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Microcrédito como ferramenta de melhoria de qualidade de vida na Comunidade Diamante – PE

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Academic year: 2017

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(1)

FACULDADE BOA VIAGEM

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ROBERTA DE MORAES GUERRA

Microcrédito como Ferramenta de Melhoria de Qualidade de Vida na

Comunidade Diamante

PE

(2)

ROBERTA DE MORAES GUERRA

Microcrédito como Ferramenta de Melhoria de Qualidade de Vida na

Comunidade Diamante

PE

Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (CPPA) da Faculdade Boa Viagem

Orientador: Professor Olimpio José de Arroxelas Galvão, Ph.D.

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ROBERTA DE MORAES GUERRA

Microcrédito como Ferramenta de Melhoria de Qualidade de Vida na

Comunidade Diamante

PE

Dissertação submetida a Banca Examinadora do Mestrado em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (CPPA) da Faculdade Boa Viagem

Em: _____/_____/_______

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________________ Olimpio José de Arroxelas Galvão, Ph.D.,Faculdade Boa Viagem (Orientador)

_____________________________________________________________

Ferdinand Rohr, Doutor, Universidade Federal de Pernambuco (Examinador Externo)

________________________________________________________________

(4)

Possivelmente a maior lição da vida a ser aprendida é a liberdade: liberdade em relação às circunstâncias, ao ambiente, a outras personalidades e, para muitos de nós, em relação a nós

(5)

Dedico este trabalho a minha avó materna, Vego, a minha mãe, Eliane, e ao meu amado marido, Tota.

Esta dedicatória é mais que um agradecimento a vocês, cujo amor, a credibilidade que em mim depositaram, e o apoio incondicional me fizeram chegar até aqui.

(6)

AGRADECIMENTOS

Ao final de mais uma caminhada quero agradecer ao Pai, que está sempre me mostrando os melhores caminhos.

À minha família, pelas palavras e atos de incentivo.

Ao meu orientador e professor, Olimpio Galvão, pelas várias contribuições.

Ao professor Ferdinand Rohr pelo seu apoio e contribuição, de valor inestimáveis à conclusão deste trabalho.

À minha irmã Daniela, que mesmo a distancia sempre me incentivou.

À querida professora Sumaia Madi, que com sua sabedoria fez tudo parecer tão simples quando eu já não tinha mais forças para continuar.

Aos meus alunos que sempre acreditaram que eu teria sucesso nessa jornada.

Ao colega de mestrado Jenner Rego, pela sua enorme boa vontade e prestatividade.

À Dona Madalena e todos os integrantes da comunidade Diamante, por terem aberto a porta de suas casas e de suas vidas tão gentil e desprendidamente, permitindo a realização desse trabalho.

Aos meus colegas do mestrado, pelo maravilhoso período que passamos juntos.

À todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para essa conquista.

(7)

RESUMO

Esta Dissertação teve como objeto de estudo uma comunidade rural no interior de Pernambuco, situada na Zona da Mata Norte, denominada comunidade Diamante. Seu objetivo principal foi analisar se, após o acesso ao programa de microcrédito rural do PRONAF, os integrantes da comunidade tiveram melhoria de qualidade de vida e se o programa contribuiu para promover a auto-sustentabilidade da comunidade.

O trabalho foi baseado em um estudo de caso, investigando a formação da comunidade, a sua relação com o programa de microcrédito e a geração de renda permanente para os agricultores, permitindo-lhes a auto-sustentabilidade. O papel que a associação de moradores exerceu no desenvolvimento dessa comunidade também foi uma questão importante a merecer análise.

A pesquisa, realizada em bases qualitativas, usou como método de coleta de dados a entrevista aberta e a análise de conteúdo, como forma de compreender de que maneira se processaram essas relações.

Os resultados identificam que houve melhoria de qualidade de vida para os integrantes da comunidade Diamante, caracterizada principalmente pelo acesso à educação, saúde, bens de consumo e geração de renda.

Os achados mostram, também, que a auto-sustentabilidade ocorreu estreitamente interligada ao apoio que a associação de moradores forneceu à comunidade, através do auxílio na gestão de seus pequenos empreendimentos.

A percepção dos entrevistados sobre a ação da associação dos moradores foi positiva, pois a mesma oferece suporte para o desenvolvimento dos integrantes da comunidade, tanto em aspectos relacionados ao trabalho, quanto nos aspectos sócio-educacionais, influenciando a formação de uma cultura que valoriza o coletivo e os laços de solidariedade.

(8)

ABSTRACT

This Dissertation aimed at the study of a rural community in the interior of the state of Pernambuco, located in the Zona da Mata Norte, called Comunidade Diamante. Its main objective was analyzing if, after the access to the PRONAF microcredit rural program, the community members achieved a better quality of life and if the program has contributed to promote the self-sustainability of the community.

The work was based in a case study, investigating the creation of the community, its relationship with the microcredit program and its capacity to generate permanent income for the agriculturists, allowing them self-sustainability. The role that the functioning of the community association played in its developed was also evaluated.

The research, undertaken in a qualitative basis, made use of open interviews as a means of data collection

The main results of the field research identified a substantial improvement in the quality of life of the community members, especially through the access to education, health services, consumption goods and income generation.

The field research findings also showed that self-sustainability was largely a product of the support by the community association, which provided, since the beginning, most of the support that the community needed to manage the small undertakings of its members.

It remained clear, in the perception of the interviewed population, that the association role was crucial for community success, as far as economic, social and educational aspects are concerned, and that in doing so the association has largely contributed to the development of a collective culture of solidarity among its members.

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LISTA DE SIGLAS

FIESPE Federação das Industrias do Estado de Pernambuco

IMF Instituição Microfinanceira

ONG Organização não-governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

PMPO Programa de Microcrédito Produtivo Orientado

PMNPO – Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

SCM - Sociedade de Crédito ao Microempreendedor

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

1.1 Contextualização... 10

1.2 Caracterização da Comunidade... 14

1.3 Pergunta de Pesquisa... 15

1.4 Objetivo da Pesquisa... 15

1.4.1 Geral... 15

1.4.2 Específico... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 16

2.1 Microcrédito e Microfinanças... 16

2.2 Objetivos do Microcrédito... 20

2.3 Marco Legal e Estrutural Institucional... 21

2.4 História das Microfinanças... 24

2.4.1 O Caso da Irlanda... 24

2.4.2 O Caso da Alemanha... 25

2.4.3 Outras Experiências Internacionais... 27

2.5 Microfinanças no Brasil... 28

2.5.1 Iniciativas Pioneiras e Evolução do Microcrédito no Brasil... 28

2.6 O Crédito Rural do PRONAF... 30

2.6.1 Público-Alvo, Grupos e Linha do PRONAF... 32

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3.1 Delineamento da Pesquisa... 34

3.1.1 Estudo de Caso... 35

3.2 Coleta de Dados... 37

3.2.1 Processo... 37

3.2.2 Roteiro de Entrevista... 38

3.2.3 Entrevistados... 39

3.3 Análise de Dados... 39

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS... 41

4.1 A Formação da Comunidade da Fazenda Diamante... 41

4.2 Qualidade de Vida... 43

4.3 O Microcrédito como Gerador de Melhoria de Qualidade de Vida... 56

4.4 Investimento Auto-Sustentável... 71

5 CONCLUSÂO... 85

REFERÊNCIAS... 91

(12)

1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização

O combate à pobreza é um dos principais objetivos na pauta dos organismos internacionais, assim como de todas as nações.

A vital necessidade de se combater a pobreza e os seus efeitos desastrosos estabelecem o tema como prioritário e ampliam o debate para várias esferas da sociedade, em especial nos países com avançados níveis de desigualdade social, como o Brasil.

O tema exige tal atenção que vários organismos internacionais de relevante importância, como a Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial, vêm investindo grandes esforços na busca de políticas e ações capazes de superar a pobreza extrema.

Contundente indicação deste objetivo é o projeto lançado pela ONU, e acordado entre os 191 países membros, intitulado Millennium Development Goals que objetiva reverter, até 2015, o quadro de pobreza, fome e doenças opressivas que afetam bilhões de pessoas no mundo.

Não é o foco deste trabalho discutir a pobreza e suas dimensões em termos gerais, mas reconhecer o tema como marco norteador de estudos e trabalhos que culminaram em sugestões e ações políticas e econômicas para superação de tal problema.

Duas idéias centrais estão presentes na maioria dos estudos dedicados a temas correlatos à pobreza: Crescimento econômico e Políticas públicas que contemplem o desenvolvimento local e a inclusão social.

(13)

Néri (2005) defende a idéia de que o crédito em si mesmo não gera oportunidades de negócios, mas somente viabiliza a realização das oportunidades existentes, e que, quando este é utilizado com eficiência, apóia a abertura de empreendimentos produtivos.

Contudo, o crédito nos países menos desenvolvidos, e em especial no Brasil, é bastante caro, o que dificulta a vida de quem deseja produzir.

Se para as empresas de médio e grande porte a situação de crédito é complexa, para as micro ela se torna proibitiva na medida em que não são capazes de oferecer garantias reais para a tomada de empréstimos. Ainda segundo Néri (2005) a grande maioria das microempresas não têm acesso a créditos públicos facilitados e a incentivos que as grandes empresas possuem, nem tampouco conseguem captar empréstimos no exterior, o que as deve tornar mais vulneráveis ao problema de crédito nacional.

Assim, é foco deste trabalho discutir a temática do microcrédito, avaliando seu desempenho no embate contra a pobreza e sua importância na transformação da qualidade de vida da população economicamente menos favorecida.

É muito comum na literatura a referência a dois termos que tratam de assuntos correlatos: microcrédito e microfinanças. Assim, um esclarecimento prévio de ambos evitará possíveis dúvidas. De acordo com Schiavinotto (2004), enquanto a microfinança compreende tanto os serviços de crédito como os de poupança, o microcrédito limita a sua atuação unicamente à concessão de empréstimos. O que existe em comum nos dois termos é que tanto os empréstimos, como os serviços de captação de poupança, são direcionados para uma população de baixa renda.

(14)

perspectiva, a de que é possível priorizar o lucro financeiro sobre os outros aspectos sociais.

Existe uma vasta e rica controvérsia sobre o papel subsidiador do Estado na oferta de crédito.

Alguns sustentam que o crédito subsidiado acabaria enfraquecendo as iniciativas microfinanceiras, liquidando a possibilidade desse setor de atividade conquistar sustentabilidade sem distorcer as condições do mercado. Outros, ao contrário, pensam que, diante das carências de segmentos majoritários de vários países, é uma obrigação pública usar o microcrédito como um instrumento de desenvolvimento social.

Independente da perspectiva que este tema esteja sendo observado, é possível afirmar que os investimentos neste tipo de iniciativa vêm crescendo, através da participação de componentes da sociedade civil, de organismos internacionais, governos, instituições sem fins lucrativos, e até de filantropos com intuitos voltados para o desenvolvimento local, a inclusão social ou o lucro financeiro.

(15)

O ano internacional do microcrédito 2005 sublinha a importância das microfinanças como parte integral de nosso esforço coletivo para cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O acesso sustentável a microfinanças ajuda a minimizar a pobreza por meio da inclusão social e da criação de empregos, possibilitando as crianças o acesso à escola, as famílias obter assistência à saúde, e as pessoas a capacidade de tomar decisões que se adaptem às suas necessidades. O grande objetivo que teremos pela frente é retirar do caminho as travas que excluem as pessoas e as impedem de participar cabalmente do setor financeiro. Juntos podemos e devemos criar setores financeiros que promovam a inclusão social e ajudem as pessoas a melhorar suas vidas.(ANNAN, 2003, p.-) falta referencia

A idéia central desta dissertação é a de que é importante, para qualquer sociedade interessada em desenvolver-se e erradicar a pobreza, avaliar atentamente as iniciativas propostas pelas instituições microfinanceiras, focando o estudo nos principais resultados alcançados.

Para tanto, esta dissertação terá como objeto de pesquisa uma comunidade rural denominada Fazenda Diamante, estabelecida no município de Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco, formada por 75 famílias, todas beneficiadas por programas de microcrédito.

O foco desta pesquisa será analisar o efeito do microcrédito como instrumento de combate à pobreza, conseqüente promoção de melhoria de qualidade de vida e geração de auto-sustentabilidade para as famílias que compõem a comunidade Fazenda Diamante.

No intuito de dirimir quaisquer dúvidas sobre os conceitos que esta pesquisa utiliza para definir qualidade de vida e auto-sustentabilidade, eles estarão descritos no capítulo de análise e discussão dos resultados

1.2. Caracterização da Comunidade

(16)

Composta por famílias de agricultores rurais, a comunidade, atualmente já com 17 anos de formada, conta com uma estrutura comunitária que inclui uma casa de farinha que beneficia a produção de mandioca das unidades familiares, uma mini fábrica de laticínios, uma fábrica artesanal de doces de frutas cultivadas na própria comunidade, uma fábrica de picolé caseiro, escola, posto de saúde e uma associação, de moradores que trabalha para discutir as necessidades de progresso da comunidade.

.

A partir de 1996, as famílias da comunidade Fazenda Diamante passaram a fazer parte do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, e assim tiveram seu primeiro contato com um programa de microcrédito. Nos anos que se seguiram, as famílias continuaram a fazer uso desta ferramenta, microcrédito, para desenvolver atividades geradoras de renda.

Atualmente, a comunidade, já com 17 anos de formada, conta com uma estrutura comunitária que inclui uma casa de farinha que beneficia a produção de mandioca das unidades familiares, uma mini fábrica de laticínios, uma fábrica artesanal de doces de frutas cultivadas na própria comunidade, uma fábrica de picolé caseiro, escola e posto de saúde.

(17)

1.3 Pergunta de Pesquisa

A utilização do microcrédito proporcionou melhoria de qualidade de vida e auto-sustentabilidade para as famílias da comunidade Fazenda Diamante ?

1.4 Objetivos da Pesquisa

1.4.1 Geral:

Analisar os efeitos do microcrédito como gerador de melhoria de qualidade de vida e auto-sustentabilidade para as famílias da comunidade Fazenda Diamante.

1.4.2 Específicos:

a)Descrever o processo de formação da comunidade Fazenda Diamante b) Analisar, a partir de experiências individuais, a ocorrência de mudanças

comportamentais decorrentes do acesso ao microcrédito que implicaram melhoria de qualidade de vida;

c) Verificar os benefícios do processo de melhoria de qualidade de vida através da aquisição de bens de consumo e serviços

(18)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Microcrédito e Microfinanças

Para dirimir possíveis dúvidas de natureza terminológica será esclarecida a ambigüidade existente entre microcrédito e microfinanças, e entre microcrédito, crédito popular e microcrédito produtivo orientado, pois essas definições sobrepõem-se, frequentemente, anulando as diferenças.

A literatura distingue as organizações de microcrédito das de microfinanças através do escopo de serviços oferecidos por cada uma delas.

Como já citado anteriormente Schiavinotto (2004) explica que enquanto a microfinança compreende tanto os serviços de crédito como os de poupança, o microcrédito limita a sua atuação unicamente à concessão de empréstimos.

Assim caracteriza-se microfinanças como “um conjunto de serviços financeiros (poupança, créditos e seguros), prestado por instituições financeiras ou não, para indivíduos de baixa renda e microempresas (formais e informais) excluídas, ou com

acesso restrito, do sistema financeiro tradicional”. (NICHTER, 2002; NAQVI;

GUZMAN,2004). Neste contexto microcrédito é apenas um dos serviços financeiros oferecidos por instituições de microfinanças.

Abrangendo este conceito, microfinanças compõe “a prestação de serviços

financeiros adequados, e sustentáveis para a população de baixa renda constantemente excluída do sistema financeiro tradicional com a utilização de produtos, processos e gestão diferenciados”. (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E

PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE, 2005).

(19)

microfinanças, dada a importância que tem junto às políticas públicas de redução da miséria e geração de renda.

Sandroni (2005, p. 540) assinala que o microcrédito é um crédito fornecido em pequena escala para pessoas menos favorecidas, destinado ao crescimento de seus

negócios e que deve ser usado de alguma forma como “investimento” em seus

empreendimentos. Ratificando assim a também muito utilizada terminologia, Microcrédito Produtivo.

De acordo com Nichter (2002), o microcrédito é a “concessão de empréstimos de

relativamente pequeno valor, para a atividade produtiva, no contexto das

microfinanças”. Para Barone, Lima, Dantas et al. (2002), “microcrédito é a concessão de

empréstimos de baixo valor a pequenos empreendedores informais e microempresas sem acesso formal ao sistema financeiro tradicional, principalmente por não terem como oferecer garantias reais. É um crédito destinado à produção (capital de giro e

investimentos) e é concedido com o uso de metodologia específica”.

Assim sendo, microcrédito seria o termo utilizado para a instituição que restringe-se a concessão de crédito (especializado no restringe-segmento de pessoas economicamente menos favorecidas), enquanto que microfinanças seria, por exemplo, um conjunto de serviços financeiros voltado ao atendimento das necessidades das camadas menos privilegiadas, envolvendo créditos, poupanças e seguros.

Esse conceito lança uma perspectiva evolutiva, “do microcrédito às microfinanças”, elucidada em Ribeiro (2004).

Ainda no sentido da evolução do conceito, a existência de serviços de poupança, por exemplo, pode ter implicações não apenas quanto à sustentabilidade, mas também relacionadas ao impacto na vida ou no negócio dos membros/clientes das organizações.

(20)

desenvolve serviços de captação de poupança e de concessão de empréstimos não voltados exclusivamente para o financiamento de atividades produtivas.

Nesta dissertação será adotada a definição de microcrédito utilizada pela organização do Microcredit Summit1, que retrata as instituições de microcrédito como

aquelas que fazem

empréstimos pequenos para pessoas muito pobres, para gerar renda por meio de atividades de auto-emprego, majoritariamente não formais.

Para microfinanças será usada a definição de Johnson e Rogaly (1997), qual seja, a provisão de serviços financeiros voltados para os pobres, lidando com depósitos e empréstimos muito pequenos.

Dentro dessa atmosfera de conceituação, faz-se necessário também distinguir microcrédito de crédito popular, pois este último é frequentemente e inadequadamente usado como sinônimo de microcrédito.

O uso indevido desses termos deve-se ao fato de bancos federais, como o Banco do Brasil, através do Banco Popular, conceder créditos de pequenos valores voltados, teoricamente, à população de baixa renda.

Em princípio as idéias dos programas são similares, o que os diferencia é fato de que os créditos populares não condicionam o uso dos recursos à fins produtivos, sendo usados em geral para consumo e quitação de dívidas. Além disso, o sistema de garantias presente nesses programas não garante que tais recursos sejam efetivamente canalizados para a população de baixa renda.

1 A Cúpula do microcrédito teve sua primeira reunião em fevereiro de 1997, quando conseguiu reunir, na

cidade de Washington D.C. mais de 2.900 pessoas vindas de 137 países com o intuito de prover crédito para mais de 100 milhões de famílias pobres, na tentativa de tirá-los da pobreza. Essas reuniões alcançaram grande êxito e desde então repetem-se anualmente, em países distintos. No ano de 2008 a reunião da cúpula do microcrédito será sediada na Indonésia, entre os dias 28 e 30 de julho.

(21)

Por último é necessário distinguir Microcrédito Produtivo (conceito de microcrédito) de Microcrédito Produtivo Orientado, cuja principal característica é desenvolver um relacionamento mais estreito entre a instituição de microcrédito e o empreendedor, no intuito de promover sustentabilidade aos pequenos negócios através de capacitação.

O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), iniciativa do Governo Federal e instituído pela Lei nº 11.110, de 25 de abril de 2005, define microcrédito produtivo orientado conforme abaixo (BRASIL, 2005):

“O microcrédito produtivo orientado é o crédito concedido para o atendimento

das necessidades financeiras de pessoas físicas e jurídicas empreendedoras de atividades produtivas de pequeno porte, utilizando metodologia baseada no relacionamento direto com os

empreendedores no local onde é executada a atividade econômica, devendo ser considerado, ainda, que:

O atendimento ao empreendedor deve-ser feito por pessoas treinadas para efetuar o levantamento socioeconômico e prestar orientação educativa sobre o planejamento do negócio, para definição das necessidades de crédito e de gestão voltadas para o desenvolvimento do empreendimento;

O contato com o empreendedor deve ser mantido durante o período do contrato de crédito, visando ao seu melhor aproveitamento e aplicação, bem como ao crescimento e sustentabilidade da atividade econômica; O valor e as condições de crédito devem ser definidos após a avaliação da

atividade e da capacidade de endividamento do tomador final dos recursos, em estreita interlocução com este.”2

(22)

A orientação que o agente de crédito fornece pode ser muito importante e alguns programas enfatizam explicitamente esse papel, como é o caso do Programa de microcrédito do Banco do Nordeste, o Crediamigo. Já para o Banco Grameen, reconhecidamente um caso exitoso, os agentes de crédito, conforme declaração de Yunus (1998), quando perguntados sobre aconselhamentos a respeito de oportunidades de negócio, são instruídos a responder que o banco têm muito dinheiro para lhes fornecer, mas nenhuma idéia sobre negócios.

Contudo a não utilização da prática de Microcrédito Produtivo e Orientado pelo banco Grameen, não interferiu no crescimento do número de financiados que obtiveram sucesso, em um outro continente com uma outra cultura

2.2 Objetivos do Microcrédito

A literatura traz uma série de referências sobre os objetivos do microcrédito, e alguns deles estão descritos a seguir:

Combater a pobreza e o desemprego, através do fortalecimento das atividades econômicas de pequeno porte, substituindo as formas assistencialistas de atender a população de menor poder aquisitivo (TANURI, 1997)

Promover a “experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e

de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito” que atendam a população de baixa renda, de forma a criar condições de sobrevivência, auto-sustentabilidade, crescimento e formalização dos pequenos negócios (Lei 9.790 de 23/03/99, art. 3º, alínea IX) (BRASIL, 1999).

(23)

principalmente no sistema de crédito solidário (Resolução nº59 do CODEFAT de 25 de março de 1994) (BRASIL, 1994)

Elevar a produtividade dos empreendimentos, através do incentivo fixo associado à capacitação técnico-gerencial do empreendedor, de forma a minimizar o risco do negócio, possibilitar o seu crescimento e estimular a formalização das microempresas (BNDES Crédito Produtivo Popular)

2.3 Marco Legal e Estrutura Institucional

Até 1999 não havia no Brasil um marco legal específico para as atividades de microcrédito. Somente a partir desta data ocorreram esforços mais efetivos no sentido de construir algum instrumento jurídico que contemplasse as diversas iniciativas existentes. Esse trabalho foi desenvolvido por um grupo idealizado pelo Conselho da Comunidade Solidária, oficializada pelo Conselho Monetário Nacional e coordenado pelo Ministério da Fazenda, tendo o objetivo de expandir o microcrédito no Brasil. Assim esse grupo formula as propostas e as adéqua juridicamente para regulamentar a atividade de instituições microfinanceiras.

Esse ato foi de extrema relevância para a consolidação e ampliação das microfinanças no Brasil, já que as experiências pioneiras com microcrédito em âmbito nacional desenvolveram-se a margem de qualquer regulamentação específica para o setor.

(...) as organizações não-governamentais agiam à margem do sistema financeiro oficial e, sem qualquer cobertura do arcabouço jurídico, estavam sujeitas à lei da Usura. Os programas ligados a governos municipais ou estaduais, por seu lado, funcionavam no quadro da ação pública de geração de emprego e renda. Por fim, bancos oficiais ou privados que atuavam com microempresas o faziam obedecendo às regras usuais e genéricas do sistema financeiro. (PARENTE, 2002, p.114)

(24)

Permitir que organizações da sociedade civil atuassem no microcrédito sem estarem submetidas à Lei da Usura;

Criar e regulamentar uma nova modalidade institucional e caráter privado, integrada ao sistema financeiro e com menores exigência de capital, para operar microcrédito.

Ainda de acordo com Carvalho e Ribeiro (2006) esse desenvolvimento gerou frutos que resultaram nas leis nº 9.790/99, nº 10.194/01, Medida Provisória nº 2.172-32/01 e Resolução CMN nº 002874/01, que estabeleceram os seguintes modelos institucionais para a atuação do setor público e privado, com e sem fins lucrativos, na operacionalização de serviços de microcrédito:

Instituições da Sociedade Civil

O início das atividades de microcrédito no Brasil foi marcado pela atuação das ONGs de microcrédito, com o foco na economia solidária e desenvolvimento local.

Contudo com a evolução do marco legal do microcrédito, grande parte dessas ONGs transformaram-se em Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips).

Tal razão para essa permutação baseia-se no fato de que, apesar de tanto as ONGs quanto as Oscips serem pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, as Oscips estão livres do enquadramento na lei da usura, sendo reguladas pela Lei nº 9.790 (Lei do Terceiro Setor) que estabelece o cumprimento obrigatório de pelo menos um dentre os vários objetivos sociais, destaca-se entre eles: “(...) promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza”.(BRASIL, 1999).

(25)

Programas de Governo Locais

Iniciativas constituídas a partir de fundos públicos e conhecidas como “bancos do povo” são encontradas em estados e municípios, sendo gerenciados pelo setor público, não se enquadram totalmente nas premissas do microcrédito, principalmente por questões de metodológicas.

Sociedade de Crédito ao Microempreendedor (SCMs)

Seguindo a rota da evolução do setor de microcrédito o Banco Central autoriza a criação de uma nova figura jurídica, na forma de instituição privada com fins lucrativos e com o objeto social exclusivo de conceder crédito produtivo a pessoas físicas e microempresas.

Programas de Bancos Comerciais

Grande parte dos bancos comerciais ainda resiste à idéia de trabalhar para este setor por questionarem a viabilidade financeira deste tipo de atividade.

O Programa Crediamigo do Banco do Nordeste é uma exceção,operando com o maior sucesso com recursos oriundos de organismos internacionais e do próprio banco. Este modelo institucional está livre da lei da usura e é autorizado pelo Banco Central do Brasil a captar depósitos do público, tendo acesso assim a facilidades adicionais no financiamento da atividade de microcrédito, comparativamente com os outros modelos institucionais.

Cooperativas de Crédito

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grande diferencial para alguns dos outros modelos citados anteriormente é o fato de poderem captar depósitos, que por sua vez são investidos apenas na área de atuação das cooperativas.

2.4 História das Microfinanças

A mais notória experiência de microcrédito foi sem dúvida o Grameen Bank, em Bangladesh, desenvolvida brilhantemente pelo então professor de economia da Universidade de Chittagong, Muhamad Yunus, em meados da década de 70.

Assim corrobora Silva (2005, p.3) quando afirma:

“O grande marco que desenvolveu, difundiu e serviu de modelo para popularizar o microcrédito foi à experiência iniciada em 1976 em Bangladesh,

pelo professor Muhamad Yunus”

Contudo, as benesses trazidas pelas microfinanças datam de períodos bem mais remotos, registrados em experiências menos conhecidas, porém não menos importantes para os seus beneficiários da época. Segundo Seibel (2003, p.11) ao se:

Atribuir a origem das microfinanças a iniciativas recentes, perdem-se não somente a profundidade histórica e as dimensões das microfinanças,mas também séculos de experiência , que representam: aprendizado através das tentativas e dos erros, dos fracassos e dos sucessos.

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2.4.1 O Caso da Irlanda

Na Irlanda, no início do século XVII, constituem-se fundos de empréstimos a partir de doações, com pagamentos semanais e sem cobranças de taxa de juros, e usando-se como garantia o aval solidário.

Esses fundos continuaram a operar na informalidade até 1823, quando uma lei transforma-os em intermediários financeiros, permitindo a cobrança de juros e a captação legal de recursos através de depósitos remunerados. A legalização trouxe, em 1836, a regulamentação e o supervisionamento dos mesmos, através do Loan Fund Board, que, com seu apoio institucional, impulsionou o crescimento do número desses fundos, chegando em 1840 a marca de 300 instituições de empréstimos legalizadas, realizando pequenas operações de crédito.

Em processo de franca expansão, e gerando três vezes mais lucro que os bancos comerciais, os fundos de empréstimos, que já detinham 20% das famílias Irlandesas como clientes, colocaram-se como uma ameaça aos bancos comerciais, os quais, por sua vez usaram de seu poder para pressionar o governo e conseguir que o mesmo estipulasse valores mínimos para as taxas de juros praticadas pelos fundos de empréstimos. Como conseqüência, deu-se a perda da vantagem competitiva e o declínio gradual de suas atividades, que vieram a desaparecer por volta dos anos 1950.

2.4.2 O Caso da Alemanha

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A comunidade administrava os empréstimos e poupanças baseados na experiência irlandesa de que fundos baseados em doações e caridade não são sustentáveis.

Depois do rigoroso inverno de 1846/47 na Alemanha, muitos fazendeiros ficaram endividados e sem capital de giro para darem continuidade aos seus negócios rurais. Na tentativa de reverter esta situação, o então pastor Friedrich Wilhelm Raiffeisen criou a associação do pão na zona rural de Weyerbusch com capital proveniente de doação, para financiamento de farinha de trigo, fabricação e comercialização do pão, conseguindo, entre outras coisas, derrubar o preço final do pão em 50% poucos meses depois de ter iniciado a associação, beneficiando produtores e consumidores.

Semelhante à associação do pastor Raiffeisen surge, em 1850, criada por Hermann Schulze-Delitzsch, a primeira associação de crédito urbana, diferenciando-se da primeira principalmente por não considerar a possibilidade de doação como fonte de financiamento.

Raiffeisen percebe que a caridade não permite a criação de um modelo auto-sustentável, e por isso, em 1864, funda a primeira associação de crédito rural em Heddesdorf, seguindo o exemplo de Schulze-Delitzsch.

Nos 20 anos seguintes, esse processo evoluiu lentamente, propiciando o estabelecimento de 245 cooperativas em meados de 1880.

A grande virada nesse processo foi a promulgação, em 1889, do Ato das Cooperativas do Império Germânico, a primeira lei para cooperativas do mundo voltada para legalizar associações de crédito urbanas e rurais,

Essas mudanças estimularam um rápido crescimento do número de cooperativas rurais na Alemanha.

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o Cooperativas auto-sustentáveis, através da captação e manutenção das

poupanças

o A evolução para uma estrutura legal

o A evolução do marco regulatório do sistema bancário abrangendo todas

as instituições financeiras, inclusive os fundos de poupança e as cooperativas de crédito

Este modelo, aplicado às microfinanças adotado na Alemanha, tem continuidade nos anos vindouros. Dados de 1997 indicam o cenário construído pelos investimentos em microfinanças: 39.000 filiais, 75 milhões de clientes, 51,4% de todos os ativos financeiros bancários da Alemanha e 64% de todas as intermediações financeiras.

De acordo com Seibel (2003), a experiência alemã permite concluir que as Microfinanças não são uma solução pobre para países pobres: as Instituições microfinanceiras - IMF – organizadas sob a forma de cooperativas ou geridas pela própria comunidade, baseadas no modelo de captação e administração de poupanças, são igualmente viáveis tanto em áreas urbanas como rurais. Este autor ainda assinala que se estas organizações forem reguladas e supervisionadas adequadamente, serão capazes de constituir uma excelente ferramenta de combate à pobreza e de estimulo ao desenvolvimento.

2.4.3 Outras Experiências Internacionais

(30)

mensalmente US$ 1,00, destinados a atender aos associados necessitados. Posteriormente, os Fundos de Ajuda foram consolidados e transformados no que foi denominado Liga de Crédito. Após esta iniciativa, outras se sucederam, existindo , atualmente, a Federação das Ligas de Crédito, operadas nacionalmente e em outros países.

Muitas outras manifestações pontuais e isoladas com características de microcrédito devem ter ocorrido ao redor do planeta. Porém, o grande marco que desenvolveu, difundiu e serviu de modelo para popularizar o microcrédito foi a experiência iniciada em 1976, em Bangladesh, pelo professor Muhamad Yunus. Observando que os pequenos empreendedores das aldeias próximas à universidade onde lecionava eram reféns dos agiotas, pagando juros extorsivos e, mesmo assim, pagando corretamente, o professor Yunus começou a emprestar a essas pessoas pequenas quantias com recursos pessoais e posteriormente, com recursos advindos de empréstimos . A ação prosperou tanto que deu origem, em 1978, ao Grameen Bank. Os princípios filosóficos da atuação e as estratégias para garantirem o retorno dos valores emprestados foram aprimorados na prática durante anos de gestação e atuação do Grameen Bank. Com adaptações locais, este modelo foi adotado em diversos países, inclusive no Brasil.

Ao provar que os pobres são merecedores de crédito, e que pagam seus pequenos empréstimos destinados a atividades reprodutivas, o professor Yunus conseguiu financiamento e doações junto a bancos privados e internacionais para criar o Banco Grameen. Com o passar do tempo, obteve ajuda de bancos e instituições privadas, criando, em 1978, o Grameen Bank e o modelo atual de microcrédito, definido como financiamentos aos micro produtores via grupos solidários que prestam garantia mútua, dispensando a garantia dos bancos.

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2.5.1. Iniciativas Pioneiras e Evolução do Microcrédito no Brasil

Embora tenha sediado uma das primeiras experiências de microcrédito informal urbano, o Brasil teve um crescimento muito lento neste setor, e enfrentou também fortes restrições legais para expandir os serviços do microcrédito às microfinanças e implantar outros produtos além do crédito, como por exemplo a captação de poupança.

Segundo Nichter (2002) a evolução histórica do microcrédito no Brasil se deu nesta seqüência:

o Os líderes da sociedade civil iniciaram os esforços e colaboraram com os

membros da comunidade internacional de microfinanças para desenvolver

instituições afiliadas a redes internacionais. (Ex: Banco da Mulher).

o Os líderes locais desenvolveram organizações da sociedade civil, que

empregaram metodologias de microfinanças para ajudar os membros de menor renda em suas comunidades. ( Ex: Portosol).

o Os líderes políticos começaram a ver as microfinanças como uma maneira

possível de atender à população e lançaram iniciativas governamentais. ( Ex: Banco do Povo Paulista)

o Em uma etapa mais recente, investidores e gerentes do setor privado atraídos

para microfinanças como um nicho do mercado, estão trabalhando por intermédio de instituições financeiras regulamentadas. (Ex: Banco do Nordeste)

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Em meados da década de 1990 outras duas instituições ganham destaque: Fenape (Federação nacional dos Pequenos Empreendedores) e o Banco da Mulher.

De acordo com Carvalho e Ribeiro (2006), algumas razões podem caracterizar o atraso no desenvolvimento das atividades de microcrédito no Brasil, como por exemplo, a inflação, o crédito governamental subsidiado e a legislação restritiva.

No processo evolutivo das IMF’s brasileiras, outras experiências são marcantes:

o Portosol, criada em agosto de 1995, no Rio Grande do Sul, o Vivacred, criada em 1996, no Rio de Janeiro, e o Crediamigo, criado em 1997, como o programa do Banco do Nordeste que formou a maior carteira de microcrédito do país, segundo Carvalho e Ribeiro (2006, p.142).

2.6 O Crédito Rural do PRONAF

A política agrícola brasileira por um largo período de tempo teve como foco os latifúndios. Segundo Kageyama (1996) o processo de modernização conservadora, caracterizado pela integração entre agricultura e indústria e a formação de complexos agroindustriais, promove uma crescente marginalização dos pequenos agricultores familiares, reproduzindo um padrão de desenvolvimento rural bastante excludente e desigual.

De acordo com Cerqueira e Rocha (2002) o processo de modernização da agricultura brasileira constituído em bases latifundiárias gera no campo o aprofundamento das desigualdades sociais e o aumento da pobreza nas áreas rurais, com reflexos nos grandes centros urbanos.

(33)

Técnica e Extensão Rural (Embrater). Diante deste cenário de grandes proporções a importância dada à agricultura familiar torna-se proporcional ao tamanho de suas pequenas glebas.

Como toda ação precede uma reação, foi apenas uma questão de tempo para se iniciar o acirramento dos conflitos rurais e as reivindicações sociais, que levariam o governo a repensar a política agrícola e a reconhecer a importância dos produtores familiares.

O primeiro passo para consolidar as bases de apoio à agricultura familiar era conceituá-la com mais precisão, uma vez que a mesma era tratada de várias formas (pequena produção, produção familiar, produção de subsistência). Este problema foi resolvido por estudos realizados conjuntamente entre a FAO e o INCRA, que segundo Mattei (2001) definem com precisão conceitual a agricultura familiar, e estabelecem um conjunto de diretrizes para ajudar na formulação das políticas deste setor.

Assim em 1994, em meio a este ambiente social, político e econômico inicia-se o processo de mudanças na política agrícola no governo do presidente Itamar Franco com a criação do Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (PROVAP), que tinha como meta a concessão de crédito com taxas de juros mais acessíveis aos agricultores familiares.

No intuito de aprimorar este programa o governo seguinte, de Fernando Henrique Cardoso, reformula totalmente o PROVAP dando origem assim em 1996 ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, que vem de acordo com Mattei (2001), atender as exigências dos trabalhadores rurais, que colocavam como vital a formulação e implementação de políticas de desenvolvimento rural específicas para o segmento numericamente mais importante, porém mais fragilizado da agricultura brasileira, tanto em termos de capacidade técnica como de inserção nos mercados agropecuários. Desde então este programa apresenta-se como a principal política pública de apoio aos agricultores familiares.

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O Pronaf se propõe a fortalecer a agricultura familiar como categoria social, mediante apoio financeiro (financiamento para custeio e atividades agrícolas), e à infra-estrutura social e econômica dos territórios rurais fortemente caracterizados pela agricultura familiar. Embora seja um programa de fortalecimento da agricultura familiar, a maior parte de seus esforços e resultados estiveram concentrados no crédito desde a sua criação.

Entretanto, cabe destacar que, nos três últimos anos, o governo federal passou a desenvolver novas ações, principalmente na área de comercialização (estoques, compras, garantia de preços mínimos), assistência técnica e extensão rural e seguro

agrícola”

O Banco do Nordeste, principal agente na oferta de recursos do Pronaf na região Nordeste do Brasil, caracteriza como objetivo do programa:

“Fortalecer a agricultura familiar, mediante o financiamento da infra-estrutura de produção e de serviços agropecuários e atividades rurais

não-agropecuárias3, com o emprego direto da força de trabalho do produtor rural

e de sua família, objetivando a geração de ocupação e manutenção do homem e da mulher do campo”

2.6.1. Público-Alvo, Grupos e Linhas do Pronaf

De acordo com o Banco do Nordeste o público-alvo do Pronaf são empreendedores rurais que desenvolvam suas atividades agropecuárias e não-agropecuárias utilizando-se, basicamente, de mão-de-obra familiar. É composto de diversos Grupos (A, A/C, B, C, D, E), de acordo com a renda bruta anual obtida pelo produtor que pode variar de R$ 4.000,00 para o grupo B até R$ 110.000,00 para o grupo E.

3

Entende-se por serviços, atividades ou renda não-agropecuárias aqueles relacionados ao turismo rural, à

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Ainda de acordo com o Banco do Nordeste o Pronaf também disponibiliza linhas de crédito para públicos e atividades específicas – Pronaf Mulher, Jovem, Agroindústria, Floresta, Agroecologia, Agrinf, Semi-árido.

Para esta dissertação é necessário um conhecimento mais específico das características e peculiaridades do Pronaf Grupo B, por ter sido esta a linha de crédito utilizada pelos integrantes da Comunidade Diamante, objeto de pesquisa deste trabalho.

Dentre as linhas oferecidas pelo Pronaf, a B é reconhecido como a linha de microcrédito rural, tem no seu público-alvo agricultores familiares, inclusive remanescentes de quilombos, trabalhadores rurais e indígenas que:

Explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário ou parceiro;

Residam na propriedade ou em local próximo;

Não disponham a qualquer título, de área superior a 4 módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor;

Obtenham renda familiar oriunda da exploração agropecuária ou não-agropecuária do estabelecimento;

Tenham o trabalho familiar como base na exploração do estabalecimento

Obtenham renda bruta anual familiar até R$ 4.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes de atividades rurais

Público Alvo Finalidade Crédito Juros Bônus de

Adimplência * Prazo e Carência Agricultores Familiares com renda anual familiar de até Financiamento das atividades agropecuárias ou não-agropecuárias e custeio para mamona

R$ 4.000,00 ** limitado a R$ 1.500,00 por operação 0,5% ao ano 25% aplicado em cada parcela

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R$ 4.000,00

* O Produtor somente fará jus ao Bônus se pagar as parcelas do financiamento em dia

** Alcançado esse limite os novos financiamentos concedidos não terão bônus de adimplência

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3 METODOLOGIA

A proposta do presente capítulo é apresentar a metodologia que foi utilizada na pesquisa, abrangendo o delineamento da pesquisa, a descrição das técnicas de coleta dos dados e da análise dos dados, e os limites e limitações do estudo conforme será apresentado a seguir.

3.1 Delineamento da Pesquisa

A pesquisa é de base qualitativa, do tipo descritiva, pois tem o objetivo de obter informações e opiniões do universo (ROESCH, 1999). A pesquisa qualitativa é importante para compreender as relações que ocorrem entre os personagens estudados tanto no âmbito da comunidade quanto fora dela analisando o grupo sobre temas específicos. De acordo com Minayo (1998) as diferenças entre a pesquisa qualitativa e quantitativa vão além da simples escolha de estratégias de pesquisa e procedimentos de coleta de dados, representam posições epistemológicas diferentes.

A pesquisa qualitativa não considera somente as interpretações das realidades sociais, mas também objetiva uma categorização do mundo social, análise em direção a questões referentes à qualidade e coleta de dados, com estratégias de pesquisa independente. É igualmente relevante, após o levantamento, o direcionamento de análise dos dados obtidos ou o embasamento da interpretação com observações mais minuciosas (BAUER; GASKEL; ALLUM, 2002).

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outras idéias a uma cultura, procurando trazer à tona o sistema de categorias ou idéias que os membros da cultura usam, eles mesmos, para pensar seus mundos.

Procurando resumir as características básicas da pesquisa qualitativa, podemos identificar alguns aspectos essenciais tais como:

_ Os ambiente a as pessoas nela inseridos não são reduzidos a variáveis, mas observados como um todo.

_ A preocupação do investigador está no significado que as pessoas dão às coisas e à própria vida, e ainda porque não partem de hipótese, a priori, utilizam enfoque indutivo na análise das informações. Quando o estudo é de caráter descritivo e o que busca é o entendimento do fenômeno como um todo na sua complexidade, é possível que uma análise qualitativa seja a mais indicada.

Este estudo teve como objetivo principal aumentar a compreensão e o conhecimento das relações de trabalhadores rurais com o acesso ao microcrédito, e unindo a este fato a vivencia em uma comunidade rural. Nesse sentido foi adotado o método qualitativo, considerado este mais adequado para explorar e interpretar os fenômenos propostos na pesquisa, através de um estudo de caso, conforme detalharemos a seguir.

3.1.1 Estudo de Caso

O estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do que deve ser estudado. Ele se concentra no conhecimento experiencial do caso e a sua atenção é focada para compreender as influências sociais, políticas e de grupo, além de outros contextos (STAKE, 2000).

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significativas dos acontecimentos da vida real, tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de setores econômicos (YIN, 2005).

De acordo com Gil (1995), o estudo de caso é uma pesquisa caracterizada pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível em outro tipo de estudo.

Para Yin (2005), quando se tem um fenômeno contemporâneo a ser investigado dentro do seu contexto de vida real e suas fronteiras uma das formas de pesquisa social que se pode utilizar é o estudo de caso. Ainda de acordo com o mesmo autor, o pesquisador de estudo de caso deve ser hábil em saber fazer perguntas, em saber ouvir, ser flexível e adaptável, ter plena compreensão das questões que estão sendo pesquisadas, e tentar evitar que idéias preconcebidas impeçam a possibilidade de novas descobertas, evitando viés.

Para Castro (1977), é muito melhor fazer o uso sofisticado de uma técnica simples, do que procurar técnicas sofisticadas pelo fato de estarem disponíveis. Em contrapartida, existem críticas ao método do estudo de caso, principalmente no que se refere à sua falta de objetividade e rigor científico, uma vez que dependem em grande parte da intuição do investigador, estando, portanto, sujeito a eventual subjetividade. De qualquer maneira, subjetividade é algo inerente ao ser humano.(YIN, 2005).

Uma questão alvo de críticas no uso do estudo de caso é a limitação com a generalização, alegando que esse tipo de pesquisa oferece pouca base que possibilite replicação, inclusive quando comparado aos experimentos. Um argumento defensivo a

essa acusação “é que os estudos de caso, da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a populações e universos”. (YIN, 2005).

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3.2 Coleta de Dados

A seguir, será apresentada a coleta de dados, especificando assim o seu processo, o roteiro de entrevista como instrumentação das variáveis.

3.2.1 Processo

De acordo com Richardson (1999) a entrevista não estruturada, também chamada de entrevista em profundidade, em vez de responder à pergunta por meio de diversas alternativas pré-formuladas, visa obter do entrevistado o que ele considera os aspectos mais relevantes de determinado problema: as suas descrições de uma situação de estudo.

Por meio de uma conversação guiada, pretende-se obter informações detalhadas que possam ser utilizadas em uma análise qualitativa. A entrevista não estruturada procura saber o que, como e por que algo ocorre, em lugar de determinar a freqüência de certas ocorrências, nas quais o pesquisador acredita.

Ainda segundo Richardson (1999), as técnicas de entrevista variam de acordo com o contexto no qual estão inseridas. A forma de realizar a entrevista dependerá do tipo de informação necessária em função do problema a ser pesquisado.

As técnicas utilizadas irão variar se apenas deseja-se obter informação sobre certos acontecimentos, explorar as atitudes e motivações de um indivíduo ou modificar os comportamentos. Yin (2005) considera as entrevistas como uma das mais importantes fontes de Informação para o estudo de caso, assim como uma ferramenta essencial para tratar de questões humanas.

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apresenta questões predeterminadas; e a entrevista de conversação continuada, que é a menos estruturada, onde a ênfase é maior na absorção do conhecimento local e da cultura.

A partir das entrevistas qualitativas, o pesquisador poderá mapear e compreender o mundo socialmente construído dos entrevistados. Em termos gerais, no início do processo a entrevista deverá ser bastante livre, podendo ser mais diretiva quando os aspectos da problemática de pesquisa já estiverem levantados (RICHARDSON, 1999).

A seguir, será detalhado o roteiro de entrevista que foi utilizado na pesquisa. Isso será feito de tal forma que possamos compreender através do referido roteiro como será feita a instrumentação das variáveis.

3.2.2 Roteiro de Entrevista como Instrumentação das Variáveis

A pesquisa utilizou entrevistas abertas, pois se acredita ser essa a melhor maneira de acessar os dados pertinentes ao trabalho. Para tal, criou-se um roteiro de entrevistas que visa coletar informações previamente determinadas, mas também deixar o entrevistado com bastante liberdade para falar sobre o que julgar importante.

Teve-se como objetivo compreender o que caracteriza a relação entre o acesso ao microcrédito e a melhoria de vida na comunidade Diamante. Assim, foram entrevistados membros da comunidade que consentiram essa abordagem.

Procurou-se escolher casos em que a relação Acesso ao microcrédito X Melhoria de qualidade de vida, tivesse sido exitoso, e casos em que esta mesma relação não tenha alcançado um grau de sucesso desejável.

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3.2.3 Entrevistados

A escolha dos entrevistados procurou obedecer o critério sugerido pelos integrantes da banca de defesa do projeto. Assim a pesquisadora deveria entrevistar 10 integrantes da comunidade, dos quais 5 deles tivessem alcançado sucesso nos objetivos propostos pelo acesso ao microcrédito, e outros 5 integrantes que não tivessem obtido êxito nessa relação.

Contudo a comunidade atualmente apresenta pouquíssimos casos de insucesso , assim não sendo possível entrevistar mais que duas famílias que reconhecem não terem obtido melhoria de qualidade de vida, nem auto-sustentabilidade após acesso ao microcrédito.

Para evitar coletar uma quantidade de dados insuficiente às análises, foram realizadas 16 entrevistas em contraposição as 10 sugeridas inicialmente. O critério de escolha do número de entrevistados foi a exaustão, ou seja as entrevistas foram acontecendo até nem mais um dado novo e relevante para a nossa pesquisa aparecer

3.3 Análise dos Dados

Como técnica de análise para tratamento dos dados, será utilizada a análise de conteúdo, através de inferências básicas a partir do texto, objetivando descrever sistematicamente o teor da comunicação (LAKATOS E MARCONI, 2001).

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a palavra, por exemplo, mas também a um nível igual e superior à frase, ou seja, as proposições, os enunciados e as seqüências (BARDIN, 2000).

A análise de enunciação está baseada no conceito do discurso enquanto palavra em ato e não como um dado, conforme a análise de conteúdo clássica. Considera que na produção da palavra é efetuado um trabalho, elaborado um sentido e operadas transformações.. O discurso não é uma transposição transparente de opiniões, atitudes e representações que existem de modo completo antes da passagem à forma de linguagem.

Nesta perspectiva o discurso não é um produto acabado, mas um momento num processo de elaboração, que pode ser ao mesmo tempo espontâneo e constrangido pela situação, na qual se confrontam motivações, desejos e investimentos do sujeito, com as imposições do código lingüístico. Também, devido às circunstâncias de espontaneidade e constrangimento, o trabalho de elaboração é, ao mesmo tempo, emergência do inconsciente e construção do discurso (BARDIN, 2000).

A entrevista não diretiva segue a lógica do entrevistado, sendo limitada somente pela instrução temática colocada para centrar a entrevista no assunto que interessa ao entrevistador. É caracterizada por pré-formação mínima de roteiro, ao contrário dos questionários pré-formulados. Ela tem o foco no conteúdo sobre a relação subjetiva do locutor com o objeto do discurso, ou seja, as representações, atitudes etc. Trata-se, portanto, de um discurso dinâmico e não estático (BARDIN, 2000).

Analisar significa “fazer análise, decompor um todo em suas partes; estudar,

examinar; criticar [...]” (LAROUSSE, 2001). Lakatos e Marconi (2001, p.167) entendem análise como “a tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores”.

A análise de conteúdo é, portanto, uma técnica para produzir inferências de um texto focal para seu contexto social de maneira objetivada, traçando um meio caminho

entre a leitura singular verídica e o “vale tudo”, sendo, em última análise, uma categoria

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Segundo Bardin (2000), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, ou seja, um único instrumento, mas possuidor de uma grande quantidade de formas diversas e adaptáveis ao campo de aplicação das comunicações. Desde mensagens lingüísticas em forma de ícones, até comunicações em três dimensões podem ser realizadas, o que significa que quanto mais complexo, instável, ou mal explorado for o código, maior terá de ser o esforço do analista, no sentido de uma inovação com vistas a uma elaboração de novas técnicas.

Assim, quanto mais o objeto de análise e a natureza das suas interpretações forem incomuns ou excepcionais, maior será a dificuldade do analista em colher elementos nas análises já realizadas, que possibilitem a inspiração nelas. Em última análise, qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo, serão apresentados os resultados obtidos após a coleta de dados feita através de entrevistas abertas e será utilizada a análise de conteúdo para a interpretação dos achados.

Esta apresentação será feita em capítulos que incluem um ou vários objetivos específicos, onde em cada capítulo serão apresentados os achados e feitas as análises e discussões pertinentes ao conteúdo. Abaixo estão listados os objetivos específicos na ordem que será utilizada para apresentação dos resultados.

a) Descrever o processo de formação da comunidade Fazenda Diamante

b) Analisar as mudanças individuais decorrentes do acesso ao microcrédito que indicaram claramente melhoria de qualidade de vida

c) Verificar os benefícios do processo de melhoria de qualidade de vida através da aquisição de bens de consumo e serviços

d) Analisar como os recursos recebidos foram utilizados por cada membro da sociedade e) Analisar se o acesso ao microcrédito gerou auto-sustentabilidade as famílias da

comunidade Fazenda Diamante

4.1 A Formação da Comunidade Fazenda Diamante

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Logo depois de firmado o acordo, a faixa de terra desapropriada, que totalizava 152 hectares, foi dividida em 76 lotes de 2 hectares cada, e distribuída para 75 famílias de baixa renda, que deveriam fixar moradia no local e desenvolver atividades produtivas rurais. O lote 76 foi destinado à formação de uma área comum às famílias assentadas.

Para realizar a escolha das famílias que iriam passar a residir neste assentamento, foi feita uma seleção para escolher as 75 entre as 300 famílias que se candidataram a uma vaga. A escolha das famílias obedeceu os seguintes critérios: Ser uma família de agricultores rurais, morar nas regiões circunvizinhas. Assim foi dada prioridade aos trabalhadores remanescentes da então fazenda desapropriada, e as famílias que tinham o maior número de filhos

A partir de 1996, as famílias da comunidade Fazenda Diamante passaram a fazer parte do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, e assim tiveram seu primeiro contato com um programa de microcrédito. Nos anos que se seguiram, as famílias continuaram a fazer uso desta ferramenta, microcrédito, para desenvolver atividades geradoras de renda.

Atualmente, a comunidade, já com 17 anos de formada, conta com uma estrutura comunitária que inclui uma casa de farinha que beneficia a produção de mandioca das unidades familiares, uma mini fábrica de laticínios, uma fábrica artesanal de doces de frutas cultivadas na própria comunidade, uma fábrica de picolé caseiro, escola e posto de saúde.

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4.2 Qualidade de Vida

O cerne do objetivo geral de nossa pesquisa é perceber a relação entre o microcrédito e a qualidade de vida dos integrantes da comunidade Diamante, assim é de extrema relevância a descrição do que a literatura aponta como índices e conceitos de qualidade de vida.

O conceito de qualidade de vida se expande e se refina compondo um processo evolutivo que caminha em uma velocidade acelerada, fruto das alterações sociais do mundo moderno e globalizado.

Há, entretanto, discordâncias entre os vários estudiosos do tema sobre quais aspectos seriam privilegiados para caracterizar qualidade de vida. Outros criticam o próprio conceito como Herculano (2000, p.3) que coloca:

“ ... A questão do entendimento sobre o que é qualidade de vida pode ser vista como desnecessária, não por ser desimportante ou pouco palpável, mas pela sua obviedade. Algo que ninguém saberia definir, mas que parodiando a referencia da poeta Cecília Meirelles à liberdade, todos entendem o que é. Talvez por isto a ênfase dos estudos sobre qualidade de vida enfoque predominantemente a sua mensuração, ficando embutido na escolha sobre o que mensurar os pressupostos do que se entende venha a compor qualidade

de vida”

Ainda de acordo com ele a qualidade de vida da população vem sendo frequentemente avaliada sob dois aspectos:

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2) Avaliar a qualidade de vida através das necessidades, mensurando a mesma pela distancia entre o que se deseja e o que se alcança. Neste caso há que se considerar que a definição de qualidade de vida irá oscilar em função das diferenças individuais, sociais e culturais.

Se fosse possível, mesmo acreditando que não o é, ainda seria muito difícil pautar o

que deveria ser “normal” dos seres humanos desejarem alcançar para terem qualidade de vida.

Contudo existem definições de patamares mínimos de bem-estar a serem coletivamente assegurados e aceitos pela maioria dos estudiosos.

Alguns desses patamares sustentam-se por exemplo na teoria de Maslow, que no início da década de 1940, desenvolveu sua teoria sobre a hierarquia das necessidades, e chegou ao esquema mostrado na figura abaixo. (BATEMAN; SNELL, 2006, p.430).

1. Necessidades Básicas ou Fisiológicas (comida, água,descanso, sexo, abrigo) 2. Necessidades de Segurança (Proteção contra ameaça ou privação, indica desde a

simples necessidade de sentir-se seguro dentro e uma casa até formas mais elaboradas de segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida)

3. Necessidades Sociais (amor, afeto, afeição, e sentimentos tais como o de fazer parte de grupos)

4. Necessidade de Status (independência, realização, liberdade,estima reconhecimento dos outros face à nossa capacidade)

5. Necessidade de Auto-Realização (Conscientização do próprio potencial máximo, tornar-se tudo que é capaz de ser)

Hierarquia das Necessidades

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Fonte: Bateman e Snell (2006)

Para Lacombre e Heilborn (2006), a teoria de Maslow indica que há uma tendência, na maioria das pessoas, de satisfazer primeiro as necessidades básicas, e complementa Bateman e Snell (2006, p.31) só depois que as necessidades fisiológicas e de segurança são razoavelmente satisfeitas é que os níveis mais altos de necessidades sociais, de status e de auto-realização se transformam em interesses dominantes.

Criticando essa teoria Lacombre e Heilborn (2006) destacam que:

As necessidades de cada pessoa variam no tempo, não só em função da satisfação, como também em função das alterações na hierarquia dos valores de cada um.

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necessidades básicas dos seres humanos até chegar as necessidades de auto-realização, os indicadores sociais surgem como elementos que agrupados constroem os vários conceitos de qualidade de vida.

Anteriormente a esta discussão Allardt (1975) apud Nussbaun; Sen (1993), no seu estudo construiu um modelo de aplicação focado na Escandinávia para caracterizar o bem-estar, onde três verbos definem o básico de uma vida humana:

TER – Refere-se as condições materiais necessárias a uma sobrevivência livre da miséria: Recursos Econômicos (medidos por renda e riqueza),

Condições de Habitação (medidas pelo espaço e conforto doméstico),

Emprego (medido pela ausência de desemprego), Condições Físicas de Trabalho (avaliado pelos ruídos nos postos de trabalho, rotina física e stress), Saúde (dores e doenças, acessibilidade de atendimento médico),

Educação ( medida por anos de escolaridade).

AMAR – Diz respeito à necessidade de se relacionar com outras pessoas e formar identidades sociais: União e contatos com a comunidade local, Relações com Familiares, Amizade, União e contatos com companheiros em associações e organizações, Relações com companheiros de trabalho

SER – Necessidade de integração com a sociedade e de harmonização com a natureza: Nível de participação de uma pessoa nas decisões e atividades coletivas que influenciam sua vida; Atividades Políticas; Obtenção de Tempo de Lazer; Oportunidades de construir uma vida profissional satisfatória, Oportunidade de estar em contato com a natureza.

Referências

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