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A apropriação do poder hegemônico da ciência em revistas de divulgação científica: estratégias sociodiscursivas

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Academic year: 2021

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(1)1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM. PAULO SÉRGIO DA SILVA SANTOS. A APROPRIAÇÃO DO PODER HEGEMÔNICO DA CIÊNCIA EM REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: estratégias sociodiscursivas. NATAL/RN 2017.

(2) 2. PAULO SÉRGIO DA SILVA SANTOS. A APROPRIAÇÃO DO PODER HEGEMÔNICO DA CIÊNCIA EM REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: estratégias sociodiscursivas. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Letras, área de Concentração: Linguística Aplicada.. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cleide Emília Faye Pedrosa. NATAL/RN 2017.

(3) 3. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA. Santos, Paulo Sérgio da Silva. A apropriação do poder hegemônico da ciência em revistas de divulgação científica: estratégias sociodiscursivas / Paulo Sérgio da Silva Santos. - 2017. 171f.: il. Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cleide Emília Faye Pedrosa. 1. Análise crítica do discurso. 2. Discurso da Divulgação Científica. 3. Construção Simbólica. 4. Sociedade e Discurso da Ciência. I. Pedrosa, Cleide Emília Faye. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 81'42.

(4) 4. A APROPRIAÇÃO DO PODER HEGEMÔNICO DA CIÊNCIA EM REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: estratégias sociodiscursivas. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Letras, área de Concentração: Linguística Aplicada. Aprovada em 20 de março de 2017. ___________________________________________________________ Profa. Dra. Cleide Emília Faye Pedrosa (UFRN) (Orientadora) _____________________________________________________________ Prof. Dr. Adriano Charles da Silva Cruz (UFRN) (Examinador Interno) _____________________________________________________________ Profa. Dra. Marília Varella Bezerra de Faria (UFRN) (Examinadora interna) _____________________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Nascimento Abreu (UFS) (Examinador externo) _____________________________________________________________ Profa. Dra. Taysa Mércia dos Santos Souza Damaceno (UFS) (Examinadora externa) _____________________________________________________________ Prof. Dr. Josenildo Soares Bezerra (UFRN) (Suplente interno) _____________________________________________________________ Prof. Dr. João Batista da Costa Júnior (IFC) (Suplente Externo).

(5) 5. Dedico esta tese a todos os cidadãos brasileiros que passam por um momento de escuridão, mas que ainda sabem que a construção da democracia é a base para a conservação da dignidade humana. Esperamos que a tomada de consciência dos interesses camuflados pelos discursos que sustentam o mercado de informações permitam que não sejamos mais governados pela manipulação e pelo medo e que o conhecimento verdadeiro contribua para a construção de um país no qual a educação e o direito à informação não sejam utilizados como meios vis para finalidades desumanas..

(6) 6. AGRADECIMENTOS. À minha mãe, Maria, pelo exemplo de luta, determinação e generosidade. A Daisy Dias, pelo amor, pela compreensão, paciência e pelo apoio incondicional. Obrigado por estar sempre ao meu lado apoiando-me em tudo. Aos meus irmãos: Edvaldo (em memória), José Carlos, Éverton, Ednalva, Fátima, Edna e Eliane, em nome dos quais agradeço a toda a minha família. Este trabalho é tão meu quanto de todos vocês. À minha sobrinha Daniela, por estar sempre perto e apoiar meus projetos. Em nome dela, agradeço a todos os meus sobrinhos. À minha orientadora, Prof.ª Dra. Cleide Pedrosa, com quem aprendi tudo sobre os estudos da linguagem, mas, principalmente, de quem herdo os melhores exemplos de compromisso, ética e dedicação no trabalho acadêmico e na vida. À Profª Dra. Taysa Mércia dos Santos Souza Damaceno, pelo apoio generoso. Pela parceria importante que surgiu nesse processo, não só pelas trocas acadêmicas, mas principalmente, por me reconfortar nos momentos de dificuldade e apontar sempre o melhor caminho a seguir. Ao Prof. Dr. Ricardo Nascimento Abreu, pela contribuição acadêmica, pela presença nos momentos de necessidade e pelos conselhos que me orientaram em momentos cruciais. A João Paulo Cunha, pela amizade sincera, pelos debates e pelas discussões acadêmicas e não-acadêmicas nas estradas entre Aracaju e Natal. A Leticia Gambetta, pela parceria e pelo companheirismo. Pelos momentos em que pudemos compartilhar os anseios, as preocupações e esperanças do trajeto. A Guianezza e João Batista,pela sempre presente disposição em ajudar. A Daniele, pelo apoio incondicional na UFRN e em Natal. A Maiane, pelo incentivo sempre presente. A todos os colegas que ASCD e que passaram, de alguma forma, pela construção dessa tese. A amizade de vocês fez muita diferença nessa caminhada. A Grace Millet, pelas contribuições, pelo apoio e pela disponibilidade para ajudar sempre que foi preciso. À Pio Décimo, minha casa. Que seu crescimento represente o desenvolvimento do ensino Superior no Estado de Sergipe. Agradeço à Prof.ªLenalda Dias dos Santos, Diretora Acadêmica da Faculdade Pio Décimo, pelo entendimento da importância desse empreendimento e pela compreensão dos sacrifícios que o momento exigiu..

(7) 7. Ao Prof. Francisco Diemerson, pela amizade, pelo carinho e pela disponibilidade para ajudar, determinantes para amenizar os percalços do caminho. À Prof.ª Me. Luciana Novais, pela parceria profissional. Agradeço pela compreensão das dificuldades dessa caminhada. Através de Luciana, estendo meus agradecimentos a todos os colegas do corpo docente da Faculdade Pio Décimo. À Secretaria Municipal de Educação, pelo apoio necessário aos estudos do doutoramento. Aos meus colegas da COPP: Débora, Patrícia, Railssa, Sandra e Sueli. Agradeço, principalmente, a Evilson Nunes, cuja atitude compreensiva e apoio irrestrito viabilizaram o sucesso desses estudos. À Academia de Letras de Aracaju, confrades e confreiras que, de alguma forma e de maneiras variadas, fizeram parte da minha trajetória no último ano. Tenho orgulho de fazer parte desse ilustre grupo de artistas e intelectuais. Espero estar por muito tempo ainda. Aos meus amigos Agápito, Robson e Washington, por estarem presentes na minha caminhada para realização desse trabalho, mesmo quando ele entrou em conflito com outros projetos. Espero que a nossa jornada esteja apenas começando. Apenas o cume interessa! Vida longa à MALTE-SE! Ao Dr. Péricles Teixeira, pela palavra amiga e pelo acolhimento em todos os momentos. Ao PPGL/UFS, onde primeiro fui acolhido na academia e onde desenvolvi o gosto pelo estudo da linguagem. Ao PPGEL/UFRN, pelo acolhimento e empenho na solução dos problemas do dia-adia. À Prof.ª Dra. Lilian Monteiro França (UFS), pela decisiva contribuição dada desde a minha dissertação, e que continua iluminando essa tese. Agradeço por toda a generosidade. Por fim, quero agradecer a você que está lendo este trabalho pelo interesse e pela possibilidade de diálogo. Entendo que carinho, amor, consideração e confiança não se agradecem com palavras, mas sei que é importante externar e agradecer publicamente a cada um de vocês..

(8) 8. Não há necessidade de coerção se se pode persuadir, seduzir, doutrinar ou manipular as pessoas. VAN DIJK, 2008, p. 23.

(9) 9. RESUMO. A presente pesquisa pretende estudar a apropriação do poder hegemônico da ciência pelas redes editoriais de divulgação científica. Para tal, o objetivo geral está pautado em discutir as estratégias sociodiscursivas empregadas pelas redes editoriais da divulgação científica para apropriação do poder hegemônico da ciência, considerando, nessa dinâmica, os modos de construção simbólica através dos quais, estas constituem-se em Sistemas Peritos. Assim, analisaremos uma materialidade discursiva composta a partir de um corpus semiestruturado de 16 exemplares coletados. Os veículos de divulgação científica, ao tomarem a voz da ciência para si, passam a usufruir de controle e prestígio social exercidos pelo próprio discurso científico em detrimento da sociedade classificada como “leiga” na relação com o saber e método científico. Portanto, as redes editoriais que sustentam as revistas de divulgação da ciência têm, tal qual um lócus privilegiado de excelência técnica, regulamentado a vida material dos cidadãos, agindo como um Sistema Perito, como designou Giddens (1991, 2002). Dessa forma, as pessoas estão envolvidas em diversos sistemas que dominam, organizam e, de certa forma, sugerem modos de vida. São sistemas importantíssimos nos quais todos depositam confiança. Assim sendo, o termo ‘ciência’ encapsula metaforicamente esses sistemas socialmente legitimados e as revistas de divulgação da ciência têm buscado usufruir dessa legitimidade, como se dela fosse parte a fim de sobreviver no mercado editorial brasileiro. Por isso, faz-se importante entender como o domínio do discurso científico, tanto quanto o da divulgação científica proporcionam acesso a recursos materiais e instâncias de poder. A pesquisa está fundamentada, principalmente, na Análise Crítica do Discurso, a partir do marco analítico proposto por Fairclough (2001 [2008], 2003), Chouliaraki e Fairlcough (1999), para aprofundamento das questões referentes à intertextualidade e ao hibridismo de gênero das práticas discursivas das redes editoriais da divulgação científica. A Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso, por sua vez, apontará a análise para as questões concernentes à Comunicação para a Mudança Social e aos tipos de poder, a partir de uma retextualização de Bajoit (2006) proposta por Pedrosa (2012, 2013). Buscamos, ainda, revelar os mecanismos de naturalização que contribuem para a construção simbólica através dos modos de operação da ideologia descritos por Thompson (2009). E, por fim, o conceito de confiança desenvolvido por Giddens (1991, 2002), nesse contexto, lançará luz acerca do esvaziamento de tempo e espaço como estratégia de universalização do discurso das revistas de divulgação científica.Metodologicamente, a pesquisa está situada em um paradigma qualitativo, inserido no âmbito das Ciências Humanas e Sociais, com foco na Linguística Aplicada (LA). A LA vem desenvolvendo diálogos com as teorias sociais críticas para a construção de um campo de estudos que extrapola a relação entre teoria e prática e leva em consideração todos os interactantes das situações estudadas. O resultado desenhou o perfil das duas principais publicações de divulgação científica do mercado brasileiro.Ficou demonstrado de forma clara que se trata de verdadeiras arenas discursivas. A dinâmica de funcionamento revelou mecanismos que contribuem para naturalização de um hegemonismo artificial a ser desempenhado por esse tipo de publicação. Essas dinâmicas e padrões revelados pelo corpus da pesquisa indicam a necessidade de uma maior e mais ampla discussão em torno dos veículos de divulgação de informações científicas. Palavras-chave: Análise crítica do Discurso, Discurso da Divulgação Científica, Construção Simbólica, Sociedade e Discurso da Ciência..

(10) 10. RESUMEN. La presente investigación pretende estudiar la apropiación del poder hegemónico de la ciencia por parte de las redes de editoras de difusión científica. Para tal, el objetivo general está pautado en discutir las estrategias socio discursivas empleadas por las redes de editoras de difusión científica para lograr la apropiación del poder hegemónico de la ciencia, considerando, en esa dinámica, los modos de construcción simbólica mediante los cuales, estas se constituyen en sistemas peritos. Así, analizaremos una materialidad discursiva compuesta a partir de un corpus semi estructurado de 16 ejemplares colectados. Los vehículos de difusión científica, al tomar la voz de la ciencia para sí mismos, pasan a usufructuar el control y el prestigio social ejercidos por el propio discurso científico en detrimento de la sociedad clasificada como “amadora” en relación al saber y método científico. Por lo tanto, las redes de editoras que sustentan las revistas de difusión de la ciencia tienen, tal cual un locus privilegiado de excelencia técnica, reglamentando la vida material de los ciudadanos, actuando como un Sistema Perito, como definió Giddens (1991, 2002). De esta forma, las personas están involucradas en diversos sistemas que dominan, organizan y, de cierta forma, sugieren modos de vida. Son sistemas importantísimos en los cuales todos depositan confianza. Siendo así, el término ciencia encapsula metafóricamente esos sistemas socialmente legitimados y las revistas de difusión de la ciencia han buscado usufructuar esa legitimidad, como si fueran parte de ella con tal de sobrevivir en el mercado editorial brasileño. Por eso, se torna importante entender como el dominio del discurso científico, tanto como el de la difusión científica, proporciona acceso a recursos materiales e instancias de poder. La pesquisa está fundamentada principalmente en el Análisis Crítico del Discurso, a partir del marco analítico propuesto por Fairclough (2001 [2008], 2003), Chouliaraki e Fairclough (1999), para profundizar en las cuestiones referentes a intertextualidad e hibridismo de género de las prácticas discursivas de las redes editoriales de la difusión científica. El Abordaje Sociológico y Comunicacional del Discurso, por su vez, apuntará al análisis de cuestiones concernientes a la Comunicación para el Cambio Social y a los tipos de poder, a partir de una “retextualización” de Bajoit (2006) propuesta por Pedrosa (2012, 2013). Buscamos todavía, revelar los mecanismos de naturalización que contribuyen para la construcción simbólica mediante los modos de operación de la ideología descriptos por Thompson (2009). Finalmente, el concepto de confianza desarrollado por Giddens (1991, 2002), en ese contexto, nos iluminará acerca del vaciamiento de tiempo y espacio como estrategia de universalización del discurso de las revistas de difusión científica. Metodológicamente, la pesquisa está ubicada en un paradigma cualitativo, inserido en el ámbito de las Ciencias humanas y Sociales, con foco en la Lingüística Aplicada (LA). La LA viene desarrollando diálogos con las teorías sociales críticas para la construcción de un campo de estudios que extrapola la relación entre teoría y práctica y lleva en consideración todos los que interactúan en las situaciones estudiadas. El resultado dibujó el perfil de las dos principales publicaciones de difusión científica del mercado brasileño. Quedó demostrado de forma clara que se trata de verdaderas arenas discursivas. La dinámica de funcionamiento reveló mecanismos que contribuyen para la naturalización de un hegemonismo artificial para ser llevado a cabo por este tipo de publicación. Estas dinámicas y estándares revelados por el corpus de la pesquisa indican la necesidad de una mayor y más amplia discusión en torno de los vehículos de difusión de informaciones científicas. Palabras clave: Análisis Crítico del Discurso, discurso de difusión científica, construcción simbólica, sociedad y discurso de la ciencia..

(11) 11. ABSTRACT. The present research intends to study the appropriation of science´s hegemonic power by the editorials of scientific divulgation. To that purpose, the general objective is to discuss the socio-discursive strategies employed by the publishing networks of scientific dissemination for the appropriation of the hegemonic power of science, considering in this dynamics the concept of symbolic construction through which it constitutes an expert systems. Thus, we will analyze a discursive materiality composed of a semi structured corpus of 16 collected copies. The dissemination vehicles of science, taking the voice of science to themselves, come to enjoy control and social prestige exercised by scientific discourse to the detriment of society classified as "lay" in relation to scientific knowledge and method. Therefore, the editorial networks that support the magazines of science dissemination have, as a privileged locus of technical excellence, regulated the material life of citizens, acting as an Expert System, according to what Giddens (1991, 2002) has designated. In this way, people are involved in various systems that dominate, organize and, to a certain extent, suggest ways of life. They are very important systems in which everyone places trust. Thus, the term 'science' metaphorically encapsulates these socially legitimized systems and the magazines of science dissemination have sought to enjoy this legitimacy, as if it were part of them, in order to survive in the Brazilian publishing market. Therefore, it is important to understand how the domain of scientific discourse as well as that of scientific dissemination provides access to material resources and instances of power. The research is based mainly on the Critical Discourse Analysis, from the analytical framework proposed by Fairclough (2001 [2008], 2003), Chouliaraki and Fairlcough (1999), to deepen the questions related to intertextuality and gender hybridity from the discursive practices of the editorial networks of scientific dissemination. The Sociological and Communicational Approach of the Discourse, in turn, will point the analysis to the questions concerning the Communication for Social Change and the types of power, from a re-contextualization of Bajoit (2006) proposed by Pedrosa (2012, 2013). We further try to reveal the mechanisms of naturalization that contribute to symbolic construction through the modes of operation of ideology described by Thompson (2009). And finally, the concept of trust developed by Giddens (1991, 2002), in this context, will shed light on the emptying of time and space as a strategy for the universalization of the discourse of scientific journals. Methodologically, the research is situated in a qualitative paradigm, inserted in the scope of Human and Social Sciences, focusing on Applied Linguistics (LA). LA has been developing fruitful dialogues with critical social theories to build a field of study that extrapolates the relationship between theory and practice and takes into account all the interacting situations studied, breaking the logic of established voices. Therefore, the research is framed in a transdisciplinary and critical perspective as it requires the recent practice in the field of Applied Linguistics. LA has been developing dialogues with critical social theories for the construction of a field of studies that extrapolates the relation between theory and practice and takes into account all the interactants of the studied situations. The result drew the profile of the two main scientific dissemination publications in the brazilian market. It has been clearly demonstrated that these are real discursive arenas. The dynamics of functioning revealed mechanisms that contribute to the naturalization of an artificial hegemony to be performed by this type of publication. These dynamics and patterns revealed by the corpus of research indicate the need for a broader and wider discussion about the vehicles for disseminating scientific information. Keywords: Critical Discourse Analysis, Scientific dissemination discourse, Symbolic construction, Society and science discourse..

(12) 12. LISTA DE SIGLAS. ABJC. Associação Brasileira de Jornalismo Científico. ACD. Análise Crítica do Discurso. ADTO. A análise Textualmente Orientada. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ASCD. Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso. BBC. British Broadcasting Corporation. C&T. Ciência e Tecnologia. CBJC. Congresso brasileiro de jornalismo científico. CMS. Comunicação para a Mudança Social. CNPQ. Conselho Nacional de Pesquisas. DC. Divulgação Científica. INCAA. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. LA. Linguística Aplicada. LSF. Linguística Sistêmico-Funcional. MCTI. Ministério da ciência, tecnologia e inovação. OMS. Organização Mundial de Saúde. RBT. Revista Brasileira de Tecnologia. SMS. Sociologia da Mudança Social. TSD. Teoria Social do Discurso.

(13) 13. LISTA DE FIGURAS. 1: Construção da pauta e de consenso através da mídia impressa. 54. 2: Pesquisa empírica como um processo circular. 83.

(14) 14. LISTA DE QUADROS. 1: Audiência Geral.. 45. 2: Modos de operação da ideologia. 75. 3: As quatro dimensões do processo de pesquisa. 81. 4: Objetivos e Problematizações. 97. 5: Recontextualização da LSF na ACD. 99. 6: Questões de pesquisa, Objetivos e categorias de análise. 103. 7: Intertextualidade: Aspectos Discursivos e Textuais. 112. 8: Gênero: Cadeia de gêneros. 116. 9: Confiança: esvaziamento de tempo/espaço e caráter prescritivo dos sistemas peritos. 120. 10: Estratégias de construção simbólica: Reificação e Legitimação. 122. 11: Intertextualidade: Articulação de vozes. 127. 12: Gênero: Mescla de gêneros. 130. 13: Confiança: Quase-interação mediada. 134. 14: Estratégias de Construção Simbólica: Legitimação, Universalização e Narrativização..139 15: Intertextualidade: Dialogicidade e representação dos atores. 144. 16: Gênero: alternância dialógica. 147. 17: Confiança: Espiral do Silêncio e Agenda Setting. 151. 18: Estratégias de Construção simbólica: Discurso e operacionalização ideológica. 154.

(15) 15. SUMÁRIO. INTRODUÇÃO. 17. CAPÍTULO 1 - CIÊNCIA E PODER: controle social através do discurso hegemônico. 22. 1.1 Apropriação do Prestígio Social da Ciência. 22. 1.2 Discurso Científico e Poder na Sociedade. 24. 1.2.1 A ciência como medida da razão: prestígio social e manipulação discursiva. 26. 1.2.2 A ciência e a regulamentação da vida material. 29. 1.2.3 A ciência e o senso comum. 34. 1.3 Divulgação da Ciência: jornalismo científico e construção simbólica. 36. 1.3.1 Ciência, mídia e jornalismo científico. 41. 1.3.2 As revistas de divulgação científica no Brasil. 43. 1.3.3 Ciência e mídia impressa: as hipóteses da Agenda Setting e da Espiral do silêncio. 48. 1.3.4 O estado da arte do campo de estudos de DC no Brasil. 55. CAPÍTULO 2 - O MARCO POLÍTICO DOS ESTUDOS DA ACD NO BRASIL. 58. 2.1 Análise Crítica de Discurso e o Marco Teórico-Metodológico. 58. 2.2 Análise Crítica do Discurso: princípios e perspectivas dos estudos críticos do discurso 59 2.2.1 Discurso e práticas sociais na perspectiva da ACD......................................................61 2.3 A ASCD: pressupostos para a análise de textos de comunicação social. 63. 2.3.1 A divulgação da ciência no quadro analítico da comunicação para a mudança social 66 2.3.2 O estudo do poder: dominação e legitimação através de discursos institucionais........70 2.3.3 Presunções ideológicas no texto da DC: tratamento dos modos de operação da ideologia. 73. CAPÍTULO 3 - CAMINHOS METODOLÓGICOS: a pesquisa em linguística aplicada..................................................................................................................................78 3.1 Perfil Metodológico no Paradigma da Transdisciplinaridade. 78. 3.2 A Pesquisa Qualitativa em LA.........................................................................................80 3.3 Análise Crítica do Discurso..............................................................................................82 3.3.1 Análise Crítica do Discurso: a Análise Textualmente Orientada (ADTO). 84. 3.3.2 A metodologia em ACD. 84.

(16) 16. 3.4 Comunicação e Mudança Social: passos para um desvelamento ideológico...................90 3.5 O Corpus e os Objetivos da Pesquisa...............................................................................91 3.6 As Categorias de Análise. 97. 3.6.1 LSF e ACD: categorias analíticas. 98. CAPÍTULO 4 - SISTEMAS PERITOS E SOCIEDADE: a arena discursiva entre a produção, a divulgação e o controle das informações científicas. 105. 4.1 Ciência e Sociedade: excelência presumida e controle social. 105. 4.2 Doenças: da expectativa sensacionalista à realidade científica. 107. 4.2.1 Intertextualidade. 109. 4.2.2 Gênero. 113. 4.2.3 Confiança. 116. 4.2.4 Estratégias de construção simbólica. 120. 4.3 Drogas: o discurso do tabu à serviço do mercado. 123. 4.3.1 Intertextualidade. 125. 4.3.2 Gênero. 128. 4.3.3 Confiança. 131. 4.3.4 Estratégias de construção simbólica. 135. 4.4 Comportamento: a busca da felicidade, da satisfação e do consumo através da ciência 140 4.4.1 Intertextualidade. 142. 4.4.2 Gênero. 145. 4.4.3 Confiança. 148. 4.4.4 Estratégias de construção simbólica. 152. 4.5 Algumas Considerações Preliminares. 155. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 158. REFERÊNCIAS. 165.

(17) 17. INTRODUÇÃO A presente pesquisa não nasce aqui; na verdade, tem origem em meados de 2008, em uma monografia de especialização desenvolvida na Universidade Federal de Sergipe (SANTOS, 2012). Já vivíamos nesse momento o auge da popularidade das revistas de divulgação ou popularização da ciência no Brasil. Esses veículos de comunicação alcançavam cerca de 3 milhões de leitores mensalmente, se somássemos as três mais vendidas no mercado editorial brasileiro. Esse alcance precisava ser estudado a partir da ótica das teorias discursivas, principalmente levando-se em consideração que a propalada “alfabetização científica” prometida por essas revistas trazia em seu bojo um punhado de problemas dignos de análise. Dessa forma, a pesquisa pretende discutir as estratégias sociodiscursivas de apropriação do poder hegemônico da ciência nos textos de divulgação científica nas revistas Superinteressante e Galileu. As duas revistas citadas são as de maior tiragem no mercado nacional e juntas possuem mais da metade do mercado editorial do ramo no Brasil1. As mídias têm aprofundado a cada dia sua influência na constituição das pautas que estão em relevo no plano nacional. Não em detrimento do crescimento e recente boom das chamadas mídias sociais, os veículos tradicionais, como a televisão e as mídias impressas, têm mantido um nível importante de penetração em todas as camadas da população. Esse crescimento não se dá à toa, pelo contrário, há nele um elemento revelador dos costumes e das necessidades do tempo atual. É notório que hoje há um crescimento pela busca de informações “especializadas”, prontas e fáceis de entendimento. As revistas de divulgação científica têm crescido muito nesse espaço, aprofundando essas necessidades e criando produtos que oferecem informação rápida e de fácil acesso às pessoas que não possuem tempo ou disposição para pesquisas mais aprofundadas. A ciência sempre foi apresentada como o campo que não se abre para todos, mas apenas para alguns iniciados, que entendem sua linguagem hermética e seus procedimentos complicados e altamente padronizados. Contudo, entendemos que é preciso desmistificar essa imagem da ciência e dos métodos científicos e lançar luz à forma como as informações científicas têm sido veiculadas ao grande público. Por esses motivos, o corpus da pesquisa é composto por matérias de duas das maiores revistas em circulação no país. 1. Estudos Marplan - Consolidado 2014 - 13 Mercados. 2 IVC Set/16. 3 ComScore - para audiência geral considera “Multi-platform” Set/16, acessado a partir de<http://publiabril.abril.com.br/marcas/superinteressante>, em 12/11/2016, às 16h24. E em: <http://www.revistas.com.br/revistas-cientificas.html>, acessado em 12/11/2016, às 17h..

(18) 18. Diante desse conjunto de publicações e das inúmeras possibilidades de trabalho2, o corpus está constituído por um conjunto de seis matérias de capa lançadas entre os anos de 2013 e 2016. Os referidos textos apontam para as seguintes temáticas: Doenças: da expectativa sensacionalista à realidade científica; Drogas: o discurso do tabu a serviço do mercado; e, por fim, Comportamento: a busca da felicidade, da satisfação e do consumo através da ciência. Do nosso ponto de vista, esses veículos, ao tomarem a voz da ciência para si, passam a usufruir de um controle e prestígio social exercido pelo próprio discurso científico em detrimento da sociedade classificada como “leiga” na relação com o saber científico. Portanto, as redes editoriais de divulgação da ciência tem, tal qual um lócus de excelência técnica, regulamentado a vida material dos cidadãos, agindo como um Sistema Perito, como designou Giddens (1991). Segundo o autor, “os sistemas peritos como sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje” (1991, pp. 37-38). Estamos envolvidos em diversos sistemas que dominam, organizam e, de certa forma, dizem como devemos realizar nossas tarefas. São sistemas importantíssimos nos quais as pessoas depositam confiança baseadas na experiência e na tradição. Não estamos falando apenas em termos de consulta a especialistas, mas uma engrenagem que, entre outros, engloba o próprio especialista e interfere diretamente nas decisões mais corriqueiras de todos os cidadãos. Exemplo disso é que ninguém hesita em entrar em uma casa ou um prédio qualquer, justamente porque confia na expertise de quem o construiu. Assim, mesmo desconhecendo por completo as técnicas e os cálculos envolvidos, as pessoas confiam baseadas na experiência e na confiança nos sistemas peritos. A confiança é em parte nos especialistas, mas, principalmente, no sistema que, via de regra, não pode ser conferido por quem assim o queira, restando, nesse caso, uma relação de fé no sistema em questão. A ciência é um discurso socialmente cristalizado e as revistas de divulgação da ciência buscam usufruir desse prestígio para prosperar na disputa mercadológica. Por isso, pretendemos demonstrar como o domínio do discurso científico, tanto quanto o da divulgação científica proporciona acesso a recursos materiais e instâncias de poder. A pesquisa está fundamentada principalmente na Análise Crítica do Discurso, a partir do marco analítico. 2. Os critérios para composição do corpus da pesquisa estão amplamente expostos no tópico 3.4 do capítulo 3..

(19) 19. proposto por Fairclough (2001 [2008], 2003, 2006, 2009), Chouliaraki e Fairlcough (1999), para aprofundamento das questões referentes à intertextualidade e hibridismo de gênero das práticas discursivas das redes editoriais da divulgação científica. A Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso, por sua vez, apontará a análise para as questões concernentes à Comunicação para a Mudança Social e aos tipos de poder, a partir das proposições de Pedrosa (2012b). Assim, é preciso estabelecer um entendimento dos mecanismos de naturalização que contribuem para a construção simbólica através dos modos de operação da ideologia descritos por Thompson (2009). E, por fim, o conceito de confiança desenvolvido por Giddens (1991, 2002), nesse contexto, lançará luz acerca do esvaziamento de tempo e espaço como estratégia de universalização do discurso das revistas de divulgação científica. Metodologicamente, a pesquisa está situada em um paradigma qualitativo, inserido no âmbito das Ciências Humanas e Sociais, com foco na Linguística Aplicada (LA). A LA vem desenvolvendo diálogos frutíferos com as teorias sociais críticas para a construção de um campo de estudos que extrapola a relação entre teoria e prática e leva em consideração todos os interactantes das situações estudadas, quebrando a lógica das vozes estabelecidas. Logo, a pesquisa está enquadrada em uma perspectiva transdisciplinar e crítica como requer a recente prática no campo da Linguística Aplicada. Pretendemos que a discussão proposta demonstre que o domínio do discurso científico, tanto quanto o da divulgação da ciência, proporcione acesso a recursos materiais e instâncias de poder. É preciso que esse discurso e seu modus operandi sejam desmistificados. A partir desse corpus, buscaremos as respostas para as seguintes questões: 1. Quais os mecanismos utilizados pelo discurso de Divulgação Científica (DC) para a (re)textualizaçãodo texto científico? 2. Quais os tipos de recursos discursivos utilizados na produção do texto da DC que permitem a incorporação das práticas discursivas de outras ordens de discurso no seu próprio discurso? 3. As redes editoriais que sustentam a DC e seus discursos estabelecem relação como funcionamento dos sistemas peritos, agenda setting e espiral do silêncio? Pensamos que a busca das respostas de tais questionamentos deverá servir como fio condutor que nos guiará no sentido de dar o melhor tratamento aos dados gerados a partir do nosso objeto de pesquisa. Além dessas questões, estabelecemos nosso objetivo geral como:  Discutir as estratégias sociodiscursivas de apropriação do poder hegemônico da ciência nas revistas de divulgação científica, Galileu e SuperInteressante..

(20) 20. As questões de pesquisa e o objetivo geral darão o norte da nossa pesquisa e orientarão, de maneira geral, a discussão que será encaminhada no cumprimento de tais objetivos específicos: a) Demonstrar como o texto da DC reconfigura outros textos, incluindo, excluindo e estruturando vozes em relação à sua própria. b) Investigar. quais. estratégias. discursivas. são. utilizadas. no. processo. de. construção/reconstrução/relato da informação científica. c) Examinar quais discursos são articulados e como são articulados no texto da DC e de que forma são relacionados (misturados) ao discurso científico. d) Analisar os discursos da DC a partir da recontextualização de diversos gêneros e práticas discursivas e) Verificar os mecanismos de naturalização dos discursos que contribuem para construção da hegemonia do discurso científico através do sistema perito e de sua agenda setting na Divulgação Científica. A partir dessas questões de pesquisa, dos objetivos específicos e do objetivo geral estabelecido como parâmetro, a pesquisa está organizada da seguinte forma: no primeiro capítulo, apresentaremos os fundamentos do poder social desempenhado pelo discurso científico; introduziremos uma discussão acerca do estatuto do campo científico e seu lugar na sociedade contemporânea, tendo como referência os estudos de Latour (2010), Feyerabend (2011a, 2011b) e Bourdieu (2014, 2015). Não temos intenção de desenvolver um estudo de cunho historicista, mas entender quais as conjunturas sociais que elevaram os procedimentos científicos ao seu nível de confiabilidade social que usufrui hoje em dia. E, por fim, como estabeleceu-se, dessa forma, um contraponto ao chamado “senso comum”. Por sua vez, no segundo capítulo, introduziremos o que chamamos de marco político dos estudos em ACD no Brasil. Nesse sentido, apontaremos quais as questões nodais dos estudos em Análise Crítica do Discurso e em qual tradição esses estudos estão ancorados no contexto brasileiro. Apontaremos nesse capítulo a necessidade de desenvolver um estudo sob a perspectiva transdisciplinar e crítica, segundo as orientações de Fairclough (2003, 2008) e Chouliaraki & Fairclough (1999), em que os objetos de pesquisa precisam estar em relação com práticas discursivas localizadas e dialogando com os problemas sociais mais agudos da nossa sociedade. Nesse capítulo, ainda apresentaremos a perspectiva de trabalho com o campo da Comunicação para a Mudança Social, a partir do estudo dos tipos de poder propostos por.

(21) 21. Bajoit (2006) e recontextualizados na Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso por Pedrosa (2012a). E, por fim, daremos seguimento à apresentação do tratamento das presunções ideológicas presentes nos textos de DC, a partir das propostas de Thompson (2009). No terceiro capítulo, demonstraremos a metodologia utilizada e seu lastro dentro do campo mais amplo em que se enquadra a pesquisa, a Linguística Aplicada, a partir das referências de Moita Lopes (2006) e Bauer e Gaskell (2002), bem como esse método se desenvolve no seio da ACD. Em seguida, delinearemos de forma mais detalhada o corpus de análise e o fundamento dos caminhos das análises. Ainda é nesse capítulo que apresentaremos as categorias linguístico-discursivas, e, por fim, esquematizaremos os caminhos a seguir para contemplar a análise textualmente orientada como método situado dentro do marco analítico da ACD. No quarto capítulo, discutiremos os textos que compõem o corpus a partir das categorias e das premissas apontadas nos capítulos anteriores. Faz-se necessário que discutamos um modelo de mídia de informações que se assenta em informações científicas, mas que não comunga princípios e procedimentos com essa. Abordaremos os textos de acordo com a organização demonstrada a fim de desvelar os mecanismos linguísticos e as práticas discursivas dessa arena discursiva que atende a tantas pessoas nos dias de hoje. De forma que, a partir do esquema acima traçado, tentaremos expor a relação entre ciência, sua divulgação em revistas e a sociedade. Essa relação aliada ao crescente interesse do público por temas científicos, definitivamente, precisam de estudos que a cada dia explorem nuances de um tema relevante socialmente. E que esses estudos tenham, em algum momento, o condão de alertar a sociedade para a necessidade de uma reflexão..

(22) 22. CAPÍTULO 1 CIÊNCIA E PODER: controle social através do discurso hegemônico. 1.1 Apropriação do Prestígio Social da Ciência. Nesse capítulo, temos o intuito de apresentar uma visão não tradicionalista acerca do ‘fazer científico’ para que seja possível entendermos qual a profundidade da questão que envolve a mídia de divulgação científica através de revistas no Brasil. Precisamos, para tal, nos despirmos de todas as convicções construídas a duras penas durante anos de práticas que sustentam nossas atividades laborais e intelectuais. É preciso sair da ‘cultura’ científica para refleti-la criticamente. Contudo, não vamos fazer um retrospecto histórico, pois tal empreendimento mudaria o foco da presente pesquisa. Pretendemos estabelecer uma discussão que tem como cerne o estabelecimento da ciência como uma tradição que está socialmente acima de todas as outras tradições em contraponto ao que chamamos de “senso comum”. É preciso passar em revista o argumento de que a ciência desfruta de tal privilégio porque possui um método estruturado através de práticas observáveis que possibilitam a verificação de suas proposições. Temos exemplos na historiografia científica que asseguram que tal argumento não se sustenta a uma breve análise dos métodos e das práticas científicas. Sobre esse aspecto, Kuhn (2013) afirma que uma passada em revista da historiografia da ciência mudaria certamente a imagem que a ciência desfruta na sociedade moderna. A afirmação de Kuhn tem reverberado, inclusive, entre os cientistas. É crescente no campo da filosofia da ciência, Feyerabend (2011a, 2011b), Bourdieu (2004, 2015), Latour (2000), Medawar (2008), Kuhn (2013), o entendimento de que os métodos e livros científicos têm a forte tendência de apenas repetir aquilo que os clássicos e os manuais apontam desde a mais remota tradição. E que, as grandes mudanças, são provenientes, justamente quando os ‘dogmas científicos’ são colocados em xeque. Contudo, isso não acontece com frequência graças às formas de reprodução do conhecimento que estão assentadas em uma forte tradição de uma filosofia pragmática por parte dos novos cientistas3. Essa pragmática ligada às ações dos cientistas é reveladora de uma força conservadora muito forte que é inerente à prática científica. Dessa forma, é tarefa difícil discutir o método científico dentro da própria ciência, já que isso geraria desconforto a quem já possui sua 3. Para aprofundar a discussão acerca do que é filosofia pragmática ver a obra: Contra o método de Paul K. Feyerabend (2011)..

(23) 23. história desenvolvida, sua fala de autoridade reconhecida e seu lugar estabelecido socialmente. Algumas indagações nos inquietam e corroboram para formar nossas hipóteses. Há uma “ciência” ou existem “ciências”, afinal, a ciência é una ou múltipla? O que forma sua matéria é a homogeneidade de ideias e de métodos ou a sua forma fragmentária? Buscando determinar a essência da ciência, Kuhn (2013) ensina que a ciência é a reunião de fatos, teorias e métodos de um determinado momento histórico. Além disso, fazem parte da realidade científica, obviamente, os cientistas que, reconhecidos ou não, contribuíram para que esse arcabouço fosse materializado. Temos uma realidade que demonstra haver metodologias científicas para comprovar todo tipo de tese. Desde as pesquisas em que as maiores empresas produtoras de grãos garantem que seus grãos transgênicos não fazem mal à saúde, contrariando vasta bibliografia que afirma o contrário4, até descobertas que revelam metodologias que não provam nada além do que já se sabia no senso comum. Exemplo disso é que a empresa de comunicação inglesa BBC divulga anualmente os vencedores de um “prêmio” chamado de IG Nobel, que ganham as pesquisas que não agregam qualquer conhecimento. Ganharam esse prêmio em 2013, pela área de psicologia, por exemplo, Laurente Bèque, Oulmann Zerhouni, Baptiste Subra e Medhi Ourabah, da França, e Brad Bushman, da Universidade do Estado de Ohio (EUA), pela pesquisa que “demonstrou” que aqueles que pensam estar bêbados também se sentem mais atraentes. Outro exemplo que pode ser observado através da plataforma on-line da BBC é o dos vencedores Marie Dacke, Emily Baird, Barcus Byrne, Clarke Scholtz e Eric Warrant, que trabalham na Suécia, Austrália, África do Sul, Reino Unido e Alemanha, que ganharam por ter demonstrado que besouros ‘vira-bosta’ podem usar a Via Láctea para se guiar quando se perdem de casa. De forma que o que queremos demonstrar com esses exemplos é que a metodologia científica “per si” não é capaz de assegurar o poder hegemônico exercido pela ciência. É preciso que adentremos a questões sociais, econômicas e discursivas para entender o exercício desse poder e como ele seduz os cidadãos comuns.. 4. Fonte: TRANSGÊNICOS: feche a boca e abra os olhos. Cartilha produzida pelo Idec, no âmbito do projeto “Consumer Organizations and the Cartagena Protocol on Biosafety: Protecting the Consumer’s Right to a Healthy Environment in the Developing World”, coordenado pela Consumers International, com o apoio da Comunidade Europeia. Parceiros: FNECDC e Por um Brasil Livre de Transgênicos..

(24) 24. 1.2 Discurso Científico e Poder na Sociedade. Então, temos como evidente o entendimento de que a ciência é múltipla e que é fruto de uma acumulação histórica de acertos e erros e de todo tipo de métodos e ideias que tenham vingado ou não. Para Kuhn (2013), cabe à historiografia da ciência explicar os amontoados de erros, mitos e superstições, tanto quanto as teorias e metodologias aceitas e sacramentadas. O que garante a aceitação intra-pares de uma metodologia ou teoria científicas não está intrinsecamente ligada ao fato de que esta seja verificável ou comprovável, mas diz respeito ao fato de que contextos culturais provocaram tal aceitação. É cada vez mais difícil estabelecer o critério daquilo que é aceitável como avanço científico daquilo que é tido como equívoco, já que as ideias atualmente em voga nas ciências não são senão reflexos daquilo que já foi tomado como erro no passado.. Quanto mais cuidadosamente estudam, digamos, a dinâmica aristotélica, a química flogística ou a termodinâmica calórica, tanto mais certos tornam-se de que, como um todo, as concepções de natureza outrora correntes não eram nem menos científicas, nem menos o produto da idiossincrasia do que as atualmente em voga. Se essas crenças obsoletas devem ser chamadas de mitos, então os mitos podem ser produzidos pelos mesmos tipos de métodos e mantidos pelas mesmas razões que hoje conduzem ao conhecimento científico. Se, por outro lado, elas devem ser chamadas de ciências, então a ciência inclui conjuntos de crenças totalmente incompatíveis com as que hoje mantemos. Dadas essas alternativas, o historiador deve escolher a última. Teorias obsoletas não são em princípio acientíficas simplesmente porque foram descartadas (KUHN, 2013,p. 61).. O fato crucial acerca do excerto de Kuhn é que a construção da ciência não deve ser entendida como uma sucessão contínua de acréscimos de fatos válidos com descarte do que não deu certo. As mesmas convicções que nos levam a festejar os avanços põem na berlinda aquilo a que chamamos de avanços e descobertas e demonstram não como um processo cumulativo, mas como uma sucessão de fatos condicionados por contingências culturais e sociais. Assim, temos em evidência um caminho para responder à nossa primeira questão: a) qual o estatuto da ciência? Como ficou demonstrado, não temos uma única forma procedimental para designar a ciência, não há um método único que valide a prática científica. Temos grupos que se utilizam de métodos variados para legitimar resultados de toda ordem. Contudo, isso não quer dizer que esses grupos não precisem prestar contas a ninguém. Na atualidade, as instituições e o Estado, mais do que a verificação dos pares, legitimam o ‘conhecimento científico’. A ciência é um conjunto de teorias, modelos e métodos construídos ao longo do tempo e que são legitimados por instituições públicas e.

(25) 25. privadas. Segundo Feyerabend (2011), a ciência não é uma única tradição, mas muitas que dão origem a padrões, parcialmente incompatíveis. Essa afirmação está em consonância com o que afirma Latour (2000), para quem “você pode ter escrito um artigo definitivo provando que a terra é oca e que a lua é feita de queijo fresco, mas esse artigo não será definitivo se outras pessoas não o tomarem e usarem como fato, mais tarde”. Para Latour, os desenvolvimentos científicos na atualidade devem responder a uma necessidade real, da vida social sob pena de caírem no esquecimento. Essa realidade provoca um nível de pragmatismo que não é benéfico para a prática científica, pois a subjuga às necessidades mais mesquinhas do cotidiano da vida moderna. Por sua vez, Bourdieu (2015) desenvolveu estudos acerca do estabelecimento do empreendimento científico em que o enquadra dentro de uma teoria dos campos. Assim, o campo científico não funciona diferente de outros vários campos, como a arte, por exemplo. Ele é um campo organizado a partir de estruturas e de conflitos que se contrapõem pela manutenção ou transformação do próprio campo. Assim, através das ações desses diferentes agentes que esse campo se estabelece e as relações de poder frutos dessas relações agem para formar o que o autor chamou de capital científico como um tipo de capital simbólico que age, principalmente, pela comunicação. Há também nessa conjuntura, as instituições que fomentam financeiramente a produção científica, empoderando ainda mais as práticas descritas como científicas e interferindo nas práticas internas do campo, entre os agentes deste. Segundo Bourdieu (2015, p.53), o capital científico “é uma espécie particular de capital simbólico, capital fundado no conhecimento e no reconhecimento. Poder que funciona com crédito, pressupõe a confiança ou a crença dos que o suportam porque estão dispostos a atribuir crédito”. Esse capital é inerente ao valor social que recebe o campo científico e os discursos que buscam guarida nesse campo. A crença e a confiança são fatores fundamentais de que goza a prática científica e que serve como controle social. Desenvolvemos melhor a que se referem esses conceitos nos termos do que ensina Giddens (1991), como fatores que compõem o que denominamos de Sistemas Peritos. A confiança é definida, nesses termos, como a crença na credibilidade de um sistema, tendo como fundamento dessa credibilidade a fé na experiência desse sistema e na falta de saber do conhecimento técnico apresentado por esse sistema. A superespecialização científica é um outro elemento importante no entendimento de como o campo científico estabelece-se como lugar de especialização técnica que regula a vida social. A linguagem técnica garante maior autonomia e menor possibilidade de controle.

(26) 26. externo ao campo científico, além de criar uma espécie de imagem desinteressada da ciência. Assim, ela precisa ser buscada para que explique aquilo que o conhecimento ordinário não consegue alcançar. Para Bourdieu, é o tipo de “interesse desinteressado” que visa, na verdade, uma compensação em termos de bens simbólicos que é o próprio poder da ciência sobre a sociedade econômica. Sendo assim, a definição do que é conhecimento científico e do que não é passa pela conjuntura dos grupos existentes. Hoje, temos grandes grupos empenhados em produzir conhecimento científico a “bem da sociedade”, mas com os olhos no mercado de consumo. Isso contingencia toda a produção científica na medida em que, segundo Latour (2000), o que passa a interessar à ciência é fruto “daquilo que os grupos estabelecidos estiverem antes ocupados a fazerem”. Assim, não resta evidência de que haja na própria metodologia da ciência valor inerente, per si, mas sim uma combinação de respeito às tradições científicas com um elemento de adequação aos interesses dos grandes grupos que sancionam esse conhecimento. Há métodos científicos para justificar tudo aquilo que seja de interesse dos grupos, desde que não contrarie os estatutos estabelecidos. “A ciência normal com frequência suprime novidades fundamentais, porque estas subvertem necessariamente seus compromissos básicos” (KUHN, 2013, p. 65). Contribui para essa discussão também o que afirma Feyerabend (2011a, p.277), segundo quem, “nas ciências e, em especial, na matemática pura, segue-se, com frequência, uma particular linha de pesquisa não porque seja considerada intrinsecamente perfeita, mas porque se quer ver até onde ela leva”. Essa afirmação evidencia o caráter pragmático das práticas científicas e da forma como suas metodologias frequentemente são desenvolvidas buscando a conciliação com a realidade dos grupos científicos.. 1.2.1 A ciência como medida da razão: prestígio social e manipulação discursiva. Quais são os argumentos que sustentam o fato de que a ciência hoje é entendida como a própria ‘verdade’ e que aquilo que se coloca sob o seu manto pode desfrutar de todo o prestígio social sem que seja questionada por discursos outros de nenhuma ordem? Como vimos no tópico anterior, não se sustenta o argumento de que os métodos científicos garantem neutralidade, excelência, isonomia às produções ditas científicas. Um aspecto importante seria o fato de que a origem da ciência foi esquecida juntamente com todos os seus tropeços do passado. As controvérsias, os contornos sociais e o.

(27) 27. alto nível de especialização da sua linguagem contribuem para seu estatuto de excelência. Contudo, para Feyerabend (2011a, p. 273), “a ciência não é sacrossanta. O mero fato de que existe, é admirada e tem resultados não é suficiente para fazer dela uma medida de excelência”. Para o autor, a ciência surgiu da ideia de que há regras e padrões para guiar a vida social e que a vida sem esses padrões torna-se inviável. Além disso, há a objeção ao senso comum, à ideia de que qualquer um pode produzir conhecimento, e de que a cultura é mero repositório de práticas ligadas à arte, e a arte é oposta à ciência. Há nesse último aspecto uma questão ligada ao exercício de poder nas sociedades modernas. Falar de ciência é, antes de tudo, falar de quem tem mais poder na sociedade moderna. Para Foucault (2010), o poder do discurso científico se estabelece em um movimento que, ao mesmo tempo em que se afirma, desqualifica outro discurso, outra experiência ou um outro saber. Quando falamos a partir do campo científico, gozamos de um poder que, segundo o autor, foi atribuído à ciência pelo ocidente desde a idade média, poder esse reservado apenas aos que se apoderam do discurso científico, tal qual a divulgação científica o faz. A afirmação de Foucault está inserida em sua busca pelo destronamento do discurso científico em face de outros campos de saber. Vai de encontro à hierarquização científica e os efeitos de poder intrínsecos a esse modelo de produção de conhecimento no quadro da arqueologia do saber. Sánches-Mora (2003, p.21) afirma que “o papel de destaque alcançado pela ciência revestiu seus praticantes de uma aura de superioridade, ao mesmo tempo em que ela transformou-se em paradigma das outras formas de vida intelectual”. Para a autora, houve um acirramento de convencionalismos e o próprio treinamento científico tornou-se dogmático. Dessa forma, a “verdade” passou da doutrina religiosa para a doutrina científica. O que os autores apontam é que, em um determinado momento do desenvolvimento científico, houve uma confusão entre aquilo que era a própria ‘razão’ e aquilo que era a ‘racionalidade científica’, e, dessa forma, a prática científica tornou-se a própria prática da razão e resultou na construção de um discurso tão dogmático quanto qualquer outro. O resultado desse processo histórico foi o fato de que a ciência passou a desfrutar do estatuto de racionalidade humana; como se não houvesse possibilidade de se chegar a nenhum conhecimento realmente válido, a não ser através dela. A superespecialização da ciência trouxe problemas para a comunicação, não só entre cientistas e pessoas comuns, mas entre os vários campos científicos, já que, via de regra, as.

(28) 28. palavras possuem significados diferentes nos variados campos científicos. Dessa forma, nem a própria ciência consegue comunicar-se plenamente. Além disso, cresceu a ideia de que vivemos em um mundo em que há uma natureza de infinita riqueza a ser explorada (FEYERABEND, 2011b), como se essa riqueza estivesse infinita em escala quantitativa e qualitativa. Esse sentimento levou ao desejo de que a racionalidade científica criasse formas e métodos para guiar a exploração dessa riqueza levando ao exaurimento desses recursos. Criou-se, portanto, a ideia geral de que apenas a ciência poderia conduzir tal empreitada a contento. A ciência, por sua vez, desenvolve o entendimento de que “a informação concernente ao mundo exterior viaja imperturbada pelos sentidos até a mente” (FEYERABEND, 2011a, p. 298). Dessa forma, surge o padrão de que todo conhecimento deve ser verificado por observação, e as teorias que não preveem observação dos seus fenômenos estudados não são dignas do estatuto científico. Não apenas o campo científico centra força para construir um discurso hegemônico nas sociedades. O campo político, o religioso, o econômico, o da cultura e da contracultura. Esse é um movimento inerente à afirmação dos campos de produção simbólica. Segundo Bourdieu (2004, p. 33),os campos e seus agentes, a exemplo do científico: [...] lutam para impor princípios de visão e de divisão do mundo social, sistemas de classificações, em classes, regiões, nações, etnias etc., e não cessam de tomar por testemunho, de algum modo, o mundo social, de convocá-lo a depor, para pedir-lhe que confirme ou negue seus diagnósticos.. O fato de que vivemos em um mundo dominado pelo discurso da busca da felicidade, do prazer e conforto possibilita entender como a ciência está, de tal forma, entranhada na vida social moderna que não somos mais capazes de perceber como ela regula, orienta e organiza as nossas vidas. Toda a vida social está entrecruzada, de alguma maneira, pela ciência. Para Alves (2015), a construção desse paradigma científico, que pode explicar as coisas do mundo e tornar a vida mais confortável, é proposital. Nesse sentido, ele afirma: “se usam tais imagens é porque sabem que elas são eficientes para desencadear decisões e comportamentos. É o que foi dito antes: cientista tem autoridade, sabe sobre o que está falando e os outros devem ouvi-lo e obedecer-lhe”. Nesse ponto de vista, a ciência usa seu poder, influência para fins que nem sempre são a busca do “verdadeiro conhecimento”. Então, é parte da configuração do campo científico que as pressões internas, obviamente, não circulam apenas pela pesquisa, mas também em torno de jogos de poder e.

(29) 29. busca por benefícios financeiros. Segundo Mosley e Lynch (2011, p.11), “como em outros ramos de atividade, as pressões financeiras desempenharam papel significativo no progresso da ciência, ditando seus rumos”. De forma que o atual poder simbólico, material de que desfruta o campo científico atual, é fruto de uma série de fatores que convergem no sentido do esquecimento das origens e das regras que comandam o fazer científico.. 1.2.2 A ciência e a regulamentação da vida material. Nesse tópico, temos o intuito de discutir o processo pelo qual a ciência organiza a vida material na sociedade atualmente. Essa reflexão nos oferecerá elementos para caracterizar as redes editoriais que promovem a divulgação da ciência em larga escala como Sistemas Peritos, que não produzem por si um conteúdo específico, mas que toma o conteúdo científico e a própria legitimação desse discurso primeiro. Em Santos (2012), propusemos uma discussão que enquadrava as revistas de divulgação científica como sistemas peritos pertencentes ao que Miguel (1999) chamou de meta-sistema perito, que, para ele, seria o próprio jornalismo. Naquele momento, entendíamos que as revistas, e não as redes editoriais (como estamos propondo agora), eram os Sistemas Peritos que regulavam o consumo de informações científicas, controlando, assim, uma parte da vida social. Contudo, agora, entendemos que não são as revistas os sistemas peritos, mas as redes editoriais que sustentam essas revistas que o são. É dentro dessas redes que as informações científicas são trabalhadas a partir de novos objetivos e é aí que ocorre o que chamamos de apropriação do poder hegemônico da ciência. Nesse sentido, contribui o que diz Castells (1999) acerca da construção social da identidade científica: “a construção social da identidade sempre ocorre em um contexto marcado por relações de poder” (1999, p. 24). As redes editoriais fortalecem socialmente uma imagem que as pessoas têm da ciência e do cientista, buscando distanciar ainda mais a cultura científica da cultura humanística com imagens do cientista como um mito, e isso é potencialmente negativo na medida em que “se existe uma classe especializada em pensar de maneira correta (os cientistas), os outros indivíduos são liberados da obrigação de pensar e podem simplesmente fazer o que os cientistas mandam” (ALVES, 2015, p. 10). Assim, a ciência ocupou esse “lugar” social daquilo que é confiável e que pode resolver todos os problemas da vida moderna e as redes de divulgação massiva da ciência colocam-se como caudatária desse legado científico. Daí que temos convicção de que a.

(30) 30. própria ciência é multiplicadora de sistemas peritos, na medida em que ela própria é múltipla, portanto, abrange todos os sistemas de conhecimento técnico que regulam todas as áreas da vida social. Temos como exemplos as áreas das engenharias, da telefonia, automobilística, química etc. E a crescente especialização científica resolveu o problema das reservas de mercado das profissões modernas. É parte intuito dessa discussão, lançar luz ao modo como as redes editoriais da divulgação científica, ao apropriarem-se do discurso científico, e, portanto, de sua autoridade técnica e socialmente hegemônica, transformam-se em um Sistema Perito em que as pessoas confiam plenamente sem discutir sua gênese ou seus interesses imediatos. As revistas, nesse contexto, seriam os instrumentos necessários à essa apropriação e ao pleno exercício desse poder. Os efeitos negativos dessa “apropriação” atinge mensalmente 3 milhões de leitores5 que, a partir de uma atitude comum entre os leitores de revistas, confiam sem ressalvas nas informações apresentadas pelos veículos em questão. Para Giddens (1991), a modernidade fomenta relações que não estão situadas, e que, portanto, não ocorrem face-a-face. São situações de contatos sociais entre ausentes, que não estão em contato direto, mas que suas vontades estão materializadas através de representações. Ocorre, assim, uma separação entre tempo e espaço que é característica peculiar dos tempos atuais. Desse ponto de vista, ocorre o desencaixe de situações de interação de um espaço/tempo e sua (re)materialização em outro contexto socialmente localizado. Temos, então, “a separação entre tempo e espaço e sua formação em dimensões padronizadas, ‘vazias’, penetram a conexões entre a atividade social e seus ‘encaixes’ nas particularidades dos contextos de presença” (GIDDENS, 1991, p. 30). Esse fenômeno faz com que as relações sociais sejam liberadas das restrições, dos hábitos, das práticas e contingências dos contextos locais de interação, possibilitando um novo leque de possibilidades na sociedade atual. Assim, as instituições modernas são capazes de estabelecer a ligação dos contextos locais com os globais, de forma que não seria possível em momentos passados da nossa história. É preciso, então, que algum elemento permita que os interesses dessas relações desencaixadas do seu tempo e espaço funcionem. A isso, Gidddens (1991) chama de “Desencaixe”. Por desencaixe, ele se refere ao deslocamento das relações de contextos locais 5. Acessível em:<http://publiabril.com.br/marcas/superinteressante/plataformas/revista-impressa>. Acessado em: 20/10/2016, às 16h30..

(31) 31. e sua reestruturação em outros contextos sem limitação de tempo e espaço. Há, segundo o autor, dois mecanismos de desencaixe, que são: fichas simbólicas e sistemas peritos. As fichas simbólicas são meios de intercâmbio que podem circular sem que seja necessário que o portador possua características específicas de uma cultura particular. Como exemplo de ficha simbólica, podemos citar o dinheiro. Segundo Giddens (1991, p.32), “o dinheiro permite a troca de qualquer coisa por qualquer coisa, a despeito dos bens envolvidos partilharem quaisquer qualidades substantivas comuns”. Por sua vez, os sistemas peritos são descritos como “sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje” (GIDDENS, 1991, p. 37-38). Estamos envolvidos em diversos sistemas que dominam, organizam e, de certa forma, dizem como devemos realizar nossas tarefas. São sistemas importantíssimos nos quais as pessoas depositam confiança baseadas na experiência e na tradição. Os sistemas peritos são apontados como desencaixe pelo autor, como aqueles que possuem a característica de descontextualizar relações sociais, materializando-as em outros contextos. Para o autor, os dois mecanismos promovem “a separação entre tempo e espaço como condição do distanciamento tempo-espaço que eles realizam. Um sistema perito desencaixa da mesma forma que uma ficha simbólica, fornecendo ‘garantias’ de expectativas através de tempo-espaço distanciados” (GIDDENS, 1991, p.39). Sendo assim, faz-se importante discutir o conceito de Confiança apontado por Giddens (1991). Para o autor, todos os sistemas peritos dependem, para seu pleno funcionamento, do fator: Confiança. Isso se deve ao fato de que a confiança está na base de sustentação de todas as instituições modernas que organizam a vida social. Os cidadãos que fazem uso dos sistemas peritos em seu cotidiano o fazem a partir da confiança nas capacidades abstratas apresentadas pelos sistemas. Assim, “a confiança é uma forma de fé na qual a segurança adquirida em resultados prováveis expressa mais um compromisso com algo do que apenas uma compreensão cognitiva” (GIDDENS, 1991. P. 37). Segundo o autor, “para a pessoa leiga, repetindo, a confiança em sistemas peritos não depende nem de uma plena iniciação nestes processos nem do domínio do conhecimento que eles produzem” (GIDDENS, 1991, p. 39). Assim, ao analisar a natureza dos sistemas peritos, necessitaremos da categoria de Contigência. Como vimos acima, a confiança é um aspecto importante na construção e sustentação das instituições que formam sistemas peritos. Por sua vez, a confiança está vinculada à Contingência. Esta última entendida como a credibilidade socialmente auferida pelos sistemas a partir de resultados positivos na operação dos sistemas..

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