente ou não aderente, para garantir que sejam
adequadamente observadas todas as variações de caráter comportamental.
(WHO, 2003)
A despeito das variações individuais quanto à adesão, não existe
evidência de uma personalidade aderente ou não aderente.Talvez seja mais
adequada a visão da adesão como uma variável contínua, mais do que
dicotômica, em razão das dificuldades inerentes à avaliação da adesão,
definições heterogêneas, critério de categorização e variações temporais.
(Brownell, 1995)
Para avaliar a adesão, devem ser empregados padrões de confiança
e validade. Devem ser levados em consideração os objetivos do
recursos disponíveis, a resposta esperada do paciente e como os resultados
serão usados. Uma estratégia para avaliar a adesão com uma única medida
não se tem mostrado adequada. A tendência atual, recomendada na
avaliação da adesão comportamental, é um método múltiplo que combine
um relato pessoal prático e medidas objetivas razoáveis. (WHO, 2003)
Embora seja um pré-requisito aos cuidados clínicos, a adesão aos
tratamentos é, com freqüência, inconsistente. Estimativas de não adesão em
pacientes ambulatoriais vão dos 20 aos 82%. (Robiner, 2005)
1.11 ADESÃO AO TRATAMENTO DIETÉTICO DA OBESIDADE
A adesão é um processo dinâmico e contínuo em que se deve
reconhecer a existência de um componente motivacional. A adesão ao
tratamento é uma conquista árdua, e o primeiro passo recomendado nessa
direção é a concordância do paciente com as condutas propostas. (WHO,
2003; Martins, 2005; Mihalko, 2004; Robiner, 2005)
A intervenção nutricional tem como objetivo auxiliar no tratamento e
prevenção de doenças, na proteção e promoção de uma vida mais saudável,
conduzindo ao bem-estar geral de um indivíduo. A educação ou
aconselhamento nutricional é um processo que objetiva mudança de
comportamento, e não apenas a melhora do conhecimento sobre nutrição.
Essa mudança deve ser específica em relação às necessidades e à situação
A realidade das possibilidades de tratamento do paciente obeso
freqüentemente entra em conflito com as expectativas do paciente. Os
pacientes quase sempre têm um ponto de vista cosmético, com objetivos
que vão muito além dos factíveis 5 a 15% de perda de peso que levam à
melhora da maior parte das co-morbidades associadas à obesidade. Embora
um ideal de sucesso seja o retorno do peso corporal à faixa normal, isso
raramente é conseguido. Esses pontos devem ser claramente discutidos
com o paciente para se aumentar a adesão ao tratamento e evitar que graus
razoáveis de sucesso no tratamento sejam interpretados como falhas.
Portanto, resultados abaixo de 5%, com recuperação do peso, podem ser
considerados insatisfatórios e perdas maiores que 15%, com manutenção do
peso, são excepcionais. (Halpern, 2002)
Os profissionais que informam, constroem parcerias e fornecem
suporte emocional, têm melhores resultados do que aqueles que não
interagem nesse sentido. (WHO, 2003)
Fatores psicológicos que influenciam a adesão à dieta compreendem:
a percepção individual do risco, os benefícios obtidos com a mudança na
dieta, a confiança de que a mudança necessária pode ser feita, e o papel
simbólico e real que o alimento representa na vida da pessoa. (Cooney,
2005)
Nas doenças crônicas, a aceitação da doença irá ocorrer de acordo
com as variáveis de personalidade, representação da doença, tratamentos e
paciente irá lidar com sua doença, bem como na capacidade de tolerar
frustrações que, mesmo sob rigorosa aceitação e adesão ao tratamento,
poderá ocorrer por causa da cronicidade de sua doença. A adesão ao
tratamento do paciente crônico inclui ainda três componentes principais: a
idéia da cura ou de melhora e o lugar do profissional no imaginário do
doente. (Ragozini, 2005)
Não só os fatores psicológicos, mas também os ambientais, culturais
e comportamentais exercem influência sobre aquilo que os indivíduos tentam
mudar em seus hábitos alimentares. Dada a complexa interação entre esses
fatores, o processo educacional sozinho raramente produz mudanças. Para
desenvolver propostas compreensivas para o manuseio dietético, os
profissionais devem integrar teoria e informação prática. (Fuster, 2001)
As intervenções direcionadas para as mudanças na alimentação
devem considerar a dieta típica da população em questão e lidar com os
obstáculos culturais existentes que impeçam o consumo dos alimentos
apropriados. (Cooney, 2005)
Os baixos índices de sucesso entre os indivíduos que querem
emagrecer podem ser parcialmente atribuídos a estratégias ineficientes e à
falta de habilidade para aderir a estratégias efetivas a longo termo. As
campanhas de saúde pública deveriam não só educar a população sobre
como perder peso (reduzindo calorias e praticando exercícios), mas também
enfatizar a importância da adesão a longo prazo a essas regras. (Knauper,
Alguns autores consideram que a manutenção do peso corporal
intencionalmente reduzido implica, no mínimo, em um período subseqüente
de seis meses de controle deste.(Elfhag, 2005)
O sucesso na manutenção do peso está relacionado com uma perda
de peso inicial maior, com o alcance do peso corporal objetivado, com a
manutenção de um estilo de vida fisicamente ativo, com um ritmo regular
nas refeições e um padrão de alimentação mais saudável, incluindo controle
dos excessos alimentares e automonitoramento dos impulsos para exceder
nas quantidades. A manutenção do peso também está associada com
motivação interna para perder peso, suporte social, autonomia, capacidade
para assumir responsabilidades na vida e, acima de tudo, estabilidade
psicológica. Fatores de risco para a manutenção do peso adequado incluem
história de ciclos de perda e ganho de peso, transtornos alimentares, como o
comer compulsivo, apetite excessivo, o comer em resposta a emoções
negativas e estresse, e reações passivas a problemas. (Elfhag, 2005)
Para a adesão ao tratamento da obesidade, é fundamental a
conscientização a respeito da doença e suas implicações, dos mecanismos
defensivos e de quanto o próprio indivíduo resiste à implicação com a tarefa
de emagrecimento. (Anaruma, 1995)
Sabe-se que a adesão, mais do que o tipo de dieta, é a chave
determinante dos benefícios clínicos, estando a redução dos fatores de risco
Estudo comparativo sobre o efeito de quatro tipos de dietas na
redução do peso e do risco de doença cardíaca evidenciou baixos índices de
adesão, independentemente do tipo de dieta, com resultados modestos para
cada grupo como um todo. Os autores sugerem a realização de novas
pesquisas, identificando técnicas práticas para aumentar a adesão, incluindo
aquelas que combinam dietas adaptadas às preferências individuais por
determinados alimentos, estilo de vida e condições médicas. (Dasinger,
2005)
1.12 IMPACTO E CAUSAS DA BAIXA ADESÃO
A adesão é considerada um dos principais desafios na assistência
médica e nutricional. Para alguns autores, sempre que o paciente não atinge
os objetivos do tratamento deve ser verificada a adesão. Características
individuais, como idade, gênero, raça, inteligência e educação, não deveriam
ser consideradas causas da falta de adesão, mas, sim, o alto custo, longa
duração e alta complexidade dos tratamentos. (WHO, 2003; Mihalko, 2004;
Roniner, 2005)
O impacto da baixa adesão cresce com o aumento das doenças
crônicas no mundo. Estima-se que cerca de metade dos portadores de
algum tipo de desordem crônica apresente baixa adesão, de tal forma que
os benefícios à saúde, propiciados pelo tratamento clínico, não são
atingidos. Isso significa um desafio para a educação do paciente e para o
Em países desenvolvidos, a adesão a terapias de longo termo na
população em geral está em torno de 50%, e é muito mais baixa em países
em desenvolvimento. O impacto da baixa adesão nesses países é muito
grande pela escassez dos recursos e pela dificuldade de acesso aos
cuidados em saúde. Nas populações pobres, a baixa adesão resulta em
desperdício e má utilização dos já limitados recursos da saúde. (WHO, 2003)
Considera-se que a não adesão à dieta para redução de peso está
em torno de 50% ou mais, com poucas pessoas conseguindo manter o peso
reduzido. O abandono do tratamento é observado muito precocemente e os
índices de baixa adesão tendem a aumentar no decorrer do tempo. Assim, a
atenção deve ser direcionada não só para a adoção do tratamento, como
também para sua manutenção a longo termo. (WHO, 2003)
1.13 MEDIDAS PARA ASSEGURAR A ADESÃO
Medidas que incentivem a adesão devem compor as mudanças
necessárias para melhorar a saúde das populações. Existe uma forte
evidência de que programas autogerenciados, oferecidos aos pacientes com
doenças crônicas, como a obesidade, melhoram o estado de saúde e
reduzem a utilização dos recursos e dos custos. Tem sido observada
significativa melhora nos padrões de comportamento promotores de saúde,
quando programas de autogerenciamento e de adesão são combinados com
Para melhorar a adesão, várias estratégias foram validadas em
ensaios clínicos aleatorizados. Compreendem instruções exatas,
preferivelmente por escrito, em tratamentos a curto prazo. A longo prazo,
incluem combinações de maior atenção e supervisão, como: assistência
mais conveniente, informação exata sobre o esquema de tratamento,
aconselhamento, lembretes, automonitorização, reforço e apoio familiar.
Para alguns autores, nenhuma delas leva à grande melhoria. (Sackett, 2003)
A adesão imprópria pode ser também associada à falta de
compreensão de regimes e condições subjacentes, falta de crença no
tratamento, desestruturação familiar, negação da doença, problemas
psicológicos, comunicação problemática com a equipe de saúde e fatores do
sistema de saúde. (Perez 2003)
A busca de qualidade de vida dá motivação ao paciente com doença
crônica para aderir ao tratamento, mas a adesão pode ser prejudicada pela
complexidade do tratamento. Para entender a interface entre adesão e o
conceito de qualidade de vida, é necessário, primeiramente, compreender o
paciente com todas as suas expectativas pessoais, suas características de
personalidade e seus mecanismos de defesa, os quais norteiam sua relação
com os outros e com o meio. (Perez, 2003; Romano, 2001)
Sem considerar a realidade do paciente, ou seja, sua atividade
ocupacional, suas rotinas, seus horários, sua disponibilidade financeira, seus
dificilmente se alcança um bom nível de adesão ao tratamento. (Carvalho,
2005)
1.14 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO CARDIOPATA OBESO
O Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (INCOR HCFMUSP) presta
atendimento a cardiopatas, sendo que aproximadamente 80% dos pacientes
pertencem ao Sistema Único de Saúde (SUS). O atendimento em sua
unidade ambulatorial, mais especificamente no Ambulatório Especializado,
atingiu, em 2005, um total de 135.649 consultas médicas, segundo dados da
Unidade de Informações Médicas e Hospitalares (UIMH).
O Serviço de Nutrição e Dietética (SND) do INCOR, através da Seção
de Assistência Nutricional a Pacientes Externos (SANPE), atende aos
pacientes do SUS encaminhados pelos médicos das diversas equipes do
Ambulatório Especializado. Um total de quatro nutricionistas atua nessa
seção, das quais uma é a encarregada do serviço. As atividades são
desenvolvidas de segunda à sexta-feira, 8:00 às 17:00 horas. A Unidade de
Atendimento ao Paciente Ambulatorial (UAPA) é a responsável pelo
agendamento das consultas na SANPE.
No ano de 2005, foram atendidos 9.490 pacientes, dos quais 7.150
(75,34%) receberam orientação nutricional para realizar dieta hipocalórica.
Do total, 127 (2%) necessitavam exclusivamente emagrecer e os demais
de risco (FR) cardiovascular (DM, HAS, DLP) associados, necessitando de
orientações mais complexas.
O atendimento na SANPE é feito individualmente ou em grupos
específicos. No INCOR, o atendimento ambulatorial em grupo
multiprofissional é prática que vem sendo estimulada e tem crescido nos
últimos anos em função da necessidade de uma abordagem mais completa
do doente. Desse modo, a SANPE desenvolve modalidades de atendimento
exclusivas ou em conjunto com outros serviços da instituição.
Entre as modalidades de atendimento existentes, três tipos
despertaram interesse para a pesquisa, e serão caracterizados a seguir.
1.14.1 Atendimento em grupo
É considerada a principal modalidade de atendimento da SANPE do
SND INCOR. É executada por nutricionista. Foi instituída não só para
satisfazer a alta demanda, mas também visando a troca de experiência entre
os pacientes. São organizados 14 grupos por semana, sendo agendados
dez pacientes por grupo. As atividades, com duração de cerca de duas
horas, compreendem o exposto abaixo.
• Verificar no prontuário do paciente o diagnóstico clínico e os
resultados de exames laboratoriais diversos de acordo com o caso, e
paciente tem conhecimento do motivo do encaminhamento médico à
SANPE.
• Realizar avaliação antropométrica, mensurando peso, altura e medida
da CA. Calcular o IMC, avaliar a CA e classificar o paciente, segundo
seu estado nutricional e nível de assistência nutricional. (Cardoso
1997)
• Entregar a cada paciente, de acordo com sua doença, impressos
(fôlderes) de orientação nutricional da(s) dieta(s) explicando como
devem ser utilizados.
• Definir se há necessidade de retorno para reforço (de acordo com o
caso e a disponibilidade de vaga), de encaminhamento ao
atendimento individual, a outros grupos ou se será dada alta da
SANPE (Figura 1).
• Realizar exposição teórica sobre alimentação equilibrada e orientar
a(s) dieta(s) para o controle do peso (1200, 1500 ou 1800 calorias),
da HA, do DM, da hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, conforme
a necessidade dietoterápica. O recurso visual utilizado é um painel
seriado (flip-chart), com frases e figuras de alimentos.
• Dar espaço para a resolução de dúvidas levantadas pelos pacientes e
outras manifestações.
Finalmente, fazem-se registros nos prontuários dos pacientes
utilizando-se recurso de informática, adquirido pelo SND (Sistema Teknisa).
Além da avaliação nutricional, dos exames laboratoriais, da PA, dos
conter a prescrição dietética e o destino do paciente (retorno, alta ou
encaminhamento para grupo específico). (Figura 1)
Critérios de encaminhamento
• Alta: se os resultados dos exames laboratoriais e da PA estiverem
dentro ou próximos da faixa de normalidade. Em acréscimo, se o
paciente demonstrar boa compreensão das orientações recebidas e
condições para segui-las sem acompanhamento do nutricionista, de
acordo com a avaliação do nutricionista.
• Grupo Informativo de Obesidade (GIO): se o paciente,
espontaneamente ou quando questionado, manifestar nervosismo
e/ou ansiedade associada à compensação alimentar, desde que o
IMC seja maior ou igual a 30 kg/m2.
• GDM: se o paciente apresentar DM, e for avaliado que o mesmo está
apresentando dificuldade para controlar sua glicemia, ele será
encaminhado a esse grupo específico para diabéticos, que não foi
diretamente pesquisado no presente estudo. Se necessário, depois
de passar por esse grupo, o paciente poderá ser encaminhado ao
atendimento individual, caso não o tenha sido, quando passou pelo
atendimento em grupo.
• Atendimento individual: recebe preferencialmente os pacientes com
grau III de obesidade, ou graus I e II associados a co-morbidades,
que dependem também da avaliação feita pelo nutricionista, de
acordo com as características de cada caso.
ATENDIMENTO EM GRUPO ATENDIMENTO INDIVIDUAL (CASO NOVO) ATENDIMENTO NO GIO ATENDIMENTO NO GDM SEGUIMENTO RETORNO OUTRAS FORMAS DE ATENDIMENTO EM GRUPO ALTA DA
SANPE FORMAS DE OUTRAS ATENDIMENTO RETORNO ALTA DA SANPE RETORNO EM GRUPO OUTRAS FORMAS DE ATENDIMENTO ALTA DA SANPE ATENDIMENTO INDIVIDUAL ALTA DA SANPE ALTA DA SANPE ALTA DA SANPE
Figura 1 – Esquema de atendimento dos pacientes na SANPE
1.14.2 Atendimento individual
Os atendimentos individuais são realizados uma vez por semana. São
agendados pela UAPA vinte pacientes por dia, sendo dez casos novos e dez
seguimentos. A finalidade desse tipo de atendimento é possibilitar um
enfoque mais preciso e individualizado do paciente, visando a beneficiá-lo
Procedimentos na consulta:
• Preenchimento de impresso padronizado da SANPE, o qual é
anexado ao prontuário, com os dados pessoais, clínicos e
laboratoriais do paciente: data de nascimento, gênero, diagnóstico e
exames realizados.
• Avaliação antropométrica, mensurando peso, altura e medida da CA.
Cálculo do IMC e estipulação dos pesos ideal e desejado. Para
determinar o peso ideal, verifica-se se o peso habitual do paciente
está na faixa de eutrofia por meio do IMC, segundo critérios da OMS.
Caso não esteja na faixa do peso ideal, especifica-se o peso que o
paciente considera atingível (peso relativo), determinando-se redução
de 5 a 10% do peso atual como base.
• Realizar anamnese alimentar, especificando os alimentos e/ou
preparações que o paciente consome habitualmente e as
quantidades, em medidas caseiras, em todas as refeições, inclusive
nos intervalos. Anotar os horários das refeições, se necessário.
• Anotar as preferências e restrições alimentares e, na existência de
alguma(s), deve-se especificar a(s) causa(s).
Os pacientes são triados no atendimento em grupo e, portanto, já
passaram por uma intervenção nutricional. Após o primeiro atendimento
individual, são orientados a um seguimento no qual, após avaliação, são
encaminhados para outras formas de atendimento em grupo ou recebem
atingir a demanda por consultas, de acordo com a capacidade operacional
da SANPE.
1.14.3 Atendimento em Grupo Informativo de Obesidade (GIO)
Estudo realizado com pacientes obesos ratificou que a intervenção
interdisciplinar auxilia no tratamento desses doentes, uma vez que a
proximidade com pessoas e históricos semelhantes favorece a
conscientização do paciente quanto a quem ele é, o que quer e como vê o
mundo, sendo o grupo um continente às suas angústias, pois todos passam
por dificuldades semelhantes relacionadas com a obesidade. (Anaruma,
1995)
Estudo desenvolvido em 1995 com pacientes da SANPE/SND
INCOR, sobre as causas da não-adesão ao tratamento dietoterápico,
relacionou aspectos emocionais com a dificuldade no seguimento da dieta.
(Kitayama, 1995)
Com a finalidade de auxiliar o paciente a superar esse tipo de
dificuldade, iniciou-se atividade em conjunto com o Serviço de Psicologia da
mesma instituição. (Ávila, 1994)
O grupo informativo de obesidade (GIO), composto por 15 pacientes
agendados sob a orientação de um nutricionista e um psicólogo, tem a
duração de duas sessões, com intervalo de uma semana entre elas. Nesse
aceitar a dieta, uma vez que envolve planejamento e comprometimento com
a mudança por longo prazo e, por conseqüência, o autocontrole. São
também apresentadas situações do cotidiano desses pacientes, mostrando
as diferenças entre fome e fonte de prazer, compensação e quantidade
alimentar, frustração e voracidade, dentre outros aspectos psicológicos que
interferem no tratamento e, posteriormente, na reeducação alimentar. Nesse
primeiro encontro o nutricionista realiza uma aula expositiva em que são
abordados os conceitos de obesidade, causas, objetivos do tratamento,
mecanismos de ganho e perda de peso, reeducação alimentar, além da
oficina de nutrição onde os pacientes participam da montagem do cardápio
de um dia com as seis refeições recomendadas. Após a montagem, são
fixados conceitos sobre a divisão dos alimentos em grupos e a necessidade
orgânica de cada nutriente, esclarecendo-se as eventuais dúvidas. No final
do encontro, entrega-se um impresso a cada participante para que o
preencha com as informações completas de um dia alimentar típico e o
entregue no retorno. No segundo encontro, após análise do registro
alimentar e discussão das dificuldades mencionadas pelos pacientes na
realização da dieta, cada profissional atuante no grupo finaliza o encontro
com as informações necessárias sobre o tratamento. O nutricionista entrega
receitas culinárias light e/ou diet do SND, as quais poderão ser preparadas