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O jogo mancala como instrumento de ampliação da compreensão das dificuldades de atenção

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Academic year: 2021

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(1)11. DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA. O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia, sob a orientação da Prof.ª Drª Claudia Broetto Rossetti.. CAPES UFES, Vitória, Junho de 2006.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA. O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO. Daniela Dadalto Ambrozine Missawa. CAPES Vitória 2006.

(3) O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO. DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA. Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia. Aprovada em 17/07/2006, por:. ______________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Claudia Broetto Rossetti – Orientadora - UFES. ______________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP. ______________________________________________________________ Prof. Dr. Sávio Silveira de Queiroz - UFES.

(4) AGRADECIMENTOS. À Deus, em primeiro lugar, pois é o Autor da minha vida, que me dá forças para continuar a caminhar; À minha mãe, Angelina, pelo esforço e dedicação durante todos esses anos para me dar condições de poder chegar até aqui; Aos meus avós pelo exemplo de honestidade, honradez e luta na conquista dos seus ideais; À Pedro, meu querido, pelo incentivo, amor, pela presença nos momentos de fragilidade e por ter participado ativamente na conclusão desse trabalho; À Marilda e Mere pelas orações e pelo cuidado comigo e com o Pedro; À Claudia, minha orientadora, pela paciência e dedicação com que orientou os meus passos até aqui; À Carol e Miriam pelo apoio na coleta e tabulação dos dados; À CAPES pelo incentivo financeiro, por meio de bolsa, fornecido no primeiro ano de participação no PPGP – UFES. Não há aqui espaço suficiente para falar de todas as pessoas que contribuíram e ainda contribuem para o meu crescimento pessoal e profissional. Gostaria de deixar então um agradecimento a todos que fizeram e fazem parte da minha vida e dizer que serei eternamente grata a todos que um dia importou-se com o meu bem-estar e com a minha formação enquanto pessoa..

(5) RESUMO As dificuldades de atenção constituem um tema largamente estudado no decorrer da História. Essas dificuldades têm recebido denominações como: Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA). Torna-se relevante a produção de conhecimento acerca dessas dificuldades no campo da Psicologia, pois grande parte do que foi produzido encontra-se relacionado às bases biológicas desse fenômeno. É importante analisar o papel dos jogos de regras como recursos que auxiliem na avaliação e intervenção dessas dificuldades. O objetivo deste trabalho é pesquisar a possibilidade de utilização de um jogo de regras como instrumento de observação dessas dificuldades, por meio do estudo comparativo do desempenho no jogo Mancala de crianças com e sem dificuldades de atenção. Participaram desse estudo quatro crianças, entre nove e 11 anos (três meninos e uma menina), três crianças estavam cursando a 4ª série e uma a 3ª série do Ensino Fundamental à época em que ocorreu a pesquisa. A escolha foi realizada por indicação de uma das professoras das crianças, sem determinação de gênero. Foram aplicadas: Escala de TDAH – versão para professores e Tabela de Diagnóstico de TDAH- versão para pais. Foram escolhidos nomes fictícios para os participantes e estes foram divididos em dois grupos: Grupo A (André e Antônio) – apresentavam traços de dificuldade de atenção, e não estavam tomando medicamento específico e Grupo B (Beatriz e Bruno) – não apresentavam traços dessa dificuldade. O jogo Mancala foi utilizado como instrumento para coleta dos dados. Estes foram coletados por meio de dez oficinas (50 partidas) que ocorreram na escola. Cada sujeito jogou 20 partidas (5 partidas por oficina). Após as oficinas quatro situações-problema foram apresentadas para cada criança separadamente. Os dados obtidos foram assim analisados: desempenho no decorrer das oficinas (vitórias) e condutas de desatenção às regras do jogo. Considerou-se conduta de desatenção: a) não jogar novamente quando a última semente da distribuição caía no oásis (CDT -1) e b) não capturar as sementes do jogador adversário quando a última semente da distribuição caía em uma cavidade vazia (CDT - 2). Essas condutas são prejudiciais para que o objetivo do jogo (armazenar o maior número de sementes no oásis) seja atingido. Os resultados obtidos apontam para o fato de que há um prejuízo quanto ao desempenho nas partidas dos sujeitos do Grupo B quando comparados aos sujeitos do Grupo A, contrariando a hipótese inicial. Com relação às CDT-1 e CDT-2 as crianças do Grupo A (com dificuldades de atenção) apresentaram um número maior das mesmas quando comparadas às crianças do Grupo B (sem dificuldades de atenção). Em seguida os dados foram confrontados com alguns aspectos da teoria de Piaget, com a questão dos processos de equilibração e a função do erro. Os resultados encontrados permitem a ampliação das discussões acerca do TDAH e a relativização das limitações que as crianças com tais traços possuem.. Palavras-chave: Dificuldade de atenção, TDAH, jogos de regras, Mancala, infância, Piaget.

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(7) ABSTRACT The difficulties to focus attention are a theme greatly studied along history. These difficulties have been named: Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), Attention Deficit Disorder (ADD). It is relevant to generate knowledge about these difficulties in the Psychology field because great part of the studies is related to the biological facts of this phenomenon. It is relevant to analyze the role of rule games as a resource to help the evaluation and interference of theses difficulties. The objective of this work is to research the possibility of the use of a rule game as an observation instrument through a comparative study of the performance of children with or without attention disorder, in the Mancala board game. Four children, raging from nine to eleven years old, took part in the study (three boys and one girl). Three children were in the 4th and one in the 3rd grade of elementary school when the research took place. The choice was made by one of the class teacher regardless of gender. It was applied in the scale of ADHD – version for teachers and Table for diagnoses of ADD- version for parents. Ficticious names were choosed to the participants and they were split into two groups: Group A - André and Antônio who showed some signs of attention deficit, but not taking specific medication and Group B- Beatriz and Bruno who didn’t show any sign of deficit. The game Mancala used as an instrument to collect data which were gathered through 10 workshops (50 matches) and took place at the children’s own school. Each individual played 20 matches (five in each workshop). After the workshops four problem-situations were presented for each child separately. The data collected were analyzed: the performance along the workshop (winning) and lack of attention behavior to the rules of the game. The following were considered non-attention behavior: a) not playing again when the last seed of the distribution falls on the oasis (NAB-1), and b) not capturing the seed of the opponent when the last seed of the distribution falls in the in an empty hole (CDT-2). These behaviors are harmful for the goal of the game (gather the greatest number of seed in the oasis) is achieved. The results gained points to the fact that there is a loss concerning the performance of the individuals of Group B when compared the performance of the individuals of Group A, going against the initial hypotheses. In relation to CDT-1 and CDT-2 the children from Group A(with deficit of attention) have shown a greater number compared to the children from Group B (without deficit of attention). Than the data was checked against some aspects of Piaget’s Theory concerning the process of balancing and the function of the error. The results found allow broader discussing about ADHA and related limitation the children, with these traces, have. Key-words: Deficit of attention, ADHD, rule games, Mancala, childhood, Piaget..

(8) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante ................60 Gráfico 2 - Desempenho do participante André (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................62 Gráfico 3 - Desempenho do participante Antônio (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................63 Gráfico 4 - Desempenho do participante Bruno (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................65 Gráfico 5 - Desempenho da participante Beatriz (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................67 Gráfico 6 - Vitórias, derrotas e empates dos Grupos A e B.......................................69 Gráfico 7 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante .....................71 Gráfico 8 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. .............................74 Gráfico 9 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. ....................75 Gráfico 10 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. ...........................77 Gráfico 11 – Número de questões corretas e incorretas por sujeito..........................81.

(9) LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) ..............................................................................................23 Quadro 2 - História de Pedro – Forma de Explicação do TDAH para Crianças .......26 Quadro 3 - Resumo do Desenvolvimento Cognitivo e Afetivo......Erro! Indicador não definido. Quadro 4 - Divisão dos Participantes por Grupos .....................................................51 Quadro 5 - Percentis de cada participante na escala de TDAH – Versão para Professores ...............................................................................................................55 Quadro 6 - Etapas da Coleta de Dados ....................................................................56 Quadro 7 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante ................59 Quadro 8 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante....................72 Quadro 9 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. ............................73 Quadro 10 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. .................75 Quadro 11 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. ..........................76 Quadro 12 - Questões corretas e incorretas de cada indivíduo nas situaçõesproblema ...................................................................................................................79 Quadro 13 – Número de questões corretas e incorretas por sujeitos nas situaçõesproblema ...................................................................................................................80 Quadro 14 - Situação-problema I ..............................................................................81 Quadro 15 - Situação-problema II .............................................................................82 Quadro 16 - Situação-problema III ............................................................................83 Quadro 17 - Situação-problema IV............................................................................85 Quadro 18 – Número de questões corretas e incorretas dos grupos A e B ..............87.

(10) LISTA DE SIGLAS TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade DDA – Distúrbio do Déficit de Atenção CID-10 - Classificação Internacional de Doenças DSM-IV - Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais CDT-1 – Conduta de Desatenção Tipo 1 CDT-2 – Conduta de Desatenção Tipo 2 FG – Freqüência Geral.

(11) SUMÁRIO. 1.. APRESENTAÇÃO .............................................................................................12. 2.. O CONCEITO DE ATENÇÃO............................................................................15. 3.. DIFICULDADES DE ATENÇÃO NO CONTEXTO ATUAL................................18. 3.1. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO TDAH............................................20 3.2. ALTERNATIVAS TRADICIONAIS PARA O TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM TDAH ...............................................................................................................27 3.3. O TDAH E A SOCIEDADE.................................................................................30 4.. TEORIA PIAGETIANA, COGNIÇÃO E JOGOS DE REGRAS..........................33. 4.1. CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER PIAGET .......................................33 4.2. O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO NA TEORIA PIAGETIANA ...................41 4.3. O JOGO MANCALA, A ATENÇÃO E A CONCENTRAÇÃO ..............................44 5.. POSIÇÃO DO PROBLEMA...............................................................................48. 5.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................48 5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..............................................................................48 6.. MÉTODO ...........................................................................................................50. 6.1. 6.2. 6.3. 6.4.. PARTICIPANTES...............................................................................................50 INSTRUMENTOS ..............................................................................................51 PROCEDIMENTOS ...........................................................................................53 AVALIAÇÃO ÉTICA DE RISCOS E BENEFÍCIOS.............................................57. 7.. RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................58. 7.1. ANÁLISE DO DESEMPENHO E DAS ESTRATÉGIAS NO DECORRER DAS PARTIDAS ................................................................................................................59 7.1.1. Desempenho do Participante André.........................................................61 7.1.2. Desempenho do Participante Antônio (Grupo A)......................................63 7.1.3. Desempenho do Participante Bruno (Grupo B) ........................................65 7.1.4. Desempenho da Participante Beatriz (Grupo B).......................................66 7.1.5. Desempenho dos Grupos A e B ...............................................................68 7.2. ANÁLISE DAS CONDUTAS DE DESATENÇÃO ...............................................70 7.3. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO DAS SITUAÇÕES-PROBLEMA............................78 8.. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................89. 9.. REFERÊNCIAS .................................................................................................93. APÊNDICE I – Quadro de Características do TDAH para Entrevista com os Pais ...........................................................................................................................97.

(12) APÊNDICE II - Protocolo de instrução padrão para apresentação do jogo Mancala aos participantes da pesquisa ................................................................98 APÊNDICE III – Protocolo de Registro de Jogadas por Partida ........................100 APÊNDICE IV: Respostas dadas pelos participantes às Situações-problema propostas ...............................................................................................................101 APÊNDICE V – Modelo de Termo de Consentimento dos Participantes da Pesquisa.................................................................................................................105.

(13) 12. 1. APRESENTAÇÃO As dificuldades de atenção têm sido estudadas e compreendidas de diversas formas no decorrer dos períodos históricos. Na atualidade, essas dificuldades têm recebido algumas. denominações. específicas. como. Transtorno. do. Déficit. de. Atenção/Hiperatividade (TDAH), Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), entre outras. As bases biológicas de tais transtornos e distúrbios têm sido largamente pesquisadas, principalmente no campo da Medicina. Por outro lado, torna-se relevante a produção de conhecimento e estratégias de intervenção que contribuam para a ampliação dos estudos acerca de tais dificuldades também no campo da Psicologia. Os jogos de regras têm recebido especial atenção no que diz respeito a uma possível contribuição para o desenvolvimento infantil saudável. A utilização de tais jogos em diversos contextos (escolar, doméstico, etc) tem sido bastante estudada pelos pesquisadores dessa área. O interesse em aliar o estudo das dificuldades de atenção aos jogos de regras adveio de uma experiência anterior com o TDAH. A participação, por um período de tempo, como auxiliar em uma pesquisa que utilizava medicamentos para observar a resposta dos pacientes diagnosticados como possuidores de TDAH suscitou diversos questionamentos, tais como: os medicamentos são a única alternativa para o tratamento do TDAH? Será que o TDAH é um transtorno apenas biológico ou é também uma produção social? Que outras alternativas podem ser construídas para a avaliação e o tratamento do mesmo? Essa experiência com o estudo do TDAH produziu inquietações e incertezas. Dessa forma, surgiu a necessidade em contribuir para a ampliação dos estudos acerca das dificuldades de atenção, principalmente em crianças. A identificação e familiaridade com o estudo dos jogos, especialmente os jogos de regras, foi a motivação para analisar o papel dos mesmos como instrumentos alternativos e potencializadores na construção dessa visão ampliada..

(14) 13. Pode-se observar, a partir de programas veiculados pela mídia, que há a necessidade em compreender de uma forma mais consistente o que vem a ser o TDAH para evitar um “diagnóstico em massa”. Os transtornos de atenção são muito complexos visto que muitas variáveis contribuem para que a criança ou o adulto seja diagnosticado como possuidora de tais características comportamentais e, além disso, algumas dessas características podem ser apresentadas, por um período de tempo determinado, devido a outros problemas enfrentados pela criança ou pelo adulto. O TDAH tem sido estudado e discutido largamente, visto que é um dos grandes problemas enfrentados por professores e pedagogos. O desconhecimento de tal fenômeno faz com que o número de crianças diagnosticadas “informalmente” como possuidoras de tal transtorno cresça consideravelmente. É importante ressaltar ainda a dificuldade encontrada pelos profissionais da educação em lidar com essas crianças em sala de aula e no convívio com os colegas, pois as escolas, geralmente, não podem contar com a estrutura transdisciplinar necessária para trabalhar com essas crianças. A introdução do presente trabalho é composta por três capítulos onde são apresentados os resultados das pesquisas acerca dos autores e das teorias que trabalham a questão das dificuldades de atenção. São eles: O conceito de atenção, Dificuldades de atenção no contexto atual e Teoria Piagetiana, Cognição e Jogos de Regras onde serão discutidas questões acerca da importância e utilização dos jogos, especialmente os jogos de regras, para o desenvolvimento infantil. O capítulo acerca do conceito de atenção tem o intuito de esclarecer os mecanismos da atenção para assim contribuir na ampliação da compreensão da mesma. O objetivo deste capítulo será o de apresentar como esse conceito tem sido estudado por diversos autores da Psicologia e da Filosofia. Em Dificuldades de atenção no contexto atual são apresentadas, as caracterizações e as diagnósticas do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), as alternativas que têm sido utilizadas no tratamento do mesmo e a relação entre o TDAH e a sociedade..

(15) 14. No capítulo acerca da teoria Piagetiana e as dificuldades de aprendizagem foram explicitados os conceitos básicos para entender a teoria de Piaget, especialmente a questão do erro e a análise dos processos cognitivos. Há ainda a descrição do Jogo Mancala que foi o jogo escolhido como principal instrumento para coleta dos dados. Nos capítulos seguintes a presente pesquisa será apresentada de forma detalhada, tanto em seus aspectos metodológicos, quanto em relação aos resultados obtidos, bem como a discussão desses. Espera-se que esse estudo contribua para que novas alternativas de avaliação das dificuldades de atenção sejam construídas, a fim de que uma análise mais complexa desse fenômeno possa ser realizada pelos profissionais que trabalham com tais dificuldades e por aqueles que desejam ampliar conhecimento acerca do mesmo..

(16) 15. 2. O CONCEITO DE ATENÇÃO O fenômeno da atenção é algo complexo no qual muitas variáveis estão envolvidas. De acordo com Hallowell e Ratey (1999): O sistema atencional envolve quase todas as estruturas do cérebro, de uma forma ou de outra. Ele governa nossa consciência, nossa experiência na vigília, nossas ações e reações. É o meio pelo qual interagimos com nosso ambiente, seja esse ambiente composto de problemas de matemática, de outras pessoas ou das montanhas nas quais estamos esquiando (HALLOWELL E RATEY,1999, p.318).. Dessa forma, podemos compreender a importância desse fenômeno, visto que é por meio dele que nos relacionamos com o mundo em redor. A realidade está subjugada à forma como a percebemos e a percepção possui uma íntima relação com o fenômeno atencional, pois percebemos as pessoas ou acontecimentos que nos interessam, ou seja, que “prendem” a nossa atenção. Cada pessoa direciona a sua atenção de forma particular de acordo com suas crenças, valores, cultura. Uma infinidade de estímulos está presente em um mesmo ambiente e, portanto, é necessário que os classifiquemos de acordo com nossos interesses e prioridades. A característica de seletividade da atenção torna possível esse processo fazendo com que consigamos elaborar um sistema lógico e coerente de atuação no mundo. De acordo com Machado (1993, p.198), Sabe-se que o sistema nervoso é, até certo ponto, capaz de selecionar as informações sensoriais que lhe chegam, eliminando ou diminuindo algumas e concentrando-se em outras, o que configura um fenômeno de atenção seletiva (grifo do autor). (…) Isto se faz por um mecanismo ativo, envolvendo fibras eferentes ou centrífugas capazes de modular a passagem dos impulsos nervosos nas vias aferentes específicas.. William James (1842-1910), psicólogo americano, “(…) influiu amplamente sobre a psicologia, em especial como observador da vida mental e como inspiração para outros” (DAVIDOFF, 2001, p.11), pois Sua psicologia mais prática tentava captar o “temperamento” da mente em funcionamento. Ao caracterizar a consciência, usava frases como “pessoal e única”, “em mudança contínua” e “modificando-se ao longo do tempo”. Acima de tudo, achava notável como a consciência e outros processos mentais ajudam as pessoas a se ajustar a suas experiências..

(17) 16. Dentre os processos mentais estudados por James em seu compêndio The Principles of Psychology (1952), está a atenção. Os itens para os quais a atenção é direcionada são os responsáveis por modelarem a mente. Sem o interesse seletivo a consciência seria um “caos”, algo indiscriminado e, portanto, impossível à compreensão (JAMES, 1952). De acordo com Davidoff (2001) alguns fatores exercem uma importante influência no processo de atração da nossa atenção, tais como: dados novos, inesperados, intensos ou mutantes, assim como necessidades, interesses e valores individuais. Em um mesmo ambiente duas pessoas podem dirigir a sua atenção para estímulos diversos, mesmo que estes estejam ocorrendo de forma simultânea. De fato, “O que chama a atenção? Pessoas e outros animais geralmente voltam a atenção mais ao ambiente externo do que ao interno. Além disso, focalizamos as informações mais significativas (…)” (YARBUS, citado por DAVIDOFF, 2001, p.144). Dessa forma, A atenção depende de outras variáveis como a motivação, a hiperatividade, a impulsividade, o biorritmo preferencial, a presença de estímulos simultâneos, a função intraneurossensorial da figura-fundo e centroperiférica, a complexidade da tarefa, a sequencialização das operações em causa, a observância de condições que ocorreram antes e durante as situações, o tipo de reforço em causa, o nível da experiência anterior, o estado emocional do momento, etc (FONSECA, 1995, p. 254).. É interessante observar a relação figura-fundo, segundo a Gestalt. Figura é tudo aquilo que está no foco da atenção em um determinado momento. Fundo é tudo que está ao redor da figura, o que pode ser chamado de plano de fundo ou plano secundário. Aquilo que é figura em um determinado momento pode se tornar fundo em outro, ou seja, a relação entre figura e fundo é dinâmica e mutável segundo as modificações pelas quais passamos sejam elas temporárias ou permanentes (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2001). Na sociedade atual existe uma infinidade de estímulos sendo apresentados de forma simultânea. A necessidade de absorver o maior número possível da informação é a máxima do nosso cotidiano. As pessoas precisam trabalhar, assistir aos telejornais,.

(18) 17. ler os jornais e revistas impressos e saber o que acontece em sua comunidade ao mesmo tempo para permanecerem no “fluxo social” e não estarem à “margem da civilização”. Em nossa sociedade, A ocorrência de muitos estímulos, como acontece em muitas salas de aula – permanente barulho exterior, proximidade de recreios e ruas agitadas, várias classes a funcionar ao mesmo tempo, quadro repleto de informação visual mal-estruturada espacialmente, salas carregadas de estímulos nas paredes, ausência de rotinas etc. – tendem a desorganizar a criança. Em muitos casos, é necessário minimizar os estímulos competitivos e irrelevantes (FONSECA, 1995, p. 254).. Essa infinidade de estímulos dificulta o processo de concentração da atenção em algum estímulo, especialmente para as crianças, pois começam a descobrir um mundo novo cheio de possibilidades, de novas descobertas. As crianças são impelidas a buscar e descobrir tudo aquilo que para o adulto já não é mais novidade. Segundo James (1952), nós conseguimos prestar atenção nas coisas que são de nosso interesse. Segundo o autor a atenção pode ser dividida em vários tipos: atenção sensorial (objetos dos sentidos); atenção intelectual (representação de idéias ou objetos); atenção imediata (quando o estímulo é interessante a priori, ou seja, não precisa ter relação com outra coisa qualquer); atenção derivada ou “aperceptível” (quando o estímulo se torna interessante ao estar associado à outra coisa imediatamente interessante); atenção passiva, reflexiva, não-voluntária, sem esforço e por último, atenção ativa e voluntária. Portanto, enquanto estamos em estado de vigília a nossa atenção está sendo utilizada por nós para nos relacionarmos e agirmos diante dos estímulos que chegam até nós..

(19) 18. 3. DIFICULDADES DE ATENÇÃO NO CONTEXTO ATUAL No contexto atual as dificuldades de atenção têm sido abordadas de maneira bastante peculiar quando vêm associadas a outras características, tais como a impulsividade e a hiperatividade. A associação dessas três características tem sido denominada, por médicos e estudiosos, como constituinte do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). O estudo deste tem sido feito de forma sistemática, principalmente no campo da medicina, pois busca-se, prioritariamente, explicações biológicas para a compreensão de tal fenômeno. Na sociedade pós-moderna há um aumento expressivo do número de crianças que estão sendo diagnosticadas como possuidoras das características do TDAH, e, dessa forma, faz-se necessário entender a complexidade do mesmo para além de uma explicação biológica de causa-efeito. Desse modo, torna-se imprescindível a ampliação dos estudos acerca do TDAH no campo da Psicologia. A nomenclatura do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade vêm sendo modificadas desde meados do século XIX. A primeira referência foi feita com a denominação de Transtornos Hipercinéticos. A partir daí surgiram outras denominações como “lesão cerebral mínima” (década de 40) e “disfunção cerebral mínima” (1962). No entanto, as características dessa síndrome foram relacionadas menos a lesões cerebrais do que a disfunções em vias nervosas (ROHDE ET AL, 2000). No entanto, os estudos realizados nos anos 70 contribuíram de forma significativa para uma nova visão acerca do déficit de atenção (COES, 1999): (...) os problemas de atenção passaram a ser vistos como déficits de habilidade de manutenção da atenção, de habilidades de execução tais como o manejo eficiente do tempo e a organização, e de habilidades de auto-regulação do comportamento (COES, 1999, p.65).. Dessa forma, os modernos sistemas classificatórios utilizados em Psiquiatria, como a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM-IV), apresentam as seguintes nomenclaturas.

(20) 19. para a síndrome: Transtornos Hipercinéticos e Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), respectivamente. Apesar de utilizarem-se de nomenclaturas diferenciadas existem muitas similaridades no que diz respeito às diretrizes diagnósticas (ROHDE ET AL, 2000). De acordo com Cantwell e Copeland, citados por Coes (1999), houve uma variação significativa das explicações acerca da natureza e etiologia do problema. “No entanto, a personagem Fidgety Phil (Phil agitado), de contos infantis, criado pelo médico alemão Heinrich Hoffman, em 1848, é citado na literatura como exemplo de preocupação e familiaridade dos estudiosos da época com o problema (COES, 1999, p. 63).. Figura 1 - Fidgety Phil Fonte: www.mynaleagues.com. Segundo Coes (1999) o médico inglês George Still foi um dos primeiros a conceituar o déficit de atenção e de hiperatividade. O termo a que se referiu foi “déficit de controle moral” para caracterizar um grupo de crianças que apresentavam comportamentos de agressividade, de oposição e dificuldades de auto-controle. Para o médico “(...) tais comportamentos seriam resultantes de fatores biológicos herdados ou provocados por lesões, pré, peri ou pós-natais no sistema nervoso central” (COES, 1999, p.64). O TDAH recebe uma variedade de nomenclaturas de acordo com o manual adotado. No caso dessa pesquisa adotaremos os critérios utilizados pelo DSM-IV para caracterização desse transtorno, bem como os critérios que esse manual relaciona para o diagnóstico do mesmo. No entanto, em alguns momentos será necessária a alusão a nomenclaturas distintas da que o DSM-IV estabelece. Portanto, termos.

(21) 20. como DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção), Hiperatividade e TDAH serão utilizados como sinônimos.. 3.1.. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO TDAH. O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade é um fenômeno complexo e de difícil diagnóstico. Para identificá-lo faz-se necessário uma avaliação minuciosa, pois os sintomas do TDAH podem ser decorrentes de comorbidades associadas ao mesmo ou até mesmo de outra síndrome. O diagnóstico da hiperatividade não pode ser baseado em estudos superficiais e fatos isolados encontrados no decorrer do estudo do caso da criança, visto que os sintomas atribuídos ao TDAH podem estar associados a problemas emocionais e de ajustamento social. Dessa forma, encontra-se freqüentemente na literatura o TDAH como um quadro diagnóstico complexo, de início precoce e evolução crônica (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003). Segundo Coes (1999) as pesquisas acerca da natureza neurobiológica do Déficit de Atenção apontam para diversos fatores causais desse distúrbio, tais como: presença de excesso de chumbo no sangue, fatores perinatais, alterações metabólicas (como distúrbios da tireóide), entre outros. Entretanto, a variabilidade das condições associadas ao Déficit de Atenção indica que não há uma causa única, mas que o mesmo se dá na interação de diversos fatores biológicos e psicossociais. De acordo com Goldstein e Goldstein (2003) um número grande de causas é associado ao aparecimento da hiperatividade. Medicamentos, lesões cerebrais, epilepsia, envenenamento por chumbo, hereditariedade são alguns exemplos de situações produtoras do transtorno. Apesar da origem e desenvolvimento do TDAH ainda serem um pouco obscuras, os autores acima citados consideram a hereditariedade como a causa mais freqüente da hiperatividade. Muitos estudos acerca do TDAH buscam encontrar causas biológicas para explicação do mesmo, no entanto, ainda não foi possível comprovar tal afirmação.

(22) 21. visto que os estudos demonstram cada vez mais a complexidade de tal fenômeno (ANTONY E RIBEIRO, 2004). As crianças diagnosticadas como hiperativas geralmente possuem problemas de socialização, visto que as características comportamentais desse transtorno concorrem para que tais dificuldades surjam (SILVA, 2003). A criança que apresenta dificuldades na área da atenção, um dos sintomas componentes da tríade e foco do presente trabalho, poderá desenvolver problemas nos relacionamentos com amigos e parentes, principalmente se estes não souberem lidar e ajudá-la a conviver e a vencer tais obstáculos. Sob a égide de uma sociedade aberta às diferenças e sem preconceitos esconde-se uma sociedade em que elas são aceitas desde que você não tenha que conviver com elas. As crianças que estão fora daquilo que é estabelecido como norma são rotuladas, limitadas em suas capacidades e vistas como inferiores com relação àquelas que atendem tal padrão. Questionamentos como “Quem dita tais padrões? Quem escreveu tais normas?” são imprescindíveis para que os obstáculos que são colocados à frente das crianças que não atendem ao “perfil desejado” pela sociedade possam ser transpostos e permitam a construção de uma sociedade em que o ser humano em sua totalidade seja valorado e não apenas aos seus defeitos e faltas. Vivemos em uma sociedade em que é necessário TER para ser participante da mesma. No entanto, esse TER é restrito àquilo que se considera digno de ser possuído. Aqueles que possuem “itens fora dessa lista” são colocados à margem da mesma maneira que aqueles que não possuem tais itens. Por isso, quando uma criança apresenta dificuldade de atenção ela TEM algo que é inaceitável e que irá camuflar e relegar a segundo plano todas as características positivas que possua. Dessa forma, o nosso esforço deve ser direcionado para que o ser humano possa ser visto enquanto uma pessoa total e indivisível e não seja reduzido a um portador de doenças e incapacidades. É necessário iniciar um movimento contrário em que o SER seja colocado no plano principal e definidor de alguém..

(23) 22. De acordo com o DSM-IV há três sintomas que podemos considerar como característicos do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade: impulsividade, desatenção e hiperatividade. Estes não estão presentes com a mesma intensidade nos casos de TDAH. O DSM-IV subdivide essa síndrome em três tipos: 1. TDAH com predomínio de sintomas de desatenção; 2. TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade e 3. TDAH com os três sintomas combinados (DSM IV, 2000). O Quadro 1 apresenta a sintomatologia bem como os critérios diagnósticos do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) de acordo com o DSM-IVTR (2002). A. Ou (1) ou (2) (1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram pelo período mínimo de 6 meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Desatenção: (a) freqüentemente não presta atenção a detalhes ou comete erros por omissão em atividades escolares, de trabalho ou outras (b) com freqüência tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (c) com freqüência parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra (d) com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções) (e) com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (f) com freqüência evita, demonstra ojeriza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) (g) com freqüência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais) (h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa (i) com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias (2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram pelo período mínimo de 6 meses, em ¬grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Hiperatividade: (a) freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira (b) freqüentemente abandona sua cadeira na sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado (c) freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações impróprias (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação) (d) com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer (e) está freqüentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor” (f) freqüentemente fala em demasia Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (continuação) lmpulsividade: (g) freqüentemente dá respostas precipitadas antes que as perguntas terem sido completamente formuladas (h) com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez (i) freqüentemente interrompe ou se intromete em assuntos alheios (p. ex., em conversas ou.

(24) 23. brincadeiras) B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção causadores de comprometimento estavam presentes antes dos 7 anos de idade. C. Algum comprometimento causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (p. ex., na escola [ou trabalho] e em casa). D. Deve haver claras evidências de um comprometimento clinicamente importante no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno Global do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico, nem são melhor explicados por outro transtorno mental (p. ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou Transtorno da Personalidade).. Quadro 1 - Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) Fonte: DSM-IV-TR, 2002, pp.118 e 119. Complementando a caracterização do TDAH, Silva (2003) afirma que a alteração da atenção é considerada o sintoma mais importante para o entendimento do DDA visto que é condição essencial para que o diagnóstico possa ser realizado. “Uma pessoa com comportamento DDA pode ou não apresentar hiperatividade física, mas jamais deixará de apresentar forte tendência à dispersão” (SILVA, 2003, p.20). O mesmo autor ressalta que a impulsividade “(...) tem um significado próprio: 1) ação de impelir; 2) força com que se impele; 3) estímulo, abalo; 4) ímpeto, impulsão” (SILVA, 2003, p.23). Essas definições são importantes para descrever o comportamento da criança com DDA. Esta poderá ter reações emocionais desproporcionais frente às situações cotidianas (SILVA, 2003). Ainda segundo Silva (2003) a hiperatividade poderá apresentar-se na forma física e mental. A hiperatividade física pode ser facilmente identificada: a criança se mostra agitada, não consegue ficar quieta e, por isso, move-se constantemente em casa, na sala de aula e em outros ambientes que freqüenta. A hiperatividade mental apresenta-se de forma mais sutil do que a física (SILVA, 2003). “Ela pode ser entendida como um “chiado” cerebral, tal qual o motor de um automóvel desregulado que acaba por provocar um desgaste bastante acentuado” (SILVA, 2003, p.27). De acordo com o mesmo autor, essa agitação psíquica é muitas vezes responsável pela dificuldade. que. muitas. pessoas. diagnosticadas. como. possuidoras. das.

(25) 24. características do DDA apresentam em suas relações sociais, principalmente no que diz respeito a fazer amigos e conservá-los. “O “chiado” de seus cérebros muitas vezes os impede de interpretar corretamente as “deixas” sociais que são tão necessárias no estabelecimento e na manutenção das relações humanas” (SILVA, 2003, p.27). De acordo com Antony e Ribeiro (2004, p.127) o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade “caracteriza-se por distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais, expressando dificuldades globais do desenvolvimento infantil”. Pois, (...) o que fala é o sujeito através do seu corpo, das variações tônicomotoras, do movimento, dos gestos e do esquema corporal que são representantes de uma organização psíquica. Este é o desafio que nos lança a criança hiperativa com o seu corpo em contínuo movimento” (ANTONY E RIBEIRO, 2004, p. 129).. É importante ressaltar que o TDAH é um fenômeno complexo produzido na interação de diversos fatores biológicos e psicossociais. Essa diversidade também é encontrada no que diz respeito aos sintomas do transtorno. Portanto, o foco do presente trabalho é a questão específica do Déficit de Atenção que é um dos três principais sintomas descritos pelo DSM-IV. Em alguns casos os sintomas do TDAH não são evidentes em um contato superficial. Apenas quando há um contato mais profundo esses podem ser identificados. “Em geral, estes indivíduos têm muitas outras habilidades e uma capacidade intelectual que permite “driblar” o TDAH na maioria das situações” (MATTOS, 2005, p. 31). O TDAH não traz 100% de características negativas, por exemplo, (...) muitos portadores de TDAH são vistos como intuitivos, com razoável senso de humor e, talvez, criatividade. Imaginam diferentes projetos, conseguem ver ângulos diferentes dos usuais. Muitos são pessoas com sucesso social e profissional, apesar dos sintomas. Podem ser agradáveis no convívio (ao menos num convívio social) e ter muitas idéias divertidas (MATTOS, 2005, p.31)..

(26) 25. Entretanto, as características negativas, como não levar as coisas até o final ou não conseguir administrar os projetos em longo prazo, estarão presentes “atrapalhando” a criança ou adulto com TDAH a colocar em prática as idéias e projetos imaginados (MATTOS, 2005). Dessa forma é necessário que a pessoa diagnostica como hiperativa encontre estratégias para “burlar” essas dificuldades e, assim, conseguir adaptar-se satisfatoriamente ao convívio social. De acordo com Antony e Ribeiro (2004, p.127) “a Gestalt-Terapia é uma abordagem fenomenológico-existencial com uma visão holística de doença. Compreende o adoecer como resultante de uma desarmonia relacional entre pessoa e ambiente que formam uma unidade dialética e indivisível”. Apesar de o presente estudo não estar fundamentado na Gestalt-Terapia o entendimento acerca do conceito de doença é compartilhado com essa área de estudo, visto que a busca que empreendemos é pela ampliação do entendimento do TDAH e, principalmente a quebra das estereotipias que circundam tal fenômeno. Tomando por base uma visão holística da hiperatividade entendemo-na aqui como fruto do contexto social, político, econômico e cultural no qual estamos inseridos e não como resultado de uma causa única e unilateral seja ela social, política, econômica, cultural ou genética. Existe ainda uma grande dificuldade que é explicar para a criança diagnosticada como possuidora das características do TDAH, o que significa e como isso afetará em sua vida. Rohde e Benczik (1999) no livro intitulado “Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade – O que é? Com ajudar?” descrevem “A história de Pedro” como uma forma para explicar o TDAH á criança. Um fragmento desta história será transcrito quadro a seguir: Meu nome é Pedro e vou contar a minha história para você. Quase nunca me sinto cansado... O mundo é muito grande e tem muita coisa para descobrir, mas tenho que ir para a escola. Lá tenho que fazer coisas que, às vezes, não estou nem um pouco a fim. Prefiro brincar no pátio ou na quadra. Ninguém acredita, mas bem que eu quero e tento fazer as lições bem caprichadas, mas acontece tanta coisa... De repente meu amigo conversa comigo, ou um carro buzina lá fora, ou até se eu escuto alguém conversar, um lápis caindo no chão, eu me distraio e me perco. Quando olho de novo para a lousa, demoro para achar onde parei, confundo tudo, e aí, todos já acabaram a tarefa, só eu que não. Fico muito chateado... De novo não consegui..

(27) 26. A professora sempre fala: - Pedro, você já terminou sua lição? Eu preciso apagar a lousa! Quase nunca presto atenção ao que minha professora diz, nem às lições. A professora sempre pede que eu seja mais organizado com o meu material e mais caprichoso com as lições. Na verdade, concordo que me mexo muito, levanto da cadeira a toda hora, faço barulho com o lápis e às vezes até com a boca (uns barulhos que só eu sei fazer), falo muito e atrapalho a professora. São dois grandes problemas: eu faço malfeito, pois quero acabar muito depressa, ou então quero fazer tudo muito bem-feito e terminar tudo, mas... não consigo! Aí todos pensam que sou preguiçoso, relaxado e vagabundo, ou ainda que sou bobo e não me esforço. Parece que ninguém me entende. Por mais que eu tente, não consigo prestar atenção e terminar toda a tarefa tão bem como as outras crianças. Mas bem que eu gostaria... De verdade! Na classe, quando o assunto é lição, as crianças tiram sarro de mim, fazem muitas gozações. Eles me chamam de “minhoca” e de “supertartaruga lerdinha”. Todos acham engraçado, menos eu. Quando estou sentado, ali sozinho, sem perceber, começo a morder o lápis, desmontar meu estojo, rabiscar as folhas no caderno e a mexer com os pés sem parar. Acho que preciso me movimentar mais do que os meus colegas porque assim me sinto mais ligado e esperto. Estou sempre mexendo minhas mãos e balançando os pés. A professora vive me dizendo que parece que tenho o bichocarpinteiro no corpo. Ela pergunta também se tem formiga ou prego na cadeira, porque não tenho parada nem sossego. Percebo que quando a professora pergunta alguma coisa para mim eu respondo rapidinho. Muitas vezes começo a responder antes de ouvir a pergunta inteira. Só quando estou falando é que me dou conta de que não era nada daquilo... E quando se trata de escrever... Hum! É tão mais complicado... Eu bem que gostaria não precisar escrever tanto. Sabe, acho bem mais interessante ver o que está se passando fora da sala de aula. Pela janela, vejo a árvore a balançar, o passarinho a voar; e, pela porta, sempre vejo quem passa no corredor. Fico triste, irritado e confuso porque sei que as pessoas ficam cansadas de mim. Outro, dia vi minha mãe chorando. Também ouvi meus pais brigando por minha causa. A professora vive mandando bilhetes para minha mãe. Ela avisou que minhas notas estão ruins, que assim não vou passar de ano e que não sabe mais o que fazer comigo. Além do mais, falou que sou distraído, que caminho pela escola sem olhar por onde ando, que derrubo com facilidade as coisas da minha mão. Ela diz que parece que estou sempre voando, como se eu estivesse no mundo da lua. Muitas vezes me chama de “rei do espaço”. Fico triste. Às vezes tento disfarçar, finjo que não ligo, mas não é verdade. Queria que todos dissessem: - Olha, o Pedro foi o melhor! Ah como eu gostaria que a minha tarefa fosse realmente a melhor (Rohde and Benczik, 1999, p. 16-23). Quadro 2 - História de Pedro – Forma de Explicação do TDAH para Crianças Fonte: Rohde and Benczik (1999). Essa história é uma maneira simplificada de explicar para a criança o TDAH e suas conseqüências. É importante ressaltar que a mesma não deveria ser contada apenas para as crianças que possuam tais características, mas também para aquelas que não as possuam, para pais, professores e todos que mantenham.

(28) 27. contato com essas crianças. Há uma grande necessidade em desnaturalizar o TDAH e suas implicações, bem como compreendê-lo de forma ampliada, pois, atualmente, há uma excessiva rotulação das crianças por parte de pais, professores e amigos, devido ao pouco conhecimento desse fenômeno.. 3.2.. ALTERNATIVAS TRADICIONAIS PARA O TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM TDAH. De acordo com a literatura revisada, para o tratamento do TDAH faz-se necessário uma. abordagem. múltipla. que. envolva. intervenções. psicossociais. e. psicofarmacológicas. No entanto, o medicamento tem sido o ponto central nos tratamentos, o que tem ocasionado um excesso de utilização dos mesmos, principalmente na intervenção em crianças. Atualmente a saída medicamentosa é a mais utilizada e o conhecimento produzido na área médica com relação à eficácia dos mesmos é bastante amplo. A intervenção psicofarmacológica para tratamento do TDAH tem sido realizada com medicamentos estimulantes, com o intuito de melhorar a concentração e de controlar o comportamento hiperativo, na maior parte das vezes. Com relação aos estimulantes, No Brasil, o único estimulante encontrado no mercado é o metilfenidato. A dose terapêutica normalmente se situa na faixa de 20 a 60 mg/dia. Como a meia-vida do metilfenidato é curta (de 3 a 4 horas), geralmente pode-se utilizar o esquema de administração de três doses por dia: uma de manhã, outra ao meio-dia e uma última ao final da tarde (ROHDE E HALPERN, 2004, p.S68).. De acordo com Rohde and Halpern (2004, p.S68), “cerca de 70% dos pacientes com TDAH respondem adequadamente aos estimulantes, com redução de pelo menos 50% dos sintomas básicos do transtorno. Segundo Filho e Pastura (2003), a maioria dos efeitos colaterais do metilfenidato é transitória, leve e aparecem nos primeiros dias ou semanas de tratamento e pouco depois desaparecem. Alguns efeitos adversos são: insônia, irritabilidade, ansiedade e dores abdominais, entre outros..

(29) 28. Os medicamentos são tratados como a solução rápida e eficaz para todos os problemas. Os remédios são vistos como o caminho para uma vida mais feliz e segura em que o sofrimento é banido totalmente. No entanto com relação ao TDAH, o tratamento medicamentoso agirá nos sintomas de hiperatividade, déficit de atenção e impulsividade, mas dificilmente irá auxiliar a criança a compreender o que está acontecendo com ela e a desenvolver estratégias para lidar de uma forma menos danoso com tais sintomas. Dessa forma, concede-se uma solução para “a parcela biológica” deixando de lado as questões afetivas e sociais que também estão envolvidas. De fato, As promessas das novas medicações são cada vez mais sedutoras, pois ao invés de anos de tratamentos em um processo psicoterapêutico, as novas substâncias desenvolvidas acenam com a abolição dos sintomas em poucas semanas (RODRIGUES, 2003, p.13).. Dessa forma, houve uma supervalorização da reação clínica às substâncias farmacológicas de forma que a mesma passou a fazer parte na caracterização do quadro nosológico de cada doença. Nesse sentido, a compreensão neuroquímica dos fenômenos psíquicos ganhou significativa importância na definição dos mesmos (RODRIGUES, 2003). É importante ressaltar que a medicação torna-se um importante instrumento no tratamento de doenças e distúrbios, desde que utilizada de forma ética e responsável. No entanto, a compreensão do ser humano não pode ser reduzida a uma única abordagem, seja ela biológica, psicológica ou social. O homem é muito mais amplo e complexo. Contudo, (...) a medicação vem sendo utilizada não somente como forma de alívio ou de cura de uma determinada síndrome, mas também como parte de um sistema que produz subjetividades privatizadas, desinvestidas de qualquer cogitação social ou política, alicerçadas na crença de uma suposta natureza humana normal, que ela promete restaurar (RODRIGUES, 2003, p.21)..

(30) 29. É acerca dessa forma de utilização despotencializadora dos medicamentos que queremos refletir, pois os efeitos dessa prática são danosos para a sociedade como um todo e, sobretudo, aos indivíduos como sujeitos capazes de positivar modos de existência que privilegiam a vida e sua capacidade de adaptação e superação dos obstáculos. Quando um diagnóstico minucioso é concluído, e a avaliação é de que a criança apresenta o TDAH, é necessário que intervenções na família e na escola sejam iniciadas. A intervenção com os pais possui a finalidade de, principalmente, fornecer informações acerca da hiperatividade para que os mesmos conheçam o transtorno de forma a poder contribuir potencializando as habilidades da criança e, para que não apresentem dúvidas e receios ao tratamento prescrito para a criança. O trabalho desenvolvido na escola tem como objetivo preparar o professor para lidar com a criança diagnosticada como hiperativa, pois sabendo das dificuldades da mesma o profissional terá condições de trabalhar efetivamente para desenvolver as habilidades e competências dessa criança (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003). A presença dos sintomas básicos (hiperatividade, impulsividade e desatenção) do TDAH por curtos períodos de tempo apontam para a possibilidade de que estes estejam associados a outros problemas (emocionais, sociais ou até mesmo um outro tipo de distúrbio) decorrentes de situações que a criança esteja vivendo. Para que a possibilidade da criança apresentar o TDAH seja aventada é necessário que esses sintomas básicos apresentem-se de forma sistemática, contínua e prolongada. Segundo Rohde e outros (2000), existem algumas pistas que indicam a presença da hiperatividade: os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade se apresentam de forma duradoura, sejam freqüentes e intensos, persistam em vários locais e ao longo do tempo e haja um prejuízo clínico significativo na vida da criança. De acordo com Andrade e Scheuer (2004), 3% a 5% das crianças em idade escolar apresentam esse transtorno, e nos EUA, dos encaminhamentos para serviços de saúde mental, de 30% a 50% são determinados por sintomas de TDAH..

(31) 30. Considerando as discussões desta seção foi possível perceber que a compreensão, bem como o tratamento das dificuldades de atenção, especialmente com relação ao TDAH, estão centralizadas no campo da medicina. Portanto, torna-se necessário a relativização e ampliação do entendimento acerca das dificuldades de atenção para que novas estratégias de abordagem sejam construídas no intuito de fornecer alternativas àqueles que possuem tais dificuldades.. 3.3.. O TDAH E A SOCIEDADE. A aceleração que o mundo globalizado nos impõe, bem como o excesso de estimulação e o volume de informação a que somos submetidos, contribuem de forma significativa na produção de tais problemas. É possível observar em nossa sociedade a diminuição dos espaços públicos e o conseqüente aumento dos espaços privados. A cada dia os espaços de moradia e de convivência coletiva são diminuídos e as crianças, bem como os adultos, tem refletido essa “falta de espaço” em suas condutas cotidianas. Em muitos casos, a escola é o único lugar de convivência entre as crianças e onde elas podem extravasar a energia acumulada nos apartamentos. Se considerarmos tais exemplos como participantes no processo de produção das dificuldades de atenção, vislumbramos a necessidade de que outras áreas do conhecimento participem no diagnóstico e, principalmente, na intervenção de tais problemas. O objetivo não é negar a existência de tais dificuldades e, sim, ampliar a compreensão e as alternativas de abordagem das mesmas. O termo estigma foi criado pelos gregos “para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava” (GOFFMAN, 1998, p.11). Na Era Cristã dois significados foram agregados a esse termo: sinais de graça divina, expressos no corpo com a forma de flores em erupção sobre a pele e sinais corporais de distúrbio físico (alusão médica a essa alusão religiosa) (GOFFMAN, 1998)..

(32) 31. De acordo com Macedo (2005), para conhecermos o mundo é necessário transformarmos o desconhecido em algo conhecido e comum, pois este se apresenta como ameaçador. Esta é a lógica da semelhança que consiste em organizar as coisas pelo conhecido. Tendemos a organizar aquilo que é desconhecido em algo conhecido, pois agindo assim temos a impressão de que podemos controlar o mundo, ao preço de excluirmos ou negarmos o que cai fora ou escapa. Cada sociedade estabelece categorias, com seus respectivos atributos, para classificar as pessoas que dela fazem parte. Em nossa sociedade possuímos uma série de categorias, tais como: classe média, classe baixa, classe alta, trabalhadores, desempregados, “normais1“, deficientes físicos, deficientes auditivos, hiperativos. As pessoas podem ser alojadas em uma, ou mais, dessas categorias a partir de uma rápida avaliação por meio do observador, o que ocasiona, em algumas situações, mal-entendidos e situações desagradáveis. O termo estigma é usado em referência a algum atributo depreciativo. O estigma é uma relação entre o atributo e o estereótipo, sob duas perspectivas a do desacreditado e a do desacreditável (GOFFMAN,1998). A do desacreditado enquanto aquele que já deu mostras das suas limitações e a do desacreditável enquanto aquele que, mesmo sem dar mostras dessas, deve ser considerado a priori como tal devido a características que não estão de acordo com o padrão de normalidade da sociedade e, portanto, são responsáveis por conferir uma parcela de descrédito “natural” àqueles que as possuam. Características sociológicas do estigma: “um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto” (GOFFMAN, 1998, p.14). Assim,. 1. As aspas são para questionar esse termo, largamente utilizado, pois a normalidade é algo complexo. e que deve ser cautelosamente discutido e utilizado..

(33) 32. Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa, racionalizando algumas vezes uma animosidade baseada em outras diferenças, tais como as de classe social (GOFFMAN, 1998, p.15).. No entanto, existe uma outra lógica, a da diferença, que se apresenta como (...) uma forma de organizar as coisas quanto à sua dimensão desconhecida, daquilo que está entre nós e dentro de nós, mas que não reconhecemos ou não sabemos como encaixar. Daí, como conseqüência, às vezes temos o vazio, o pânico, o êxtase que este vazio nos provoca ou produz (MACEDO, 2005, p. 13).. As considerações feitas acerca das crianças que possuem um diagnóstico de TDAH são muito similares as das crianças que possuem indícios de tal síndrome. Os professores e pais passam a enxergar essas crianças através da “lente do TDAH”, limitando suas habilidades, competências e, por fim, as suas perspectivas de vida. O TDAH se configura, em muitos casos, como um pesado fardo para o portador que o torna “predestinado” ao fracasso em sua vida social, afetiva, psicológica, familiar. Dessa forma, a busca neste trabalho é pela compreensão das crianças com dificuldades de atenção de acordo com a lógica da diferença, ou seja, apreender as particularidades das mesmas, de modo a construir uma visão menos estigmatizada e reducionista, no intuito de resgatar a possibilidade de nos surpreendermos, positivamente, com essas crianças ao olharmos para elas como sujeitos capazes de vencer os obstáculos que lhe são apresentados pela vida..

(34) 33. 4. TEORIA PIAGETIANA, COGNIÇÃO E JOGOS DE REGRAS 4.1.. CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER PIAGET. De acordo com a pesquisa realizada nas obras de Jean Piaget, não há trabalhos desse autor que abordem diretamente a questão da atenção. Portanto as considerações a seguir foram construídas com base nos conceitos mais gerais de sua obra. Piaget (1962) explicita a existência de uma íntima relação entre afeto e inteligência. Pois, para o mesmo É incontestável que o afeto exerce um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, necessidade, motivação; e conseqüentemente, não haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, mas, em minha opinião, não é suficiente (PIAGET, 1962, p.01).. Dessa forma, em algumas situações o afeto pode levar ao erro, mas apenas os fatores. cognitivos. poderiam. corrigir. tal. estrutura.. O. afeto. participa. no. desenvolvimento da inteligência, no entanto, não é a causa da formação da mesma. Portanto, a afetividade não é a única condição necessária para o desenvolvimento estrutural (PIAGET, 1962). A atenção é também regulada pela afetividade, pois a mesma é motivada e direcionada segundo as necessidades e interesses do indivíduo. Assim, “Não há atos de inteligência, mesmo de inteligência prática, sem interesse no ponto de partida e regulação afetiva durante todo o processo de uma ação, sem prazer do sucesso ou tristeza no caso do fracasso” (PIAGET, 1962, p.03). Até mesmo a criança diagnosticada como possuidora do TDAH tem a capacidade de direcionar e focar a atenção naquilo que é do seu interesse. Dessa maneira, (...) a construção do conhecimento, segundo a abordagem piagetiana, implica em momentos de equilíbrio – ou seja, de estabilidade provisória no funcionamento intelectual – e momentos de desequilíbrios, onde os esquemas disponíveis ao sujeito não são suficientes para assimilar os objetos” (DAVIS E ESPÓSITO, 1990, p.73)..

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