Universidade Estadual Paulista - UNESP
Programa Institucional em Ciência e Tecnologia de Materiais
POSMAT
Rebeca Delatore Simões
“ESTUDO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DE BLENDAS DE
PVDF/LÁTEX
VISANDO APLICAÇÃO COMO BIOMATERIAL”
Presidente Prudente
Rebeca Delatore Simões
“PROPRIEDADES FÍSICAS DE BLENDAS DE PVDF/LÁTEX VISANDO APLICAÇÃO COMO BIOMATERIAL”
Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação
Institucional em Ciência e Tecnologia de Materiais da
UNESP, área de concentração em Engenharia de Materiais e
Metalurgia (materiais não-metálicos), como requisito à
obtenção do título de Mestre em Ciência e Tecnologia de
Materiais, sob a orientação do professor Dr. Carlos José
Leopoldo Constantino.
Presidente Prudente
Ficha catalográfica elaborada por
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO UNESP - Bauru
Simões, Rebeca Delatore
Estudo das propriedades físicas de blendas de
PVDF/látex visando aplicação como biomaterial / Rebeca Delatore Simões. - - Bauru : [s.n.], 2005.
73 f.
Orientador: Carlos José Leopoldo Constantino.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, 2005.
1. Borracha natural. 2. Espalhamento - Raman. 3.
Análise térmica. 4. Microscopia eletrônica de varredura. I – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II - Título.
Dedico este trabalho aos meus pais e amigos
que acreditaram na concretização
Agradecimentos
Trabalhar em uma dissertação deveria ser como compor uma música. As primeiras
descobertas como notas musicais, as primeiras anotações como um acorde, de forma que, a cada
mês nascesse um hino e a cada ano uma sinfonia. Mas compor uma música não é fácil,
especialmente a de uma dissertação. Muitos acordes levam tempo para serem definidos, a
melodia que parece estar concluída inesperadamente pode mudar. Há horas em que você fica
pensando se é mesmo possível compor. Sou profundamente grata aos amigos e professores que
arregaçaram as mangas e me ensinaram o melhor tom para se compor esta dissertação.
Ao Casé por sua dedicação, paciência e orientação.
Ao professor Chú do IFSC/USP pela acolhida e carinho no início deste trabalho.
Aos professores Aldo e Neri pela amizade e orientação.
Aos professores Dante L. Chinaglia e José A. Malmonge pelas medidas elétricas e
discussões.
Ao professor Giacometti pelo apoio e contribuição na discussão dos resultados.
Ao professor José Carlos Camargo Filho pela colaboração.
Ao Xuxa do IFSC/USP por agilizar a moagem do PVDF.
Aos professores, funcionários e colegas do DFQB, muito obrigada!!
“ A consciência do dever cumprido infundo em nossa alma uma doce alegria”
RESUMO
O principal objetivo deste trabalho de mestrado foi a obtenção e caracterização estrutural de um
material com propriedades físico-químicas compatíveis com aquelas requeridas por um
biomaterial. Filmes contendo diferentes volumes de látex de borracha natural em uma massa fixa
de poli(fluoreto de vinilideno) (PVDF), na forma de pó foram fabricados por
compressão/aquecimento de uma mistura de ambos os materiais sem o uso de qualquer solvente.
Este é um fator importante considerando o uso destes filmes no futuro próximo como biomateriais
em diferentes aplicações (indução do crescimento do tecido ósseo, por exemplo), uma vez que os
solventes convencionais usados para dissolver o PVDF têm se mostrado tóxicos ao organismo
humano. Os filmes foram submetidos a um tratamento via descarga corona de forma que amostras
com e sem tal tratamento foram caracterizadas através das técnicas de espectroscopia vibracional
via espalhamento Raman e absorção no infravermelho (FTIR), análise térmica via
termogravimetria (TG), calorimetria exploratória diferencial (DSC) e análise dinâmico-mecânica
(DMA) e microscopias ótica e eletrônica (MEV). As medidas termomecânicas mostraram que os
filmes obtidos possuem características mecânicas similares àquelas encontradas no osso humano e
boa estabilidade térmica considerando-se a aplicação desejada. As medidas via espectroscopia
vibracional indicaram que o PVDF e o látex não interagem quimicamente, compondo uma blenda
polimérica. Além disto, os resultados obtidos via micro-Raman mostraram que o aumento da
quantidade de látex na blenda permite uma melhor dispersão deste látex na matriz de PVDF
quando da produção dos filmes. Em termos de morfologia, a blenda apresenta regiões lisas e
rugosas, sendo que nestas o látex é disperso de forma bastante homogênea na matriz de PVDF
enquanto que naquelas o látex encontra-se mais concentrado. Entretanto, à medida que o volume
serem encontradas. Esta morfologia é confirmada por imagens de MEV não somente para a
superfície do filme, mas também ao longo do seu volume. Vale destacar que um estudo básico via
espalhamento Raman da transição de fase αÖ β de filmes comerciais de PVDF, os quais foram estirados e submetidos a tratamento com descarga corona, foi realizado como suporte para os
estudos que vieram em seguida envolvendo as blendas de PVDF/látex.
PALAVRAS-CHAVE: 1. Borracha natural. 2. Espalhamento - Raman. 3. Análise térmica. 4.
ABSTRACT
The main goal of this work was to obtain and characterize structurally a material with
physical-chemical properties compatible with those required for a biomaterial. Films containing different
volumes of latex of natural rubber in a fixed mass of poly (vinylidene fluoride) (PVDF) powder
were fabricated by compressing/annealing a mixture of both materials without using any solvent.
This is an important issue having in mind to use these films in the future as biomaterials in
different applications (growing of the bone tissue, for instance) once the solvents used to dissolve
the PVDF are toxic to human being. The films were submitted to a corona discharge treatment in a
way that samples with and without such treatment were characterized using micro-Raman
scattering and Fourier transform infrared absorption (FTIR) spectroscopies, thermo-mechanical
techniques using thermogravimetry (TG), differential scanning calorimetry (DSC) and
dynamical-mechanical analysis (DMA) and optical and scanning electron microscopies (SEM). The
thermo-mechanical measurements revealed that the films present thermo-mechanical properties close to that
found for the human bone and high thermal stability considering the desired applications. The
vibrational spectroscopies showed that the latex and PVDF do not interact chemically leading to
the formation of a polymeric blend. Besides, the results recorded using the micro-Raman
technique revealed that the higher the amount of latex in the blend, the better the miscibility
between both materials. In terms of morphology, the blend surface is formed by two domains: one
is rougher and contains the latex well dispersed into the PVDF matrix while the other is smoother
and contains both materials as well but in a less homogeneous dispersion. However, as the volume
of latex is increased from 0.3 to 1.0 mL, the smoother domains become rarer to be found. This
morphology trend is confirmed by SEM not only along the film surface but also in the transversal
transition of PVDF commercial films, which were stretched and submitted to corona discharge
treatment, was carried out as a support to the next study involving the blends containing
PVDF/latex.
KEYWORDS: 1. Natural rubber. 2. Micro-Raman scattering. 3. Thermal Analysis. 4. Scanning
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: estrutura molecular do PVDF. Cadeia helicoidal fase α (a) e cadeia planar fase β (b).
Figura 2: apresentação das quatro fases cristalinas do PVDF, α (não polar) ou II, fase β (polar)
ou I, fase γ (polar) ou III e a fase δ (αp = alfa polar) IIp.
Figura 3: diagrama esquemático mostrando as inter-relações entre as quatro fases do PVDF
onde T, temperatura; P, pressão; E, campo elétrico [39].
Figura 4: estrutura molecular do cis-1,4-isopreno.
Figura 5: modos de vibração molecular. Os sinais + e - indicam movimentos para fora e para
dentro do plano do desenho, respectivamente.
Figura 6: diagrama de energia mostrando diferentes transições de uma molécula para um
modelo considerando dois estados eletrônicos de energia.
Figura 7: esquema básico do triodo de corona com corrente constante.
Figura 8: esquema do triodo de corona destacando a região entre a base e a amostra.
Figura 9: prensa utilizada para fabricação dos filmes de PVDF/látex, a qual dispõe de um
controlador de temperatura.
Figura 10: bastão de 0.5NR/PVDF.
Figura 11: espalhamento Raman obtido com laser em 632,8nm para filmes de PVDF-α sem
estiramento e estirados a 5,0mm/min até atingirem diferentes comprimentos em
relação ao comprimento inicial.
Figura 12: difração de raio-x para filmes de PVDF-α sem estiramento e estirados a 5,0mm/min
até atingirem diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial.
Figura 13: DSC para filmes de PVDF-α sem estiramento e estirados a 5,0mm/min até atingirem
diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial.
Figura 14: espalhamento Raman obtido com laser em 785nm para filmes de PVDF-α estirados
4x com diferentes velocidades de estiramento.
Figura 15: espalhamento Raman obtidos com laser em 514,5nm polarizado circular, paralelo e
ortogonalmente à direção de estiramento do filme utilizando-se o PVDF-α estirado
Figura 16a: espalhamento Raman para menores comprimentos de onda obtidos com laser em
632,8nm para filmes de PVDF-α e PVDF-α estirados 4x com e sem descarga
corona. A: PVDF-α, B: PVDF-α polarizado, C: PVDF-α estirado 4x e D: PVDF-α
estirado 4x e polarizado.
Figura 16b: espalhamento Raman para maiores comprimentos de onda obtidos com laser em
632,8nm para filmes de PVDF-α e PVDF-α estirados 4x com e sem descarga
corona. A: PVDF-α, B: PVDF-α polarizado, C: PVDF-α estirado 4x e D: PVDF-α
estirado 4x e polarizado.
Figura 17: espalhamento Raman obtidos com laser em 632,8nm para filmes de PVDF-α e PVDF-α estirados 6x ambos com e sem tratamento via descarga corona.
Figura 18: DSC de filmes de PVDF-α e PVDF-α estirados 4x e 6x com e sem tratamento via
descarga corona.
Figura 19: espalhamento Raman para o PVDF ao longo das etapas de processamento que
envolvem a fabricação dos filmes prensados.
Figura 20: espalhamento Raman em diferentes polarizações do laser (circular, paralelo e
ortogonal) para filmes prensados de PVDF.
Figura 21: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.3NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.3NR/PVDF.
Figura 22: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.5NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.5NR/PVDF.
Figura 23: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.7NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.7NR/PVDF.
Figura 24: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 1.0NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 1.0NR/PVDF.
Figura 25: espalhamento Raman para o filme prensado de 0.5NR/PVDF em função da
temperatura.
Figura 26: espectros de FTIR de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas para altos e
baixos números de onda.
Figura 27: espectros de FTIR de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas para baixos
números de onda.
Figura 29: MEV (500x) / filme prensado de PVDF (superfície).
Figura 30: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.3NR/PVDF (superfície).
Figura 31: MEV (1.000x) / filme prensado de 0.3NR/PVDF (superfície).
Figura 32: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.5NR/PVDF (superfície).
Figura 33: MEV (2.000x) / filme prensado de 0.5NR/PVDF (superfície, porém dentro da região
lisa).
Figura 34: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.7NR/PVDF (superfície).
Figura 35: MEV (3.000x) / filme prensado de 0.7NR/PVDF (superfície, porém dentro da região
lisa).
Figura 36: MEV (10.000x) / filme prensado de 1.0NR/PVDF (superfície).
Figura 37: MEV (500x) / filme prensado de 1.0NR/PVDF (superfície).
Figura 38: MEV (10.000x) / filme prensado de NR (superfície).
Figura 39: MEV (1.000x) / filme prensado de NR (superfície).
Figura 40: MEV (10.000x) / filme prensado de PVDF (seção transversal).
Figura 41: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.3NR/PVDF (seção transversal).
Figura 42: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.5NR/PVDF (seção transversal).
Figura 43: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.7NR/PVDF (seção transversal).
Figura 44: MEV (10.000x) / filme prensado de 1.0NR/PVDF (seção transversal).
Figura 45: MEV (10.000x) / filme prensado de NR (seção transversal).
Figura 46a: medidas de TG de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
Figura 46b: medidas de TG apresentadas na Figura 28a, porém para temperaturas entre 370 e
510oC.
Figura 47: medida de DSC em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
Figura 49: medida de DMA em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
Figura 50: espalhamento Raman para o filme prensado de PVDF com e sem tratamento via
descarga corona.
Figura 51: espalhamento Raman para o filme prensado de 0.5NR/PVDF com e sem tratamento
via descarga corona.
Figuras 52: MEV (10.000x) / filme prensado PVDF (superfície) / corona.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: quadro comparativo das propriedades de materiais
Tabela II: nomenclatura dos filmes de PVDF, látex e PVDF/látex.
Tabela III: número de onda, largura de banda na metade da intensidade (FWHM) entre
parênteses e intensidade relativa em itálico obtidos por modelagem via função mista
Gauss-Lorentz e atribuições das bandas Raman para os filmes PVDF-α, PVDF-α
polarizado, PVDF-α estirado 4x, PVDF-α estirado 4x e polarizado.
Tabela IV: atribuições das bandas dos espectros Raman e FTIR de filmes de PVDF-α, sendo νs:
estiramento simétrico; νa: estiramento antissimétrico; δ: scissoring; w: wagging; t:
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
... 1CAPÍTULO I –
Introdução
... 41.1 O tecido ósseo... 4
1.2 Polímeros... 7
1.3 O látex de borracha natural... 11
1.4 Calorimetria exploratória diferencial (DSC)... 13
1.5 Termogravimetria (TG)... 14
1.6 Análise dinâmico-mecânica (DMA)... 14
1.7 Espectroscopia vibracional (absorção IR e espalhamento Raman)... 15
a) Espectroscopia de absorção no infravermelho... 15
b) Espectroscopia de espalhamento Raman... 17
1.8 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)... 19
1.9 O triodo de corona com corrente constante... 20
CAPÍTULO II –
Procedimento experimental
... 222.2 Fabricação e caracterização de filmes prensados de PVDF/látex... 23
2.3 Fabricação dos bastões de PVDF e PVDF/látex destinados a implante... 29
CAPÍTULO III –
Filmes comerciais de PVDF – estudo básico
... 32CAPÍTULO IV –
Filmes prensados de PVDF/látex – caracterização
... 414.1 Espectroscopia vibracional... 41
a) Espalhamento Raman... 41
b) Absorção FTIR... 49
4.2 Medidas de MEV... 52
4.3 Medidas de TG... 57
4.4 Medidas de DSC... 59
4.5 Medidas de DMA... 61
4.6 Filmes tratados com descarga corona... 64
CONCLUSÕES... 68
APRESENTAÇÃO
Nesta dissertação de mestrado é apresentada a caracterização via espectroscopia
vibracional (espalhamento micro-Raman e FTIR), análise termomecânica (TG, DSC e DMA) e
microscopia (óptica e MEV) de blendas de PVDF/látex de borracha natural desenvolvida no
período de agosto/2003 a julho/2005 visando como passo seguinte da pesquisa o implante destes
materiais em cobaias com o objetivo de se estudar a indução do crescimento de tecido ósseo. Este
projeto de mestrado teve origem no meu trabalho de iniciação científica realizado na FCT/UNESP
sob a orientação do professor Neri Alves quando investigamos de forma preliminar a aplicação de
PVDF e compósitos PVDF/CaCO3 na indução do crescimento de calo ósseo. O projeto de
mestrado foi aprovado originalmente para ter início a partir de março/2003, porém, por estar na
condição de aluna ouvinte no programa Interunidades em Ciência e Engenharia de Materiais do
IFSC/USP, foi solicitada à FAPESP a alteração no início da bolsa que começou a vigorar em
agosto do mesmo ano sob orientação do professor Osvaldo N. de Oliveira Jr. também do
IFSC/USP.
Já no final de 2003 foi solicitada à FAPESP uma mudança tanto de orientador (do
professor Oliveira Jr. para o professor Carlos J. L. Constantino da FCT/UNESP) como de
programa de pós-graduação (do programa Interunidades da USP para o programa
Institucional/POSMAT da UNESP). Além disto, uma nova alteração foi realizada, porém dentro
do próprio projeto. Inicialmente previa-se a fabricação de blendas de PVDF e colágeno, porém,
optamos por substituí-lo por látex de borracha natural. Este material é biocompatível e apresenta
propriedades interessantes relacionadas ao crescimento de tecidos, o que foi amplamente discutido
no I Encontro do Instituto Milênio de Materiais Poliméricos (IMMP, financiado pelo MCT/CNPq)
látex de borracha natural é objeto de estudo do professor Aldo E. Job da FCT/UNESP no que se
refere às suas propriedades termomecânicas. Desta forma, encontramos um material que é
disponível em abundância, que permite uma estreita interação com outro professor da FCT e que,
em princípio, nos parecia adequado para as aplicações que vislumbrávamos.
A idéia geral do projeto de mestrado então foi a de aproveitar minha experiência na
utilização do PVDF como um biomaterial e possibilitar que eu avançasse neste sentido tanto
trabalhando no processamento do material em si como agregando novas técnicas de
caracterização, conhecimentos importantes para minha formação na área de ciência dos materiais.
Vale destacar que o processo de implante dos bastões em cobaias está em sua fase inicial. O
projeto está tramitando no comitê de ética em experimentação animal da FCT/UNESP e é liderado
pelo professor José Carlos C. Filho do Departamento de Fisioterapia da FCT/UNESP. Estes
resultados não farão parte desta dissertação, mas abrem perspectivas para trabalhos futuros.
Como fruto desta dissertação de mestrado, um artigo foi publicado na revista Applied
Spectroscopy abordando a transição de fase αÖβ induzida por estiramento em filmes comerciais de PVDF. Este trabalho surgiu quando no primeiro ano de mestrado tive a oportunidade de
participar do III Encontro do IMMP, o que possibilitou a minha inserção na colaboração existente
entre a FCT/UNESP, o IGCE/UNESP de Rio Claro (professor Dante L. Chinaglia) e o IFSC/USP
de São Carlos (professor Oliveira Jr.). Um segundo trabalho foi recentemente submetido à revista
Journal of Raman Spectroscopy tratando da caracterização dos filmes de PVDF/látex de borracha
natural. Há ainda um outro estudo que segue em paralelo no qual tenho participado em
colaboração com o professor Job e está relacionado ao estudo via TG e DSC da influência do
abordando estes resultados. Todos os trabalhos descritos acima propiciaram ainda a participação
em congressos nacionais e internacionais.
Assim sendo, esta dissertação de mestrado está dividida da seguinte forma: o capítulo I
traz uma descrição dos materiais e os princípios básicos das técnicas de caracterização utilizadas
enquanto o capítulo II traz o procedimento experimental realizado no trabalho de fabricação e
caracterização dos filmes PVDF/látex e bastões para implantes. O capítulo III contém os
resultados e discussão do estudo da transição αÖβ em filmes comerciais de PVDF, o capítulo IV
apresenta os resultados e discussão da caracterização dos filmes prensados de PVDF/látex de
CAPÍTULO I
Introdução
1.1 O tecido ósseo
O tecido ósseo é um tipo especializado de tecido conjuntivo de sustentação, formado por
células e por material extracelular calcificado, denominado matriz óssea. Além das funções de
apoio ao músculo esquelético e proteção de órgãos vitais e partes moles do corpo, o tecido ósseo
também atua como depósito de cálcio, fosfato e outros íons, armazenando-os ou liberando-os de
maneira controlada. As células que compõem o tecido ósseo são: osteoblastos, produtores da parte
orgânica da matriz óssea (colágeno, proteoglicanas e glicoproteínas adesivas), osteócitos
responsáveis pela manutenção da matriz óssea, e os osteoclastos que são células gigantes, móveis
e multinucleadas que reabsorvem o tecido ósseo participando do processo de remodelação dos
ossos e da regulação dos níveis plasmáticos de cálcio (1). A remodelação é um processo contínuo
de destruição e renovação óssea, que ocorre normalmente ao longo da vida em humanos e outros
mamíferos. A remodelação minimiza os prejuízos dos desgastes rotineiros, mas devido a uma
ineficiência inerente deste mecanismo, há uma perda óssea normal relacionada ao fator etário (2).
É conhecida a influência de fenômenos elétricos nos processos biológicos. A formação de tecido
ósseo é um desses processos em que as interações eletromecânicas agem regulando a proliferação,
diferenciação e função celular (1,2). O metabolismo das células ósseas é afetado pela energia
mecânica e, sob o ponto de vista eletrofisiológico, o tecido biologicamente hiperativo se torna
eletronegativo (3), proporcionando o aparecimento de pequenas correntes elétricas. Essa geração
de corrente elétrica no osso ocorre devido à propriedade piezelétrica observada em diversos
A piezeletricidade é definida como a propriedade que os materiais têm de converter um
sinal elétrico em deformação mecânica e vice-versa (4). Assim, os materiais piezelétricos são
aqueles que geram correntes elétricas quando submetidos a vibrações mecânicas. Esta propriedade
ocorre em materiais que apresentam uma estrutura cujo centro de cargas positivas não coincide
com o centro de cargas negativas, ou seja, em materiais não centro-simétricos. Quando essa
estrutura é deformada, a separação nos centros de carga positiva e negativa produz uma
polarização real. Esta é uma propriedade presente no colágeno que está imerso na matriz óssea e
confere ao osso a capacidade de gerar correntes elétricas quando submetido a tensões mecânicas.
A função biológica da piezeletricidade é, portanto, gerar correntes elétricas que regulam a
atividade das células osteogênicas (4). Ossos mecanicamente comprimidos geram um potencial
elétrico e o resultado desta deformação mecânica repetida e das contrações musculares é um
aumento de correntes elétricas pulsáteis no osso. A redução de forças deformantes produzirá uma
diminuição da massa óssea principalmente nas regiões de fratura (1,4). A maior dificuldade na
recuperação de pacientes com fraturas reside na falta de forças deformantes sobre o osso devido
ao repouso e as imobilizações inevitáveis durante o tratamento, que reduzem a atividade
eletromecânica e, conseqüentemente, dificultam o processo de reabilitação do paciente. A
aceleração na cicatrização de fraturas pode ser promovida terapeuticamente pela aplicação de
fontes extrínsecas de energia elétrica, induzindo a osteogênese. Essas correntes podem ser obtidas
por ações externas de campos magnéticos, campos elétricos, ultra-som (energia mecânica), entre
outras, ou através de implantes que funcionem como pequenas fontes de corrente elétricas (2,4).
Muitos dos avanços significativos na odontologia e na medicina moderna surgiram em
função da interação multidisciplinar envolvendo a engenharia, a medicina, a química, a física e a
substância ou combinação de duas ou mais substâncias, farmacologicamente inertes, de origem
sintética ou orgânica, capaz de ser utilizado por um período de tempo como parte ou todo de um
sistema, para melhorar, aumentar ou substituir, parcial ou inteiramente, tecidos, órgãos ou funções
do corpo humano (6,7). As principais características dos biomateriais são biocompatibilidade, não
ser tóxico nem carcinogênico, apresentar bioestabilidade, propriedades mecânicas adequadas, peso
e densidade adequados, ter custo relativamente baixo e ser de fácil processamento. Dentre estes,
se destaca a biocompatibilidade que é uma propriedade inerente a certos materiais inertes e
inócuos (biomateriais), que expostos intermitentemente ou continuadamente aos fluidos orgânicos
do corpo humano, como sangue e líquido sinovial, apresenta aceitação e tolerância dos tecidos
envoltórios a sua presença. No entanto, estes materiais não devem causar disfunções no organismo
ao longo do tempo. A FDA (Food and Drug Administration), por exemplo, exige uma segurança
funcional durante um período de 20 anos para que um biomaterial seja liberado para implantes
(6,7).
Com a experiência através dos anos, chegou-se a conclusão que biomateriais modernos
não devem ter apenas a função de preenchimento de espaço. Devem estar associados a uma
resposta biológica particular, disparada por sinais originados em nível molecular que incluem:
correntes elétricas, distribuição eletrônica, conformação molecular, estado de agregação ou
propriedades físico-químicas (7). A classificação dos biomateriais depende da sua natureza
química, dividindo-se em biomateriais naturais que se subdividem em homólogos (quando
originados do próprio indivíduo, como é o caso das pontes de safena), autólogos (quando
originados de outras pessoas) e heterólogos (quando originados de animais e aproveitados em
implantes ou cirurgias) ou biomateriais sintéticos que incluem implantes cirúrgicos, e que se
a substituir parcial ou integralmente a função original dos materiais biológicos (6,7). A Tabela1
apresenta um quadro comparativo entre algumas propriedades dos metais, cerâmicas e polímeros
(8).
Tabela 1 - quadro comparativo das propriedades de materiais
Propriedades Polímeros Cerâmicas Metais
Biocompatibilidade Boa Excelente Boa
Resistência Química Boa Excelente Boa
Resistência Térmica Pequena Grande Média
Expansão Térmica Grande Pequena Média
Transmissão de Calor Pequena Média Grande
Dureza Baixa Alta Média
Compressibilidade Pequena Grande Média
Resistência a Tração Pequena Pequena Grande
Fragilidade Pequena Grande Pequena
Moldabilidade Fácil Difícil Normal
Custo Baixo Alto Alto
1.2 Polímeros
A palavra polímero = “poly” (muitas) + “mer“ (partes), é originária do grego e foi criada
por Berzelius, em 1832, para designar compostos de pesos moleculares múltiplos. Isto é, são
macromoléculas caracterizadas por seu tamanho, estrutura química e interações intra e
longo da cadeia, denominadas meros. Quando um polímero tem somente um tipo de mero, usa-se
a expressão homopolímero e quando há mais de um tipo de mero, é designado copolímero (9). Há
diversas formas de classificação para os polímeros, que geralmente são apresentados em três
grandes categorias: termoplásticos, termofixos e elastômeros (10).
Em termos de materiais para implantes, os polímeros são uma boa alternativa, visto que
possuem propriedades mecânicas desejáveis. Por exemplo, Fukada, Takamatsu e Yasuda
trabalhando com teflon implantado no fêmur de coelhos constatou a formação de calo ósseo em
apenas duas semanas (11). Ao ser introduzido no organismo, um implante de material polimérico
pode produzir uma reação inflamatória. Se o polímero for inerte, a inflamação será pequena e ele
será encapsulado por tecido fibroso, como a maioria dos implantes metálicos e cerâmicos. No
entanto, apesar de apresentar qualidades desejáveis para agir como um biomaterial, se o polímero
apresentar toxidade, o processo inflamatório se mostrará muito acentuado provocando necrose no
tecido receptor. De modo geral, a toxicidade dos polímeros é consideravelmente maior que a dos
metais e das cerâmicas. A presença de cargas superficiais no polímero é outro fator que influencia
a formação do tecido fibroso. Carga superficial positiva, por exemplo, pode atrair eritrócitos, que
possuem carga superficial negativa, e o contato das células com o material potencialmente
citotóxico pode destruí-las (12).
O PVDF já foi muito estudado devido suas propriedades mecânica, ferroelétrica
(capacidade natural de um material isolante exibir uma polarização espontânea, isto é, na ausência
de campo elétrico) e propriedades elétricas, as quais são adequadas para aplicações eletro-óticas e
eletromecânicas (13,14). Recentemente, o PVDF tem sido usado para uma nova aplicação
tecnológica, em bioengenharia, em que a propriedade eletromecânica é combinada com a
artificiais e próteses (15). A chave para tal quantidade de aplicações se deve à alta atividade
piezelétrica do PVDF, a qual depende de sua fase cristalina polar. A cadeia molecular do polímero
PVDF é formada pela repetição de unidades –CF2-CH2- e tem como características básicas um
peso molecular da ordem de 105g/mol, correspondendo à cerca de 2.000 unidades monoméricas
com um comprimento médio de aproximadamente 0,5µm (Figura 1). As cadeias se organizam em
formas de lamelas formando esferulitos que durante o processo de cristalização crescem
radialmente a partir de um ponto comum. O material é constituído em média por 50% de lamelas
cristalinas, que são da ordem de 100Å de espessura e podem atingir até 10µm de comprimento.
Este polímero semicristalino apresenta temperatura de transição vítrea (Tg) por volta de -50ºC e as
moléculas podem apresentar várias conformações (arranjo espacial dos átomos de carbono ao
longo da cadeia). O PVDF é um polímero que exibe diversas fases cristalinas, conhecidas como α
(não polar) ou II, fase β (polar) ou I, fase γ (polar) ou III e a fase δ (αp = alfa polar) IIp (nesta
pesquisa será usada a notação de α, β, γ e δ) apresentadas na Figura 2.
A fase α é a mais comum, visto que o material normalmente se cristaliza nesta fase com
conformação helicoidal e sistema cristalino do tipo monoclínico com parâmetros de rede a =
4,96Å, b = 9,64Å e c = 4,62Å. A fase β é a mais desejável pela elevada resposta piro e piezelétrica
que apresenta (13) e neste caso a cadeia do PVDF adota uma conformação zigue-zague planar
com sistema cristalino do tipo ortorrômbico e parâmetros de rede a = 8,58Å, b = 4,91Å e c =
2,56Å. Esta conformação dispõe de altos valores de polarização elétrica para a célula unitária,
sendo que o momento de dipolo de uma unidade monomérica é de cerca de 7x10-28Ccm (13),
associada a grande diferença de eletronegatividade entre os átomos presentes nas ligações C-F
(Figura 1). A cristalização do PVDF na fase β não ocorre diretamente, em condições normais, a
de uma fase para outra (14). Uma das formas mais comum de alcançá-la é através de deformação
mecânica (estiramento) de filmes de PVDF na fase α (13,14), porém esta transformação é
altamente influenciada pela temperatura (14) conforme apresenta a Figura 3. Outras possibilidades
menos freqüentes é a aplicação de um campo elétrico muito alto para um filme de PVDF aquecido
acima da Tg (16) ou mesmo utilizando o método de casting em que se deposita uma solução de
PVDF sobre um substrato sólido com uma temperatura controlada (17).
Figura 1: estrutura molecular do PVDF. Cadeia helicoidal fase α (a) e cadeia planar fase β (b).
Figura 2: apresentação das quatro fases cristalinas do PVDF, α (não polar) ou II, fase β (polar)
Figura 3: diagrama esquemático mostrando as inter-relações entre as quatro fases do PVDF
onde T, temperatura; P, pressão; E, campo elétrico (14).
1.3 O látex de borracha natural
No início do século passado, o Brasil passou da condição de principal produtor e
exportador, para importador de borracha natural. Atualmente, o Brasil participa de menos de 1%
da produção mundial de borracha natural, o que é insuficiente, pois supre apenas 30% do consumo
interno (18). O interesse pela produção de borracha natural está crescendo sistematicamente
principalmente na região sudeste, onde o estado de São Paulo é o maior produtor de borracha do
matéria-prima primordial para a fabricação de vários artefatos desde a indústria de sapato até materiais
bélicos (19) e mantêm sua grande fatia no mercado devido à impossibilidade de se reproduzir
quimicamente um polímero com as mesmas qualidades do polímero natural.
A borracha natural é obtida pela coagulação do látex, um líquido branco leitoso, em
árvores do gênero Hevea brasiliensis através do processo de sangria (18). Esta é essencialmente
composta pelo monômero cis-1,4-isopreno, na qual as unidades monoméricas da molécula são
arranjadas na combinação cabeça-cauda, como é mostrado na Figura 4. Os principais constituintes
do látex, além da borracha, são proteínas, aminoácidos, carboidratos, lipídios e ácidos nucléicos
(20). Os principais componentes ao redor da membrana do látex são os lipídios que apresentam
um papel importante no tempo de estabilidade mecânica do látex estabilizado em amônia (20).
Após tratamentos denominados vulcanização (processo que provoca a transformação das
propriedades plásticas da borracha em elástica), adquire propriedades de elastômeros, redes
poliméricas com ligações cruzadas termicamente estáveis, transformando-se na borracha natural
(18). Estes materiais têm estruturas químicas que permitem grande deformação sob baixa tensão e,
removida a força, retornam quase à condição inicial, sem perda significativa de forma e dimensões
(9). Única entre os produtos naturais, a borracha natural tem características próprias. Exibe
elasticidade, plasticidade, resistência ao desgaste, propriedades isolantes de eletricidade e
impermeabilidade para gases e líquidos. Quando utilizada ou manipulada a baixa temperatura (por
CH2 CH2
CH2 CH2 CH2 CH2
CH3
CH3 CH3
CH CH
CH C
C C
Figura 4: estrutura molecular do cis-1,4-isopreno.
1.4 Calorimetria exploratória diferencial (DSC)
Na técnica de DSC mede-se a diferença de energia (entalpia) fornecida à substância e a um
material de referência enquanto a substância e o material são submetidos a uma variação
programada de temperatura (21). Isto permite investigar alterações na cristalinidade do material
em função da temperatura. As transições de fase são acompanhadas por alterações de entalpia do
composto, já que alterações na estrutura do material liberam ou absorvem energia pela quebra e
formação de novas ligações ou simplesmente por rearranjos na estrutura cristalina. Para polímeros
semicristalinos, em particular, a técnica de DSC fornece a temperatura de transição vítrea (Tg),
isto é, a transformação reversível da região amorfa de um polímero que muda de uma condição
rígida para uma condição viscosa, menos rígida. Fornece também a temperatura de cristalização
em que os primeiros cristais são formados, a temperatura máxima de cristalização e a temperatura
de fusão. Entre as temperaturas de cristalização inicial (formação dos primeiros cristais) e a
1.5 Termogravimetria (TG)
Nesta técnica a massa de uma substância é medida em função da temperatura (21). Em
polímeros a curva TG apresenta informações sobre a estabilidade térmica do material, o efeito de
aditivos na estabilidade térmica, a estabilidade térmica oxidativa, o perfil térmico, a cinética de
degradação, estudo da decomposição térmica do polímero entre outros. A técnica TG é
classificada como uma técnica quantitativa pelo fato de não identificar qual substância foi
evaporada. Para tais identificações se faz necessário o uso de técnicas complementares através de
acoplamentos no equipamento de TG ou testes qualitativos de bancada.
1.6 Análise dinâmico-mecânica (DMA)
A análise de DMA é capaz de fornecer informações a respeito do comportamento
viscoelástico do sistema, desmembrando em duas componentes: a contribuição elástica e a
contribuição viscosa. A viscoelasticidade em um material pode ser definida como um
comportamento intermediário entre sólido e líquido de forma que parte da energia é armazenada e
parte é dissipada sob forma de calor. Em geral, os polímeros podem apresentar diferentes “estados
mecânicos” em função da temperatura e/ou tempo, por exemplo, um plástico que apresenta uma
certa rigidez à temperatura ambiente, pode tornar-se um material mais flexível se submetido a
uma temperatura mais elevada. Neste tipo de experimento a tensão ou a deformação é uma função
oscilatória e senoidal acompanhada de uma freqüência angular. O princípio da medida envolve a
aplicação em um material de uma deformação senoidal conhecida, sendo a tensão resposta
apresentada em função da variação da temperatura ou da freqüência. Essa tensão resposta irá
informações a respeito das contribuições elástica e viscosa do material podem ser obtidas (10).
Quando a deformação senoidal coincide em fase com a tensão resposta, isto é, a amplitude da
tensão resposta é máxima, então o material possui um comportamento elástico ideal. Porém, se
deformação senoidal se encontra fora de fase com a tensão resposta, também senoidal, então o
material possui um comportamento viscoelástico. O módulo oriundo da componente da tensão
resposta em fase com a deformação é denominado módulo de armazenamento (E’) e o módulo
oriundo da componente de tensão resposta fora de fase com a deformação é denominado módulo
de perda (E”) (10). A razão entre os valores do módulo de perda, E”, e o módulo de
armazenamento, E’, define uma grandeza denominada tangente de perda, tan δ, isto é, a razão
entre a energia dissipada por ciclo e a energia potencial máxima armazenada durante o ciclo. Em
termos de propriedades de interesse para implante biológico, as medidas de DMA são
importantes, pois não devem existir grandes diferenças entre o módulo de elasticidade do tecido
vivo e dos materiais implantáveis para que as estruturas não deformem de maneira diferente. O
osso, por exemplo, tem módulo de elasticidade entre 8.000 e 24.000MPa (4).
1.7 Espectroscopia vibracional (absorção IR e espalhamento Raman)
a) Espectroscopia de absorção no infravermelho
A partir do espectro da radiação eletromagnética pode-se inferir o mecanismo envolvido
em cada técnica espectroscópica a partir da energia (que é proporcional à freqüência) da radiação
eletromagnética absorvida, espalhada ou emitida pelas moléculas que interagem com a radiação
incidente. As formas das moléculas estocarem energia cinética envolvem não só a translação da
rotação (22). Conseqüentemente, além das transições entre níveis eletrônicos deve-se levar em
consideração também às transições oriundas de vibrações e rotações, cujas energias envolvidas
decrescem nesta seqüência. Tipicamente energias de transições eletrônicas são da ordem de 1 eV,
de vibrações moleculares da ordem de 10-2 eV e de rotação algo em torno de 10-5 eV (23,24).
Quando as vibrações moleculares resultam em alterações do momento de dipolo da
molécula, em conseqüência da variação da distribuição eletrônica ao redor das ligações, podem-se
induzir transições entre os níveis vibracionais. Isto é feito com a incidência de radiação
eletromagnética com energia adequada, ou seja, energia da ordem daquela das vibrações
moleculares. Neste caso, as energias associadas aos níveis vibracionais se encontram na região do
infravermelho do espectro eletromagnético. Quando a energia da radiação incidente está em
ressonância com a energia de vibração de uma determinada ligação química da molécula, a
radiação incidente é absorvida por esta ligação, ou, em outras palavras, quando o dipolo oscilante
referente a uma determinada ligação química se encontra em fase com o campo elétrico da
radiação incidente ocorre à transferência de energia da radiação para a molécula resultando em
uma transição vibracional (23,24).
Basicamente, as vibrações moleculares são classificadas em dois tipos: vibrações de
deformação axial (stretching) e de deformação angular (bending), conforme mostrado na Figura 5.
As deformações de estiramento são oscilações radiais das distâncias entre os núcleos enquanto as
deformações angulares envolvem mudanças dos ângulos entre as ligações ou, como no modo de
deformação assimétrica fora do plano, alterações do ângulo entre o plano que contém as ligações e
um plano de referência. As deformações angulares podem ser divididas ainda em scissoring,
Figura 5: modos de vibração molecular. Os sinais + e - indicam movimentos para fora e para
dentro do plano do desenho, respectivamente.
b) Espectroscopia de espalhamento Raman
O espalhamento Raman é uma técnica complementar à espectroscopia de absorção no
infravermelho na medida em que também se refere aos modos de vibração molecular, de forma
que modos de vibração que podem ser observados via absorção no infravermelho podem não ser
via espalhamento Raman e vice-versa, o que é determinado pelas regras de seleção (23,24).
Porém, ambas as técnicas espectroscópicas envolvem mecanismos físicos diferentes. Como diz o
próprio nome, uma se refere ao espalhamento da luz e a outra se refere à absorção desta radiação.
No espalhamento Raman, a radiação incidente, geralmente no visível ou no ultravioleta, é
espalhada pela molécula com uma energia ligeiramente diferente da energia da radiação incidente,
daí o espalhamento Raman ser conhecido também como espalhamento inelástico da luz, devendo
induzir este processo uma variação na polarizabilidade da molécula a partir da radiação incidente
(23,24). A diferença entre a radiação incidente e a radiação espalhada está na região do espectro
abordagem é que a incidência da radiação eletromagnética produz uma perturbação dependente do
tempo, a qual se manifesta por um estado virtual de energia. Quando os estados estacionários final
e inicial são os mesmos, diz-se que o efeito da perturbação é o espalhamento Rayleigh, para o qual
as freqüências das radiações incidente e espalhada são as mesmas. Quando a freqüência da
radiação espalhada é maior que a da radiação incidente, tem-se o espalhamento Raman anti-Stokes
como resultado da transição da molécula para um estado de menor energia. No caso contrário, ou
seja, quando a freqüência da radiação espalhada é menor que a da radiação incidente tem-se o
espalhamento Raman Stokes (24).
O espalhamento Raman Stokes é mais intenso que o Raman anti-Sotkes à temperatura
ambiente, pois sua probabilidade de ocorrer é maior, uma vez que ele se dá para as moléculas
situadas no estado fundamental de energia. No caso Raman anti-Stokes, o espalhamento ocorre
para moléculas situadas em um estado vibracional excitado cuja população é menor que no estado
fundamental a temperatura ambiente, daí sua probabilidade de ocorrer ser menor. Quando a
energia da radiação incidente coincide com uma transição eletrônica da molécula que espalha a
luz tem-se o espalhamento Raman ressonante, o qual aumenta fortemente a probabilidade de uma
transição que resultará em um espalhamento Raman (aumenta a seção de choque do espalhamento
Raman por um fator em torno de 106) (24,25). A Figura 6 apresenta um diagrama de energia
resumindo as transições relacionadas com absorções eletrônicas e vibracionais e espalhamento
Figura 6: diagrama de energia mostrando diferentes transições de uma molécula para um modelo
considerando dois estados eletrônicos de energia.
1.8 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
O uso desta técnica tem sido cada vez mais freqüente por fornecer informações detalhadas
de uma amostra, com confiabilidade, com aumentos de até 300.000x. A imagem é formada através
da incidência de um feixe de elétrons gerado em um canhão focalizado sobre a amostra, que varre
uma pequena região da mesma, sob condição de vácuo. Como conseqüência, uma série de sinais é
emitida, dos quais destacamos os elétrons secundários que fornecem a imagem da superfície
ionizada do material em tons de cinza, sendo que os tons mais claros representam as faces do
material orientadas para o detector. Os elétrons secundários oferecem melhor resolução espacial e
também melhor visualização da morfologia superficial da amostra. A resolução obtida
corresponde ao diâmetro do feixe de elétrons incidente, que pode variar de acordo com o
equipamento utilizado na análise. Um fator relevante é a condição de calibração do equipamento,
tal como a intensidade da corrente e condições de vácuo. As possibilidades de utilização são muito
introduzidas pela microscopia de varredura (em todas as suas formas) são a disponibilidade de um
sinal e de uma imagem eletrônica aos quais podem ser aplicados todos os recursos modernamente
disponíveis para processamento de sinais e de imagens (26).
1.9 O triodo de corona com corrente constante
O triodo de corona com corrente constante foi desenvolvido no então Grupo de Eletretos,
atual Grupo de Polímeros, do IFSC/USP e tem sido aplicado nas medidas das propriedades
ferroelétricas de polímeros (14). A Figura 7 mostra o desenho esquemático do triodo de corona. O
sistema experimental consiste basicamente de uma ponta metálica P onde é aplicada uma alta
tensão elétrica através da fonte Vc, uma grade metálica G usada para distribuir a tensão aplicada
de maneira uniforme sobre a superfície da amostra, o suporte para as amostras e o eletrômetro E,
usado para medir a corrente através da amostra, a qual é realimentada pela fonte Vg para manter a
corrente de carga constante. Sejam E(x,t) e ρ(x, t) o campo elétrico e a densidade de carga
espacial na região entre a amostra e a grade, respectivamente, conforme apresenta a Figura 8, se a
fonte Vg mantiver a corrente elétrica constante, E(x,t) e ρ(x, t) serão independentes do tempo.
Neste caso a diferença de potencial Vρ, que se estabelece entre a grade e a amostra, também é
constante [14,27]. Pela regra de Kirchhoff, o valor de Vρ é dado por: Vρ(t) =Vg(t) −Vs onde Vs
é o potencial da superfície da amostra (14). Assim, no triodo de corona com corrente constante, a
evolução do potencial de superfície da amostra pode ser obtido diretamente da medida do
potencial da grade, desde que Vρ seja conhecido. O valor de Vρ depende da configuração do
sistema e das condições de operação, como umidade da câmara, corrente de carregamento e de
Figura 7: esquema básico do triodo de corona com corrente constante.
CAPÍTULO II
Procedimento experimental
2.1 Caracterização de filmes comerciais de PVDF
Amostras comerciais de filmes de 50µm de espessura de PVDF na fase α, adquiridas da
Bemberg Folien, Alemanha, foram estiradas e tratadas com descarga corona pelo professor Dante
L. Chinaglia da UNESP/Rio Claro. Um primeiro lote foi estirado a temperatura de 80ºC e
velocidade de estiramento de 5,0mm/min (motor de passo controlado por computador) até o filme
chegar a diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial (2 a 6 vezes o comprimento
inicial), ou seja, as amostram tinham um comprimento inicial de 3cm e depois de estiradas
ficaram com 6, 9, 12, 15 e 18cm. Após o estiramento, as amostras foram metalizadas com
alumínio para garantir a superfície de contato durante o processo de polarização. Os filmes foram
polarizados em um sistema carregado com um triodo de corona (27) sob atmosfera de ar e baixa
umidade. A irradiação por corona foi realizada na superfície não-metálica utilizando um potencial
negativo de –10kV, e o potencial da grade de –5kV e a corrente da corona de 10µA. As amostras
foram mantidas sob descarga corona por 5 minutos. Um segundo lote de amostras foi produzido
estirando-se filmes de PVDF-α até 4x, também sob temperatura constante de 80ºC, porém
variando-se a velocidade de estiramento de 2,0 a 7,0mm/min (2,0; 3,0; 4,0; 5,0; 6,0 e 7,0mm/min).
O processo de polarização adotado para este segundo lote foi o mesmo do primeiro lote. O
espalhamento Raman (Stokes) foi obtido usando o laser com comprimento de onda de 632,8nm
em um espectrógrafo micro-Raman RM2000 da marca Renishaw (Laboratório do professor
785nm em um espectrógrafo micro-Raman In-Via da marca Renishaw. Ambos são equipados com
um microscópio ótico da marca Leica (série DMLM), cuja objetiva 50x utilizada permite uma
resolução espacial da ordem 1,0µm2, detector CCD Peltier (resfriado a -70oC), plataforma
motorizada XYZ (motor de passo – 0,1µm) onde são posicionadas as amostras. Em todos os casos
a potência do laser na amostra é da ordem de µW. Em ambas etapas do trabalho foi utilizado o
laser do equipamento Raman polarizado linearmente, no entanto, para se obter resultados
consistentes, os filmes estirados foram sempre colocados com a direção de estiramento paralela ao
campo elétrico do laser.
Em alguns experimentos foram coletados espectros usando diferentes polarizações do
campo elétrico do laser incidente com o objetivo de verificar uma possível anisotropia em relação
à orientação molecular induzida pelo estiramento do filme. É importante mencionar que em
experimentos complementares foi observado que a potência do laser sobre a amostra não induz
qualquer mudança na morfologia das amostras de PVDF. Complementarmente, medidas de DSC
foram realizadas em um equipamento Netzsch modelo 204, atmosfera de gás N2 (10mL/min) e
razão de aquecimento de 10ºC/min e medidas de difração de raio-x foram obtidas em um
difratômetro Rigaku RU-200B com variação de 2θ entre 10 e 30º (IFSC/USP).
2.2 Fabricação e caracterização de filmes prensados de PVDF/látex
O PVDF utilizado na fabricação dos filmes prensados foi o FLORAFON F4000 HD
adquirido da Atochem na forma de pequenos tarugos. Este PVDF foi então moído em dimensões
Engenharia de Materiais (DEMA) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Já o látex foi
coletado em abril de 2002 a partir de seringueiras do clone RRIM 600 da fazenda experimental da
EMBRAPA, localizada na cidade de Indiana, região de Presidente Prudente, SP. O látex foi
extraído de diferentes árvores, armazenado em vidros escuros previamente limpos e então
estabilizado a partir da adição de amônia 2% em massa. Esta estabilização é necessária para evitar
que num curto período de tempo o látex coagule e perca suas propriedades. A vidraria utilizada
em cada experimento foi lavada com água e detergente neutro, em seguida com solução
sulfocrômica quando necessário, enxaguada em água corrente, depois água destilada e, por fim,
em acetona e seca em estufa.
O PVDF geralmente é dissolvido em solventes como dimetilacetamida (DMA),
dimetilformamida (DMF) ou dimetilsulfóxido (DMSO). Porém, estes solventes são altamente
tóxicos ao organismo humano (28) e segundo pesquisas do professor Camargo Filho, quando
utilizados na fabricação dos implantes induzem um processo infeccioso acelerado (29). Portanto,
na busca por uma alternativa para a fabricação de filmes sem a utilização de solventes, optou-se
por diferentes procedimentos. O primeiro processo de fabricação consistiu em preparar-se o filme
de PVDF aquecendo-o (por volta de 180ºC) até fundi-lo para então se depositar uma fina camada
de látex sobre uma das superfícies do PVDF fundido formando uma espécie de “sanduíche” de
PVDF/látex/PVDF. Este “sanduíche” era rapidamente prensado sob alta temperatura na
expectativa de que o látex se misturasse ao PVDF de maneira uniforme, o que não aconteceu.
Quando o látex de borracha natural é aquecido suas características físicas mudam, sua aparência
passa de um líquido viscoso e branco para uma película amarelada, elástica e pegajosa devido ao
O processo seguinte testado foi à fabricação de uma “pasta” de PVDF e látex a partir da
mistura em um almofariz do látex adicionado ao pó de PVDF. Após a mistura manual, a pasta foi
levada à prensa obtendo-se um filme com propriedades mecânicas aparentemente satisfatórias.
Este processo foi otimizado por meio de modificações nos parâmetros de fabricação: quantidade
de látex adicionada ao PVDF, temperatura da prensa, pressão exercida sobre a blenda, tempo de
prensagem e tipo de molde, o qual pode influir na espessura e homogeneidade da amostra devido
às características da prensa utilizada. Foi fabricado um molde constituído por uma placa de
alumínio retangular com 0,5mm de espessura; 8,5cm de comprimento e 9,5cm de largura, com
uma área vazada de 5,0cm de comprimento por 4,0cm de largura. Estas dimensões foram
escolhidas por propiciarem filmes mais homogêneos à medida que minimizam os gradientes de
temperatura e pressão ao longo do volume do filme e facilitam o corte destes filmes nos tamanhos
adequados requeridos para o implante. O molde onde se deposita o material permanece entre duas
placas de alumínio de 3,0mm de espessura e 12,0x12,0cm que proporciona uma maior
regularidade da superfície do filme. Para facilitar a retirada do filme após a prensagem e
proporcionar superfície mais lisa colocou-se uma folha de Kapton de 10,0x10,0cm de área de cada
lado do molde isolando-o das placas externas de alumínio. Utilizou-se para a fabricação dos
filmes uma prensa hidráulica de até 15 toneladas da Prensa Forte Charllot monitorada por um
controlador de temperatura modelo PXV marca Contempcom (Figura 9).
Foram fabricados vários filmes até que o procedimento de fabricação fosse otimizado e,
após esta etapa, fabricaram-se os dois lotes estudados nesta dissertação. Em um primeiro lote,
foram preparados quatro filmes em diferentes proporções, utilizando o método de prensagem a
quente: PVDF puro; látex puro; 2,0g de PVDF para 1,0mL de látex e 2,0g de PVDF para 0,5mL
caracterizou-se um segundo lote com seis filmes. Neste segundo lote, quatro dos seis filmes
possuíam a mesma proporção de PVDF/látex presentes no primeiro lote e as outras duas
proporções foram 2,0g de PVDF para 0,3mL de látex e 2,0g de PVDF para 0,7mL de látex. Para
padronizar a descrição dos filmes utilizou-se a nomenclatura dada na Tabela II, a qual também
apresenta a % em massa de borracha seca no látex (40% (19)) em relação à massa total de ambos
polímeros na blenda (2,0g de PVDF + 0,40 x massa correspondente ao volume de látex na
blenda).
Figura 9: prensa utilizada para fabricação dos filmes de PVDF/látex, a qual dispõe de um
controlador de temperatura
Tabela II - nomenclatura dos filmes de PVDF, látex e PVDF/látex.
Filmes % em massa de NR em relação à massa total da blenda
Nomenclatura
PVDF PVDF
Látex de borracha natural NR (natural rubber)
2,0g de PVDF/0,3mL de látex 94,5% de PVDF/5,5% de NR 0.3NR/PVDF
2,0g de PVDF/0,5mL de látex 91,1% de PVDF/8,9% de NR 0.5NR/PVDF
2,0g de PVDF/0,7mL de látex 88,0% de PVDF/12,0% de NR 0.7NR/PVDF
Abaixo são dados descritos os parâmetros utilizados em cada etapa da prensagem dos
filmes de PVDF, 1.0NR/PVDF, 0.7NR/PVDF, 0.5NR/PVDF e 0.3NR/PVDF:
- Temperatura da prensa: ~ 180oC
- Primeira prensagem: 2 minutos, 6 toneladas
- Segunda prensagem: 1 minuto, 4 toneladas
- Terceira prensagem: 3 minutos, 6 toneladas
Para o filme de NR, o parâmetro utilizado na prensagem foi modificado para que o filme
não sofresse degradação térmica:
- Temperatura da prensa: ~ 150oC
- Primeira prensagem: 1 minuto, 4 toneladas
- Segunda prensagem: 2 minutos, 6 toneladas
Abaixo é descrita a fabricação de todos os filmes, sendo que no processo de prensagem
fez-se um alívio de aproximadamente 5 segundos entre cada prensagem para liberação das bolhas
de ar presentes no filme quando prensado.
9 PVDF: pesou-se 3,0g do PVDF em pó que foi colocado diretamente sobre a folha de
Kapton no centro do molde, entre as placas de alumínio e prensado de acordo com os parâmetros
de prensagem descritos acima.
9 NR: aqueceu-se num agitador magnético 5,0mL do látex a temperatura de
aproximadamente 50oC mexendo levemente até atingir-se uma consistência pegajosa. Este
processo leva cerca de 15 minutos, após o qual deposita-se este material no centro do molde a ser
prensado com os parâmetros de prensagem descritos acima para NR.
9 Filmes NR/PVDF: o filme 1.0NR/PVDF foi obtido adicionando-se 2,0g do PVDF na
aproximadamente 20 minutos para homogeneizar e obter uma mistura com aspecto pastoso, a qual
foi depositada sobre a folha de Kapton no molde de alumínio e prensada segundo os parâmetros
descritos acima. Os demais filmes foram obtidos seguindo-se o mesmo procedimento, porém
adicionando-se 0,7; 0,5 e 0,3mL de látex aos 2,0g de PVDF para a fabricação dos filmes
0.7NR/PVDF, 0.5NR/PVDF e 0.3NR/PVDF, respectivamente. Após a fabricação, os filmes foram
cortados para que fossem tratados com descarga corona (27) e caracterizados através de
espalhamento Raman e MEV.
Medidas de DSC foram realizadas num equipamento Netzsch modelo 204 com razão de
aquecimento de 10ºC/min e N2 como gás de arraste na faixa de temperatura de -100 a +200°C.
Também foram realizadas medidas de DSC com razão de aquecimento de 5ºC/min com o objetivo
de verificar o comportamento térmico dos filmes quando submetido a duas razões de aquecimento
diferentes. As medidas de TG foram realizadas em dois equipamentos diferentes. O primeiro lote
num equipamento Netzch modelo 209, com razão de aquecimento de 10ºC/min e N2 como gás de
arraste na faixa de temperatura de -120 a 200°C. Já as medidas de TG do segundo lote foram
realizadas num equipamento TA Instruments, nas mesmas condições do experimento anterior, no
Laboratório do professor Éder Cavalheiro do IQSC/USP, uma vez que o TG Netzch modelo 209
foi enviado à Alemanha para manutenção. Medidas de DMA foram realizadas num equipamento
Netzch modelo 242 com razão de aquecimento de 5ºC/min, freqüência de 10Hz e N2 como gás de
arraste na faixa de temperatura de -120 a +200°C. No equipamento de DMA também foram
realizadas diversas medidas, ora mudando a freqüência de vibração, ora mudando a razão de
aquecimento. Para tanto, inicialmente realizou-se medidas fixando a razão de aquecimento em
5ºC/min e mudou-se a freqüência para 1Hz. Depois se fixou a freqüência em 10Hz e mudou-se a
Medidas de FTIR foram realizadas num espectrômetro Bruker modelo Vector 22 no modo ATR,
detector DTGS, 32 scans, resolução espectral de 4cm-1 e atmosfera ambiente. Raman foi realizado
no espectrógrafo micro-Raman da Renishaw modelo in-Via descrito na seção 2.1. Foram
investigadas diferentes regiões da amostra de forma sistemática, colhendo-se simultaneamente
informações tanto químicas como morfológicas com uma resolução espacial da ordem de 1µm2 a
partir do acoplamento do espectrógrafo Raman ao microscópio Leica. Os espectros Raman foram
obtidos ainda para amostras submetidas a diferentes temperaturas e a tratamento com descarga
corona (27). As medidas em função da temperatura foram realizadas em um acessório Linkan
modelo 600 apropriado para acoplar-se ao espectrógrafo micro-Raman com os seguintes
parâmetros: razão de aquecimento de 5ºC/min entre 25 e 180ºC com espectros sendo coletados a
cada 25ºC até 150ºC e a cada 10ºC entre 150 e 180ºC. As medidas de MEV foram realizadas num
equipamento Zeizz West Germany modelo DSM-960 no IFSC/USP (tensão 20KV). Inicialmente
foi necessário secar as amostras em estufa a 60ºC por aproximadamente 15 minutos e metalizá-las
com ouro até uma espessura do recobrimento de aproximadamente 20nm. Esta metalização foi
realizada num equipamento Balzers modelo SCD050 Sputter Coater (IFSC/USP). A descarga
corona foi realizada com corona negativa, tensão de 20KV durante duas horas. A tensão foi
aplicada nas duas superfícies do filme. Os parâmetros para o tratamento dos bastões com descarga
corona foram os mesmos que se realizaram com os filmes.
2.3 Fabricação dos bastões de PVDF e PVDF/látex destinados a implante
Quando desenvolvi meu trabalho de iniciação científica, foram estudados vários processos
método encontrado naquele momento foi por prensagem à quente, onde o PVDF era dissolvido
em DMA e depositado na cavidade superior de um molde vertical. Este dispositivo era prensado e
o material impulsionado a extremidade inferior do molde que possui formato cilíndrico com
diâmetro 2,0mm. Como no trabalho de mestrado optou-se por não utilizar solvente, o processo de
fabricação adotado no trabalho de iniciação científica tornou-se inviável. Um outro processo foi
então tentado, no qual, o material é prensado horizontalmente e diretamente no molde cilíndrico.
Porém, com este processo também não se obteve sucesso devido ao comprometimento da
homogeneidade das blendas.
A saída encontrada para este problema foi fabricar filmes prensados mais espessos,
alterando apenas as dimensões do molde utilizado na fabricação dos filmes e blendas de 0,5mm.
Fabricou-se um novo molde constituído por uma placa de alumínio quadrada com 2,5mm de
espessura, 10,0cm de comprimento e 10,0cm de largura, com uma área vazada de 2,5cm de lado.
Após fabricação dos filmes eles foram cortados em tiras de 2,0mm de largura e conservou-se o
comprimento de 2,5cm. Com uma lixadeira elétrica arredondaram-se as extremidades das peças e
usando uma furadeira elétrica e lixas finas deu-se o acabamento ao bastão. O controle do diâmetro
foi dado com régua e paquímetro conforme mostra a Figura 10. As dimensões dos bastões são de
4,5mm de comprimento e diâmetro em torno de 3,0mm.
Não serão fabricados bastões com todas as proporções porque isto pode requerer uma
quantidade muito grande de animais em virtude da abordagem estatística necessária para validar
os resultados. Pretende-se escolher o filme de PVDF puro para servir como referência e o filme
0.5NR/PVDF por apresentar homogeneidade e desempenho mecânico mais adequado. Devem-se
utilizar como cobaias para os implantes 32 ratos da espécie Rattus novergicus albinus da
foram encaminhados ao Comitê de Ética da FCT/UNESP. Em 16 animais devem ser implantados
16 cilindros tratados com corona sendo 4 de PVDF e 4 de 0.5NR/PVDF na região intercondiliana
do fêmur e os outros 4 de PVDF e 4 de 0.5NR/PVDF no músculo reto abdominal. Em outros 16
ratos devem ser realizados os mesmos implantes, porém com cilindros não tratados com corona. O
período de estudo da consolidação óssea foi fixado em seis semanas para permitir uma
comparação com a literatura (15). Em (15), Callegari; Belangero realizaram um trabalho
implantando bastões de PVDF piezelétrico e não piezelétrico no fêmur de ratos com o objetivo de
analisar a interface formada entre o PVDF (piezelétrico e não piezelétrico) e o tecido ósseo do
rato. Em ambos os tipos de bastão (piezelétrico e não piezelétrico) foi constatado a cicatrização da
pele e tecidos moles sem formação de cápsula fibrosa ao redor dos implantes. Nos bastões de
PVDF não piezelétricos não foi observado crescimento de tecido ósseo. Já nos bastões de PVDF
piezelétrico pode-se observar a formação de tecido ósseo na superfície interna do bastão. Isto foi
atribuído à deposição de cargas negativas apenas na parede interna do material e cargas positivas
na parede externa. Em nosso trabalho, tomamos este artigo como referência para seguir os
mesmos parâmetros utilizados no implante de forma que seja possível realizar comparações dos
resultados.