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Quem recorre às instituições do mercado para encontrar trabalho? Uma tipologia dos demandantes em agências de emprego em São Paulo

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Academic year: 2021

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Quem recorre às instituições do mercado para encontrar trabalho?

Uma tipologia dos demandantes em agências de emprego em São Paulo

Nadya Araujo GuimarãesFrederico L.B. de Melo

Palavras-chave: desemprego; procura de emprego; GoM; tipologia; mercado de trabalho

Resumo

Nesta comunicação buscamos responder a uma indagação intrigante: quem são os indivíduos que recorrem a instituições de intermediação de empregos num contexto em que as redes pessoais têm se mostrado o mais importante mecanismo não apenas para se ter acesso à informação sobre o trabalho, como para obtê-lo? A reflexão está baseada em dados de survey realizado, em 2004, junto a uma amostra representativa de trabalhadores em busca de trabalho em agências de emprego na região metropolitana de São Paulo, maior mercado de intermediação do Brasil. Foram entrevistadas 1.548 pessoas, localizadas em 50 diferentes pontos de procura, estratificados segundo propriedade do estabelecimento onde se ofertava vaga, o seu porte e a sua localização na região metropolitana. A comunicação apresentará a tipologia dos demandantes de emprego construída a partir do método GoM - Grade of Membership. O modelo final incluiu um total de 61 variáveis, que recobrem quatro dimensões de perfil dos indivíduos: seus atributos pessoais, sua origem familiar e situação domiciliar, seu desempenho no mercado de trabalho, e a natureza da sua inserção social. O modelo final possibilitou a identificação de três “perfis de referência”, fortemente associados a grupos etários específicos: os “trabalhadores em busca de primeiro emprego”, que compreende os demandantes muito jovens; os “trabalhadores em busca de bom emprego”, jovens adultos; e os “trabalhadores em busca de novo emprego”, adultos com idade mais avançada. A tipologia elaborada e a análise que dela extraímos poderão subsidiar a formulação de políticas mais adequadas aos distintos perfis dos demandantes de trabalho.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –

Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

Doutora em Sociologia. Professora Livre-Docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São

Paulo e Pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap)

Doutor em Demografia. Técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômicos

(DIEESE) e Professor do Mestrado em "Gestão Social, Educação e Desenvolvimento" do Centro Universitário UNA – Belo Horizonte.

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Quem recorre às instituições do mercado para encontrar trabalho?

Uma tipologia dos demandantes em agências de emprego em São Paulo

Nadya Araujo GuimarãesFrederico L.B. de Melo

Introdução

A procura de trabalho é um tema pouco tratado no Brasil. Mais escassa ainda tem sido a atenção conferida aos agentes econômicos voltados à locação, agenciamento e seleção de trabalhadores para oportunidades ocupacionais disponíveis no mercado de trabalho. E ainda menor é a produção acadêmica voltada para entender as diferentes iniciativas encetadas pelos indivíduos na procura de trabalho.

Do ponto de vista dos inquéritos sócio-demográficos, a procura de trabalho tem sido investigada menos como um objeto de interesse em si mesmo e mais como uma variável estratégica para a adequada mensuração das condições de inserção individual no mercado de trabalho. Assim, bem medir a regularidade da procura e a sua duração tornou-se fator crucial no recente debate sobre as várias formas de mensuração do fenômeno do desemprego, e do correto estabelecimento das suas fronteiras com a inatividade e com a ocupação (Hoffman e Brandão, 1996). Por isso mesmo, a investigação sobre os mecanismos de procura de trabalho voltou-se para atender à necessidade de controlar a qualidade da informação fornecida pelo respondente com respeito aos seus intentos sistemáticos para inserir-se no mercado, de modo a caracterizar de maneira rigorosa a chamada procura efetiva de trabalho.

Do ponto de vista dos estudos sócio-econômicos, nos últimos anos, extensa literatura internacional tem refletido especificamente sobre a procura de trabalho, orientando-se para identificar os atores e instituições voltados à intermediação do acesso à ocupação (Autor, 2008; Benner, Leete e Pastor, 2006; Koene e Purcell, 2004; Peck e Theodor, 1999 e 2006). Todavia, no caso brasileiro, os estudos sociológicos que mais se aproximaram do tema analisaram antes as relações de emprego na forma da sub-contratação e do trabalho temporário, não raro faces da mesma moeda (a exemplo de Martins e Ramalho, 1994; Balcão, 2000). Alguns observaram o indivíduo trabalhador, detendo-se nas formas de sua contratação e nas condições de uso do seu trabalho. Outros se concentraram na análise das firmas em contextos de reestruturação micro-organizacional, observando o movimento de externalização do provimento e mesmo da gestão do pessoal ocupado. Sem negar a relevância das discussões suscitadas, o seu interesse analítico difere do que nos move neste texto. Isso porque, em

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –

Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

Professora Livre-docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e Pesquisadora do

Centro de Estudos da Metrópole (CEM), no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Doutor em Demografia. Técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos

(Dieese) e Professor do Mestrado em “Gestão Social, Educação e Desenvolvimento” do Centro Universitário UNA – Belo Horizonte.

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qualquer das duas vertentes acima, uma dimensão da questão continuava a descoberto: a das formas pelas quais os indivíduos chegam às oportunidades de trabalho; e, nesse sentido, o papel desempenhado pelos novos agentes econômicos voltados à prestação do serviço de intermediação de oportunidades (mais das vezes temporárias) de emprego.

Tais agentes – públicos e privados – têm se tornado importantes nos mercados de trabalho em escala internacional, mas também no Brasil; e, entre nós, eles são especialmente visíveis nas grandes metrópoles. Somas consideráveis de recurso público, notadamente a partir do final dos anos 1990, têm sido destinadas à montagem de uma rede de intermediação, hoje integrada ao sistema público de emprego. Uma miríade de firmas, algumas de porte significativo e já operando em escala multinacional, também incrementaram a sua presença a partir dos anos 1990 (Guimarães, Consoni e Bessa, 2007). Configura-se, assim, um novo mercado, que se estrutura ao interior do mercado de trabalho e que faz circular uma mercadoria especial: a informação sobre oportunidades de trabalho (Guimarães, 2008).

Nesse contexto passa a ser relevante conhecer mais precisamente quem acorre a esse mercado. Tal questão tem seu lado intrigante, mesmo face aos parcos resultados já reunidos a respeito. Assim, em survey domiciliar realizado em 2001, explorou-se o tema para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), com base numa amostra representativa da sua população em idade ativa.2 Viu-se, na ocasião, que os indivíduos acionavam diferentes mecanismos nas suas buscas por trabalho. Dentre eles, se sobressaiam as redes pessoais, de modo muito mais proeminente que as instituições de intermediação (agências de emprego, empresas de trabalho temporário, e similares); sete em cada dez pessoas diziam buscar normalmente trabalho através de familiares, amigos e conhecidos. Mais ainda: a maioria dos entrevistados creditou às redes por eles mobilizadas a obtenção do seu último emprego (Guimarães, 2006).

Mas, observando-se o achado por outro ponto de vista, encontrou-se também que três em cada dez indivíduos disseram recorrer costumeiramente a agências privadas de emprego. Quem são essas pessoas que consideram cabível acionar as instituições do mercado de intermediação, mesmo num contexto em que as relações tecidas nos espaços privados de sociabilidade parecem ser, para a maioria das pessoas, o mais importante mecanismo para se ter acesso à informação sobre o trabalho e, mais ainda, para obtê-lo? Sabemos, ademais, que a procura via intermediários no mercado de trabalho requer procedimentos e conhecimentos especiais, acesso a um repertório de símbolos que dizem da apresentação de si (tais como, dispor de um CV e saber apresentar-se como um “bom demandante de emprego”), todos esses códigos socialmente criados (Guimarães, 2007).

Na busca de resposta a tais questões, o Centro de Estudos da Metrópole conduziu um survey, no ano de 2004, junto a uma amostra representativa de trabalhadores à procura de trabalho em agências de emprego na região metropolitana de São Paulo, já àquela altura o maior mercado de intermediação do Brasil. Foram entrevistadas 1.548 pessoas, localizadas em 50 diferentes pontos de procura, os quais foram estratificados segundo a propriedade do estabelecimento onde se ofertava vaga (se governamental, sindical ou privado), segundo o porte do mesmo e segundo a sua localização na região metropolitana de São Paulo.

2 Trata-se da pesquisa “Mobilidade ocupacional”, um levantamento complementar à PED/RMSP, que foi a

campo entre abril e dezembro de 2001, conduzido pelo Centro de Estudos da Metrópole em parceria com a Fundação SEADE. Nessa ocasião pesquisou-se de modo mais detido tanto os mecanismos utilizados na procura como aqueles que haviam propiciado a obtenção do último trabalho.

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Nessa comunicação analisaremos os resultados dessa pesquisa, focalizando particularmente os achados relativos ao perfil dos demandantes em agências de emprego.

Qual a vantagem de fazê-lo por meio desses dados, e não através de outras fontes como a PED, a PME ou mesmo o sistema RAIS, que provêm informações assemelhadas. Em primeiro lugar, este survey nos fornece dados mais precisos para caracterizar aquele que procura trabalho através de agências de emprego. Isso porque ele produz uma medida de comportamento efetivo - já que os indivíduos foram encontrados em procura de trabalho em agências - e não se baseia apenas no relato verbal sobre um comportamento considerado habitual, como ocorre nas pesquisas domiciliares regulares (PED e PME); relatos verbais estão sujeitos a constrangimentos decorrentes seja do efeito-memória, seja da própria situação de interação estabelecida no momento da coleta. Em segundo lugar, e à diferença da RAIS, os nossos dados não estão restritos a identificar os indivíduos que obtiveram empregos através de agências; nosso survey descreve o perfil dos entrevistados independentemente do fato de terem obtido (ou não) um trabalho, e deste ter sido (ou não) registrado. Tratamos, assim, com demandantes de emprego, e não apenas com trabalhadores intermediados para ocupações formalmente registradas, como acontece com os dados da RAIS. Nesse sentido, o survey que tomaremos como fonte, conquanto limitado à RMSP, inova enquanto ferramenta para se alcançar com precisão este universo de análise.

Para bem descrever o perfil daquele que acorre às agências de emprego, construímos uma tipologia dos demandantes utilizando o método GoM - Grade of Membership. Para cada um dos 1548 entrevistados foram consideradas 61 variáveis analiticamente relevantes em sua caracterização. O modelo final, detalhadamente descrito a seguir, possibilitou a identificação de três “perfis de referência” (ou extremos) e nos levou a dois novos achados intrigantes. Primeiro, a idade se constituía numa variável crucial para especificar estes três tipos. Segundo, os jovens eram a clientela mais importante dessa forma institucionalizada de procura de trabalho, e se mostravam muito mais freqüentes nesta amostra que na média do mercado de trabalho ou na média dos indivíduos em busca de emprego em São Paulo. Assim, três foram os perfis de referência encontrados: os “trabalhadores em busca de primeiro emprego”, que são muito jovens; os “trabalhadores em busca de bom emprego”, que tendem a ser jovens adultos; e os “trabalhadores em busca de novo emprego”, adultos com idade mais avançada. Esses achados sugerem a importância da relação entre idade e mecanismo acionado na procura de trabalho, com conseqüências analíticas e para a política pública que explicitaremos no curso da análise.

Para bem descrever e refletir sobre esses resultados, o texto foi organizado em três seções, além desta “Introdução”. Na primeira, apresentaremos brevemente o método de obtenção da tipologia. Na segunda, discutiremos os achados, apresentando a tipologia elaborada e caracterizando cada um dos dez subgrupos (puros e mistos) que foram identificados. Finalmente, na terceira seção procuraremos refletir sobre possíveis conclusões importantes tanto para subsidiar a formulação de políticas mais adequadas aos perfis dos demandantes de emprego, como para uma agenda de continuidade de estudos no tema.

1. Método de tratamento dos dados e obtenção da tipologia

Para a construção da tipologia, utilizamos a técnica denominada Grade of Membership – GoM ou Grau de Pertencimento. O GoM se baseia na teoria dos conjuntos nebulosos – fuzzy sets (Manton, Woodbury, Tolley, 1994). De acordo com essa teoria, um determinado elemento pode ter graus variáveis de pertencimento a diferentes conjuntos, possibilidade que não existe na teoria clássica, para a qual a pertença é um atributo binário, pelo que cada

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elemento apenas se insere num único conjunto. Isso faz do GoM uma técnica particularmente útil para a construção de tipologias no campo dos estudos sócio-demográficos.

Ao aplicar o GoM, o investigador demanda inicialmente a identificação, dentre os elementos do conjunto sob análise, de dois ou mais perfis bem definidos, chamados de “perfis extremos” (ou “perfis de referência”). A eles são relacionados cada um dos elementos, por “graus de pertencimento”, com base em suas características. No nosso caso, os elementos do conjunto são os demandantes de emprego incluídos na amostra do survey.

Com base no método da máxima verossimilhança, o GoM estima as probabilidades das características dos perfis (isto é, as probabilidades de cada resposta a cada variável em cada um dos perfis) e calcula o grau de associação de todos os elementos do conjunto com cada um dos perfis. Quando determinado elemento tem todas as características de um dado perfil extremo, seu grau de pertencimento a este perfil é de 100%, e de 0% com respeito aos demais perfis extremos. Porém, pode haver - e normalmente há - elementos que possuem características de diferentes perfis extremos, situação em que terão uma “gradação” de pertencimento a dois ou mais perfis extremos.

Para cada elemento do conjunto nebuloso, será determinado um escore gik , que indica o grau

de pertencimento do elemento i ao perfil k , isto é, a intensidade de sua “filiação” ao perfil extremo k . Assim,

0 ≤ gik ≤ 1 para cada i e cada k ; e

∑ gik = 1 para cada i .

Além disso, a probabilidade de resposta l para a j-ésima questão pelo elemento com k-ésimo perfil extremo é dada por λkjl , com

0 ≤ λkjl ≤ 1 para cada k,j e l ; e

∑ λkjl = 1 para cada k e j .

A probabilidade de resposta l para a j-ésima questão pelo elemento i , condicionada ao seu escore de grau de pertencimento gik , será dada por:

Pr (Yijl = 1) = ∑ gik λkjl

E a função de máxima verossimilhança é dada por: L(Y) = ∏ ∏ ∏ ( ∑ gik λkjl )

i

j

l

Além da definição do número de perfis extremos, o método GoM requer a categorização de todas as variáveis contínuas eventualmente incluídas no modelo, já que apenas trabalha com variáveis discretas. No presente estudo, foram categorizadas as variáveis de tempo (relativas à duração de eventos) e as proporções, uma vez que os dados de rendimentos já haviam sido coletados segundo faixas. Assim, todas as variáveis contínuas foram agrupadas e ordenadas em intervalos segundo quartis, com os menores valores no primeiro quarto e os maiores, no último.

Vale ressaltar que, para o GoM, não vigora o princípio da parcimônia. Ou seja, as estimativas das probabilidades das características dos perfis extremos e as estimativas dos graus de pertencimento serão tanto mais robustas quanto, para determinado número de indivíduos, maior for o número de variáveis incorporadas no modelo, desde que, obviamente, elas sejam analiticamente significativas. Como a base de dados utilizada neste estudo era rica em

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variáveis analiticamente relevantes, foram processados vários modelos, com diferentes especificações quanto ao número de perfis de referência demandados (dois ou três) e quanto às variáveis incorporadas.

Quando determinada característica, isto é, uma resposta a uma determinada variável, tem uma chance relativamente grande de se associar a determinado perfil, é dito que tal característica discrimina o perfil. Nesse sentido, a descrição dos perfis pelo GoM baseia-se nas probabilidades e suas diferenças de intensidade.3 Isso não quer dizer, entretanto, que a maioria dos indivíduos daquele perfil possua aquela característica, mas, sim, que os indivíduos com tal característica têm uma chance maior de pertencer àquele perfil. E, para se identificar se a chance é de fato alta, compara-se a probabilidade com a freqüência.

Apenas os indivíduos em busca de emprego com grau de pertencimento integral a determinado perfil extremo (gk = 1) poderiam, a rigor, ser classificados como formando parte de um tipo puro. Inexistindo pertencimento integral a qualquer perfil (gk < 1, para todos os k perfis), suas características o colocariam sob a influência, maior ou menor, de mais de um perfil extremo, o que, sob critérios estritos, o impediria de ser considerado como pertencente ao tipo puro. Na nossa tipologia final, no entanto, assumimos uma consideração menos estrita dos graus de pertencimento e procedemos a identificação dos tipos “puros” e “mistos” com base em uma interpretação dos escores que não se restringe ao “pertencimento integral a determinado perfil” (gk = 1) ou não (gk < 1). Ao fazê-lo, procuramos explorar ao máximo a virtualidade descritiva que o procedimento possui.

Desse modo, consideramos como pertencentes ao perfil “puro” os demandantes para os quais predominassem, de maneira ampla, as características de determinado perfil extremo; associam-se aos tipos mistos aqueles indivíduos que compartilharam características de distintos perfis extremos. Conforme o critério aqui utilizado, os perfis mistos têm predominância de características de um determinado perfil extremo, combinada com um conjunto relevante, porém secundário, de características de outro perfil extremo. Mas podem existir demandantes que partilhem características de vários perfis extremos, sem predomínio de qualquer um deles; para tal, concebemos um terceiro tipo de perfil que será referido doravante como “misto sem predomínio”.

Foram os seguintes os critérios utilizados para definição dos perfis puros e mistos:

1) O indivíduo i é considerado como pertencente ao perfil puro m quando tiver os seguintes graus de pertencimento g aos perfis extremos m, n e o:

a) gim ≥ 0,75; ou

b) 0,50 < gim < 0,75, desde que gin ≤ 0,25 e gio ≤ 0,25.

2) O indivíduo i é considerado como pertencente ao perfil misto de m com n (em que predominam as características de m) aquele cujos graus de pertencimento aos perfis m e n são:

a) 0,50 < gim ≤ 0,75, desde que 0,25 ≤ gin < 0,50.

3) O indivíduo i do tipo misto sem predomínio é aquele com os seguintes graus de pertencimento g:

a) gim < 0,50 e gin < 0,50 e gio < 0,50; ou

3 Os perfis foram descritos com base na relação entre as probabilidades estimadas (lambdas) de cada resposta a

cada variável em cada perfil e a distribuição da freqüência marginal das mesmas respostas, tomando por referência a linha de corte de 1,2. Ou seja, quando a divisão de lambda pela freqüência da resposta à variável supera 1,2, entende-se que a característica indicada pela resposta tende probabilisticamente a distinguir o perfil.

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b) (gim = 0,50 e gin = 0,50) ou (gim = 0,50 e gio = 0,50) ou (gin = 0,50 e gio = 0,50).

No modelo final, escolhido para obtenção dos perfis e dos graus de pertencimento dos demandantes aos mesmos, solicitamos a identificação de três “perfis de referência” e incluímos informações sobre quatro amplos conjuntos de características acerca dos indivíduos:

atributos pessoais ou background individual (como faixa etária, nível educacional, cor, condição de migração etc.),

• características da família de origem e do ambiente domiciliar atual (como escolaridade e ocupação do pai e da mãe, tamanho e composição do domicílio, incidência de desemprego no domicílio etc.),

• características que dizem da inserção e do desempenho do entrevistado no mercado de trabalho (como situação ocupacional, posição na ocupação, setor de atividade, número e duração de eventos de ocupação, eventos de desocupação, meios de busca de emprego, meio eficaz etc.) e

• medidas do tipo de inserção social do indivíduo (adesão e grau de suporte das redes domiciliar, comunitária e sindical e fonte de auxílio em casos de problemas financeiros, afetivos ou de trabalho etc.).

Para a construção da tipologia, foram considerados os 1.548 entrevistados, cujas idades variavam entre 14 a 70 anos, caracterizados a partir de um total de 61 variáveis representativas das quatro dimensões acima. 4

2. Os achados: quem recorre às instituições do mercado para encontrar

trabalho em São Paulo?

Por que importa conhecer com precisão quem acorre às instituições de intermediação do mercado de trabalho para obtenção de emprego? Alinharíamos, pelo menos, duas razões. Em primeiro lugar, porque as oportunidades de trabalho são seletivas e discriminam perfis preferenciais. Nesse sentido, se o serviço de intermediação pretende ser um instrumento para reduzir a opacidade do mercado de trabalho (notadamente em contextos de alto e/ou recorrente desemprego), conhecer o perfil de quem a ele acorre ajuda o provedor do serviço a capturar vagas que se coadunem ao demandante em busca de emprego.

Mas, tal conhecimento também é relevante para a política pública. Sabemos que a procura em agências de emprego requer uma familiaridade com códigos de comportamento que não é inata e requer ser construída. Assim, conhecer minimamente informática para preparo de currículo, ou saber comportar-se adequadamente no momento das entrevistas e dinâmicas de grupo, por exemplo, constituem-se em evidências de que há um repertório cognitivo e simbólico a adquirir, o qual está diretamente relacionado ao meio social de origem do demandante. Ou seja, conhecer o perfil daquele que procura trabalho é um instrumento para

4 O programa estatístico utilizado para rodar o GoM foi a versão 3.4, desenvolvida no Departamento de

Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade de Yale, dos EUA, por Burt Singer e Peter Charpentier e adaptada para plataforma Unix por Rafael Kelles Vieira Laje, engenheiro de sistemas da Sun Microsystems. Utilizou-se o método aleatório (“INLAMBDA RANDOM;”) para definição das probabilidades iniciais, e os valores iniciais dos graus de pertencimento foram dados pelo método do sistema na ausência de definição alternativa (“INGAMMA DEFAULT;”). Não se verificou instabilidade dos resultados e, portanto, julga-se ser o modelo determinístico.

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desenhar políticas que o apóiem a melhor competir por vagas, já que não basta necessitar de trabalho para ser qualificado como “um bom demandante de emprego” e vir a ser pré-selecionado como “um bom candidato a uma vaga”, e ser encaminhado à empresa que a disponibilizou.

Ainda na esfera dos interesses da política pública é igualmente relevante saber se as agências governamentais se constituem em nichos para um tipo especial de demandante, ou se, ao contrário, na sua busca por trabalho, os indivíduos acorrem e perscrutam todas as alternativas institucionalizadas no mercado. E, com efeito, esta foi uma das variáveis que incluímos no nosso modelo com vistas a verificar seu potencial de discriminar algum perfil na tipologia a ser obtida.

Dito isso podemos passar diretamente a responder à pergunta que nos move: quem procura trabalho usando mecanismos institucionalizados no mercado, como são as agências de emprego?5

TABELA 1

Distribuição absoluta e relativa dos indivíduos entre os perfis (puros e mistos) Distribuição

Perfil

Nº %

Misto sem predomínio 74 4,78

Jovens de média escolaridade 239 15,44

Misto de 1 e 2 59 3,81

Misto de 1 e 3 41 2,65

Misto de 2 e 1 72 4,65

Jovens adultos de alta escolaridade 446 28,81

Misto de 2 e 3 195 12,60

Misto de 3 e 1 33 2,13

Misto de 3 e 2 194 12,53

Adultos de pouca escolaridade 195 12,60

Amostra 1548 100,00

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

5 Uma longa e detalhada apresentação de todas variáveis e uma caracterização dos três perfis de referência

resultantes do modelo pode ser encontrada em Melo (2007). Os autores agradecem a Paulo Henrique da Silva pelo apoio no preparo dos dados.

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Na Tabela 1 apresentamos os perfis puros e mistos ainda provisoriamente nomeados. Na denominação dos primeiros consideramos aqueles atributos que se mostraram mais relevantes para discriminar cada um dos perfis. É destacável que a idade e a escolaridade tenham cumprido tal papel, de sorte que os três perfis puros expressam modos de combinar essas duas variáveis, e foram provisoriamente nomeados como: (i) Perfil 1, o dos “jovens de média escolaridade”; (ii) Perfil 2, o dos “jovens adultos de alta escolaridade”; e Perfil 3, o dos “adultos de pouca escolaridade”. É igualmente significativo que mais da metade dos casos (56,85%) esteja representada por esses três tipos extremos, com destaque para “os jovens adultos de alta escolaridade” que respondem por mais que um quarto dos casos (28,81%). Não é demais reiterar, como antecipado na “Introdução”, o peso especial dos jovens entre os que acorrem às instituições do mercado de intermediação: eles nos servem a nomear dois dos três perfis puros.

Os perfis mistos tiveram a sua denominação provisória associada aos perfis de referência que lhes foram marcantes, sendo que o primeiro número indica o perfil predominante e o segundo o perfil secundário. Os mais salientes foram os mistos que combinaram características dos perfis puros 2 e 3 sob duas formas: o perfil “misto de 2 e 3” (com 12,6% dos casos) e o perfil “misto de 3 e 2” (com 12,53% dos casos). O primeiro traz um conjunto mais relevante de características do Perfil 2 (o de “jovens adultos de alta escolaridade”) e um outro conjunto de características, mais restrito, do Perfil 3 (o de “adultos de pouca escolaridade”). O segundo combina esses mesmos perfis puros, conquanto em ordem inversa de importância.

A soma dos cinco perfis mais representativos alcança 82% da amostra. Os cinco perfis restantes, tomados individualmente, recobrem menos de 5% dos casos cada. Vale dizer, uma caracterização do universo dos que acorrem a agências de emprego poderia, sem grande prejuízo, ater-se apenas aos cinco tipos principais, três puros e dois mistos.

A idade é o primeiro e talvez mais importante atributo a caracterizar, diferenciando os perfis. E não apenas porque ela aumente sistematicamente quando passamos do Perfil 1 ao 3 (como se pode verificar no Gráfico 1, onde idades médias são apresentadas), mas porque outras variáveis, relativas a características pessoais, familiares ou sociais, também relevantes à tipologia, variam significativamente conforme a idade. Assim, algumas características diminuem com a idade e, portanto, decrescem se passamos do Perfil 1 ao Perfil 3; é o caso das que dizem da importância do apoio familiar recebido pelo entrevistado,6 ou das que se associam ao tamanho e à composição da família.7 Outras características aumentam com a idade e, por conseqüência, se fazem mais presentes quando passamos do Perfil 1 ao 3; é o caso da união conjugal e parentalidade, bem como da importância do apoio recebido de redes tecidas no circuito da vida comunitária. Os dados sobre ocupação do pai e da mãe e, principalmente, escolaridade do pai e da mãe também revelam uma associação com a faixa etária; assim, entre os informantes mais velhos, é muito mais baixa a escolaridade do pai e da mãe, e bem mais elevado o peso de ocupações como “proprietário no setor primário”, entre os pais, e “inativa”, entre as mães. Já a escolaridade do pai, e principalmente a da mãe, assim como a ocupação de ambos os progenitores (o pai em especial) dos membros dos perfis puros 1 e 2 não se diferenciam grandemente, quem sabe pela menor distância de idade entre esses dois perfis.

6 Variáveis como “se sobrevive com ajuda familiar”, “grau de suporte da rede domiciliar”, “a quem recorre para

ajuda em problemas afetivos” e “em problemas financeiros” e, em menor grau, “em problemas de trabalho”.

7 Como “número de pessoas no domicílio”, “presença de irmãos menores de 15 anos”, “se mora com pai e/ou

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GRÁFICO 1

Idades médias dos demandantes por perfis puros e mistos, ordenados pela idade (em anos) 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 jov m d e sc 1 e 2 1 e 3 2 e 1 mis to jov ad alt es c am ost ra 3 e 1 2 e 3 3 e 2 ad po uc es c

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

A escolaridade se constitui, como dito, na segunda característica de maior peso para definição da tipologia. E como ela se distribui na amostra? Como seria de esperar, os jovens são possuidores de maior capital escolar que os adultos; e os jovens de mais idade dispõem de mais credenciais escolares que os jovens de menor idade, ainda envolvidos com sua educação média (Gráfico 2).

GRÁFICO 2

Composição dos perfis dos demandantes por nível educacional (ordenados segundo o nível educacional dos perfis puros)

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 ad pou c es c 3 e 1 3 e 2 1 e 3 jov m d e sc mis to 1 e 2 2 e 3 2 e 1 jov a d alt esc am ost ra resp incongr pos graduação superior compl superior incompl colegial compl colegial incompl ginásio compl

prim compl / gin incompl primário incompl analf / nunca freq

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

É, entretanto importante observar que os indivíduos que formam o perfil 1, apesar de ainda adolescentes, pretendem conjugar o prosseguimento da formação escolar com a inserção no

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mercado de trabalho. Isso confirma achados mais gerais de Hasenbalg (2005) que indicou anteriormente, à luz de dados para o Brasil, que a recente ampliação da escolaridade de nível médio, conseqüente à universalização da educação primária, estaria convivendo com um movimento de crescimento da oferta de trabalhadores mais jovens, os quais encontramos aqui também se apresentando ao mercado em busca de emprego.

Mas, outras variáveis, além da idade e escolaridade, são importantes para tipificar os que procuram trabalho via instituições do mercado. As diferenças de renda familiar são claras nesse sentido. Sabemos que muitas vezes os mais jovens têm dificuldades para informar a renda dos seus pais, o que fica evidente na incidência de respostas “não sabe” no Gráfico 3. Apesar disso, e do fato de a renda familiar não ter sido registrada em termos per capita, pode-se dizer que os indivíduos nos Perfis Mistos “1 e 3” e “3 e 1” e no Puro 3 tendem a pode-ser membros das famílias mais pobres, enquanto aqueles dos Perfis Puro 2 e Misto “2 e 1” tendem a provir de famílias com maior disponibilidade de rendimentos.

GRÁFICO 3

Composição dos perfis dos demandantes por estrato de renda familiar

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 misto jov m d es c 1 e 2 1 e 3 2 e 1 jov ad alt es c 2 e 3 3 e 1 3 e 2 ad p ouc es c am ostra Recusa Não sabe Acima de R$ 1.560,00 De R$ 1.040,01 até R$ 1.560,00 De R$ 780,01 até R$ 1040,00 De R$ 520,01 até R$ 780,00 De R$ 260,01 até R$ 520,00 Até R$ 260,00

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

No que concerne à inserção no mercado de trabalho, o survey provê uma informação interessante, que não costuma ser colhida em inquéritos brasileiros, conquanto com freqüência o seja em outros países: como o demandante vê a sua própria condição de atividade (Gráfico 4). Em todos os perfis, a forma mais freqüente de identificação vis-à-vis o mercado de trabalho é a condição de “desempregado”. Isso é um achado interessante posto que, em pesquisa anterior, conduzida por meio de entrevistas biográficas com indivíduos analiticamente classificados como desempregados, encontrou-se que esta não se constituía numa forma de identificação trivial ou mesmo fácil de ser assumida (Demazière, Guimarães e Sugita, 2006). Não sem razão, pelo estigma associado a tal condição, particularmente doloroso de ser enfrentado quando se responde ao questionário no domicílio. No caso do presente survey, como os indivíduos foram localizados em situação de procura ativa de trabalho, torna-se talvez mais fácil para eles assumir o fado do desemprego. Mas isso não está livre de distinções entre os tipos. Assim, no perfil misto “3 e 1”, os que se declararam “desempregados” alcançam a maior proporção e no “1 e 3”, a menor. Os que se declararam “estudantes” atingem maior peso no perfil Puro 1 e os que trabalham, no misto “1 e 3”. As

(12)

poucas “donas de casa” adquirem visibilidade nos perfis Puro 3 e misto “1 e 3”, enquanto as categorias “vive de renda” e “aposentado” são desprezíveis.

GRÁFICO 4

Composição dos perfis dos demandantes

segundo a auto-declaração sobre sua condição de atividade

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 mis to jov md es c 1 e 2 1 e 3 2 e 1 jov a d al t es c 2 e 3 3 e 1 3 e 2 ad p ouc es c amo stra

trabalha (reg ou irreg) desempregado vive de renda dona de casa aposentado estudante

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

Os achados anteriores se completam com o que obtivemos em outra variável investigada e que se mostrou um importante mecanismo para discriminar os tipos: a situação ocupacional dos entrevistados. Em quase todos os perfis a maioria dos indivíduos não trabalhava no momento da pesquisa, conquanto houvesse trabalhado anteriormente. Ou seja, eles eram trabalhadores desempregados, visto ser muito pequena a parcela dos que, conquanto ocupados, estavam em busca de um trabalho melhor. Uma exceção se destaca: a do Perfil Puro 1, que concentra os indivíduos sem experiência anterior de trabalho, ou seja, os primo-demandantes. Vamos, assim, pouco a pouco precisando melhor quem são eles: mais jovens, com escolaridade média, muitos ainda em formação escolar, mas ativamente buscando o seu primeiro emprego regular.

Entretanto, a busca de trabalho não é um evento extraordinário já que se verifica em trajetórias caracterizadas pela instabilidade ocupacional, medida pelo número de ocupações pelas quais se transitou num período de tempo, e pelo intervalo de duração da ocupação mais recente (a corrente, para os que estavam trabalhando, e a última, para os desempregados com experiência anterior).

O Perfil Puro 1 – aquele dos primo-demandantes – se destaca por ter mais que 60% dos indivíduos sem experiência ocupacional anterior; quem a teve, não viveu mais que um vínculo de trabalho. Esse traço vale também para aqueles tipos sob a influência, predominante ou secundária, do tipo Puro 1 (Mistos de “1 e 2”, “1 e 3” e “3 e 1”); em todos eles a larga maioria havia experimentado apenas um evento de ocupação entre 2000 e 2004.

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GRÁFICO 5

Composição dos perfis dos demandantes por número de eventos de ocupação desde 2000

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 mist o jov m d es c 1 e 2 1 e 3 2 e 1 jov ad alt e sc 2 e 3 3 e 1 3 e 2 ad po uc es c am ost ra cinco ou mais quatro três dois um nenhum

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

Entre os demais grupos a instabilidade é significativa. Todavia, chama atenção que são os perfis marcados pelo tipo Puro 2 (o próprio Puro 2 e os Mistos de “2 e 3” e “3 e 2”) aqueles sujeitos à maior instabilidade ocupacional, cujos indivíduos relatam dois ou mesmo mais que dois eventos de ocupação no período. Ou seja, a fragilidade dos vínculos parece ser maior para a geração dos jovens que já estão estabelecidos no mercado de trabalho (os jovens adultos) que para a geração mais velha, a dos adultos, mesmo se estes últimos são os menos escolarizados. Em suas carreiras ocupacionais parecem estar inscritas as vicissitudes do desemprego recorrente que se havia intensificado, na região metropolitana de São Paulo, nos dez anos anteriores ao trabalho de campo. 8

Quando observamos o tempo médio de permanência na ultima ocupação (Gráfico 6), se reafirma a tendência à maior estabilidade vivida pelos entrevistados adultos. Assim, considerando a ocupação mais recente, os perfis mais instáveis quanto à permanência na ocupação, isto é, aqueles em que seus membros tendem a permanecer menos tempo sob um único vínculo, são o Puro 2, o Puro 1 e os Mistos “1 e 3” e “1 e 2” – todos associados aos

8

Tais diferenças geracionais se reiteram quando observamos, por exemplo, a posição na ocupação mais recente, que pode ser um proxy para a qualidade do emprego que cada grupo é capaz de obter no mercado de trabalho. Os perfis que giram ao redor do Puro 3 – o dos entrevistados adultos de menos escolaridade (ou seja, o próprio Puro 3 e os perfis mistos de “3 e 2” e “2 e 3” e o Puro 3) – congregam indivíduos que, majoritariamente, estavam (ou estão) ocupados como empregados regulares. Essa proporção cai para a metade nos perfis Puro 2 e mistos de “2 e 1” e “3 e 1”. Considerando-se o tipo de trajetória ocupacional pregressa (outra medida da qualidade da inserção no mercado de trabalho), novamente nos deparamos com diferenças geracionais importantes. A trajetória na “inatividade”, como seria de esperar, distingue o Puro 1, confirmando sua condição de primo-demandantes. Já as trajetórias no emprego regular, por um lado, e trajetórias despadronizadas, marcadas por transições tão intensas que tornam o padrão de percurso de impossível caracterização, estão fortemente presentes entre os entrevistados incluídos nos perfis Puros 2 e 3 e os Mistos “2 e 3” e “3 e 2”, ou seja, os outros grupos de casos que compõem o coração da tipologia.

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jovens. Já os perfis cujos indivíduos tendem a permanecer mais tempo na mesma ocupação são os “3 e 1” e “3 e 2” e o Puro 3 – todos associados aos adultos.

GRÁFICO 6

Tempos médios de permanência na ocupação por perfis (em meses)

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 jov m d e sc jov ad alt es c 1 e 3 1 e 2 2 e 1 am ostr a mis to 2 e 3 3 e 2 ad pou c esc 3 e 1

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

OBS.: Foram considerados apenas os indivíduos que relataram tempo na ocupação mais recente.

Mas, se o passado menos instável parece ter sido favorável aos trabalhadores adultos, o presente lhes é desvantajoso. Sua dificuldade para obter trabalho, expressa no tempo médio à procura de ocupação, os aproxima dos primo-demandantes (Gráfico 7).

GRÁFICO 7

Tempos médios de procura de emprego por perfis (em meses)

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 jov ad alt esc 2 e 1 2 e 3 3 e 2 amostra jov md esc misto 1 e 2 ad pouc esc 3 e 1 1 e 3

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

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Já os jovens adultos, que acumulam uma experiência no mercado, são os que estão há menos tempo em busca de emprego. A fragilidade dos vínculos que estabelecem, como vimos antes, tem aqui o seu reverso, expresso na sua maior facilidade para restabelecê-los.9

Eles são os que mais intensamente se destacam entre os que procuram trabalho pela via das instituições de intermediação no mercado de trabalho, cujos códigos parecem, assim, dominar. Mas, e para além disso, são também os que encetam mais iniciativas de qualificação, mesmo se arcando com os custos da formação suplementar (Gráfico 8). Profissionais dos códigos da “boa procura”?

GRÁFICO 8

Composição dos perfis dos demandantes por realização de cursos de formação segundo origem da iniciativa

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 mis to jov m d esc 1 e 2 1 e 3 2 e 1 jov a d al t es c 2 e 3 3 e 1 3 e 2 ad p ouc esc am ostra

vários por inic diversas dois por inic diversas vários por governo um por governo vários por empregador um por empregador vários por inic própria um por inic própria não fez

Fonte: CEM – “À procura de trabalho: um survey com demandantes de emprego em agências da Região Metropolitana de São Paulo”, agosto de 2004. Elaboração própria.

Assim, com base na distribuição das características e tendo em conta as de maior probabilidade em cada caso, construímos a tipologia dos que procuram trabalho em agências de emprego. No Quadro I, os perfis aparecem agora com as suas novas e mais precisas denominações. Descreveremos em seguida cada um deles, atentando para as variáveis mais significativas, com relevo para os tipos numericamente mais importantes.

O primeiro perfil puro corresponde ao perfil de referência que fora até aqui nomeado como o dos “jovens de média escolaridade”. Sabemos agora, com base na análise mais precisa das suas características, que os demandantes a ele pertencentes têm o “Perfil de Trabalhadores em Busca do Primeiro Emprego”, já que seu traço distintivo é o da ausência de experiência ocupacional regular anterior. A análise das probabilidades destaca outras características: são mais jovens (de 13 a 24 anos); têm média escolaridade (segundo grau incompleto ou completo); não possuem renda individual; não trabalham (ou o fazem muito irregularmente) e nem haviam tido até então trabalho regular ; sua trajetória nos quatro anos anteriores foi na inatividade; e se auto-declararam “estudantes” ou “desempregados”.

9 Além disso, os dados de tempo médio também revelam o longo período de procura. Com exceção do Puro 1,

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O segundo tipo, até aqui tratado como “jovens adultos de alta escolaridade”, pode agora ser melhor nomeado como o “Perfil de Trabalhadores em Busca do Bom Emprego”. A distingui-los vemos a sua capacidade de perder, mas também de refazer vínculos empregatícios e o seu nível educacional relativamente alto. Eles tendem a ter: idade entre 18 e 29 anos; escolaridade de, no mínimo, segundo grau completo; dois ou mais eventos de ocupação desde janeiro de 2000; posição de empregado regular ou sem carteira em ocupações que se localizaram sobretudo nos serviços ou no comércio; um ou vários cursos de formação complementar por iniciativa própria; ademais, dentre os três perfis, eles são os indivíduos que procuram emprego por maior número de vias, e também os que estão sujeitos a menor tempo de procura, sem contar que provêm de famílias com maior renda.

QUADRO I

Perfis puros e mistos, segundo denominações iniciais e finais, e respectivos pesos (perfis puros em itálico e negrito)

Denominação original Denominação final Percentual

Misto sem predomínio Trabalhadores com trajetórias

inseguras

4,78%

Jovens de média escolaridade Trabalhadores em busca de

primeiro emprego

15,44%

Misto de 1 e 2 Trabalhadores com pouca

experiência no mercado de trabalho

3,81%

Misto de 1 e 3 Trabalhadores com grande

dificuldade de inserção ocupacional

2,65%

Misto de 2 e 1 Trabalhadores com alguma

experiência no mercado de trabalho

4,65%

Jovens adultos de alta escolaridade Trabalhadores em busca de

bom emprego

28,81%

Misto de 2 e 3 Trabalhadores com experiência

e formação avançada

12,60%

Misto de 3 e 1 Trabalhadores com dificuldade

de reinserção ocupacional

2,13%

Misto de 3 e 2 Trabalhadores com experiência

e pouca formação

12,53%

Adultos de pouca escolaridade Trabalhadores em busca de

novo emprego

12,60%

Fonte: Elaboração própria.

O terceiro perfil puro, antes referido como o dos “adultos de pouca escolaridade”, pode ser agora melhor caracterizado como o “Perfil de Trabalhadores em Busca do Novo Emprego”. Ele é típico de indivíduos que haviam vivido uma relativa estabilidade na última ocupação (dois últimos eventos ocupacionais relativamente longos, em posições na ocupação de empregado regular), e que, na maioria das vezes (70%), trabalharam no serviço doméstico ou em ocupações manuais (em indústrias tradicionais ou modernas e em serviços em geral). Vêm-se agora privados de emprego, estando por considerável tempo à procura de trabalho, mas com escolarização restrita (no máximo, o ensino fundamental completo) e menor

(17)

investimento relativo em formação. A sua maior idade (acima de 30 anos) e a sua menor renda familiar os pressionam pela necessidade de um novo emprego, qualquer que seja ele, muito provavelmente.

Quanto aos perfis mistos, é interessante observar que as características dos indivíduos nos tipos mistos de um perfil predominante e outro secundário tendem a se assemelhar àquelas dos indivíduos dos tipos mistos que combinam os mesmos perfis de referência com posição de predominância invertida. Em outras palavras, os tipos mistos “1 com 2” e “2 com 1” são parecidos entre si; o mesmo ocorrendo para os mistos “1 com 3” e “3 com 1”, por um lado; e “2 com 3” e “3 com 2”, por outro. Entretanto, como se verá, em que pese as aproximações entre os pares de tipos mistos, cada par dá lugar a dois grupos distintos.

Os perfis “2 e 3” e “3 e 2” são os mais importantes perfis mistos e formam, juntos, um quarto dos casos. Eles estão entre os tipos que, em média, acumulam menor tempo de procura e agregam indivíduos que relataram muitos episódios de ocupação, compondo os dois grupos com maiores proporções de trajetórias de “empregados regulares”. Pode-se dizer que tendem a pertencer a famílias de renda média, tendendo ainda a apresentar o melhor perfil de rendimento individual. Os membros desses dois perfis (e em especial os do misto “3 e 2”) contam com uma razoável média de tempo de permanência na ocupação mais recente. Seus membros apresentam a idade média mais avançada, perdendo apenas para os do perfil Puro 3; sendo os do “2 e 3” ligeiramente mais jovens. A grande diferença entre esses dois perfis, além da idade e de outros traços a ela correlatos (como, por exemplo, o maior suporte familiar e a maior presença de pais e irmãos entre os indivíduos do perfil mais jovem, “2 e 3”), reside no nível educacional: os indivíduos do tipo “2 e 3” tendem a ser bem mais escolarizados do que os do “3 e 2” e a ter investido um pouco mais em cursos de treinamento. Dessa maneira, o perfil “2 e 3” foi designado como “Trabalhadores com experiência e formação avançada” e o “3 e 2” como “Trabalhadores com experiência e pouca formação”.

As diferenças mais marcantes entre os perfis mistos “1 e 2” e “2 e 1” referem-se ao fato de os indivíduos do “1 e 2” relatarem uma experiência de ocupacional, enquanto os do perfil “2 e 1” dividirem-se igualmente entre os que informam uma experiência e os que informam duas, a sugerir maior fragilidade dos vínculos. Além disso, os indivíduos do perfil “1 e 2” são um pouco mais jovens, um pouco menos escolarizados e oriundos de famílias mais pobres, enquanto os do perfil “2 e 1” aparentam ter acumulado maior e melhor experiência no mercado de trabalho.10 Em função disso, nomeou-se o misto “1 e 2” de perfil de “Trabalhadores com pouca experiência no mercado de trabalho” e denominou-se o misto “2 e 1” de “Trabalhadores com alguma experiência no mercado de trabalho”.

Os indivíduos com perfis “1 e 3” e “3 e 1” tendem a pertencer a famílias de mais baixa renda. Além disso, tendem a ser pouco escolarizados e a informar apenas um evento de ocupação, além de viverem os maiores tempos de procura, com destaque para o “1 e 3”. Apesar da pequena proporção de migrantes recentes na amostra, é nesses dois perfis que se concentram aqueles que chegaram à região metropolitana há menos que 3 anos ou entre 3 e 5 anos. Ou seja, nele estão os segmentos mais vulneráveis no mercado de trabalho. Quanto às diferenças, os indivíduos do tipo “3 e 1” apresentam mais longa duração na última ocupação, enquanto os do “1 e 3” têm as mais breves médias de tempo ocupado. Os indivíduos do “1 e 3” estão entre

10 Maior proporção de “empregados regulares” e muito menor proporção de “estagiários” na ocupação mais

recente; maior peso da ocupação na indústria e menor nos serviços; realização de vários cursos por iniciativa própria.

(18)

os mais jovens e os do “3 e 1” tendem a ter idade média alta. O perfil “1 e 3” é o que conta com maior peso de pessoas de cor negra, bem como de autônomos informais; já no misto de “3 e 1” concentram-se as pessoas do sexo feminino e as antigas empregadas domésticas. O misto de “1 e 3” contem as maiores frações de trabalhadores com ocupação irregular e que não realizaram cursos suplementares. Assim, o perfil misto “3 e 1” foi identificado como de “Trabalhadores com dificuldade de reinserção ocupacional” e o misto “1 e 3”, como de “Trabalhadores com grande dificuldade de inserção ocupacional”.

Como normalmente ocorre com o método GoM, a distribuição das características dos grupos mistos “Sem Predomínio” tendem a espelhar a do conjunto da amostra, com algumas exceções. Para verificá-lo, comparamos a composição de características do “Misto Sem Predomínio” com as estruturas dos outros perfis e do total da amostra. Assim, por exemplo, nos indicadores médios apresentados (idade, tempo de procura e tempo de permanência na ocupação mais recente), os valores referentes ao “Sem Predomínio” sempre alcançam níveis também médios na hierarquia e, por isso mesmo, próximos aos da amostra. Os traços que mais se destacam nesse perfil são: grande peso da faixa etária de 18 a 24 anos; grau escolar de colegial incompleto ou completo; tempo médio de procura em patamar intermediário; tempo de permanência na ocupação mais recente médio-alto; peso expressivo dos que trabalham, de forma regular ou irregular, apesar da maioria ser formada por desempregados com experiência ocupacional anterior; baixa renda familiar; e ausência de investimentos em curso de formação por um terço dos indivíduos. Talvez a característica mais discriminante do grupo seja a combinação da alta incidência de posições instáveis na ocupação (como “sem carteira”, “autônomos informais” e “domésticos”, compensando o relativamente pequeno peso de “empregado regular”) com a presença de um ou dois eventos de ocupação anterior no período relatado. Seus percursos no mercado de trabalho são tão instáveis que não permitem identificar um padrão de trajetória definidor do grupo, sugerindo que se trata de “Trabalhadores com trajetórias inseguras”, conforme vimos a denominá-los.

3. Refletindo conclusivamente: jovens, procura e políticas

Procurar emprego pela via das instituições formalizadas no mercado de trabalho constitui-se, a um só tempo, na face mais visível do desemprego – e, por isso mesmo, a mais facilmente sujeita a iniciativas de política pública –, e no empreendimento que requer uma especial capacitação cognitiva e simbólica daquele que se decide a encetá-lo – e, por isso mesmo, numa estratégia seletiva, que não está ao alcance de qualquer desempregado.

Neste texto tentamos reunir elementos de análise para discutir conclusivamente de modo a enlaçar as duas características acima. Vejamos, brevemente, algumas dessas idéias.

A partir dos dados do survey realizado na região metropolitana de São Paulo, o nosso maior mercado urbano de trabalho e a mais significativa concentração de agentes intermediadores de emprego no Brasil (tais como agências de emprego – privadas, sindicais ou governamentais –, empresas de trabalho temporário, consultorias de recursos humanos), colhemos uma amostra representativa daqueles que, em 2004, estavam envolvidos na procura institucionalizada por uma oportunidade ocupacional. Quem são esses trabalhadores? Serão eles uma fração especial e distinta da média dos economicamente ativos ou mesmo dos desempregados em geral? Se nos fixarmos nos tipos que até aqui caracterizamos, com base no método GoM, foi possível observar que a maior parte da amostra era formada por um contingente especial, que

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se caracterizava por dispor dos códigos de referência com respeito à operação do mercado de trabalho.

E de onde vinha tal capacitação? Ela poderia advir de uma experiência ocupacional longa e relativamente estável, em ocupações que se situavam no coração da atividade econômica regional, mesmo se em posições subalternas, experiência esta tecida por pessoas mais maduras em termos geracionais (Perfis Puro 3 ou Misto de 3 e 2). Mas a capacitação para a procura institucionalizada poderia resultar também de uma socialização familiar e/ou escolar que os habilitasse a mais facilmente se adequar às normas de conduta da procura institucionalizada (Perfis Puros 1 e 2 ou Misto de 2 e 3).

Por isso mesmo, vimos que havia um corte significativo em termos de origem social, que fazia com que fossem absolutamente minoritários na nossa amostra os grupos nos quais predominavam os negros, os migrantes, as pessoas de muito baixa renda ou os que provinham de trajetórias construídas em ocupações muito desvalorizadas ou ainda aquelas que dispunham de muito baixa escolaridade (Perfis mistos de 1 e 3, de 3 e 1; mas também os mistos de 1 e 2, e de 2 e 1). Ou seja, dizendo-o de outro modo (e para melhor evidenciar o resultado perverso), os indivíduos social e economicamente mais vulneráveis, aqueles para quem a urgência do emprego talvez fosse maior, eram justamente os que não se apresentavam nessas instituições mercantis de procura; vale dizer, eles são os que se fazem menos visíveis nas instituições do mercado de trabalho, as quais podem mais facilmente estar ao alcance de iniciativas de políticas públicas.

Mas há outro achado igualmente significativo. Se a procura institucionalizada é seletiva, desigualando os indivíduos pela sua origem social e atraindo os desempregados que são menos vulneráveis, a isso se agrega outro viés de seleção, este de natureza geracional: ela se mostrou especialmente permeável a sobre-representar os jovens. Os recursos mobilizados nesse tipo de empreendimento – no vestir, no portar-se, no falar, no tratar com maneiras padronizadas e informatizadas de apresentação de si, no saber circular pela cidade em busca da agência mais próxima ou da mais promissora – parecem deixar mais à vontade os mais jovens. E não apenas aqueles jovens trabalhadores, já regularmente inseridos no mercado, mas também os primo-demandantes, que ali acorrem em busca do seu primeiro emprego regular. Nesse sentido, programas de inclusão juvenil no trabalho não podem perder de vista que é nas formas institucionalizadas de busca de emprego em que se empenham os nossos jovens de classe média, seja na expectativa do engajamento inicial (Perfil Puro 1), seja na perspectiva de reverter a seu favor uma experiência de vínculos que se fazem e refazem, encontrando o bom emprego que tanto almejam (Perfil Puro 2).

O quê podemos arriscar sobre as conseqüências dessas iniciativas, mormente tendo em conta o alcance de metas que digam do trabalho decente? Se aliarmos os resultados aqui reunidos a outros, avançados em distintos trabalhos da equipe,11 os prognósticos não são especialmente animadores. De fato, conquanto esses demandantes procurem trabalho pelas vias institucionalizadas do mercado, vimos também, com base em dados desse mesmo survey, que não foi por meio dessas instituições que eles conseguiram obter os seus últimos empregos, mas graças a suas redes de contatos pessoais. Ou seja, fora do espaço público e institucional do mercado e dentro do espaço privado da convivência íntima da família ou dos grupos de amigos e vizinhos. Estes são os circuitos que levam aos empregos, mesmo entre aquelas

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pessoas que poderíamos nomear como verdadeiros “profissionais da procura institucionalizada de trabalho”.

E quanto mais jovens, menos importantes se mostram as redes de contatos profissionais, e mais decisivas são as redes familiares e comunitárias no sentido de lhes dar acesso a oportunidades de trabalho. Ora, conquanto essas últimas sejam boas provedoras de informações ocupacionais que se mostram efetivas, os vínculos assim estabelecidos são mais vulneráveis e, por isso, mais facilmente rompidos e conducentes a novos episódios de desemprego, fechando-se um círculo vicioso que reitera a distância que os separa do trabalho decente - regular, protegido e duradouro.

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