• Nenhum resultado encontrado

A teoria neoclássica e a valoração ambiental. - Portal Embrapa

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A teoria neoclássica e a valoração ambiental. - Portal Embrapa"

Copied!
22
0
0

Texto

(1)

A teoria neoclássica

e a valoração ambiental

J o ã o F e r n a n d o M a r q u e s A n tô n io E v a ld o C o n n in e

Introdução

A lg u m a s correntes de e c o n o m ista s têm p r o c u ra d o d e s e n v o lv e r conceitos, m éto d o s e técnicas que o b je tiv a m c a lc u la r os valores e c o n ô m ic o s detid o s pelo am biente. D estacam -se: a e c o n o m ia do m eio a m b ie n te e dos recu rso s naturais, que r e p o u sa nos f u n d a m e n to s d a te o ria n eo clássica; a e c o n o m ia e c o ló g ic a q u e se a p o ia n as leis d a te rm o d in â m ic a e p r o c u ra valo rar os recursos eco ló g ic o s c o m b a se nos fluxos de e n e rg ia líquida dos e c o ssiste m a s e finalm ente, a e c o n o m ia in stitu c io n a lista que p ro c u ra a b o rd a r a q u e stã o e m term os dos c u sto s d e tra n s a ç ã o incorridos pelos ele m e n to s (instituições, c o m u n id a d e s, ag ên cias, p ú b lic o s e m geral) do e co ssistem a, n a b u s c a d e u m a d e te r m in a d a q u a lid a d e am b ien tal. O p re se n te trab alh o p ro c u ra rá a p re se n ta r e d isc u tir os co n c e ito s de valoração am b ien tal orien tad o s pela teoria n e o c lá s s ic a p o r ser, até o m o m e n to , o de m a io r am p litu d e de a p lic a ç ão e uso. A p e rs p e c tiv a de análise não d e ix a rá de ap o n ta r as lim itações, b e m c o m o a u tilid a d e dos c onceitos d a í derivados.

A n e c e s s id a d e de c o n c e itu a r o v a lo r e c o n ô m ic o do m eio a m biente, b e m c o m o de d e s e n v o lv e r técn icas p a ra e s tim a r este valor, surge, b asicam en te, do fato in co n testáv el de q u e a m a io ria dos bens e serviços a m b ien tais e das fu n çõ es p ro v id as ao h o m e m p elo a m b ie n te não é tra n sa c io n a d a p elo m ercad o . P ode-se, inclusive, p o n d e r a r q u e a n e c e s s id a d e de e s tim a r valores p ara os ativos a m b ie n ta is ate n d e às n e c e ssid a d e s da ad o ç ã o de m e d id a s que v isem a u tiliz a ç ã o su sten táv el do recurso.'

( I ) A n o ç ão de su ste n tá v e l, n e ste c o n te x to , refe re -se à u tiliz a ç ã o cio re c u rso a m b ie n ta l ao lo n g o ilo te m p o sen i risc o s d e d eg ra d aç ã o .

(2)

O m eio a m b ien te ao d e s e m p e n h a r fu n ç õ e s im p re sc in d ív e is à vida h u m a n a apresenta, e m deco rrên cia, valor e c o n ô m ic o p o sitiv o m e s m o que

não refletido d iretam en te pelo fu n c io n a m e n to do m ercad o . P o rtan to , não é correto tratá-lo c o m o se tivesse v a lo r zero, c o rre n d o o risco de uso ex cessiv o ou até m e sm o de su a c o m p le ta d e g ra d a ç ão . U m p rin cíp io básico a ser o b serv ad o é que o a m b ie n te e o siste m a e c o n ô m ic o interagem , q u e r através d os im pactos que o siste m a e c o n ô m ic o p ro v o c a no am biente, q u e r através do im pacto q u e os recu rso s naturais c a u s a m na econom ia.

M e s m o sendo possível a rg u m e n ta r que, e v e n tu a lm e n te , os recursos a m b ien tais con seg u irão , através do tem po, g e ra r seus p ró p rio s m ercad o s, não se p o d e p recisar q u e tais m e rc a d o s su rg irão antes q u e o recu rso seja extinto ou d e g ra d a d o de fo rm a irreparável. A lé m do que, mais que a ro b u ste z dos arg u m e n to s teóricos, tem -se a in q u estio n ab ilid ad e dos fatos p ro v a n d o o c ontrário. D ife re n te m e n te da destru ição do capital c o n stru íd o p e lo hom em , a d e g ra d a ç ã o am b ien tal pode, c o m freqüência, tornar-se irreversível e os ativos a m b ie n ta is e m sua m a io ria não são substituíveis. A ex tin ç ã o de e sp é c ie s não p o d e ser revertida, a p ro teção da irradiação u ltra v io le ta o fe re c id a p e la c a m a d a de ozô n io não tem substituto perfeito na prática. E stas p ro p rie d a d e s ú n ic a s e singulares do a m b ien te in d icam q u e não se p o d e a g u a rd a r q u e os re c u rso s n atu rais to rn em -se escasso s e c rie m seus pró p rio s m ercad o s. A v alo ração am biental é essencial, se se p re te n d e q u e a d e g ra d a ç ã o d a g ra n d e m a io ria dos recu rso s naturais seja in te rro m p id a antes q u e u ltra p a s s e o lim ite da irreversibilidade (Schw eitzer, 1990).

A evid en te d eg ra d a ç ão d os recursos hídricos e do ar é u m a p ro v a incontestável de que a valoração d a c a p a c id a d e a s s im ila tiv a do am b ie n te , u m dos serviços prestad o s pelo a m b ie n te ao h o m e m , não p o d e se d a r via m ercado. A e sp e ra d a so lu ção de m e rc a d o p o d e re su lta r e m p erd as d e tais funções, r e d u n d a n d o e m re d u ção do b e m -e sta r não s o m e n te d a g e ra ç a o presente m as ta m b é m d a futura, j á q u e o m e io a m b ie n te d e s e m p e n h a fu n çõ es econôm icas.

N o c o n tex to ora proposto, os recursos a m b ie n ta is d e s e m p e n h a m fu n ç õ e s e co n ô m icas, e n ten d id as estas c o m o q u a lq u e r serv iço q u e

(3)

c o n tr ib u a para a m e lh o ria do bem -estar, do p a d rã o de vida e p a ra o d e s e n v o lv im e n to e c o n ô m ic o e social. Fica, então, im plícita nestas c o n s id e ra ç õ e s a ne c e ssid a d e de valo rar c o rre ta m e n te os bens e serviços am b ie n ta is, en ten d id o s estes no d e s e m p e n h o das funções; p ro v isã o de m a té ria s-p rim as , c a p a c id ad e de assim ila ç ã o de resíduos, a m en id ad e, e sté tic a e recreação, b io d iv e rsid a d e e c a p a c id a d e de s u p o rte às diversas fo rm a s de vida na terra. H á n ecessid ad e, ainda, de p r o c u ra r integ rar estes valores a p ro p ria d a m en te estim ad o s, às d e c isõ e s so b re a política e c o n ô m i c a e am biental e aos cálculos das contas e c o n ô m ic a s nacionais.

S o b u m a ótica mais restrita, p o d e -se a s s u m ir q u e os bens e serv iço s ec o n ô m ic o s, de fo rm a geral, u tilizam o m eio a m b ie n te - ar, água, solo - im p a c ta n d o sua c a p a c id a d e a ssim ilativ a a c im a de su a ca p a c id ad e de re g e n e raç ã o . Isto im plica que aqueles bens e serv iço s d e tê m c ustos de p ro d u ç ã o q u e são co m p o sto s de fatores c o m e rc ia liza d o s no m e rc a d o (terra, capital e trabalho) e, portanto, c o m p reço s e x p líc ito s e fatores não c o m e rc ia liz a d o s no m ercad o - os bens e serviços am b ien tais. T a m b é m , p o r e s s a razão, n ecessário se torna avaliar a d e q u a d a m e n te os recursos a m b ie n ta is, pois os p reços dos bens e c o n ô m ic o s não re fle te m o v erd a d e iro valor d a to talid ad e d os recursos u sa d o s na su a pro d u ção . Isto p o rq u e os m e rc a d o s falh am e m a lo c a r e fic ie n te m e n te os recursos, ou dito de o u tra form a, há u m a d iv e rg ê n c ia entre os c u sto s p riv ad o s e sociais. As d e c isõ e s to m ad as s o m e n te c o m b ase nos c u sto s p rivados, assu m in d o c u sto zero p ara o recurso am biental, fa z e m c o m que a d e m a n d a pelo fator d e custo zero fique a c im a do nível de efic iê n c ia e c o n ô m ic a , p o d e n d o levar aquele recu rso à c o m p le ta e x a u stã o ou à d e g ra d a ç ã o total.

1 Interpretações sobre o conceito de valor econômico do meio

ambiente

Os autores da linha d e n o m in a d a e c o n o m ia e c o ló g ic a a rg u m e n ta m q u e p a ra a lc a n ç ar o d ese n v o lv im e n to s u s te n tá v e l' torna-se n e c e ssá rio que os bens e serviços a m b ien tais se ja m in c o rp o ra d o s à c o n ta b ilid a d e

(2 ) C ü iiccilü am p lo c não d c sp io v id o dc co nliovcr.sias, m as q u o de fo rm a gorai e n g lo b a os p rin c íp io s (Ia p ro te ç ã o a m b ie n lal, da c (|iiid ad e in te r e in lra g c ra ç õ e s e da c llc iê n c ia e e o n ô m ic a .

(4)

e c o n ô m ic a dos países. O p rim eiro p a sso n e ste sentido é o de a trib u ir aos bens e serviços a m b ien tais valores co m p a rá v e is à q u eles atrib u íd o s aos bens e serviços e c o n ô m ic o s p ro d u z id o s pelo h o m e m e tr a n s a c io n a d o s no m ercad o . E m b o ra re c o n h e ç a m não h a v e r c o n s e n s o so b re a a b o r d a g e m correta, e ten d o -se e m c o n ta as incertezas e d ific u ld a d e s in e re n te s à valoração d os recursos do m eio a m b ien te, os d e fe n s o re s d e s s a c o rre n te c o n c o rd a m so b re a ne c e ssid a d e de u m a m e lh o r a v a lia ç ão d o s s e rv iç o s prestad o s pelos ecossistem as. R e ssa lta m ainda, c o m o im p o rta n te o b je tiv o a ser a lc a n ç ad o p e la e c o n o m ia ecológica, a d e fin iç ã o de u m c o m p le to s istem a de valoração e c o n ô m ic a dos recu rso s a m b ie n ta is. P o n d e r a m ta m b é m q u e a a firm a ç ão de q u e não se p o d e atrib u ir valo res e c o n ô m ic o s ã e stética am biental, à vida h u m a n a e aos b e n e fíc io s e c o ló g ic o s (N o rto n , 1986) n ã o procede, visto que, d iu tu rn a m e n te , e s ta m o s v a lo ra n d o de f o r m a co n sc ie n te ou não os serviços eco ló g ico s. A lé m do que, p a r a p r e s e r v a r o capital natural é n ecessário realizar av aliaçõ es, m u itas vezes difíceis, de f o rm a direta, ao invés de n e g a r su a e x is tê n c ia (C o n s ta n z a et al., 1994). E m b o r a e x e rç a a d e fe sa da n e c e s s id a d e de se d a r valores aos eco ssistem as, a e c o n o m ia eco ló g ic a tece a lg u m a s críticas s o b re os p rin cíp io s e m q u e se assen ta a v alo ra ç ã o e c o n ô m ic a a p o ia d a nos c o n c e ito s e hipóteses d a teoria n eo clássica. E ssa s críticas c e n tra m -se , b asicam en te, n o p rincípio da so b e ra n ia do c o n s u m id o r e n a r e v e la ç ã o das preferên cias, a d e q u a d a s seg u n d o a e c o n o m ia eco ló g ic a , p a r a a v a lia r os b ens e serviços que p ro d u z e m p o u c o ou n e n h u m im p a c to a lo n g o p razo, m as in ad eq u ad as p a ra se aplicar aos bens e serv iço s e c o ló g ic o s q u e são, p o r natureza, de longo prazo. A o u tra c rítica c e n tra -se n os m é to d o s d esen v o lv id o s p a ra valorar bens e serviços a m b ie n ta is q u e n ã o são tran sacio n ad o s no m ercado, m as q u e p ro c u ra m sim u la r a e x is tê n c ia de m e rc a d o s p ara estes produtos. E s te p ro c e d im e n to , s e g u n d o e s ta e sco la, intro d u z falhas relativas à q u alid a d e d a in fo rm a ç ã o obtida, q u e d e p e n d e m do nível de c o n h e c im e n to das p e sso a s sobre o o b je to e m análise, m a s q u e ta m b é m não in c o rp o ra m de f o rm a a d e q u a d a os o b je tiv o s de lon g o p razo, j á q u e exclui (por razões óbvias) as g e ra ç õ e s fu tu ras dos la n c e s de m ercado. E stu d io so s da e c o n o m ia e c o ló g ic a c o m p le m e n ta m a crítica, en fa tiz a n d o a d ificu ld ad e e m in d u zir os ind iv íd u o s a r e v e la re m su a v e rd a d e ira d isp o sição de p a g a r p e la c o n s e rv a ç ã o do re c u rs o am b ie n ta l, e m razão da resp o n sa b ilid a d e individual do re s p o n d e n te fre n te à q u e s tã o

(5)

e à p o ssib ilid a d e de ap ro v e ita m e n to co letiv o ad v in d o d a c o n s e rv a ç ã o am b ien tal. C o m o alternativa, s u g erem o re fe re n d o coletivo,'^ a r e s p o n s a b ilid a d e do g rupo e a c o n sc ie n tiz a çã o d a c o m u n id a d e fren te à q u e stã o am biental, ten d o e m conta, tanto a g e ra ç ã o p re s e n te q u a n to a futura, c o m o f o rm a de o b te r resultados su p erio res à q u e le s c o n se g u id o s atrav és d os estu d o s so b re d isp o siç ã o individual a pagar.

C o m o a ltern ativ a c o n c re ta ao m éto d o de v alo ra ç ã o c o m b ase nas p referên cias individuais, os e c o n o m ista s da lin h a e c o ló g ic a u tiliz a m o que se c o n v e n c io n o u c h a m a r de m éto d o de b ase b io físic a ou d e a n álise de e nergia. E ste m étodo, s e g u n d o os seus d e fe n so re s, av alia os ob jeto s de a c o rd o c o m o custo, que p o r su a vez é d e te rm in a d o e m f u n ç ã o do seu grau de o rg a n iz a ç ão e m relação ao am biente. O c o n te ú d o do c o n c e ito o rg a n iz a d o está in tim am en te ligado aos re q u e rim e n to s d e e n erg ia n ecessária, na fo rm a direta de c o m b u stív el e na indireta atrav és de outras org a n iz a ç õ es que ta m b é m u tiliz a m e n erg ia n a su a p ro d u ç ã o . P o r e x em p lo , a q u a n tid a d e de e n e rg ia solar ne c e ssá ria p a r a o c re s c im e n to d as florestas pode, portanto, servir c o m o m e d id a do seu c u sto de energia, de sua o rg a n iz a ç ão e de seu valor. E m suma, este m éto d o p re s s u p õ e q u e todo o e c o s s is te m a seja avaliável d ire ta ou indiretam ente. O m é to d o p ro p o sto p o r esta c o rre n te s u p e re stim a alg u m serviço d o e c o s s is te m a q u e a in d a não te n h a valor r e c o n h e c id o pelos seres h u m a n o s (C o n sta n z a , 1989).

E s ta a b o rd a g e m a b a n d o n a as h ip ó teses do p rin c ip io d a so b e ra n ia do c o n s u m id o r e das p referên cias (individuais, através d as q u ais o b têm -se as p re ferên cias d a sociedade), para a p o ia r-se nos e s q u e m a s que p riv ile g ia m os in su m o s de e n erg ia d ire ta ou indireta, n e c e ssá rio s à p ro d u ç ã o e m a n u ten ção , ao longo do tem po, d os serv iço s am bientais. P e a rc e & T u r n e r (1990) c o n tra -a rg u m en ta m q u e a b u s c a de outras u n id a d e s de m e n s u ra ç ã o d e v e basear-se n a p o ssib ilid a d e de a p lic a ç ão tanto nos custos q u a n to nos benefícios, p o rém , a m b o s d e v e m refletir as preferên cias in dividuais. A m e n su ra ç ã o c o m b ase n a e n erg ia, c o n fo rm e p ro p o s ta p e la e c o n o m ia ecológica, e m b o ra satisfaça a c o n d iç ã o de u n ifo rm id a d e p a ra c ustos e benefícios, não a p re s e n ta sig n ific a d o alg u m

(3 ) T rala-se d a d e claraç ã o do d isp o siç ã o co le liv a dc p a g a r im p o sto s, tax as ou q u a lq u e r o u tra fo n iia de e n c a rg o fin a n c e iro c o m o c id a d ão s, ju n ta m e n te c o m os d e n ia is m e m b ro s d a c o m u n id a d e , v isan d o c o n trib u ir p a ra a so lu çã o e sp e c ífic a de um d e te rm in a d o p ro b le m a a m b ie n ta l.

(6)

e m te rm o s de rev elação de p referên cias individuais. D e s ta form a, a valoração m o n etária constitui-se no m eliior in d ic a d o r d as p re ferên cias individuais. O u seja, q u a lq u e r re jeição das p re fe rê n cia s c o m o b a se de d ecisõ es a m b ien tais im plica e m rejeição do uso de valores m o n e tá rio s ou valores e c o n ô m ic o s. E sta o b serv ação p o d e c o n d u z ir a d is c u s s ã o p ara o c a m p o da c o n c e itu a çã o dos valores relevantes para as d e c isõ e s sociais e e c o n ô m ic a s e das fo ntes de origem , o que não é o b je tiv o do p re se n te trabalho.

O u tra d isp u ta no ca m p o das teorias que p ro c u ra m d a r valores aos recursos am bientais situa-se na p o sição dos e c ó lo g o s frente aos eco n o m istas. C o n fo rm e F arn w o rth et al. (1981; 1983), e c o n o m is ta s e e c ó lo g o s têm se env o lv id o e m discu ssõ es, às vezes infindáveis e p o u c o conclusivas, sobre os valores dos e c o ssiste m a s e o seu fu n c io n a l papel co m o fo rn e c e d o r de bens e serviços p a ra a h u m a n id a d e . D is c u s s õ e s sobre os valores das florestas tropicais e de o utros re c u rso s naturais têm resu ltad o e m freqüentes d e se n te n d im e n to s e a m b ig ü id a d e s , p rovavelm ente, dev id o às interp retaçõ es das term in o lo g ia s e aos ja r g õ e s es p ecializad o s u sa d o s p o r am bos os g ru p o s de p ro fissio n ais. E m sum a, os e c o n o m ista s de te n d ên cia n eo clássica, linha p r e d o m in a n te nas investigações deste assunto, fazem , f r e q ü e n te m en te , re fe rê n cia ao m ercado, visando esta b e le c er valores para os recursos a m b ie n ta is, m e sm o n a situação em que não e x ista m e rc a d o p ara os re fe rid o s bens. P or outro lado, os ecólogos, e m b o ra a c e itan d o os valores d e s ta f o rm a estim ad o s, fazem re fe rê n cia explícita a valores in tangíveis, tais c o m o os valores globais q u e u m e c o ssiste m a p resta ao p la n e ta terra, p o r e x e m p lo , os ciclos do c a rb o n o e d a água ou o esto q u e de in fo rm açõ es c o n tid a s e m u m c o n ju n to de recursos genéticos. C o n tu d o , é aceito p o r a m b a s as p artes q u e o sistem a de m ercado não pode se r e sp o n sa b iliz a r p o r to d o s os valores atrib u íd o s aos sistem as naturais. A d e m o n s tra ç ã o d o início de e n te n d im e n to tem tido c o m o o b je to o e sfo rço de a m b a s as partes no sentido de d e s v e n d a r a natureza do valor de e x istên cia, visan d o inco rp o rar não só aqueles valores que p o s s a m ter e x p re s s ã o m o n e tá ria através do m ercado, mas ta m b é m aqueles valores in trín seco s ou intangíveis.

(7)

A p ro p o s ta q u e d e riv a do e n te n d im e n to en tre e c o n o m is ta s e e c ó io g o s co n tem p la, basicam ente, valores referen tes aos e c o ssiste m a s e seu p ap el c o m o p r o v e d o r de bens e serviços através de três conceitos: v a lo r I q u e a b ra n g e todos os bens e serviços am b ie n ta is tran sa c io n a d o s d ire ta m e n te pelo m ercad o , se n d o o valor, o preço de m e rc a d o do referido b em ; valor II aqueles bens e serviços a m b ien tais que, p o r não serem tra n sa c io n a d o s no m ercado, não a p re se n ta m u m preço explícito, p orém , os seus valores são d e te rm in a d o s através de um m e c a n is m o político de n e g o c ia ç ão e acordo; e p o r ú ltim o, valor III, c u jo s c o m p o n e n te s são e x c lu íd o s do m e c a n is m o institucional de d e te rm in a ç ã o de valor, seja o m e rc a d o ou o p ro c e sso político. E m b o ra r e c o n h e ç a m a d ificu ld ad e c o n c e itu a i e m d istin g u ir c o m e v id en te cla re z a os valores II e III, e c o n o m is ta s e ecó io g o s a firm am q u e este ú ltim o é c o m p o s to de itens da p a u ta dos intangíveis e de difícil atrib u ição de valor. E x e m p lific a m , no c a so das florestas tropicais, a m a n u te n ç ã o do e q u ilíb rio global de carb o n o , a m a n u te n ç ã o d a e sta b ilid a d e atm osférica, o habitat e a s o b re v iv ê n c ia da p o p u la ç ã o nativa, o lab o rató rio natural p a r a estu d o da ev o lu ç ã o e seleção, o sistem a de sup o rte ã vida e o v a lo r in eren te aos sistem as naturais. T o d o s estes itens são intangíveis ou n ã o passíveis de valores, m as q u e p o d e m ter esse p ro b le m a re so lv id o c o m o d e se n v o lv im e n to das técnicas de m e n s u ra ç ã o e c o n ô m ic a e u m c o n h e c im e n to m ais a m p lo e p r o fu n d o do f u n c io n a m e n to dos eco ssistem as.

S e m ignorar as c o n trib u iç õ e s m o stra d a s a n te rio rm e n te pelos a d e p to s d a e c o n o m ia eco ló g ic a e p elo trabalho c o n ju n to d os e c o n o m ista s e dos ecóiogos, a e c o n o m ia do m eio am biente, q u e se a licerça nos f u n d a m e n to s d a teoria neoclássica, d e se n v o lv e u e a p ro fu n d o u não so m e n te c o n c e ito s e m é to d o s para a v alo ração do m eio am b ie n te , co m o ta m b é m derivou im p o rtan tes instrum entos de política, q u e vai do im posto “p ig o u v ia n o ” ao leilão de licenças para poluir, p a ssa n d o p elo s subsídios, quotas, taxas, reg u lam en to s e pad rõ es fix a d o s p ara o g e re n c ia m en to am biental.^ M ais recentem ente, tem -se a o p e ra c io n a liza ç ã o d os co n ceito s

(4 ) Inclu eiii-se n e ste in striiiiicn to os e stu d o s de e u sio e fe tiv id a d e , o n d e sfio e stu d a d a s d iv e rsas a lte rn a tiv a s p a ra a lc a n ç a r o ])adrão de q u a lid a d e a m b ie n tal p re e sta b e le e id o , p ro c u ra n d o -se d e te rm in a r a q u ela de c u sto m ínim o.

(8)

de p ro d u ç ã o m á x im a sustentável e p a d rõ e s m ín im o s d e s eg u ran ça, c o m o m eios d e atingir d e te rm in a d a q u a lid a d e am b ie n ta l e su sten ta b ilid a d e dos recu rso s naturais. P orém , p r o v a v e lm e n te e m f u n ç ã o do tra b a lh o co n ju n to c o m e c ó io g o s e do m e lh o r e n te n d im e n to d as fu n ç õ e s d os e c o ssiste m a s naturais, os c o n c e ito s de valor de o p ção e de v a lo r de e x is tê n c ia fo ra m se n d o in c o rp o ra d o s ao arsenal d a e c o n o m ia do m e io a m b ien te, d e n o ta n d o p o r parte dos eco n o m ista s u m a m a io r e m e lh o r c o m p r e e n s ã o dos fe n ô m e n o s eco ló g ico s e dos p ro b le m a s do m eio am biente.

O s p ró x im o s tópicos d e ste artigo p ro c u ra rã o e v id e n c ia r c o m o a teoria e c o n ô m ic a n e o c lá ssic a fo rn e c e c o n s is tê n c ia às c o n c e p ç õ e s so b re o valor e c o n ô m ic o do m eio a m b ie n te e p e rm ite a o p e ra c io n a liz a ç ã o de tais co n c e ito s nas investigações em píricas.

2 Valor de uso, de existência e de opção

O s valores de bens e serv iço s am b ie n ta is c a ra c teriz a m -se p e la n a tu reza d ife re n c iad a das fo n tes q u e lhe d ã o origem . B o y le & B ish o p (1985) a p o n ta m quatro distintos valores a s s o c ia d o s aos b e n s e serviços am bientais, q u e a n a tu reza p ro v ê ao h o m em :

• os valores de uso c o n s u m p tiv o e x e m p lific a d o através d a c a ç a e da pesca;

• os valores d e u so n ã o -c o n su m p tiv o , ten d o c o m o e x e m p lo , a a d m ira ç ã o de u m a p a isa g e m ou a n atação e m u m rio;

• os valores asso ciad o s ao fo rn e c im e n to de serv iço s indiretos atra v é s de livros, film es, p ro g ra m a s de televisão;

• e os valores de existência, d eriv a d o s da s a tisfação q u e as p e sso a s o b tê m pelo sim ples fato de q u e u m a d e te r m in a d a e s p é c ie e e c o s s is te m a e x iste m e estão se n d o p re se rv a d o s. Q u a is q u e r a lte ra ç õ es no a m b ie n te natural, isto é, n a q u alid a d e am b ien tal, d e v id o à p o lu iç ã o d o ar e d a água, afe ta m o valor d e riv a d o de c a d a u m d e ste c o n ju n to de b ens e serv iço s a c im a m en cio n ad o s.

(9)

P e a rc e (1990), ao ca ra c teriz a r o v a lo r e c o n ô m ic o total das florestas tropicais, a p o n ta quatro fatores na su a d ete rm in a ç ão : valor de u s o direto, valor de uso indireto, v a lo r de o p ç ã o e v a lo r de existência. O v alor de u so d ireto é c a lcu lad o e m fu n ç ã o d a e x p lo ra ç ã o d a m ad eira, de p ro d u to s não -len h o so s, c a ç a e pesca, p ro d u to s g en ético s, m ed icin ais, habitat h u m an o , d e n tre outros. Os valores de u so indireto incluem : a p ro te ç ã o da bacias hidrográficas, a c ic la g e m de nutrientes, a re g u la riz aç ã o do c lim a e todas as d em ais fu n çõ es e c o ló g icas e x e rc id a s pelas florestas tropicais. O valor de o p ção refere-se ao valor d a d isp o n ib ilid a d e do re c u rso p ara uso direto ou in direto no futuro. E, fin a lm e n te , valor de existência, c u ja av aliação está d isso c ia d a do u so e fetiv o ou virtual e inclui, p o r ex e m p lo , valores que as p e sso a s a trib u e m aos e c o ssiste m a s em e x tin ção ou espécies am eaçadas. N e s te co n tex to , a b io d iv e rsid a d e é e n te n d id a c o m o u m objeto de valor intrínseco, c o m o u m a h e ra n ç a d e ix a d a p a ra outros ou c o m o fruto de u m a r e s p o n s a b ilid a d e m oral. A estes c o n ceito s po d e-se a c re sc er o q u e se c o n v e n c io n o u c h a m a r de q u a se -v a lo r de o p ç ã o (A rro w & Fisher, 1974; H enry, 1974). E m resu m o , esta c o n c e itu a çã o re p re se n ta o valor de reter o p çõ es de u s o futu ro d o recurso, d a d a u m a h ip ó te se de c re sc e n te c o n h e c im e n to (científico, técnico, e c o n ô m ic o , social) sobre as p o ssib ilid ad es futuras do recu rso natural sob investigação.

A d istin ção en tre os valores q u e o a m b ie n te d e té m p o r si p róprio p o d e a in d a ser d iv id id a e m dois gran d es g ru p o s q u e in c o rp o ra m os c h a m a d o s valores de u so e valores intrínsecos. Os valo res d e u so referem - se ao uso efetivo ou potencial q u e o recu rso p o d e prover, e n q u a n to q u e os valores intrínsecos não estão asso ciad o s n e m c o m u so e fetiv o p re se n te do recurso e n e m c o m as p o ssib ilid ad es de uso futuro. O valor intrínseco reflete o valor q u e reside nos recu rso s am bientais, i n d e p e n d e n te m e n t e de um a relação c o m os seres h um anos. E s te valor é c a p ta d o p e la s p esso as através de suas preferên cias n a fo rm a de n ão -u so do recurso. E sta c o n sid e ra ç ão inclui s im p atia e/ou respeito aos direitos ou ao b e m -e sta r de seres que n ã o o h o m em , inclu in d o espécies, ec o ssiste m a s, áreas florestais e outros recursos naturais, c u jo s valores são d e v id o s à sim p les e x istên cia do b e m e do serviço am biental, e n ã o estão rela c io n a d o s ao seu uso. T ais valores e n c o n tra m u m certo grau de d ific u ld a d e de c o n c e itu a ç ã o , e m b o ra

(10)

OS e co n o m istas am bientais v e n h a m p r o c u ra n d o d e s e n v o lv e r os m otivos que levam as p esso as a d a r v a lo r a u m b em ou re c u rso am biental, in d e p e n d e n te m en te do u so p re se n te ou futuro.

A s su m in d o -se a ex istê n c ia de u m a c u rv a d e d e m a n d a pelos b ens e serviços am bientais, torna-se ne c e ssá rio e x p lo r a r a n a tu re z a d os valores incorporados nesta curva. E m b o r a não e x ista u m c o n s e n s o so b re a term in o lo g ia u s a d a p ara ca ra c teriz a r o valor de bens e serviços am bientais, não se pode n e g a r que a v a n ç o s fo ra m o b tid o s na d ireção de u m a ta x o n o m ia mais a d e q u a d a aos valores e c o n ô m ic o s d os bens e serviços p rovidos ao h o m em , pela natureza.

Os valores de uso direto e in direto estã o a s s o c ia d o s c o m as p ossibilidades presentes do uso dos recu rso s e são de m a is fácil c o m p re e n s ã o e e n ten d im en to , em b o ra, alguns c o m p o n e n te s dos valores de uso in direto ap re se n te m certo grau de d ific u ld a d e , p r in c ip a lm e n te nas q u an tificaçõ es m o n etárias em píricas.

Os valores de ex istê n c ia são a q u eles e x p re s s o s p elo s in divíduos, de tal fo rm a que não são re lacio n ad o s ao uso p re se n te ou futu ro dos recu rso s am bientais pela g eração p re se n te e n e m p e lo p o ssív el u s o q u e se p o ssa atribuir e m n o m e da g e ra ç ã o futura. N ã o é, c o n tu d o , u m a c o n c e itu a çã o d e sp ro v id a de c o n tro v é rsia s e de tentativas de c a p ta r todos os valores que u m recu rso a m b ien tal p o ssa conter. P o ré m , n ã o resta d ú v id a que o c o n ceito de valor de e x is tê n c ia a p r o x im a e c o n o m is ta s e ecólogos, o que dev erá p ro p o rc io n a r m e lh o r e m ais p r o fu n d o en te n d im e n to d a q u estão am biental.

A lé m do valor de uso efetivo e do valor de e x istên cia, o valor e c o n ô m ic o total do am b ie n te é c o m p o s to t a m b é m d o q u e se c o n v e n c io n o u c h a m a r de valor de opção, defin id o c o m o a o b te n ç ã o de u m b e n e fíc io am biental potencial - e x p re ssã o das p re fe rê n cia s e d a d is p o s iç ã o de p a g a r p e la p re se rv a ç ão ou m a n u te n ç ã o d a q u e le re c u rso am b ie n ta l c o n tra a p o ssib ilid ad e de uso presente.

(11)

P ode-se a ssu m ir q u e a ex istê n c ia de u m a c u rv a de d e m a n d a pelos b ens e serviços a m b ien tais reflete a n a tu re z a desses três valores a saber: v a lo r de uso, v a lo r de o p ção e valor de e x is tê n c ia .”'

C o n sid e ra ç õ e s adicionais sobre o valor e c o n ô m ic o do a m b ien te são n ecessárias p ara u m m e lh o r e n te n d im e n to , p rin c ip a lm e n te , da n a tu re z a dos valores de o p ção e de existência, q u e se c o n s titu e m nos a sp e c to s mais d iscutidos e m relação à m e n s u ra ç ã o e c o n ô m ic a dos im p acto s am bientais. A ntes, porém , é lítil d e s ta c a r o c o n te x to no qual se p ro c u ra d e s v e n d a r tais valores.

S em p re o c u p a ç ão c o m a in a p iicab ilid ad e das g en e ra liz aç õ e s sobre tem as e q u estõ es relativas à classificação dos re c u rso s am b ien tais, pode- se a d m itir q u e u m a g rande variedade d estes c o n té m as seguintes características: irreversibiiidade, incerteza q u a n to ao futuro e sin g u larid ad e. A irreversibiiidade ocorre q u a n d o o ativo am b ien tal, d a d a a su a d e g ra d a ç ão em fun ção d a intensidade de uso, a p re s e n ta p o u c a ou n e n h u m a c a p a c id ad e de re g e n e raç ã o e os b en efício s d eriv a d o s são p e rd id o s p a ra sem pre. A incerteza está associada, m uito p ro v a v e lm e n te , à ig n o râ n c ia q u a n to ao fu n c io n a m e n to do ec o ssiste m a . S e n d o o futuro d e sc o n h e c id o , este traz consigo c ustos p o te n c ia is se o ativo a m b ien tal é elim in a d o e a o p o rtu n id ad e fu tu ra é p erdida. A s in g u la rid a d e diz respeito à não p o ssib ilid a d e de substituição dos ativos a m b ie n ta is no caso de sua ex tin ção . A sua e lim in a ç ã o im p ed e que to d o tip o de v a lo r seja a eles asso ciad o . E s ta característica está a s s o c ia d a às e s p écies e eco ssistem as ú n ico s e/ou e m e x tin ção e ao valor de ex istê n c ia (já q u e a p re fe rê n c ia é re v elad a pela preserv ação de u m recurso natural ou p e la q u alid a d e am b ien tai, sem u m a associação d ire ta c o m u so p re se n te ou futuro).

R eto rn an d o , pois, às c o n d ic io n a n te s e c o n ô m ic a s su b ja c e n te s ao co n c e ito de valor e c o n ô m ic o total do a m b ien te, to rn a m -se necessárias a lg u m a s c o n sid e ra ç õ es adicionais.

(5 ) E m b o ra d istin to s tc o ric a m cn tc, n a p rá tic a os v a lo re s d e existeMicia e de o p ç ão são de d ifícil p a rtic u la riz a çã o . D e aco rd o c o in T isd cl (1 9 9 1 ), ao se p e rg u n ta r a u m in d iv íd u o q u a l o m o n ta n te m á x im o t|u e e sta ria d isp o sto a p a g a r p ela p re serv aç ã o a m b ie n ta l de um s iste m a n a tu ra l ou p ela m a n u te n çã o d a q u a lid a d e a m b ie n lal, a q u ele m o n ta n te in c lu iria um m isto , c o rre sp o n d en d o c o n ju n ta m e n te ao s v a lo re s de o p ç ão e de e x istên cia.

(12)

A literatura e c o n ô m ic a a m b ie n ta l m o stro u u m relativ o pro g resso e m d ireção à ta x o n o m ia referente ao valor e c o n ô m ic o d o m e io am biente. P re o c u p a ç õ e s e x p ressas pelos e c ó lo g o s f o r a m in c o rp o ra d a s a te oria e c o n ô m ic a am biental; ao c o n ceito de u so d ireto ju n ta r a m - s e o d e uso indireto, o de e x istên cia e de o pção, r e p re s e n ta n d o u m a v a n ç o no sentido de a te n d e r aos aspectos d ife re n c iad o re s do m eio a m b ie n te c o m o u m bem ou serviço econôm ico.

O d ese n v o lv im e n to do co n c e ito so b re v a lo ra ç a o am biental iniciou-se po r d istin g u ir en tre os valores de u so e valores de não-uso. O p rim eiro refere-se ao b en efício o b tid o a partir d a u tiliz a ç ã o e fetiv a do am biente, de fo rm a direta ou indireta; o s e g u n d o não im p lic a em u tilização im ed iata ou fu tu ra do recu rso am b ien tal. E sse s valores, assim d e fin id o s são valores e c o n ô m ic o s, pois ao fa z e r u m a esc o lh a , e s ta traz satisfação, ou seja, rev ela u m a p referên cia. O valor de e x istên cia, u m valor adicional atribuído ao a m b ien te, não e s tá asso c ia d o ao u so p re se n te ou futu ro do recurso am biental, m as é a trib u íd o à s u a sim p les e x is tê n c ia e c a p ta d o pelos indivíduos através de suas p re fe rê n cia s n a f o r m a d e não- uso. E sses valores são en tid ad es q u e re fle te m as p re fe rê n cia s d as pessoas, inclu in d o p re o c u p a ç õ es c o m sim patia, direitos e b e m -e s ta r d os seres não- h u m a n o s. M u ita s pessoas, p o r o b te re m satisfação, p o r e x e m p lo , dão valor aos rem a n e sc en te s das espécies de m ic o -le ã o -d o u rad o , p elo sim ples d e se jo p reservacionista, e não p a ra q u e elas p ró p ria s p o s s a m adm irá-los, pois e m m uitos casos os sítios o n d e estão lo calizad o s os a n im a is são d istan tes e inacessíveis. D e sta fo rm a, os ind iv íd u o s d ã o valor, pelo sim ples c o n h e c im e n to d a p re se rv a ç ão d e s s a e sp é c ie de a n im a l e n ã o pelo u so q u e deste c o n h e c im e n to ou d a e x is tê n c ia do m ic o -le ã o -d o u rad o p o s s a m fazer. Inco rp o rad o à v a lo ra ç ã o am b ien tal, tem -se, ta m b é m , o v a lo r de opção, e x p re sso pelo b e n e fíc io p o ten cial q u e d e le p o d e ser d erivado. C onstitui-se, portanto, u m a e x p re s s ã o d as p re fe rê n c ia s e da d isp o siç ã o de p a g a r p e la p re se rv a ç ão am b ien tal, c o n tra a p o s s ib ilid a d e de u so p e la geração presen te ou futura. A s s im c o n c e itu a d o , o valor e c o n ô m ic o total do a m b ien te é rev e la d o pelas p re fe rê n cia s in d iv id u ais das p essoas. C o m p e te , pois, aos e c o n o m ista s a ta re fa de d e s v e n d a r tais valores.

(13)

E m resum o, a atual literatura e c o n ô m ic a am biental d is tin g u e três valores que c o m p õ e m

0

valor e c o n ô m ic o total d o am biente, obtido a partir d a seg u in te expressão:

V a lo r E c o n ô m ic o do A m b ie n te =

V a lo r de U so + V a lo r de O p ç ã o + V a lo r de E x istê n c ia

C o m o p o d e ser o b servado, o valor de u so e n g lo b a

0

uso direto e indireto, e os valores de e x istên cia e de o p ção são de difícil co n ceitu ação . E m te rm o s gerais,

0

valor de ex istê n c ia p o d e ser e n te n d id o c o m o valor que os indivíduos c o n fe re m a certos serviços am b ien tais, c o m o esp écies em e x tin ç ã o ou raras, santuários eco ló g ic o s ou alg u m e c o s s is te m a raro ou único, m e s m o q u a n d o não há intenção de ap reciá-lo s ou u sá-lo s de a lg u m a form a. O valor de o p ção e x p re s s a u m a p re o c u p a ç ã o c o m a geração futura, m as ta m b é m c o m a geração p re se n te à m e d id a que p ro c u ra m a n te r a po ssib ilid ad e de u so futu ro e sustentável do recu rso am biental.

T e n d o e m vista a esp ec ific id ad e d estes valo res c o m respeito às q u estõ es am bientais e à im p o rtân cia q u e tais c o n c e ito s v ê m assu m in d o , tanto n as q u estõ es teóricas q u a n to na ap lic a b ilid a d e do c o n ceito , j u lg a -s e o p o rtu n o te c e r c o n sid e ra ç õ es adicionais sobre os m esm o s.

O valor de ex istê n c ia retira d a valoração o c a rá te r utilitarista, pois c o n s id e ra q u e u m indivíduo m e s m o não c o n s u m in d o os serviços e bens am bientais, p o d e m anter-se p r e o c u p a d o c o m s u a q u a lid a d e ou ex istência, d e riv a n d o d a í satisfação. D a m e s m a form a, u m in d iv íd u o p o d e a ssu m ir que esp écies, ecossistem as, ou q u a lq u e r outro ativo am b ien tal te m

0

direito d e existir e s o m e n te p o r essa razão, o b té m satisfação, estan d o d isp o sto a p a g a r p o r m ed id as q u e o b je tiv e m a su a p re s e rv a ç ã o ou c onservação® (Johansson, 1990).

(6 ) A p re serv aç ã o c a e o n se rv a ç ã o sã o c o n c e ito s d is tin to s ; e n q u a n to o p rim eiro n ão a d m ite q iiak |iier in te rv e n ç ã o a n tró p ic a n o m eio a m b ie n te, o s e g u n d o a d m ite 0 uso d o re c u rso n atu ral em b ases su ste n tá v e is.

(14)

P o r outro lado, P e a rc e & T u r n e r (1990) a s s u m e m en fa tic a m en te q u e o valor de e x istên cia é u m v a lo r c o lo c a d o n os b ens e serviços am bientais, valor este que não está a sso ciad o , de f o rm a a lg u m a , c o m q u a lq u e r uso do m e s m o , seja no presen te ou no futuro.

B o y le & B ish o p (1985) e B ish o p & H e b e rle in (19 8 4 ) sugerem cinco m otivos que se re d u z e m de u m a f o rm a ou o u tra e m altruísm o, filantropia, c u id a d o s c o m outras p esso as ou o utros seres q u e p o d e m a u x ilia r na ex p lic a ç ão da origem do v a lo r de e x istên cia. S ão eles: m otivo herança, m otivo d o ação, m otivo sim p a tia p elo s a n im a is ou p essoas, m o tiv o in te rd ep en d ên cia e m o tiv o resp o n sab ilid ad e.

P e a rc e & T u rn e r (1990) re c o n h e c e m a a p lic a b ilid a d e d o s três prim eiro s m otivos, p o ré m re ssa lta m que, relev an te p a ra a d e te rm in a ç ã o do v a lo r de ex istê n c ia é o m otivo sim patia, c o n s is te n te c o m as razões pelas quais as pessoas estão disp o stas a p re se rv a r os re c u rso s am bientais, d e v id o ao ap reço pelos e c o ssiste m a s naturais e pelos seres h u m a n o s e n ão -h u m an o s. E n te n d e m aqueles au to res q u e o m o tiv o h e r a n ç a e o m otivo d o a ç ã o estão m ais a ssociados ao u so q u e d e v e rá ser feito do o b je to doado. Isto p o rq u e os m esm o s c o n c e itu a m o v a lo r de e x is tê n c ia c o m o d e s p ro v id o do m o tiv o uso, e su g e re m que estes m o tiv o s e x p lic a m ou e s tã o mais a sso ciad o s ao valor de opção.

N ã o ob stan te o d e s e n te n d im e n to q u a n to aos m o tiv o s q u e dão o rig em ao valor de u m ativo am b ien tal, p r in c ip a lm e n te o v a lo r de existência, h á u m a certa c o n c o rd â n c ia no q u e se refere ã c o n c e itu a ç ã o individual dos c o m p o n e n te s internos de c a d a m o tiv o , m o s tra d o s a seguir: • m o tiv o h e ra n ç a - refere-se à idéia d a d is p o s iç ã o e m o f e r e c e r aos herd eiro s ou às gerações futuras e m geral os b e n s e serv iço s am b ie n ta is so b re os quais se d isp õ e de c o n h e c im e n to . O fato de q u e as g eraçõ es futuras são citadas, c o m freq ü ên cia, e m a s s o c ia ç ã o às q u e s tõ e s d o m eio am b ie n te e d os recursos naturais é u m a p ro v a de q u e o b e m -e s ta r (in clu in d o a d o ta ç ã o de recu rso s n atu rais e am b ie n ta is) d as g eraçõ es futuras está se to rn a n d o u m a c re sc e n te p r e o c u p a ç ã o da so c ie d a d e , no presente; B o y le & B ish o p (1985); B is h o p & H eb e rle in (1 9 8 4 ) e K ru tilia (1967) c o n sid e ra m tal m otivo c o m o relev an te p a r a o c o n c e ito de v a lo r de existência. P e a rc e & T u rn e r (1990), po r outro lado, p re fe re m e n q u a d r a r o

(15)

m o tiv o iierança c o m o parte do valor de uso, sendo os h e rd e iro s diretos ou as g eraçõ es futuras os usuários. P o n d e ra m , co n tu d o , q u e os herd eiro s d e riv a rã o satisfação d a m e ra e x istên cia do ativo am b ien tal, m as a n o ç ã o de h e ra n ç a im plica q u e o herdeiro fará a lg u m uso do ativo h erd ad o ; • m otivo d o a ç ã o ta m b é m c h a m a d o de b en e v o lê n c ia - ato de p re se n te a r p e sso a s ou instituições ligadas ã p ro teção am b ien tal, se n d o o o b je to da d o a ç ã o , presen te ou benevolência, bens e serviços a m b ie n ta is p re se rv a d o s ou co n serv ad o s. P c a rc c & T u r n e r (1990) não c o n s id e r a m este m otivo c o m o exp licativ o do valor de existência; é um valor de u so adicional, c o m as m e s m a s justificativas, dadas ao m o tiv o -h eran ça;

• m o tiv o s im p atia pelos anim ais ou p esso as - m e s m o q u e n ã o se este ja p la n e ja n d o fazer uso direto do recurso am biental, p o d e -se sim p a tiz a r c o m p e s s o a s e anim ais que estão se n d o a d v e rs a m e n te a fe ta d o s pela d e te rio ra çã o am biental e d e se ja r ajudá-los. A sim p a tia pelos seres vivos p o d e v ariar de país p a ra país e en tre culturas d iferentes, m as é n o rm a e n ão exceção, a d isp o sição de p a g a r p a ra p re se rv a r hábitats, p o p u la ç õ e s de aves an im ais e eco ssistem as e m p ro cesso de extinção;

• m otivo in ter-relação am biental - este m o tiv o p ro c u ra e n fa tiz a r o c a ráter in terd ep en d en te das fu n ç õ e s am bientais e, c o n s e q ü e n te m e n te , dos d anos. P o r e xem plo, os danos a m b ien tais e n q u a n to esp ecífico s, c o m o d e g ra d a ç ão da c a m a d a de ozônio, p a re c e m não afe ta r a v id a d os seres vivos diretam ente, p o ré m esta d e g ra d a ç ão é s in to m á tic a das forças p o lu en tes m ais a m p las que d e v e m ser in terro m p id as antes q u e to d o

0

sistem a de suporte à vida terrestre seja irre v e rsiv e lm en te afetado.

• m o tiv o re sp o n sa b ilid a d e am biental - q u a lq u e r ativ id a d e h u m a n a que e stiv e r c a u s a n d o u m d an o ao m eio am b ie n te d e v e ser r e s p o n s a b iliz a d a e sim u lta n e a m e n te d eve-se p ro p ic ia r a fo rm a ç ã o de c re s c e n te c o n sc iê n c ia d a m a g n itu d e do p roblem a. E s ta re sp o n sa b ilid a d e a m b ie n ta l im p õ e o d e v e r pelo p a g a m e n to do d an o cau sad o , visan d o r e d u z ir o m e s m o às p ro p o rç õ e s requeridas p o r u m m a n e jo sustentável do m eio am biente.

A lg u m a s c o n sid e ra ç õ es adicionais d e v e m ser feitas sobre o valor de ex istência, u m a vez que este p re te n d e ser u m a ligação e n tre e c ó io g o s e eco n o m istas, além de não ser p ro n ta m e n te ex p lic a d o pelos m otivos con v en cio n ais.

(16)

O s m otivos altruístas são fam iliares às análises e c o n ô m ic a s , u m a vez a ssu m id o q u e se p o d e integrá-los ao c o m p o r ta m e n to e c o n ô m ic o racional dos in divíduos. Isto p o rq u e, n a m a x im iz a ç ã o d a u tilid a d e ou bem -estar, o altruísm o co n fere satisfação ao d o ad o r, q u e p o r s u a vez d e p e n d e da satisfação de outras p esso as ou de o utros seres. E s ta in terp retação é n ã o só c o e re n te c o m o p re s s u p o s to d o c o m p o r ta m e n to racional e c o n ô m ic o do indivíduo, m as tam b ém , e v ita e n c a r a r a e x is tê n c ia de outros m o tiv o s que p o d e m ser relev an tes n a e x p lic a ç ã o d o v a lo r de existência. P o rém , são estes q u e c o lo c a m e m su sp e ita a in te rp re ta çã o do co m p o rta m e n to e c o n ô m ic o racional, pois alguns in d iv íd u o s a f ir m a m que os seres n ã o -h u m a n o s têm direitos e ao e x p re s s a r o v a lo r de ex istê n c ia , as p esso as e x p re ssa m u m valor de n ã o-uso, pois, estas s o m e n te e stã o v o c a liz a n d o aqueles direitos u m a vez q u e os d e te n to re s d os m e s m o s não p o d e m fazê-lo. Isto significa q u e as ações são m o v id a s p o r fatores outros, q u e não a m a x im iz a ç ã o de utilidade, e os direitos d os seres n ã o -h u m a n o s tê m q u e ser respeitados p o r q u estõ es éticas e m orais. M a s , n ã o se constitui e m s u rp resa a idéia de q u e o c o m p o r ta m e n to é f r e q ü e n te m e n te m o tiv a d o pelo respeito ao d ireito dos outros. A final de co n tas, as pesso as estão aco stu m a d a s à idéia de q u e a b u s c a d a su a p ró p ria satisfação so m e n te p o d e se d a r dentro dos lim ites e sta b e le c id o s p e la so cied ad e. L im ite s estes que te n ta m in c o rp o ra r aqueles direitos afetos aos seres não- hu m an o s. Portanto, o p ro b le m a e m se trata de q u a n d o não é ap ro p ria d o levar e m c o n ta os valores de existência. Se o o b je tiv o d a so c ie d a d e é a lo c a r recursos, tanto q u a n to possível c o m b ase na u tilid a d e p a ra os indivíduos, então será co rreto levar e m c o n s id e ra ç ã o os valores de existência, ba se a d o s nos m o tiv o s altruístas. S e p o r outro lado, os valores de e x is tê n c ia se re fe re m aos m o tiv o s afetos aos “d ire ito s ” e se a so c ie d a d e c o n s id e ra tal m otivo c o m o relev an te p a ra a p re sc riç ã o de m e d id a s e políticas, será, então, a p ro p ria d o lev ar e m c o n ta tal m otivo. E m resu m o , não p a re c e h a v e r in co n sistê n c ia ao se ter e m c o n ta o valor de existência, q u a lq u e r q u e seja a b ase de su a d e fin iç ã o , sim p le s m e n te p o rq u e os valores e m q u estão d izem resp eito às p e sso a s e as políticas d e v e m refletir d esejo s e direitos d essas m e s m a s p e s s o a s (P e a rc e & T u rn er, 1990).

(17)

O u tro c o n ceito q u e p a sso u a fa z e r parte d os m a n u a is d e e c o n o m ia am b ien tai é o que se refere ao valor de opção, c u ja s c o n o ta ç õ e s e nuances serão a g o ra ap resentadas.

W e is b ro d (1964) e J o h a n sso n (1990) a r g u m e n ta m q u e u m indivíduo, ain d a q u e não estan d o seguro de q u e v isitaria u m santuário eco ló g ico , estaria, m e sm o assim , d isposto a p a g a r u m a s o m a a m ais que o e sp e ra d o e x c e d e n te do co n su m id o r, para a s s e g u ra r q u e o recurso am biental este ja disponível. D e sta forma, a d is p o s iç ã o b ru ta a p a g a r p o r u m b e m ou serviço am b ien tal é fo rm a d a pelas d e s p e s a s p a ra a aq u isição do bem , m ais o e x c e d e n te do c o n su m id o r. O s b e n e fíc io s p a ra o indivíduo serão o e x c e s s o d a d isp o sição bruta de p a g a r so b re o que é efe tiv a m e n te pago, pois este é, na realidade, u m custo p a ra o indivíduo. P a ra ju s tif ic a r e sse e x c e sso sobre o e x c e d e n te do c o n su m id o r, é p re c iso re c o n h e c e r a e x istê n c ia de p esso as que an te c ip a m c o m p ra s e m alg u m p o n to no futuro, m as que n u n c a e fe tiv a m e n te efe tu a rão tais c o m p ra s. N ã o obstante, isto significa q u e elas estarão dispostas a u tilizar esse b e m e m a lg u m p o n to no futuro, e este valor d e v e influenciar as decisões, p o r e x e m p lo , so b re a c o n se rv a ç ão de ativo am biental no presente.

N o entanto, tem havido a lg u m as d isc u ssõ e s so b re a natureza, o c o n te ú d o e a p re c isa c o n c e itu a çã o do valor de o pção, m a s q u e p a ra os p ro p ó sito s p resen tes d istin g u e m -se e m duas in terp retaçõ es: o v a lo r de o p ção p ro p ria m e n te dito e o q u a se -v a lo r de opção.

A p rim e ira interpretação p ro c u ra c o n e c ta r a d e fin iç ã o c o m a idéia d e u m p rê m io pelo risco, q u e surge da in certeza, q u a n to ao futu ro valor do b e m ou serviço am biental q u e se p re te n d e p r e s e rv a r ou m a n te r a qualidade.

D o lado da d e m a n d a não se pode ter certeza, n e m so b re a re n d a e n e m sobre as p referên cias no futuro. Q u a n to à o ferta t a m b é m é incerto o futuro, u m a vez q u e u m recu rso am biental p o d e ser p reserv ad o , e x tin to ou d a n ificad o parcialm en te. É, portanto, a in c e rte z a - tan to dos asp ecto s d e te rm in a n te s d a d e m a n d a pelos recursos am b ie n ta is q u a n to a d ú v id a sobre a d isp o n ib ilid a d e e em que c o n d iç õ e s no futuro o ativo am biental e stará disp o n ív el - q u e introduz a n e c e ssid a d e de se te r e m c o n ta o valor d e o p ção c o m o m ed id a dos benefícios a m b ien tais. E m sum a, a idéia

(18)

bá sic a é q u e - dadas as incertezas do lado da o ferta e do fato de q u e a m a io ria das p esso as tem aversão a c o rre r riscos e não g o sta de in certezas - o in divíduo está disp o sto a p a g a r m ais q u e o v a lo r e s p e ra d o do ex c e d e n te do co n su m id o r, visando a sse g u ra r que se p o s s a fa z e r uso do am b ie n te no futuro. C o m isto, introduz-se o co n c e ito de p re ç o de op ção , q u e é o m o n ta n te m o n etário m á x im o q u e o c o n s u m id o r e stá d isp o sto a p a g a r p a ra asse g u ra r a d isp o n ib ilid ad e fu tu ra de u m recu rso am biental.

A s s im entendido, a d isp o sição total a p a g a r c o m p r e e n d e o valor e sp e ra d o do e x c e d e n te do c o n s u m id o r m ais o v a lo r de o p ç ã o ; se n d o o p rim eiro o valor e sp e ra d o em e fe tiv a m e n te c o n s u m ir o b e m ou recu rso am biental, e o seg u n d o o valor e m reter u m a o p ç ã o p a ra c o n s u m ir no futuro, m esm o q u e isto não v en h a a ocorrer. E s p e ra -s e q u e o v a lo r de o p ção te n h a u m sinal positivo, im p lican d o q u e o e x c e d e n te e s p e ra d o do c o n s u m id o r su b e stim e o ben efício de p re se rv a r u m d e te rm in a d o e c o ssistem a, po r e xem plo.

A s e g u n d a interpretação d a d a ao v a lo r de op ção , n ã o e x c lu in d o o b v ia m e n te a anterior, é a que se c o n v e n c io n o u c h a m a r de q u a s e -v a lo r de opção, d e s e n v o lv id a po r A rro w & F is h e r (19 7 4 ) e H e n ry (1974), in d ep en d en tem en te. E s ta c o n c e itu a çã o e n f o c a os a sp ecto s in te rte m p o ra is e a irreversibilidade de q u a lq u e r d ecisão q u e p o s s a afe ta r os bens e recu rso s am bientais, no sentido de su a possível u tiliz a ç ã o p a ra fins alternativos. A o re ta rd a r q u a lq u e r d ecisão sobre o possível u so dos serviços e bens am bientais, pode-se obter m ais e m e lh o re s in fo rm a ç õ e s sobre as incertas co n se q ü ê n c ia s d eriv ad as de tal u so. C o m o ex e m p lo , tem -se a d e rru b a d a de u m a área florestal q u e c o n té m várias esp é c ie s nativas de valor futu ro p ara fins m edicinais, f a rm a c êu tic o s, a g ríco las e outros. N ã o resta d ú v id a de q u e há in certezas so b re os p o ssív e is b en efício s futuros q u e a p re se rv a ç ão de u m a flo re sta n atu ral p o d e p ro p o rcio n ar, m as tam b ém , não resta d ú v id a de que, c o m o p a s s a r do tem po, a u m e n ta a possibilidade de e x p a n d ir e a p r o f u n d a r os c o n h e c im e n to s sobre o uso e o valor q u e as esp é c ie s p o s s a m deter. O c o n c e ito de q u ase-v alo r de o p ção rep resen ta o v a lo r de p re s e rv a r o p ç õ e s p a ra o futuro u so das esp écies d a áre a florestal, d a d a a h ip ó te se de u m a e x p e c ta tiv a crescen te sobre o c o n h e c im e n to d as p o ssib ilid a d e s futuras do recurso e m estudo, N a hip ó tese de que o a p r o f u n d a m e n to d os

(19)

co n h e c im e n to s seja in d ep en d en te da d e rru b a d a d a áre a florestai, no ex e m p lo a c im a citado, é razoável p re ssu p o r que o q u a s e -v a lo r de o p ç ã o é positivo, o que im plica p re se rv a r o recurso, visan d o to m a r de c isõ e s m ais a d e q u a d a s no futuro.

O valor e c o n ô m ic o total do m eio am b ie n te não p o d e ser revelado pelas relações de m ercad o e, na ausência deste, a lg u m a s técn icas fo ram d e se n v o lv id a s no sentido de se e n c o n tra r valores a p ro p ria d o s aos bens e serviços oferecidos pelo am b ie n te natural, o b je tiv a n d o su b sid ia r a a d o ção de m e d id a s e a fo rm u la ç ã o de p o l í t i c a s /

E ssas técnicas p ro c u ra m e stim a r os valores e c o n ô m ic o s do m eio am biente, e m bora, na m a io r parte das vezes, n ã o seja possível estim ar, s e p arad am en te, as parcelas c o rre sp o n d e n te s ao valor de uso, valor de o pção e valor de existência; isto p o rq u e u m a c a ra c terístic a típ ica de m uitos recursos naturais é que eles e n s e ja m valores diferen tes, d eriv ad o s de diferen tes serviços que o m e sm o ativo p ro p o rcio n a, e ta m b é m p orque em m uitas circu n stân cias, não é possível o p e ra c io n a liz a r os c o n c e ito s de m o d o a identificá-los e m separado.

G eralm en te, os m éto d o s de valoração dos b e n e fíc io s am bientais são classificados e m três gran d es grupos, ten d o c o m o critério básico a relação entre o ativo am b ien tal e o m e rc a d o ( M a rk a n d y a , 1992).

D iferentes autores c lassificam os m éto d o s de v alo ra ç ã o am biental de diversas form as, porém , em term os gerais, a d ivisão n ã o fo g e às seguintes categorias:

a) m éto d o s que se utilizam de info rm açõ es de m ercad o , o b tid a s d ire ta ou indiretam ente, e os mais e m p re g a d o s nas q u e stõ e s am b ien tais, são: ap re ç a m en to h ed ô n ico ou valor de pro p ried ad e, salários e d esp esas c o m p rodutos sem elh an tes ou substitutos;

b) m étodos q u e se b aseiam no estado das preferên cias, que, n a a u sên cia de m ercado, é averig u ad o através de q u e stio n á rio s ou das co n trib u içõ es financeiras individuais ou in stitu cio n ais feitas aos órg ão s responsáveis pela p reserv ação am biental;

(7 ) Para u m a iiilc i|irc la ç ã o a llc rn a liv a so b re a u tiliz a ç ã o d o s re su lta d o s o b tid o s pela v alo ração dos bens e serv iço s a m b ie n tais, v e r V atn & B ro m ley (1 9 9 4 ).

(20)

c) m éto d o s q u e p ro c u ra m id e n tific a r as alte ra ç õ es na q u a lid a d e am biental, d e v id o aos d a n o s o b se rv a d o s no a m b ie n te n a tu ra l ou c o n stru íd o pelo h o m e m e na p ró p ria sa ú d e h u m a n a ; são c h a m a d o s de dose-resposta.

Estes m é to d o s o b jetiv am tra z e r à to n a os valo res e x p re s s o s pelos in divíduos, e m term os d a d isp o sição de p a g a r p e la m e lh o r ia d a q u a lid a d e a m biental ou e m term os da d isp o siç ã o em a c e ita r u m a c o m p e n s a ç ã o p ela d e terio ração n a q u a lid a d e am biental. C o n tu d o , e m re la ç ã o aos m é to d o s (a) e (b) m en cio n ad o s, e m que se p ro c u ra d e s v e n d a r as in fo rm a ç õ e s de m ercad o ou o e stad o das p re ferên cias na a u s ê n c ia de m ercad o , a ligação en tre a d isp o sição de p a g a r ou de aceitar u m p a g a m e n to e o valor m e n su ra d o são m ais ev id en tes q u e no caso (c) e m q u e o m é to d o re p o u sa m ais nos d ados e in fo rm açõ es técnicas e científicas.

Os m éto d o s diretos, u sados c o m m a io r f r e q ü ê n c ia p a r a e s tim a r os valores dos b ens e serviços a m b ie n ta is p e rte n c e n tes aos g ru p o s (a) e (b), b aseiam -se e m in fo rm a ç ã o de m e rc a d o s e x iste n te s ou h ip o te tic a m e n te criad o s e são os seguintes: v alo ra ç ã o c o n tin g en cial, c u s to de v ia g e m e m e rc a d o substituto ou preço hed ô n ico . O g ru p o (c) é c h a m a d o t a m b é m de m é to d o indireto, p o rq u e os p ro c e d im e n to s estim a tiv o s n ã o p ro c u ra m m e d ir o estado das preferên cias d ire ta m e n te , m as sim , esta b e le c er, em p rim eiro lugar, a relação entre a alteração a m b ien tal e a lg u m e fe ito na saúde, nos e c o ssiste m a s naturais ou c o n s tru íd o s p elo h o m e m . P osteriorm ente, aplica-se alg u m m é to d o c o m o o do c u sto de rep o sição , da p ro d u ç ã o sacrificada, d a red u ção da p ro d u tiv id a d e , d e n tre outros, p a ra se o b te r os valores e c o n ô m ic o s d a q u e le efeito.

Conclusões

N ão ob stan te as críticas, os co n c e ito s e m é to d o s d isp o n ív e is a p o ia d o s na te oria n eo clássica são de uso am p lo e p e rm ita m av a lia r os bens e serviços am bientais de u m a f o rm a b a sta n te sensível às so c ie d a d e s que to m a m suas decisões, ra z o a v e lm en te , a p o ia d a s e m valo res m onetários. Os co n ceito s e m é to d o s v ê m a p re s e n ta n d o d e s e n v o lv im e n to s q u e têm p erm itido a in c o rp o ra ç ão de valores d e s p id o s do c u n h o

(21)

utilitarista. O s m éto d o s b a se a d o s no valor e n e rg ético , e m b o r a d e te n h a m c e rto grau de im p o rtân cia, não são de u so geral e m u m a so c ie d a d e que to m a d ecisõ es e m valores m o n e tá rio s d e riv a d o s das d e c isõ e s individuais. A s p o n d e ra ç õ e s d os ecó lo g o s tê m sido a te n d id a s p e la in c o rp o ra ç ão , não s o m e n te dos valores de uso indireto, m as t a m b é m p elo s valores de e x is tê n c ia e de opção. A o p e ra c io n a liza ç ã o d os c o n c e ito s e c o n ô m ic o s do m e io am b ie n te te m sido possível, pelo d e se n v o lv im e n to de m é to d o s que p ro c u ra m a v e rig u a r as preferên cias de fo rm a d ire ta e indireta.

Bibliografía

A R R O W , K .J.; FISH ER , A.C. E nvironm ental, preservation, uncertainty and irreversibility. Q uarterly Jo u rn a l o f E conom ics, v.88, p .312-9, 1974.

B IS H O P , R .C.; H E B E R L E IN , T.A. C ontingent valuation m ethods an d

ecosystem dam ages from a cid rain. M adison: Univ. o f W isconsin.

D epartm ent o f A gricultural E conom ics, 1984. (S ta ff P aper, n.217).

B O Y L E , K .J.; B ISH O P, R.C. The total value o f w ildlife resources: conceptual and em pirical issues. In: W O R K S H O P O N R E C R E T IO N A L D E M A N D M O D E L IN G , 1985, B oulder, C olorado, USA . B oulder: A ssociation o f E nvironm ental and R esource E conom ists, 1985. p . 17-8.

C O N ST A N Z A , R.; DAY, H .E.; B A R T H O L O M E W , J.A. G oals, agenda and policy recom m endations for ecological econom ics. In: C O N ST A N Z A , R., ed. E cological econom ics: the science and m anagem ent o f sustainabiltiy. N ew Y ork: C olum bia Univ. Press, 1994. p . 1-20.

--- ; FÄ R B E R , S.C.; M A X W E L L , J. V aluation and m anagem ent o f w etland ecosystem s. E co lo g ica l E conom ics, v .l, p.335-61, 1989.

F A R N W O R T H , E.G. et al. The value o f natural ecosystem s: an econom ic and ecological fram ework. E nvironm ental C onservation,v.S, n.4, p.275-82,1981.

F A R N W O R T H , E.G. el a). A synthesis o f ecological and econom ic theory tow ard m ore com plete valuation o f tropical m oist forests. International Jo u rn a l o f E nvironm ental Studies, v .2 I, p.] 1-28, 1983.

H E N R Y , C. O ption values in the econom ics o f irreplaceable assets. R eview o f

E conom ics Studies: Sym posium on E conom ics o f E xhaustible R esources,

(22)

JO H A N SSO N , P .-O. V aluing environm enlal dam age. Oxfoixl R eview o f E conom ic P olicy, v.6, n .l, p .34-50, 1990. (Econom ic policy tow ards Ihc

environm ent).

K R U TILA , J.V . C onservation reconsidered. A m erican E conom ic R eview , v.57, p.777-86, 1967.

M A R K A N D Y A , A. The value ol' Ihe environment.- a state o f the a rt survey, hi: M A R K A N D Y A , A.; R IC H A R D SO N , J., ed. E n viro n m en t econom ics: a

reader. New York: Si. M arlin's, 1992. p . 143-65.

N O R T O N , B .C . On the inherent danger o f undervaluing species. In: N O R T O N , B .C ., ed. The preservation o f species. P rinceton: P rinceton Univ., 1986. p. 110-34.

PEA R C E, D .W .; TU R N E R , R.K. E conom ics o f n a tural resources a n d the environm ent. B altim ore: The Johns H opkins U niv., 1990. 378p.

S C H W E ITE Z E R , J. Econom ics, conservation and developm ent: a perspective from USA ID . In: V IN C EN T , J.R .; C R A W F O R D , E .W .; H O EH N , J.P., ed.

Valuing environm ental benefits in d eveloping countries: proceedings. E ast

Lansing: M ichigan Stale Univ. / 1990/. p. 1-10.

TIS D E L, C.A. E conom ics o f environm ental conservation: econom ics for

environm ental & ecological m anagem ent. N ew Y ork: Elsevier, 1991. 233p. (D evelopm ent in environm ental econom ics, v .l).

V A TN , A.; B R O M LEY , D .W . C hoices w ithout prices w ithout apologies.

Jo urnal o f E nvironm ental E conom ics a n d M anagem ent, v.26, n.2, p. 129-48,

m ar. 1994.

W E IS B R O D , B.A. C oleclive - consum ption services ol' individual consum ption goods. Q uarterly Jo urnal o f Econom ics, v.78, p .4 7 1-77, aug. 1964.

Resumo

0 objetivo deste trabalho e explorar não só a natureza dos valores econôm icos incorporados nos diversos com ponentes que dao consistência ao conceito do valor econôm ico do am biente, mas lam bem discutir algum as interpretações correntes sobre o processo de valoraçcão. Para tanto o texto apresentará, na seqüência, as interpretações sobre o conceito de valor econôm ico do m eio am biente c, posteriorm ente, os significados de valor de uso, de existência e de opção do meio am biente. N a parte final são apresentadas algum as observações conclusivas, d erivadas dos conceitos tratados anteriorm ente.

Referências

Documentos relacionados

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Considerando a amplitude da rede mundial de computadores (internet) e a dificuldade em controlar as informações prestadas e transmitidas pelos usuários, surge o grande desafio da

Dificultando a inserção no mercado de trabalho, as pessoas que tenham problemas de saúde, ainda que não graves, e atentando contra o sigilo das informações médicas (Art. 5°,

4 Este processo foi discutido de maneira mais detalhada no subtópico 4.2.2... o desvio estequiométrico de lítio provoca mudanças na intensidade, assim como, um pequeno deslocamento

Para o Planeta Orgânico (2010), o crescimento da agricultura orgânica no Brasil e na América Latina dependerá, entre outros fatores, de uma legislação eficiente

Focamos nosso estudo no primeiro termo do ensino médio porque suas turmas recebem tanto os alunos egressos do nono ano do ensino fundamental regular, quanto alunos

No primeiro livro, o público infantojuvenil é rapidamente cativado pela história de um jovem brux- inho que teve seus pais terrivelmente executados pelo personagem antagonista,

In conclusion, this study sought to demonstrate the level of salivary cortisol in a series of 11 puerperal women and identify depressive and anxiety disorders associated with