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Adesão medicamentosa e qualidade de vida em idosos com retinopatia diabética.

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Academic year: 2017

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nov.-dez. 2014;22(6):902-10 DOI: 10.1590/0104-1169.3477.2494 www.eerp.usp.br/rlae

Copyright © 2014 Revista Latino-Americana de Enfermagem Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial (CC BY-NC).

Esta licença permite que outros distribuam, editem, adaptem e criem obras não comerciais e, apesar de suas obras novas deverem créditos a você e ser não comerciais, não precisam ser licenciadas nos mesmos termos.

Endereço para correspondência: Fernanda Freire Jannuzzi Universidade Estadual de Campinas Rua Tessália Vieira de Camargo, 126 Cidade Universitária “Zeferino Vaz” CEP: 13083-887, Campinas, SP, Brasil E-mail: fernandafj@yahoo.com.br

1 Artigo extraído da dissertação de mestrado “Qualidade de vida relacionada à função visual e adesão medicamentosa em idosos com retinopatia

diabética”, apresentada à Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

2 Doutoranda, Faculdade de Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

3 PhD, Professor Associado, Faculdade de Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. 4 Pós-doutoranda, Faculdade de Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

5 PhD, Professor Associado, Faculdade de Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. Professor Titular, Faculté des

sciences infirmières, Université Laval, Québec, Canadá.

Adesão medicamentosa e qualidade de vida em idosos com retinopatia

diabética

1

Fernanda Freire Jannuzzi

2

Fernanda Aparecida Cintra

3

Roberta Cunha Matheus Rodrigues

3

Thaís Moreira São-João

4

Maria Cecília Bueno Jayme Gallani

5

Objetivo: investigar os fatores relacionados à adesão medicamentosa e sua relação com a qualidade de vida relacionada à saúde em idosos com retinopatia diabética. Método: foram entrevistados 100 idosos, em acompanhamento ambulatorial, em uso de anti-hipertensivos e/ ou antidiabéticos orais/insulina. A adesão foi avaliada pela proporção de adesão e sua associação com os cuidados no uso dos medicamentos e pela Escala de Morisky. O National Eye Institute Visual Funcioning Questionnaire foi utilizado para avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde. Resultados: A maioria (58%) relatou o uso de 80% ou mais das doses prescritas e os cuidados na tomada dos medicamentos. O item “interromper o uso dos medicamentos por se sentir pior”, da Escala de Morisky, explicou 12,8 e 13,5% da variabilidade da proporção de adesão aos anti-hipertensivos e aos antidiabéticos orais/insulina, respectivamente. Conclusão: observou-se melhor qualidade de vida relacionada à saúde nos domínios visão de cores, dirigir automóvel e apectos sociais do National Eye Institute Visual Funcioning Questionnaire. Indivíduos com menor pontuação na National Eye Institute Visual Funcioning Questionnaire e maiores escores na Escala de Morisky apresentaram maiores chances de serem não aderentes aos medicamentos do diabetes e da hipertensão arterial.

(2)

Introdução

A queda da acuidade visual na velhice contribui expressivamente para acentuar a dependência, pelas mudanças relacionadas aos aspectos sociais e psicológicos, perda gradual de autonomia, autocuidado e qualidade de vida(1). A Retinopatia Diabética (RD)

constitui uma das mais incapacitantes complicações microangiopáticas em pacientes idosos com Diabetes Mellitus (DM)(2) e é dividida em duas fases: não proliferativa

e proliferativa. A RD não proliferativa caracteriza-se por alterações intrarretinianas associadas ao aumento da permeabilidade capilar e, ocasionalmente, à oclusão vascular(3). Na progressão da RD não proliferativa,

observa-se a formação de neovasos na interface vítrea da retina, que constitui a RD proliferativa(3).

Os fatores de risco para RD são, basicamente, hiperglicemia e hipertensão arterial(4), o que aponta a

importância do uso regular de medicamentos para o

controle da glicemia e dos níveis pressóricos, a im de

impedir a manifestação da doença ou a sua evolução. Essa é uma questão importante entre a população idosa, que tem demonstrado tendência à não adesão(5). Além

disso, entre aqueles afetados por RD, a não adesão à terapia resulta no controle inadequado da glicemia e da pressão arterial, na progressão das complicações retinianas e no agravamento da acuidade visual que, por sua vez, compromete a qualidade de vida desses indivíduos. A Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) tem sido exaustivamente estudada na população idosa. Estudos epidemiológicos e clínicos têm analisado a percepção do estado de saúde e QVRS entre os idosos, bem como o impacto da doença e seu respectivo tratamento na QVRS(6). No entanto, apenas

poucas pesquisas relatam a avaliação da qualidade de vida relacionada à função visual(7).

Supondo, portanto, que a adesão medicamentosa

em idosos com RD poderia ser inluenciada pelas condições sociodemográicas, baixa acuidade visual

e QVRS, este estudo teve como objetivo analisar a correlação/associação entre a adesão medicamentosa

e as variáveis sociodemográicas/clínicas e a QVRS dos idosos com RD. Mais especiicamente, o estudo

objetivou avaliar: 1. adesão dos idosos à terapêutica medicamentosa especíica (orais antidiabéticos/insulina

e anti-hipertensivos), 2. qualidade de vida relacionada

à visão desses indivíduos e 3 a relação entre a adesão

medicamentosa e as variáveis sociodemográicas/

clínicas e de qualidade de vida relacionada à função visual.

Métodos

Desenho, local e amostra

Pesquisa transversal, descritiva, correlacional, realizada no ambulatório de oftalmologia de um hospital universitário no interior do Estado de São Paulo, Brasil. Participaram do estudo 100 idosos com diagnóstico de retinopatia diabética, em uso contínuo de medicamentos anti-hipertensivos e/ou antidiabéticos orais/insulina. Foram excluídos os idosos que apresentavam: 1. baixa visão secundária a outras afecções (glaucoma, doenças oculares congênitas, opacidade de meios) e 2. cirurgias oculares no período inferior a 30 dias da coleta de dados(8).

Coleta de dados

Os dados foram obtidos entre fevereiro e dezembro de 2008, por meio de entrevistas individuais estruturadas. Os dados da avaliação oftalmológica foram obtidos dos prontuários dos pacientes, logo após a consulta médica, e dos dados sobre a adesão e QVRS, por meio de entrevista.

Instrumentos

- Dados sociodemográicos e clínicos: instrumento

composto por três partes: I. peril sociodemográico,

II. caracterização clínica e III. avaliação oftalmológica: acuidade visual para longe (Tabela Optométrica de Snellen) e para perto (Tabela Jaeger) no olho de melhor visão, com correção óptica se os pacientes izessem uso.

Os idosos foram agrupados de acordo com a acuidade visual para longe(9) e visão de perto(10); com pequenas

adaptações.

- National Eye Institute Visual Functioning Questionnaire (NEI VFQ-25), versão brasileira(11): instrumento sobre a

inluência da deiciência visual na qualidade de vida. Os 25

(3)

medicamento pela percepção de melhora e interrupção da terapia pela percepção de piora do quadro clínico. As respostas são estruturadas em escalas tipo Likert, com quatro ou cinco opções para cada item. A soma dos quatro itens gera uma pontuação que varia de 4 a 18: quanto menor o escore maior a favorabilidade de adesão ao tratamento. Para os sujeitos que usam anti-hipertensivos e antidiabéticos orais/insulina, a Escala de Morisky foi aplicada separadamente para cada grupo de medicamentos.

- Medida da Adesão Medicamentosa: avaliada em relação à proporção e à avaliação global da adesão.

- Proporção de adesão: avaliada por meio de quatro quadros que compreendem: 1. classe, dose e forma de dosagem dos medicamentos prescritos, uso de cada um dos medicamentos prescritos: 2 nas 24 horas anteriores à entrevista, 3 na semana anterior e 4 no mês anterior à entrevista. O propósito das Tabelas 2 e 3 foi facilitar a obtenção de respostas mais acuradas, minimizando o viés de memória. A adesão foi calculada com base nas doses omitidas, informada pelo paciente, usando o seguinte cálculo: [(doses prescritas - doses omitidas) x 100/doses prescritas](13). Os sujeitos

que tomavam doses superiores às prescritas tiveram o seu valor convertido para a adesão com o índice correspondente inferior a 100% (isto é, um paciente com 120% de adesão ao tratamento prescrito foi considerado como tendo utilizado 80% da dose)

(14). Para aqueles que tomavam mais de uma classe

de medicamentos, a proporção inal de adesão foi

calculada pela média das porcentagens de adesão de cada fármaco. A proporção de adesão foi tratada como variável contínua (considerando-se a média da proporção de uso de todos os medicamentos prescritos), e como variável categórica: dose adequada (proporção igual ou superior a 80% da dose prescrita)

e dose insuiciente (quando a dose tomada não atingia

80% do prescrito).

- Avaliação global de adesão: além da proporção de adesão aos medicamentos, a sua forma também foi avaliada, ou seja, o número de vezes que a medicação foi tomada e sua associação com marcadores temporais: jejum, café da manhã, almoço e jantar. Assim, para a avaliação global da adesão, os pacientes foram

classiicados em dois grupos: I: aderente - dose e cuidados adequados e II: não aderentes - dose e/ou cuidados inadequados.

A ordem de administração do NEI VFQ-25, da Escala de Morisky e da Medida da Adesão Medicamentosa foi

feita de forma aleatória para minimizar os efeitos de ordem.

Análise estatística

O software Statistical Package for Social Sciences

(SPSS), versão 15.0, para Windows foi usado para as seguintes análises: descritiva, de comparação (testes qui-quadrado, exato de Fisher, Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e de correlação de Spearman) e regressão logística com critério stepwise de seleção de variáveis.

A força dos coeicientes de correlação (r) foi classiicada

como: pouca ou nenhuma (valores entre 0 e 0,25), baixa (0,26-0,49), moderada (0,5-0,69), alta (0,70-0,89) e muito alta correlação (0,9-1)(15). Os testes

não paramétricos foram utilizados para as variáveis

de distribuição não normal. O nível de signiicância

adotado foi de 5%.

Aspectos éticos

Todos os pacientes incluídos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética local (Documento nº777/2007).

Resultados

Caracterização da amostra

A amostra foi predominantemente do sexo feminino (62%), idade média de 69,5 (7,1) anos, escolaridade

de 4,0 (3,0) anos e proissionalmente inativos (64%).

A maioria dos pacientes (85%) apresentava DM e hipertensão arterial e 25%, apenas DM. Grande parte da amostra tinha a visão normal ou próxima do normal para longe (44%) e para perto (63%). Cinquenta e dois indivíduos apresentavam RD não proliferativa, 46, RD proliferativa e 2 tinham ambas. O tempo de diagnóstico da RD foi, em média, de 32,7 (25,6) meses, variando entre seis e 180 meses.

Avaliação da Qualidade de Vida relacionada à Função Visual (NEI VFQ-25)

(4)

Tabela 1 - Adesão medicamentosa de acordo com os critérios tda proporção, Escala de Morisky e classiicação, de

acordo com a adequação da dose e cuidados na tomada dos medicamentos (n=100). Campinas, SP, Brasil, 2008

Proporção da adesão medicamentosa(%)

Medicamentos Total (n=100) Indivíduos diabéticos (n=15) Indivíduos diabéticos e hipertensos (n=85)

Antidiabéticos 87.5 (19.5) 86.7 (13.3) 88.1 (20.1)

Antihipertensivos 86.2 (21.1) --- 88.2 (19.6)

Antidiabéticos y Antihipertensivos 86.3 (18.0) --- 87.5 (18.1)

Escala de Morisky

Medicamentos Itens Total (n=100) Indivíduos diabéticos (n=15)

Indivíduos diabéticos e hipertensos (n=85)

Antidiabéticos orais e/ou insulina Total 5.1 (1.6) 4.6 (1.0) 5.2 (1.7)

Item 1 1.4 (0.7) 1.3 (0.7) 1.4 (0.7)

Item 2 1.4 (0.9) 1.1 (0.5) 1.5 (0.9)

Item 3 1.1 (0.3) 1.1 (0.3) 1.1 (0.3)

Item 4 1.3 (0.7) 1 1.3 (0.8)

Anti-hipertensivos Total 5.4 (1.7) --- 5.4 (1.7)

Item 1 1.5 (0.8) --- 1.5 (0.8)

Item 2 1.5 (0.9) --- 1.5 (0.9)

Item 3 1.1 (0.4) --- 1.1 (0.4)

Item 4 1.3 (0.7) --- 1.3 (0.7)

Classificação da adesão global à terapêutica medicamentosa (n=100)

Aderentes 58%

entre a Escala de Morisky (escore total e de cada item) e a proporção de adesão (Tabela 2).

Foram observadas correlações negativas de baixa magnitude entre o escore total da Escala de Morisky e a proporção de adesão aos anti-hipertensivos e antidiabéticos, indicando que quanto mais os pacientes revelaram concordar com os itens da Escala de Morisky, que levam à não adesão, menor foi a utilização correta dos medicamentos prescritos. A proporção de adesão tanto dos medicamentos antidiabéticos como dos anti-hipertensivos mostrou correlação negativa, de baixa a moderada magnitude, com os dois últimos itens (interromper o uso por se sentir melhor ou por se sentir pior).

A análise de regressão linear multivariada foi realizada para investigar qual(is) o(s) item(ns) da Escala de Morisky efetivamente explicariam a variabilidade da proporção de adesão (Tabela 3). Apenas o item 4 (interromper o uso por se sentir pior) explicou a variabilidade da proporção de adesão tanto para os anti-hipertensivos (12,8%) como para os antidiabéticos orais/insulina (13,5%).

Medida da adesão medicamentosa

Na amostra avaliada, 85% fazia uso de medicamentos anti-hipertensivos e todos utilizam antidiabéticos orais e/ou insulina, 48% sendo insulino-requerentes. A Escala de Morisky foi aplicada separadamente para os medicamentos anti-hipertensivos e para os antidiabéticos orais/insulina. As médias obtidas foram 5,4 (1,7) e 5,1 (1,6), respectivamente. Durante o mês que antecedeu a entrevista, os sujeitos utilizaram 86,3% das doses prescritas para o tratamento da hipertensão e/ou DM. A maioria do grupo estudado (58%) foi considerada aderente, por relatar o uso de 80% ou mais da dose prescrita e ter seguido os cuidados necessários na utilização dos medicamentos (Tabela 1).

A Escala de Morisky, embora tratada por alguns autores como uma medida de adesão, reúne, de fato, quatro fatores que predizem o comportamento do paciente para tomar os medicamentos, sem mensurar a adesão. Assim, foi testada inicialmente a correlação

Tabela 2 - Correlações entre a Escala de Morisky e a porporção de adesão medicamentosa (n=100). Campinas, SP, Brasil, 2008

Escala de Morisky

Proporção de adesão medicamentosa*

Antidiabéticos Anti-hipertensivos Ambos

r p-valor r p-valor r p-valor

Anti-hipertensivos (n=85) Total -- -- -0.45 <0.001 -0.48 <0.001

(5)

Tabela 3 - Análise de regressão linear multivariada da proporção de adesão aos medicamentos, de acordo com a Escala de Morisky (n=100). Campinas, SP, Brasil, 2008

Escala de Morisky (anti-hipertensivos) (n=85)

Proporção de adesão aos anti-hipertensivos

Beta (EP)† p-valor R2 parcial

Item 1* -0.078 (0.119) 0.512 0.005

Item 2* -0.163 (0.125) 0.197 0.022

Item 3* -0.348 (0.220) 0.119 0.027

Item 4* -0.462 (0.189) 0.017 0.128

Escala de Morisky (antidiabéticos/insulina) (n=100)

Proporção de adesão aos antidiabéticos/insulina

Beta (EP)† p-valor R2 parcial

Item 1* -0.136 (0.119) 0.258 0.011

Item 2* -0.154 (0.120) 0.204 0.017

Item 3* -0.369 (0.211) 0.083 0.030

Item 4* -0.446 (0.158) 0.006 0.135

*Variáveis transformadas em postos devido à ausência de distribuição normal. Beta: valor da estimativa ou coeiciente angular (slope) da reta de regressão; EP: erro-padrão de beta; R2: coeiciente de determinação. R2 total (anti-hipertensivos): 0,180. Intercepto (EP): 88,15; p-valor <0,001. R2 total

(antidiabéticos/insulina): 0,193. Intercepto (EP): 106,24; p-valor <0,001.

Escala de Morisky

Proporção de adesão medicamentosa*

Antidiabéticos Anti-hipertensivos Ambos

r p-valor r p-valor r p-valor

Anti-hipertensivos (n=85) Item 1 -- -- -0.05 0.624 -0.09 0.409

Item 2 -- -- -0.16 0.150 -0.19 0.078

Item 3 -- -- -0.40 <0.001 -0.40 <0.001

Item 4 -- -- -0.59 <0.001 -0.59 <0.001

Antidiabéticos orais/insulina (n=100)

Total -0.38 <0.001 -- -- -0.42 <0.001

Item 1 -0.07 0.471 -- -- -0.01 0.910

Item 2 -0.15 0.137 -- -- -0.202 0.044

Item 3 -0.43 <0.001 -- -- -0.39 <0.001

Item 4 -0.40 <0.001 -- -- -0.52 <0.001

r=coeiciente de correlação de Spearman.

Escala de Morisky: menores escores indicam maior favorabilidade para a adesão medicamentosa. Itens 1 e 2: variam de 1 a 5; itens 3 e 4: variam de 1 a 4. *proporção de adesão medicamentosa aqui apresentada corresponde à percentagem das doses utilizadas no último mês.

Análise da associação entre adesão e variáveis

sociodemográicas e clínicas e QVRS

Com a inalidade de identiicar os possíveis fatores

associados à adesão à terapia medicamentosa entre os idosos, foi realizada análise exploratória, testando a correlação entre a adesão (analisada como variável contínua e o escore obtido na Escala de Morisky) e as

variáveis sociodemográicas e clínicas.

A matriz de correlação entre a adesão e as

variáveis sociodemográicas e clínicas demonstrou que

a proporção de adesão foi positivamente correlacionada com a renda mensal (r=0,39; p-valor <0,000), somente para o uso dos antidiabéticos orais/insulina. O número de medicamentos associados teve correlação positiva de fraca magnitude com o item 2 (ser descuidado –

r=0,28; p-valor=0,005 para o uso de antidiabéticos/ insulina e r=0,27; p-valor=0,013 para o uso dos anti-hipertensivos) e o escore total da Escala de Morisky (r=0,23; p=0,025 para os antidiabéticos orais/insulina apenas); e correlação negativa de fraca magnitude com o item 3 (interromper o uso do medicamento por se sentir bemr=-0,28; p-valor=0,01 para os antidiabéticos orais/insulina; r=-0,27; p-valor=0,014 para os anti-hipertensivos). Isso sugere que quanto maior o número de medicamentos associados maior o escore total, o que aponta para a não adesão, e maior é a concordância do paciente em ser descuidado no uso dos medicamentos. Isso também indica que quanto maior o número de medicamentos em uso menor a chance de o paciente deixar de utilizá-los quando se sentir melhor.

(6)

Tabela 4 - Análise de regressão logística univariada para a adesão medicamentosa global (n=100). Campinas, SP, Brasil, 2008

Variáveis Categorias p-valor OR* IC 95%*

Acuidade visual para longe Baixa visão grave ou cegueira (ref.) -- 1.00

--Baixa visão moderada 0.399 1.62 0.53 – 4.94

Normal 0.056 2.95 0.97 – 8.94

Acuidade visual para perto Cegueira (<J6) (ref.) -- 1.00

--Baixa visão (J4, J5 e J6) 0.257 2.17 0.57 – 8.26

Normal (J1, J2 e J3) 0.069 2.51 0.93 – 6.78

NEI VFQ-25 (categorizado) 0-50 (ref.) -- 1.00

--50-74 0.283 1.92 0.58 – 6.32

75-100 0.024 3.34 1.17 – 9.50

Escala de Morisky Anti-hipertensivos (categorizada)

≥8 pontos (ref.) -- 1.00

--6-7 pontos 0.220 2.70 0.55 – 13.20

4-5 pontos 0.010 6.53 1.57 – 27.21

Não faz uso 0.077 4.50 0.85 – 23.80

Escala de Morisky

Antidiabéticos orais e/ou insulina

Escore total (para cada ponto) -- 1.00

--0.007 0.68 0.51 – 0.90

Escala de Morisky

Antidiabéticos orais e/ou insulina (categorizada)

≥7 pontos (ref.) -- 1.00

--5-6 pontos 0.013 5.10 1.42 – 18.32

4 pontos 0.002 6.35 1.98 – 10.37

*OR (Odds Ratio) para a adesão medicamentosa (n=42 não aderente e n=58 aderente). IC 95%=intervalo de coniança de 95% para a razão de risco. Ref.:categoria utilizada como referência para a análise.

Para a análise dos fatores associados à adesão global, foi realizada análise de regressão logística, incluindo como variáveis independentes: acuidade visual (para longe e para perto), qualidade de vida relacionada à função visual (NEI VFQ-25) e os fatores relacionados à não adesão, medidos pela Escala de Morisky. A adesão, como variável dependente, foi tratada como categórica: aderente (dose e cuidados adequados - Grupo I) e não aderente (dose e/ ou cuidados inadequados - Grupo II) (Tabela 4).

A análise aponta que a qualidade de vida relacionada à função visual e a pontuação na escala de Morisky (para anti-hipertensivos e antidiabéticos orais/insulina)

inluenciaram a adesão medicamentosa: indivíduos

com menor pontuação no NEI VFQ-25 e maior escore na Escala de Morisky têm maior chance de serem não aderentes.

Discussão

Este estudo analisou as associações observadas entre a adesão medicamentosa e as variáveis

sociodemográicas/clínicas e QVRS em idosos com RD. A

proporção média observada de medicamentos tomados foi superior a 80% para as duas classes de fármacos, indicando adesão. No entanto, quando a avaliação da dose e dos cuidados relativos à prescrição foi associada a essa proporção, aproximadamente metade dos indivíduos (42%) revelou a não adesão, caracterizado pelas associações: dose adequada e cuidados

inadequados, dose insuiciente e cuidados adequados e

dose e cuidados inadequados.

A única variável que demonstrou relação com a tomada dos medicamentos foi a renda mensal entre os pacientes em uso de antidiabéticos orais/insulina.

Trata-se de achado signiicativo, considerando-Trata-se que grande

parte dos medicamentos para hipertensão arterial e DM está disponível gratuitamente nos serviços de saúde pública para a população brasileira. A associação entre a não adesão e pior condição inanceira também foi

relatada em pacientes com HIV(16). A renda também

foi um fator de risco para a não adesão e internação secundária em idosos(17). Esses dados revelam a

importância de se considerar as necessidades básicas da população, principalmente a idosa, no planejamento de intervenções direcionadas à promoção da adesão à terapêutica.

(7)

apontar para os efeitos adversos que pioram o quadro clínico ou comprometam o bem-estar do paciente, o esquema terapêutico deverá ser revisto. Se a percepção

não estiver associada a nenhum evento que conigure

comprometimento clínico, deverão ser projetadas intervenções educativas voltadas para a autoavaliação de sinais e sintomas, controle pressórico e glicêmico, bem como estratégias que permitam melhorar a

autoeicácia do paciente no manejo correto da terapia

medicamentosa prescrita.

Quanto à relação entre o número de medicamentos em uso e a pontuação na Escala de Morisky, ações educativas devem incluir estratégias que permitam ao idoso compreender a importância do uso ininterrupto dos fármacos, tanto para a obtenção como para a manutenção do efeito terapêutico desejado, uma vez que eles estavam usando um número maior de medicamentos e relataram maior descuido ao tomá-los e parar seu uso ao se sentirem melhor.

A distinção entre a proporção de adesão/Escala

de Morisky e as variáveis sociodemográicas e clínicas

deve ser enfatizada. Embora a relação entre a Escala de Morisky e a proporção de adesão tenha sido estabelecida

e mesmo que consista em um achado signiicativo, as duas medidas não quantiicam o mesmo construto.

O comportamento de adesão é um processo dinâmico, difícil de ser mensurado e para o qual não há nenhuma medida-padrão ou padrão-ouro. Na prática

clínica, a Escala de Morisky tem demonstrado ser eicaz para a identiicação de algumas razões para a não

adesão e, comumente, tem sido associada a outcomes

ou end-points(18).

Os estudos relacionados à adesão concentram-se principalmente na redução de sintomas e na avaliação dos instrumentos de medida. Contudo, não são examinadas as relações entre a adesão medicamentosa e as avaliações globais de bem-estar, o que permitiria compreender e nortear mais adequadamente o tratamento(19). O presente estudo traz contribuição

signiicativa a esse aspecto, ao mensurar a qualidade

de vida relacionada à função visual e testá-la como

variável inluenciadora da adesão medicamentosa.

Na avaliação do NEI VFQ-25 foram observados escores relativamente elevados em todos os domínios

do instrumento. Entretanto, veriicou-se que a

percepção de pior qualidade de vida relacionada com a visão foi associada à chance de 3,34 vezes de não

adesão. É interessante notar que a acuidade visual não foi associada à adesão, o que torna possível inferir que não é a queda da acuidade visual que compromete a adesão, mas a percepção de quanto essa queda interfere negativamente na qualidade de vida.

Considerando que os estudos acerca da relação entre qualidade de vida e adesão medicamentosa ainda são escassos na literatura, recomendam-se futuras investigações que apliquem simultaneamente uma medida genérica de QVRS e que analisem a

inluência de outros fatores possivelmente associados

à adesão.

Limitações do estudo

Uma das limitações da adesão autorrelatada é o efeito da desejabilidade social que pode ser mais acentuada na população idosa pela responsabilidade que a sociedade impõe aos idosos de cuidarem de si(20). Por

essa razão, a ocorrência de superestimação no relato do comportamento desejado é possível e foi demonstrada em estudo semelhante(21). No entanto, a associação das

medidas utilizadas no presente estudo permitiu detectar, com maior sensibilidade, o problema da não adesão dos

idosos entrevistados, ratiicando a relevância do tema

para essa população.

A segunda limitação diz respeito ao nível de

coniabilidade da Escala do Morisky, que tende a oscilar com grande variabilidade nas diferentes populações estudadas, principalmente quando empregado sob forma de escalas dicotômicas (do tipo sim/não), com

registros de coeicientes (alfa de Cronbach) entre

0,18 e 0,61(22). No presente estudo, o coeiciente alfa

de Cronbach foi de 0,41, indicando coniabilidade

menor do que o desejável. Mesmo assim, deve-se considerar que a amostra apresentou baixos níveis de escolaridade e a consistência interna da escala pode ser prejudicada pelo fato de ser composta por apenas

quatro itens. Apesar da baixa coniabilidade, a Escala

de Morisky ainda é usada em todo o mundo devido à sua acessibilidade e à falta de instrumentos válidos

e coniáveis para avaliar a adesão e os fatores a ela

relacionados(23).

Conclusão

(8)

de um número maior de medicamentos mostrou-se relacionada a fatores de risco individuais para a não adesão. Um dos fatores determinantes para a menor proporção de adesão foi a interrupção do medicamento quando o paciente se sente pior ao usá-lo. A percepção do idoso do quanto a queda da acuidade visual interfere negativamente na sua QVRS demonstrou comprometer a adesão. Esses resultados fornecem evidência para os enfermeiros da necessidade de desenvolver e avaliar novas estratégias para reduzir o risco de não adesão entre os idosos com RD.

Referências

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