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A interculturalidade e os programas de mobilidade estudantil: uma amostragem com participantes do AFS Intercultural Programs

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Academic year: 2017

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LILIAN RUDOLF

A INTERCULTURALIDADE E OS PROGRAMAS DE MOBILIDADE ESTUDANTIL: UMA AMOSTRAGEM COM PARTICIPANTES DO

AFS INTERCULTURAL PROGRAMS

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A INTERCULTURALIDADE E OS PROGRAMAS DE MOBILIDADE ESTUDANTIL: UMA AMOSTRAGEM COM PARTICIPANTES DO

AFS INTERCULTURAL PROGRAMS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Letras Orientadora: Profa. Dra. Vera Lucia Harabagi Hanna

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A INTERCULTURALIDADE E OS PROGRAMAS DE MOBILIDADE ESTUDANTIL: UMA AMOSTRAGEM COM PARTICIPANTES DO

AFS INTERCULTURAL PROGRAMS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Letras.

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________ Profa. Dra. Vera Lucia Harabagi Hanna

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Huady

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R917i Rudolf, Lilian.

A interculturalidade e os Programas de Mobilidade Estudantil : uma amostragem com participantes do AFS Intercultural Programs / Lilian Rudolf. – 2014.

144 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.

Referências bibliográficas: f. 140-144.

1. Interculturalidade. 2. Língua. 3. Cultura. 4. Comunicação intercultural. 5. Competência intercultural. 6. Mobilidade estudantil. I. Título.

CDD 370.116 R917i Rudolf, Lilian.

A interculturalidade e os Programas de Mobilidade Estudantil : uma amostragem com participantes do AFS Intercultural Programs / Lilian Rudolf. 2014.

144 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.

Referências bibliográficas: f. 140-144.

1. Interculturalidade. 2. Língua. 3. Cultura. 4. Comunicação intercultural. 5. Competência intercultural. 6. Mobilidade estudantil. I. Título.

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“A gargalhada é o sol que varre o inverno do rosto humano.”

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Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado à oportunidade de fazer esse trabalho, de ter cursado essa universidade, de ter tido tantas pessoas maravilhosas ao meu lado que me ajudaram e incentivaram.

Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Vera Lúcia Harabagi Hanna que foi muito mais do que uma orientadora, foi uma mãe, por ter compreendido os meus problemas pessoais e nunca ter desistido de mim. Sempre esteve pronta para me ajudar, demonstrando ser muito competente e detentora de um conhecimento vasto, além, de uma profissional que realmente sente paixão pela sua profissão. Uma pessoa que eu admiro.

Agradeço ao Prof. Dr. Alexandre Huady e a Profa. Dra. Nancy dos Santos Casagrande pelas contribuições que deram para o meu trabalho, por todas as sugestões, pela transmissão de seus conhecimentos que foram muito importantes e necessários para a conclusão do meu trabalho. Obrigada por terem participado das minhas bancas.

Agradeço a toda a minha família, meus pais Carlos e Odilia, meus irmãos Marcel e Carla, minha cunhada Sarah, dona Ione, minha avó Mercedes e minha sobrinha Hannah que me trouxe muita alegria nos momentos de tensão durante a jornada.

Agradeço a alguém muito especial na minha vida, que eu amo muito, meu amor, Fernando Piplovic, por toda a ajuda tecnológica, incentivo, dedicação, paciência, amor e carinho que teve durante o trabalho e sempre tem comigo.

Agradeço a amiga Ana pela ajuda com o preenchimento dos questionários, por ter enviado o link para alguns de seus amigos pessoais que são AFSERS e que foram para os Estados Unidos.

Agradeço as minhas amigas que sempre torceram por mim: Juliana, Marinah, Vivian, Tamara e Kátia.

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uso da ferramenta Google Forms que foi de grande utilidade, pelo envio dos questionários aos participantes e por terem autorizado o uso do nome AFS na pesquisa. Muito obrigada.

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O presente trabalho se filia à linha de pesquisa de aprendizado de línguas estrangeiras, com foco na língua inglesa e no papel da interculturalidade nos programas de mobilidade estudantil, destacando o programa de High School (Ensino Médio) oferecido pela Organização sem fins lucrativos AFS Intercultural Programs (antigo American Fields Service) sediada nos Estados Unidos da América.

O objetivo principal do estudo é o de compreendermos a experiência da interculturalidade adquirida num programa de intercâmbio, no país receptor, em que o intercambista conviverá com uma família nativa, frequentará uma escola da comunidade, estudará disciplinas relacionadas ao Ensino Médio; destacamos naquele contexto o convívio com uma nova cultura por intermédio da escola, do clube, da família que irá hospedá-lo e das novas amizades que fará. Abordaremos além dos conceitos de interculturalidade, o binômio língua-cultura, a relação entre língua, cultura e identidade, comunicação intercultural e competência intercultural. Pretendemos examinar o impacto que o programa de intercâmbio exerce na vida dos participantes ao regressar ao país de origem, o Brasil, na escolha da profissão, no mercado de trabalho, no que se refere a questões pessoais, acadêmicas e profissionais tanto quanto em itens como amadurecimento, tolerância, liderança, respeito, independência, organização, bagagem cultural e desenvolvimento da competência intercultural.

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This work joins the learning line of research of foreign languages, focusing on English language and the role of interculturalism in the student mobility programs, highlighting the high school program (High School) offered by non-profit organization AFS Intercultural Programs (formerly American Fields Service) based in the United States of America .

The main objective of the study is to understand the experience of intercultural acquired an exchange program in the host country, in which the exchange student will live with a native family, will attend a community school, study subjects related to High School; highlight that context living with a new culture for school through, club, family that will host him and new friendships that he will make. Discuss beyond intercultural concepts, the binomial language - culture, the relationship between language, culture and identity, intercultural communication and intercultural competence.

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Considerações iniciais...15

1. A relação entre língua e cultura...19

1.1 Língua...20

1.2 Cultura...26

1.3 Língua, Cultura e Identidade...31

2. Mobilidade estudantil...38

2. 1 A influência Norte-americana...41

2.2 O lugar da interculturalidade num aprendizado de uma língua estrangeira...45

2.3 A Competência Intercultural...53

2.4 O modelo de Sinergia Cultural...59

2.5 AFS Intercultural Programs...61

3. Metodologia e análise do corpus...64

3.1 Motivação e pressupostos...64

3.2 Instrumento de pesquisa – questionário...64

3.3 Elaboração do questionário...64

3.4 Análise dos resultados...67

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ANEXOS...105

ANEXO I...106

E-mail enviado para Sra. Ana Beatriz Cavalcanti apresentando a pesquisadora e o objetivo do trabalho...106

ANEXO II...109

E-mail enviado pela Ana Beatriz Cavalcanti (Gerente de Marketing do AFS) “dando consentimento à realização da pesquisa” solicitada pela pesquisadora...109

ANEXO III...110

E-mail enviado ao AFS pela pesquisadora conforme solicitado no Anexo II...110

ANEXO IV...112

Questionário enviado aos intercambistas...112

ANEXO V...118

Resumo das respostas do questionário enviado aos participantes...118

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Diante de um mundo cada vez mais globalizado, com crescente fluxos comunicacionais podemos perceber um aumento no número de intercâmbios realizados por jovens estudantes não só no Brasil, mas em todo mundo, e que oferecem ao participante vivência internacional, seja numa escola do Ensino Médio, numa Universidade ou numa empresa multinacional. É importante que estudemos, dentro do contexto do intercâmbio cultural, a língua, a cultura, a relação entre elas, a tríplice aliança que ocorre entre língua, cultura e identidade, o interculturalismo, a mobilidade estudantil, e a competência Intercultural. Focaremos esse horizonte, em nossa pesquisa, no universo do Ensino Médio – o High School.

O presente trabalho visa a investigar o conceito de interculturalismo no processo de aprendizado de uma segunda língua, o Inglês, no universo de intercambistas brasileiros que cursaram um ano do Ensino Médio, denominado High School, nos Estados Unidos. Ao se inserir numa outra cultura, a norte-americana, o indivíduo que está aprendendo a língua passará a aprender e a vivenciar essa nova cultura.

Optamos por investigar um grupo com experiência de intercâmbio nos EUA por ser o país que recebe o maior número de estudantes brasileiros vindos do AFS Intercultural Programs que no Brasil denomina-se AFS Intercultura Brasil. O AFS

Intercultural Programs é uma organização não governamental, sem fins lucrativos que oferece oportunidades de aprendizado intercultural por intermédio dos programas de Intercâmbio Cultural.

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O objetivo principal da pesquisa é o da observação de alunos brasileiros participantes do programa na volta ao país de origem e as possíveis implicações do ponto de vista cultural e intercultural.

Os dados serão coletados por meio de um questionário com intercambistas pertencentes a este grupo. A partir desses dados, pretendemos verificar o perfil dos participantes, às razões que os levaram a participar de um programa de intercâmbio, em que medida o fato de terem participado da experiência os trouxe competência intercultural e os despertou consciência de cidadania, experiências de interculturalidade, as competências adquiridas como liderança, independência, tolerância, a influência que o intercâmbio teve em suas decisões em relação à escolha da profissão, entre outros aspectos.

Apesar do destaque do desenvolvimento de outros países no mundo como China, Coréia, entre outros países emergentes, além da crise econômico-financeira enfrentada pelos norte-americanos, os Estados Unidos ainda são a primeira opção na escolha como destino número um para a experiência de Intercâmbio Cultural –

High School. Segundo Adele Ruppe, conselheira para assuntos de educação e cultura da embaixada dos Estados Unidos no Brasil:

“Os Estados Unidos continuam sendo um dos destinos preferidos pelos estudantes do Brasil, por causa da qualidade e prestígio associados a um diploma americano”. “Os rankings internacionais confirmam esse reconhecimento. Segundo a lista do Times Higher Education Supplement de 2012, 44 das 100 melhores universidades do mundo são estadunidenses e, dentre as dez primeiras, sete estão nos EUA.” 1

A escolha do objeto de análise desta dissertação está relacionada à experiência pessoal desta pesquisadora, por ter participado de um programa de intercâmbio entre os anos de 1996 e 1997. Embora não tenha viajado para os Estados Unidos, participei de uma seleção pela Instituição AFS Intercultural Programs para fazer o programa de High School. Na seleção não podíamos escolher o país em que seria realizado o intercâmbio, tampouco região ou distrito,

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preenchíamos um formulário com opções de países e a organização recebia as vagas e as direcionava aos dez finalistas da seleção. Como se trata de um programa em que escola e a família hospedeira são voluntárias, os organizadores distribuem as vagas de acordo com os perfis dos estudantes e os que os recebem. Fiquei entre os dez finalistas e a minha vaga foi destinada para a Noruega.

É preciso destacar que ao participar da seleção do AFS, o estudante passa por um teste de conhecimentos gerais, dinâmicas de grupos, leitura de textos e discussões, trabalhos voluntários e apresentações de trabalhos. Geralmente, são trabalhos relacionados à apresentação de algum país, ilustrando sua história, sua cultura, seu idioma, seus costumes, etc.. Além disso, o estudante preenche um formulário, como já havíamos mencionado, com algumas opções de países e ele sendo aprovado na seleção, irá receber uma vaga, que poderá ser sua primeira, segunda, terceira, última, ou nenhuma das opções que havia colocado, ou seja, havendo a chance de surgir uma vaga para um país que não havia sequer pensado.

O vínculo criado com a família hospedeira norueguesa permanece até hoje e o mesmo ocorreu com a intercambista norueguesa que residiu no Brasil com a família da pesquisadora. Tivemos uma experiência muito positiva a qual serviu como fonte de inspiração para que tivéssemos novamente experiências com o Programa de Intercâmbio Cultural do AFS.

Transferindo para o exemplo pessoal, aprendermos o norueguês foi possível vivenciando a cultura norueguesa, frequentando uma escola do Ensino Médio e morando com uma família norueguesa em Oslo. No início, a barreira da língua foi um dos obstáculos a vencer; apesar de a Noruega ser um país bilíngue, pois a grande maioria fala inglês, além do norueguês, porém, o objetivo principal do programa era vivenciar outra cultura, ter uma experiência internacional e a língua foi uma “ferramenta” imprescindível.

Esta pesquisa divide-se em três capítulos: no Capítulo 1, apresentaremos a relação entre língua e cultura, conceitos básicos sobre cultura e a relação entre língua, cultura e identidade.

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os Estados Unidos como opção para a experiência de intercâmbio cultural. Além disso, abordaremos a importância da interculturalidade num programa de mobilidade estudantil, especificamente o programa de High School nos Estados Unidos, conceitos sobre a Competência Intercultural e sua relação com a experiência do intercâmbio cultural assim como uma apresentação sobre a Instituição AFS Intercultural Programs.

O Capítulo 3 se refere ao processo da escolha metodológica e do instrumento de pesquisa, além da descrição dos procedimentos da coleta de dados. Posteriormente serão apresentados os dados e os mesmos serão analisados de acordo com as teorias estudadas.

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CAPÍTULO 1 - A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E CULTURA

O Capítulo 1 apresenta as diferentes maneiras de como a língua pode estar conectada à cultura, como podemos aprender uma nova língua vivenciando imersamente numa nova cultura.

O estudo da relação entre língua e cultura ganha cada vez mais espaço e acarreta um maior interesse por uma educação intercultural que contribui para um entendimento mais apurado em relação às culturas, a um novo olhar sobre o outro,

A indissociabilidade entre língua e cultura é cada vez mais visível no mundo globalizado, acarretando uma educação intercultural cada vez maior, na qual língua e cultura caminham lado a lado atuando como fatores fundamentais na promoção de uma convivência compartilhada no planeta. (Dourado, M., Poshar, H., 2010, p. 34).

Língua e cultura estão absolutamente interligadas. Porém, muitas vezes não percebemos ou não nos atentamos para este fato. Ao estudarmos a nossa própria língua ou uma segunda língua, percebemos que a cultura se manifesta na gramática, numa gíria, nas expressões, sendo possível identificarmos questões regionais, dialetos, variações da língua inglesa, de outros idiomas, entre outros.

Se entendermos a cultura como o complexo de valores, costumes, crenças e práticas que constituem o modo de vida de um grupo específico, um modo de vida que é regido pela língua, e se compreendermos que, ao longo da vida, o indivíduo passa por constantes processos de identificação e desindentificação com aquilo que o interpela, então, percebemos que a língua, cultura e identidade são conceitos intrinsicamente ligados, uma vez que é por meio da língua que a cultura se constitui e é difundida e é também por meio dela que ocorrem os processos de identificação. (Coelho, L.; Mesquita, D. P. C., 2013, p. 25 apud Eagleton, 2005, p. 55).

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a identificação de uma nação, seja por meio do sotaque, da gramática, dos vocábulos, em fim, é impossível pensamos em cultura sem mencionarmos a língua.

A habilidade que possuímos de nos comunicarmos numa língua inclui a incorporação dos sentidos culturais que criaram o esteio invisível de sustentação de tudo o que se diz ou ouve nessa língua. (Filho Almeida, J., 2010, p. 14).

1.1 Língua

Iniciemos pelas considerações de Signorini (2006, p. 30) a respeito da língua, “A língua é inteiramente específica da espécie homem. Do ponto de vista evolucionário, portanto, a língua foi adquirida, por assim dizer, instantaneamente”.

Desde a antiguidade havia a necessidade de o homem expressar seus sentimentos, seus desejos. Por intermédio da língua, um sistema de símbolos, uma ferramenta capaz de fazer o homem interagir dentro de um grupo, de uma sociedade, exteriorizando suas opiniões, sentimentos, expressando por meio da língua falada, escrita ou outras formas de linguagens o seu modo de vida e as suas experiências.

Para Signorini, I. (2006 p. 76), a língua se relaciona com a sociedade porque é a expressão das necessidades humanas de se congregar socialmente, de construir e desenvolver o mundo, de se comunicar. “A língua não é somente a expressão da “alma” ou do “íntimo”, ou do que quer que seja do indivíduo; é, acima de tudo, a maneira pela qual a sociedade se expressa como se seus membros fossem a sua boca.”.

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Podemos pensar na língua como uma vestimenta, pois há vários tipos de usos para determinados contextos, assim é uma roupa que usamos. Não seria adequado ir a um casamento com traje de praia ou ir à praia com um vestido longo. Dentro da língua encontramos funções e objetivos. É necessário conhecer a língua para usufruirmos dela adequadamente. Segundo Hanna,

Aprender uma língua requer não apenas a interiorização de um sistema de regras formais e estruturais, mas inclui a interpretação de códigos e a negociação social de significados em contextos variados, refere-se à habilidade de se comunicar através de fronteiras culturais” (2013, p. 1).

Por intermédio da língua é que nos relacionamos com as outras pessoas, ela faz parte do nosso cotidiano seja a língua escrita, a falada, a de sinais. É a responsável pela nossa comunicação, sem ela não haveria interação, viveríamos no isolamento. “Língua é o principal meio pelo qual conduzimos nossa vida social. Quando é usada no contexto da comunicação estabelece um vínculo com a cultura em diferentes aspectos” (Kramsch, 1998, p. 3). 2

Ao falarmos de língua, estamos falando de comunicação, de interação, de uma espécie de ferramenta capaz de aproximar pessoas de valores e tradições diferentes. Ao aprendê-la, seja num contexto de intercâmbio, numa aula de aquisição de segunda língua, conseguimos a interação com diferentes povos, com diferentes culturas. Ao aprender uma nova língua estamos aptos a nos comunicar com outra cultura, com outra civilização. De acordo com Chauí:

A língua é um código (conjunto de regras que permitem produzir informação e comunicação) e se realiza por meio de mensagens, isto é, pela fala/palavra dos sujeitos que veiculam informações e se comunicam de modo específico e particular (a mensagem possui um emissor, aquele que emite ou envia a mensagem, e um receptor, aquele que recebe e decodifica a mensagem, isto é, entende o que foi emitido. (2006 p. 154).

2Nossa tradução para: Language is the principal means whereby we conduct our social lives. When it

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A língua é um dos veículos mais importantes que faz com que pertençamos a uma sociedade, a uma civilização, a uma cultura, pois por meio das palavras nós refletimos crenças, atitudes, opiniões, experiências as quais trocamos com outros indivíduos.

A língua é o principal meio pelo qual conduzimos nossas vidas sociais. Para começar, as palavras se referem a experiências comuns, expressam fatos, ideias ou eventos que são transmissíveis porque se referem a um estoque de conhecimento sobre o mundo que outras pessoas partilham.3 (Kramsch, 1998, p. 3).

Para que haja uma comunicação eficaz é necessário colocar as palavras em um contexto situacional e cultural. Ao pensarmos no contexto situacional estamos usando as normas da língua para uma determinada situação, podendo ser uma situação formal como uma entrevista de emprego ou uma situação informal como numa festa. O contexto cultural se refere às crenças, os estereótipos, os valores, os comportamentos de uma determinada população, portanto para que nos comunicamos bem, precisamos levar em consideração esses fatores, conforme as palavras abaixo:

Pensar somente nas palavras sem agregá-las a um contexto é algo pouco produtivo, pois para se construir o significado e a interpretação das ocorrências, é necessário compreender o contexto situacional e o contexto cultural, ao mesmo tempo. Ambas as noções, a de contexto situacional e a de contexto cultural, foram introduzidas pelo antropólogo Bonislaw Malinowski, em 1923, e revistas pelos lingüistas Halliday e Hasan, em 1991, como contexto de uso e relidas por Claire Kramsch, em 1998, no âmbito de ensino de língua estrangeira. (Hanna, 2012. p.47).

Um indivíduo, ao se afastar de sua cultura para aprender e vivenciar uma nova cultura, só conseguirá a partir do momento que tem como ferramenta a língua

3 Nossa tradução para: Language is the principal means whereby we conduct our social lives. To

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desse novo povo, sendo assim “a língua expressa à realidade cultural”. (Kramsch, 1988, p. 3).

Para entendermos a língua a que estamos aprendendo, é necessário que entendamos a cultura que essa língua transmite,

A língua é uma manifestação direta da cultura de determinado povo que somente será entendida juntamente com o conhecimento dela. A compreensão da designação de cultura, em sentido amplo, implica conhecer seus dois componentes básicos - um antropológico (as atitudes, os costumes, o cotidiano, e todas as maneiras de sentir, pensar e agir, seus valores e referências) e outro histórico, que forma uma espécie de moldura para o primeiro por representar a herança de um povo. (Hanna, 2013, p.1).

A cultura aparece a todo instante no cotidiano do intercambista durante a sua experiência de intercâmbio cultural, mesmo sem ele perceber, ela está inserida na língua e é refletida numa piada, numa gíria, numa expressão idiomática, falantes de uma cultura se reconhecem por meio da língua, pois ela é um conjunto de sinais, de símbolos que significam uma determinada cultura. Segundo Kramsch afirma que:

A língua é um sistema de signos que é visto como tendo em si um valor cultural. Oradores e outros se identificam através do uso da linguagem; eles veem a sua língua como um símbolo de sua identidade social. A proibição de seu uso é muitas vezes percebida por seus falantes como uma rejeição do seu grupo social e sua cultura. Assim, podemos dizer que a linguagem simboliza a realidade cultural. (1998, p.3).4

A cultura de um povo pode ser representada e transmitida de gerações a gerações por diferentes veículos como a literatura, a música, os museus, os monumentos, as obras de arte e também através da língua seja ela manifestada

4 Nossa tradução para:Language is a system of signs that is seen as having itself a cultural value.

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verbalmente, seja pela escrita. Segundo Kramsch, (1998 p. 8), “A língua não é um código livre de cultura, distinta da forma como as pessoas pensam e se comportam, mas, ao contrário, ela desempenha um papel importante na perpetuação da cultura, particularmente em sua forma impressa”.5

Segundo Byram e Fleming (1998, p.I), a partir do momento em que um indivíduo começa a estudar uma segunda língua, está exposto a essa realidade, se torna inevitável aprender sobre os falantes nativos daquela língua, sobre a sua sociedade, sobre os seus hábitos.6

Ao aprendermos nossa língua materna de forma natural, falamos sem ter consciência de suas funções e regras, da cultura que ela expressa, porém, ao aprendermos uma segunda língua, passamos a conhecê-la com mais detalhes, com mais riqueza e muitas vezes o aprendiz da segunda língua chega a conhecer essa segunda língua muito melhor do que o nativo dela.

A língua é praticada por nós de maneira não consciente, isto é, nós a falamos sem ter consciência de sua estrutura, de suas regras e seus princípios, de suas funções e diferenças internas; vivemos nela e a empregamos sem necessidade de conhecê-la cientificamente. (CHAUÍ, M. 2006, p. 154).

A identidade é construída por meio da língua e cultura, não há cultura sem língua, uma depende da outra, elas se completam. Destacamos aqui, no caso pessoal, o aprendizado das primeiras palavras norueguesas relacionadas a fazer algo não apropriado dentro da cultura como, por exemplo, não tirar o calçado para entrar em casa.

Ao escutar afrase “Beklager, men du må ta av deg skoene for å gå inn”7, que

significa que é proibido entrar na casa de um norueguês de calçados, para nós, na

5 Nossa tradução para: Language is not a culture-free code, distinct from the way people thinks and

behave, but, rather, it plays a major role in the perpetuation of culture, particularly in its printed form.

6 Nossa tradução para: In learning another language students are exposed to, and inevitably learn

something about, one or more other societies and their cultural practices.

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cultura brasileira não é algo comum, que faz parte do nosso cotidiano, mas no entanto, para o povo norueguês é uma forma de se demonstrar respeito e educação. Ao aprender essas palavras norueguesas, o indivíduo começa a perceber que com uma simples frase é possível aprender comportamentos e valores de uma nova realidade, de uma nova cultura.

Ao aprender um vocábulo novo, uma gíria, uma regra gramatical o indivíduo está experimentando uma nova experiência, pois está aprendendo algo novo dentro de um determinado contexto, inserido numa outra cultura que não seja a sua de origem. Tal contexto pode ser jogando futebol, assistindo a um filme, numa conversa informal, etc.. De acordo com Kramsch, (1998, p. 3 1998), “membros de uma comunidade, de uma cultura não só expressam experiência, mas, também criam experiência através da língua.” 8

Para Amaral, apud Humboldt, (1990 p.2) “aprender uma nova língua não é colocar novas etiquetas em coisas já conhecidas, é adquirir um novo ponto de vista, é adquirir uma nova visão de mundo, é dar novos sentidos a coisas já conhecidas”. Ao adquirirmos novos pontos de vista, novas visões de mundo e novos sentidos, estamos adquirindo mais cultura também, ao adquirir mais cultura, de alguma forma estamos adquirindo mais conhecimento.

Aprender uma nova língua vai além do conhecimento de palavras diferentes relacionadas à língua materna, traz ao indivíduo que está aprendendo particularidades de um grupo de pessoas que carregam consigo pontos de vistas, tradições, costumes diferentes do nosso, ou seja, diferente da cultura brasileira.

Reconhecer novas possibilidades no processo de adquirir uma nova língua para o uso dela de fato é uma libertação para voos em novas dimensões do processo adquiridor de outros idiomas, dimensões essas linguísticos-sistêmicas, identidário-ideológicas e culturo-comunicativas. (Almeida Filho, J. 2010, p. 11).

A liberdade alcançada ao adquirirmos uma nova língua principalmente o inglês é conseguirmos transitar em diferentes mundos, diferentes ideologias, agregarmos outros valores, hábitos a nossa identidade.

8Nossa tradução para: But members of a community or social group do not only Express experience;

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1.2 Cultura

O termo cultura traz sua significância em diferentes contextos, evocando significados múltiplos e complexos. “De inata à adquirida, de conjuntos de realizações artísticas a saberes acumulados.” (Dourado, M. Poshar, H., 2010, p. 33).

“De origem latina, o termo cultura até o século XVI, era associado ao cultivo da terra, porém, da segunda metade do século XVI em diante assumi o significado de cultivo do espírito e desenvolvimento da mente.” (Dourado, M., Poshar, H., 2010, p. 35).

Para (Paiva, M., Inocente N., e Oliveira, A.) apud Hofstede (1991) a cultura provém do ambiente social do indivíduo, não dos genes. Srour (2005) concorda com os autores acima e afirma que a cultura é aprendida, transmitida e partilhada. É resultante de uma aprendizagem socialmente e não de uma herança biológica. Já Morgan (1996) diz que a cultura é refletida nos sistemas sociais de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais do cotidiano. A cultura varia conforma a sociedade. Geertz (1989) defende o conceito de cultura essencialmente semiótico, uma teia de significados que o homem teceu e a ela está amarrado. Cultura é uma ciência interpretativa à procura do significado, e não uma ciência experimental em busca de leis. Já para Trompenaars (1994), a cultura apresenta-se em camadas, como uma cebola. No nível externo encontram-se os produtos da cultura, e nos níveis mais profundos os valores e normas. Porém o termo germânico Kultur, desde o final do século XVIII, referia-se aos aspectos espirituais de uma comunidade. A palavra

civilização, dizia respeito ás realizações materiais de um povo.

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Damázio (2008, p. 66) apud Santos e Nunes, (2003, p. 27) defende a ideia de duas concepções de cultura, conforme a citação abaixo:

A primeira está associada aos saberes institucionalizados pelo Ocidente e definida como o melhor que a humanidade produziu, baseia-se “em critérios de valor, estéticos, morais ou cognitivos que, definindo-se a si próprios como universais, suprimem a diferença cultural ou a especificidade histórica dos objetos que classificam”. A segunda concepção, citada pelos autores, define a cultura como totalidades complexas. Esta definição proporciona o estabelecimento de distinções entre diversas culturas que podem ser consideradas seja como diferentes e incomensuráveis, julgadas segundo padrões relativistas, seja como exemplares de estágios numa escala evolutiva que conduz do elementar ou simples ao complexo e do primitivo ao civilizado.

A cultura é algo que está sempre em transformação, pois resulta da interação social entre os indivíduos e estes estão sempre se transformando, se adaptando, se reinventando, além de sempre estarem disseminando suas tradições, seus hábitos, suas tradições. A língua é uma importante ferramenta, pois faz com que a cultura seja transmitida.

O homem é um ser cultural, pois carrega consigo valores, crenças, tradições e com isso consegue viver dentro de um grupo social.

A cultura pode ser entendida como um conjunto de valores, crenças, costumes e práticas que caracterizam o modo de vida de determinado grupo social. Esse conjunto possibilita ao indivíduo inserir-se e interagir em seu grupo social, pois lhe permite negociar “maneiras apropriadas de agir em contextos específicos.” (Eagleton, 2005, p. 184).

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Cultura é uma preocupação contemporânea, bem viva nos tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la. (Santos, 2011, p. 7).

A palavra cultura nos remete também à educação, a conhecimento e à sofisticação que um indivíduo possui, indiferente se ele adquiriu determinado conhecimento na escola ou em suas experiências pessoais. Podemos pensar na palavra cultura como um sinônimo de sofisticação pessoal, elegância, refinamento, educação, ao conhecimento que uma pessoa detém.

Cultura também é um conjunto de conhecimentos e práticas sociais que se acumulam em um processo contínuo e esse processo resultará na interação social. Conforme Mesquita Coelho (2014) é mediada pela língua, e assim permite que a cultura seja transmitida ao longo das gerações, daí podemos entender que a cultura de um povo tem como peça importante na sua construção cada indivíduo, sendo uma peça importante na sua disseminação e criação. O homem é um ser cultural e é a cultura que faz com ele se adapte a novas situações, novos ambientes.

De acordo com o antropólogo americano Clifford Geertz, a cultura é um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento em relação à vida. (1989, p. 103).

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interesses e capacidades distintas e até mesmo opostas transforma-se num grupo em que podem viver juntos, sentindo-se parte da mesma totalidade.

Quando observamos o modo de vida de diferentes grupos, diferentes povos, estamos analisando a sua cultura. O que é aceitável ou não dentro de uma sociedade está relacionado à cultura daquele povo local. A língua escrita ou falada também se socializa por meio da cultura:

Etiqueta, expressões de cortesia, o que é aceitável ou não é capaz de moldar o comportamento das pessoas por meio de educação infantil, educação comportamental, a escola, formação profissional. O uso da linguagem escrita também é moldada e socializada por meio da cultura. Estas formas com a linguagem, ou normas de interação e interpretação, fazem parte do ritual invisível imposta pela cultura em usuários da língua. (Kramsch, 1998, p. 6)9

Cada cultura possui a sua lógica interna, a sua realidade e por isso devemos conhecer primeiramente essa lógica antes de fazermos qualquer tipo de julgamento ou análise. Ao discutirmos sobre cultura começamos a pensar sobre a nossa própria cultura, nossos hábitos, nossa sociedade. Segundo Santos, (2001, p. 9):

A riqueza de formas das culturas e suas relações falam bem de perto a cada um de nós, já que convidam a que nos vejamos como seres sociais, nos fazem pensar na natureza dos todos sociais de que fazemos parte, nos fazem indagar sobre as razões da realidade social de que partilhamos e das forças que as mantêm e as transformam.

Para Moran (1994), cultura é um artifício que cada sociedade usa para tomar as suas decisões diárias e entender o mundo com que se confronta. Outra questão referente à cultura é que as diferenças genéticas não determinam as diferenças

9 Nossa tradução para: “Etiquette, expressions of politeness, social dos and don’t´s shape people´s

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culturais. Qualquer criança pode ser educada em qualquer cultura, como qualquer adolescente, adulto e idoso. É o que afirma Laraia, (2006, p. 17).

Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. Em outras palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente em nada de seus irmãos de criação.

A cultura não é estática, mas sim dinâmica, pois sofre transformações com o tempo. Há culturas que respeitam a tradição e outras que vão se repaginando de acordo com as mudanças do tempo. “As culturas humanas são dinâmicas. De fato, a principal vantagem de estudá-las é por contribuírem para o entendimento dos processos de transformação por que passam as sociedades contemporâneas”. (Santos, 2011, p. 26).

O mundo está em constante transformação, e compreender o que é diferente daquilo que sempre vivemos (como por exemplo, vivenciar uma cultura diferente), é um grande passo para nos libertarmos de preconceitos, do egoísmo, da intolerância em relação ao outro, ao diferente, como afirma Laraia,

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1.3 Língua, cultura e Identidade

A relação entre língua, identidade e cultura é imanente, uma vez que não há cultura sem língua e que a identidade é construída por meio desta e da cultura, segundo Coelho e Mesquita, 2013 (apud Chauí, 2006, p. 156) conforme esclarece a citação abaixo:

Há um vaivém contínuo entre as palavras e as coisas, entre elas e as significações, de tal modo que a realidade (as coisas, os fatos, as pessoas, as instituições sociais, políticas, culturais), o pensamento (as ideias ou conceitos como significações) e a linguagem (as palavras, os significantes) são inseparáveis, suscitam uns aos outros, referem-se uns aos outros e interpretam-se uns aos outros.

A língua existe antes de nós e, certamente, continuará existindo depois de nós. Nós a encontramos formada e em funcionamento, pronta para ser usada, portanto o seu caráter social. Ela se figura como produto cultural e histórico, e é utilizada para representar, de forma oral ou escrita, nossos pensamentos, sentimentos, sensações, emoções, percepções. Ela é, portanto, fundamental para compreendermos a identidade de um povo num determinado contexto social. (Coelho e Mesquita 2012, p. 31).

Aprender uma língua é um processo complexo que envolve não só aprender o alfabeto, o significado e o arranjo das palavras, as regras da gramática e compreensão da literatura, mas também aprender a nova linguagem do corpo, comportamento e costumes culturais. A língua é um produto do pensamento e do comportamento de uma sociedade. A eficácia da comunicação de um falante de uma língua estrangeira está diretamente relacionada à sua compreensão da cultura daquela língua. (Gao, 2006, p. 61 apud Taylor, 1979, p. 51).10

10 Nossa tradução para: earning a language is a complex process that involves not only learning the

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A ideia de língua como fator fundamental para a compreensão da identidade de um povo em um determinado contexto, no caso, do intercâmbio cultural, é um dos objetivos do programa oferecido pelo AFS. A Instituição AFS Intercultural Programs por intermédio de seus comitês no Brasil (Intercultural Brasil) e no mundo visa o aprendizado de uma segunda língua justamente para que o participante possa por intermédio desse idioma, entender, compreender a identidade de um povo num determinado contexto e ir além desse aprendizado, tendo também com o objetivo o aprendizado cultural, a educação intercultural, ou seja, a vivência de outra cultura, a vivência internacional, a vivência com outra família que possui outras regras, outros hábitos, em outra escola, em fim em outra sociedade. Ao compreender esse povo, o indivíduo cria laços com outras culturas trazendo para a sua vida mais tolerância, flexibilidade, menos preconceito e mais maturidade em relação aos outros e a si próprio.

Segundo Santos, P., Alvarez, M. (2010, p. 17), o aprendizado de uma língua estrangeira (LE) concorre para o desenvolvimento social do aprendiz, através do contato com a língua e cultura estrangeiras, o que amplia a sua visão de cidadania, os valores culturais de seu país e de sua própria língua. Ela é um instrumento vivo e constantemente em desenvolvimento que sofre influência da cultura. O desenvolvimento cultural se dá através do contraste entre o conhecido e o novo representado pela cultura do aprendiz e pela cultura onde está inserida a LE estudada. É partir daí desse contraste que o pensamento crítico se desenvolve, permitindo-lhe avaliar a sua cultura e a estrangeira, nascendo daí o respeito às diferenças culturais e a valorização da própria cultura naquilo que lhe é peculiar. (Santos, P., Alvarez, M. 2010, p. 17).

Por meio da língua, conseguimos identificar um povo, unir pessoas, segundo (Signorini, 2006, p. 81 apud Halladorson, 1994) “A língua nos fortalece, ela nos torna um povo de muitos milhões – somados através dos séculos”. Ela faz parte da cultura de um povo, haja vista pertencer a este povo. O indivíduo não cria a língua, ele apenas faz uso de um bem que é social, segundo Coelho e Mesquita, 2012, p. 31:

É uma relação de imbricação, haja vista que a língua é a manifestação de uma cultura e, ao mesmo tempo, precisa de uma

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cultura que lhe dê suporte, sendo, também suporte para uma cultura. Ela é, portanto, a expressão da cultura, uma vez que se constitui instrumento decisivo para a assimilação e difusão de uma cultura, afinal, as experiências sociais só são transmitidas por meio da língua.

Podemos fazer uma analogia, entre cultura e óculos. “Homens de culturas diferentes usam lentes diversas, portanto, têm visões desencontradas das coisas” E não para por aí, poderíamos pensar (LARAIA, 2006, p.72), na questão fisiológica, como todos os homens são iguais sob o aspecto anatômico, deveriam ter maneiras, gestos, tradições e hábitos mais semelhantes, mas isso os diferencia muito se pensarmos na cultura.

“Todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente (todas as formigas de uma dada espécie usam os seus membros uniformemente), depende de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo. (Laraia, 2006, p. 71).”

A cultura também poderia ser comparada a um iceberg. Essa comparação foi apresentada durante o processo de preparação para o intercâmbio que o AFS Intercultural Programs proporciona em conjunto com os comitês locais. Os orientadores apresentam aos estudantes a ideia de que a cultura é um grande iceberg, que muitas vezes conseguimos ver somente uma parte dela, como o iceberg. Ao fazermos parte de uma nova sociedade de uma nova cultura, (como por exemplo, vivenciando a experiência do intercâmbio cultural), torna-se possível aprendê-la e analisá-la profundamente, é como se mergulhássemos no mar para vermos o restante do iceberg que ao olhar superficialmente não dá para imaginar a sua magnitude.

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As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos [...] As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades.

O estudante de High School no programa de intercâmbio além de agregar novos valores a sua pessoa, a sua identidade por estar conhecendo uma nova cultura, retoma a sua cultura de origem, a sua identidade original, ou seja, que foi construída vivenciada no país de origem ao se tornar um propagador de sua cultura nativa no ambiente estrangeiro quando fala de seu país, de seus costumes, ao mostrar o seu vestuário, a sua moda, ao preparar um prato típico de sua culinária, ao mostrar as músicas, os ritmos ouvidos em seu país, entre outras demonstrações.

Aprender uma língua estrangeira implica um grau de aprendizagem intercultural: os alunos podem ser levados a se tornarem mais conscientes de sua própria cultura no processo de aprendizagem sobre o outro e, portanto, pode estar em uma posição melhor para desenvolver competências interculturais.” (Byram, e Fleming,1998, p.98).11

Assim como tudo se transforma, a língua, a cultura, a identidade do indivíduo se transforma com o passar do tempo. A pessoa que tem a oportunidade de vivenciar o cotidiano no exterior e se relacionar com a sociedade atuando como um norte-americano, norueguês, francês, provavelmente desenvolverá a competência intercultural pois estará vivendo a interculturalidade na prática e não somente na teoria.

“A língua, assim como a identidade e a cultura, também sofre transformações, por inserir-se na teia das relações sociais. Frente às mudanças que atingem

11 Nossa tradução para: Learning a foreign language implies a degree of intercultural learning:

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vertiginosamente a sociedade em todos os setores, ela não poderia isentar-se desse movimento.” (Coelho e Mesquita, 2012, p. 31).

Como a língua é passiva de transformação e a identidade de um indivíduo se constrói na língua e através dela, essas identidades estão sempre se modificando.

A identidade de um indivíduo se constrói na língua e através dela. Isso significa que o indivíduo não tem uma identidade fixa anterior e fora da língua. Além disso, a construção da identidade de um indivíduo na língua e através dela depende do fato de a própria língua em si ser uma atividade em evolução e vice-versa. Em outras palavras, as identidades da língua e do indivíduo têm implicações mútuas. (Signorini, 2006, p. 41).

A identidade está tão fortemente relacionada à cultura que muitas vezes as práticas culturais são tomadas como referências de identidade social, porém, o indivíduo possa acrescentar a sua identidade novas práticas sociais ao deslocar-se para fora de seu país de origem, criando assim uma nova identidade.

“Muitas vezes as práticas culturais são tomadas como indicativas da identidade social. A identidade é considerada como decorrente do modo de vida e dos bens simbólicos que o indivíduo consome ou produz. Mas as práticas culturais não dependem tão diretamente da permanência na terra natal, uma vez que podem ser preservadas em outros espaços, recuperadas pela memória ou recriadas.” (Signorini, I. 2006 p. 98).

Ao estudar uma nova língua o aluno fica exposto à cultura dessa língua, pois língua e cultura estão relacionadas. Pensando nessa relação aparece uma identidade: o falante intercultural.

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contextos para os quais não foram preparados diretamente. (Byram, e Fleming, 1998, p. 9).12“.

Segundo Coelho e Mesquita apud Bakhtin, (1998, p.45), se dotarmos a palavra de tudo o que é próprio à cultura, as significações culturais cognitivas, éticas e estéticas, observaremos que “não existe absolutamente nada na cultura além da palavra, que toda a cultura não é nada mais que um fenômeno da língua”.

Conforme Bakhtin (1998, p.46). “Não há enunciados neutros, nem pode haver afinal, a palavra é o fenômeno ideológico por excelência. Ela é o modo mais puro e sensível da relação social. A palavra é mediadora de toda a relação social”.

Como já havíamos mencionado, a língua faz parte da nossa comunicação e está em todas as culturas, faz parte de todas as nações, de todos os povos, por meio dela expomos nossas opiniões, nossa ideologia e por meio dela nos colocamos em contato com culturas diferentes, quando lemos algo em francês, falamos inglês, escrevemos italiano, ouvimos espanhol, ou seja, há uma relação intrínseca com a língua, a cultura e a identificação de um determinado povo. Segundo Coelho e Mesquita (2012, p. 33) apud Bakhtin, (1997, p. 41):

[...] a palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas relações de colaboração, na base ideológica, nos encontros fortuitos da vida cotidiana, nas relações de caráter político, etc. As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios. É, portanto claro que a palavra será sempre o indicador mais sensível de todas as transformações sociais, mesmo daquelas que apenas despontam que ainda não tomaram forma, que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos estruturados e bem formados.

12 Nossa tradução para: The “intercultural speaker” is someone who has a knowledge of one or,

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CAPÍTULO 2 – MOBILIDADE ESTUDANTIL

O Capítulo 2 apresenta uma nova forma de estudo para os parâmetros brasileiros, a mobilidade estudantil. O programa “Ciências sem Fronteiras” cuja iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes – e, Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do Mec.(http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-programa).

O programa de mobilidade estudantil tem por objetivo proporcionar ao aluno de Ensino Superior a oportunidade de cursar um período da Universidade em outro país. Podemos considerar o Programa de Intercâmbio Cultural no Ensino Médio, o High School, também como um programa de mobilidade estudantil. Por essa razão buscamos em vários pesquisadores o entendimento do significado de tais programas.

De acordo com Cabral, Silva, Saito, (2011 p. 2), apud Teichler (2004), desde o século XVII, na Europa, estudantes realizavam intercâmbios de estudo. O autor ainda ressalta que o nível de mobilidade de estudantes dentro da Europa, agora de aproximadamente 3%, foi aproximadamente 10% no século XVII. Analisando a nossa situação brasileira em relação à mobilidade estudantil por intermédio do intercâmbio cultural,

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Para Dalcin, (2011, p.30), as políticas educativas da União Europeia incentivam a cooperação inter-universitária com o objetivo de melhorar a qualidade de ensino, em prol dos estudantes das instituições de Ensino Superior.

A autora afirma que a cooperação promovida pela União Europeia no Ensino Superior, e em particular as ações de fomento da mobilidade estudantil, fazem parte de uma política e de uma estratégia comunitária global. Nessa perspectiva, a mobilidade proporciona uma crescente qualificação dos recursos humanos, a transferência de tecnologia e resultados de investigação científica. Deste modo, Freitas (2009, p. 251), afirma que:

A convivência com a diversidade plural (diferença dentro das diferenças) gera necessidade de uma melhor compreensão do outro, de resolver problemas e criar novas oportunidades juntos, além de favorecer a mobilidade interna e externa dos cidadãos da comunidade.

Diante do atual contexto de um mundo em transformação e sem fronteiras, a tendência de estudantes irem estudar fora de seus países de origem cresce cada vez mais, não somente o programa de High School como também os programas nas universidades chamados também internacionalmente de “study abroad programs”.

Sobre esses programas seja nas universidades ou no Ensino Médico (High School), James A. Coleman apud (Byram e Fleming, 1998, p.45) afirma que:

Os programas tipicamente se enquadram em três domínios: maturidade pessoal e independência, a introspecção cultural, e melhora na proficiência língua estrangeira. A ligação estreita deve ser assumida entre competência linguística reforçada e competência cultural reforçada.·.

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indivíduo, em sua bagagem cultural e no aprendizado/desenvolvimento de um novo idioma seja feito na Universidade ou no Ensino Médio.

Os programas de mobilidade estudantil não visam somente o aprendizado ou desenvolvimento de um segundo idioma ou o aprendizado de algumas matérias da área de estudo do estudante, o programa também quer que o aluno tenha o contato com a interculturalidade, com a comunicação intercultural.

De acordo com Dalcin, V. (2011, p.45) apud Baumgratz-Grangl (1993), cit. por Melo (2008, p. 75), “houve uma mudança de paradigma nas relações entre língua e cultura, moldando um novo conceito, o de comunicação intercultural estreitamente ligada à mobilidade”

Para a autora (Dalcin, 2011), a comunicação intercultural é como se fosse uma marca da personalidade dos indivíduos e da qualidade das instituições de ensino que se adaptam ao espaço político, econômico e cultural. Ela afirma que a “mobilidade acadêmica também contribui para a transformação do “social como socied ade” em “o social como mobilidade”“. A mobilidade estudantil confere também a capacidade de integração cultural das instituições e das organizações, tornando os indivíduos capazes de viver e de agir em contextos multiculturais. (V. 2011, p. 45 apud (Urry, cit. por Darvin, 2001, p. 1)).

Krupnik e Krzaklewska (2007) categorizam as motivações dos estudantes em participar de um programa de mobilidade estudantil em dois grupos, os guiados pela experiência e os de orientação profissional. Os primeiros o fazem por aprender sobre novas culturas, conhecer outras pessoas, ser independente e viver em outro país. Os seguintes buscam maximizar as oportunidades de trabalho.

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Segundo Hanna (2014, p. 6) aprendizes interculturais são aqueles capazes de lidar com a complexidade de identidades múltiplas, logo, reconhecidos como mediadores culturais que evitarão a estereotipagem, característica de avaliações empreendidas por meio de perspectivas de padrão fixo, muitas vezes estimulada pelos próprios livros didáticos, em modelos formados a partir de lugares-comuns, encontrados em textos literários, ilustrações, cartoons, filmes, na mídia em geral. De aprendiz intercultural, o estudante passará a ser um “falante intercultural” que decidirá suas próprias identificações e representações culturais, sociais e políticas com aqueles com quem se relacionará.

2.1 A influência norte-americana

Optamos por elaborar o item “A influência norte-americana” nesse estudo primeiramente porque a pesquisa foi realizada com intercâmbistas brasileiros que foram fazer o programa de intercâmbio cultural nos Estados Unidos e quais prováveis razões levaram esses estudantes escolherem como primeira opção os Estados Unidos. Fizemos um panorama geral histórico da influência americana no mundo, assim, o leitor poderá compreender o porquê e como os Estados Unidos da América se tornou um país tão influente.

Os Estados Unidos garantiram a segurança das democracias europeias e ajudaram a reconstruir as economias do Japão e da Alemanha Ocidental, devastadas pela guerra. Diante de sua política de “contenção”, estabeleceram as fronteiras de seu próprio império informal (particularmente na Ásia) ao mesmo tempo em que comprometiam deter seu inimigo, o Império Soviético. (Harvey, D. 2005, p. 41).

Segundo o autor, os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra Mundial como a potência mais dominante, eram os líderes na tecnologia e na produção. O dólar reinava e o aparato militar do país era bem superior a qualquer outro.

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da política getulista de desenvolvimento industrial, o capital norte-americano foi se infiltrando em nossa economia sob a forma de empréstimos e equipamentos, estabelecimento de subsidiárias (filiais), assistência técnica, etc..

A partir desse momento o Brasil abriu suas portas para as multinacionais (a partir de uma empresa matriz, atual em diferentes países), empresas com um vasto número de funcionários e que alavancavam nosso capitalismo em diferentes áreas como nos setores automobilístico, farmacêutico, têxtil, entre outros. Conforme Alves, (1997, p. 21), “a grande maioria dessas empresas multinacionais tinham sede, sobretudo nos Estados Unidos e foi sob a tutela do capitalismo internacional, sobretudo yankee.”

Com a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, os Estados Unidos percebendo nossa fraca economia e nossa dependência econômica garantiu nossa aliança primeiramente contra as nações do Eixo (Itália, Alemanha e Japão) e depois contra a União Soviética. Eis a palavra da autora:

Não foi, entretanto só nossas indústrias de bens de consumo materiais que surgiram ligadas ao capital norte-americano. Os setores de comunicação de massa se constituíram da mesma forma, ou com investimentos diretos de multinacionais ou com a associação de empresários yankees aos brasileiros, ou ainda, quando de capital nacional, utilizando tecnologia e modelos de produção oriundos dos Estados Unidos. (Alves, 1997, p. 21).

Para Alves, (1997, p. 21), sem que os norte-americanos se apropriassem das terras brasileiras como os portugueses, passamos a sofrer quase o mesmo processo de invasão, dominação e colonialismo cultural experimentado pelos índios após 1500.

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ascensão ao poder dessas elites e classes por todo o mundo: o país se tornou o principal protagonista da projeção do poder burguês por todo o globo.

A cultura americana muito fortemente disseminada também por Hollywood, assim como os atletas de ponta das olimpíadas e os parques temáticos do complexo Disneyworld influenciam e muito na decisão do jovem escolher os Estados Unidos da América o destino para o seu programa de Intercâmbio Cultural. Ao refletirmos sobre o grande número de jovens brasileiros que escolhem os Estados Unidos observamos que nossa cultura sofre uma grande influência da cultura americana.

O imperialismo cultural tornou-se importante arma na luta para afirmar a hegemonia geral. Hollywood, a música popular, formas culturais e até movimentos políticos inteiros, como o dos direitos civis, foram mobilizados para promover o desejo de emular o modo americano de ser. Os Estados Unidos foram concebidos como um farol da liberdade dotado do poder exclusivo de engajar o resto do mundo numa civilização duradoura caracterizada pela paz e pela prosperidade. (Harvey, D., 2005, p. 53).

Os Estados Unidos também são considerados um grande celeiro para quem busca o desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da indústria, da ciência nas diferentes áreas em que atua, sua influência vai além dos filmes de Hollywood, dos Outlets, da música pop, entre outros. O American way of life é o estilo de vida exportado que possui uma alta receptividade em vários países, eis as palavras do teórico:

Filmes americanos, televisão, música, moda e alimentos cativaram especialmente os jovens em todo o mundo, mesmo quando eles espalharam a exportação mais importante da América: o seu estilo de vida do consumidor e do individualismo que promove. A Internet, computadores e outros aparelhos de alta tecnologia revolucionam a vida diária em todo o planeta, quer se originando nos Estados Unidos ou tendo seu pleno desenvolvimento lá. (Hertsgaard, 2003, p. 7).13

13 Nossa tradução para: American movies, television, music, fashion, and food have captivated

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Outra questão relevante em relação à influência que os Estados Unidos exercem sobre os demais países é devido a grande e presente contribuição que a mídia faz ao transmitir para as outras nações o que está acontecendo no país. Segundo Hertsgaard (2003, p. 7), “a América recebe uma quantidade desproporcional de cobertura da mídia ao redor do mundo, reforçando a sombra da Águia sobre os estrangeiros.” 14

Além dessas influências citadas, os Estados Unidos difundi fortemente sua cultura por intermédio dos seriados difundidos por TVs a cabo em todo o mundo, sendo o país também sede de grandes empresas do ramo da tecnologia, das redes sociais e do vídeo game, atraindo muitos estudantes que buscam desenvolvem uma carreira acadêmica e profissional nesses setores.

Atualmente o cenário das escolhas como destino feito pelos intercambistas do AFS continua sendo os Estados Unidos.

14 Nossa tradução para: America receives a disproportionate amount of coverage from news media

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2.2 O lugar da interculturalidade no contexto de mobilidade estudantil

Os intercâmbios culturais estão em diversas ocasiões, transitam em diferentes espaços como numa reunião de negócios entre dois países, numa conversa informal com um estrangeiro, nas migrações, nas viagens, no comércio, surgindo questionamentos relacionados às diferenças culturais, aos diferentes pontos de vistas, costumes, que surgem teorias que visam analisar a interculturalidade.

Ao longo da história da humanidade, diferentes nações passaram por transformações culturais, ocorridas pela dominação, conflitos e até mesmo pelo intercâmbio recíproco entre os seus indivíduos. Essas relações foram intensificadas após o desenvolvimento e evolução tecnológica dos meios e veículos de comunicação, a ampliação do mercado global e as relações políticas e sociais entre grupos e organizações do mundo todo. A partir desse contexto internacional, antropólogos, sociólogos e comunicólogos intensificaram seus estudos na diversidade cultural, com foco na interculturalidade. (Pierobon, 2006, p. 57).

Segundo (Gabriel, 2007) o surgimento da interculturalidade advém de um movimento social, que apoia a diversidade cultural e suas relações e é contra os processos de exclusão social.

O termo diversidade é a palavra chave para a questão da interculturalidade, pois se trata de duas ou maios culturas conectadas, relacionadas, se comunicando. O indivíduo intercultural aceita a diversidade e respeita as diferenças.

Já para o teórico Oatey, (2000, p. 4), “o termo intercultural se refere à interação entre pessoas de dois grupos culturais distintos”.

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O termo intercultural sugere, antes de tudo, a noção de comparação, uma cultura particular é vista através do panorama de outra cultura - similaridades e diferenças são reveladas ao se adotar o aprendizado de línguas estrangeiras centrado na Abordagem Comunicativa lembre-se, mais uma vez, que estará implícito o conceito holístico de ensino, que estabelece como corolários metodológicos não somente os elementos gramaticais e do discurso, mas também as características sociais, culturais e pragmáticas da língua. Logo, a compreensão da interculturalidade torna-se uma asserção básica desse aprendizado. Hanna, (2013, p.5).

A palavra intercultural traz a ideia de duas culturas conectadas, com suas semelhanças e diferenças, proporcionando a conscientização do respeito à individualidade sem a criação de estereótipos, julgamentos, críticas aos outros, à sua cultura, despertando o propósito do relacionamento entre diversas identidades com o respeito à individualidade.

A base do entendimento intercultural envolve o reconhecimento das similitudes e das dessemelhanças entre duas ou mais culturas, do mesmo modo que pondera a respeito de como se relacionar com múltiplas identidades e desenvolver respeito à individualidade com vistas a evitar generalizações, estereótipos, uma única visão do ‘outro’. Agir como um falante intercultural implica o aprendiz ter consciência, também, de sua própria identidade e cultura, e de como é percebido pelos outros com quem está interagindo. Hanna, (2013, p.1).

Poderíamos associar Interculturalidade à palavra “Multiculturalismo”, mas há uma grande diferença, segundo Damázio, 2008, p.69 apud Walzer 1999, p. 144,

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“A proposta intercultural surge, principalmente, a partir do vazio deixado pelo

multiculturalismo. Visa à superação do horizonte da tolerância e das diferenças culturais e a transformação das culturas por processos de interação.” (Damázio, 2008, p. 15).

O Multiculturalismo apresenta uma proposta diferente da interculturalidade, à medida que se preocupa em seguir modelos adotados por outros países anteriormente e suas políticas econômicas e sociais, sendo assim, não há igualdade entre as culturas, uma se destaca em relação à outra. Já a interculturalidade defende uma educação intercultural, o reconhecimento e a compreensão das diferenças culturais, ou seja, não há uma cultura superior a outra.

Para Panikkar (apud Vallescar Palanca, 2000, p. 266) multiculturalismo e interculturalidade são propostas diferentes, já que o Multiculturalismo se refere à síndrome ocidental que consiste em acreditar que existe uma supercultura, superior a todas e capaz de resolver os problemas supostamente universais. “Já interculturalidade questiona quais são estes problemas universais. Caracteriza-se pela exigência de abertura ao “outro”, uma vez que a problematicidade das perguntas é algo que não se pode resolver solitariamente.” (Damázio, 2008, p. 16). Damázio afirma que na Europa o interculturalismo está relacionado aos imigrantes do terceiro mundo. A proposta de assunção do interculturalismo pela sociedade se dá na forma de “comunicação intercultural”, como uma nova aprendizagem democrática entre os diversos grupos culturais apud (Godenzzi, 2005, p. 4-10).

Damázio (apud Godenzzi), afirma que na América Latina o interculturalismo diz respeito aos distintos povos e comunidades que são partes constitutivas de cada nação. Para Godenzzi (p. 6-7), a interculturalidade, surgida das reivindicações dos povos indígenas, foi uma resposta crítica diante dos problemas e conflitos do mundo atual.

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As autoras reuniram trabalhos do campo da interculturalidade que abordam questões relativas à promoção de consciência cultural crítica em relação à construção de uma identidade fortalecida ao desenvolvimento de uma competência multicultural e à formação intercultural humanizadora de professores de Língua Estrangeiras. Elas se opõem à rigidez pré-fixada dos roteiros didáticos de sala de aula, ao silenciamento da voz do aluno, à imposição de padrões interculturais estereotipados e à ausência de uma política pedagógica que promova a construção de um espírito de cidadania mais humana. Dessa forma, as autoras buscam situar a língua em um contexto sociocultural historicamente constituído, considerar os componentes identitários de alunos e integrar os conteúdos linguísticos em cenários pluriculturais, mediadores de uma conscientização intercultural crítica, a partir do conhecimento da cultura de origem.

A interculturalidade alude a um tipo de sociedade em que as comunidades étnicas, os grupos sociais se reconhecem em suas diferenças e buscam uma mútua compreensão e valorização. O prefixo “inter” expressaria uma interação positiva que concretamente se expressa na busca da supressão das barreiras entre os povos, às comunidades étnicas e os grupos humanos. Damázio (apud Astrain, 2003, p.327).

A Instituição AFS Intercultural Programs por intermédio do Intercultura Brasil visa a propagar com o seu programa de intercâmbio cultural, a interculturalidade, a educação intercultural por intermédio da vivência em diversos países, enviando estudantes brasileiros não somente aos Estados Unidos ou países mais tradicionais como Inglaterra e França, mas também países com culturas mais exóticas como Finlândia, Eslováquia, Letônia, Rússia, Tailândia, entre outras nações, inclusive o Brasil, trazendo a vivência da interculturalidade já mesmo no processo seletivo para a realização do intercâmbio incentivando a troca de experiências entre os indivíduos que estão participando da seleção, os estrangeiros que estão morando no Brasil, os que retornaram de suas viagens e os próprios voluntários responsáveis pela seleção dos participantes à vaga de intercâmbio.

Imagem

Figura 1 – Representação da região de mediação da Competência Intercultural.
Figura 2 – Representação dos diferentes elementos envolvidos na Competência  Intercultural
Figura 3 – O modelo de sinergia cultural da aquisição de segunda língua (Jin 1992).

Referências

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