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Estratégias para sobreviver politicamente: escolhas de carreiras na Câmara de Deputados do Brasil.

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Academic year: 2017

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Est r at égias par a sobr eviver polit icam ent e:

Escolhas de car r eir as na Câm ar a de Deput ados do

Br asil

Eduardo Leoni

Candidato a Ph.D., Colum bia University

Carlos Pereira

Research Fellow – Centre for Brazilian Studies, St. Antony´s College, University of Oxford

Lúcio Rennó

Candidato a Ph.D., University of Pittsburgh

Resumo

Os deputados federais brasileiros têm cinco escolhas principais de carreira política: retirar-se do jogo político (aposentar-se); concorrer a um cargo legislativo estadual (ambição regressiva); concorrer à reeleição (ambição estática); e concorrer a cargos mais altos (ambição progressiva). Este artigo monta um modelo para explicar as características das escolhas dos deputados com respeito a suas decisões de carreira na eleição de 1998. Sustentamos que não é a “natureza” da ambição política que determina a escolha, mas a avaliação dos riscos e custos contidos na decisão. Usou-se um modelo de regressão logit hierárquico para estimar o impacto das distintas estratégias políticas utilizadas pelos deputados em seus mandatos e suas campanhas eleitorais. Os principais resultados sugerem que os deputados com diferentes escolhas de carreira apresentam distintas estratégias durante seus mandatos, o que influencia decisivamente suas preferências do que fazem para sobreviver politicamente.

Palavras-chave: carreira política, mandato, Câmara de Deputados, estratégia política, reeleição

Abstract

The Brazilian incumbent legislators have five major choices of political career: to withdraw from the elected political game (to retire); to run for local legislative position (regressive ambition); to run for re-election (static ambition); and to run for higher offices (progressive ambition). This paper built a model to explaining the features of incumbent legislators choices regarding their career’s decisions in 1998’s Brazilian election. We argue that it is not the "nature" of political ambition that determines legislators’ choice, but the evaluation of the risks and costs entailed in the decision. The main findings suggest that incumbents with different career’s choices present distinct strategies during their mandates, which have decisive influences on their preferences of what they do in order to survive politically.

(2)

Introdução

*

Nas eleições gerais brasileiras de 1998, 564 deputados federais (incluindo

efetivos e suplentes)1 chegaram à encruzilhada que todos os políticos do Brasil

enfrentam em anos eleitorais: a decisão sobre qual cargo disputar. Dos 564 deputados, 61 decidiram se aposentar; 38 preferiram concorrer a cargos m ais altos, ou seja, concorrer para senador (18), governador (8), ou vice-governador (12),

o que se cham a de am bição “ progressiva” . Oitenta por cento, ou 452 deputados2

decidiram concorrer à reeleição. Por fim , 12 deputados decidiram concorrer a deputado estadual.

Tabela 1: Distribuição de carreira política nas eleições de 1998

Escolha de carreira Total Sucesso Fracasso

Aposentar-se 61

Deputado Estadual (Ambição Regressiva) 12 6 (50%)

6 (50%)

Governador 8 1

(12,5%)

7 (87,5%)

Vice-governador 12 3

(25%)

9 (75%)

Senador 18 (17,64%) 3 (82,35%) 15

Subtotal 38 7

(18,92%) 31 (81,08%)

Reeleição (Ambição estática) 453 (79,53%)

293 (64,87%)

160 (35,13%)

Subtotal 303

(61,33%)

193 (45,20%)

Total 564

* Versões anteriores deste trabalho foram apresentadas na conferência “Brazilian Political Institutions in Comparative

Perspective: The Role of Congress in Presidential System”. Centre for Brazilian Studies, University of Oxford, 2-29 de maio de 2001; no XXIII Congresso Internacional da Latin American Studies Association – LASA, Washington, DC, 6-8 de setembro de 2001; e na 5ª Conferência Anual da International Society for New Institutional Economics – ISNIE, San Francisco, Ca., 13-15 de setembro de 2001. Agradecemos a Laurence Whitehead, Mark Jones e Philip Keefer por seus comentários e sugestões nessas ocasiões.

1 A amostra inclui tanto deputados eleitos como os suplentes. Para cada deputado eleito, há no Brasil um suplente que é

também eleito. Alguns deles exercem o mandato por distintos períodos de tempo porque é muito comum que os deputados eleitos ganhem cargos na burocracia federal ou estadual. Uma vez que todos os membros de nossa amostra tiveram uma chance de exercer mandato por algum período de tempo e usar suas prerrogativas de deputados federais, eles foram incluídos na amostra analisada.

2 É importante dizer que não incluímos em nossa amostra, por motivos óbvios, nove deputados que morreram durante seus

(3)

O aspecto m ais notável desses dados é a alta proporção dos legisladores que concorreram à reeleição. Trata-se de um a porcentagem m ais alta da que ocorre na m aioria dos outros países da Am érica Latina (Morgenstern, a sair: Tabela 1) e isso indica claram ente que não se deve negligenciar a reeleição com o um a preocupação central dos deputados brasileiros. Sam uels (2000), no entanto, sustentou que a am bição progressiva está tam bém na essência da explicação dos padrões de carreira e do baixo êxito da reeleição nas legislaturas do Brasil (por volta de 65% em nossos dados). O argum ento de Sam uels é basicam ente que os deputados m ais fracos, aqueles que são m ais vulneráveis eleitoralm ente e m enos com petentes no desem penho de suas funções de representantes, concorrem à reeleição, enquanto os m ais capazes concorrem a postos m ais altos.

Essa explicação tem im plicações sérias para o papel da Câm ara de Deputados nas diretrizes políticas do país. Se a Câm ara não é um locus que atrai os políticos m ais eficientes, nem que estim ule carreiras duradouras, onde esses políticos podem adquirir a experiência e o conhecim ento necessários para se tornarem m elhores servidores públicos, as chances do poder legislativo brasileiro de se tornar um ator central da form ulação de políticas são desanim adoras. Por outro lado, se os políticos m ais qualificados e ativos decidem ficar na Câm ara, então sua influência nas decisões políticas tem m elhores chances de aum entar.

Tendo em vista a posição central da escolha de carreira dos políticos para o funcionam ento das legislaturas, a questão principal deste estudo é: quais são as principais razões da escolha de carreira dos deputados? Adem ais, de que m odo as variáveis relacionadas com a participação dos deputados na Câm ara, tais com o desem penho no cargo e vulnerabilidade eleitoral, influenciam a escolha de carreira?

Tom am os por suposto neste artigo que a decisão estratégica ou escolha que os legisladores fazem com relação a qual cargo vão concorrer na próxim a eleição é orientada principalm ente por um a auto-avaliação do desem penho no cargo e das chances de ter êxito nas eleições. Em outras palavras, as escolhas de carreira do legislador não são orientadas apenas pelas com pensações do cargo pretendido, tais com o rem uneração m ais alta ou equipe m aior, m as tam bém pela viabilidade eleitoral dessa escolha. Isto é, a utilidade m aior de ser eleito para esses cargos deve ser ponderada pela sua m enor probabilidade de sucesso e levar em conta os diferentes custos em butidos em cada escolha.

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vulnerabilidade eleitoral (Hall e Houweling, 1995).

Analisam os as decisões de carreira enfrentadas pelos deputados federais brasileiros no final de seus m andatos. Portanto, não estam os preocupados com o resultado da decisão, seja de vitória ou derrota na eleição. Em vez disso, investigam os os fatores que m oldam as diferentes decisões de carreira. Apoiados em estudos recentes sobre reeleição e escolha de carreira na Câm ara de Deputados do Brasil, bem com o na Câm ara de Deputados dos Estados Unidos, form ulam os um m odelo teórico sim ples e proporcionam os testes em píricos usando dados da 50ª sessão (1995-98).

Ambição na Câmara de Deputados dos EUA

O livro sem inal de Schlesinger, publicado em 1966, Ambition and Politics, é o precursor e ainda um a referência essencial sobre decisões de carreira nos Estados Unidos. Exam inando as características dos indivíduos que concorreram aos vários cargos e conseguiram se reeleger, ele conseguiu construir um a tipologia de políticos baseada em suas am bições políticas. Nos term os de Schlesinger, a am bição estática é o desejo ou tendência a concorrer à reeleição, isto é, a ficar no m esm o posto. Avançar para um cargo m ais alto é cham ado de am bição progressiva. Essa escolha, evidentem ente, seria constrangida pela estrutura de oportunidades das carreiras políticas existentes.

Mas as pesquisas sobre decisões de carreira e am bição nos EUA não pararam em 1966. Seguiram -se vários trabalhos que em pregaram um tratam ento teórico m ais analítico e análises estatísticas cada vez m ais sofisticadas. Black (1972) foi o prim eiro a colocar a teoria da am bição num quadro teórico de decisão. Rohde (1979) utilizou esse quadro para estudar m em bros da Câm ara. Ele tom ou por suposto que todo político, tendo a oportunidade sem custos ou riscos, escolheria o cargo m ais alto. Com o já foi m encionado, esses cargos proporcionam m aiores recursos políticos e econôm icos. Quaisquer que sejam os objetivos últim os dos legisladores, podem os pressupor que eles estariam provavelm ente m ais bem servidos nesses cargos. Porém , trata-se de um a escolha exigente. Os políticos são indivíduos racionais: eles sabem que existem custos substancialm ente m aiores na disputa desses cargos. Além disso, eles ponderam a utilidade de obter um posto m ais alto com as probabilidades (m enores) de ganhar a eleição.

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Escolha de carreira e reeleição no Brasil

Obviam ente, o Brasil não é os Estados Unidos e a estrutura de carreira e o sistem a partidário, para não m encionar as regras eleitorais, são m uito diferentes. Portanto, é im portante entender alguns dos aspectos centrais do sistem a eleitoral brasileiro antes de delinear nosso m odelo.

No Brasil, a eleição para a Câm ara de Deputados é feita por representação proporcional, com listas abertas. Nesse sistem a, as cadeiras são distribuídas em proporção à porcentagem do total de votos que cada partido recebe. Porém , com o a grande m aioria dos eleitores apóia candidatos, em vez de partidos, a eleição depende basicam ente da capacidade dos candidatos de obterem votos para si próprios.

Adem ais, a quantidade total de votos obtida pelos candidatos determ ina a ordem deles na lista do partido. Em outras palavras, o partido não controla nem determ ina quem serão seus representantes. As cédulas, por exem plo, não contêm o nom e dos candidatos e, portanto, o partido não pode listá-los num a ordem de preferência. Ao entrar na cabine de votação, os eleitores devem saber o nom e ou o núm ero de seus candidatos. Cada político deve contar com seus próprios recursos e sua própria base eleitoral para se tornar candidato.

Os candidatos do partido são escolhidos por m eio de eleições indiretas cham adas convenções, e são eleitos por delegados do partido. De acordo com Mainwaring (1999, p.249), em bora as convenções tenham autoridade form al sobre a seleção de candidatos, elas quase sem pre ratificam acordos que foram feitos por dirigentes do partido e autoridades do governo antes da realização da convenção. Em geral, apresenta-se à convenção um a chapa única, com binada e definida anteriorm ente.

Portanto, o sistem a eleitoral brasileiro, o m ecanism o de seleção dos candidatos e algum as regras partidárias criam incentivos para um com portam ento individualista e antipartidário. O sistem a eleitoral ajuda a explicar o com portam ento individualista dos políticos na arena eleitoral e tem contribuído para a fraca institucionalização do sistem a partidário.

Não há lim ite para o núm ero de m andatos e os partidos são obrigados a indicar os deputados que pretendem se reeleger sem levar em conta o com portam ento deles na legislatura anterior. São os cham ados candidatos natos, que têm o direito de concorrer ao m esm o cargo na eleição seguinte. É óbvio que isso libera os políticos da influência dos líderes do partido e, em conseqüência, enfraquece a noção de liderança.

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governador de estado e pelos políticos locais sobre a ação dos legisladores federais é am plam ente conhecido. Pode-se estabelecer um a correlação direta entre essa influência e a seleção dos candidatos ao Legislativo. No centro do processo está a prem issa de que a seleção ocorre basicam ente no nível estadual ou m unicipal. Um dos resultados disso é a criação de partidos estaduais descentralizados, em vez de partidos nacionais centralizados. Para garantir sua indicação, o candidato precisa fazer alianças políticas m unicipais e estaduais, dim inuindo o im pacto da linha política do partido e, ao m esm o tem po, orientando o com portam ento do legislador no sentido de atender a clientela local.

Além disso, o Congresso brasileiro não é de form a algum a tão institucionalizado quanto o norte-am ericano. Se seguirm os a discussão de Polsby (1968) da institucionalização, existe no Congresso brasileiro um a divisão do trabalho em com issões, m as estas não são tão poderosas com o as existentes nos EUA, sim plesm ente porque o poder legislativo no Brasil não tem a palavra final sobre gastos orçam entários. Adem ais, há m ais oscilação nos padrões da escolha de carreira no Brasil do que nos Estados Unidos. Isto é, a rotatividade é m ais alta e as carreiras políticas não são tão estáveis (Sam uels, a sair).

O estudo das carreiras políticas no Brasil tem se concentrado principalm ente nas questões de recrutam ento e retenção dos legisladores

nacionais3. Mais recentem ente, Sam uels (2000) analisou as decisões de carreira

das legislaturas brasileiras utilizando o m odelo proposto por Schlesinger. Ele destaca que em bora as instituições políticas e eleitorais do país pareçam engendrar carreiras legislativas longas, a rotatividade é relativam ente alta no Brasil. Sam uels sustenta que isso é conseqüência da natureza da am bição política no país e do alto nível de com petição decorrente das regras eleitorais. Usando a tipologia da am bição, ele afirm a que os políticos brasileiros possuem um com ponente m ais alto de am bição progressiva, em vez de estática, orientando suas carreiras para os cargos executivos principalm ente, m as não de m odo exclusivo, do nível m unicipal.

O argum ento básico de Sam uels é que os legisladores com m elhores qualificações, ou seja, aqueles que esperam ter um grau m aior de sucesso eleitoral, concorrem para postos m ais altos de senador, prefeito e governador. Desse m odo, quem concorre à reeleição são aqueles m ais vulneráveis eleitoralm ente. Em conseqüência, a rotatividade é alta. Na visão de Sam uels o principal enigm a das eleições legislativas do Brasil não é a reeleição, m as a alta taxa de rotatividade.

Porém , um fator central que está ausente da argum entação de Sam uels é o pressuposto de Rohde sobre os congressistas am ericanos: se tiverem a chance de escolher entre o posto atual e o de senador, sem custos adicionais, os deputados preferirão im ediatam ente a posição m ais alta. Em conseqüência, sustentamos que não

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é a “ natureza” da ambição política que determina a predominância da ambição estática no caso dos Estados Unidos, mas a avaliação dos riscos e custos decorrentes da decisão tal como percebidos por legisladores presumidamente racionais. Portanto, é provável que os m ais qualificados busquem cargos m ais altos, m as isso não significa que som ente os m enos qualificados sejam forçados a buscar a reeleição. O risco de concorrer a um posto m ais difícil de conquistar é um constrangim ento no rol de escolhas de carreira com que se defrontam os deputados, inclusive os m ais com petentes. Isso é especialm ente verdade porque as regras que com andam as eleições para cargos m ais altos (Senado e poder executivo em todos os níveis) são diferentes daquelas que organizam as eleições para a Câm ara de Deputados. Com o dissem os, as eleições para a câm ara baixa brasileira adotam um sistem a de Representação Proporcional de Lista Aberta, enquanto as eleições para o Executivo são feitas de acordo com um sistem a de m aioria em dois turnos e as do Senado usam um sistem a de pluralidade. Portanto, o custo de passar do prim eiro sistem a (em que a fragm entação do voto entre vários candidatos é m uito alta e a quantidade total de votos para se eleger não é excessiva) para o de m aioria (em que o núm ero de candidatos é m uito m enor e o de votos exigidos para ganhar m uito m aior) é m uito alto4.

Delineando a teoria

Para m odelar explicitam ente as utilidades e probabilidades ligadas à opção de carreira, é útil seguir o m odelo de utilidade esperada que já se m ostrou altam ente inform ativo no caso da Câm ara de Deputados am ericana e já proposto para analisar o caso brasileiro (Santos, 1999).

Kiewiet e Zeng (1993) sustentam que as escolhas entre {aposentadoria; reeleição} e entre {reeleição; cargos m ais altos} não são independentes:

“ Por exemplo, estudos anteriores de aposentadoria voluntária não consideraram o impacto de variáveis fundamentais que afetam a ambição progressiva [...] É verdade que essas variáveis não afetam provavelmente a probabilidade condicional de aposentadoria versus buscar a reeleição. Porém, se elas aumentam a probabilidade de os membros da Câmara buscarem cargos mais altos, elas diminuem necessariamente a probabilidade de eles escolherem o subconjunto de {aposentadoria, reeleição} e, assim, diminuem necessariamente a probabilidade de aposentadoria” .

4 Outro aspecto das eleições para a câmara baixa brasileira é que se podem formar coalizões de vários partidos e é o total de

(8)

No final do m andato, os legisladores têm o conjunto de escolha J={a1, a2,

...ak}, onde a1=aposentar-se, a2... ak=concorrer a vários cargos.

As utilidades esperadas são as seguintes. Aposentar-se: E[U(a1)]=U(a1)

Se o deputado decide se aposentar, não há probabilidades envolvidas. O

legislador receberá a utilidade de se aposentar com certeza. Seja c1 o custo de

escolher a1; qs a probabilidade de sucesso, que depende de sua ação; Us(ai) a

utilidade de sucesso de ação ai; Uf(ai) a utilidade de fracasso de ação ai,a utilidade

esperada de concorrer a um determ inado cargo é:

Concorrer a Cargo ai: E[U(ai)]=qs(ai)Us(ai)+(1-qs(ai)U(ai)-ci

Definindo a utilidade de fracasso de concorrer a qualquer cargo com o a utilidade de aposentar-se.

Uf(ai)=U(a1)

A utilidade esperada sim plifica-se então para: E[U(ai)]=qs(ai) Us(ai)+(1-qs(ai))U(a1)-ci

O próxim o passo é supor que os legisladores com param as utilidades esperadas das ações disponíveis e escolhem concorrer ao cargo no qual a utilidade

esperada é a m aior. Ou seja, cada indivíduo escolhe alternativa aj em J se e

som ente E[U(aj)]>E[U(an)] para todo n em J, n ≠ j.

Nesta visão, a escolha do legislador depende da utilidade de (e variáveis independentes explicando) todas as outras opções. Para um a escolha em J, o cálculo relevante feito é a diferença entre a utilidade esperada de concorrer a aj e a

utilidade esperada de concorrer a todas as outras opções. O problem a é que não sabem os as utilidades esperadas reais nem observam os cada variável relevante. Fazem os, portanto, declarações probabilísticas e deveríam os estim ar conform em ente um m odelo econom étrico.

Questões econométricas

Tal com o Kiewiet e Zeng, escolhem os aqui não estim ar um m odelo logístico

m ultinom ial5. Nossas dúvidas surgem das utilidades esperadas delineadas acim a,

onde a decisão por qualquer alternativa depende das utilidades de todas as outras opções disponíveis. No m odelo de logit m ultinom ial, as probabilidades de escolher j sobre a categoria de base k é dada por:

5 Numa versão anterior deste trabalho (Pereira e Rennó, 2001), utilizamos um modelo logístico multinomial. O resultado

(9)

,

,...,

1

,

1

)

Pr(

1 ' '

J

j

para

e

e

j

Y

J k x x i i k i j

=

+

=

=

= β β

Observe-se que os atributos de alternativas diferentes de k ou j não entram

nas probabilidades. Ou seja, o pressuposto da “ Independência de Alternativas Irrelevantes” deve valer. Em conseqüência, pode-se m ostrar que a inclusão (ou exclusão) de qualquer opinião deve afetar a odds ratio de cada alternativa exatam ente do m esm o m odo. Além disso, se a probabilidade de algum a alternativa em j aum enta, “ a propriedade IIA requer que as outras alternativas caíam precisam ente de form a a m anter suas probabilidades relativas iniciais” (Zhang e Hoffm an 1993, p.197). Em conseqüência, se algum as das alternativas disponíveis são substitutos fechados, essa propriedade fará com que o m odelo forneça predições incorretas. Dado o nosso m odelo teórico, bem com o os resultados dos Testes IIA em um trabalho anterior (2001), não esperam os que a escolha m odelada exiba essa propriedade.

Porém , se puderm os agrupar as alternativas de m odo significativo, há outro m odelo econom étrico à disposição. Mais apropriado, esse m odelo perm ite violações do pressuposto IIA na decisão entres os grupos de alternativas, m as ainda exige que o pressuposto seja válido dentro dos grupos.

Para ser m ais preciso, o m odelo de logit hierárquico (tam bém conhecido com o Valor Extrem o Generalizado ou GEV) não exige que o legislador tom e sua decisão seqüencialm ente. Na verdade, o m odelo é derivado “ supondo-se que o tom ador de decisão faz um a escolha, a saber, um a do conjunto disponível [...] A seqüência de probabilidades no m odelo GEV é sim plesm ente um m étodo para o

pesquisador representar a falta de IIA entre as probabilidades de escolha” (Train, 1986, p.72). Nossa principal preocupação era m odelar a dependência entre as alternativas, em vez de pressupô-la constantem ente. A abordagem hierárquica aproveita o agrupam ento “ natural” das alternativas na estim ativa e reflete m ais claram ente nossas observações substantivas6.

A variável dependente é a escolha do legislador no final de seu m andato. Isso significa que estão excluídos os deputados que deixaram a cadeira quando foram eleitos prefeitos nas eleições m unicipais, ou foram nom eados para postos perm anentes na burocracia, entre outras opções de saída antes do final do m andato.

Aqueles que concorreram a governador, vice-governador e senador estão agrupados na categoria dos que concorrem a cargos m ais altos. Vam os pressupor (ao contrário do caso am ericano) que todos os legisladores têm um a oportunidade

6 Estimamos nosso modelo no pacote estatístico STATA 7.0 em um PC com Intel, com o comando nlogit. Isso produz

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de concorrer a cargo m ais alto. Essa suposição é aproxim adam ente verdade no Brasil. Mesm o que não fosse, a possibilidade de m udar de partido é m uito m enos custosa do que nos Estados Unidos, o que torna o conceito de posição “ aberta” de governador ou senador um tanto obscura. A definição do grupo que concorre à reeleição é sim ples e os m em bros que se aposentam são aqueles de nossa am ostra que não concorreram a nenhum posto na eleição de 1998.

Os deputados federais que concorreram a um a cadeira nas assem bléias legislativas estaduais foram um problem a grave em nossas estim ativas. O m otivo foi o pequeno núm ero deles (som ente 12) que optaram por isso. Tentam os vários m odelos com esta escolha incluída e, na m aioria deles, a estim ativa não convergiu. Enquanto não tiverm os m ais dados (de eleições passadas e futuras), decidim os excluir essa opção da estim ativa.

O m odelo de logit hierárquico requer que especifiquem os quais variáveis afetam cada nível de decisão, de m odo a que possam os estim ar um m odelo em que algum as variáveis influem na decisão entre {aposentar-se; concorrer a cargo m ais alto ou reeleição}, enquanto outras têm um efeito apenas sobre a decisão entre concorrer a cargo m ais alto e reeleição. Essa flexibilidade exige que expliquem os qual decisão um a dada variável independente está afetando. O arranjo de decisão que escolhem os pode ser representado graficam ente pela seguinte estrutura em árvore.

Figura 1: Modelo de escolha da carreira política

Legislador

Aposentar-se Concorrer a algum cargo

Concorrer à reeleição Concorrer a cargo mais alto

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entre si do que a opção de aposentar-se e qualquer um a delas.

Correlatos da escolha de carreira

O próxim o passo da explicação da escolha de carreira é m odelar o im pacto dos diferentes fatores que influenciam as decisões dos deputados. Para recapitular, as variáveis podem influenciar a escolha de carreira de duas m aneiras: podem afetar os com ponentes de utilidade, aum entando (ou dim inuindo) o valor de perm anecer em determ inado cargo; e podem afetar as probabilidades de obter um determ inado resultado.

Espera-se que m uitas das variáveis que afetam a probabilidade de ser reeleito afetem tam bém as probabilidades de se eleger para as posições m ais altas. O efeito líquido é então um a questão em pírica, e assim o deixam os.

Idade: Tal com o nas pesquisas anteriores na Câm ara de Deputados dos EUA

(Kiewiet e Zeng, 1993; Hall, 1996), tom am os por hipótese que a idade aum enta a utilidade de se aposentar. A idade deveria afetar tam bém a utilidade de um cargo m ais alto. Em bora esperem os um efeito linear da idade na decisão de se aposentar, incluím os um term o quadrático na estim ativa entre as escolhas de cargo m ais alto e reeleição.

Na Câm ara de Deputados am ericana, Brace (1984) descobriu que o efeito linear era positivo e o efeito quadrático negativo na escolha entre reeleição e

concorrer a um posto m ais alto7. Suspeitam os que o padrão encontrado por Brace é

um a função da regra de antigüidade do sistem a de com issões, que aum enta o valor da detenção de cargo longa. No Brasil, não existe atualm ente um sistem a com o esse. Suspeitam os, portanto, que m em bros da Câm ara relativam ente jovens e relativam ente antigos tentam concorrer a cargos m ais altos, predição oposta à de Brace. Em bora essa hipótese não tenha relevância teórica para nossas preocupações norm ativas, é necessário controlá-la a fim de especificar corretam ente o m odelo.

Posições institucionais: Voltam o-nos agora para o term o concernente à utilidade de

ficar no cargo. Pesquisas anteriores sobre a Câm ara de Deputados brasileira (Figueiredo e Lim ongi, 1995, 1996, 1997; Pereira e Mueller, 2000) concluíram que a distribuição de poder dentro dessa instituição é altam ente concentrada nas m ãos dos líderes dos partidos e, portanto, que os postos institucionais (presidente,

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presidente, etc.) são posições de poder. Um a vez que aum entam as recom pensas de ficar no cargo, esperam os que tais variáveis tenham um im pacto positivo sobre concorrer à reeleição.

Comissões permanentes e especiais: Em bora o sistem a de com issões não seja tão

institucionalizado com o na Câm ara am ericana, esperam os que o poder relativo dos m em bros m ais antigos das com issões tenha conseqüências im portantes na escolha de carreira. Pereira e Mueller (2000) já se referiram a evidências claras que enfatizam a existência de ganhos inform acionais obtidos pelo plenário da Câm ara – e pelo Executivo – quando as com issões são representativas das preferências do Executivo. Eles dem onstraram tam bém que há fortes indícios de que o Executivo age estrategicam ente no Congresso, substituindo m em bros infiéis por confiáveis, a fim de garantir as vitórias de suas preferências. Esse pressuposto foi tam bém confirm ado pelas respostas de vários legisladores que disseram que suas escolhas de com issões foi negociada ou m esm o im posta pelos líderes dos partidos. Desse m odo, torna-se difícil explicar a preocupação do Executivo em designar m em bros favoráveis, se não houver relevância ligada a tê-los na com issão.

Portanto, criam os “ dum m ies” que discrim inam os efeitos de ser líder num a com issão perm anente daqueles de ser líder num a com issão especial. Essas com issões especiais têm um a cobertura m aior da m ídia e esperam os que a presença nessas com issões aum ente a probabilidade de concorrer a um posto m ais alto. Por outro lado, as posições nas com issões perm anentes deveriam aum entar a

probabilidade de escolher a reeleição8, pois são um a indicação de poder dentro da

Câm ara e de am bição intra-câm ara (Hall e van Houweling, 1995).

Por outro lado, esperam os que am bos os tipos de com issão aum entem a probabilidade de concorrer a um cargo, seja à reeleição ou a um cargo m ais alto. Não tem os nenhum m otivo para predizer que a liderança num a com issão perm anente ou especial teria efeitos diferentes sobre a decisão de concorrer a algum cargo. Tudo o que esperam os é que essas posições de poder aum entem a utilidade de concorrer a algum cargo. Portanto, com binam os as duas variáveis

“ dum m y”, onde 1 é deter algum a posição de liderança em com issão e zero é não

ter nenhum a, na equação que distingue os que concorrem a algum cargo daqueles que se aposentam .

Ideologia: Medim os ideologia pelos escores w-nominates dos legisladores (Poole e

Rosenthal, 1997). Eles baseiam -se no com portam ento dos deputados nas votações

8 Esperamos que a participação em comissões permanentes também afete positivamente a probabilidade, e não apenas a

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nom inais e se tornaram um padrão de facto na m ensuração de preferências de legisladores no cenário político am ericano. Leoni (2000; 2001) calculou os escores para os legisladores brasileiros que usam os aqui.

As estim ativas produzidas por esse procedim ento de scalling na Câm ara de Deputados estão, em larga m edida, de acordo com a visão com um do cam po. Por exem plo, os m em bros do PT estão na extrem a esquerda e a m aioria dos m em bros do PFL está na direita9.

Os m em bros da ala esquerda do espectro ideológico estão m ais distantes dos resultados vencedores e possivelm ente derivam m enos utilidade da perm anência no cargo por esse m otivo. Então estabelecem os a hipótese de que eles têm m aior probabilidade de deixar voluntariam ente a Câm ara.

Antigüidade: As eleições brasileiras de 1986 foram as prim eiras depois que o

governo civil retom ou o poder, após m ais de vinte anos de regim e m ilitar, durante o qual o Legislativo não teve m uita participação nas decisões políticas. Em conseqüência, é justo dizer que não esperam os que os m em bros tenham carreiras longas em tal corpo legislativo (Santos, 2001). Desse m odo, definim os antigüidade com o o núm ero de m andatos consecutivos que o deputado teve desde a 48ª legislatura. Esperam os que isso tenha um efeito positivo sobre a candidatura à reeleição. Tom am os com o hipótese que os legisladores m ais antigos possuem um conhecim ento operacional valioso sobre a instituição e suas regras e, portanto, derivam m ais utilidade em perm anecer nela.

Partidos: Introduzim os um a variável “ dum m y” que reflete a participação na

coalizão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Esperam os que essa variável aum ente a utilidade de perm anecer no cargo, refletindo a m aior utilidade de ter status de m aioria. É im portante destacar tam bém o fato de ser m em bro do PT, pois esse partido é qualitativam ente diferente daqueles da direita. Esse partido tem um a das m aiores porcentagens de votos na legenda, o que certam ente traz incentivos diferentes. É difícil predizer as conseqüências de pertencer ao PT. Um a possibilidade é que esse partido reveze seus m em bros entre postos estaduais e federais. Outra possibilidade é que os m em bros do PT, estando tão à esquerda do espectro ideológico (Leoni, 2000), sejam ideologicam ente frustrados. Em am bos os casos, esperam os que eles apresentem um a probabilidade m aior de sair da Câm ara.

Dotação orçamentária: Pereira (2000) e Pereira e Rennó (2001) estim aram um

9 Além disso, a análise indica que o espaço ideológico tem baixa dimensionalidade, com a primeira dimensão predizendo

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m odelo para predizer reeleição e um a das principais descobertas está relacionada com o orçam ento. Ela m ede a porcentagem m édia anual das em endas individuais dos deputados aprovadas no orçam ento federal e dotadas pelo governo de 1996 a 1998. É im portante sublinhar que no Brasil, é o Executivo que decide a liberação das verbas, o Congresso apenas autoriza o orçam ento. Esperam os que aqueles com m aior sucesso na dotação de verbas tentarão se reeleger, um a vez que isso aum enta a probabilidade de vitória (ver tam bém Pereira, 2000; Pereira e Mueller, 2001).

Voto em 1994: Essa variável m ede o sucesso anterior do deputado no distrito. É

m edida com o o núm ero de cotas eleitorais que o candidato teve na eleição anterior e é um a indicação de quão seguro eleitoralm ente é o deputado. Esperam os um efeito positivo do sucesso eleitoral anterior sobre a escolha de concorrer a um cargo m ais alto.

Concentração eleitoral: Os deputados com voto concentrado em seu m unicípio

m ais im portante não têm provavelm ente a força eleitoral para obter apoio nas várias m unicipalidades incluídas no distrito eleitoral. No Brasil, os distritos correspondem a todo o estado e incluem eleitorados m uito diversificados e vários m unicípios. Desse m odo, os candidatos com voto concentrado concorreram com m enor probabilidade a cargos m ais altos, pois não são suficientem ente conhecidos em todo o distrito para encarar um a eleição m ajoritária. Os que contam com votos m ais espalhados e são m ais conhecidos em m ais lugares sentem -se provavelm ente m ais confiantes para assum ir o risco de concorrer a um posto m ais alto. Portanto, esperam os que os legisladores com m enor concentração de votos concorram com m aior probabilidade a cargos m ais altos.

Número de cadeiras do distrito: Essa hipótese está tam bém relacionada aos níveis

de com petição eleitoral que um candidato enfrenta dentro do distrito. No caso da Câm ara de Deputados norte-am ericana, Rohde e Brace sustentam que é a com unidade entre o distrito da Câm ara, o do Senado e do governo estadual nos pequenos estados que aum enta a probabilidade do deputado dos estados m enores concorrer a cargos m ais altos. Evidentem ente, não há variação nesse aspecto no caso brasileiro, pois os distritos da Câm ara são os m esm os dos governadores e senadores.

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Conform e Kiewiet e Zeng, criam os um a m edida do contexto eleitoral em que os deputados candidatos estão encaixados tom ando o log da m agnitude do distrito, ou núm ero de cadeiras em cada distrito. Nossa hipótese é que quanto m aior a m agnitude do distrito, m enor a probabilidade de o deputado se candidatar a postos m ais altos nesses distritos, pois o conjunto de “ candidatos fortes” nesses distritos é m aior.

Resultados

A Tabela 2 m ostra a m édia das variáveis independentes. À prim eira vista, m uitas de nossas variáveis independentes estão de acordo com nossas predições hipotéticas. Observe-se que apresentam os tam bém as m édias das variáveis independentes para o grupo que escolheu concorrer à assem bléia legislativa estadual. A partir da Tabela 1, sabem os que esse grupo se deu m al na eleição: som ente 50% deles conseguiram se eleger, e isso para um a posição que exigia

m enos votos do que haviam tido anteriorm ente10. A partir da Tabela das m édias

descobrim os tam bém que eles tiveram a m ais baixa classificação m édia em orçam ento dotado e participação em com issões perm anentes e especiais, junto com outras variáveis.

Tabela 2: Médias das variáveis independentes em cada grupo

Aposentar-se Deputado

Estadual Reeleição

Cargo mais alto

Idade 55,70 51,36 51,35 53,83

Ladeiras do distrito 3,17 3,44 3,27 2,92

Membro de coalizão 0,77 0,55 0,74 0,72

Ideologia 0,15 0,01 0,20 -0,05

PT 0,11 0,18 0,08 0,25

Votos em 1994 -0,28 -0,11 0,00 0,08

Concentração eleitoral em 1994

0,32 0,49 0,39 0,37

Antigüidade 0,95 0,75 1,37 1,34

Dotação 22,97 21,76 33,73 37,97

Qualquer comissão 0,35 0,18 0,46 0,44

Comissão especial 0,16 0,09 0,17 0,33

Comissão permanente 0,19 0,18 0,36 0,22

Posição da câmara 0,00 0,00 0,05 0,03

10 Os limites do distrito para os deputados estaduais são os mesmos dos deputados federais. Porém, há sempre mais cadeiras

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Um a hipótese plausível é que os deputados estaduais são m ais vulneráveis eleitoralm ente e, portanto, escolhem concorrer a um cargo m ais baixo. Isto é, os legisladores que esperam poucas probabilidades de se reeleger (e portanto têm chances ainda m enores de se elegerem para um cargo m ais alto) preferem concorrer a um posto m ais baixo e m ais seguro. Eles ainda batalham por um cargo público e, portanto, são am biciosos, m as de m odo m uito realista, optam por concorrer a um cargo com recursos m enores, status m enor e m ais fácil de vencer. Usam os um a expressão que é um oxim oro – “ am bição regressiva” – para caracterizar essa escolha. Infelizm ente, não pudem os fazer um teste m ultivariado para essa hipótese pelos m otivos já explicados, m as está claro que esses deputados têm um desem penho pior tanto dentro da Câm ara com o em eleições anteriores do que aqueles que escolhem concorrer à reeleição ou a um cargo m ais alto, indicando que os piores deputados tendem a deixar a Câm ara.

A Tabela 3 m ostra os resultados do m odelo de logit hierárquico que estim am os. É im portante dizer que aplicam os esse teste não para estim ar a significação ou o im pacto relevante de nossas variáveis independentes, m as para testar a independência de alternativas entre carreiras políticas. Com o podem os ver, nem todas as variáveis entram em am bos os estágios, conform e nossas

expectativas teóricas11. Porém , com o observação geral, os resultados são bastante

im pressionantes: sete de todas as variáveis incluídas tiveram coeficientes significativos no nível de 5% em am bas as equações, 1 sendo m ais significante no nível de 10%.

11 A fim de verificar se os incentivos para deixar a Câmara de Deputados criados pelas oportunidades de carreira privada têm

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Tabela 3. Modelo de logit hierárquico de escolhas de carreiras

Coeficiente Erro est. z P>|z| Intervalo Conf. 95% concorrer a cargo mais alto=1; conc. a reeleição=0

dummy conc. a cargo mais alto 1.430 3.884 0.370 0.713 -6.182 9.042

posição de poder -0.724 1.118 -0.650 0.517 -2.916 1.467

idade -0.221 0.139 -1.600 0.110 -0.493 0.050

idade^2 0.003 0.001 2.070 0.039 0.000 0.005

log # cadeiras distritais -0.916 0.334 -2.740 0.006 -1.571 -0.261

concentração eleitoral em 1994 -0.845 0.900 -0.940 0.348 -2.609 0.920

antigüidade -0.062 0.264 -0.240 0.813 -0.580 0.455

membro da coalizão 3.283 1.251 2.620 0.009 0.831 5.375

ideologia -2.951 0.875 -3.370 0.001 -4.666 -1.237

membro do PT 2.552 1.264 2.020 0.043 0.075 5.029

comissão permanente - 0.699 0.439 -1.590 0.112 -1.560 0.162

comissão especial 1.129 0.468 2.410 0.016 0.211 2.047

% dotada 0.014 0.012 1.190 0.234 -0.009 0.037

votos em 1994 0.089 0.170 0.520 0.603 -0.245 0.422

concorrer a qualquer posto=1; aposentar-se=0

dummy qualquer posto

2.773 1.058 2.620 0.009 0.699 4.846

idade -0.036 0.017 -2.160 0.031 -0.069 -0.003

Antigüidade 0.186 0.183 1.020 0.309 -0.172 0.544

membro da coalizão -0.398 0.562 -0.710 0.479 -1.500 0.704

membro do PT -0.079 0.781 -0.100 0.920 -1.609 1.451

Ideologia -0.064 0.650 -0.100 0.922 -1.337 1.210

% dotada 0.028 0.009 3.100 0.002 0.010 0.045

votos em 1994 0.361 0.194 1.860 0.063 -0.020 0.742

líder de qualquer comissão 0.201 0.326 0.620 0.538 -0.438 0.839

concorrer a qualquer cargo -1.096 1.117 0.326 0.326 -3.28655 1.093261

aposentar-se 1. . . . .

Teste LR de homoscedasticidade (iv = 1): chi2 (1) = 3.37 Prob > chi2 = 0.0663

LOGIT HIERÁRQUICO NÚMERO DE OBS = 536 LR CH2 (24) = 656.633 LOG LIKELLIHOOD = -260.53968 PROB>CH2 = 0.0000

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É hora de reiterar que a m udança de probabilidade estim ada não é condicional sobre concorrer ou não a um cargo. As utilidades esperadas, bem com o os vários testes IIA que realizam os, nos inform am que cálculos dependentes das escolhas feitas não são apropriados. Na verdade, o principal objetivo de estim ar um logit hierárquico era obter essas estim ativas incondicionais.

Com o não estam os interessados sim plesm ente na significação estatística das variáveis, m as em seu im pacto real sobre as diferentes escolhas de carreiras, concentrarem os nossa análise em com o as m udanças num a variável independente (estatisticam ente significativa) selecionada alteram a probabilidade de escolher um a alternativa quando todas as outras variáveis são m antidas constantes.

Escolhem os m anter as variáveis independentes em seus valores m édios, ao m esm o tem po em que m udam os as variáveis de interesse contínuas dos valores m édios para um desvio padrão acim a da m édia, e as variáveis dummy de zero para um . A Tabela 4 apresenta os resultados.

Tabela 4: Mudança predita em probabilidades

mudança Aposentar-se cargos + altos reeleição

Idade e Idade^2 ∆σ 5.3% 1.7% -7.0%

Ideologia ∆σ -1.4% 1.2%

% dotada ∆σ -6.4%

Log ≠ cadeiras distritais ∆σ -1.7% 1.9%

Voto em 1994 ∆σ -8.9%

membro da coalizão 0 → 1 4.0% -9.1%

Comissão especial 0 → 1 3.0% -3.5%

PT 0 → 1 13.6% -17.4%

Discutim os agora o apoio em pírico a nossas hipóteses relacionadas com cada escolha de carreira, a com eçar pela aposentadoria. Nossa principal hipótese concernente a essa escolha sustenta-se m uito bem . Um aum ento de desvio padrão em idade oferece um aum ento estim ado de 5.3 pontos percentuais em aposentadoria. Isso significa que os m ais velhos se aposentam , até m esm o os políticos brasileiros que costum am ser acusados de ter pensões de em pregos anteriores, além de seus vencim entos com o deputados!

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têm tanto sucesso em seu atendim ento clientelista – e portanto têm chances m enores de se eleger – se aposentam com m ais freqüência.

Nenhum a outra variável foi significativa nesse estágio. A saber, a aposentadoria não parece estar relacionada com antigüidade, liderança de com issão, posição ideológica ou filiação partidária. Isso oferece m ais provas em apoio ao argum ento de Pereira e Rennó (2001) de que a am ostra de deputados que escolhem concorrer a um cargo não é extrem am ente distinta do resto da população. Por favor, observe-se que não incluím os posições de poder na instituição entre as variáveis independentes que explicam a aposentadoria. Dos 21 deputados que detêm tais posições, nenhum se aposentou e som ente um decidiu concorrer a um cargo m ais alto! Isso é um a prova de que o fato de deter posições de poder na Câm ara está claram ente relacionado com am bição intra-Câm ara, pois é um incentivo a perm anecer na casa, indicando ainda que os legisladores com petentes preferem perm anecer na câm ara baixa12.

Em relação à escolha de concorrer a um cargo m ais alto ou ficar na Câm ara, além do fato de que todos os que detêm posições de poder na Câm ara, um a das variáveis - com issão - m ostrou resultados significativos. Os líderes das com issões especiais concorrem m ais a postos m ais altos. Com efeito, a liderança nessas com issões traz um aum ento de cerca de 3 pontos percentuais na probabilidade de concorrer a cargo m ais alto. A variável Com issão perm anente, em bora com o sinal correto, foi significante som ente no nível de 112. Porém , nosso argum ento principal se sustenta: esses dois tipos de com issões têm efeitos opostos sobre a escolha de carreira. Pertencer a um a com issão especial aum enta a visibilidade do deputado e, conseqüentem ente, a probabilidade de buscar um cargo m ais alto, enquanto que ser o presidente de um a com issão perm anente é um a indicação de poder intra-Câm ara e leva o deputado a buscar a m anutenção desse poder m ediante a reeleição.

A variável posição ideológica teve um im pacto positivo na probabilidade de concorrer à reeleição. Isso significa que os legisladores m ais à direita tendem m ais a concorrer à reeleição, em vez de tentar um cargo m ais alto. Porém , ser m em bro da coalizão do governo, bem com o m em bro do partido m ais à esquerda (PT) aum enta a probabilidade de concorrer a um posto m ais alto.

Com o dar sentido a esses resultados? A Tabela 4 m ostra que os efeitos das variáveis de partido (coalizão e PT) parecem ser m uito m aiores do que as do escore ideológico. Porém , o ponto da análise é que, para um a dada coalizão ou filiação ao

Partido dos Trabalhadores, os m em bros m ais à direita concorrem à reeleição13.

12 Essa distribuição enviesada é provavelmente uma das razões para não encontrar efeito significante dessa variável no nível

seguinte de decisão em nosso modelo, a saber, aquele que compreende concorrer à reeleição e concorrer a cargo mais alto.

13 Isso é válido mesmo se trocarmos a variável ideologia por variáveis separadas que medem ideologia para membros e

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Não há contradição, portanto, entre esses dois conjuntos de resultados.

Testam os o efeito quadrático da idade sobre a escolha entre reeleição e cargo m ais alto. Os resultados oferecem algum suporte a nossas hipóteses. O term o quadrático foi positivo e significativo no nível de 5%, m as o efeito linear não foi significante m esm o no nível generoso de 10%. Mem bros relativam ente jovens e relativam ente velhos, em oposição aos resultados obtidos por Brace (1984) na Câm ara de Deputados norte-am ericana, concorrem m ais a cargos m ais altos no Brasil.

Passando agora à discussão das variáveis m ais pertinentes à nossa hipótese norm ativa, nossas estim ativas indicam tam bém um efeito significante do log do núm ero de cadeiras distritais sobre a probabilidade de concorrer a um cargo m ais alto. Um aum ento do desvio padrão nessa variável dim inui em 1.7% a disputa desses cargos. Portanto, os legisladores de estados m enores concorrem m ais a cargos m ais altos, um a vez que é m ais fácil para eles serem bem conhecidos em todo o distrito e, assim , m enos arriscado concorrer a um cargo m ajoritário.

Por fim , as variáveis que m edem o sucesso eleitoral, a concentração eleitoral e a dotação orçam entária não foram significativas para a diferenciação desses dois grupos: concorrer à reeleição ou a um cargo m ais alto. Todas essas variáveis estão relacionadas com a probabilidade de ser reeleito e tam bém não m ostram

resultados significativos quando incluídas separadam ente.14 Além disso, a

antigüidade tam bém não teve um im pacto significante sobre a escolha de carreira. Os m em bros m ais antigos não tentam concorrer a cargos superiores m ais do que outros m em bros. Esses resultados, junto com as conclusões sobre a posição de poder na Câm ara e ser m em bro de com issão perm anente, levantam sérias dúvidas sobre a adequação do argum ento de Sam uels de que os m em bros m ais vulneráveis e m enos com petentes concorrem à reeleição. Nossos resultados m ostram , ao contrário, um quadro diferente das decisões de carreira no Brasil.

Conclusões

As escolhas de carreira política no Brasil são fortem ente orientadas pelos custos eleitorais de encarar eleições m ais difíceis de vencer, tal com o nos Estados Unidos, de acordo com a descrição de Rohde. Os deputados tentam concorrer a cargos m ais altos som ente quando sentem que possuem força eleitoral suficiente acum ulada durante seus m andatos para encarar o risco de participar de um a

14 No entanto, é importante reconhecer que, em modelos anteriores e menos parcimoniosos, encontramos diferenças

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disputa em que o núm ero de votos necessários para vencer é m uito m aior do que o suficiente para se reeleger. O fato de que o tam anho do distrito, que é um proxy do nível de com petição nesse distrito, dim inui a probabilidade de concorrer a um cargo m ais alto indica que os deputados baseiam suas decisões relativas à carreira em avaliações do am biente eleitoral, e isso é válido até m esm o para os m ais com petentes.

Os constrangim entos im postos pelo contexto eleitoral e pela avaliação dos deputados de seu desem penho são m otivos fortes para que eles perm aneçam na Câm ara. Isso é claram ente indicado pela falta de im pacto estatístico de certas variáveis na diferenciação entre os que concorrem a cargos m ais altos e aqueles que preferem concorrer à reeleição à Câm ara. Os que preferem perm anecer na Câm ara são igualm ente bem sucedidos na im plem entação de em endas orçam entárias, na presidência de com issões perm anentes (m as não de com issões especiais) e não são candidatos m ais vulneráveis do que aqueles que concorrem a cargos m ais altos. Adem ais, a m aioria absoluta dos políticos que detêm um a posição poderosa na Câm ara prefere perm anecer nessa casa.

Estudos futuros deverão calibrar com o a decisão de concorrer a prefeito em eleições de m eio de m andato – e ser vitorioso nessa disputa – afeta a qualidade dos deputados federais que ficam na Câm ara e suas escolhas de carreira. Sam uels (a sair) m ostrou que concorrer a prefeito é um a escolha m uito freqüente feita pelos legisladores brasileiros e que essa escolha m olda o com portam ento deles dentro da Câm ara durante os anos anteriores à eleição de m eio de m andato. Um a tarefa que perm anece por ser feita é contrastar com o os deputados federais que concorrem a prefeito são diferentes dos que perm anecem na Câm ara. Além disso, é tam bém im portante verificar com o aqueles que concorrem a prefeito, m as perdem e retornam à Câm ara, se com param com os outros deputados. Por fim , estudos futuros deveriam procurar explicar quais são os fatores relacionados com a eleição para cargo m ais alto. Muito já foi dito sobre os determ inantes da reeleição, m as nada se sabe sobre o que aum enta as chances de alcançar um posto m ais alto.

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Publicação autorizada pelos autores. Tradução de Pedro Maia Soares.

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Tabela 1: Distribuição de carreira política nas eleições de 1998
Tabela 4: Mudança predita em probabilidades

Referências

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