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Benson, Hugh h. Platão

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HUGH H. BENSON

e colaboradores

Platão

Tradução: Vera Porto Carrero Introdução: Traduzida por Antonio Carlos Maia

(3)

1ª. Edição brasileira — 1993

© Copyright The University of Chicago» Chicago, Il, U.S.A.

CiP-Brasil, Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

D837m

Dreyfus, Hubert L.

Michel Foucault, uma trajetória filosófica; (para além do estruturalismo e da hermenêutica)/ Hubert Dreyfus, Paul Rabinow; tradução de Vera Porto Carreto. Rio de Janeiro; Forense Universitária, 1995.

Tradução de: Michel Foucault beyond structuralism and hermeneutcs ISBN 85-218-0158-0

l. Foucault, Michel, 1926-1984. 2. Filosofia francesa. I. Rabirow, Paul. II. Título. II. Série

95-1445 CDD194

CDU 1(44)

Proibida a reprodução total ou parcial, bem como a reprodução de apostilas a partir deste livro, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, de fotocópias e de gravação, sem permissão do Editor (Lei no. 5.988 de 14.12.73).

Capa: Blitz Design Editoração Eletrônica: Delta Line

Reservados os direitos de propriedade desta edição pela EDITORA FORENSE UNIVERSITÁRIA

Rua Sá Freire, 25 20930-430 — Rio de Janeiro — RJ — Tel.: (021) 580-0770 Largo de São Francisco,20 — 01005-010 São Paulo — SP — Tel.: (011) 604-2005

Impresso no Brasil Printed in Brazil

(4)

Hugh H. Benson 4 de 711

Autores

HUGH H. BENSON (ORG.)

Professor e Chefe do Departamento de Filosofia na Universidade de Oklahoma; foi

Samuel Roberts Noble Presidential Professor

de 2000 a 2004. E o editor de Ensaios sobre a

Filosofia de Sócrates (1992) e autor de Sabedoria Socrático (2000), bem como de

vários artigos sobre a filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles.

A. A. LONG

Professor de Línguas Clássicas e Irving Stone

Professor de Literatura na Universidade da

Califórnia, Berkeley. Suas obras mais recentes incluem Estudos Estóicos (1996) e Epicteto:

Um Guia Estóico e Socrático à Vida (2002).

Como editor e colaborador publicou O Guia

de Cambridge à Primeira Filosofia Grega

(1999).

C. D. C. REEVE

Professor de Filosofia com distinção Delta

Kappa Epsilon na Universidade da Carolina do

Norte em Chapei Hill. E autor de Confusões de

Amor (2005) e Conhecimento Substancial: a

Metafísica de Aristóteles (2000). Seu livro

Reis-Filósofos: O Argumento da República de Platão será reimpresso em 2006.

CHARLES KAHN

Professor de Filosofia da Universidade da Pennsylvania. E autor de Anaxlmenes e as

Origens da Cosmologia Grega (1960), O Verbo 'Ser' em Grego Antigo (1973; reimpresso com

nova introdução, 2003), A Arte e Pensamento

de Heráclito (1979), Platão e o Diálogo Socrático (1996) e Pitágoras e os Pitagóricos

(2001).

CHARLES M. YOUNG

Professor de Filosofia da Universidade de Claremont. Autor de vários artigos sobre Platão e Aristóteles, está atualmente preparando uma monografia sobre virtude e virtudes em Aristóteles, bem como trabalhando no módulo sobre o livro V da

Ética Nicomaqueia de Aristóteles dentro do Projeto Archelogos.

CHRISTOPHER JANAWAY

Professor de Filosofia na Universidade de Southampton. E autor de Imagens de

Excelência: A Crítica de Platão às Artes e

publicou largamente na área de estética. Suas outras publicações incluem Simesmo e

Mundo na Filosofia de Schopenhauer (1989), Schopenhauer: Uma introdução Muito breve

(2002) e Lendo Estética e Filosofia da Arte (Blackwell, 2006).

CHRISTOPHER ROWE

Professor de Grego na Universidade de Durham. Obteve um Cargo Professoral de Pesquisa Pessoal do Fundo Leverhulme de 1999 a 2004 e foi coeditor da Phronesis (Leiden) de 1997 a 2003. E autor de comentários a vários diálogos de Platão e editou, com Malcolm Schofield, A História de

Cambridge do Pensamento Político Grego e Romano (2000). Realizou a tradução de Ética Nicomaqueia de Aristóteles (que deverá

acompanhar um comentário filosófico por Sarah Broadie, 2001), editou Novas Perspectivas sobre Platão com Julia Annas

(2002) e, com Terry Penner, escreveu uma monografia sobre o Lísis de Platão (2005).

CHRISTOPHER SHIELDS

Membro Tutor da Lady Margaret Hall e Leitor Universitário na Universidade de Oxford. E

(5)

Hugh H. Benson 5 de 711 autor de vários livros, incluindo Ordem na

Multiplicidade, Filosofia Clássica: Uma Introdução Contemporânea (2003) e

Aristóteles (no prelo), bem como coautor,

com Robert Pasnau, de A Filosofia de Thomas

de Aquino (2003). Atuou como editor do Guia Blackwell à Filosofia Antiga (Blackwell, 2003)

e de O Manual de Oxford sobre Aristóteles (no prelo).

CYNTHIA FREELAND

Professora e Chefe do Departamento de Filosofia na Universidade de Houston. Escreveu artigos sobre a filosofia antiga e é editora de Interpretações Feministas de

Aristóteles (1998). Sua área de interesse

também abrange estética; seus livros incluem

Filosofia e Filme (coeditado com Thomas

Wartenberg, 1995), O Nueo Morto-Vivo: 0

Mal e a Atração do Horror (1999) e Mas é Arte? (2001).

DANIEL DEVEREUX

Professor de Filosofia na Universidade de Virgínia. E autor de artigos sobre a filosofia de Sócrates, ética e metafísica de Platão, ética e teoria da substância de Aristóteles. Contribuiu com o capítulo: “Platão: Metafísica”, para o Guia Blackwell à Leitura da Filosofia Antiga (2003). Seu trabalho mais

recente foca-se no desenvolvimento da ética de Platão.

DAVI D KEYT

Foi por muitos anos Professor de Filosofia na Universidade de Washington em Seattle. Também atuou como professor na Universidade de Cornell, na Universidade de Hong Kong, na Universidade de Princeton e nos campi de Los Angeles e de Irvine da Universidade da Califórnia, bem como atuou

como pesquisador no Instituto de Pesquisa em Humanidades da Universidade de Wisconsin, no Centro para Estudos Helênicos em Washington (capital), no Instituto para Estudos Avançados em Princeton e no Centro de Filosofia e Política Social da Universidade Estadual de Bowling Green. E autor de

Aristóteles: Política Ve VI (1999) e coeditor,

com Fred D. Miller Jr., do Guia à Leitura da Política de Aristóteles (Blackwell, 1991).

DAVI D SEDLEY

Professor Laurence de Filosofia Antiga na

Universidade de Cambridge. E autor, com A. A. Long, de Filósofos Helenísticos (1987),

Lucrécio e a Transformação da Sabedoria Grega (1998), O Crátilo de Platão (2003) e A Maiêutica do Platonismo: Texto e Subtexto no

Teeteto de Platão, e editor de O Guia de

Cambridge à Filosofia Grega e Romana

(2003). Ele foi Professor Sather na Universidade da Califórnia em Berkeley em 2004 e atualmente edita os Oxford Studies in

Ancient Philosophy. DEBORAH K. W. MODRAK

Professora de Filosofia na Universidade de Rochester. E autora de dois livros, A Teoria da

Linguagem e do Significado de Aristóteles

(2001) e Aristóteles: O Poder da Percepção (1987). Escreveu também numerosos artigos sobre temas da filosofia da mente, teorias de cognição e linguagem e epistemologia grega antiga.

DEBRA NAILS

Professora de Filosofia na Universidade Estadual de Michigan. E autora de A Gente de

Platão: Uma Prosopografia de Platão e Outros Socráticos (2002), Agora, Academia e a Conduta da Filosofia (1995), bem como de

(6)

Hugh H. Benson 6 de 711 artigos sobre Sócrates e Platão em várias

revistas e coletâneas. Escreve também sobre Spinoza e mantém trabalho de investigação para o Comitê de Defesa dos Direitos Profissionais dos Filósofos para a Associação Americana de Filosofia e para a Associação Americana de Professores Universitários.

FRED D. MILLER JR.

Professor de Filosofia e Diretor Executivo do Centro de Filosofia e Política Social na Universidade Estadual de Bowling Green. E autor de Natureza, Justiça e Direitos na Política de Aristóteles (1995), coeditor, com David Keyt, do Guia à Leitura da Política de

Aristóteles (Blackwell, 1991) e editor, em

associação com Carrie-Ann Khan, de Uma

História da Filosofia do Direito dos Gregos Antigos à Escolástica (2006). Publicou muitos

artigos sobre a filosofia antiga e sobre a filosofia moral e política. Foi Presidente da Sociedade de Filosofia Grega Antiga de 1998 até 2004.

GARETH B. MATTHEWS

Professor Emérito de Filosofia na Universidade de Massachusetts em Amherst. Ensinou anteriormente na Universidade da Virgínia e na Universidade de Minnesota. E autor de numerosos livros e artigos sobre filosofia antiga e medieval, incluindo

Perplexidade Socrática e a Natureza da Filosofia (1999) e Agostinho (Blackwell, 2005).

GERASIMOS SANTAS

Professor de Filosofia na Universidade da Califórnia em Irvine. E autor de Sócrates;

Filosofia nos Primeiros Diálogos de Platão

(1979; edição grega; 1997; edição italiana: 2003), Platão e Freud: Duas Teorias do Amor (Blackwell, 1988; edição italiana: 1990), Bem

e Justiça: Platão, Aristóteles e os Modernos

(Blackwell, 2001; edição grega: 2006) e editor do Guia Blackwell à Leitura da República de

Platão (Blackwell, 2006). MARK L. MCPHERRAN

Professor de Filosofia na Universidade do Maine em Farmington. E autor de A Religião

de Sócrates (1996; ed. em brochura: 1999),

editor de Sabedoria, Ignorância e Virtude:

Novos Ensaios nos Estudos Socráticos (1997), Reconhecimento, Recordação e Realidade: Novos Ensaios sobre a Epistemologia e Metafísica de Platão (1999) e numerosos

artigos sobre Sócrates, Platão e o ceticismo antigo.

MARY LOUISE GILL

Professora de Filosofia e Línguas Clássicas na Universidade Brown. Ela é autora de “Método e metafísica no Sofista e no Político de Platão” na Enciclopédia Stanford de Filosofia (2205),

Aristóteles e a Substância: O Paradoxo da Unidade (1989) e Platão: Parmêmides –

introdução e cotradução (1996). Ela é coeditora do Guia à Leitura da Filosofia

Antiga (Blackwell, 2006). MARY MARGARET MCCABE

Professora de Filosofia Antiga no King’s

College de Londres. E autora de Platão e a Punição (1981), Indivíduos em Platão (1994) e Platão e seus Predecessores: A Dramatização da Razão. E também a editora geral da série Estudos nos Diálogos de Platão da Editora

Universitária de Cambridge. Nos anos 2005-8 foi membro pesquisadora principal do Fundo

Leverhulme.

MICHAEL FEREJOHN

(7)

Hugh H. Benson 7 de 711 Universidade Duke. Foi professor visitante da

Universidade de Pittsburgh e da Universidade de Tufts; foi membro da Faculdade de Mellon da Universidade de Harvard. Ferejohn é o autor de As Origens da Ciência Aristotélica (1991), bem como de numerosos artigos sobre a primeira ética e metafísica platônicas, a metafísica, a epistemologia e a filosofia da ciência aristotélica. Atualmente, prepara um livro sobre o lugar da definição na epistemologia antiga.

MICHAEL J. WHITE

Professor de Filosofia e Direito na Universidade Estadual do Arizona. Seus livros incluem Agência e Integralidade: Temas

Filosóficos nas Discussões Antigas sobre Determinismo e Responsabilidade (1985), O Contínuo e o Discreto: Teorias Físicas Antigas em uma Perspectiva Contemporânea (1992), Partidário ou Neutro? (1997) e Filosofia Política: Uma Introdução Histórica (2003).

Colaborou recentemente com o Guia de

Cambridge de leitura dos Estóicos (2003). NICHOLAS D. SMITH

Professor James F. Miller de Humanidades,

Chefe do Departamento de Filosofia e Diretor dos Estudos Clássicos na Faculdade Lewis e Clark em Portland, Oregon. Suas publicações com Thomas C. Brickhouse incluem: Sócrates

no Julgamento (1989), O Sócrates de Platão

(1994), O Julgamento e Execução de Sócrates:

Fontes e Controvérsias (2002) e O Manual Filosófico da Routledge sobre Platão e o Julgamento de Sócrates (2004).

NICHOLAS WHITE

Professor de Filosofia e Professor de Línguas Clássicas na Universidade da Califórnia em Irvine. Foi Professor de Filosofia nas

Universidades de Michigan e Utah. E autor de

Conhecimento e Realidade segundo Platão

(1976), Um Guia à Leitura da República de

Platão (1979) e Indivíduo e Conflito na Ética Grega (2002).

R. M. DANCY

Professor de Filosofia na Universidade Estadual da Flórida. E autor de Sentido e

Contradição: Um Estudo em Aristóteles

(1975), Dois Estudos sobre a Primeira

Academia (1991), Platão e a Introdução das Formas (2004) e editor de Kant e Crítica

(1993).

SARA AHBEL-RAPPE

Professora Associada de Línguas Clássicas na Universidade de Michigan. E autora de Lendo

o Neoplatonismo (2000) e co-editora do Guia Blackwell à Leitura de Sócrates (Blackwell,

2006).

SUSAN SAUVÉ MEYER

Obteve o título de doutora em filosofia na Universidade de Cornell em 1987; ensinou na Universidade de Harvard antes de entrar na Faculdade de Filosofia da Universidade da Pennsylvania em 1994, onde é agora Professora Associada. Seu trabalho atual tem por foco a ética grega e romana e está no momento finalizando um livro, Ética Antiga.

TERRY PENNER

Professor Emérito de Filosofia e foi Professor Afiliado de Línguas Clássicas na Universidade de Wisconsin – Madison. Na primavera de 2005 foi Pesquisador Visitante A. G. Leventis de Grego na Universidade de Edinburgh. Escreveu numerosos artigos sobre Sócrates, a psicologia da ação de Platão e sobre a teoria das formas de Platão, bem como o livro A Ascensão do Nominalismo (1987) e, com

(8)

Hugh H. Benson 8 de 711 Christopher Rowe, o livro Lísis de Platão

(2005).

THOMAS C. BRICKHOUSE

Professor de Filosofia no Lynchburg College e co-autor (com N. D. Smith) de quatro livros e numerosos artigos sobre a filosofia de Sócrates. Escreveu também sobre Platão e Aristóteles.

WILLIAM J. PRIOR

Professor de Filosofia na Universidade de Santa Clara. Obteve seu título de doutor na Universidade do Texas em Austin em 1975. E autor de Unidade e Desenvolvimento na

Metafísica de Platão (1985) e Virtude e Conhecimento (1991), editor de Sócrates: Avaliações Críticas (4 volumes, 1996) e de

numerosos artigos sobre filosofia grega. Está atualmente trabalhando sobre o problema socrático e sobre a cosmologia grega.

(9)

Hugh H. Benson 9 de 711

Prefácio

Os ensaios reunidos neste livro são guiados por quatro objetivos. Primeiro, estão dirigidos a temas da filosofia platônica antes que a diálogos platônicos particulares. O pressuposto desta obra é que se aborda com proveito Platão ao se considerar de que forma posições defendidas em um diálogo podem ser comparadas e contrastadas a posições defendidas em outros diálogos. Cada autor teve a liberdade de pôr em prática este pressuposto como achava apropriado. Alguns preferiram concentrar-se primordialmente em um diálogo, observando de passagem como o tema é tratado em outros diálogos (p. ex., N. White), enquanto outros autores preferiram pôr um foco mais abrangente em seus ensaios (p. ex., McPherran). Contudo, um pressuposto comum a todos os ensaios é que é apropriado, e mesmo necessário, perguntar-se se Platão

trata o tema em questão de modo consistente ao longo de sua obra. Isso ocasionou, inevitavelmente, repetição e imbricação de um ensaio em outro. O mesmo texto ou doutrina platônica por vezes é explorado em função de temas diferentes. Tal repetição, todavia, deve ser encarada

como um reflexo da profundidade dos textos e doutrinas individuais platônicas e, consequentemente, dos diversos modos de os abordar.

Segundo, esta obra tem por objetivo apresentar uma variedade de

perspectivas sobre o

desenvolvimento filosófico de Platão. Por conta da abordagem orientada por temas (oposta a uma orientação por diálogos), o debate acerca do desenvolvimento filosófico de Platão

é particularmente saliente. Se Platão

trata um tema em um diálogo (ou em um grupo de diálogos) diferentemente do que em outros, é natural perguntar-se se esta diferença deve ser explicada por uma mudança de contexto, uma mudança de ênfase ou uma mudança na posição de

Platão. Se a mudança de posição parece ser a melhor explicação, é então natural perguntar-se qual posição Platão sustentou primeiramente e, deste modo, indicar seu desenvolvimento filosófico sobre este tema. Aqui nos vimos envolvidos no debate atual entre os estudiosos que veem os diálogos de Platão como refletindo seu desenvolvimento filosófico e os que veem os diálogos como desenvolvendo aspectos, detalhes e matizes de uma posição filosófica única ao longo de toda a

(10)

Hugh H. Benson 10 de 711 obra. Nos ensaios que seguem, alguns

autores defendem um

desenvolvimentismo assaz robusto (p. ex., McPherran, Penner e Ferejohn), enquanto outros parecem defender uma versão mais moderada (p. ex., Rowe) e outros ainda parecem oferecer interpretações desenvolvimentistas e não desenvolvimentistas (p. ex., Modrack) ou parecem adotar uma interpretação unitária (p. ex., McCabe, Janaway e Long). Quando os autores se referem aos três grupos cronológicos nos quais frequentemente se pensou que os diálogos de Platão se dividem, eles tipicamente têm em mente os seguintes agrupamentos: diálogos precoces (Apologia, Carmides, Críton, Eutidemo, Eutifro, Górgias, Hípias Maior, Hípias Menor, Íon, Laques, Lísis, Menexeno, Mênon, Protágoras), diálogos médios (Crátilo, Parmênides, Fédon, Fedro, República, Banquete, Teeteto) e diálogos tardios (Crítias, Leis, Filebo, Político, Sofista, Timeu). Porém, a obra como tal não pressupõe que os diálogos são corretamente vistos como tendo sido compostos nesta ordem nem sustenta uma abordagem desenvolvimentista ou unitária de Platão.

Terceiro, os temas foram selecionados com uma atenção à

relevância filosófica em oposição à relevância histórica ou filológica. Esta distinção é, obviamente, vaga e potencialmente enganadora, mas o foco foi filosofia – não história ou filologia. Consequentemente, estou seguro de que os temas escolhidos refletem os vieses de nossa época (e, sem dúvida, meus próprios vieses). Tal reflexo é, a meu ver, inevitável. Porém, ele também fará, espero, com que a coleção seja atraente a muitas pessoas com interesses na filosofia atual.

Quarto, foi pedido aos autores dos ensaios deste livro que escrevessem seus textos de modo acessível ao leitor iniciante ou ao não especializado; contudo, de um modo que também fizesse avançar a discussão especializada. Há sempre, suponho, uma tensão entre erudição séria e acessibilidade, mas os autores devem ser elogiados por sua habilidade em navegar em tais águas. Consequentemente, os ensaios devem interessar tanto os leitores que leem Platão pela primeira vez como também aos estudiosos que dedicaram uma boa parte de sua vida adulta a pesquisar suas profundezas internas. Para este fim, os próprios autores fizeram as traduções das passagens centrais ou usaram as

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Hugh H. Benson 11 de 711 traduções presentes em Plato:

Complete Works, editado por J. M. Cooper

(Indianápolis, Hackett 1997), que se tornaram em nossa época as traduções de referência para estudiosos e iniciantes.

Por fim, gostaria de exprimir minha sincera estima pelos eminentes estudiosos que contribuíram com os ensaios que seguem. Eu tenho estima por sua paciência com minhas instruções por vezes confusas e por meus frequentes atrasos, pela generosidade ao aceitar escrever para esta obra e deixar de lado a tentação de notas numerosas, pela elegância ao responder aos meus comentários por vezes obtusos e, especialmente, pela habilidade filosófica e erudita para compor os ensaios que seguem. Em um sentido muito literal, este livro não é meu, mas deles. Gostaria de agradecer especialmente a Mary Louise Gill e M. M. McCabe pelo encorajamento que me deram em momentos de incerteza, desespero e exasperação. Obrigado também a Nick Bellorini, Jennifer Hunt, Gillian Kane, Kelvin Matthews, Mary Dortch e à equipe da Editora Blackwell pelo apoio, conselho e paciência. Meus alunos Elliot Welch e Rusty Jones também contribuíram de modo inestimável a este empreendimento,

fazendo muito do trabalho pesado e salvando-me de erros graves. Finalmente, não posso deixar de agradecer a Ann, Thomas e Michael por me ajudarem a lembrar onde estão as minhas prioridades.

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Hugh H. Benson 12 de 711

Sumário

Autores ... 4

Prefácio... 9

Sumário ... 12

1. A vida de Platão de Atenas ... 14

A juventude de Platão em Atenas ... 15

A primeira viagem de Platão à Sicília e a fundação da Academia... 20

As expedições de Platão na Sicília em favor de Díon e da filosofia ... 24

Os últimos anos de Platão ... 30

Referências e leitura complementar... 31

2. Interpretando Platão ... 33

Referências e leitura complementar... 52

3. O problema Socrático ... 54

A fidedignidade das fontes ... 55

O que as fontes nos dizem a respeito de Sócrates... 60

O problema das doutrinas de Sócrates .. 63

Nota ... 70

Referências e leitura complementar... 70

Parte I ... 72

O MÉTODO PLATÔNICO E A FORMA DE DIÁLOGO ... 72

4. A forma e os diálogos platônicos ... 73

Discussões diretas... 73

Quadros e encartes ... 75

Ficção e relato ... 77

Sócrates a propósito de questão e resposta ... 79

A aporia socrática ... 81

O paradoxo da escrita ... 82

Drama e a dimensão ética ... 84

As limitações do ético ... 86

O diálogo silente da alma ... 89

A reflexão e seu conteúdo... 93

Notas ... 94

Referências e leitura complementar ... 95

5. O Elenchus socrático ... 97

6. Definições platônicas e formas... 118

7. O método da dialética de Platão ... 140

Parte II ... 162

8. A ignorância socrática ... 163

9. Platão e a reminiscência ... 186

10. Platão: uma teoria da percepção ou um aceno à sensação? ... 209

(13)

Hugh H. Benson 13 de 711 Abreviaturas usadas neste livro

ARISTÓTELES

APo Segundos Analíticos Cot. Categorias de An. De Anima EE Ética Eudêmia EN Ética Nicomaqueia Int. Da Interpretação Metaph. Metafísica Ph. Física Poet. Poética Pol. Política SE Refutações Sofisticas Top. Tópicos AGOSTINHO DCD A Cidade de Deus DIÓGENES LAÉRCIO

DL Vidas dos Filósofos Eminentes

DIONÍSIO (PSEUDO-DIONÍSIO)

CH Hierarquia Celeste MT Teologia Mística

HESÍODO

Th. Teogonia

Op. Os Trabalhos e os Dias

HOMERO

II. Ilíada Od. Odisséia

JÂMBLICO

DM Sobre os Mistérios dos Egípcios

PÍNDARO N. Odes Nemeias O. Odes Olímpicas PLATÃO Ap. Apologia Chrm. Carmides Cro. Crátilo Cri. Críton Ep. Cartas Euthd. Eutidemo Euthphr. Eutifro Grg. Górgias Hp.Ma. Hípias Maior La. Laques Lg. Leis Men. Mênon Phd. Fédon Phdr. Fedro Phlb. Filebo Plt. Político Prm. Parmênides Prt. Protágoras R. República Smp. Banquete Sph. Sofista Tht. Teeteto Ti. Timeu VII Sétima Carta

PLUTARCO Per. Péricles PORFÍRIO Abst. Da Abstinência VP Vida de Pitágoras PROCLO

In pr. Eucl. Comentário ao primeiro livro de Euclides

SEXTO EMPÍRICO

M. Contra os matemáticos

XENOFONTE

Mem. Memorabilia HG História Grega

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Hugh H. Benson 14 de 711

1. A vida de Platão de

Atenas

DEBRA NAILS

Platão morreu no primeiro ano da centésima oitava Olimpíada, no décimo terceiro ano do reinado de

Filipe da Macedônia – 347 a.C. pela contagem contemporânea – e foi enterrado na Academia.1 A reputação

do filósofo era tão venerável e tão difundida que uma mitologia foi inevitável e prolongada: Platão teve como genitor Apolo e nasceu da virgem PerictÍone; nasceu no sétimo dia do mês de Targelião, no dia de aniversário de Apolo, e as abelhas do Monte Himeto puseram mel na boca no bebê recém-nascido. Platônicos na Renascença celebravam o nascimento de Platão em 7 de novembro, no mesmo dia em que sua morte era lembrada. Em seu O Filho de Apolo, de 1929, Woodbridge escreve no início: “a exigência da história para que sejamos precisos vem de encontro à exigência de admiração para que sejamos justos. Presos entre as duas, os biógrafos de Platão têm escrito não a vida de um homem, mas tributos a um gênio”. Gênio certamente ele era, mas ele merece mais do que um tributo e mais do que uma vita padrão

feita na medida do bibliotecário alexandrino Apolodoro, que dividiu as vidas dos antigos em quatro períodos de vinte anos, com uma akmê na idade de 40 anos.2 Por este esquema,

Platão nasceu devidamente em 427, encontra Sócrates quando tinha 20 anos (e Sócrates tinha 60), funda a Academia aos 40, viaja para a Sicília aos 60 e morre na idade de 80. Ampla evidência refuta a bela cadência.

Platão de Colito, filho de Aríston

– pois este era o seu nome legal, com o qual tinha direito de cidadania ateniense e que será escrito nas listas tribais – nasceu em 424/3, quarto filho de Aríston de Colito, filho de

Arístocles, e de PerictÍone, filha de

Gláucon; Aríston e PerictÍone haviam se casado em 432. Deixando de lado origens divinas remotas, ambos os pais tinham ascendentes que os ligavam aos arcontes atenienses dos séculos sétimo e sexto e, no caso de

PerictÍone, a parentesco com Sólon, o sábio legislador (Ti. 20e1). Aríston e sua jovem família provavelmente estavam entre os primeiros colonizadores de Egina que mantinham a cidadania ateniense, quando Atenas expulsou os nativos de Egina em 431 (Tucídides 2.27). Quando Aríston faleceu, por volta do nascimento de Platão, a lei ateniense

(15)

Hugh H. Benson 15 de 711 proibia a independência legal da

mulher, de modo que PerictÍone foi dada em casamento ao irmão de sua mãe, Pirilampo, um viúvo que tinha sido recentemente ferido na batalha de Délio. Casamentos entre tios e sobrinhas, assim como entre primos de primeiro grau, eram comuns e úteis em Atenas, preservando antes que dividindo as propriedades familiares. O pai adotivo de Platão,

Pirilampo, tinha sido amigo íntimo de

Péricles (Plutarco, Per. 13.10) e várias vezes embaixador na Pérsia (Chrm. 158a2-6); trouxe à família pelo menos

um filho, Demos (Grg. 481d5, 513c7), cujo nome significa “povo”: um tributo à democracia sob a égide da qual Pirilampo floresceu na vida pública. Quando Pirilampo e

PerictÍone tiveram outro filho, fizeram o que havia de mais convencional, dando-lhe o nome de seu avô, Antifonte (Prm. 126bl-9). Assim, Platão cresceu em uma família de pelo menos seis crianças, sendo ele o número cinco: um enteado, uma irmã, dois irmãos e um meio-irmão.

Pirilampo morreu por volta de 413, mas o filho mais velho de Aríston,

Adimanto, já tinha então idade suficiente, cerca de 19 anos, para tornar-se guardião (kurios) de sua mãe.

A juventude de Platão em Atenas Quando Platão era um menino com idade suficiente para prestar alguma atenção à vida política que afetava sua família, a cidade de Atenas estava enredada na Guerra do Peloponeso, provocando e sofrendo uma sequência horripilante de desastres. Em 416, quando Platão tinha cerca de 8 anos e a Paz de Nícias, assinada entre Atenas e Esparta em 421, tinha fracassado completamente, Atenas comportou-se com uma crueldade desconhecida em relação a Melos, servindo-se dos argumentos “o-poder-faz-o-direito” que terão eco no Trasímaco da República I (Tucídides 5.84-116). No ano seguinte, quando a cidade embarcou na catastrófica expedição à Sicília, um grupo político oligárquico destruiu, à noite, os bustos da cidade, insultando o deus da viagem e dando início a uma histeria supersticiosa que levou à execução sumária, prisão ou exílio de cidadãos acusados de sacrilégio, inclusive membros da família de

Platão. Um dos três comandantes da frota, o carismático Alcibíades, estava entre os acusados, e uma consequência terrível da histeria em massa de Atenas foi o abandono, por parte de Alcibíades, da expedição e sua traição à cidade. Com a derrota

(16)

Hugh H. Benson 16 de 711 total de Atenas na Sicília em 413,

Esparta recomeçou a guerra. Platão

devia ter 12 anos quando Atenas perdeu seu império por causa da revolta de seus aliados; 13 anos, quando a democracia foi, por breve período, derrubada pela oligarquia dos Quatrocentos e quando o exército, ainda sob direção dos democratas, persuadiu Alcibíades a retomar e a comandá-lo novamente; 14 anos, quando a democracia foi restaurada; 15 anos, quando seus irmãos mais velhos, Adimanto e

Gláucon, lutaram bravamente na batalha de Megara (R. 368a3).

A despeito da guerra e das turbulências, Platão e seus irmãos teriam recebido uma educação formal em ginástica e música, mas por “música” devemos entender os domínios de todas as Musas: não somente dança, lírica, épica e música instrumental, mas também leitura, escritura, aritmética, geometria, história, astronomia e mais ainda. A condução informal de um menino à vida cívica ateniense era responsabilidade fundamentalmente do irmão mais velho da família. Como se vê no Laques e no Carmides, um jovem era socializado por seu pai, por seus irmãos mais velhos ou pelo tutor, os quais ele acompanhava na cidade –

enquanto as mulheres permaneciam discretamente no interior das casas. Na companhia de seus irmãos, Platão

era então provavelmente uma jovem criança quando conheceu Sócrates. Tanto o Lísis, que se passa no início da primavera de 409, quando Platão

teria 15 anos, quando o Eutidemo, que se passa alguns anos mais tarde, fornecem uma visão dos anos escolares de Platão, já que as personagens jovens destes diálogos eram exatos coetâneos de Platão na vida real. Lísis de Exone, acerca de quem temos a sorte de possuir evidência contemporânea para corroborar, independente dos diálogos de Platão, provavelmente permaneceu um amigo íntimo do filósofo, pois sabemos que chegou a ser avô, tendo pelo menos 60 anos quando morreu.

O diálogo Eutidemo, que se passa no momento em que Platão estaria ele próprio pensando a respeito de suas perspectivas de formação, ilustra a moda educacional da época: a transferência pretendida da excelência (aretê, também traduzida por “virtude”) do professor ao estudante. A educação mais refinada em Atenas no final do quinto século era dominada por sofistas, residentes estrangeiros que obtiveram fama e

(17)

Hugh H. Benson 17 de 711 riqueza professando técnicas de

persuasão e exposição, platitudes revestidas de alto estilo retórico, o tipo de habilidades que poderia ajudar os jovens a se tornarem excelentes qua exitosos na vida pública por falar com eficácia na Assembleia ateniense (ekklêsia) e nos tribunais. Mesmo os mais respeitáveis dentre eles – Górgias de Leontino e

Protágoras de Abdera, que aparecem em diálogos homônimos (ver a representação por Sócrates de

Protágoras no Teeteto) – são representados, contudo, como tendo feito ofício pífio ao transferir qualquer excelência que tivessem, pois seus estudantes parecem sempre ter dificuldade em reter e defender o que seus professores professavam. No Eutidemo, dois sofistas de caráter questionável alegam ser capazes de tornar qualquer homem bom chamando-o à filosofia e à excelência (274d7-275al), mas sua produção é nada menos que um uso hilário de falácias com vistas a enganar seus respondentes. O final do diálogo (a partir de 304b6) é uma lembrança grave de que, no tempo do amadurecimento de Platão, os atenienses estavam cada vez mais desconfiados dos sofistas, retóricos, oradores e filósofos, igualmente.

Estes eram os últimos anos antes da derrota de Atenas para Esparta em 404, quando a Assembleia prestava cada vez menos atenção às leis escritas e agia cada vez mais irracional e emocionalmente, e em busca de vingança. Um Platão mais velho distinguirá entre democracia legal e ilegal (Pít. 302dl-303b5) com boa razão. Contudo, as tradições eram mantidas quanto aos distritos ou demos de votação, 139 dos quais estavam em Atenas. A cidadania era passada estritamente de pai para filho, de modo que os filhos do falecido Aríston, quando chegam aos dezoito anos, são apresentados aos cidadãos de Colito em cerimônias de dokimasia, após as quais estariam inteiramente emancipados. Foi no ano seguinte à dokimasia de Platão

que Sócrates tentou sem sucesso impedir que a Assembleia levasse a julgamento e condenasse inconstitucionalmente seis generais, entre os quais o filho de Péricles e

Aspásia, sob a acusação de não terem assegurado o recolhimento dos corpos após a vitória na batalha naval de Arginusa, em 406. Nos dois anos seguintes à sua cerimônia, Platão terá atuado em companhia de seus camaradas de demo em uma milícia da cidade, embora confinado ao serviço dentro dos limites da Ática.

(18)

Hugh H. Benson 18 de 711 Mais tarde, quando chamado, terá

servido em outros lugares. Tanto pela lei quanto pelo costume, era necessária maior maturidade para participar em vários outros aspectos da vida cívica. Um cidadão deveria ter 20 anos para entrar na vida pública sem se tornar objeto de derrisão, e 30 anos para que seu nome entrasse nas loterias que determinavam o Conselho ateniense (boulê), os júris e os arcontes, e para que pudesse ser eleito general e se esperasse que se casasse.

Quando Platão chegou à maturidade, naturalmente imaginou para si próprio uma vida nos assuntos públicos, como diz em uma carta escrita em 354/3 (VII. 342b9). A autenticidade da carta foi por certo tempo muito discutida, mas mesmo seus detratores concedem que seu autor, se não tiver sido Platão, era íntimo do filósofo, possuindo conhecimento de primeira mão dos eventos relatados. Muitos dos detalhes da carta são esmiuçados e corroborados por historiadores contemporâneos da Grécia e da Sicília e seu estilo – diferentemente de outras carta desta série – é similar ao das Leis e Epínomis (Ledger 1989: 148-51).3 A família de Platão em sentido

mais largo já incluía dois homens na

órbita de Sócrates, personagens dos diálogos Protágoras e Carmides, que tiveram papel proeminente na vida pública ateniense: Crítias, o primo mais velho de segundo grau de Platão

(o primo mais velho de PerictÍone) e

Carmides (o irmão mais jovem de

PerictÍone), que estava sob a tutela de

Crítias. Ambos estavam entre os cinquenta e um homens em quem

Platão depositava grande esperança em 404, quando, depois dos fracassos e dos excessos da democracia por vezes ilegal, a derrota de Atenas para Esparta levou à eleição dos Trinta, encarregados de formular uma constituição pós-democrática que faria a cidade retomar aos princípios de governo da pátrios politeia, a constituição ancestral de Atenas.

Crítias era um dos líderes dos Trinta e

Carmides era um dos Dez chefes municipais do Pireu; os Onze chefes municipais da Atenas urbana completavam o total de cinquenta e um. Embora Platão tenha sido imediatamente chamado para participar da administração, ele era ainda jovem (VII. 324d4) e postergou a decisão, participando de perto e esperando testemunhar o retomo de Atenas à justiça sob a nova liderança.

Os Trinta o desapontaram amargamente; contudo, ao tentar

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Hugh H. Benson 19 de 711 implicar Sócrates na captura do

general democrata Leon de Salâmis para execução sumária. Platão diz desta oligarquia que ela fez o governo da democracia anterior parecer, por comparação, uma época áurea (VII.324d6-325a5). Segundo

Xenofonte de Erquia, o projeto da constituição era continuamente postergado (HG 2.3.11), e Isócrates de Erquia descreve os Trinta como tendo rapidamente caído em abusos e em excessos de autoridade, executando sumariamente 1.500 cidadãos e levando outros 5.000 ao Pireu durante nove meses no poder (Aeropagiticus 67). Porém, os democratas no exílio puderam reagrupar-se em File, de onde, em 403, voltaram a entrar no Pireu e enfrentaram as forças dos Trinta na batalha de Muniquia, onde

Crítias e Carmides foram mortos. Após meses de mais levantes, a democracia foi restaurada. Apesar de uma anistia negociada com arbitragem de Esparta em 403/2 para reduzir casos de vingança na sequência imediata da guerra civil, a confusão continuou. Uma cláusula do acordo de reconciliação dizia que todos os simpatizantes da oligarquia remanescentes teriam seu próprio governo em Elêusis, que eles teriam previamente assegurado para si ao pôr à morte a população sob a

acusação de terem apoiado a democracia (Xenofonte, HG 2.4.8-10;

Diodoro Sículo 14.32.5). O acordo teve vida curta: assim que os espartanos tiveram sua atenção desviada para uma guerra com Élis, os oligarcas começaram a alugar mercenários; Atenas retaliou anexando Elêusis e matando todos os simpatizantes remanescentes da oligarquia no início da primavera de 401.

Assim como em outras revoluções que saíram fora de controle, o nível geral de desordem tornou os atos de retaliação muito fáceis de serem perpetrados e a violência muito fácil de infligir sem punição. Contudo, os democratas que retornaram, segundo o relato de

Platão, mostraram aparente contenção durante este período de revoluções (VII. 325bl-5). E mesmo, se os diálogos com datas de drama variando entre 402 e 399 (especialmente o Mênon, Teeteto, Eutifro e Fédor) podem ser tomados como fontes para os tipos de conversa que Platão experimentou, quando tinha pouco mais de 20 anos, na companhia de Sócrates, então pelo menos algumas coisas da vida ateniense tinham voltado ao normal. Talvez por isso Platão descreva como

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Hugh H. Benson 20 de 711 tendo sido “por sorte” (VII.325b5-6)

que Anito e Lícon, cujo amigo Leon

Sócrates tinha anteriormente se recusado a entregar aos Trinta, conseguiram montar um processo contra Sócrates por impiedade e obtiveram ganho de causa em sua proposição de pena de morte. Para

Platão, este evento devastador, bem como sua opinião sobre que a ordem ateniense estava deteriorando-se em um caos, puseram um fim ao desejo de ser politicamente ativo que se reacendeu brevemente nele com a restauração da democracia (VII. 325a7-bl). Embora continuasse a considerar como ainda poderia realizar uma melhora nas leis e na vida pública em geral, com o tempo ele se deu conta que todo Estado existente sofria de mau governo e de leis quase insanáveis, tendo sido forçado, lá pela metade dos seus vinte anos, a admitir que, sem “reta filosofia”, se é incapaz de

Determinar o que é a justiça na polis ou no indivíduo. Os males sofridos pela humanidade não cessarão até que ou bem os filósofos genuínos e verdadeiros governem a polis, ou bem os governantes nas poleis, por alguma graça divina, se tornem verdadeiramente filósofos. (VII.326a5-b4; cf. R. V 473cll-e2)

Neste momento, ou logo depois,

Platão determinou-se a fazer sua contribuição à vida pública como um educador. Ele devia, neste papel, suplantar os sofistas e retóricos itinerantes, que estiveram por tanto tempo à frente da alta educação ateniense.

A primeira viagem de Platão à Sicília e a fundação da Academia

Após a execução de Sócrates, Platão

permaneceu em Atenas por talvez três anos. Durante este tempo, ele passou a conviver com Crátilo, seguidor de Heráclito, e com

Hermógenes, meio-irmão bastardo do célebre Cállias de Alopece, que gastou uma fortuna com sofistas (veja Cra., Prt. e Ap.). Então, com a idade de 28 anos em 396, Platão residiu por um período em Megara, distante meio dia de caminhada de Atenas, em companhia de Euclides e de outros socráticos, na busca de matemática e filosofia (Hermodoro, citado em

Diógenes Laércio 3.6-2-6). Indicações duvidosas de outras viagens aparecem somente em fontes tardias. Quando alcança 30 anos em 394, espera-se de Platão que se estabeleça como proprietário e, embora não haja nenhuma indicação neste sentido,

(21)

Hugh H. Benson 21 de 711 que se case (apesar de Leis IV 721a-e

e VI. 772d). Nunca esteve entre os cidadãos mais ricos de Atenas, mas as rendas provenientes de suas propriedades agrícolas fora dos muros da cidade parecem ter sido adequadas para suas necessidades pessoais e para obrigações familiares como dotes e funerais. O financiamento da Academia, ainda a ser fundada, era provavelmente complementado por doações; que as finanças da Academia eram distintas das contas pessoais de Platão é atestado pela ausência de menção da Academia no testamento de Platão.

Platão tinha uma propriedade no demo dos Ifistíadas, cerca de 10 km ao norte-nordeste do antigo muro da cidade e 2 km das margens do rio Cefíso, uma propriedade que provavelmente ele herdou (seu testamento não menciona nenhuma soma paga por ela). A propriedade pode ser localizada com precisão porque Platão a descreve como limitada ao sul pelo templo de Hércules, tendo sido descoberto em 1926 um de seus marcos de pedra.

Platão viria a comprar outro terreno, no demo dos Eresidas, de Calímaco, um executor nomeado no seu testamento, de outro modo desconhecido; sua localização era aproximadamente 3 km ao norte do

muro da cidade, na margem oriental do rio Cefiso. O sobrinho de Platão,

Eurimédon, outro executor, possuía as propriedades adjacentes ao norte e ao leste. Embora o demo de Platão

fosse Colito, dentro dos muros da cidade havia três irmãos com os quais devia dividir a propriedade de Aríston, e as leis de sucessão visavam a manter intactas as propriedades. Normalmente, a ausência de um testamento requeria uma divisão dos bens da propriedade (terras em cultivo, estruturas, rebanhos, metais preciosos, dinheiro, etc.) em partes iguais; quando se estava de acordo que eram iguais, os irmãos podiam sortear ou escolher a herança (MacDowell, 1978, p. 93).

Mais ou menos na mesma época em que estava estabelecendo-se,

Platão e os matemáticos Teeteto de Sunio, então com 19 anos e que morrerá cinco anos mais tarde,

Árquitas de Tarento, um pitagórico, teórico da música e líder político esclarecido, que permanecerá próximo de Platão durante sua vida,

Leodamas de Taso e talvez Neoclides

(Proclo, citado em Euclides, Elementos 66.16) passaram a encontrar-se na parte nordeste urbana de Atenas no bosque do herói Hecademo, entre os rios Cefiso e

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Hugh H. Benson 22 de 711 Erídano, com vistas a continuar seus

estudos. Espeusipo de Mirrino, filho de Potone, irmã de Platão, uniu-se ao grupo por volta de 390. O número de nomes de matemáticos presentes em uma lista originalmente compilada por Eudemo na última parte do século quarto a.C. é uma forte indicação que o grupo de estudiosos amigos cresceu firmemente nos primeiros anos. É somente quando Eudoxo de Cnido chega, no meio dos anos 380, que

Eudemo reconhece formalmente uma Academia. O bosque que iria mais tarde ser a Academia, todavia, tinha um ginásio e amplos espaços abertos frequentados por jovens intelectuais – e não salas de aula ou anfiteatros para conferência.

Platão já gozava de celebridade fora de Atenas por volta de 385, quando foi convidado à corte do tirano de Sicília, Dionísio I, que convidava regularmente atenienses célebres ao seu palácio real fortificado em Ortigia, a península que se lança no porto de Siracusa. Isto é uma indicação cogente que, ao lado de seus estudos matemáticos e filosóficos, Platão tinha começado a escrever diálogos que eram copiados e difundidos. Há evidência substancial que uma proto-República – que compreendia a maior parte dos livros

II-V do nosso texto atual da República – foi publicada antes de 391, quando Ecclesiazusae, a ousada peça de

Aristófanes, parodiou seus elementos centrais (Thesleff 1982: 102-10). A Apologia, uma primeira versão do Górgias, e o que é agora República I, estava provavelmente também entre os diálogos que foram publicados neste primeiro grupo. De tempos em tempos, Fedro e Lísis foram considerados como também aí figurando – sobretudo em tradições fora da filosofia analítica anglo-americana desde a década de 1950. Há evidência abundante de revisão em vários diálogos, um obstáculo insuperável para uma análise computacional definitiva do estilo de

Platão e, portanto, para a certeza acerca da ordem em que os diálogos foram escritos, exceção feita as últimos (Ledger 1989: 148-51). Contudo, a impressão de três períodos maiores em sua produção, com limites cinzentos, persiste na maior parte das tradições de interpretação (Nails, 1995, p. 97-114).

Platão nos diz que tinha quase 40 anos quando viajou para a Itália, onde provavelmente visitou Árquitas em Tarento, e para a Sicília, onde foi hospedado por Dionísio I, tirano de Siracusa. A viagem foi memorável, a

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Hugh H. Benson 23 de 711 despeito do desgosto de Platão pela

tirania e pela sensualidade decadente que encontrou. Não tinha nenhuma intimidade com o tirano (muito semelhante ao tirano da República IX), mas encontrou Díon, o jovem cunhado de Dionísio. Eis aqui um jovem de 20 anos, admirável, ainda que austero, pronto para aprender o que quer que Platão considerasse que pudesse ajudá-lo a obter a “liberdade sob as melhores leis” para o povo da Sicília (VII. 324b 1-2). Sua amizade – renovada com as visitas de Díon à Grécia – durará trinta anos (VII. 324a5-7). Fontes tardias (Diodoro Sículo, Plutarco, Diógenes Laércio) nos dão diferentes detalhes a respeito do final da primeira viagem de Platão

à Sicília, embora concordem todas que a fala franca de Platão irritou a tal ponto o tirano que ele foi posto de volta em um navio e vendido como escravo. Quando foi comprado e posto em liberdade por Aníceres de Cirene, no relato de Diógenes, os amigos de Platão tentaram devolver o dinheiro, mas Aníceres o recusou e comprou para Platão um jardim no bosque de Hecademo.

A Academia – um centro ateniense para estudos avançados, reunindo homens e mulheres de todo o mundo grego –, os diálogos, que

eram seus manuais, e os métodos filosóficos exemplificados neles constituem o brilhante legado de

Platão. Fundada após o retorno de

Platão da Sicília em 383 e com uma sucessão contínua até 79 a.C., a Academia é, por vezes, considerada a progenitora da universidade moderna, embora Isócrates tivesse estabelecido uma escola permanente para retórica em Atenas em 390. O programa da Academia, baseado na matemática e na busca do conhecimento científico – antes que em seu fechamento – tornou-a a primeira em seu tipo. Porém, o que pode significar sua “fundação”? Presumivelmente, a Academia tornou público seu interesse em receber estudantes, embora não houvesse taxas. Membros que estudaram juntos por alguns anos estavam agora talvez prontos para partilhar o que haviam aprendido e aplicar seu conhecimento em novas áreas. A Academia continuou a atrair filhos de líderes políticos, que estavam mais interessados em governar do que estudar matemática, que era um pré-requisito, mas todo início é turvo e é difícil não importar de modo anacrônico categorias atuais (professor, aluno) – como, em outros séculos, “mestre” e “discípulo” se impuseram. De qualquer modo,

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Hugh H. Benson 24 de 711

Platão parece ter passado o período que vai de 383 a 366 em relativa calma, estudando, discutindo, escrevendo e contribuindo, de modo geral, para a educação na Academia. É a este período também que se atribui a maior produção dos diálogos de

Platão e que os membros e as atividades da Academia começaram a ser ridicularizados no teatro cômico de Atenas. Deve-se notar a chegada de Aristóteles de Estagira em 367; os fragmentos dos diálogos escritos por

Aristóteles sugerem que era típico dos membros da Academia exercitar-se em escritos deste gênero.

As expedições de Platão na Sicília em favor de Díon e da filosofia

Na Carta VII, Platão descreve minuciosamente suas viagens subsequentes para a Sicília. O breve sumário a seguir pode ser de interesse tendo-se em mente a imagem do filósofo do Teeteto, objeto de derrisão por ser perfeitamente inapto em assuntos práticos (172c3-177c2);

Platão se mostra como inocente no exterior, manipulado em toda

ocasião, completamente

incompetente para ajudar seu amigo, ainda mais para tornar o governante um filósofo.

Platão não desejava retornar quando chamado de volta a Siracusa por Dionísio II em 366. O velho

Dionísio morrera em 367, logo após ter sabido que sua peça, O Resgate de Heitor, tinha recebido o primeiro prêmio no festival das Lenaias em Atenas. Apesar de sua reputação como erudito e culto, ele não se preocupou com a educação de seu filho e herdeiro. Quando criança,

DÍoniso II passou a maior parte do tempo sem contato com o pai, ocupado em fabricar brinquedos de madeira, mas, quando chamado à presença dele, ele era inspecionado em busca de armas escondidas como todo aquele que tinha uma audiência com o tirano. Adulto por volta dos 30 anos quando chamou Platão, o jovem

Dionísio tinha casado com a sua meia-irmã paterna, Sofrosine, com quem teve um filho, e que recentemente tinha recebido a cidadania honorária ateniense. Enquanto isso, Díon casou com sua sobrinha, Arete, filha do velho tirano, e tinha um filho de sete anos, de modo que Díon era cunhado e por vezes conselheiro do novo tirano.

Díon, a pedido de quem o chamado tinha sido feito, teve dificuldade para superar a relutância de Platão em viajar para Siracusa. Ele

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Hugh H. Benson 25 de 711 insistiu com vários argumentos,

inclusive com a paixão do jovem tirano pela filosofia e pela educação em geral. Platão não menciona se tinha lembrança do adolescente

Dionísio em sua primeira visita, declarando somente que as paixões de um jovem podem mudar radicalmente. Díon insistiu, exortando

Platão a ajudá-lo a influenciar Dionísio II, argumentando inter alia que a morte do velho tirano poderia ser aquele “destino divino” necessário para que enfim se realizasse a felicidade de um povo livre sob boas leis, que havia algumas outras pessoas em Siracusa que esposavam opiniões corretas, que seus jovens sobrinhos necessitavam igualmente de treinamento em filosofia e que o novo tirano poderia ser levado à verdadeira filosofia por Díon com a ajuda de

Platão, da mesma maneira como aquele fora levado à verdadeira filosofia por este, efetuando, deste modo, reformas e pondo fim aos males longamente sofridos pelo povo. Além disso, Díon acrescentou, se

Platão não viesse, homens piores estavam ansiosos para realizarem a educação do jovem tirano. Confiando mais no caráter firme e nas intenções de Díon do que na esperança de ter sucesso com Dionísio, temendo pela segurança de Díon, sentindo que o

débito em relação ao seu primeiro anfitrião pesava mais que suas presentes responsabilidades na Academia, uma dupla razão mostrou-se finalmente decisiva: seria vergonhoso aos olhos do próprio

Platão e uma traição à filosofia caso se mostrasse, ao final, um homem de palavras que se acovardava diante dos atos. Platão por fim embarcou, no início da estação de navegação de 366, para uma segunda viagem à Sicília.

Facções dentro da corte real suspeitaram desde o início de Díon e

Platão, imaginando que o objetivo secreto deste era colocar a Sicília, então em guerra contra Cartago, sob o controle de Díon. No intuito de testar a influência do filósofo, fizeram com que o hábil Filisto, um historiador banido pelo antigo tirano, fosse chamado de volta do exílio. Após alguns meses durante os quais Platão

e Díon tentaram incessantemente tornar a vida de moderação e sabedoria atrativa a Dionísio, que eles consideraram não sem habilidades (VII. 338d7), Filisto convenceu

Dionísio que Díon estava

secretamente negociando a paz com Cartago. Díon foi deportado sumariamente para a Itália, separado de sua mulher, filho e parte de sua

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Hugh H. Benson 26 de 711 propriedade lhe foi retirada. Os

amigos de Díon temeram retaliação, mas o tirano – cioso de sua reputação no estrangeiro e da necessidade de aplacar os que apoiavam Díon – pretensamente pediu a Platão para ficar, ao mesmo tempo em que se assegurava que não fugiria, instalando-o no interior de sua fortaleza (VII. 329dl-330a2). Platão

insistiu no projeto de educação e até estabeleceu relações entre Dionísio e

Árquitas e outros tarentinos. Dionísio, porém, que se ligou a Platão, permaneceu invejoso da alta consideração que Platão tinha por

Díon. Dionísio buscava

desesperadamente o elogio de

Platão, mas não trabalhava em busca da sabedoria, que era o único caminho para obtê-lo. Platão serviu-se de todas as ocasiões para persuadir

Dionísio a lhe permitir voltar para Atenas, o que resultou finalmente em um acordo: Platão prometeu que, caso Dionísio o chamasse, assim como a Díon, após ter-se assegurado da paz com Cartago, ambos voltariam. Nestes termos, Platão partiu de modo publicamente amigável e Dionísio

retirou as restrições postas quanto ao recebimento por parte de Díon de ganhos de sua propriedade.

Díon, entretanto, viajou para

Atenas, onde havia comprado uma propriedade; a cidade serviu-lhe de base e lhe permitiu estudar na Academia e fazer amizade com

Espeusipo. Porém, ele viajou por toda a Grécia, tendo sido recebido calorosamente em Corinto e em Esparta, onde recebeu a cidadania honorária. Quando Dionísio mandou chamar Platão – mas não Díon – em 361 e Díon implorou para que Platão

fosse, pois tinha escutado que

Dionísio tinha desenvolvido uma impressionante paixão pela filosofia (VII. 338b6-7). Então Platão recusou, irritando a ambos ao alegar idade provecta. Havia rumores provenientes da Sicília que Árquitas, certos amigos de Díon e muitos outros haviam dado a Dionísio o gosto pelas discussões filosóficas. Quando uma segunda chamada chegou,

Platão percebeu nela a ambição zelosa (philotimos) de não ser trazida à luz sua ignorância da filosofia; e

Platão recusou-se novamente a retornar à Sicília. Quando uma terceira chamada chegou, trazida por vários conhecidos sicilianos de Platão, entre os quais Arquedemo, ligado a

Árquitas, o siciliano Dionísio pensou que Platão a teria em alta conta. Não somente vieram com uma trirreme para facilitar a viagem de Platão, mas também Dionísio escreveu uma longa

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Hugh H. Benson 27 de 711 carta, dizendo que os negócios de

Díon, caso Platão viesse, seriam determinados como Platão quisesse, mas que, se não viesse, Platão não gostaria do desfecho a ser dado quanto à propriedade e à pessoa de

Díon. Neste ínterim, os conhecidos atenienses de Platão lhe pediam vivamente para que fosse imediatamente e cartas chegavam da Itália e da Sicília com novos argumentos – Árquitas relatava que importantes assuntos de Estado entre Tarento e Sicília dependiam da volta de Platão. Como antes, a decisão de

Platão foi que seria uma traição a

Díon e a seus anfitriões de Tarento se não fosse; quanto à traição à filosofia, desta vez Platão considerou (cegamente, como diria mais tarde: VII. 340a2) que talvez Dionísio, tendo agora discorrido com tantos homens acerca de temas filosóficos e tendo ficado sob a influência deles, de fato pudesse ter abraçado a melhor vida. Pelo menos, Platão iria descobrir a verdade.

Ficou claro, após sua primeira conversa, que Dionísio não tinha nenhum interesse em discutir filosofia; na verdade, o tirano anunciou que ele já sabia o que importava saber. Ademais, ele cancelou o pagamento dos ganhos

das propriedades de Díon; em consequência, Platão anunciou, irritado, que voltaria a Atenas, tendo intenção de embarcar em qualquer barco no porto. Dionísio, cioso de sua reputação, rogou-lhe que ficasse e, vendo que não conseguiria persuadir o irritado filósofo, ofereceu-se a cuidar ele próprio da passagem de

Platão. Contudo, ele encolerizou

Platão ainda mais no dia seguinte, ao prometer que, se Platão ficasse durante o inverno, Díon receberia excelentes propostas, que ele detalhou, na primavera. Platão, sem confiar nestas promessas, passou a noite considerando várias alternativas e se deu conta que já tinha levado um xeque-mate. Aceitou ficar sob uma condição: que Díon

ficasse a par das propostas de modo que o acordo pudesse ser feito. Não somente a estipulação não fui honrada, como tampouco as propostas foram discriminadas: assim que o porto foi fechado e Platão não podia mais escapar da ilha, Dionísio

vendeu as propriedades de Díon. Em evento decisivo, porém, envolvendo Heraclides, amigo de

Díon e líder da facção democrática em Siracusa, tudo mudou. Ele foi acusado de fracassar quanto ao pagamento de mercenários e fugiu para proteger sua

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Hugh H. Benson 28 de 711 vida, juntando-se a Díon. Uma

inscrição do santuário de Asclépio em Epidauro os honra juntamente Inscriptiones Graecae IV2 95.39-40).

Neste ínterim, Dionísio prometeu a outros líderes democratas excelentes condições para Heraclides, se voltasse para ser julgado, e ocorreu que Platão

serviu de testemunha do juramento quanto à promessa do tirano. Quando, no dia seguinte, o tirano já parecia estar quebrando a palavra,

Platão invocou prontamente a promessa que testemunhou na véspera, a qual o tirano prontamente negou, aguilhoando Platão

novamente. Tomando a ação de

Platão como um ato de preferir Díon

contra ele próprio, Dionísio

transportou Platão para fora das muralhas, à casa de Arquedemo, na área da cidade em que ficavam os mercenários do tirano.

Se Platão tinha sido antes um prisioneiro virtual, ele agora estava em perigo: remadores mercenários atenienses contaram-lhe que alguns deles estavam planejando matá-lo, de modo que Platão passou a enviar desesperadamente pedidos de ajuda. Por meio da intercessão de Árquitas, um barco tarentino foi enviado em sua busca. Porém, Platão não retomou para Atenas. Ele

desembarcou em Olímpia e se encontrou com Díon nos jogos, relatando-lhe a notícia de mais uma intransigência do tirano: de fato,

Platão fracassara em realizar algo digno de nota em favor de Díon ou da filosofia durante os sete anos de desventura na Sicília (VIL 350d4-5). A primeira reação de Díon foi clamar por vingança, querendo que os amigos, a família de Platão e o próprio velho filósofo se unissem a ele. Platão

tinha vários argumentos para recusar e ofereceu em troca seu auxílio no caso de Díon e Dionísio desejarem ser amigos e fazer bem um ao outro. Isso nunca ocorreu, embora as ações posteriores de Díon mostrem que seu desejo de vingança tinha-se extinguido antes da liberação de Siracusa, uma missão que ele perseguiu “preferindo sofrer o que é ímpio a causá-lo” (VII. 351c6-7).

Platão manteve-se informado das tratativas de seu amigo e continuou a fornecer-lhe conselho durante os três anos para angariar os fundos necessários e para alistar mercenários secretamente até que Díon pôde, finalmente, embarcar em 357, deixando a Espeusipo sua propriedade em Atenas. Parece que membros da Academia tinham muita esperança em um

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governante-Hugh H. Benson 29 de 711 filósofo: Platão os descreveu como

“empurrando-o” a uma terceira viagem (VII. 339d8-el), e pelo menos um membro, Timônides de Leucas, acompanhou a expedição no intuito de fazer um relato para Espeusipo e para a História. Heraclides ficou de trazer tropas adicionais e trirremes. A expedição de Díon, incluindo trinta sicilianos exilados, chegou quando o exército estava fora da cidade, de modo que Díon pôde entrar sem encontrar resistência e foi aclamado como o libertador dos gregos da Sicília. Foi eleito general e obteve o apoio da Siracusa inteira – exceto da fortaleza do tirano em Otígia, onde a esposa e o filho de Díon estavam retidos.

Dionísio simulou uma abdicação, mas mandou seu exército atacar enquanto negociava os detalhes: houve outros engodos e escaramuças militares que deram a Díon uma reputação de heroísmo. Quando

Heraclides chegou com vinte trirremes adicionais e com 1.500 mercenários, houve inicialmente uma cooperação. Contudo, a amizade se deteriorou, em função da nomeação oficial de Heraclides como general, pela fuga pelo mar do tirano sob a guarda deste e porque ele era mais popular do que Díon, causando lutas

entre seus respectivos seguidores.

Heraclides e Díon foram obrigados a fazer repetidas tentativas de pôr seus seguidores em uma mesma direção. Dois turbulentos anos se passaram até que Ortígia ficou finalmente aberta no verão de 354; a separação de onze anos entre Díon e sua família terminou e a assembleia dos cidadãos pôde debater temas internos: redistribuição da terra e da propriedade e se deveria haver ou não um Conselho. No espaço de alguns meses, porém, Heraclides foi assassinado por seguidores de Díon, ele mesmo tendo sido assassinado por um ateniense, Calipo, que o havia recebido amigavelmente e o hospedado em 366 e o acompanhara à Sicília. Calipo, que não tinha, Platão

insiste, nenhuma conexão com a

Academia, declarou-se

imediatamente tirano. Platão, escrevendo seis anos após o encontro em Olímpia e algumas semanas ou meses após a morte de Díon, compara seu amigo de trinta anos a um piloto que antecipa corretamente uma tempestade, mas subestima sua força de destruição: “que eram perversos os homens que o puseram por terra, ele sabia, mas não a extensão de sua ignorância, de sua depravação e avidez” (VII. 351d7-e2).

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Hugh H. Benson 30 de 711 Os últimos anos de Platão

Após 360, Platão permaneceu em Atenas, onde ocorreu um certo número de mudanças em sua família e na florescente Academia. Uma das letras com menor credencial de autenticidade menciona que duas sobrinhas morreram, levando Platão, por volta de 365, a aceitar a responsabilidade parcial de quatro sobrinhas-netas, de menos de um ano à idade de casamento – que em Atenas significava um ano após a puberdade. A mais velha estava para se casar com Espeusipo, então no início dos quarenta anos e em vias de ser o segundo da Academia (XIII. 361c7-e5). A mãe de Platão havia morrido algum tempo depois de 365, mas sua irmã Potone e pelo menos um de seus irmãos tinham casado e tido filhos e netos. Um “menino”

Adimanto, provavelmente neto do irmão de Platão de mesmo nome, teve como herança a propriedade de

Platão. O velho Platão estava secundado também por colegas na Academia: muitos nomes de seus associados nos foram transmitidos. Havia um registro detalhado na última década da vida de Platão e a sucessão dos líderes da Academia foi preservada; portanto, é razoável supor que listas de estudantes eram

de tempos em tempos estabelecidas durante os quase quarenta anos de liderança de Platão. Além dos que já foram mencionados – Aristóteles,

Eudoxo, Timônides e Espeusipo – há duas mulheres entre os mais notáveis,

Axioteia de Fliunte e Lastênia de Mantineia; o historiador Heraclides

de Ponto; o biógrafo Hermodoro de Siracusa; Filipe de Mende, também conhecido como Filipe de Opus, provável editor das últimas obras de

Platão; e Xenócrates de Calcedônia, que sucederá a Espeusipo.

Devemos rejeitar a imagem padrão do velho Platão consagrando seus anos tranquilos a burilar seu estilo no Timeu-Crítias, Sofista, Político, Filebo, Leis e Carta VII, pois esta imagem é tão irrealista quanto desnecessária. Embora estas obras partilhem características estilísticas incontroversas do ponto de vista estatístico que mostram que foram escritas ou editadas por uma única pessoa, o Epínomis, que foi incontrovertidamente escrito e publicado após a morte de Platão, possui, porém, a reconhecível prosa enfatuada daqueles outros, sugerindo que Platão se valeu do auxílio de um escriba, cuja responsabilidade consistia em reformular as produções da Academia no estilo adotado pela

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