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A política agrícola brasileira por um largo período de tempo teve como foco os latifúndios. Segundo Kageyama (1996) o processo de modernização conservadora, caracterizado pela integração entre agricultura e indústria e a formação de complexos agroindustriais, promove uma crescente marginalização dos pequenos agricultores familiares, reproduzindo um padrão de desenvolvimento rural bastante excludente e desigual.

De acordo com Cerqueira e Rocha (2002) o processo de modernização da agricultura brasileira constituído em bases latifundiárias gera no campo o aprofundamento das desigualdades sociais e o aumento da pobreza nas áreas rurais, com reflexos nos grandes centros urbanos.

O processo de abertura comercial, no início dos anos 90, aliado a integração da agricultura com a indústria nacional, coloca os produtos agrícolas brasileiros em condições de competição no mercado internacional, paralelamente a esses acontecimentos o crédito rural torna-se cada vez mais escasso, a inflação apresenta

Técnica e Extensão Rural (Embrater). Diante deste cenário de grandes proporções a importância dada à agricultura familiar torna-se proporcional ao tamanho de suas pequenas glebas.

Como toda ação precede uma reação, foi apenas uma questão de tempo para se iniciar o acirramento dos conflitos rurais e as reivindicações sociais, que levariam o governo a repensar a política agrícola e a reconhecer a importância dos produtores familiares.

O primeiro passo para consolidar as bases de apoio à agricultura familiar era conceituá-la com mais precisão, uma vez que a mesma era tratada de várias formas (pequena produção, produção familiar, produção de subsistência). Este problema foi resolvido por estudos realizados conjuntamente entre a FAO e o INCRA, que segundo Mattei (2001) definem com precisão conceitual a agricultura familiar, e estabelecem um conjunto de diretrizes para ajudar na formulação das políticas deste setor.

Assim em 1994, em meio a este ambiente social, político e econômico inicia-se o processo de mudanças na política agrícola no governo do presidente Itamar Franco com a criação do Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (PROVAP), que tinha como meta a concessão de crédito com taxas de juros mais acessíveis aos agricultores familiares.

No intuito de aprimorar este programa o governo seguinte, de Fernando Henrique Cardoso, reformula totalmente o PROVAP dando origem assim em 1996 ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, que vem de acordo com Mattei (2001), atender as exigências dos trabalhadores rurais, que colocavam como vital a formulação e implementação de políticas de desenvolvimento rural específicas para o segmento numericamente mais importante, porém mais fragilizado da agricultura brasileira, tanto em termos de capacidade técnica como de inserção nos mercados agropecuários. Desde então este programa apresenta-se como a principal política pública de apoio aos agricultores familiares.

O Pronaf se propõe a fortalecer a agricultura familiar como categoria social, mediante apoio financeiro (financiamento para custeio e atividades agrícolas), e à infra-estrutura social e econômica dos territórios rurais fortemente caracterizados pela agricultura familiar. Embora seja um programa de fortalecimento da agricultura familiar, a maior parte de seus esforços e resultados estiveram concentrados no crédito desde a sua criação.

Entretanto, cabe destacar que, nos três últimos anos, o governo federal passou a desenvolver novas ações, principalmente na área de comercialização (estoques, compras, garantia de preços mínimos), assistência técnica e extensão rural e seguro agrícola”

O Banco do Nordeste, principal agente na oferta de recursos do Pronaf na região Nordeste do Brasil, caracteriza como objetivo do programa:

“Fortalecer a agricultura familiar, mediante o financiamento da infra-estrutura de produção e de serviços agropecuários e atividades rurais não- agropecuárias3, com o emprego direto da força de trabalho do produtor rural e de sua família, objetivando a geração de ocupação e manutenção do homem e da mulher do campo”

2.6.1. Público-Alvo, Grupos e Linhas do Pronaf

De acordo com o Banco do Nordeste o público-alvo do Pronaf são empreendedores rurais que desenvolvam suas atividades agropecuárias e não- agropecuárias utilizando-se, basicamente, de mão-de-obra familiar. É composto de diversos Grupos (A, A/C, B, C, D, E), de acordo com a renda bruta anual obtida pelo produtor que pode variar de R$ 4.000,00 para o grupo B até R$ 110.000,00 para o grupo E.

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Entende-se por serviços, atividades ou renda não-agropecuárias aqueles relacionados ao turismo rural, à

produção artesanal, ao agronegócio familiar e à prestação de serviços no meio rural, que sejam compatíveis com a natureza da exploração rural e com o melhor emprego da mão-de-obra familiar

Ainda de acordo com o Banco do Nordeste o Pronaf também disponibiliza linhas de crédito para públicos e atividades específicas – Pronaf Mulher, Jovem, Agroindústria, Floresta, Agroecologia, Agrinf, Semi-árido.

Para esta dissertação é necessário um conhecimento mais específico das características e peculiaridades do Pronaf Grupo B, por ter sido esta a linha de crédito utilizada pelos integrantes da Comunidade Diamante, objeto de pesquisa deste trabalho.

Dentre as linhas oferecidas pelo Pronaf, a B é reconhecido como a linha de microcrédito rural, tem no seu público-alvo agricultores familiares, inclusive remanescentes de quilombos, trabalhadores rurais e indígenas que:

Explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário ou parceiro;

Residam na propriedade ou em local próximo;

Não disponham a qualquer título, de área superior a 4 módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor;

Obtenham renda familiar oriunda da exploração agropecuária ou não- agropecuária do estabelecimento;

Tenham o trabalho familiar como base na exploração do estabalecimento

Obtenham renda bruta anual familiar até R$ 4.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes de atividades rurais

Público Alvo Finalidade Crédito Juros Bônus de

Adimplência * Prazo e Carência Agricultores Familiares com renda anual familiar de até Financiamento das atividades agropecuárias ou não-agropecuárias e custeio para mamona R$ 4.000,00 ** limitado a R$ 1.500,00 por operação 0,5% ao ano 25% aplicado em cada parcela Prazo de até 2 anos com carência de até 1 ano

R$ 4.000,00

* O Produtor somente fará jus ao Bônus se pagar as parcelas do financiamento em dia ** Alcançado esse limite os novos financiamentos concedidos não terão bônus de adimplência Fonte: Banco do Nordeste

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