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A TERRITORIALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO DO EUCALIPTO NA REGIÃO LESTE DE MATO GROSSO DO SUL E OS IMPASSES À REFORMA AGRÁRIA

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Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos

Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças - Espaço de Socialização de Coletivos –

A TERRITORIALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO DO EUCALIPTO NA REGIÃO LESTE DE MATO GROSSO DO SUL E OS IMPASSES À REFORMA

AGRÁRIA

Rosemeire Ap. de Almeida UFMS/Campus de Três Lagoas E-mail raaalm@gmail.com

Resumo

Este texto é parte dos esforços empreendidos no projeto de pesquisa, intitulado: “Dinâmica agrária e transformações territoriais na última década: o caso de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná” que visa analisar os desdobramentos socioterritoriais da posse e uso da terra nos campos brasileiros. No caso da região leste de Mato Grosso do Sul, especial enfoque é dado à dinâmica territorial de expansão do complexo eucalipto-papel.

Introdução e objetivos

A presente análise busca evidenciar as condicionantes e os desdobramentos socioterritoriais da expansão do plantio de eucalipto em Mato Grosso do Sul, de forma específica na região leste que é integrada por 17 municípios.

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A escolha desta região para estudo se justifica por ser uma área de rápida expansão territorial do monocultivo de eucalipto aliada a instalação, em Três Lagoas, da maior fábrica de linha contínua celulose-papel da atualidade (2,1 milhões de metros quadrados - 200 ha). Considerada, portanto, o futuro epicentro deste modelo. (Foto 1).

Foto 1 – Complexo celulose-papel (projeto Horizonte) em Três Lagoas/MS – Fábrica 1

Fonte: VCP/MS, 2008.

A territorialização do capital e os impasses à reforma agrária

O modelo celulose-papel atua por meio de uma rede do agronegócio que controla a produção, processamento, comercialização e distribuição, via internacionalização do capital. Por sua vez, a fonte de financiamento deste empreendimento é, em grande medida, o erário público, pois a disputa pelos recursos e pelo patrimônio fundiário tem sido vencida pelos mais fortes.

No caso do financiamento pelo Banco [BNDES] do agronegócio, chama a atenção o setor de papel e celulose, que nos últimos dez anos obteve mais de 9 bilhões de reais em financiamento – R$ 2,3 bilhões somente em 2006. O BNDES, por sua vez, possui participação acionária de 12,5% na Aracruz Celulose – que possui 50% da Veracel –, além de ter 11,4% do capital da Suzano Bahia Sul. Como se vê o Banco não apenas financia como é co-responsável pelas opções de

investimento do setor.

(http://www.ibase.br/modules.php?name=Conteudo&pid=1936 Acesso: 22/06/2009).

Ademais este setor é um dos mais monopolizados dentre aqueles que representam o agronegócio. Situação evidenciada no quadro das empresas hegemônicas do setor de celulose e papel atuando no Brasil: FIBRIA (resultado da fusão VCP e Aracruz, em 2009); KLABIN; SUZANO; RIPASA; STORA ENSO; VERACEL,

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INTERNATIONAL PAPER. A estas se junta a recém fundada ELDORADO, com sede em Três Lagoas/MS1.

As florestas artificiais ocupam atualmente, no Brasil, a quarta posição em termos de área cultivada, atrás da soja, do milho e da cana-de-açúcar. No ano de 2007, cobriam 5,56 milhões de hectares, com acréscimo de 3,4% em relação a 2006. O Brasil era o sexto país do mundo em áreas plantadas com árvores em 2006, segundo a Bracelpa – Associação Brasileira de Celulose e Papel. O País possui a maior superfície mundial de área plantada com eucalipto. A maior parte das florestas artificiais – cerca de 30% – destina-se à produção de papel e celulose. (SCHLESINGER, 2008, p. 61).

Quadro 1 - Estimativa de crescimento de eucalipto e pinus até 2014 - Brasil

ha %

ÁREA EM 2008: 6.120.000

CRESCIMENTO 2009-2014: 1.440.000 23

ÁREA EM 2012: 7.560.000

TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL: 4,3

Fonte: ABRAF, ABIPA, AMS, BRACELPA Apud ABRAF, 2009.

Para entender o caso em questão, qual seja a formação do chamado vale da celulose na região leste de Mato Grosso do Sul, é preciso considerar a velocidade da expansão do plantio de eucalipto no Estado. Neste sentido, o quadro 2 evidencia que o aumento do plantio de eucalipto em Mato Grosso do Sul foi de 83% no período de 2005 a 2007, a maioria sob controle da FIBRIA por meio da unidade sediada em Três Lagoas.

Quadro 2 - Crescimento do plantio (em ha) de eucalipto no BR e no MS (2005-2007)

Eucalipto 2005 2007 %

Brasil 3.407.204 3.751.867 10,1%

MS 113.432 207.687 83,1%

Fonte: ABRAF, (2007)

1 A pedra fundamental da empresa ELDORADO foi lançada dia 14/06/2010 em Três Lagoas/MS. Neste mesmo dia, o jornal O

Estado de São Paulo anuncia que a empresa pretende investir neste negócio R$ 4,8 bilhões visando se tornar a maior fabricante de celulose de fibra curta do mundo, lugar hoje ocupado pela FIBRIA. A noticia lança desconfianças quanto à possibilidade de investimento do grupo, uma vez que pleiteiam cerca de R$ 3 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), porém o sócio-fundador do grupo ELDORADO celulose, Mário Celso Lopes, tem processo tramitando na justiça. Em 2009, uma de suas fazendas - a Santa Isabel, em Pontal do Araguaia - foi flagrada numa Operação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, do Ministério do Trabalho e 23 seringueiros foram libertados. Logo, seu nome corre o risco de entrar na lista suja do trabalho escravo no Brasil o que, em tese, o impedirá de acessar recursos públicos. Disponível em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100614/not_imp566160,0.php Acesso em: 15/06/2010.

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É preciso acrescentar que houve uma expansão significativa da área plantada de eucalipto pós 2007 (período de implantação da fábrica da VCP – agora FIBRIA - em Três Lagoas). Atualmente, a área plantada com eucalipto para produção de celulose na região leste do MS é de 330 mil ha, sob controle da FIBRIA2.

Quadro 3 - Área de atuação da VCP - Mato Grosso do Sul - 2008

Área de Efetivo Área Reserva Preservação Outras TIPO DE

OBJETO

Plantio (ha) % Legal (ha) % Permanente (ha) % Áreas (ha) TOTAL Próprias 88.570,70 67,63 29.247,56 22,338.076,37 6,17 5.070,26 130.964,89 Parcerias 23.078,29 64,31 7.167,17 19,972.564,75 7,15 3.075,45 35.885,66 Arrendamentos40.591,48 59,18 16.161,35 23,564.611,60 6,72 7.226,77 68.591,20 Total 152.240,47 64,66 52.576,08 22,3315.252,72 6,48 15.372,48235.441,75 Fonte: VCP/MS, 2008.

Por outro lado, o Plano Estadual de Florestas/MS apresenta números no mínimo espantosos, uma vez que projeta uma área plantada de eucalipto, em Mato Grosso do Sul, de 1 milhão de ha (SEPROTUR, 2009). Soma-se a isso o claro propósito de “institucionalização” para que, transformado em Lei, possa melhor atender a rede dos

agronegócios. “Coincidentemente” a área prioritária de plantio localiza-se na região

leste de Mato Grosso do Sul, na bacia rio Paraná, uma das caixas d’água do Brasil. Pode-se dizer que a internacionalização da economia e a transnacionalização do agronegócio não é um caso exclusivo do setor de celulose e papel, uma vez que a expansão das commodities sob controle da rede de agronegócio tem sido a regra no Brasil.

Porém, a velocidade de expansão do monocultivo de eucalipto em Mato Grosso do Sul aprofunda sobremaneira a já concentrada estrutura fundiária. Neste sentido, registramos que no Estado enquanto os estabelecimentos com menos de 200 ha representam 72,08% e detêm apenas 5,01% da área, os estabelecimentos acima de 1000 ha representam 10,18% e dominam 76,93% da área.

Quadro 4 - Síntese da Estrutura Fundiária Sul-Mato-Grossense - 2006

Grupos de área total Estabelecimentos % Área em hectares % De menos 01 ha a menos 200 ha 46.750 72,08 1.504.902 5,01 De 200 ha a menos de 1.000 ha 11.209 17,28 5.428.720 18,06

2Neste caso, não estamos considerando a área plantada de eucalipto para produção de carvão vegetal de

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Acima de 1.000 ha 6.603 10,18 23.123.327 76,93

Produtor sem área 300 0,46 - -

TOTAL 64.862 100 30.056.947 100

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário (2006). Org: Kudlavicz, 2010.

A dinâmica da concentração permanece quando mudamos a escala de análise, no caso a região leste. Nela os estabelecimentos com menos de 200 ha representam 60,19% detendo 4,58% da área, já os estabelecimentos acima de 1000 ha representam 14,30% e dominam 73,45% da área. Portanto, a expansão do eucalipto não visa democratizar esta estrutura, ao contrário.

Quadro 5 - Estrutura fundiária da região Leste do Mato Grosso do Sul - 2006

Grupos de área total Estabelecimentos % Área em hectares % De menos 01 ha a menos 200 ha 8.550 60,19 379.155 4,58 De 200 ha a menos de 1.000 ha 3.623 25,51 1.818.358 21,97 Acima de 1.000 2.032 14,30 6.080,166 73,45 TOTAL 14.205* 100 8.277.682 100

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006 Org.: Kudlavicz, 2010 * Ficaram de fora 65 produtores sem área.

Na verdade, o deserto verde do eucalipto se apóia nesta estrutura e por meio da aliança terra-capital solapa as possibilidades de reforma agrária baseada na desapropriação de terras improdutivas.

E, mais, coloca impasses em relação ao futuro do processo de Reforma Agrária em curso na região. Processo este de resistência que, mesmo diante às inúmeras dificuldades impostas pelos donos da terra e do poder, abre espaços camponeses nos campos sul-mato-grossenses. Exemplo disso é a região leste: 32 projetos, 5.811 famílias e 169.709,87 ha conquistados.

Quadro 6 - Assentamentos/Reassentamentos - região leste de Mato Grosso do Sul Denominação do Projeto Área (ha) N.º de Famílias Dia/Mês/Ano Município de Localização 1. Sucuriú 15.978,34 239 01/4/1985 Chapadão do Sul 2. Casa Verde 29.859,99 471 22/12/1987 Nova Andradina 3. Pedreira 87,9214 10 28/6/1988 Ribas do Rio Pardo 4. São Luiz 1.599,61 114 22/7/1994 Batayporã

5. São João 856,1606 58 11/3/1996 Batayporã

6. Mutum 15.831,69 340 17/5/1996 Ribas do Rio Pardo/S. Rita do

Pardo/Brasilândia 7. Mercedina 803,2433 56 10/7/1996 Batayporã

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8. Santa Clara 4.353,33 156 04/12/1997 Bataguassu

9. Serra 2.986,11 116 11/12/1997 Paranaíba

10. Córrego Dourado

1.399,97 49 07/7/1998 Santa Rita do Pardo

11. Montana 1.567,77 70 08/7/1998 Bataguassú

12. Aldeia 10.718,23 217 03/9/1998 Bataguassu 13. Santa Paula

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590 89 26/11/1998 Bataguassu

14. Santa Irene 2.473,26 72 27/3/2000 Anaurilândia 15. Aroeira 1.855,61 59 29/12/2000 Chapadão do Sul 16. Pontal do

Faia

1.485,00 45 29/12/2000 Três Lagoas

17. Teijin 28.498 1.126 26/7/2002 Nova Andradina

18. São João 4.011,90 180 23/4/2004 Nova Andradina 19. Santa Olga

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1.488,30 170 28/6/2004 Nova Andradina

20. Esperança 4.074,56 270 12/7/2004 Anaurilândia 21. Mateira 4.110,03 151 03/8/2005 Chapadão do Sul 22. Avaré 7.001,33 419 27/12/2005 Ribas do Rio

Pardo/Santa Rita do Pardo

23. Barreiro 3.570,71 280 23/10/2006 Anaurilândia 24. Alecrim 1.530,06 126 07/12/2006 Selvíria 25. Canoas 5.149,00 330 31/12/2007 Selvíria 26. São Joaquim 2.641,38 181 15/10/2008 Selviria 27. Proj. de

Reassentamento Pop. Rural Piaba

764,582 14 30/10/2008 Três Lagoas

28. Proj. de Reassentamento Pop. Rural Aruanda

3.857,65 67 30/10/2008 Bataguassu

29. Proj. de Reassentamento Pop. Rural Pedra Bonita

3.344,13 85 30/10/2008 Brasilândia

30. Proj. de Reassentamento Pop. Rural Santa Ana

2.894,77 72 30/10/2008 Anaurilândia

31. Arapuá 1.456,96 69 26/12/2008 Três Lagoas

32. São Thomé 2.870,45 110 14/11/2001 Santa Rita do Pardo

Total 169.709,87 5.811,00

Fonte: INCRA/MS, 2010.

Dentre os impactos desta expansão do complexo eucalipto-papel destaca-se o arrendamento das fazendas da região que diminui o estoque de terras disponíveis e aquece o mercado. (Foto 2).

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Fonte: Almeida, 08/2009.

Deste modo, onde não é possível a compra imediata da terra a empresa oferece ao proprietário, por meio de contrato de arrendamento por 14 anos, o valor de R$ 750,00 por ano a cada alqueire plantado com eucalipto. Um negócio no mínimo vantajoso para aqueles que corriam risco de verem suas terras vistoriadas para reforma agrária. Uma verdadeira “oportunidade de ouro” como se divulga no jornal local.

Além de evidenciar a resistência camponesa nesta terra é preciso indagar acerca dos desdobramentos dos processos em andamento no tocante acumulação do capital do setor de celulose e papel via apropriação do lucro e da terra, bem como o alcance das alternativas a este modelo do agronegócio. Pois, como salienta Oliveira (2008), apesar da agricultura familiar camponesa na atualidade ser a responsável por mais de 50% da produção de consumo popular, o agronegócio vem expandindo ferozmente e reduzindo o já exíguo território camponês, o que compromete a soberania alimentar do país.

O Brasil tem um total de 850 milhões de hectares de terras cultiváveis, apenas 70 milhões de hectares estão sendo usados para a produção. Destes, 21,5 milhões são de soja, 15 milhões de milho, 8 milhões de cana de açúcar e 7 milhões de eucalipto. E mais: desde 1992 não cresce a produção de arroz, feijão e mandioca no País, o que faz crescer a importação desses produtos de primeira necessidade. (OLIVEIRA, 20083)

A complexidade da expansão do agronegócio tem revelado que neste século XXI, a luta transcende a terra, é uma luta por terra e território. Pois, a terra, em disputa, revela sua condição de território como portador de recursos naturais e matérias-primas indispensáveis a expansão do agronegócio. A terra-território, por ser um bem finito, não pode ser reproduzível à vontade mesmo tendo nela inserido o trabalho. Portanto, por

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mais que estejamos vivendo em um mundo urbano-industrial, com inegável modernização agrícola, a terra continua sendo motivo de disputas e mortes.

Neste sentido, o conceito de territorialização, é fundamental. Para Oliveira (2002) ocorre territorialização do monopólio capitalista mediante a aliança de classes entre capital industrial e proprietário fundiário, momento em que eles se tornam um só agente do capital, situação que tem sido comum no Brasil no setor sucroalcooleiro e de celulose e papel, embora não limitado a eles. Deste processo resulta um território em conflito/disputa, uma vez que a territorialização é sempre processo de conquista de frações do território capitalista, logo expropriação do camponês. Entender a estruturação deste processo se torna premissa para desvendar as tramas do agronegócio no sentido de entender suas manifestações futuras e as possibilidades de resistência.

É preciso ponderar que, revelar a expansão do desenvolvimento do capital no campo não significa conceber a homogeneização do território e das relações sociais no sentido da hegemonia do trabalho assalariado. Acreditamos que este processo de expansão do agronegócio no campo caminha, contraditoriamente, com outras formas sociais, em especial o campesinato. (PAULINO, ALMEIDA, 2010).

Deste modo, é preciso lembrar que o fenômeno da expansão das formas capitalistas no campo, no sentido pleno da empresa assentada na divisão social do trabalho que impõe sua lei da especialização para o aumento da produtividade, se inicia de forma concêntrica no Sul e Sudeste do país. É, posteriormente, com o esgotamento das terras e a necessidade de aumento da competitividade via incorporação de grandes áreas, que a produção é direcionada para outras regiões do país.

No caso específico do plantio de eucalipto para produção de celulose e papel, impressiona a velocidade da expansão em direção ao cerrado, no caso ao Estado de Mato Grosso do Sul.

É preciso destacar que esta expansão do setor na região leste do Estado se faz sob controle da FIBRIA, cuja presença na região data de 2006, período em que adquiriu na região, por meio da troca de ativos com a International Paper, 90 mil ha plantados com eucalipto e 30 mil arrendados.

É preciso indagar os motivos que levaram a FIBRIA a escolher o Estado de Mato Grosso do Sul, em especial a região leste, como área prioritária para seus investimentos4. Vejamos algumas destas razões:

4 A empresa anunciou na imprensa estadual a construção, em Três Lagoas, da fase II da fábrica de linha

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 A presença de água em abundância propiciada pela bacia do rio Paraná onde se localiza a chamada área primária adequada para expansão, sendo este recurso indispensável para ao complexo celulose-papel, pois “Segundo Laschefski e Assis (2006), o consumo elevado de água na produção de papel e celulose representa um dos impactos mais contundentes do setor, que utiliza em média 57 m³ de água para produzir uma tonelada de pasta celulósica”. (SCHLESINGER, 2008, p. 70);

 Um conjunto de incentivos fiscais e facilidades creditícias no âmbito das três esferas administrativas (federal/estadual/municipal);

 Terras ociosas fruto da pecuária extensiva com presença de pastagens

degradadas que pouco esconde a improdutividade reinante na região e que coloca as terras do centro-oeste como sendo de baixo custo (preço médio 3.190,00 por ha), apesar da especulação em andamento fruto desta expansão;

 Condições edafo-climáticas propícias ao uso de gel que reduz em até 50% a perda de mudas no período pós plantio;

 Flexibilização das leis ambientais por meio de resolução que dispensa de licenciamento ambiental as atividades de plantio e a condução de espécies florestais nativas ou exóticas, com finalidade de produção e corte ou extração de produtos florestais diversos (Resolução SEMAC/MS n. 17 de 20 de setembro de 2007);

 Ausência de uma política de assentamentos rurais para a região em questão, uma

vez que a região leste em relação às demais do Estado é a única que apresenta espécie de “corredor vazio” de assentamentos como que a espera do agronegócio;

 Baixa articulação na região de ações organizadas de reivindicação de território

(leia-se conflitos fundiários) por parte de movimentos sociais organizados (sem terra; quilombolas; indígenas). Neste sentido, o estudo organizado pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2005, revelava poucos conflitos na região leste do MS, sendo estes ações relacionadas a questões trabalhistas e ambientais (nas carvoarias), cuja resolução estava a cargo de CPI movida pelo MPF. Portanto, situação inversa da enfrentava pela antiga Aracruz celulose no Espírito Santo e da Veracel celulose no Sul da Bahia.

Por conseguinte, esta situação de dominação territorial nos instiga a indagar: há lugar para as pequenas e médias unidades de produção neste modelo? Há alternativa fora do modelo hegemônico?

Questões estas que tem feito parte das preocupações de um significativo segmento de pesquisadores que entendem que a expansão do agronegócio na América

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Latina compromete os ecossistemas do planeta, exclui os pequenos e médios agricultores e coloca em risco a produção dos alimentos básicos de consumo popular.

Referências

ALMEIDA, R. A. (Org.). A questão agrária em Mato Grosso do Sul: uma visão

multidisciplinar. Campo Grande: Editora da UFMS, 2008.

ALMEIDA, R. A. (Re) criação do campesinato, identidade e distinção. São Paulo: UNESP, 2006.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional de Florestas. Temas

Conflituosos Relacionados à Expansão da Base Florestal Plantada e Definição de

Estratégias para Minimização dos Conflitos Identificados. Projeto

MMA/FAO/TCP/BRA/2902 - Relatório Final de Consultoria. Brasília, Março 2005. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censos

Agropecuários –IBGE - 1995/6, 2006.

FERNANDES, B. M. (Org.). Campesinato e agronegócio na América Latina: a

questão agrária atual. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

OLIVEIRA, A. U. Barbárie e modernidade: as transformações no campo e o agronegócio no Brasil. Terra Livre, ano 19, v. 2, n. 21, p. 113-156, jul/dez. 2003.

PAULINO, E. T., ALMEIDA, R. A. Terra e Território: a questão camponesa no

capitalismo. São Paulo: Expressão Popular, 2010.

SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, DA PRODUÇÃO, DA INDÚSTRIA, DO COMÉRCIO E DO TURISMO – SEPROTUR. Plano Estadual para o Desenvolvimento Sustentável de Florestas Plantadas. Campo Grande, 2009.

SCHLESINGER, Sérgio. Lenha nova para a velha fornalha. Rio de Janeiro: FASE, 2008.

Referências

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