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Distribuição espaço-temporal da prevalência de Insegurança Alimentar associada às condições de vulnerabilidade social no Brasil

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Academic year: 2021

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(1)CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA. www.posgraduacao.ufrn.br/ppgscol. ppgscol@dod.ufrn.br. MARIANA SILVA BEZERRA. Distribuição espaço-temporal da prevalência de Insegurança Alimentar associada às condições de vulnerabilidade social no Brasil. Natal/RN 2017. 55-84-3342-2338.

(2) MARIANA SILVA BEZERRA. Distribuição espaço-temporal da prevalência de Insegurança Alimentar associada às condições de vulnerabilidade social no Brasil. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.. Orientador: Profª. Dra. Clélia de Oliveira Lyra. Natal/RN 2017.

(3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos - -Departamento de Odontologia Bezerra, Mariana Silva. Distribuição espaço-temporal da prevalência de Insegurança Alimentar associada às condições de vulnerabilidade social no Brasil / Mariana Silva Bezerra. - 2018. 75f.: il. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Natal, 2018. Orientador: Profª. Drª. Clélia de Oliveira Lyra.. 1. Segurança Alimentar - Dissertação. 2. Vulnerabilidade Social - Dissertação. 3. Determinantes Sociais da Saúde Dissertação. I. Lyra, Clélia de Oliveira. II. Título. RN/UF/BSO. BLACK D585. 313/15 – HADASSA DANIELE SILVA BULHOES.

(4) Àqueles que acreditam e torcem por mim (família, amigos, amor)..

(5) AGRADECIMENTOS Á Deus, por toda proteção, força e coragem para que as dificuldades fossem enfrentadas. Aos meus pais José Inácio e Ivone, por terem me ensinado princípios e valores que foram fundamentais para que eu pudesse concluir essa tarefa.. Ao meu noivo Felipe, meu principal incentivador, obrigada por me fazer acreditar no meu potencial e a enxergar a vida e seus desafios de uma forma mais leve.. Aos meus amigos e familiares, pelos afetos e carinho em todas as etapas de minha vida, vocês foram essenciais para que esses anos fossem mais tranquilos e prazerosos.. A minha orientadora e mestre Clélia de Oliveira Lyra por ter me acolhido mesmo a toda conturbação. Agradeço todo o aprendizado, paciência e motivação, seu apoio foi crucial para que eu chegasse até aqui.. Aos colegas de mestrado (Adriano, Brunna, Tatiana, Hellyda, Eva, Layanne, Lídia e Ingrid) pelo convívio e conhecimentos partilhados, exemplos de profissionais e alunos.. Aos professores colegas de trabalho e alunos, pela compreensão diária na minha árdua tarefa de conciliar o mestrado com a sala de aula.. As professoras Maria Ângela e Michelle Medeiros pelas excelentes contribuições, as quais me fizeram acreditar na importância e relevância do meu trabalho.. Ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/ UFRN pela oportunidade de aprendizado com grandes mestres..

(6) “Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.” Mahatma Gandhi.

(7) RESUMO O objetivo foi analisar a distribuição espaço-temporal da insegurança alimentar e sua correlação com indicadores de vulnerabilidade social, condições socioeconômicos e mortalidade infantil, no Brasil. Estudo ecológico, com dados de dois inquéritos nacionais, a Pesquisa Nacional Amostra de Domicílios (2004, 2009 e 2013) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e o Altas Brasil do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010). Foi realizada uma análise descritiva das variáveis no software Statistical Package for the Social Science Statistics (SPSS) para cálculo das prevalências de insegurança alimentar considerando os pesos amostrais e efeito do desenho. Para análise temporal da distribuição espacial das prevalências de insegurança alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013, foi realizada a divisão em quartis dos dados de 2004, por ser considerado o primeiro ano de análise e o que encontra-se com maiores prevalências e, utilizou-se esses valores como pontos de corte para distribuição das prevalências nos três anos. Na análise espacial bivariada, para analisar o padrão de distribuição espacial e a intensidade dos aglomerados (cluster, aleatório ou disperso), foi utilizado o Índice de Moran, considerando como significância estatística o valor de p<0,05. A ocorrência de aglomerados e a significância estatística desses aglomerados foram demonstrados pelo MoranMap e pelo LisaMap. As prevalências de insegurança alimentar diminuíram nos anos analisados e apresentaram correlação espacial negativa e moderada com o IDH (-0,643; p<0,05); positiva e moderada com % de extremamente pobres (0,684; p<0,05), mortalidade infantil (0,572; p<0,05), índice de vulnerabilidade social (0,654; p<0,05), índice de vulnerabilidade social capital humano (0,636; p<0,05); positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho (0,716; p<0,05) e positiva e fraca com índice de vulnerabilidade social infraestrutura (0,273; p<0,05). Concluise que houve diminuição da prevalência de IA de 2004 a 2013 e que o território brasileiro apresentou dois padrões distintos, um com territórios com maiores prevalências de IA e piores condições de renda, trabalho e saúde infantil nas regiões Norte e Nordeste e outro com menores prevalências de IA e menor vulnerabilidade de acordo com os indicadores analisados em UF nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.. Palavras-chave: Segurança Alimentar; Vulnerabilidade social; Determinantes Sociais da Saúde..

(8) ABSTRACT. This study aimed to evaluate the temporal and spatial distribution of food insecurity and its correlation with indicators of social vulnerability, socioeconomic conditions and infant mortality in Brazil. Ecological study, with data from two national surveys, the Brazilian National Household Survey (2004, 2009 and 2013) from the Brazilian Institute of Geography and Statistics, and Altas Brasil from the Institute of Applied Economic Research (2010). A descriptive analysis of the variables was performed in the software Statistical Package for the Social Science Statistics (SPSS) to calculate the prevalence of food insecurity considering sample weights and design effect. For the temporal analysis of the spatial distribution of food insecurity prevalence in 2004, 2009 and 2013, a division into quartiles of the 2004 data was performed, since it was considered the first year of the analysis and the one with the highest prevalence rates, thus these values were used as cut-off points for the distribution of prevalence rates in the three years. In the bivariate spatial analysis, to analyze the spatial distribution pattern and the intensity of the clusters (cluster, random or dispersed), Moran’s Index was used, considering p <0.05 as the statistical significance. The occurrence of clusters and their statistical significance were demonstrated by MoranMap and LisaMap. The prevalence of food insecurity decreased in the years analyzed and showed a negative and moderate spatial correlation with HDI (-0.643; p<0.05); positive and moderate with % of extremely poor (0.684; p<0.05), infant mortality (0.572; p<0.05), social vulnerability index (0.654; p<0.05), social vulnerability index - human capital (0.636; p<0.05); positive and strong with social vulnerability index – income and labor (0.716; p<0.05) and positive and weak with social vulnerability index – infrastructure (0.273; p<0.05). It is concluded that the Brazilian there was a decrease in the prevalence of FI from 2004 to 2013 and Brazilian territory presented two distinct patterns, one with territories with higher prevalence of FI and worse conditions of income, work and child health in the North and Northeast regions, and another one with a lower prevalence of FI and lower vulnerability according to the indicators analyzed in federative units of the Central-West, Southeast and South regions. Keywords: Food Security; Social vulnerability; Social Determinants of Health..

(9) LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS. Quadro 1 - Indicadores de Insegurança Alimentar e Nutricional..........................................................27 Quadro 2 – Variáveis do estudo............................................................................................................38 Quadro 3 – Descrição da situação de segurança alimentar de acordo com classificação da EBIA......40 Quadro 4 – Pontuação para classificação dos domicílios, com e sem menores de 18 anos de idade, segundo EBIA.........................................................................................................................................41 Quadro 5 – Questionário EBIA.............................................................................................................41 Quadro 6 – Descrição e peso dos indicadores que compõem o Índice de Vulnerabilidade Social.......44 Figura 1 – Linha do tempo da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil ................................................................................................................................................................23 Figura 1 – Prevalências de Insegurança Alimentar domiciliar no Brasil, em 2004, 2009 e 2013...........................................................................................................................................62 Figura 2 – Distribuição espacial das prevalências de insegurança alimentar, por Unidades da Federação, Brasil, 2004, 2009 e 2010........................................................................................................................................................63 Figura 3 - Distribuição dos clusters da correlação espacial bivariada LISA das prevalências de insegurança alimentar com variáveis socioeconômicas e demográficas, nas Unidades Federativas do Brasil, 2009-2010....................................................................................................................................66 Figura 4 - Distribuição dos clusters da correlação espacial bivariada LISA das prevalências de insegurança alimentar com o Índices de Vulnerabilidade Social, nas Unidades Federativas do Brasil, 2009-2010...............................................................................................................................................67 Tabela 1 - Prevalência de domicílios em situação de insegurança alimentar e variáveis socioeconômicas e. demográficas,. por. Unidades. da. Federação,. Brasil,. 2009/2010...............................................................................................................................................64. 13.

(10) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BA. Banco de Alimentos. CAISAN. Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. CNAN. Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição. CNSA. Conferência Nacional de Segurança Alimentar. CONSEA. Conselho Nacional de Segurança Alimentar. DHAA. Direito Humano à Alimentação Adequada. EBIA. Escala Brasileira de Medida de Segurança Alimentar. EMBRATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural FAO. Food and Agriculture Organization. FBSAN. Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional. FNDE. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. HFSSM. Household Food Security Survey Module. IA. Insegurança Alimentar. IAN. Instituto de Alimentação e Nutrição. INSAN. Insegurança Alimentar e Nutricional. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. LISA. Local Indicators of Spatial Association. LOSAN. Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional. MESA. Ministério Extraordinário da Segurança Alimentar e Combate à Fome. PAA. Programa Aquisição de Alimentos. PIDESC. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. PLANSAN. Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. PNAD. Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios. PNAE. Programa Nacional de Alimentação Escolar. PNAN. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. PNSAN. Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

(11) PBF. Programa Bolsa Família. PFZ. Programa Fome Zero. PNUD. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. RDPC. Renda Domiciliar Percapita. RP. Restaurante Popular. SA. Segurança Alimentar. SAN. Segurança Alimentar e Nutricional. SEADE. Sistema Estadual de Análise de Dados. SIG. Sistemas de Informação Geográficas. SISAN. Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. TR. Transferência de Renda. UF. Unidade de Federação.

(12) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................13. 2. REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................................15 2.1. HISTÓRICO, CONCEITOS, POLÍTICAS E INTERVENÇÕES DA SEGURANÇA ALIMENTAR E. NUTRICIONAL .........................................................................................................................................15 2.2. MENSURAÇÃO DA (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL ..................................23. 2.3. PREVALÊNCIAS E DETERMINANTES DA (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. .............................................................................................................................................................................27 3. 4. OBJETIVOS .........................................................................................................................................35 3.1. OBJETIVO GERAL .......................................................................................................................35. 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..........................................................................................................35. MÉTODO ..............................................................................................................................................36 4.1. CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA ...........................................................................................36. 4.2. PLANO AMOSTRAL ....................................................................................................................36. 4.3. VARIÁVEIS ..................................................................................................................................37. 4.4. PROCESSAMENTO DOS DADOS................................................................................................39. 4.4.1. Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) ....................................................................39. 4.4.2. Atlas Brasil (PNUD) .......................................................................................................................41. 4.4.3. Atlas de Vulnerabilidade Social ......................................................................................................42. 4.5. ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................................44. 5. ARTIGO PRODUZIDO .......................................................................................................................46. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................68. 7. REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................69.

(13) 1 INTRODUÇÃO No início da década de 2000, 55 milhões de brasileiros viviam na pobreza, com metade de um salário mínimo mensal per capita, dentre os quais 24 milhões viviam com menos de ¼ de um salário mínimo, em condições de pobreza extrema (FAO, 2015). Esse cenário, constitui uma realidade da estrutura econômico-social do país, que figura dentre as nações com maior desigualdade de renda de todo o mundo. Como forma de diminuir essa desigualdade surge a necessidade de formulação e implantação de políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) mais abrangente e eficazes (AMARAL; BASSO, 2016). Em 2003, com início da gestão do presidente Luís Inácio Lula da Silva, a SAN entrou como eixo prioritário nas ações governamentais, com vistas a combater o quadro de fome e miséria no país. O conceito de SAN se consagrou pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) definida pela realização do direito de todos os cidadãos ao acesso a alimentos de maneira regular e saudável, de modo que a garantia desse direito não afete as demais necessidades essenciais, respeitando a diversidade cultural e que seja sustentável do ponto de vista ambiental, econômico e social (BRASIL, 2006). Isso foi possível por meio de processos históricos e sociais vastos que assumiram uma dinâmica bastante particular do caso brasileiro, caracterizado por um conceito ampliado e desafiador. Foi a partir de diversas organizações da sociedade civil, instituições e movimentos sociais que se constituíram redes de políticas nessa temática (BRASIL, 2006). A perspectiva ampliada da LOSAN, não se restringe à temática da fome, da produção, do consumo ou ainda, do alimento seguro. Outras questões foram incorporadas, tais como o componente nutricional; a dimensão da sustentabilidade dos sistemas produtivos; os aspectos culturais e simbólicos; as desigualdades e a promoção de práticas alimentares saudáveis (ANJOS, BURLANDY, 2010). Em 2004 foi então incorporado a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) à Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) com intuito de mensurar a Insegurança Alimentar (IA) no Brasil e compreender a sua problemática. Foi diagnosticado que 34,8% da população brasileira vivia em algum grau de IA em, deste percentual, na região Nordeste 12,4% apresentava IA grave. Em 2009 e 2013 esses dados foram novamente coletados e notou-se uma redução dos níveis de IA em âmbito nacional para 30,2% e 22,6%, respectivamente (IBGE, 2010; IBGE, 2014). A medição da IA por meio da EBIA é um indicador que reflete a desigualdade social, pois indica o não cumprimento dos direitos essenciais de um indivíduo e repercute negativamente na qualidade de vida de uma população. Na análise da IA deve-se identificar. 13.

(14) seus determinantes, e com isso, tornar possível identificar quais os grupos mais vulneráveis, facilitando o direcionamento das práticas a serem realizadas e a formulação de ações que possam solucionar ou amenizar este problema (ANTUNES; SICHIERI; SALLES-COSTA, 2010). Além disso, conhecer o comportamento espacial da IA pelo território brasileiro permite uma perspectiva singular para melhor compreensão dos processos que permeiam a ocorrência desse agravo. Essas técnicas de análise espacial de dados, permite a identificação de possíveis padrões no território, que neste estudo procurou-se, investigar como esses padrões alimentares e nutricionais se comportam ao longo do tempo e se organizam nos espaços geográficos. Esta análise permite entender os fatores econômicos, sociais, políticos e culturais contribuintes para a ocorrência de IA (FARIA; BORTOLOZZI, 2009). Essa importância, se deve ao fato de ser uma realidade ainda encontrada nos domicílios brasileiros, em que essas privações e instabilidade de acesso aos alimentos, do ponto de vista tanto qualitativo quanto quantitativo, decorrente de uma exclusão social, podem ocasionar graves consequências ao bem-estar e saúde dos indivíduos. Então, conhecer esses territórios afetados permitirá um planejamento de políticas públicas que tenham impacto na redução da pobreza e das prevalências de IA, com garantia de SAN e Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA).. 14.

(15) 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 HISTÓRICO, CONCEITOS, POLÍTICAS E INTERVENÇÕES DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Em âmbito mundial, o conceito de Segurança Alimentar (SA) foi introduzido na Europa a partir da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Sua origem esteve ligada à ideia de segurança nacional e à capacidade dos países em produzir o seu próprio alimento e formação de estoques, de modo que não dependessem de motivação política ou militar. Nesse período, ficou claro que um país poderia exercer domínio sobre o outro através do controle do fornecimento de alimentos. Com isso, a alimentação tornou-se uma importante arma de interesse, principalmente, pelos países desenvolvidos (MALUF, 2011). Depois desse período, principalmente após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), o conceito de SA passou por evoluções sucessivas, incorporando-se outros aspectos importantes relacionados à disponibilidade estável e adequada de alimentos, além do acesso e qualidade, inserindo-se como estratégia de alcance da SA a redistribuição de recursos materiais, da renda e da redução da pobreza (LIMA; SAMPAIO, 2015). No Brasil, esses debates sobre a fome tiveram seu início em 1930 quando Josué de Castro (1908-1973) escreveu seu primeiro ensaio sobre a dimensão e gravidade da fome no país. O autor identificou que a fome era um fenômeno socialmente determinado e que, portanto, requeria soluções sociais e políticas. Mais tarde, o grande apogeu da obra de Josué de Castro foi a Geografia da fome, publicada em 1953, deu destaque ao conceito de “fome oculta, na qual pela falta permanente de determinados elementos nutritivos, em seus regimes habituais, grupos inteiros de populações se deixam morrer lentamente de fome, apesar de comerem todos os dias” , daí a. importância de políticas, programas e ações por parte do estado para promover e proteger o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Esse autor entendia o problema da alimentação como um complexo de manifestações simultaneamente biológicas, econômicas e sociais (MALUF, 2007; MALUF; REIS, 2013). Em meados da década de 80, surgiram no Brasil uma série de movimentações sociais em busca da ampliação dos direitos e melhores condições de vida, com ênfase na redução da desigualdade social. O surgimento do termo “Segurança Alimentar” no país ocorreu bem posteriormente, marcado por dois eventos da década de 80: a proposta, por indivíduos ligados ao Ministério da Agricultura, da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), a qual visava o abastecimento alimentar para populações em vulnerabilidade; e a. 15.

(16) realização da I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição (I CNAN) em 1986 com foco de tornar a alimentação um direito de todos (AMARAL, BASSO, 2016). Durante esse desenvolvimento histórico do debate acerca da fome e miséria, surgiram diferentes conceitos empregados a SAN, portanto, nota-se que é um conceito em permanente construção, em que a inserção do adjetivo “Nutricional” à formulação tradicional “Segurança Alimentar” foi característico do caso brasileiro desde à década de 90, interligando os enfoques socioeconômicos e de saúde, os quais estiveram na base da noção de SAN (MALUF, 2007). Elucida-se que nesse período, essa consolidação do conceito de SAN no País, ocorreu entendendo-se que a SA está além da abordagem técnica da “segurança dos alimentos” referente às condições higiênico-sanitárias. Foi compreendido que, de fato, o Brasil passou por mudanças alimentares, que repercutiram no perfil nutricional da população, em que passou a predominar a má nutrição ou Insegurança Alimentar e Nutricional (INSAN), expresso não apenas pelo baixo peso, mas também pelo sobrepeso e obesidade em diversos seguimentos da sociedade (LIMA; SAMPAIO, 2015). Contrário ao cenário de reinvindicações visualizado nas décadas de 80 e 90, o Brasil foi caracterizado por uma hegemonia política neoliberal, composta por uma fragmentação, além de paralisia e retrocesso nas políticas sociais. Durante o governo do presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), instituições relacionadas à SAN, como a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e o Instituto de Alimentação e Nutrição (INAN) foram extintas ou desestruturadas, assim como diversos outros programas ligados à alimentação (IPEA, 2014). Em 1991, foi divulgada a proposta para implementação de uma Política de SAN buscando uma maior descentralização, imprescindível para obtenção da SA. Inicialmente teve um restrito impacto, porém, em 1993 foi aceita no governo de Itamar Franco como uma das fundamentações para instalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), proporcionando contribuições através da introdução dos temas agroalimentar e fome como prioridades no contexto nacional (MALUF; MENEZES; VALENTE, 1996). O CONSEA o qual é um órgão de assessoramento imediato à Presidência da República, que integra o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), é um espaço institucional para o controle social e participação da sociedade na formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas de SAN, com vistas a promover a realização progressiva do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), em regime de colaboração com as demais instâncias do SISAN (MANIGLIA, 2009).. 16.

(17) A operacionalização de uma política de SAN, de acordo com a LOSAN, deve proporcionar a articulação das dimensões alimentar (produção, comercialização e consumo) e nutricional (utilização do alimento pelo organismo e sua relação com a saúde). Os princípios e diretrizes da política atuam como norteadores das ações a partir dos dois grandes pilares: DHAA e soberania alimentar (BURLANDY; MAGALHÃES; FROZI, 2013). De acordo com a LOSAN, os princípios norteadores de uma política de SAN são: universalidade, autonomia, respeito à dignidade humana, participação social e transparência, e as diretrizes se referem à promoção da intersetoralidade, descentralização, monitoramento, conjunção de medidas de caráter emergencial e estrutural, articulação entre gestão e orçamento e ao estímulo ao desenvolvimento de pesquisas. Cabe, com isso, analisar como esses princípios e diretrizes são concebidos nesse arcabouço legal (BRASIL, 2006). Esse período de movimento de ação da cidadania iniciou uma grande sensibilização na sociedade brasileira em relação à fome e a miséria. Com isso, ganhou adesão social e institucional, culminando com a formação de diversos comitês de solidariedade e combate à fome (estimativas apontam que, no final de 1995, existiam mais de cinco mil comitês operando em todo o país), os quais atuavam na implantação de inúmeras capacitações, gerando trabalho e renda. (TURPIN, 2008). Nesse contexto, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais PIDESC, adotado pela XXI Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 19 de dezembro de 1966, e promulgado no Brasil, pelo Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992, estabeleceu, que os estados deveriam reconhecer o direito de todo indivíduo possuir condições de vida adequadas, incluindo a alimentação. Para cumprir com tais objetivos, os estados assumiram compromissos de difundir os princípios da educação nutricional, assegurando divisão equitativa dos recursos alimentícios de acordo com as necessidades de cada País (FARIA; SILVA, 2016). Em 1998 teve início o processo de formulação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e, em 1999 ela foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde como elemento integrante da Política Nacional de Saúde. Os eixos de ação, definidos na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar (CNSA) em 1995, foram estratégicos para a construção da PNAN, são eles: produção e acesso a uma alimentação de qualidade; necessidade de programas de alimentação e nutrição para grupos populacionais nutricionalmente vulneráveis; controle de qualidade dos alimentos; promoção de hábitos alimentares e estilos de vida saudável (BRASIL, 1999). Além disso, a PNAN inova ao firmar a promoção do DHAA como fundamento de suas. 17.

(18) ações e apontar para a necessidade de criação de uma política abrangente de SAN (VASCONCELOS, 2005). Ainda, no final desse mesmo ano, cerca de 50 entidades da Sociedade Civil criaram o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN), atualmente Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, que procurou estimular a criação de Conselhos Estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional nos estados brasileiros (FARIA; SILVA, 2016). Com a virada do milênio, a mobilização nacional a respeito do combate à fome e pobreza se intensificaram, com isso, teve destaque as reinvindicações por políticas de SAN mais eficazes, as quais culminaram com a vinculação do Programa Fome Zero (PFZ) ao plano de governo do candidato à presidência da república Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) eleito em 2002. Os programas de Transferência de Renda (TR) podem ter papel relevante na melhoria das condições sociais da população, especialmente entre aqueles em extrema pobreza. Considerando que a renda é um preditor, ainda que não o único, da SAN, é de supor que os ganhos em rendimento tenham, também, contribuído para a redução da INSAN e da fome. (AMARAL; BASSO, 2016; SEGALL-CORRÊA et al., 2008). Somado aos programas já existentes, em 2003, foi criado o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) com uma concepção intersetorial da SAN, o qual integra as demandas de acesso aos alimentos pela população em vulnerabilidade social às necessidades de mercado da agricultura familiar. Esse programa adquire gêneros alimentícios, sem necessidade de licitação, dos agricultores familiares e os repassa para os equipamentos públicos da área de alimentação e nutrição (restaurantes populares, bancos de alimentos e cozinhas comunitárias), organizações sociais, dentre outros. Com isso, oportuniza a inserção nos mercados com a criação de canais de comercialização e geração de trabalho e renda, além de possuir um amplo espectro de atuação, agindo simultaneamente na tríade produção-comercialização-consumo (GRISA; ZIMMERMANN, 2014; BECKER; ANJOS, 2010). Um dos programas integrados à rede de ações e programas desenvolvidos pelo PFZ, além do PAA, é o Restaurante Popular (RP) que têm como princípios essenciais a produção e a distribuição de refeições saudáveis, com alto valor nutricional e também com preços acessíveis originadas de processos seguros e da agricultura familiar, em local confortável e de fácil acesso. Esses restaurantes devem ser implantados em regiões de grande movimentação diária de trabalhadores de baixa renda ou ainda em regiões periféricas onde há maior concentração de indivíduos em vulnerabilidade social (PORTELLA; BASSO; MEDINA, 2013).. 18.

(19) Outra importante estratégia de combate a IA é o Banco de Alimentos (BA) que atuam na arrecadação e distribuição de alimentos. Os gêneros alimentícios são recebidos, selecionados, embalados e distribuídos gratuitamente à entidades assistenciais, as quais se encarregam de distribuir para as populações mais vulneráveis. Em contrapartida, as entidades beneficiadas participam de atividades de capacitação e educação alimentar e nutricional desenvolvidas pelo BA (COSTA, et al, 2014). Além disso, o Programa Nacional de apoio à captação de água de chuva e outras tecnologias sociais (Programa Cisternas) financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) desde 2003, porém instituído apenas em 2013 pela Lei nº 12.873 foi criado com o objetivo de promover o acesso a água para consumo humano e para produção de alimentos por meio da implementação de tecnologias simples e de baixo custo para famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de água (BRASIL, 2013) Em 2004 é criado o Programa Bolsa Família (PBF) pela Lei nº 10.836, o qual apesar de não constituir o primeiro programa de TR desenvolvido no País, destaca-se por dois aspectos: (1) reconhecimento do seu sucesso na melhoria das condições sociais do país e do combate à fome, e (2) possibilidade de enfrentamento simbólico e moral da condição de pobreza. Além disso, relaciona-se com avanços no processo emancipatório dos brasileiros, considerando que a pobreza é vista como além da escassez de recursos, e se articula com conceitos de incapacidade pessoal para o trabalho, o que impõe uma realidade de exclusão também no sentido moral (SILVA; DEL GROSSI; FRANÇA, 2010; FARIA; SILVA, 2016). Uma característica desse programa é a vinculação dos beneficiários ao atendimento de requisitos que reforçam o acesso das famílias à saúde e à educação. Quanto à saúde, os beneficiários têm o compromisso de levar as crianças menores de sete anos para tomar as vacinas recomendadas e fazer acompanhamento de crescimento e desenvolvimento, enquanto que as gestantes devem fazer o pré-natal. Em relação ao âmbito educacional, devem matricular as crianças e os adolescentes de seis a 17 anos na escola e responder a uma frequência escolar mínima exigida. Isso contribui para o desenvolvimento saudável das crianças e melhores condições educacionais para vencer o ciclo da pobreza (FARIA; SILVA, 2016). Além disso, existem repercussões na autonomia e cidadania dos beneficiários, de modo que, de acordo com Rego e Pinzani (2014), dentre as mudanças significativas na vida dessas famílias, há um início da superação da cultura da resignação de uma morte por fome ou doenças decorrentes da pobreza. O PBF possibilita também a aquisição de crédito para seus beneficiários, seja econômico ou simbólico. Há, portanto, um estímulo a um vínculo de. 19.

(20) pertencimento a uma comunidade política, além de favorecer a liberdade de escolha e decisão relacionada à disponibilidade de algum dinheiro. Cotta e Machado (2013) em sua revisão sobre o impacto do PBF na SAN concluíram que o programa promove às populações em vulnerabilidade social, um aumento no acesso alimentar, com consequente diminuição na INSAN. Por outro lado, há um aumento no consumo de alimentos de alta densidade energética e baixa qualidade nutricional, constituindo em um fator de risco para sobrepeso, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. Ainda assim, o PBF além de ter melhorado o acesso aos alimentos em quantidade e variedade, favoreceu uma melhora no estado nutricional das crianças. Nesse sentido, ressalta-se a importância de políticas de educação alimentar em atuação conjunta com as de transferência de renda. Além disso, no governo Lula foi recriado o CONSEA e criado o Ministério Extraordinário da Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA), além de outros programas com relação direta à SAN (AMARAL; BASSO, 2016). O CONSEA buscando desempenhar suas funções, realizou em 2004 a II CNSA, dando encaminhamento a uma das suas principais propostas, dentre elas a criação da PNSAN a partir da Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional em 2006. Esta criou ainda, o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) com objetivo de promover ações baseadas na universalidade e equidade do acesso a uma alimentação adequada com participação de todas as esferas de governo (CONSEA, 2004; PINHEIRO, 2009). A LOSAN institucionalizou, o conceito de SAN como: A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006).. No que se refere ainda aos avanços das políticas de SAN, outras duas importantes iniciativas merecem destaque. Em 2006, foi aprovada a “Lei da Agricultura Familiar” (Lei nº 11.326),. responsável. por. caracterizar. os. agricultores. familiares,. conferindo-lhes. reconhecimento legal, aspecto indispensável para o avanço de suas políticas públicas. Anos depois, em 2009, foi aprovada a Lei nº 11.947, a qual ampliou o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) a toda a rede pública de educação básica, e obrigou os gestores públicos a empregarem, no mínimo, 30% dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na compra de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar. Essas duas leis reforçaram o vínculo da agricultura familiar com a alimentação escolar e a SAN (AMARAL; BASSO, 2016).. 20.

(21) Ainda em 2006, foi criada a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) por meio do Decreto nº 7272 no governo do presidente Lula com o objetivo de promover a soberania e a SAN, e assegurar o DHAA para todo o território nacional. Mesmo antes da institucionalização da PNSAN, foi em torno do tema da fome, da possibilidade concreta e da urgência ética de sua superação, que o Brasil começou a desenhar os seus mais importantes programas de combate à pobreza, conseguindo uma melhora nas condições sociais da população, o que ocasionou impactos positivos na SAN do país (BRASIL, 2010; CAISAN, 2011). Posteriormente, em 2010, a alimentação foi incluída no 6º artigo da atual Constituição Federal de 1988 como direito social, por meio da Emenda Constitucional nº64/2010. “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 2010). A partir dessas conquistas, surgiram os Planos Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN) 2012-2015 e 2016-2019, os quais buscam consolidar e expandir essas ações. Elaborados pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) integram dezenas de ações voltadas para a produção, fortalecimento da agricultura familiar, abastecimento alimentar e promoção da alimentação saudável e adequada para o determinado período plurianual, além de ser um instrumento de monitoramento das metas para superação da extrema pobreza no país (CAISAN, 2011; CAISAN, 2016). Em 2014 foi um dos maiores marcos da superação da fome e pobreza no Brasil, o país foi citado como caso de sucesso no esforço mundial ao sair do mapa da fome. Houve uma redução de 82% na população considerada em situação de subalimentação entre 2002 e 2013. Isso foi possível devido os programas de erradicação da extrema pobreza, a agricultura familiar e as redes de proteção social como medidas de inclusão social no Brasil (FAO, 2014). Em síntese, está apresentada a linha do tempo quanto ao histórico da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil. A figura demonstra claramente a importância das políticas instituídas em um curto intervalo de tempo e o quanto as ações desenvolvidas a partir de 2004 alavancaram a execução de intervenções públicas objetivando a redução da IA.. 21.

(22) Figura 1 - Linha do tempo do histórico da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil. Fonte: Autoria Própria.. 22.

(23) 2.2 MENSURAÇÃO DA (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A questão alimentar e nutricional se relaciona com diversos aspectos, sejam os sociais, culturais, políticos e econômicos. Estes envolvem fragilidades, seja as relacionadas ao componente alimentar, que se refere à produção, disponibilidade, comercialização, acesso e consumo alimentar adequado e saudável, como também ao componente nutricional, relativo às práticas alimentares e ao aproveitamento biológico desses nutrientes, as quais podem ser avaliados por meio de indicadores antropométricos, bioquímicos e clínicos (PRADO et al., 2010). Devido à complexidade do entendimento da INSAN e seus determinantes, há uma certa dificuldade na mensuração e entendimento dessa situação. Em vista disso, vários são os procedimentos e parâmetros utilizados (MALUF; REIS, 2013; KEPPLE; SEGALL-CORRÊA, 2011). De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) existem pelo menos sete dimensões que influenciam a SA: eficiência e eficácia; igualdade e justiça; responsabilidade; capacidade de resposta; transparência; participação e estado de direito. O desafio é encontrar a forma adequada de se enquadrar no contexto político de cada país, bem como nas necessidades específicas de cada população. Em termos operacionais essas dimensões são úteis para apontar mecanismos que permitam melhorar o sistema alimentar (FAO, 2011). No Brasil, visando atender a função do SISAN, o Grupo Técnico (GT) elaborou uma proposta de indicadores para o monitoramento da realização do DHAA no país, a qual possui sete dimensões, selecionadas a partir do estudo de modelos teóricos dos determinantes da SAN: produção de alimentos; disponibilidade de alimentos; renda e despesas com alimentação; acesso à alimentação adequada; saúde e acesso aos serviços de saúde; educação e; políticas públicas e orçamentos relacionados a SAN. O Decreto nº 7.272/2010 adotou essas dimensões para monitoramento da PNSAN (CONSEA, 2010). No entanto, persistem desafios históricos para a plena realização do DHAA no País, como a concentração de terra, as desigualdades (de renda, étnica, racial e de gênero), a INSAN dos povos indígenas e comunidades tradicionais, entre outros (CONSEA, 2010). Logo, para um maior compreensão acerca disso, dividiu-se alguns dos principais indicadores indiretos de SAN em dois componentes: alimentar e nutricional, elucidados a seguir. Quanto ao componente alimentar, um dos indicadores para medir se uma família que encontra-se em IA é a renda domiciliar per capita, a qual relaciona-se ao valor monetário mínimo necessário para a compra de uma cesta básica de alimentos, além de outros itens. 23.

(24) essenciais para adequadas condições de vida, como saúde, educação, transporte e vestuário, e que, portanto, passam a constituir um valor de rendimento a partir do qual estaria garantido aos indivíduos um consumo calórico adequado (KEPPLE; SEGALL-CORRÊA, 2011). Esses indicadores de renda são importantes, principalmente na identificação dos beneficiários de programas sociais, entretanto podem identificar falsos resultados considerando que existem indivíduos que mesmo estando abaixo da linha da pobreza não se apresentam em INSAN (SEGALL-CORRÊA, 2007). Além disso, a disponibilidade domiciliar de alimentos também é uma importante preditora de IA. Para isso, utiliza-se um inquérito domiciliar, o qual é aplicado em um único dia e os moradores informam os alimentos disponíveis no domicílio referente aos últimos 30 dias. A família relata as quantidades a partir da produção para consumo, bem como os alimentos comprados, trocados ou beneficiados (ANJOS; SOUZA; ROSSATO, 2009). A verificação de quanto da disponibilidade de alimentos para consumo, no domicílio, supre a necessidade da família é feita realizando-se o cálculo de energia diária disponível considerando a estimativa de necessidades energéticas de todos os membros da família, de acordo com metodologia proposta pela FAO. Cada item alimentar é convertido para quilocalorias e divididos pelos 30 dias de um mês e, posteriormente, pelo número de pessoas no domicílio, a fim de avaliar a suficiência de energia disponível para atender as necessidades alimentares de todos os membros da família, possibilitando a classificação das famílias quanto à situação de Segurança ou Insegurança Alimentar (LEVY-COSTA et al, 2005). Outra forma de compreender o grau de IA de um indivíduo é por meio do seu consumo e hábitos alimentares, em um contexto em que a terra, a saúde, o corpo e o alimento se configuram como mercadorias são criados perfis de desejos e necessidades em torno da comercialização e do consumo, o que culmina com hábitos alimentares inadequados. Essa escolha inadequada na alimentação, ocasiona ora fornecimento insuficiente de determinados nutrientes necessários para uma adequada nutrição, ora a ingestão excessiva de algumas substâncias, contribuindo para sobrepeso, obesidade e doenças crônicas (SILVA, et al. 2012). Em relação ao componente nutricional, há os indicadores antropométricos, os quais são indicadores indiretos da IA, considerando que por muito tempo, os indivíduos em vulnerabilidade social e IA apresentavam déficits de peso e estatura (principalmente crianças) (SEGALL-CORRÊA, 2007). Entretanto, os dados antropométricos, especialmente os de estatura, se reflete de forma tardia como consequência de privações alimentares crônicas. Portanto, aceitar que a ausência de déficits antropométricos significa ausência de fome, implica em um erro, pois desconsidera adaptações biológicas, comportamentais e sociais. Esses 24.

(25) elementos têm permitido associações da IA inclusive com obesidade (BURLANDY; COSTA, 2007). Ainda sobre os aspectos nutricionais, os indicadores clínico-biológicos, apesar de não medirem a INSAN, podem ser utilizados para aferição de particularidades em situações de INSAN, pois a deficiência em nutrientes é resultado da pobreza e IA, principalmente em crianças, com destaque para a anemia e hipovitaminose A, diagnosticadas por exames clínicos e bioquímicos específicos. O abandono precoce do aleitamento materno associado a uma alimentação complementar inadequada com baixo teor de ferro e vitamina A soma efeito multiplicador no aumento do risco dessas carências nutricionais, o que reflete na violação do direito ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficientes (OLIVEIRA et al., 2010; ZUFFO et al., 2016). A partir de 1990 novos indicadores de IA foram criados para obtenção de informações sobre a condição de segurança alimentar. Como a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, a qual é um indicador direto do estado de IA através de um questionário aplicado ao responsável da família com a finalidade de adquirir informações específicas e estatísticas confiáveis a partir de uma adequação a um instrumento criado nos Estados Unidos da América, o Household Food Security Survey Module (HFSSM) capaz de mensurar a magnitude do problema da IA na população, por meio da sua classificação em níveis. Como parte do esforço para combate à IA e vulnerabilidade social, e visando também compreender melhor a problemática desse tema no Brasil, o IBGE, incluiu, pela primeira vez na PNAD de 2004, a EBIA em suas pesquisas nacionais (SEGALL-CORRÊA, 2007; ROMÃO, 2010; SEGALL-CORRÊA; MARIN-LEON, 2009). Um argumento forte em favor desse indicador é exatamente a sua capacidade de contemplar não apenas a mensuração da dificuldade de acesso familiar aos alimentos, mas também as dimensões psicológicas e sociais da IA. A EBIA é usada como recurso e método quantitativo para medir um fenômeno de natureza social, sendo especialmente útil para o entendimento dos fatores que condicionam ou determinam a IA (KEPPLE; SEGALLCORRÊA, 2011). Além disso, a EBIA é capaz de identificar diferentes graus de acesso aos alimentos caracterizando os indivíduos em quatro categorias: em segurança alimentar ou em diferentes graus de inseguranças alimentar (leve, moderada ou grave) (SEGALL-CORRÊA et al., 2004). Em agosto de 2010, por meio da Oficina Técnica para Análise da Escala Brasileira de Medida Domiciliar de Insegurança Alimentar, a qual contou com a participação dos principais pesquisadores e órgãos da área, foi realizada uma atualização da EBIA. Tendo em vista as 25.

(26) tendências recentes de aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade da população, os aprimoramentos consistiram na exclusão da associação da perda de peso com a IA e exclusão de item repetitivo. O questionário da pesquisa passou a ter 14 perguntas sobre a situação alimentar vivenciada no domicílio nos últimos 90 dias que antecederam a entrevista (IBGE, 2014). Posteriormente, Santos et. al. (2014) propuseram versão curta da EBIA, uma composta por cinco e outra por sete questões, as quais mostraram alta sensibilidade e especificidade quando comparados à EBIA. Foi visto que os modelos propostos apresentaram precisão ao medirem a prevalência de IA, mostrando resultados semelhantes àqueles encontrados pelo padrão de referência, a versão original. A utilização de versões mais curtas pode facilitar a mensuração da IA em estudos cujos recursos ou tempo são insuficientes para aplicação da escala completa. É importante destacar que o intuito desses modelos curtos não é de substituir a EBIA, já que não medem os graus de intensidade da IA, não detectando famílias que vivem em situação de fome. Diante disso, indicadores de saúde e acesso aos serviços de saúde trazem um panorama das condições de má nutrição e INSAN de populações, além dos indicadores antropométricos, parâmetros como baixo peso ao nascer e mortalidade infantil são considerados importantes na predição de vulnerabilidades. A taxa de mortalidade infantil (menores de 1 ano) reflete condições mais amplas, como desenvolvimento socioeconômico, infraestrutura ambiental, acesso e a qualidade dos recursos para a atenção à saúde materna e infantil disponíveis (CONSEA, 2010). Esses indicadores indiretos de SAN (Quadro 2) e a EBIA como indicador direto são capazes de elucidar os principais determinantes desse estado, apontar sua magnitude, as características da população afetada e, ainda, expor os efeitos da IA e da fome sobre a saúde, a nutrição e qualidade de vida das pessoas, além de servirem como instrumentos para acompanhamento e avaliação de ações e políticas no âmbito do combate à fome (KEPPLE; GUBERT; SEGALL-CORRÊA, 2016).. Quadro 1. Indicadores Indiretos de Segurança Alimentar e Nutricional. Indicadores. Componente Alimentar. Descrição. Renda Domiciliar É um indicador Percapita indireto de acesso aos alimentos, uma vez que na ausência de recursos financeiros a. Limitações Podem identificar falsos resultados considerando que existem indivíduos que mesmo estando 26.

(27) compra de alimentos abaixo da linha da estará comprometida. pobreza podem estar em SAN. Disponibilidade Busca avaliar a Analisa a domiciliar de presença física do disponibilidade no alimentos alimento a ser domicílio e não disponibilizado para necessariamente o consumo familiar e se consumo dos esse supre as alimentos e sua necessidades distribuição nutricionais da intrafamiliar. família. Consumo Alimentar São considerados Dificuldade de medidas diretas de verificação da segurança alimentar, adequação do métodos que avaliam consumo alimentar às o consumo alimentar necessidades ideias de individual, por meio muitos nutrientes, o da frequência que gera dificuldade semanal ou do no estabelecimento de recordatório de 24h. deficiência ou excesso. Antropométricos Indicador indireto da Pode indicar um falso segurança alimentar e resultado, já que pode nutricional que reflete haver indivíduos em Componente os impactos das insegurança alimentar Nutricional carências e nutricional com peso nutricionais. adequado ou em sobrepeso/ obesidade. Fonte: Autoria própria.. 2.3 PREVALÊNCIAS. E. DETERMINANTES. DA. (IN)SEGURANÇA. ALIMENTAR E NUTRICIONAL Evidencia-se que as condições de saúde de uma população estão relacionadas com o contexto social e ambiental em que esta vive. A pobreza, as precárias condições de moradia, o inadequado ambiente urbano, impróprias condições de trabalho são fatores que afetam de forma negativa as condições de saúde de uma população. Esse estado de vulnerabilidade social, dificulta o acesso adequado a alimentos seguros e nutritivos, contribuindo para a IA (BARRETO, 2017). As desigualdades causadas pelo sistema econômico e ao processo produtivo, principalmente de alimentos, são fatores determinantes da fome. Para superação da fome é preciso torna-la parte das políticas mundiais que garantam direitos, de condições de vida, educação, saúde, trabalho, lazer, incluindo a qualidade sanitária e nutricional dos alimentos, ou. 27.

(28) seja, faz-se necessário controlar os riscos provenientes de uma produção, comercialização e/ou consumo inadequados (BURLANDY; COSTA, 2007). Kepple e Segall-Corrêa (2011) observaram que a fome se revela como um fenômeno com aspectos tanto físicos quanto psicológicos e sociais. Para cada nível, domiciliar ou individual, identificaram-se os componentes relacionados à quantidade e à qualidade dos alimentos, além de um componente psicológico que inclui a preocupação e sensação de privação. Há ainda, um componente social ligado à maneira pela qual os alimentos são obtidos, padrões de alimentação rompidos, ou seja, quando a situação financeira precária já não permite manter os hábitos alimentares tradicionais da família. A partir disso, houve a apropriação do direito dos povos decidirem sobre suas estratégias de produção e consumo dos alimentos de que necessitam, ou seja, ter soberania plena para decidir o que cultivar e o que comer. Essa Soberania Alimentar foi definida no Fórum Mundial sobre Soberania Alimentar, realizado em Havana (Cuba), em 2001 como: O direito dos povos definirem suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação para toda a população, com base na pequena e média produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade dos modos camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agropecuária, de comercialização e gestão dos espaços rurais, nos quais a mulher desempenha um papel fundamental (…). A soberania alimentar é a via para se erradicar a fome e a desnutrição e garantir a segurança alimentar duradoura e sustentável para todos os povos (FÓRUM MUNDIAL SOBRE SOBERANIA ALIMENTAR, 2001). É nesse sentido que emerge um novo paradigma com formas mais sustentáveis e equitativas de produção e comercialização de alimentos com atenção especial aos grupos sociais mais vulneráveis à fome e a desnutrição. Com isso, as ações e políticas de SAN participam da difícil tarefa de associar dinamismo econômico, promoção de equidade social e melhoria sustentável da qualidade de vida, como exemplo as políticas de TR, as quais se caracterizam como estratégia para diminuição da miséria, auxiliando no combate à INSAN (MALUF; REIS, 2013). Logo, com o intuito de conhecer a prevalência de IA no Brasil e seus fatores determinantes, de acordo com uma metanálise realizada no ano de 2014, os estudos analisados foram utilizadas diversas variáveis demográficas e socioeconômicas. A variável que apresentou maior associação com a IA foi a pior renda familiar. A seguir, a escolaridade do chefe do domicílio em 60% dos estudos. Também foram relevantes as variáveis: região geográfica, com pior situação para a zona rural; número de indivíduos no domicílio, sendo maior a probabilidade de IA em domicílios com maior quantidade de indivíduos; tipo de moradia precária; 28.

(29) participação em programas de transferência de renda e/ou doação de alimentos (BEZERRA; OLINDA; PEDRAZA, 2017). A escolaridade da mãe, a idade da mãe, o local do domicílio, a coleta de lixo no domicílio e o abastecimento de água no domicílio foram também variáveis que apresentaram associação com a IA familiar. Além disso, foi observado maiores prevalências de IA entre as populações em iniquidades sociais, em que a chance desses indivíduos estar em IA foi 18,67 vezes maior, principalmente IA moderada e grave (BEZERRA; OLINDA; PEDRAZA, 2017). Pesquisa recente realizada em assentamentos da zona rural de Sergipe encontrou 88,8% de IA, em que 15,1% foi do tipo grave, com restrição quantitativa inclusive para crianças. Foi encontrada associação positiva entre IA e baixa renda familiar per capita, baixa ingestão do grupo alimentar carnes e ovos, intervalo entre as refeições maior ou igual a quatro horas e alimentação pouco variada. Destaca-se que nestes assentamentos as terras são destinadas principalmente para a agricultura, apenas uma pequena parte para a pecuária, o que quando associada a baixa renda, favorece um menor acesso a alimentos proteicos e uma menor variedade alimentar (ALMEIDA, et. al, 2017). Somado a isso, um estudo também na zona rural, dessa vez de um município localizado na região metropolitana de Fortaleza, Ceará, buscou avaliar a IA em pré-escolares (três a seis anos de idade) e encontrou semelhante prevalência de IA (88%), sendo 24,5% grave, 28,5% moderada e 35% leve, e apenas 12% das crianças em SAN. Foi verificada associação estatisticamente significante com a prevalência de (in) segurança alimentar e a escolaridade do responsável, o número de moradores do domicílio e a renda familiar mensal, não sendo significativa a relação com estado civil, trabalho fora de casa e número de filhos em idade préescolar (AIRES, et al., 2012). Souza, Pedraza e Menezes (2012) avaliaram a (in) segurança alimentar em crianças de uma creche no município de João Pessoa e, revelou que 40,4% das famílias das crianças analisadas foram classificadas em SAN, predominando, portanto, a situação de IA (59,6%), sendo 9,2% grave, 18,0% moderada e 32,4% leve. As crianças com estatura e peso normal apresentaram maior proporção de SAN, já as crianças com déficit de estatura e excesso de peso tiveram expressiva proporção de IA leve: 42,0% e 43,8%, respectivamente. Em creches públicas no Estado da Paraíba a prevalência de IA foi de 62,0%, com 33,4% em IA leve, 16,9% moderada e 11,7% grave. Em que foram encontrados maiores prevalências deste agravo em crianças amamentadas por menos tempo, baixa estatura materna e idade da mãe inferior a 20 anos, piores condições de habitação, renda per capita menor que meio salário. 29.

(30) mínimo e ser beneficiário do programa bolsa família (PEDRAZA; QUEIROZ; MENEZES, 2013). Ademais, pesquisas realizadas coma crianças no Nordeste brasileiro encontraram altas prevalências de IA nessa população. Na zona da mata foi encontrado uma prevalência de 90% das famílias em IA sendo a forma grave a mais prevalente chegando a 43,8% na zona urbana. No semiárido a IA foi presente em 87% das famílias, prevalecendo a forma moderada (40,2%) (OLIVEIRA et. al., 2010; OLIVEIRA, et al., 2009). Lopes et. al. (2012) estudaram a prevalência de IA em 523 adolescentes de baixa renda com faixa etária de 12 a 18 anos. A prevalência de IA foi de 36% e 24% relataram IA moderada ou grave, a qual foi associada a características socioeconômicas desfavoráveis e, inversamente associada a ingestão alimentar de proteína e cálcio. Entretanto, não houve associação entre IA e excesso de peso, evidenciando a complexidade dessa questão. Percebe-se então que a renda familiar disponível influencia de forma significativa no consumo alimentar, em que quando há uma situação de redução da renda, a primeira atitude da família é consumir alimentos mais baratos, para que a quantidade não seja comprometida, enquanto que a qualidade é. Uma vez se tenha uma retração mais drástica dessa renda, a quantidade de alimentos consumidos se reduz. Essa realidade alerta para o fato de que a fome pode ser uma realidade mesmo na ausência de sinais clínicos específicos (BURLANDY; COSTA, 2007). Pedraza e Sales (2014) trataram sobre a importância da condição socioeconômica como determinante da INSAN, apontada principalmente pelo benefício dos programas de TR, como o PBF. Possibilita-se, assim, explicar os resultados encontrados em seu estudo, onde as maiores chances de níveis de severidade de INSAN grau II e III, foram encontradas nas famílias de mães com baixa estatura, nas famílias de mães com cuidados inadequados durante a gravidez e nas famílias beneficiárias do PBF. De acordo com os autores, avaliar a severidade de INSAN possibilita retratar de forma mais completa o risco sobre a continuidade do acesso aos alimentos, resultando em critério de desigualdade. Isto constitui um elemento de grande utilidade para planejamento de intervenções efetivas. Sabe-se que em situações de vulnerabilidade socioeconômica há associação com baixos níveis de condições de saúde. Assim, o crescimento das desigualdades sociais influencia na saúde e no acesso e/ou consumo de alimentos. É conhecido que nos grupos de menor renda que encontra-se as maiores prevalências de IA. Esta é 10 vezes maior em famílias que receberam menos de dois salários mínimos àquelas que receberam mais que quatro salários (SANTOS; GIGANTE; DOMINGUES, 2010; GREGÓRIO et al., 2014). 30.

(31) Considerando os grupos em vulnerabilidade socioeconômica, encontra-se a mulher, fruto de uma discriminação e violência praticadas historicamente desde o modelo patriarcal, de que o homem estava no centro e controlava as mulheres, culminando com uma desigualdade inclusive no mercado de trabalho. A partir disso, tem sido adotadas medidas protetivas às mulheres, por meio da criação de programas como o Bolsa Família e Mulheres Rurais, os quais proporcionaram maior autonomia e soberania alimentar, necessário para o alcance da SAN (LIMA; LIMA; SILVA, 2016). Uma pesquisa realizada com mulheres sexualmente ativas no Brasil observou que a IA severa com a presença de fome foi associada a redução da probabilidade do uso de preservativos e aumento da probabilidade de doenças sexualmente transmissíveis. Foi concluído então que intervenções visando a promoção da SAN podem ter implicações benéficas para prevenção de doenças como HIV (TSAI; HUNG; WEISER, 2012). Comunidades quilombolas são também populações com alto grau de vulnerabilidade. Com o objetivo de identificar a prevalência de IA nessa população Silva et. al. (2017) investigaram este desfecho de acordo com a residência (quilombolas ou não quilombolas) no Nordeste brasileiro e encontrou 52,1% de IA, sendo 64,9% entre quilombolas e 42% entre os demais. A IA foi associada a ser quilombola, nível econômico mais baixo, ser beneficiário do programa bolsa família e ter quatro ou mais residentes no domicílio. Ribeiro, Morais e Pinho (2015) identificaram 83,3% de prevalência de IA em quilombolas de Minas Gerais com associações semelhantes. No Brasil, os povos indígenas também estão expostos a transformações ambientais e socioeconômicas, que os colocam em situação de alta vulnerabilidade frente a problemas de ordem alimentar e nutricional, o que contribui para maiores prevalências de IA nessa população. Uma pesquisa realizada com famílias indígenas encontrou 75,5% de IA, sendo 20,4% IA grave. Além disso, na análise do consumo alimentar viu-se que apenas 11,1% dos indígenas em IA moderada/grave apresentaram dieta adequada (FÁVORO et. al., 2007). Nota-se então que a diminuição na disponibilidade de alimentos, acaba por comprometer a qualidade e quantidade que compõem as cestas básicas das famílias em situação de IA. Quando este quadro se associa ao perfil infantil percebe-se um comprometimento do aporte calórico e de nutrientes, refletindo em déficits no crescimento e desenvolvimento dessas crianças, isso contribui para maiores prevalências de mortalidade infantil nessas populações (SALLES-COSTA et. al., 2008). Programas de TR podem ainda, contribuir muito para uma diminuição da mortalidade infantil em geral e, em particular, para as mortes atribuíveis a causas relacionadas à pobreza, 31.

Referências

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