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O sistema de informação do Colégio Andaluz (Santarém) : 1923-1975

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

O Sistema de informação do Colégio Andaluz

(Santarém)

1923-1975

Jacinto Manuel Salvador Guerreiro

Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Carlos Guardado da

Silva, especialmente elaborada para a obtenção do grau de Mestre

em Ciências da Documentação e Informação

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

O Sistema de informação do Colégio Andaluz

(Santarém)

1923-1975

Jacinto Manuel Salvador Guerreiro

Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Carlos Guardado da

Silva, especialmente elaborada para a obtenção do grau de Mestre

em Ciências da Documentação e Informação

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3 Resumo

Os arquivos constituem-se como fonte essencial para a redação da memória histórica e da ação social e cultural desenvolvida pelas instituições produtoras de informação; tem uma função probatória, contribuem para o desenvolvimento cultural e oferecem competência científica. A documentação conservada nos arquivos - organizada, descrita e acessível - representa um património imenso em relação a pessoas, instituições e acontecimentos.

O objeto deste estudo é um fundo fechado – o fundo do Colégio Andaluz – instituição de ensino privado para crianças do sexo feminino, e que foi propriedade da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, a qual conservou a documentação e a disponibilizou para um tratamento arquivístico ao nível dos arquivos definitos.

Nesse sentido, apresentamos um estudo orgânico-funcional e o enquadramento do sistema de informação do fundo do Colégio Andaluz. Descrevemos a metodologia, organização física e intelectual, e os instrumentos de descrição documental como um elemento estruturante no acesso e difusão da documentação, que perpétua a memória de uma instituição cristã de ensino que foi modelo educativo e de relevante influência pedagógica, social e cultural em Santarém.

Palavras-chave

Arquivística. Arquivo. Arquivo privado. Arquivo escolar. Património Documental. Fundo Colégio Andaluz. Santarém. Portugal.

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4 Abstract

The archives are an essential source for the written historic memory and social and cultural action which was taken by all the institutions who produce the information. They have a probative function, they contribute to the cultural development and they release a scientific skill. The documents preserved in the archives – organized, detailed and accessible – represent a huge patrimony for people, institutions and events.

The object of this study is a closed fond of the Colégio Andaluz fond - a feminine children’s private school, property of Servas de Nossa Senhora de Fátima’s Congregation, which preserved all the documentation and released it to an organized and definite archive.

Furthermore, we introduce an organic and functional study and the context of the information system of Colégio Andaluz’s fond. We describe the methodology, physical and intellectual organization and all the means of document’s description as elements which gives structure to the access and

delivery of the documents, and everlasting the memory of a Christian institution that became an educative model with strong pedagogic,

social and cultural influence in Santarém.

Keywords

Archival Science. Archive. Private Archive. School Archive. Documental Heritage. Colégio Andaluz Fond. Santarém. Portugal.

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5 Agradecimentos

Ao orientador e amigo Prof. Doutor Carlos Guardado da Silva, pelos conselhos, disponibilidade e perseverança impar que sempre mostrou nos momentos em que para mim a resiliência era o caminho.

À Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, na pessoa da sua Superiora Geral, Irª Lucília Gaspar, por me ter proporcionado a elaboração deste trabalho no arquivo, sobre o fundo do Colégio Andaluz. A todas as irmãs religiosas da congregação que de uma forma direta ou indireta comigo laboraram, nomeadamente, a Irª Hermínia Cunha, com quem tive o prazer de trabalhar desde o primeiro momento e de quem recebi todo o apoio para o prosseguimento do meu objetivo.

Aos meus pais que sempre me incentivaram e apoiaram ao longo de todo o meu percurso académico.

À minha família pelo incentivo e compreensão pelos momentos em que não estive presente.

À Gina Modesto pela amizade e, particularmente, pela tradução do resumo. Aos amigos Judith Rosa e Filipe J. P. Valentim pela paciência de ouvir a minhas angústias e pelo apoio e incentivo que recebi nos últimos meses.

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Podeis rir, brincar, divertir-vos por muitas formas, é bem natural e lícito até que o façais, sede sim raparigas do vosso tempo, alegres, desembaraçadas, activas, empreendedoras, mais independentes - eu concordo - do que o foram as vossas avós, porque os tempos vão mudando e de algum modo temos que acompanhar a sua evolução, mas sabei ser raparigas do vosso tempo no bom sentido.

(Luiza Andaluz, Discurso às alunas do colégio, s.d.)

Sob as normas da moral cristã,

se procura ali modelar as almas das crianças,

corrigindo-lhes os defeitos e procurando implantar qualidades e virtudes que façam das fracas crianças de hoje as mulheres de amanhã,

que a sociedade possa contar como boas filhas, boas esposas e boas mães. A par desta educação forte, alegre e austera,

ministra-se uma perfeita instrução (…), e as alunas internas podem seguir piano, línguas, desenho, pintura, arte aplicada, lavores e ginástica.

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7 Abreviaturas

ACSNSF – Arquivo da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima

IDD - Instrumentos de Descrição Documental

ISAAR(CPF) - International Standard Archival Authority Record. For Corporate Bodies,

Persons and Families (Norma Internacional de Registro de Autoridade

Arquivística para Entidades Coletivas, Pessoas e Famílias)

ISAD(G) – General International Standard Archival Description (Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística)

JEC – Juventude Escolar Católica

MP – Mocidade Portuguesa

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8 Cronologia

1877-02-12 Nascimento de Luiza Maria Langsthroth Figueira do Vadre Santa Marta de Mesquita e Melo (Luiza Andaluz).

1923-10-15 Fundação da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima: início da vida comunitária.

Autorização para funcionamento do Curso de Instrução sob responsabilidade de Luiza Andaluz, que promove a abertura do Pensionato.

Abertura do Pensionato de Nossa Senhora dos Inocentes [Colégio Andaluz], fundado por Luiza Andaluz.

1928-10-31 Licenciamento para o Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes [Colégio Andaluz] (Alvará n.º 11-R).

1939-10-15 Ereção canónica da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.

1941-11-18 Licenciamento para o Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes [Colégio Andaluz] (Alvará n.º 595).

1942-11-17 Autorização para o Colégio Andaluz lecionar o Curso do Conservatório Nacional, o Curso Doméstico e a formação elementar em noções de enfermagem;

1949-03-07 Transferência da posse da propriedade do Colégio de Luiza Andaluz para a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.

1952 Seleção do local para a construção de novas instalações escolares para o Colégio, dado o aumento da população escolar.

1952-04-29 Autorização para lecionar, também, o ensino infantil. 1954 Aquisição dos terrenos para a construção do novo colégio.

1960 Início das aulas no novo colégio, no ano letivo 1960-1961, passando a denominar-se, oficialmente, Colégio Andaluz.

1961 Início do Curso do Magistério Primário.

1971-11-02 Solicitação de autorização para lecionar no ensino primário em coeducação (abrindo caminho para o ensino misto, de ambos os sexos).

1972-06-30 Solicitação de autorização para lecionar no ciclo preparatório em coeducação (ambos os sexos).

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9 1973-08-20 Morte de Luiza Andaluz.

1975-06-07 Decisão, do Conselho Geral da Congregação, de alienação do Complexo Andaluz, concretizando a sua venda ao Ministério da Educação e Cultura.

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10 Sumário

Abreviaturas ……….. 7

Cronologia……… 8

Introdução……… 9

1. Metodologia (e organização do fundo do Colégio Andaluz) ……… 12

1.1. Pesquisa bibliográfica e documental ………. 12

1.2. Higienização da documentação………. 14

2. História da Instituição………. 15

3. Estudo orgânico funcional……… 24

3.1. A Direção/ Diretora………. 27

3.2. Os Docentes……… 29

3.3. A Gestão financeira, administração económica……… 30

4. Classificação da informação……… 34

4.1. Análise e organização da documentação……… 34

4.2. Elaboração do quadro de classificação………. 35

5. Organização e instalação física dos documentos……… 41

5.1. Descrição da documentação e a elaboração do Instrumento de Descrição Documental……… 41

Conclusão………. 43

Fontes e Bibliografia………. 47

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APÊNDICES……… 53 Apêndice 1 - Legislação sobre a educação/instrução

e estabelecimentos de ensino………. 54 Apêndice 2 - Pedido de Informação/questionário

sobre existência de documentação……… 56 Apêndice 3 - Entrevista à última diretora

do Colégio Andaluz, de 1971 a 1975……….. 57 Apêndice 4 - Quadro de classificação do Colégio Andaluz

Descrição efetuada a partir da

base dados In patrimonium Premium……… 61

ANEXOS……… 66 Anexo 1 - Documentação relativa ao Colégio Andaluz………... 67

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12 Introdução

Este trabalho constitui uma dissertação em torno do sistema de informação do Colégio Andaluz, de Santarém; no âmbito do Curso de Mestrado em Ciências da Documentação e Informação - Arquivo, sob orientação científica do Prof. Doutor Carlos Guardado da Silva.

A motivação que levou à elaboração desta dissertação, na área do arquivo escolar, decorre de dois vetores: um afetivo e outro profissional. Por um lado, pela proximidade de uma vivência pessoal ancorada na espiritualidade protagonizada por Luiza Andaluz; por outro lado, como responsável pela organização, de todos os fundos documentais, e pelo acompanhamento e orientação para as boas práticas no que se refere à conservação e à difusão da informação produzida e acumulada pela Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, e pela constatação da vontade de tornar acessível os documentos que dizem da sua presença ativa na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

O colégio - extinto nos anos 70 do século XX, numa opção consciente e radical face à missão evangélica e pastoral destas religiosas – sempre constituiu um ícone na memória que as habita, aflorado desde as primeiras abordagens e visitas aos diferentes locais (casas e comunidades da congregação) para o exercício dos nossos trabalhos de avaliação e recolha da documentação para tratamento arquivístico. Provocaram em nós o sentido de desenvolver laços de afetividade a esta instituição, que serviu a pedagogia, a educação e a instrução de uma franja da juventude feminina portuguesa durante meio século.

Deste modo e para um melhor conhecimento desta instituição de ensino, procurámos dar resposta à pergunta que profissionalmente somos confrontados e que advém da existência de um sistema de informação no Colégio Andaluz. Assim, e se a escolha do tema partiu da consciência do papel que os arquivistas desempenham na gestão e tratamento da informação, e na forma de preparar o acesso e o conhecimento da informação; também, através do estudo do sistema de informação e da documentação que o suporta, se pretende

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evidenciar o sistema orgânico-funcional do colégio cujo conhecimento se traduz no robustecimento de uma memória histórica, registo único para o estudo do ensino privado na região do Ribatejo, no que se refere à formação física, intelectual, espiritual e moral das crianças do sexo feminino.

Além dos conhecimentos adquiridos ao longo de vários anos de prática profissional, foi consultada bibliografia de diferentes quadrantes ou tradições sobre a questão arquivística e procurámos dar-lhe o devido relevo na elaboração do trabalho que desenvolvemos.

No capítulo um, procuramos dar o relevo à metodologia desenvolvida com vista à organização do fundo do Colégio Andaluz. A pesquisa bibliográfica e documental veio reunir e apresentar as informações e os elementos que constituem a base para a construção do nosso trabalho. Aí se define o tema do estudo e a forma de abordagem, delimitada a temática por forma a ser traçado um percurso e apresentar a oportunidade única que constitui a abordagem deste tema. Também aqui se apresenta a metodologia utilizada para a higienização da documentação, constituindo-se um ponto essencial para que fosse possível trabalhar sobre a documentação com vista à sua ordenação, classificação, cotação e instalação física, tornando viável a sua comunicação e difusão através dos instrumentos de descrição documental que vierem a ser criados.

O capítulo dois permite-nos conhecer o percurso histórico da instituição e o seu enquadramento legal. Perceciona-se a sua evolução desde a fundação do colégio, por Luiza Andaluz, num ambiente familiar até à redefinição face às crescentes necessidades enumeradas pela congregação religiosa, sua proprietária, no empreendimento de construir um complexo educativo como resposta às exigências pedagógicas da época.

No capítulo três, o estudo orgânico funcional evidencia o sistema de arquivo e permite o conhecimento da tramitação documental a partir das funções e competências atribuídas aos intervenientes no fluxo da documentação produzida a partir dos serviços e/ou funções que estão na sua origem.

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No capítulo quatro, a classificação da informação é essencial para a gestão da documentação, permitindo organizar os documentos distribuindo-os de forma que o contexto original fica evidenciado, dá visibilidade às funções e atividades do organismo produtor e permite a recuperação da informação. Assim, o quadro de classificação constituiu-se física e intelectualmente a partir da identificação dos documentos, segundo a sua origem de produção, e definindo as funções que cada documento desempenha no conjunto da instituição.

No capítulo cinco, temos presente a importância das normas de descrição arquivística ISAD(G), pois os documentos depois de ordenados, cotados e acondicionados fisicamente, também necessitam de ser descritos intelectualmente por forma a que sejam criadas condições para a difusão do arquivo, a comunicação do seu conteúdo e a possibilidade de aceder à informação.

Por último, em apêndice, reproduzimos informação que fomos recolhendo para a estruturação deste trabalho e que poderá ser elucidativa para um melhor conhecimento do colégio e da sua organização, funcionamento e influência local e regional.

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15 1.Metodologia e organização do fundo do Colégio Andaluz

1.1.Pesquisa bibliográfica e documental

O presente trabalho inscreve-se na organização dos arquivos escolares privados, tendo sido efetuada pesquisa na área em referência e foram circunscritos os estudos que a seguir se menciona, no sentido de nos servirem de referência à elaboração deste trabalho. A dissertação de mestrado O Colégio Andaluz e a

educação feminina. Um contributo para o estudo do ensino primário particular em Santarém (1923-1975)1, de Isabel da Silva Martinho, apresentada à

Universidade do Minho, em 2005, serviu de referência para o estudo e introdução aos dados do percurso histórico do Colégio Andaluz, em Santarém. A obra Universidade do Porto: Estudo orgânico-funcional2, de Fernanda Ribeiro

e Maria Eugénia Matos Fernandes serviu como referência e teorização para o estudo orgânico-funcional de uma escola; o relatório de estágio do Mestrado em Ciências da Documentação e Informação, para a área da arquivística, apresentados à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 2009: A

organização arquivística: Fundo Administração do Concelho de Torres Vedras3, de Suzete Marques, e a dissertação de Mestrado em Ciências da Documentação e Informação, em 2011, na área da arquivística, O património documental da

Escola Superior de Enfermagem de Lisboa: Fundo Escola de Enfermagem de Artur Ravara4, de Leandra de Vasconcelos, constituíram uma referência para a

organização arquivística, proposta para o presente trabalho.

Foi elaborado um questionário para as seguintes entidades de Santarém: Agrupamento de Escolas de Sá da Bandeira; Arquivo Distrital de Santarém e Arquivo Municipal de Santarém, no sentido de identificar a existência de

1 MARTINHO, Isabel da Silva - O Colégio Andaluz e a educação feminina. Um contributo para o

estudo do ensino primário particular em Santarém : 1923-1975. Braga : Universidade do Minho, 2005.

2 RIBEIRO, Fernanda; FERNANDES, Maria Eugénia Matos – Universidade do Porto: Estudo

orgânico-funcional. Porto : Reitoria da Universidade, 2001.

3 MARQUES, Suzete Lemos - A organização arquivística: Fundo Administração do Concelho de

Torres Vedras. Lisboa : Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009.

4 VASCONCELOS, Leandra de Fátima Fernandes Lino de - O património documental da Escola

Superior de Enfermagem de Lisboa : Fundo Escola de Enfermagem de Artur Ravara. Lisboa : Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2011.

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documentação relativa à instituição que estudamos. Assim, e, se por um lado, no Arquivo Municipal de Santarém apenas foi identificada documentação relativa ao processo de obras e licenças; por outro lado, no Arquivo Distrital de Santarém foram identificadas no fundo do Centro da Área Educativa de

Santarém referências ao Colégio Andaluz nas séries relativas ao ensino

particular e ao cadastro das escolas do distrito de Santarém; e, no Arquivo do Agrupamento de Escolas Sá da Bandeira, em Santarém, onde estão registados todos os alunos do ensino particular que pertenceram à área educativa/pedagógica do antigo Liceu Nacional Sá da Bandeira e que realizaram provas de admissão ao Liceu, onde se incluem as alunas do Colégio Andaluz. Face à existência de documentação para além daquela que ficou guardada nas instalações da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima (SNSF) tornou-se pertinente a elaboração de uma estratégia de estudo5 para este caso

no sentido de colocar como questão de partida6 a situação de se saber como é

que se estruturava o sistema de informação do Colégio Andaluz? Seguindo um conjunto de procedimentos que nos conduzem aos detalhes da gestão da informação e das relações internas e externas ao longo da existência deste equipamento escolar.

Nesse sentido, este estudo sobre o fundo documental do Colégio Andaluz definiu-se por ser um estudo de natureza qualitativo e estabeleceram-se, por um lado, os objetivos gerais de procurar reconstituir a estrutura do sistema de informação do estabelecimento escolar; de proceder à sua organização enquanto fundo documental; para que se possa promover a divulgação da informação entretanto tratada e conservada. E, por outro lado, se foram definindo os objetivos específicos de recolher, identificar, organizar e descrever esta documentação que estava dispersa por duas casas da Congregação SNSF, em Santarém e Lisboa; bem como identificar a documentação conservada nos arquivos externos à Congregação SNSF e elaborar um quadro para a relação entre documentos.

Assim, este conjunto documental constituiu a fonte de trabalho, tendo sido consultados os documentos internos do arquivo histórico da congregação,

5 YIN, Robert K. – Estudo de caso, planejamento e método, Porto Alegre : Bookman, 2001. 6 QUIVY, Raymond; CAMPENHOUDT, Luc Van – Manual de investigação em ciências sociais. Lisboa

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nomeadamente, relatórios anuais, onde foi possível fazer o cruzamento destas leituras com a legislação que, ao longo dos anos de existência do colégio, regulamentou a sua ação, legislação essa que foi analisada e conjugada tendo em conta o Alvará do colégio, licença legalmente instituída pela tutela do ensino primário e liceal, a qual regulamentava o seu funcionamento.

Foi elaborado um estudo orgânico funcional, que nos permite esboçar um sistema de informação onde as funções dos serviços produtores e a respetiva documentação se identificam, o que permite a elaboração de um quadro de classificação dos documentos tendo como horizonte a organização definitiva, quer física, quer intelectual do arquivo com vários níveis.

Considerou-se o período temporal de 1923 até 1975, ou seja, toda a existência laboral do colégio; contudo, reconhece-se que existem lacunas na documentação para o período de datação, sobretudo para a área financeira, mas que se poderá dar por compreendida, uma vez que a congregação era a entidade instituidora do colégio e parte da gestão financeira era exercida pela ecónoma geral da congregação.

1.2.Higienização da documentação

Procedeu-se à higienização da documentação, tendo a limpeza incidido sobre os livros, as pastas e os documentos avulsos. Foram utilizadas trinchas macias e removidas as partículas sólidas, tais como excrementos de insetos e outras sujidades. Foram removidos os elementos estranhos à documentação: clipes, agrafos, elásticos; e, após a escovagem folha a folha dos documentos, procedeu-se à costura com linha apropriada e/ou pequenos restauros, sempre que a documentação o exigia. Não foi possível manter as unidades de instalação originais devido ao avançado estado de degradação de umas e a existência de sujidades em outras.

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18 2.História da Instituição

A abertura de um colégio particular, feminino, nos anos 20 do século XX, na cidade de Santarém, veio responder, nesta região, a uma necessidade emergente do ensino, e cada vez maior, de equipamentos para crianças do sexo feminino7. Mas, além deste objetivo, de preencher uma lacuna na rede escolar

da província do Ribatejo, havia outro motivo por detrás desta necessidade de fundar uma escola para crianças do sexo feminino, o qual estava intrinsecamente ligado à fundação de uma congregação religiosa, em 1923, a emergente Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, nascida em um ambiente hostil, anticlerical, do qual a sua fundadora, Luiza Maria Langsthroth Figueira do Vadre Santa Marta de Mesquita e Melo (Luiza Andaluz), terceira filha dos viscondes de Andaluz, que nasceu em Santarém no dia 12 de fevereiro de 1877 e faleceu em Lisboa no dia 20 de agosto de 1973. A família estava ligada a Santarém onde o seu pai exerceu, através de várias nomeações, o cargo de governador civil do distrito; tinham casa de família, o palácio Andaluz, no Largo do Milagre.

Luiza Andaluz, no manuscrito sobre a História da Congregação, em 1954, registou, de uma forma muito clara:

O meu plano, que já lhes tinha comunicado, era fundar um colégio para (m.f.89) educação de meninas, com ele daríamos razão de ser à presença de tantas senhoras que iriam aparecer junto de mim e causariam reparo num meio pequeno como o de Santarém. Era indispensável manter o nosso projeto bem escondido, como de facto esteve durante largo tempo.8

Assim, Luiza Andaluz tinha uma razão muito forte, nas suas palavras, para se poder rodear de senhoras e passar despercebida num meio pequeno como o de Santarém:

No seio da minha família, entre as numerosas pessoas das minhas relações por diferentes lados, no meio de Santarém, ninguém sabia nem sequer suspeitava do verdadeiro fim dos nossos esforços

7 MARTINHO, Isabel da Silva – Op. Cit., p. 37.

8 ANDALUZ, Luiza – História da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, Org. de

Mafalda Franco Leitão, snsf, e Lília Petro Guerreiro. Lisboa : Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, 2017, §264.

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unidos no mesmo ideal de perfeição de vida religiosa, em que procurávamos servir a Santa Igreja.

Continuamos assim encobertas durante alguns anos, o Colégio e a Creche davam razão de ser ao pessoal que ia enchendo as duas casas, o demónio contudo é que foi sempre tratando de nos levantar calúnias a cada momento e de nos fazer grandes campanhas nos jornais ímpios, que me afligiam pelo receio de ver transtornada a missão que nos tinha sido confiada, mas Deus foi (m.f.94v) sempre velando por nós.9

O colégio abriu no dia 15 de outubro de 1923, nas instalações do palácio da família Andaluz, imóvel herdado de seus pais, e começou a funcionar com um número reduzido de alunas internas. No jornal Correio da Extremadura, em setembro de 192310, publicou-se um anúncio da existência do colégio e da sua

abertura para breve; as disciplinas nele ministradas11 eram objeto do anúncio

e recomendava que os interessados se dirigissem à sua diretora, Luiza Andaluz. Nos seus escritos, Luiza Andaluz relata os primeiros tempos do funcionamento do colégio:

O Colégio só abriria em outubro, no princípio da época escolar, entretanto não nos faltaria trabalho para conseguirmos pôr tudo em ordem para esse fim. Roupas, loiças e mobília tínhamos em casa já quase o suficiente, mas era preciso comprar ainda muita coisa, embora naquele tempo tudo fosse bem mais fácil do que agora, que há muitas mais exigências para a organização de qualquer colégio, pois só permitem funcionem depois de ser tudo muito bem estudado, vistoriado e aprovado.12

E, deixa-nos o seu testemunho acerca da vida e do quotidiano do corpo docente, nos primeiros tempos, que eram as suas religiosas, umas eram irmãs professas com formação académica e pedagógica e outras tinham formação para os

9 Idem – Ibidem, §279.

10 Correio da Extremadura, 5-9-1923, n.º 1691, apresenta-se o anúncio sobre o colégio e sua

próxima abertura.

11 Correio da Extremadura, 24-9-1936, n.º 2366, segundo se descreve no anúncio divulgativo:

Pensionato de Nossa Senhora dos Inocentes – Palácio Andaluz – Santarém – Fundado em 1923. Recebem-se alunas internas, semi-internas e externas para curso infantil, primário, secundário, lavores e trabalhos artísticos. Este colégio está esplendidamente situado e nele se ministra, a par da instrução, cuidada educação moral e religiosa. Preços módicos. Podem pedir prospectos à Direcção.

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serviços gerais, por forma a assegurar um serviço de qualidade às educandas que lhes estavam confiadas:

O Colégio já tinha assim professoras de instrução primária e secundária, francês, lavores e pintura, assim com tínhamos também escriturária, governante, roupeira e cozinheira. Fizeram-se os horários, marcaram-Fizeram-se os cargos, dividiu-Fizeram-se o trabalho.13

(…) Em Santarém continuava a nossa vida com a regularidade habitual. O Colégio estava cheio, nessa época havia muito poucos colégios religiosos, vinham-nos alunas da Beira, do Alentejo, do Algarve, de todas as províncias; a instrução era bem ministrada, a educação era boa, as famílias estavam contentes.

(…) A fim de termos mais espaço no edifício onde abrimos o colégio, algumas das nossas Irmãs passaram a dormir nas celas do Convento14, assistiam ali à Santa Missa e aproveitávamos o coro

para a reza do Ofício. Tudo isto se ia fazendo com prudência e sem alarido, contudo sentíamos que estávamos caminhando por vias resvaladiças e que precisávamos estar atentas à oposição passiva e encoberta que nos vigiava. Não ousavam atacar de frente, mas espalhavam muitas calúnias.15

O primeiro Alvará de licenciamento para o colégio seria concedido no dia 31 de outubro de 1928, com o n.º 11-R16, sob a jurisdição do Liceu Nacional Sá da

Bandeira17, em Santarém, permitindo ao então Pensionato de Nossa Senhora

dos Inocentes alterar o seu nome, o qual passou a denominar-se Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes. Mais tarde, em 18 de novembro de 1941, o colégio obteve novo Alvará de licenciamento, conforme registo n.º 595, do livro E, do Liceu Nacional Sá da Bandeira e, nesse documento, foi definido o número máximo de alunas que era permitido, quer internas, quer externas, para o ensino primário e liceal.

13 ANDALUZ, Luiza – Op. Cit.. §282.

14 Refere-se ao Convento das Capuchas, em Santarém, imóvel adquirido por Luiza Andaluz em

hasta pública. Situado na mesma rua em frente à sua residência, aí instalou um asilo-creche para meninas órfãs na sequência da pneumónica; e que funciona ininterruptamente há mais de 90 anos, o qual deu lugar à atual Fundação Luiza Andaluz, Instituição Particular de Solidariedade Social, com a missão de acolher crianças e jovens em risco, do sexo feminino.

15 ANDALUZ, Luiza – Op. Cit.. §300.

16 Cf. Livro de Registos de Alvarás de Colégios de Ensino Secundário, Fls. 3-3v. 17 Atual sede do Agrupamento de Escolas Sá da Bandeira.

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21 Tabela n.º 1 - Evolução do número de alunas

Ano Ensino Infantil Ensino Primário Ensino Liceal Total Alunas Internas 1941 - 30 70 100 40 1952 28 30 83 141 40 1954 13 39 140 192 40 1956 13 60 140 213 40

Fonte: Averbamentos no Alvará do Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes18

Em 194219, o colégio obteve autorização para lecionar, também, o curso do

Conservatório Nacional a 20 alunas e o curso Doméstico, o qual incluía formação elementar em noções de enfermagem, seguindo planos próprios, conforme recomendação inscrita no averbamento ao alvará.

Luiza Andaluz manteve a posse da propriedade do imóvel onde funcionava o colégio, até 1949, quando transferiu a sua posse para a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, congregação religiosa que ela fundara e que tinha obtido a ereção canónica em 1939. Entretanto no colégio, a partir de 1952 foi concedida licença para o ensino infantil (o qual já vinha sendo lecionado em anos anteriores), o ensino primário, o ensino liceal, o curso do Conservatório Nacional e o curso Doméstico.

A partir do ano escolar de 1952, face ao aumento da população escolar, o colégio viu esgotada a sua capacidade quer de funcionamento letivo, quer de alojamento e de espaço no palácio Andaluz, sendo necessária a sua expansão e, nesse sentido, foram criadas as condições para construção de novas instalações, em Santarém, no sítio do Sacapeito, ao Moinho de Fau.

Face ao desenvolvimento do colégio, em 1954 a sua lotação foi fixada em 192 alunas. E, em 1956 a sua capacidade foi autorizada até 213 alunas, facto que levou à capacidade máxima do “velho” edifício do palácio Andaluz; nesse momento já as aulas para o ensino infantil e primário funcionavam num edifício

18 Cf. MANIQUE, António Pedro – Luiza Andaluz : pedagogia e benemerência nos contornos de

uma vida. Santarém : Instituto Politécnico de Santarém, 1999, p. 35.

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anexo ao palácio. Situação relatada por Luiza Andaluz, quando, nos seus escritos, refere:

mudámos mais tarde (…) para uma casa generosamente cedida pela Família Sequeira. Manteve-se nela uma frequência de 8 ou 10 alunas internas e 40 externas, mesmo esta instalação na Rua da Corredora, era pequena para colégio, embora melhor que a primeira20.

Este aumento da população escolar veio confirmar da necessidade de expansão das instalações do colégio e da pressão do Ministério da Educação Nacional21,

que conduziria ao início da já projetada construção das novas instalações em uma zona nova da cidade – o planalto do Moinho de Fau, um miradouro, sobranceiro ao rio Tejo, que do alto da cidade trouxe novas vistas sobre a grande lezíria que se estende para sul de Santarém22.

As notícias da construção de um colégio com as características nele projetadas foram amplamente divulgadas pelos jornais da época. O Diário Popular noticiou o início das obras e caraterizou o complexo de edifícios projetados como o maior colégio da Península Ibérica23, que seria dotado de grande capacidade e

poderia reunir num mesmo espaço os diferentes níveis de escolaridade, ou seja, desde o ensino infantil até ao secundário, construído de forma adequada ao estabelecimento da educação feminina24. Passou a designar-se de complexo

Andaluz e essa designação foi tomando corpo até que ocorreu a mudança de nome do Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes para Colégio Andaluz25.

Com o início das aulas, nas novas instalações, foram criadas condições para uma melhor qualidade de ensino, tendo permitido o aumento da capacidade de lotação em mais de 300%. Com efeito, de 1963 até ao seu encerramento em

20 ANDALUZ, Luiza – Op. Cit., §380.

21 TAVARES, Maria Fernanda, org. – O itinerário de Luiza Andaluz, a partir do seu manuscrito :

História da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, [Lisboa : Servas de Nossa Senhora de Fátima], 1997, p. 252.

22 RODRIGUES, Martinho Vicente – O Instituto Politécnico de Santarém no “sítio” ideal,

descoberta de Luiza Andaluz, sonhos santarenos de séculos. Santarém: Amigos de Luiza Andaluz, 2011, p. 21.

23 Diário Popular, 21-11-1956. 24 Diário Popular, 21-11-1956.

25 O Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes passou a chamar-se Colégio Andaluz no ano letivo

1960-1961, aquando da mudança para as novas instalações, essa alteração foi comunicada pela Irmã Etelvina Ferreira, Diretora do colégio, na reunião de abertura do ano letivo. PT-ACSNSF/CA/Atas das reuniões dos professores do Colégio (1945-1960), cx. 10, lv.1.

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23

1975, foi fixada uma quota de 708 alunas, em que o internato teria um máximo de 250 alunas, permitindo ao colégio um funcionamento em internato, semi-internato e externato.

Tabela n.º 2 - Evolução do número de alunas

Ano Ensino Infantil Ensino Primário Ciclo Preparatório Ensino Liceal (até 3.º Ciclo) Magistério Primário Total 1963 40 120 - 446 102 708 1969 60 100 100 390 58 708

Fonte: Averbamentos no Alvará do Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes (Colégio Andaluz)26

No ano de 1962-1963 as aulas começam a funcionar no novo colégio e as noticias sobre as novas instalações e o potencial pedagógico ali nascente é largamente descrito pelo jornal Correio do Ribatejo, na sequência da visita efetuada no início do ano letivo:

No conjunto de melhoramentos, que estão fazendo de Santarém uma grande cidade moderna, ocupa um lugar de bem primacial relevo o grandioso e modelar estabelecimento de ensino que é o Colégio Andaluz (…) obedecendo aos mais modernos preceitos pedagógicos, ministrando toda a instrução, desde a infantil à liceal, cursos de dona de casa, de enfermagem e de educação física, tendo ainda uma Escola de Magistério Primário. (…) Foi-nos dado visitar salas de aula, de estudo e de recreio, dependências habitacionais e administrativas, todas magníficas instalações, cujos requisitos de higiene e de conforto não podem ser ultrapassados. Logo na secção infantil nos encantou a orientação pedagógica e elevação espiritual que preside a tudo (…). O bloco destinado ao ensino secundário oferece-nos uma dezena de espaçosas salas de aula e bem apetrechados laboratórios de ciências físico-químicas e naturais, museu, sala de desenho, salas de costura e trabalhos domésticos, biblioteca, salas destinadas à JEC27, à M. P.28, gabinetes de professoras e o mais que pode

comportar um previdente e acautelado liceu. (…) Passando às

26 MANIQUE, António Pedro – Luiza Andaluz : pedagogia e benemerência nos contornos de uma

vida. Santarém : Instituto Politécnico de Santarém, 1999, p.36.

27 Juventude Escolar Católica. 28 Mocidade Portuguesa.

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24

instalações habitacionais, admiramos os três magníficos refeitórios, um ambiente familiar bem diverso da maioria dos estabelecimentos similares (…). Admiramos o magnífico ginásio e o salão de festas, não deixando de visitar as cozinhas, a copa, lavandarias e instalações de serviços administrativos, gabinetes da direção, salas de visitas, salas de recreio e de estudo, a múltipla e admirável série de dependências.29

Era uma instituição de ensino devidamente equipada com os recursos pedagógicos e didáticos mais avançados no seu tempo, face à realidade das instituições de ensino coevas, aliada a um espírito de abertura ao mundo e aos sinais dos tempos, próprio da formação das religiosas que a dirigiam. Sendo um colégio inicialmente para o sexo feminino, com as novas instalações e atendendo a uma leitura de mudança dos tempos, aliando a necessidade de dar resposta a uma pretensão das famílias, a diretora do colégio, irmã e professora Maria Teresa de Jesus da Silva Dias, solicitou em 1971, autorização ao Ministério da Educação30 para que o ensino primário fosse ministrado em coeducação,

abrindo assim caminho ao ensino misto no colégio e a entrada de alunos do sexo masculino foi uma realidade. O Ministério da Educação, em 1972, respondeu autorizando o ensino primário a alunos de ambos os sexos, em coeducação, a

título de experiencia pedagógica31.

Contudo, nesse mesmo ano de 1972, a mesma diretora voltou a requerer junto do Ministério da Educação, a coeducação, mas para o ciclo preparatório, para as idades dos 11 a 12 anos, mas desta vez a resposta veio no sentido de que

nem a título experimental poderia ser autorizada essa metodologia educativa;

adiantando que apenas o assunto poderia vir a ser estudado, se o Colégio

dispuser de instalações que permitam o funcionamento de uma secção masculina, independente da parte feminina, poderá (…) pôr o problema para ser convenientemente estudado32. Ou seja, pela parte das religiosas

responsáveis pela educação e pedagogia ministrada, temos uma leitura de

29 Correio do Ribatejo, 18-11-1962.

30 PT-ACSNSF/CA/Correspondência com o Ministério da Educação Nacional (1960-1975), cx.1,

mç.28; Ofício de 2 de novembro de 1971.

31 PT-ACSNSF/CA/Correspondência com o Ministério da Educação Nacional (1960-1975), cx.1,

mç.28; Ofício datado de 1972.

32 PT-ACSNSF/CA/Correspondência com o Ministério da Educação Nacional (1960-1975), cx.1,

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25

abertura e vontade de transformação do paradigma educativo da instituição, mas que se deparava com alguns obstáculos à realização da sua implementação. Face ao desenvolvimento da rede regional e nacional das escolas de ensino público, desde o início dos anos 70, a um crescente problema financeiro associado às transformações sociais na sequência do 25 de abril de 1974, e, atendendo a um discernimento manifestado na reunião do Conselho Geral da Congregação de junho de 197533, no que se refere ao rumo a dar na fidelidade

ao carisma da congregação religiosa com vista à redefinição da sua missão e presença em determinados setores da vida eclesial e social. Foi colocada a hipótese de encerrar o colégio em Santarém, facto que se consumou meses mais tarde.

O risco de se tornar uma escola supérflua face ao local e à região de implantação era demasiado grande - e a solução poderia ter de passar através da alienação desse espaço educativo; que, por outro lado, também, estava a consumir demasiados recursos humanos internos à congregação. Situação sentida pela congregação, não deixando espaço para uma expansão da sua presença pastoral, espiritual, eclesial e apoio social no país e no estrangeiro, para onde estava a ser solicitada a sua presença.

Através da alienação do espaço, foi consolidada a questão financeira e a congregação pôde redefinir uma mudança presencial das religiosas, a partir de pequenas comunidades inseridas no meio paroquial, para responder às necessidades emergentes na pastoral e no apoio às populações que vivenciavam uma mutação migratória interna que iria marcar socialmente a década de 70, ou seja, por lado, a chegada e a integração de populações das ex-colónias e, por outro lado, o movimento resultante das migrações do interior para o litoral. Na sequência de negociações entre a Congregação e o Estado, o alvará do Colégio Andaluz foi cancelado em 30 de setembro de 197534, e o Complexo

Andaluz, assim denominado o espaço do novo colégio, foi adquirido pelo então Ministério da Educação e Cultura, que nele instalou o ensino público, numa primeira fase (infantil, primário, preparatório e Magistério) e, numa segunda fase, as Escolas Superiores de Educação e de Gestão, a que se juntariam a

33 PT-ACSNSF/ASNSF/GC/GG/Livro de Atas do Conselho Geral da Congregação, Ata nº 209 de 7

de junho de 1975.

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Escola Superior de Enfermagem, as quais estariam na origem do Instituto Politécnico de Santarém, que aí tem a sua sede.

Fig. 1 – Colégio Andaluz: sala de aula, anos 40.

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27 Fig. 3 – Colégio Andaluz: uma vista geral, anos 60

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28 Fig. 5 – Colégio Andaluz: o refeitório, anos 70

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29 Fig. 7 – Colégio Andaluz: um final de curso, anos 60

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30 3. Estudo orgânico-funcional

Para o estudo orgânico-funcional do Colégio Andaluz tomamos como ponto de referência inicial o estudo de Isabel da Silva Martinho35, e temos presente: 1) o

acervo de documentos que constitui o fundo documental desta instituição que teve início no dia 15 de outubro de 192336; 2) a documentação relacionada com

a gestão financeira e a administração desta instituição que pertence ao acervo de documentos do fundo do Arquivo da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima (ASNSF). Constitui também como referencial de leitura o estudo de Daniel Machado de Melo, sobre o sistema de gestão documental dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa37 pela novidade do estudo e

respetiva abordagem sobre o assunto.

A Congregação das SNSF decidiu, em boa hora, na última década do século XX38,

fazer um ponto de situação sobre o seu património e, nessa sequência, surgiu a constituição do arquivo histórico da congregação, da biblioteca geral e da criação de um espaço museológico; foi, então, dado início ao levantamento de todas as existências ao nível dos bens culturais, com vista ao inventário geral sobre todo o património e identificação dos seus bens. Esta tarefa veio a ser confirmada aquando da organização dos documentos com vista à constituição do processo da causa de canonização da sua fundadora Luiza Andaluz (1998-2000). E, no que se refere à massa documental acumulada nas várias casas da congregação tinha de ser pensada e projetada a sua organização; a criação do arquivo histórico ou da congregação veio dar sentido à necessidade de haver um espaço único onde fosse acolhida, tratada, organizada e disponibilizada toda documentação produzida pela congregação e suas instituições.39

35 MARTINHO, Isabel da Silva – Op. Cit., p. 59-76.

36 No livro Itinerário (História da Congregação…, p.107), Luiza Andaluz refere: “O Colégio só

abriria em Outubro, no princípio da época escolar, entretanto não nos faltaria trabalho para conseguirmos pôr tudo em ordem para esse fim…”.

37 MELO, Daniel Machado – Abordagem ao sistema de Gestão Documental dos Serviços Sociais

da Câmara Municipal de Lisboa. Lisboa : Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2010.

38 Em 1995, criou a Comissão Luiza Andaluz, que iria dinamizar todos os procedimentos para a

organização e futuro inventário dos bens culturais da congregação; e, no seguimento destes trabalhos foi promovido o processo de canonização da fundadora Luiza Andaluz, entregue em Roma no ano 2000, da qual, o Vaticano, em 2017 veio reconhecer as suas virtudes heroicas.

39 Para aí reunir toda a documentação oriunda das várias casas, comunidades e instituições

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A função de guardar os documentos produzidos pela congregação e promover ao seu arquivamento, conservação, preservação, acesso e a divulgação, está consignada no Diretório Geral da congregação, n.º 201.a) #1 e #2 e pertence à Secretária Geral40. Na Casa Geral da congregação41, a acumulação de

documentação produzida pelo Governo Geral, pela receção de documentação das casas e comunidades que, por algum motivo, tinham fechado, levou à tomada de decisão sobre o destino a dar a essa mesma documentação. Ora, no que se refere ao acervo documental, foi decidido constituir o arquivo histórico, em 2001, e, assim, dar início aos procedimentos com vista à identificação e organização de toda a documentação. Nesse contexto, o Governo Geral enviou uma carta-questionário a todas as casas e comunidades de religiosas, no sentido de ser respondido acerca das existências de documentação acumulada, a sua tipologia e a dimensão em termos de metros lineares; bem como da necessidade de apenas conservar nas comunidades a documentação mais recente42 e de

promover ao envio da restante documentação para a Casa Geral por forma que se procedesse à sua identificação e inventariação, para posterior organização e descrição.

A comunidade da Casa Mãe43 instalada em Santarém, em resposta ao solicitado,

enviou os documentos relativos à sua comunidade e, à parte, a documentação que foi identificada como pertencendo ao extinto Colégio Andaluz. Assim, também, se dava sentido ao estabelecido no Cânone 486 e aos outros cânones relacionados com esta matéria, do Código do Direito Canónico44

documentos quer das casas e comunidades em atividade, quer a documentação produzida pelas instituições e comunidades de vida religiosa encerradas e cuja documentação se encontrava dispersa.

40 DIRETORIO Geral - [s. l.]: Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, 2008. 41 Trata-se da Casa onde passam a residir as irmãs que por eleição capitular tem a missão de

governar a congregação.

42 Nesse momento, em 2001, foram definidas, pelo Governo Geral, as datas para a recolha da

documentação a enviar ao arquivo; definiu-se que deveria ser tida em conta a data do fim do mandato anterior ao que estava a decorrer, ou seja, deveria ser enviada a documentação até ao ano 1994. Em termos futuros ficaria essa prática para incorporar documentação no arquivo.

43 Assim denominada pelo facto de ter sido a primeira casa da congregação e corresponder à

casa-palácio da família de Luiza Andaluz, fundadora da Congregação das SNSF e onde tudo começou.

44 CÓDIGO de Direito Canónico, edição anotada, Braga : Edições Theologica, 1983, Cân. §486.1

– Todos os documentos respeitantes à diocese ou às paróquias, devem ser guardados com o maior cuidado. [Nota: Numa leitura alargada e tendo por base o comentário canónico anotado, anexo ao cânone, este cânone é extensível a todos os arquivos considerados eclesiásticos]. E, no Cân. §486.3 – Dos documentos que se encontram no arquivo faça-se um inventário ou catálogo com um breve resumo de cada um.

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Os documentos produzidos no Colégio Andaluz foram identificados; e, de seguida; iniciámos um estudo orgânico funcional, partindo do acervo documental que nos mostrasse as linhas de funcionamento da instituição no sentido de fazer delinear acerca da existência de um sistema de informação, tendo presente que um sistema de informação é constituído por pessoas, procedimentos e equipamentos, o qual recolhe, processa, guarda e publicita a informação com um objetivo especifico45. O Colégio Andaluz como organização

objeto de estudo interpreta-se como uma organização que funcionou com um sistema de informação, pois, na sua essência, quando produziu informação, produziu conhecimento e esse conhecimento veiculou através de um conjunto de processos a que podemos chamar de gestão de informação.46

Sendo a informação um recurso da organização, a mesma tinha de ser gerida devidamente; para a execução da gestão dessa informação percecionamos uma cadeia de comando na estrutura organizativa do Colégio e das suas relações institucionais.

Fig. 9 – Organograma do Colégio Andaluz47

Fonte: Elaborado pelo autor.

45 GONÇALVES, Leandro Salenave – Sistema de informação. Disponível em linha : https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_informação. FARIA,Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça – Sistema de Informação. Dicionário do Livro, da escrita ao livro eletrónico. Coimbra : Gráfica de Coimbra, 2008. p. 1143.

46 IDEM, ibidem.

47 Elaborado a partir do testemunho oral da última diretora do colégio, Irmã Maria Teresa de

Jesus da Silva Dias e do nosso estudo institucional. O organograma reporta-se ao período relativo ao novo Colégio Andaluz (1962-1975).

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De 1923 até 1941 Luiza Andaluz detinha a posse do imóvel onde estava instalado o Colégio, era uma propriedade que pertencia à família e, depois, sua de pleno direito, por herança familiar48. Por outro lado o período de 1939-1941

corresponde ao momento em que a “Obra de Santarém”, ou seja, a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, recebe a aprovação das suas Constituições49, as religiosas fazem os seus primeiros votos de profissão

religiosa e empreendem uma grande mudança ao nível da sua presença nos centros e serviços pastorais onde se encontravam a trabalhar. É na sequência destes acontecimentos internos à congregação que Luiza Andaluz se começa a afastar da gestão do colégio, para que possa dedicar-se com outra disponibilidade aos assuntos relativos ao governo e à expansão da Congregação. Com a autorização de ereção oficial da Congregação no ano de 1939, abre-se o caminho para que, dez anos mais tarde, e, na sequencia dos inventários face às partilhas de heranças de família, em 1949, venha a concretizar-se a transferência do titulo de posse da propriedade do imóvel onde está instalado o Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes (designação anterior do Colégio Andaluz); passando de propriedade privada de Luiza Andaluz, para a plena posse de propriedade em nome da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, conforme consta do averbamento do Alvará do Colégio50: foi autorizada

a transferência de posse deste estabelecimento de ensino para a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.

A Identificação da documentação conduziu à necessidade de identificar as funções diretiva, administrativa e financeira.

3.1.A Direção/ Diretora

Tendo presente que o colégio inicialmente era propriedade de Luiza Andaluz, esta foi sua Diretora de 1923 a 193651; momento em que saiu, seguramente,

48 ACSNSF/LA/Autos cíveis de inventário de bens, 1916, cx. 11, Mç. 652 e PT-ACSNSF/LA/Escrituras de retificação de herdeiros, 1917, cx. 13, mç 707.

49 Em 11 de outubro de 1939 a congregação é aprovada canonicamente bem como as suas primeiras constituições.

50 Averbamento ao Alvará de 1941, datado de 17 de Março de 1949. NOTA: Nos anos seguintes

à aprovação da Congregação, Luiza Andaluz desencadeou todos os trâmites relacionados com a posse das suas propriedades tendo como objetivo fazer passar todos os seus bens para a posse da Congregação; facto que concretizou no decurso dos anos 40 do século passado.

51 Segundo as palavras de Luiza Andaluz: As próprias circunstâncias, contudo, levaram-nos a

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como referimos, por razões de acompanhamento de outras instituições mantidas pela congregação. Para o período de 1936 a 1941 identifica-se Maria de Jesus dos Santos Rodrigues como Diretora do Colégio; facto que a partir de 1941 e até ao seu encerramento, em 1975, passou a estar averbado ao Alvará de 1941 o nome da Diretora e da Subdiretora, sempre que se verificava da sua alteração. Com base na informação foi possível apresentar a seguinte tabela:

Tabela n.º 3 - Direção do Colégio Andaluz

Nome da Diretora Datas

Luiza Andaluz 1923-1936

Maria de Jesus dos Santos Rodrigues 1936-1941

Ana Amélia de Sousa Alves 1941-1950

Maria José Falcão 1950-1954

Maria Isabel Lopes 1954-1958

Etelvina Luzia Ferreira Alves (Diretora) 1958-1971 Maria Mónica Dias Caetano (Subdiretora) 1958-1971 Maria Teresa de Jesus da Silva Dias (Diretora) 1971-1973 Maria de Lourdes de Melo Macedo (Subdiretora) 1971-1973 Maria Teresa de Jesus da Silva Dias 1973-1975

Fonte: Averbamentos no Alvará do Colégio de Nossa Senhora dos Inocentes Todas as diretoras referenciadas no quadro52 eram religiosas da congregação

proprietária, o que confirma que o colégio foi sempre dirigido por uma religiosa, definindo uma pedagogia que garantisse a fidelidade aos princípios pelos quais se regia a congregação.

Era necessário garantir uma boa formação moral cristã católica e uma educação intelectual que fosse consentânea com os objetivos a que se propunham e estavam nos folhetos divulgativos53. Tendo por base o testemunho oral da

anos debaixo do governo da mesma Superiora, foi em Santarém que se estabeleceu a nossa primeira Casa-Mãe. In ANDALUZ, Luiza – História, p. 181, #450.

52 MARTINHO, Isabel da Silva – Op. Cit., p.60.

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última diretora do colégio54, as funções da diretora concretizavam-se,

nomeadamente, através das seguintes competências:

 - Representar o colégio nos contactos com o exterior e relações oficiais com entidades ligadas ao ensino,

 - Assegurar o funcionamento interno do colégio, verificando todos os setores,

 - Verificar as inscrições para os anos letivos e dar o seu parecer de admissão ou não,

 - Organizar as turmas e os horários e distribuir o serviço dos professores, com o apoio de alguns professores,

 - Presidir às reuniões finais de avaliação e preparar as alunas para se apresentarem aos exames finais (que decorriam no exterior, no Liceu Nacional Sá da Bandeira),

 - Responder perante a Congregação proprietária sobre todos os assuntos pelos quais fosse solicitada,

 - Fazer a gestão do colégio desde a gestão do pessoal, à secretaria e aos serviços financeiros,

 - Zelar pela manutenção da disciplina e ação educativa/ disciplinar das alunas,

 - Estabelecer as relações com as famílias das alunas,

 - Organizar e presidir às aberturas do início do ano e às festas ao longo do ano.

3.2.Os Docentes

O Decreto n.º 20.613/1931, de 11 de dezembro55, definia os procedimentos e

documentos necessários para quem queria ser professor no ensino particular; teria de apresentar os seguintes documentos para que se constituísse o seu processo de docente, sem os quais não poderia ter autorização para exercer a docência nas escolas privadas, assim, exigia-se a exibição de um diploma passado pela Inspeção Geral do Ensino Particular. Para alcançar esse diploma teria de apresentar os seguintes comprovativos:

54 Irmã Maria Teresa de Jesus da Silva Dias. 55 Diário do Governo, nº 285, I série, p. 2691.

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 - Certidão justificativa de ser maior de 18 anos,

 - Atestado médico comprovante de não ser portador de doença contagiosa, aleijado ou deformação física que impossibilitasse o exercício da função docente,

 - Atestado de bom comportamento moral e civil passado pelo administrador do concelho a que pertence,

 - Certificado de registo criminal negativo,

 - Certidão de habilitações referente ao grau de ensino ao qual se habilitava a ser docente.

As informações relativas aos docentes do Colégio foram recuperadas a partir da consulta aos Relatórios de Inspeção Escolar, e na documentação relativa ao colégio através da consulta às Fichas de Professores e aos Contratos dos

Professores de onde é possível percecionar que na esmagadora maioria o corpo

docente era constituído por religiosas da própria congregação56;

Os dados relativos aos professores estão recolhidos nas fichas de professores57

e no livro de contratos de professores58 ou nos registos biográficos das religiosas

da congregação das SNSF que foram professoras no colégio; e, noutra fonte de informação que são os Relatórios de Inspeção Escolar onde se referem todos os professores que lecionavam no colégio.

3.3.A gestão financeira, administração económica

A informação relativa a documentação de carater económico, de manutenção do colégio ou de justificação financeira é escassa para os primeiros anos de funcionamento; os únicos documentos relativos a administração, portanto, referenciando aspetos da gestão quer administrativos quer financeiros são os

56 Além das informações existentes nos documentos relativos aos Contratos dos professores e o

Ficheiro de professores, datados de 1941 a 1969, e das Atas das reuniões dos professores, de 1945 a 1966; no que se refere às religiosas que foram docentes a informação complementa-se através do registo biográfico existente no processo pessoal de cada religiosa.

57 As autorizações para lecionar no ensino particular, portanto no Colégio Andaluz, a partir de

1949 passaram a ser solicitadas pela diretora do Colégio junto do Ministério da Educação Nacional ao abrigo do Decreto n. 37.545 de 8 de setembro de 1949. Cf. PT-ACSNSF/CA/Autorizações para lecionar no colégio, cx.1, mç.12-25.

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relatórios anuais que a comunidade religiosa residente no colégio produzia59

para enviar ao Governo da Congregação, seguindo os procedimentos regulares inscritos nas Constituições da Congregação60. Este facto, relativo aos primeiros

anos é confirmado pelas palavras de Luiza Andaluz, no que se refere à administração financeira do Colégio, organização, funcionamento e produção da documentação:

As próprias circunstâncias, contudo, levaram-nos a iniciar em Santarém a “Obra de Deus”: o Colégio e o Convento estavam ligados nos primeiros anos debaixo do governo da mesma Superiora, foi em Santarém que se estabeleceu a nossa primeira Casa Mãe. Não tínhamos Conselho, nem livro de atas, nem escrituração feita a preceito. Assentavam-se as despesas nas agendas, quando se assentavam, pagavam-se as contas quando havia dinheiro e quando não havia os fornecedores esperavam pacientemente porque, por mercê de Deus, eu tinha crédito e estávamos rodeadas de simpatia naquela terra, onde todos me conheciam e estimavam desde criança. Este prestígio já os meus Pais mo transmitiram. Mas agora, na verdade, já era bem tempo de regularizar a nossa vida, de fazermos boa administração de pormos tudo em ordem.61

Além dos relatórios anuais62 de atividade e contas que a comunidade religiosa do colégio enviava para o Governo da Congregação; os dados relativos à administração económica e financeira do colégio conservados em arquivo existem a partir do ano 1954, nomeadamente com a documentação relativa à compra dos terrenos para a construção do colégio novo (futuramente denominado de Colégio Andaluz) e depois, a partir de 1955, com os primeiros registos do Diário-Razão de receitas e despesas.

59 O primeiro relatório anual de atividade produzido pelo Colégio e enviado ao Governo Geral

data de 1941 e está inserido na série de relatórios anuais das casas e comunidades, conservado no fundo do Governo Geral da Congregação SNSF. PT-ACSNAF/ASNSF/GC/SG/ Relatórios anuais das casas e comunidades, cx. 34, mç.212.

60 Constituições da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, 1939, artigo 2.º, #545

e artigo 4.º, # 557.

61 ANDALUZ, Luiza – História, p. 181, #450. 62 Desde 1941.

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A manutenção económica do colégio, sendo uma instituição particular de ensino, que ministrava os diferentes níveis de ensino nos diferentes regimes – externato, internato e semi-internato; que tinha de manter no bom funcionamento toda a estrutura dos equipamentos educativos e a gestão do pessoal quer docente, quer não docente; exigia uma prudente capacidade de administrar as receitas face às despesas que surgiam diariamente.

A legislação sobre os estabelecimentos de ensino privado refere que estes podem ser subsidiados ou não pelo Estado, atendendo a determinados critérios constitucionalmente enunciados, em 1933, e, mais tarde, em 1940, consagrados na Concordata com o Estado português; contudo até ao ano de 1971 não existem referências a subsídios estatais concedidos ao colégio. Vejamos o texto da Constituição da Republica Portuguesa de 1933, no seu artigo 44.º:

É livre o estabelecimento de escolas paralelas às do Estado, ficando sujeitas à fiscalização deste e podendo ser por ele subsidiadas (…).63

E vejamos o texto da Concordata e Acordo Missionário de 1940, no seu artigo 20.º:

As associações e organizações da Igreja podem livremente estabelecer e manter escolas particulares paralelas às do Estado, ficando sujeitas, nos termos do direito comum, a fiscalização deste e podendo, nos mesmos termos, ser subsidiadas e oficializadas.64

Só a partir do ano de 1971 com o ministro da Educação Nacional, Professor J. Veiga Simão, considerado como o grande defensor do desenvolvimento da escola pública e da democratização do ensino, foi promovido um amplo debate que precederia a entrada em vigor da reforma geral do sistema de ensino português65, a lei n.º 5/73 de 25 de julho. Nesse período seriam concedidos

subsídios aos estabelecimentos de ensino particular mediante condicionalismos66; o Colégio Andaluz receberia subsídios nos anos de 1972 e

63 CONSTITUIÇÃO Política da República Portuguesa, 19-05-1933. Lisboa: Assembleia Nacional,

1936.

64 CONCORDATA e Acordo Missionário, 07-05-1940, Lisboa: União Gráfica, 1962.

65 STOER, Stephen R. – A reforma de Veiga Simão no ensino : projecto de desenvolvimento social

ou “disfarce humanista”?, in Análise Social, vol. XIX (77-78-79), 1983, 3º, 4º e 5º, p. 793-822.

66 SILVA, Manuela; TAMEN, Maria Isabel, coord. – Sistema de ensino em Portugal. Lisboa :

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197367. Contudo, com o advento das mudanças politicas no ano de 1974, e,

sequentemente, as alterações legislativas ao nível financeiro viriam a colocar o Colégio Andaluz (considerando a obtenção de lucros da empresa), quanto aos rendimentos coletáveis na categoria dos contribuintes mais elevada68. Com

parcos subsídios estatais, sem apoios financeiros externos69 e com as receitas

dependentes do número de frequência escolar no colégio, uma vez que as mensalidades se constituíam na quase totalidade das receitas; perante as despesas, levaria a direção do colégio a uma gestão financeira muito difícil, face ao desenvolvimento do ensino publico ao nível local que veio a desencadear uma consequente saída do ensino privado para a frequência do ensino público e com essa movimentação da população escolar condicionar o desenvolvimento de um projeto de ensino integrado, da infância ao secundário, iniciado décadas atrás.

67 PT-ACSNSF/CA/Correspondência com o Ministério da Educação Nacional (1960-1975), cx. 1,

mç.28.

68 Carta de notificação emitida pela Repartição de Finanças do Concelho de Santarém, datada

de 26 de dezembro de 1974; Cf. PT-ACSNSF/CA/Documentos relativos ao pagamento de contribuições e impostos, 1961-1978, cx. 9, Mç. 69.

69 Sendo propriedade de uma congregação religiosa de origem portuguesa, ao contrário de

outros colégios privados cuja propriedade pertencia a congregações religiosas de origem estrangeira; o Colégio Andaluz:

- Face à mudança da política educativa para a rede pública escolar, - Às alterações políticas em curso,

- E, ao nível da vida eclesial, a mudança do paradigma pastoral face ao êxodo das populações para as grandes cidades do litoral.

Não tendo outro suporte financeiro, ficaria vulnerável às vicissitudes do seu meio envolvente, cuja gestão e manutenção económica, correria previsivelmente riscos de sustentabilidade.

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Tabela n.º 2 - Evolução do número de alunas  Ano  Ensino  Infantil  Ensino  Primário  Ciclo  Preparatório  Ensino Liceal  (até 3.º  Ciclo)  Magistério Primário  Total  1963  40  120  -  446  102  708  1969  60  100  100  390  58  708
Fig. 1 – Colégio Andaluz: sala de aula, anos 40.
Fig. 4 –  Colégio Andaluz: O recreio, anos 60.
Fig. 6 – Colégio Andaluz: o laboratório, anos 60
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Referências

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