• Nenhum resultado encontrado

A importância médico-social das infecções hospitalares.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A importância médico-social das infecções hospitalares."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

A IMPORTÂNCIA MÉDICO-SOCIAL DAS INFECÇÕES HOSPITALARES*

Ur i el Z a n o n * * o Jaym e N e v e s* * *

A nalisa-se a in c id ê n c ia d e in fecções h o sp italares n o B ra s il e no s E stad os U n id o s , des tac a n ­ do-se a a lta le ta lid a d e das m esm as e m rela çã o a alg u m a s d o en ças transm issíveis clássicas. E xplica -s e a in cid ê n c ia elevad a e m países in d u s tria liz a d o s , não o b s ta n te to d a so fis tic a ç ão de in stalação e d e e q u ip a ­ m en to s , d istin g ü in d o -s e dois tip o s básicos d e do en ças infecciosas. A d m itin d o -s e q u e o d ese n v o lv im e n to s ó c io -e c o n ô m ic o p ro m o v e um a red u ç ã o s u b s ta n c ia l nas do enças d e o rig e m exô g ena sem c o n tu d o im p e ­ d ir o a u m e n to das do en ças d e o rig e m endó gen a. C ita-se u m a série d e evidências q u e d e m o n s tra m não t e r a e q u ip e de saúde s u b s titu íd o a in d a os seus ritu a is m ág icos de p r o fila x ia p o r m ed id a s a d m in is tra ­ tivas co eren tes, d erivadas d o c o n h e c im e n to c ie n tífic o p ro d u z id o a o lo ngo d o te m p o . C onclu i-se q u e esse processo h is tó ric o d e ra c io n a liz a ç ã o será, in e v ita v e lm e n te , re lu ta n te e le n to .

IN C ID Ê N C IA

A pesar da so fistica çã o de p la n ta fís ic a , de instalações e de e q u ip a m e n to s ; a d e sp e ito do progresso alca n ça d o nos ú ltim o s cin q ü e n ta anos nos cam pos da e ste riliza çã o , da desin- fe cçã o , da anti-sepsia e da assepsia, um n ú m e ro substancial de pacientes h o sp ita liza d o s a d q u ire infecções v in d o a m o rre r em conseqüência delas.

Os dados d is p o n fv e is revelam q u e e n tre 3 ,5 e 15,5% dos do e n te s in te rn a d o s em hos­ p ita is c o n tra e m infecções cuja le ta lid a d e va­ ria e n tre 13 e 17% 13 .

É possível e stim a r o n ú m e ro a n u a l de casos de infecções h ospitalares no Brasil e n tre 8 3 .0 0 0 e 9 1 1 .0 0 0 e o de ó b ito s , associados a essa co m p lic a ç ã o , e n tre 4 8 .0 0 0 e 1 5 6 .0 0 0 . T ra n s­

fo rm a n d o -s e o n ú m e ro de ó b ito s em c o e fi­ cie n te de m o rta lid a d e p o r cem m il h a b ita n te s, verifica-se que à m o rta lid a d e p o r infecção h o sp ita la r co rre sp o nd e um c o e fic ie n te sup e rio r ao da tu b e rc u lo s e , ao de acidentes p rovocados p o r v e íc u lo s a m o to r e ao da p o lio m ie lite , sendo in fe rio r apenas aos das ca rd io p a tia s, das e n te rite s e das n e o p la s ia s 1 1 .

A in fo rm a ç ã o d ivulgada p o r au to re s a m e ri­ canos c o n fig u ra um q u a d ro de m a io r gra vid a ­ de, náo o b s ta n te o re co n h e cid o p adrão té c n i­ co dos h o sp ita is dos Estados U nidos. A n u a l­ m e n te , cerca de d o is m ilh õ e s de pacientes — 1% da p o p u la çã o am ericana — a d q u ire m in ­ fecções hospitalares e, apenas uma de suas fo rm a s , a septicem ia p o r b actérias G ram nega­ tiva s entéricas, é responsável p o r 7 0 .0 0 0 ó b i­ to s , em com paração com 5 9 .0 0 0 provocados p o r v e íc u lo s a m o to r e 4 6 .0 0 0 devidos ao' câncer d o c ó lo n o u d o re to 1 .

T ra b a lh o a p re s e n ta d o n o F o ru m A ssistência M é d ic a e D o enças Transm issíveis n o B rasil — X V Congresso da So­ c ie d a d e B ra s ileira d e M e d ic in a T ro p ic a l — C am pinas, S P d e 4 a 8 d e fe v e re iro d e 1979.

* * P ro fe ss o r A d ju n t o d e M ic ro b io lo g ia C lin ic a d a U n iv e rs id a d e F e d e ra l F lu m in e n s e e D o u t o r e m M e d ic in a T ro p i­ c a l p e la U n iv e rs id a d e F e d e ra l d e M in a s Gerais.

P rofesso r T itu la r d e C lín ic a das D oenças In fec tu o sa s e Parasitárias d a F a c u ld a d e d e M e d ic in a da U niversidade d e M in a s Gerais.

(2)

T EN D Ê N CIA EM R E L A Ç Ã O A O D E S E N V O L ­ V IM E N T O S Ó C IO -E C O N Ô M IC O

Esses dados sugerem q u e , m esm o em p a í­ ses desenvolvidos, o c o n tro le das doenças infecciosas é apenas p a rc ia l o u se le tiv o . Apesar da m o rta lid a d e p o r doenças c o m o a c o q u e ­ lu ch e , a fe b re tifó id e , a d ifte r ia e o saram po, te r d im in u íd o em relação aos países em desen­ v o lv im e n to , re s p e ctiva m e n te de 3 0 0 , de 1 6 0 , de 100 e de 5 0 vezes3 , a o c o rrê n c ia de in ­ fecções u rin á ria s, de supurações pós-o p e ra tó - rias, de infecções b ro n c o p u lm o n a re s e de septicem ias é, c o m o vim o s , s ig n ific a tiv a .

T a l consta ta çã o a p a re n te m e n te está em desacordo c o m o p rin c íp io consagrado de que o c o n tro le de doenças infecciosas e para­ sitárias depende d o d e s e n v o lv im e n to sócio-eco- n ô m ic o . Essa c o n tra d iç ã o , to d a v ia , não subsiste ao exam e m ais p ro fu n d o das causas d o processo in fe ccio so .

Um a cuidadosa revisão da e tio lo g ia das doenças infecciosas revela a e xistê n cia de d o is grandes gru p o s co m pro p rie d a d e s d is tin ta s :

d o e n ç a s t r a n s m i s s í v e i s (de e tio lo g ia e sp e cífica ,

exógenas e endêm icas) e as n a o t r a n s m i s s í v e i s

(da e tio lo g ia in e s p e c ífic a , endógenas e e n d ê m i­ cas).

O p rim e iro g ru p o — doenças infecciosas transm issíveis — apresenta em c o m u m as seguintes p e cu lia rid a d e s:

(a) e tio lo g ia e sp e c ífic a , o u seja, u m q u a d ro a n á to m o -c lín ic o é causado p o r um ú n ic o e d e te rm in a d o agente, v íru s , b a c té ria , fu n g o , p ro to z o á rio o u h e lm in to ;

(b) o agente responsável não é n o rm a l­ m ente e n c o n tra d o e n tre aqueles q u e cons­ titu e m a flo ra m ic ro b ia n a n o rm a l d o hos­ p e d e iro ; a o rig e m d o processo é p o rta n to exógena;

(c) a tra n s m is s ib ilid a d e e a v iru lê n c ia do agente sáo fa to re s p re p o n d e ra n te s na in c i­ d ê n cia ;

(d) a in te rru p ç ã o das vias de transm issão da doença (m e d ia n te saneam ento básico e isolam ento) e a im u n iza çã o e sp e cífica c o n s ti­ tu e m os m eios de c o n tro le .

O segundo g ru p o — doenças infecciosas não tra n sm issíve is — caracteriza-se p o r a p re ­ sentar:

(a) e tio lo g ia não e sp e cífica , no s e n tid o de que as m anifestações c lín ic a s p o d e m ser p ro v o ­ cadas p o r d ife re n te s m icro rg a n ism o s, c o m o oco rre nas infecções u rin á ria s, nas supurações da fe rid a c irú rg ic a , nas p e rito n ite s , nas p n e u ­ m onias e tc .;

(b) o rig e m endógena, um a vez q u e os m i­ cro rg a n ism o s responsáveis são e n c o n tra d o s n o rm a lm e n te e n tre os da flo ra n o rm a l do h o s p e d e iro ;

(c) agentes de b a ix a tra n s m is s ib ilid a d e e p o u c o v iru le n to s , causando d oença apenas q u a n d o os m ecanism os de defesa d o h o sp e d e iro apresentam d e ficiê n cia s q u e lhes p e rm ita m in v a ­ d ir os te c id o s s u b e p ite lia is e m u ltip lic a r-s e li­ v re m e n te ;

(d) os m é to d o s sa n itá rio s clássicos (sa­ n e a m e n to básico, is o la m e n to e im u n iz a ç ã o e sp e cífica ) não são adequados para o seu c o n tro le .

O d e s e n v o lv im e n to s ó c io -e c o n ô m ic o d im i­ n u i su b sta n cia lm e n te a in c id ê n c ia de doenças in fe ccio sa s tra n sm issíve is (c o q u e lu ch e , fe b re tifó id e , d ifte r ia , saram po, tu b e rc u lo s e e o u ­ tras) e, co n se q ü e n te m e n te , p ro m o v e a re d u çã o das ta x a s de m o rta lid a d e in fa n til e o a u m e n to da esperança de vida.

Isso sig n ifica m a io r p ro p o rç ã o de in d iv íd u o s susceptíveis (velhos e crianças) na p o p u la ç ã o . Por o u tr o la d o , "a e xistê n cia de p ro d u ç ã o exce d e n te às necessidades p rim á ria s da socie­ d a d e " eleva q u a n tita tiv a e q u a lita tiv a m e n te a o fe rta de recursos m é d ico -h o sp ita la re s, de sorte a p e rm itir m a io r sobrevida de in d iv íd u o s e x tre ­ m a m e n te susceptíveis às infecções endógenas

(p o rta d o re s de d e fe ito s im u n o ló g ic o s , de d o e n ­ ças degenerativas crô n ica s, de neoplasias e tc .), que te n d e m a a u m e n ta r de fre q ü ê n c ia .

E m sua grande m a io ria , as infecções a d q u i­ ridas p o r pacientes h o s p ita liz a d o s pertencem ao segundo g ru p o e d e c o rre m da depressão dos m ecanism os de defesa d o h o sp e d e iro d e v id o , o u à d oença responsável pela in te rn a ç ã o , ou aos p ro c e d im e n to s d ia g n ó stico s e te ra p ê u tic o s a que o p a cie n te fo r s u b m e tid o no h o sp ita l. L o g o , q u a n to m ais grave f o r a doença básica e m ais agressivos fo re m os m é to d o s dé diagnós­ tic o e de tr a ta m e n to , m a io r será o risco de

co m p lica çõ e s infecciosas para o p a cie n te .

A ssim , a lta s ta x a s de in fe cçã o h o sp ita la r não s ig n ific a m necessariam ente m á q u alidade de assistência m édica, p o d e n d o tra d u z ir ape­ nas a p re d o m in â n c ia de pacie ntes e x tre m a ­ m e n te susceptíveis na c lie n te la . E m p rin c ip io , q u a n to m e lh o r f o r o h o s p ita l, m ais graves serão os pacie ntes nele in te rn a d o s , d a í p o r­ q u e , são ingênuas as declarações q u a n to á

não o c o rrê n c ia de infecções nosocom iais

(3)

Janeiro-Junho, 1981

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

121

O B J E TIV O S P R IO R IT Á R IO S P A R A O C O N ­ T R O L E DE IN F E C Ç Õ E S H O S P IT A L A R E S

O c o n h e c im e n to o b tid o através de n u m e ­ rosos tra b a lh o s e x p e rim e n ta is sobre a epide- m io lo g ia das in fe cçõ e s hospitalares de re le ­ vante v a lo r c ie n tffic o a in d a não s u b s titu iu a m a ioria dos ritu a is m ágicos de p ro fila x ia da e q u ip e de saúde.

A s in fe cçõ e s de o rig e m cirú rg ic a represen­ tam e n tre 17 e 30% de to d a s as infecções hospitalares e o risco de a d q u iri-la s varia e n tre 2,3 e 4 ,7 p o r cem pacientes.

Esse risco depende da idade e d o estado c lfn ic o d o p a cie n te a ser o p e ra d o , da q u a li­ dade da té c n ic a c irú rg ic a , d o p o te n c ia l de c o n ta m in a ç ã o da fe rid a o p e ra tó ria e dos pa­ drões de e ste riliza çã o , de a n ti-s e p s ia ' e de assepsia da in s titu iç ã o 1 4 .

A o c o n trá rio da im pressão d o m in a n te , está s u fic ie n te m e n te p ro v a d o q u e os m ic ro r- ganism os presentes no a r nao são um a fo n te sig n ific a n te de in fe cçõ e s ta n to no c e n tro c i­ rú rg ic o q u a n to em e n fe rm a ria s. A in d a q u e a lite ra tu ra esteja re p le ta de re fe rê n cia s sobre a capacidade d o s sistem as de v e n tila çã o (co n ­ v e n c io n a l o u la m in a r) em re d u z ir o n ú m e ro de b a cté ria s d o a m b ie n te não e xiste evidência de q u e essa redução possa p ro m o v e r um a d im in u iç ã o e q u iv a le n te na in cid ê n cia de in ­ fecções da fe rid a o u da cavidade o p e ra d a 1 4 . E x is te , sim , um e stu d o c o m p a ra tiv o , m u ito bem c o n d u z id o , sobre infecções em duas salas cirú rg ic a s , d e m o n s tra n d o que na sala o n d e a c o n ta m in a ç ã o d o ar era q u a tro a o ito vezes m a io r a in cid ê n cia de supurações era m e n o r 9 .

A s infecções u rin á ria s c o n s titu e m e n tre 15 e 44% d o to ta l de infecções a d q u irid a s no h o s p ita l e o risco de c o n tra f-la s varia e n tre 1 ,9 e 4 ,8 p o r cem pacientes. A ceita-se, sem c o n tro v é rs ia , q u e a in cid ê n cia de in fe cçã o u rin á ria é d ire ta m e n te p ro p o rc io n a l à fr e ­ qüência de ca te te riza çã o vesical e de cistos- co p ia s 15 .

E m 1 9 2 8 , D ukes d e m o n s tro u q u e o e m ­ prego de sistem as c o le to re s de u rin a fe ch a d o s é essencial para a prevenção de infecções u rin á ria s em pacientes ca te te riza d o s. T odavia esses sistem as s o m e n te com eçaram a ser u t i li­ zados nos E U A em 1 9 6 0 e ainda não o são na m a io ria a b so lu ta d o s h ospitais b ra sile iro s.

D e vid o a co n d içõ e s inerentes ao p ró p rio pacie n te e /o u aos m é to d o s d ia g n ó stico s e te ra p ê u tic o s , as infecções b ro n c o p u lm o n a re s o cu p a m o te rc e iro lugar na in cid ê n cia das

infecções h ospitalares (0 ,5 a 5,0 p o r cem pacientes) va ria n d o e n tre 1 4 e 22% d o to ta l dessas infecções 1 3 .

E n tre cs p ro c e d im e n to s h ospitalares que p re d isp õ e m a infecções b ro n c o p u lm o n a re s incluem -se a assistência v e n tila tó ria (com o u sem tra q u e o s to m ia ) e a anestesia 13 . E n tre ­ ta n to o re c o n h e c im e n to e fe tiv o desse risco, bem co m o da necessidade de desinfecção dos e q u ip a m e n to s de aspiração, de respiração assistida, de n e b u liza çã o e de anestesia, data de p o u c o te m p o .

A s septicem ias hospitalares c o n s titu e m 7% d o to ta l de in fe cçõ e s n o so co m ia is e o risco de c o n tra í-la s varia e n tre 0,1 e 1,0 p o r cem pacie ntes. E n tre as causas hospitalares de septicem ia incluem -se ciru rg ia s , cateterização venosa, c o n ta m in a ç ã o de m e d ica m e n to s a p li­ cados p o r via venosa (sangue, plasma e so lu ­ ções parenterais) e a a d m in is tra ç ã o não c o n tro ­ lada de c ito s tá tic o s , c o rtic ó id e s e a n tib ió t i­ cos 13 .

C o n s titu i m o tiv o de justa preocupação a o c o rrê n c ia , re la tiv a m e n te fre q ü e n te , de m e d i­ ca m e n to s a p lica d o s p o r via venosa, c o n ta m i­ nados. A c o n ta m in a ç ã o de soluções p a re n te ­ rais fo i o fic ia lm e n te re conhecida nos E U A em 1 9 7 1 , q u a n d o as a u to rid a d e s federais d aq u e le p a ís re tira ra m d o m ercado soros p ro d u z id o s p o r d e te rm in a d o la b o ra tó rio . No B rasil, há d o is anos, fo i d ivulgada pela Secre­ ta ria de Saúde da cidade d o R io de J a n e iro a c o n ta m in a ç ã o de soros p ro d u z id o s p o r la b o ­ ra tó rio b ra s ile iro 13 . O mais grave p orém é q u e , após um s u rto de septicem ia p o r plas­ ma c o n ta m in a d o , o c o rrid o em h o sp ita l do R io de J a n e iro , e m in e n te h e m o te ra p e u ta pa­ t r íc i o a firm o u : "N ã o e xiste no m u n d o o c i­ d e n ta l legislação q u e d e te rm in e a realização de testes de e ste rilid a d e em a m ostras de san­ gue o u de plasm a h u m a n o ".

Há nove anos, K a llin g s 5 , C hefe d o Labo­ r a tó rio N a c io n a l de B a cte rio lo g ia da Suécia, d e c la ro u : "P arece-m e irra c io n a l te n ta r evi­ ta r infecções h ospitalares p o r um a variedade de m é to d o s caros e co m p lic a d o s e d e ixa r que e s ta filo c o c o s , pseudom onas, klebsiellas o u o u tro s m icro rg a n ism o s, veiculados em p ro d u to s fa rm a c ê u tic o s , in fe c te m pacientes h o s p ita liz a d o s ".

(4)

C o n tro la r a p rescrição de a n tim ic ro b ia n o s é, e n tre ta n to , e x tre m a m e n te d i f íc i l , p o is a p ro ­ paganda c o m e rc ia l e a lite ra tu ra p s e u d o c ie n tí- fic a p ro d u z id a pela in d ú s tria gera h á b ito s que d ific u lta m to d a s as m edidas q u e possam re ­ su lta r na m e lh o r adequação desses agentes te ra p ê u tic o s 8 .

A u to re s a m e rica n o s e stim a m que 65% dos pacie ntes h o s p ita liz a d o s nos E U A recebem a n tim ic ro b ia n o s desnecessariam ente 8 e que, pelo m enos, 22% das prescrições são q u e s tio ­ náveis no q u e se re fe re à escolha e à dose des­ ses m e d ica m e n to s 6 . N o B rasil, a p ro p o rç ã o de pacientes em uso de a n tim ic ro b ia n o s varia e n tre 2 8 a 46% dos pacientes in te rn a d o s e a prescrição em ca rá te r p ro f ilá tic o e n tre 8 e 35% . N o H o s p ita l de Ipanem a — IN A M P S —, R io de J a n e iro , o n d e se conseguiu um a re d u çã o subs­ ta n c ia l no co n su m o desses m e d ica m e n to s, 5 4,6% dos pacie ntes s u b m e tid o s a a n tib io tic o - te ra p ia re cebem m ais de um a d ro g a , ao passo que em h o sp ita is a m ericanos essa p ro p o rç ã o não ultrapassa a 1 6 ,7 % 1 3 .

Segundo a C oordenação de Farma'cia e T e ­ ra p ê u tica d o In s titu to N a c io n a l de A ssistência M édica da P revidência S ocial (IN A M P S ), os a n ­ tim ic ro b ia n o s são os m e d ica m e n to s mais receitados na rede a m b u la to ria l, alcançando 22,5% d o to ta l de to d o s os m e d ica m e n to s.

A resistência a alg uns a n tim ic ro b ia n o s é s ig n ific a n te m e n te m ais a lta no Brasil d o que nos E U A 13 . P alm eira 7 , e stu d a n d o a resis­ tência in fecciosa em cepas h ospitalares e ex- tra -h o sp ita la re s, d e m o n s tro u a presença de fa to re s de resistência tra n s fe rfv e l em 9 0,4% das p rim e ira s e em 5 2 ,9 % das ú ltim a s . O m o d e ­ lo de resistência p re d o m in a n te fo i sulfa -h e ta - c ilin a -a m p ic ilin a . Esses re su lta d o s são sem e­ lhantes aos o b tid o s em São P aulo p o r T ra b u ls i e co la b o ra d o re s, "p o d e n d o -s e a firm a r q u e o uso in d is c rim in a d o de a n tim ic ro b ia n o s vem sele cionando nos ú ltim o s anos to d a um a p o p u ­

lação de bacté ria s resistentes q u e estão to m a n ­ do o lugar das sensíveis na grande m a io ria dos processos in fe ccio so s com as coonseqüentes d ific u ld a d e s para o tra ta m e n to c lín ic o " 1 6 .

R e ce n te m e n te , B lo c k , K a y e S erebro 2 cha­ m aram a tenção para os riscos de dissem inação in te rn a c io n a l de cepas m u Iti-re siste n te s aos a n tim ic ro b ia n o s . Esses au to re s tra ta ra m em Joanesburgo d o is pacientes, um o p e ra d o em São Paulo com in fe cçã o cirú rg ic a p o r E s c h e r i -c h i a c o / i resistente a a m p ic ilin a , c a rb e n ic ilin a ,

c e fa lo tin a , e s tre p to m ic in a , g e n ta m ic in a , kana- m ic in a , to b ra m ic in a , a m ik a c in a e c lo ra n fe n ic o l, o u tro , o p e ra d o em T e l A v iv com in fe cçã o c i­

rú rg ica p o r P r o v i d e n t i a s t u a r t i i resistente a

to d o s os a n tim ic ro b ia n o s de uso c lín ic o , e x c e to a c e fo to x in a . Os a u to re s e n fa tiz a ra m a necessi­ dade de precauções a n ív e l lo c a l, re g io n a l, n a cio n a l e in te rn a c io n a l, a f im de e v ita r a d is ­ sem inação de fa to re s de resistência tra n s m is s í­ vel.

E m b o ra se saiba, há m ais de v in te anos, que infecções h ospitalares p o r P s e u d o m o n a s , K l e -b s i e l l a , E n t e r o -b a c t e r e S e r r a t i a são fre q ü e n te ­

m e n te provocadas pela c o n ta m in a ç ã o de d e sin ­ fe ta n te s e a n tissé p tico s, p rin c ip a lm e n te q u a n d o fo rm u la d o s co m q u a te rn á rio s de a m ô n io , não te m sido dada ao p ro b le m a a devida ate n çã o . Há cerca de q u a tro anos, tra b a lh o p u b lic a d o na R evista da D ivisão N a c io n a l de T u b e rc u ­ lose 10 assinalou, sem co n te sta çã o p o s te rio r, q u e a m a io ria dos p ro d u to s d is p o n ív

uso h o s p ita la r não obedecia às concentrações

g e rm icida s m ín im a s recom endadas pelos espe­ cialistas nesse ca m p o , e que a d e fic ie n te ação desses p ro d u to s d e c o rria ju s ta m e n te da d ilu i­ ção de seus agentes g e rm icida s. O tra b a lh o c ita ­ d o ch a m o u a te n çã o para o fa to de que as e m ­ presas o m itia m no ró tu lo a co m p o siçã o q u a n ti­ ta tiv a de seus p ro d u to s , em desobediência à lei. P a ra d o xa lm e n te , o q u e o c o rre u fo i a re d u çã o na

c o n ce n tra çã o de algum as preparações que

haviam sido consideradas adequadas. Esse

fa to levou o IN A M P S a c ria r no rm a s visando "g a ra n tir a a q u isiçã o de p ro d u to s com a tiv i­ dade a n tim ic ro b ia n a q u e não sejam passíveis de se c o n ta m in a re m e v e icu la re m in fe c ç õ e s " (O rdem de S erviço IN A M P S /S M S 44.1 de 30 de o u tu b ro de 1 9 7 8 ).

E m 1 8 9 6 , P lácido Barbosa escreveu: "a d o u trin a m ic ro b io ló g ic a não é, c o m o m u ito s c o n sid e ra m , um a coisa b o n ita que os sábios in ­ v e n ta ra m para a d o rn a r a lite ra tu ra m é d ic a ".

D e co rrid o s o ite n ta anos, constata-se que 70% dos h ospitais b ra s ile iro s não possuem la b o ra ­ tó r io de b a c te rio lo g ia 1 3 .

N O V A A B O R D A G E M P A R A U M P R O B L E M A A N T IG O

(5)

Janeiro-Junho, 1981

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

123

d o , m e d ia n te atos a d m in is tra tiv o s coerentes e o p o rtu n o s . I m p l i c a , p o i s , e m p r o m o v e r u m a

n o v a a t i t u d e m e n t a l .

G reene 4 a firm o u que os resu lta d o s de um a c rite rio sa avaliação e p id e m io ló g ic a g e ra lm e n te m erecem m u ito m enos c o n fia n ç a da eq u ip e de saúde d o q u e as fa n ta sia s criadas para ju s tific a r a in cid ê n cia de infecções e suas causas. Esta nunca é um a p ro b a b ilid a d e , mas u m erro pessoal grave, d e c o rre n te da qu e b ra d o ritu a l m ágico ce lebrado d ia ria m e n te no h o s p ita l. D a í p o rq u e , c o n tin u a G reene, a e q u ip e de saúde p re fe re c ria r fa n ta sia s e analisar o b je ti­ vam ente dados n u m é ric o s q u e possam escla­ recer as causas das in fe cçõ e s. Essas fantasias in clu e m p e rió d ica s e obsessivas preocupações com o a r, as s u p e rfíc ie s , as roupas, a flo ra nasal das e n fe rm e ira s, além de um a ilim ita d a c o n fia n ç a na "c o b e rtu ra a n tib ió tic a " . A s fa n ­ tasias da e q u ip e de saúde na m a io ria das vezes não tê m co rre la çã o co m a re a lidade e p id e m io ­ lógica, mas d e c o rre m de u m processo h is tó ric o cuja ra cio n a liza çã o será, in e v ita v e lm e n te , re lu ­ ta n te e le n ta .

S U M M A R Y

T h e p a p e r a n a l i s e s t h e i n c i d e n c e o f n o s o

-c o m i a l i n f e c t i o n s i n B r a z i l a n d i n t h e U n i t e d

S t a t e s o f A m e r i c a , e m p h a s i z i n g i t s l e t a l i t y r a t e

w h e n c o m p a i r e d w i t h s o m e c l a s s i c c o m m u n i c a

-b l e d i s e a s e s . T h e p a p e r a l s o e x p i a i n s t h e h i g h

i n c i d e n c e o f n o s o c o m i a l i n f e c t i o n s i n i n d u s t r i a

-l i z e d c o u n t r i e s , i n s p i t e o f a -l i t h e s o p h i s t i c a t i o n

of i n s t a l l a t i o n s a n d e q u i p m e n t s . I t i s p o i n t e d

o u t t h a t s o c i a l a n d e c o n o m i c d e v e l o p m e n t s a r e

a b l e t o p r o d u c e a s u b s t a n t i a l d e c r e a s e i n t h e

o r i g i n o f e x o g e n o u s d i s e a s e s w i t h o u t i m p e d i n g

t h e i n c r e a s i n g o f t h e e n d o g e n o u s o n e s . S o m e

e v i d e n c e s a r e s h o w n t o d e m o n s t r a t e t h e d i f f i

-c u l t y w i t h t h e h e a l t h p e r s o n a l s u b s t i t u t e t h e

m a g i c r i t u a i s o f p r o p h y l a x i s b y c o h e r e n t

a d m i n i s t r a t i v e p r o c e e d i n g s d e r i v e d f r o m t h e

s c i e n t i f i c k n o w l e d g e . I t i s c o n c l u d e d t h a t t h i s

h i s t o r i e p r o c e s s o f r a t i o n a l i z a t i o n w i l l i n e v i t a

-b l y -b e r e l u e t a n t a n d s l o w .

R E F E R Ê N CIA S B IB L IO G R Á F IC A S

1. A L E X A N D E R , J.W . N o s o c o m ia l in fe c tio n s . Y ear B o o k , C hicago, 1 9 7 4 .

2 . B L O C K , C.S .; K A Y , L.C .S. & S E R E B R O , H .A . In te rc o n tin e n ta l N o s o c o m ia l In

-fe c tio n s . Lancet, septem ber 9 : 5 8 4 ,

1 9 7 8 .

3. C O C K B U R N , W .C. & A S S A D, F. S om e o b se rv a tio n o n th e c o m m u n ic a b le disea- se as p u p lic he a lth p roblem s. B u l i . W H 0 4 9 :1 - 2 , 1974.

4. G R E E N E , V .W . S u rg e ry, s te riliz a tio n and s te r ility , in G A U G H R A N , E .R .L . & H E R E L U C K , K . S te riliz a tio n o f M edicai P ro d u cts. J o h n s o n & J o h n s o n , N e w J e r s e y , 1 9 7 7 .

5. K A L L IN G S , L .O — C o n ta m in a tio n o f th e ra p e u tic agents, in P roc. I n t e r . C o n f . N o s o c . I n f e c t . , A t l a n t a , 1970.

6. K U N IN , C .M . Use o f a n tib io te s : a b rie f e x p o s itio n o f th e p ro b le m and some te n ta tiv e s o lu tio n s . A n n . I n t e r n . M e d . 7 9 : 5 5 5 -5 6 1 ,1 9 7 3 .

7 . P A L M E IR A , M .L . Resistência infecciosa a droga em e n te ro b a cté ria s no Brasil. Es­ tu d o c o m p a ra tiv o da o co rrê n cia de fa ­ to re s R em am o stra s de o rig e m h o sp ita ­ lar e e x tra h o s p ita la r. Tese de Docência L iv re em M ic ro b io lo g ia U F F . R io de J a n e iro , 1 9 7 5 .

8. R O B E R T S , A .W & V IS C O N T I, J .A . T h e ra tio n a l and irra tio n a l use o f syste m ic a n tim ic ro b ia l d rugs. A m . J . H o s p . P h a r . 2 9 . 8 2 8 -8 3 4 ,1 9 7 2 .

9 . S E R O P IA N , R. & R E IN O L D S , B.N . T he im p o rta n c e o f a irb o n e c o n ta m in a tio n as a fa c to r in p o s to p e ra tiv e w o u n d in fe c tio n . A r c h . S u r g . 9 8 : 6 5 4 -6 6 1 ,

1 9 6 9 .

10. Z A N O N , U. In fe c ta n te s o u desinfetantes h o sp ita la re s. R e v . D i v . N a c . T u b e r c . 1 9 (7 4 ): 1 0 5 -1 1 7 , 1 9 7 5 .

11. Z A N O N , U .; A G U IA R , N .; B L E Y , J .L .; G E N T IL E DE M E L L O , C. & G E R B A S - S l C O S T A , B. C o n tro le de infecções hospitalares. R e v . P a u l . H o s p . 2 3 (8):

3 5 1 -3 6 0 ,1 9 7 6 .

(6)

sobre alguns in d ica d o re s hospitalares.

B o i . O f . S a n i t . P a n a m . 8 5 (1 ): 4 9 -5 3 ,

1978.

13. Z A N O N , U. V ig ilâ n c ia e p id e m io ló g ic a das infecções hospitalares. Tese de d o u to ra ­ m e n to apresentada ao C olegiado d o C u r­ so de P ós-G raduaçâo em M e d icin a T r o ­ p ica l da U nive rsid a d e F ederal de M inas Gerais. Belo H o riz o n te , 1978.

14. Z A N O N , U .; A G UIA R , N .; R IB E IR O , M .A .C .L .; C U R I, P .R .; P A D O V A N I,

C .R . & B L E Y , J .L . R eflexões sobre a in c id ê n c ia de in fe cçõ e s cirú rg ica s.

R e v . B r a s . C i r u r . 6 8 : 2 6 1 -2 6 8 , 1 9 7 8 .

15. Z A N O N , U .; A G U IA R , N .; R IB E IR O , M .A .C .L ., C U R I, P .R .; & P A D O V A N I, C .R . Infecções u rin á ria s , e p id e m io lo g ia e c o n tro le . R e v . B r a s . C i r u r g . 6 9 :1 7-22,

1 9 7 9 .

16. Z U L I A N I, M .E . H is tó ric o e Im p o rtâ n c ia da R B T no B rasil. A t u a l . M e d . ( S u p l . )

Referências

Documentos relacionados

4" , A estrutura curricular do Curso emana da Coordenação de Pedagogia, integrada aos objetivos, finalidade e princípios metodológicos do Programa de Formação

O descomissionamento de um campo offshore não é simples porque é preciso realizar diversas operações com risco de impacto ambiental e social como o abandono definitivo de todos

Para uma transação em que a mercadoria foi entregue em um endereço comercial, prova de que a mercadoria foi entregue e que, no momento da entrega, o titular do cartão

Percebe-se, desse modo, a importância de se realizar um juízo de ponderação81 entre o princípio da segurança jurídica e outros valores previstos constitucionalmente, tendose em vista

Isto significa que o uso da mistura solo-fibra tratada melhora a estabilidade mecânica do solo e que o polímero utilizado para o tratamento superficial das fibras de

VENDEDOR: ADILSON MANDONI TOBIAS BARBOSA FAZENDA JATIUCA - SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SP.. LOTE 62 – 01 VACA

Esse trabalho trata de uma experiência de análise narrativa de um morador de uma comunidade carente, na cidade de Salvador, Bahia, Brasil, sobre o comer em

A atividade proposta, fruto de duas lives apresentadas pelo instagram do Ifes/ VV intitulada "Conexão Ifes", representa uma parceria entre o Instituto