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O direito fundamental à saúde e a atuação do judiciário em sua concretização

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Direito Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009. Nathali Machado Santetti Rede de Ensino LFG nathali_pos@hotmail.com. O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE E A ATUAÇÃO DO JUDICIÁRIO EM SUA CONCRETIZAÇÃO. RESUMO O direito à Saúde é garantido constitucionalmente, no entanto, a sua importância é muitas vezes ignorada, e o referido direito colocado em segundo plano. No decorrer do tempo, os direitos fundamentais foram objetos de significativas modificações, assim como o direito à Saúde. Tratando-se de um direito prestacional, a efetividade da saúde necessita de investimentos públicos, sendo necessária a análise das políticas públicas. A não efetividade do referido direito, repercute na seara judiciária. Quando o judiciário atua favoravelmente na efetivação do direito à Saúde, é alvo de críticas, que levantam a hipótese de invasão de competência. Como não poderia deixar de ser, os princípios do mínimo existencial e da reserva do possível foram apreciados. Por fim, foram relacionados alguns julgados do Supremo Tribunal Federal, pertinente à abordagem da matéria tratada. Palavras-Chave: Direitos fundamentais; direito à Saúde; políticas públicas; mínimo existencial; reserva do possível.. ABSTRACT The right to health is constitutionally guaranteed, however, its importance is often ignored, and the law placed in the background. Over time, fundamental rights were subject to significant changes, as well as the right to health. Being a law prestational, the effectiveness of the health needs of public investments, requiring the analysis of public policies. The noneffectiveness of the law, passed in judicial Seara. When the court acts favorably on the realization of the right to health, it is criticized, they raise the possibility of invasion of competence. How could not only be the principles of existential minimum possible and the reserve was assessed. Finally, some were related trial of Supreme Court, the appropriate approach to the matter. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br. Keywords: Fundamental rights; right to health; public policy; existential minimum; reserve of possible.. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Informe Técnico Recebido em: 05/05/2009 Avaliado em: 04/07/2009 Publicação: 11 de agosto de 2009 89.

(2) 90. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. 1.. INTRODUÇÃO O direito à Saúde é um tema bastante discutido no meio social, principalmente pela pouca efetividade conferida ao referido direito. Não obstante o desleixo com que o assunto é tratado buscou-se por meio do presente trabalho demonstrar a sua importância, uma vez que a saúde é um dos direitos sociais fundamentais relacionados no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, e como fundamental que é, merece respeito e, principalmente, efetivação. As velhas e cotidianas desculpas de falta de orçamento para investir em saúde já não convencem mais a população, que cansada, acaba por socorrer-se do Judiciário, buscando individualmente um direito que é de todos. Ocorre que, a atuação do judiciário gera a seguinte polêmica: considerando que a efetivação do direito a saúde trata de matéria relacionada à Políticas Públicas e Orçamentárias, pertinentes aos Poderes Legislativo e Executivo, seria valida a atuação do Judiciário ou estaríamos diante de uma invasão de competência? De forma a embasar melhor um posicionamento a respeito de tal matéria, necessário uma abordagem a respeito dos princípios da tripartição dos poderes, do mínimo existencial e da reserva do possível, além da análise de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.. 2.. EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Os direitos fundamentais que hoje são bastante conhecidos e amplamente discutidos não nasceram na forma como hoje se encontram. Tais direitos são produtos de uma evolução contínua e permanente. Tal evolução pode ser traçada sob dois prismas distintos, quais sejam: as circunstâncias histórias que permeavam a sociedade na época e as chamadas gerações de direitos fundamentais. Quando se fala em acontecimentos históricos que marcaram o desenvolvimento dos direitos fundamentais não se pode esquecer da forte influência do Cristianismo, que teve como precursor São Tomas de Aquino, o qual pregava a igualdade dos homens e a valorização da liberdade humana. A fase Contratualista também deve ser destacada, pois neste período é que surge a busca pela igualdade entre homens, e a forma para se alcançar esse ideal seria toda a sociedade abrir mão de parcela de seus direitos. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(3) Nathali Machado Santetti. para entregá-los ao soberano, que deveria administrá-los da melhor maneira em busca do bem comum. Os direitos fundamentais também tiveram sua evolução marcada por meio das gerações de direitos, chamadas ainda de dimensões de direitos fundamentais. Deve-se lembrar que a doutrina não é uníssona nesse tipo de classificação, existindo aqueles doutrinadores que pugnam pela existência de 4 ou 5 gerações de direitos fundamentais. No entanto, o presente estudo se restringirá apenas a análise das 3 primeiras gerações, pois sobre estas não pairam tantas dúvidas e nem são elas alvos de criticas doutrinarias. a) Direitos Fundamentais de 1ª Geração – surgem sob a influência da Revolução Francesa e também Americana e possui como característica principal a busca pela liberdade. A liberdade não poderia ser restringida sem a apresentação de fundamento válido e legal, pois desta forma se evitam as ingerências Estatais na vida privada dos cidadãos. b) Direitos Fundamentais de 2ª Geração – A conquista da liberdade almejada trouxe conseqüências que não foram desejadas pela camada menos favorecida da sociedade. A abstenção Estatal foi tão intensa que se criou uma situação de quase abandono em relação aos menos favorecidos, aumentando ainda mais o abismo social. Percebeu-se então que eram necessárias ações para o restabelecimento das igualdades. O Estado seria o único capaz de promover essas alterações, e assim, a sociedade que pregava o abstencionismo Estatal, passou a reivindicar a ação por parte deste. Os doutrinadores Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco, em seu livro “Curso de Direito Constitucional” (2007, p.222), explicam o motivo das reivindicações dos Direitos de 2ª Geração. Veja: O descaso para com os problemas sociais, que veio caracterizar o État Gendarme, associado às pressões decorrentes da industrialização em marcha, o impacto do crescimento demográfico e o agravamento das disparidades no interior da sociedade, tudo isso gerou reivindicações, impondo ao Estado, um papel ativo na realização da justiça social.. Levando em consideração a finalidade de promoção da igualdade social que tinham os direitos de 2ª geração, estes também ficaram conhecidos como direitos sociais. c) Direitos Fundamentais de 3ª Geração – Após a Revolução Industrial e as Guerras Mundiais, chegou à vez de a preocupação pairar sobre valores atinentes a coletividade. Buscou-se então a valorização de direitos que tivesse como objetivo a preservação das riquezas coletivas, tais como, por exemplo: meio ambiente, paz mundial, patrimônio histórico e cultural, autodeterminação dos povos. Tais direitos também são conhecidos como direitos de solidariedade ou direitos de fraternidade.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 91.

(4) 92. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. 3.. DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS SOCIAIS Os Direitos Fundamentais recebem este nome, pois estão ligados a condições de vida do ser humano, ou seja, tutelam situações essenciais e básicas a sobrevivência humana. Nesse sentido, a lição de José Afonso da Silva (2006, p.178). Veja: Direitos fundamentais do homem constitui a expressão mais adequada a este estudo, porque, além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretizarem garantias de uma convivência digna, livre e igual a todas as pessoas. No qualitativo fundamentais acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentais do homem no sentido de que todos, por igual, devem ser, não apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados.. É possível perceber por meio das palavras do ilustre doutrinador, a seriedade do tema e seu alto grau de importância. Verifica-se assim, que tais temas não podem estar disciplinados em documentos sem correspondente acuidade, e é por tal motivo que os direitos fundamentais estão inseridos dentre as normas constitucionais. Todas as Constituições brasileiras abordaram em seu bojo o rol dos direitos fundamentais, sendo certo que a cada novo documento modificações aconteceram. A Constituição Brasileira outorgada em outubro de 1988, também é conhecida como Constituição Cidadã, justamente por enfatizar e valorizar os direitos fundamentais. Tais normas estão disponibilizadas no texto constitucional em seu Título II, denominado: “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, que é subdividido em cinco capítulos, quais sejam: a) Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; b) Capítulo II – Dos Direitos Sociais; c) Capítulo III – Da Nacionalidade; d) Capítulo IV – Dos Direitos Políticos e; e) Capítulo V – Dos Partidos Políticos. O desenvolvimento do presente estudo se refere à Saúde, espécie de direito que se encontra inserida no Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo II – (Dos Direitos Sociais), da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), mais especificamente no seu artigo 6º, o qual dispõe que: “São direitos sociais a educação, à saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. (MORAES, 2002, p. 468, grifo nosso).. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(5) Nathali Machado Santetti. Através da análise do art. 6º da CRFB/88, depreende-se que os direitos ali relacionados são àqueles correspondentes aos direitos fundamentais de 2ª geração, quais sejam, os que exigem a atividade estatal como forma de promoção da igualdade social. Nesse sentido é o ensinamento de Alexandre de Moraes (2006, p.180): Direitos sociais são direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida dos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social, e são consagrados como fundamento do Estado democrático, pelo art. 1º, IV, da Constituição Federal.. Os direitos sociais são meio de obtenção e concretização de outros direitos fundamentais. Como se sabe, os direitos de 2ª geração possuem como característica principal a atuação/prestação estatal, são prestacionais. Os direitos prestacionais possuem uma efetivação mais complexa que os direitos abstencionistas, isso porque é muito mais simples deixar de fazer algo, do que agir para cumprir uma meta. O direito à Saúde encontra-se no rol dos direitos sociais enumerados no artigo 6º da CRFB/88, sendo também disciplinado nos artigos 193 a 232 da Constituição. O constituinte originário ainda menciona a possibilidade de o legislador infraconstitucional tratar mais detalhadamente do tema. Explicando esse tratamento entremeado do direito à Saúde, encontramos a lição de Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco (2007, p. 250): Os direitos a prestação material têm sua efetivação sujeita às condições, em cada momento, da riqueza nacional. Por isso mesmo, não seria factível que o constituinte dispusesse em minúcias, de uma só vez, sobre todos os seus aspectos. Por imposição da natureza do objeto dos direitos a prestação social, o assunto é entregue à conformação do legislador ordinário, confiando-se na sua sensibilidade às possibilidades de realização desses direitos em cada momento histórico.. Quando o direito prestacional em comento é o direito sanitário, esse cuidado faz todo o sentido. Isso por que as formas de concretização do direito à Saúde não são estanques, considerando estar ele influenciado por fatores nem sempre previsíveis em dado momento.. 4.. SAÚDE A importância do direito à Saúde é indiscutível, uma vez que este é condição sine qua non para a preservação e garantia de outros direitos de total importância ao homem como, por exemplo, a vida e a dignidade da pessoa humana.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 93.

(6) 94. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. Há muito o conceito de saúde vem deixando de se pautar no modelo biomédico (relacionado a fatores biológicos somente), passando a abranger fatores relacionados também às condições sociais, culturais, econômicas e políticas da população (COSTA, 2008). Corroborando tal entendimento, pode-se notar que a própria Organização Mundial de Saúde (Órgão integrante da Organização das Nações Unidas), conceitua Saúde como: “Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade”. Verifica-se assim que, o direito a saúde é bastante complexo, pois seu objeto (a própria saúde) não é algo estável, ao contrário, está sujeito a fatores externos dos quais muitas vezes seu titular não detêm o completo controle, como por exemplo, quando se fala em bem estar social. Há que se lembrar ainda, das situações às quais o ser humano devido a sua vida social, se expõe cotidianamente, tais como: a violência e o stress, isso sem contar a quantidade de novas doenças que a cada dia surgem, que por sua vez acabam colocando em risco o bem juridicamente tutelado (a saúde).. 5.. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DADO À MATÉRIA Em que pese os apontamentos feitos sobre o tema em questão, deve-se ressaltar que não existe na Constituição pátria um conceito expresso do que seja saúde. O assunto saúde é tratado explicitamente no texto constitucional em dois momentos distintos, quais sejam: Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais; Capítulo II – Dos Direitos Sociais (artigo 6º) e Título VIII – Da Ordem Social; Capítulo II – Da Seguridade Social, na qual é dedicada toda a Seção II – Da Saúde (artigos 196 a 200). Não se deve olvidar que devido o caráter social inerente à matéria, o assunto se correlaciona com outros temas constitucionais de igual importância, sendo assim, algumas vezes o assunto “saúde” é disciplinado implicitamente em outras normas dispersas no texto constitucional. Até a Constituição de 1988, o direito à Saúde ainda não estava inserido no rol dos direitos fundamentais. José Afonso da Silva (2006, p. 308) critica tal demora, em sua obra “Curso de Direito Constitucional Positivo”. Note-se: É espantoso como um bem extraordinariamente relevante à vida humana só agora é elevado à condição de direito fundamental do homem. É há de informar-se pelo princípio de que o direito igual à vida de todos os seres humanos significa também que, nos casos de doença, cada um tem direito a um tratamento condigno e de acor-. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(7) Nathali Machado Santetti. do com o estado atual da ciência médica, independentemente de sua situação econômica, sob pena de não ter muito valor sua consignação em normas constitucionais.. Talvez o pensamento do legislador se coadunasse com o do doutrinador supracitado. Não bastaria somente disciplinar a saúde como um direito fundamental, se não houvesse outras regras que dessem efetividade ao comando.. 5.1. O artigo 6º da Constituição Federal de 1988 O artigo 6º da CRFB/88 é o responsável pela classificação do direito à Saúde como um direito fundamental do homem, e por seu enquadramento em direito coletivo inerente a todos. Os direitos fundamentais vinculam os poderes públicos e são balizas as quais o legislador infraconstitucional deve se guiar na elaboração de normas infraconstitucionais. Na lição de Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco (2007, p. 235): A constitucionalização dos direitos fundamentais impede que sejam considerados meras autolimitações dos poderes constituídos - dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário -, passíveis de serem alterados ou suprimidas ao talante destes. Nenhum destes Poderes se confunde com o poder fundamental, que lhes é superior. Os atos dos poderes constituídos devem conformidade aos direitos fundamentais e se expõem à invalidade se os desprezarem.. Visando dar efetividade aos comandos inseridos no bojo dos direitos fundamentais o mais breve possível, sem a dependência dos órgãos legiferantes, o legislador constitucional introduziu no ordenamento jurídico o chamado “Princípio da Aplicabilidade Imediata dos Direitos Fundamentais”. Referido Princípio está inserido no Capítulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (Título II, Capítulo I da CRFB/88), no entanto, seus efeitos se irradiam a todos os direitos fundamentais. O significado deste princípio pode ser extraído da lição de André Puccinelli Júnior (2007, p. 80): [...] o principio da aplicabilidade imediata, investe os Poderes Públicos na obrigação de promover todas as condições para que os direitos fundamentais sejam reais e efetivos. Por meio dele, postula-se a conversão de uma simples e abstrata expectativa em realidade viva e amplamente fluída.. O princípio supracitado não é auto-suficiente, uma vez que a aplicabilidade se relaciona com o poder de eficiência que a norma possui. Isso é o que explica José Afonso da Silva (1999, p. 60): “[...] eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais constituem fenômenos conexos, aspectos talvez de um mesmo fenômeno, encarados sob prismas diferentes: aquela como potencialidade; esta como realizabilidade, praticidade”.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 95.

(8) 96. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. Como se percebe da leitura do artigo 6º da CRFB/88, a norma que explicita o rol dos direitos fundamentais é declaratória, e por isso não pode ser considerada autoaplicável, necessitando então do legislador infraconstitucional para torná-la eficaz, e fazer assim valer a aplicabilidade imediata conferida pelo artigo 5º, §1º da CRFB/88.. 5.2. Os artigos 196 à 200 da Constituição Federal de 1988 Os artigos 196, 197, 198, 199 e 200 da atual Constituição pátria, que tratam sobre o direito à Saúde, estão inseridos no Título VIII – Da Ordem Social, robustecendo assim a premissa de que o direito a Saúde é de fato um direito fundamental de 2ª geração. Através da leitura do artigo 196 da CRFB/88, pode-se observar que o legislador reforçou uma característica conferida aos direitos fundamentais, qual seja a sua titularidade universal. Determinou ainda que, o Estado é quem irá garantir o direito à Saúde. Exaltou ainda, o direito fundamental individual à igualdade, ao disciplinar que o acesso aos serviços de promoção, proteção e recuperação deve ser “universal e igualitário”. O artigo 197 da CRFB/88, proclama como sendo de “relevância pública as ações e serviços de saúde”, conferindo ao Poder Público a competência para criação de leis que regulamentem, fiscalizem e controlem tais ações, podendo tal controle ser realizado de forma direta ou por ações de terceiros, pessoas físicas ou jurídicas. O doutrinador Alexandre de Moraes (2002, p.1.910), correlaciona tal dispositivo constitucional com as atuações governamentais de vigilância sanitária. De forma a tornar o direito à Saúde acessível a toda população, ficou instituído no artigo 198 da CRFB/88, o Sistema Único da Saúde, também conhecido pela sigla S.U.S. O S.U.S nada mais é do que um sistema público de saúde, acessível a toda a sociedade de forma gratuita. No citado artigo é que se encontram as diretrizes norteadoras do Sistema Único de Saúde. Sendo que no artigo 200 da CRFB/88, encontram-se as competências do referido Sistema Público de Saúde (S.U.S). O tratamento dado à matéria (saúde) não é competência exclusiva do Estado, uma vez que a iniciativa privada também poderá atuar na área, desde que respeite os limites impostos pelo constituinte no artigo 199 da CRFB/88. Em que pese a aturização dada ao setor privado, proibiu-se que os usuários pagantes/conveniados tivessem preferências no tocante a transplantes e transfusões de sangue, ou ainda, utilização de ma-. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(9) Nathali Machado Santetti. terial humano. Fez-se assim prevalecer o direito a dignidade da pessoa humana e o princípio da igualdade, sobre o poder econômico da minoria.. 6.. A SAÚDE E AS POLÍTICAS PÚBLICAS A saúde é preocupação de todas as nações. Os países desenvolvidos procuram elevá-la a um patamar de excelência, enquanto que os países em desenvolvimento buscam seu aprimoramento, de forma que a saúde deixe de ser um privilégio que poucos podem desfrutar. A forma com que o direito à Saúde é tratado na CRFB/88 significa grande evolução social. Até a promulgação do referido diploma constitucional, a saúde era privilégio daqueles que poderiam pagar por sua manutenção, ou então daqueles que contribuíam para o custeamento da previdência. Tal momento histórico é relembrado por Luis Roberto Barroso (2007, p.41), no artigo “Da falta de efetividade à judicialização excessiva: direito à saúde, fornecimento de medicamentos e parâmetros para a atuação judicial”: [...] Somente a partir da década de 30, há a estruturação básica do sistema público de saúde, que passa a realizar também ações curativas. É criado o Ministério da Educação e Saúde Pública. Criam-se os Institutos de Previdência, os conhecidos IAPs, que ofereciam serviços de saúde de caráter curativo. Alguns destes IAPs possuíam, inclusive, hospitais próprios. Tais serviços, contudo, estavam limitados à categoria de profissionais ligada ao respectivo Instituto. A saúde pública não era universalizada em sua dimensão curativa, restringindo-se a beneficiar trabalhadores que contribuíam para os institutos de previdência. Ao longo do regime militar, os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) foram unificados, com a criação do INPS – Instituto Nacional de Previdência Social. Vinculado ao INPS, foram criados os Serviço de Assistência Médica e Domiciliar de Urgência e a Superintendência dos Serviços de Reabilitação da Previdência Social. Todo trabalhador urbano com carteira assinada era contribuinte e beneficiário do novo sistema, tendo direito a atendimento na rede pública de saúde. No entanto, grande contingente da população brasileira, que não integrava o mercado de trabalho formal, continuava excluído do direito à saúde, ainda dependendo, como ocorria no século XIX, da caridade pública.. Não obstante o atual comprometimento constitucional com a matéria sabe-se que a sua concretização não é tão simples e fácil como faz parecer à leitura dos artigos constitucionais. O tema envolve questões políticas, sociais e orçamentárias, que muitas vezes impedem a efetivação do direito á saúde e à inviolabilidade do direito á vida. No mais, vale recordar que a jurisprudência, já conferiu plena eficácia ao Direitos Fundamental à Saúde, não sendo válido o argumento de que se trata de uma norma programática de difícil efetividade. A elevação do direito à Saúde a categoria de direito fundamental, aliado a criação de um Sistema de Saúde Público e Gratuito (S.U.S), colaborou para a diminuição. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 97.

(10) 98. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. das desigualdades sociais que envolviam a população. No entanto, atualmente as necessidades superam o simples atendimento médico, há obrigações prévias e complementares, tais como: ações preventivas e não somente curativas; fornecimento de medicamentos, vagas hospitalares e ações médicas, que faltam serem implementadas de maneira eficaz. É incompatível com a noção de Estado Democrático de Direito que prima pela valorização da dignidade da pessoa humana, notícias do seguinte espécie: MPE acionado para fiscalizar superlotação na Santa Casa (LOPES, 2008); Em Brasil (2008a) PA: 63 bebês morrem na Santa Casa em 38 dias1; e Homem morre por falta de atendimento médico 2 (BRASIL, 2008b). Verifica-se assim que, os problemas concernentes à saúde pública não se restringem à apenas uma região do país, mas são de índole nacional. Ressalte-se que, apesar da existência de um Sistema Único de Saúde (S.U.S) em território nacional, as ações realizadas por tal ente são regionalizada e descentralizadas. Sendo assim, cada região escolhe a forma de como será organizado o seu Sistema Único de Saúde, e como serão aplicados os recursos destinados ao órgão, levando-nos a crer que a má administração do sistema é geral.. 6.1. Políticas Públicas e Políticas Públicas Sanitárias Em que pese a CRFB/88 proclamar a igualdade, sem distinção de qualquer natureza (art. 5º, “caput”), é sabido que no campo social tal condição não se verifica. Em países que caminham para o desenvolvimento, a concentração de renda nas mãos da minoria acaba por acentuar ainda mais as desigualdades. Diante de tal cenário, cabe aos poderes públicos providenciar a equiparação das condições de vida dos cidadãos, de forma a diminuir tal desproporção, por meio da realização dos direitos à prestação material, ou seja, por meio dos direitos sociais. Nesse sentido Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco (2007, p.250): Os direitos a prestação material, como visto, conectam-se ao propósito de atenuar desigualdades fáticas de oportunidades. Têm que ver, assim, com a distribuição de riquezas na sociedade. São direitos dependentes da existência de uma dada situação econômica favorável à sua efetivação. Os direitos, aqui, submetem-se ao natural condicionante de que não se pode conceder o que não se possui.. 1 2. Noticia referente à cidade de Balem – Pará Notícia referente à cidade de São Luís – Maranhão. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(11) Nathali Machado Santetti. Os Poderes Públicos se utilizam das políticas públicas como meio de efetivar aos direitos prestacionais, nivelando as condições sociais. São as Políticas Públicas que norteiam as ações Estatais. O Conceito de “Políticas Públicas” utilizado por Marcelo Figueiredo (2007, p. 38) explica claramente a correlação entre tais ações e os direitos fundamentais. Veja: As políticas públicas são um conjunto heterogêneo de medidas e decisões tomadas por todos aqueles obrigados pelo Direito a atender ou realizar um fim ou uma meta consoante com o interesse público. Ou ainda um programa de ação que tem por objetivo realizar um fim constitucional determinado. As políticas públicas são mecanismos imprescindíveis à fruição dos direitos fundamentais, inclusive os sociais e culturais.. A elaboração das Políticas Públicas é responsabilidade dos representantes políticos eleitos pelo povo, ou seja, do Poder Executivo e Legislativo. As Políticas Públicas se realizam por meio de decisões governamentais, conforme explicação de Regis Fernandes de Oliveira e Estevão Horvath (2003, p.83). A decisão de gastar é, fundamentalmente, uma decisão política. O administrador elabora um plano de ação, descreve-o no orçamento, aponta os meios disponíveis para seu atendimento e efetua gastos. A decisão política já vem inserta no documento solene de previsão de despesas. Dependo das convicções políticas, religiosas, sociais, ideológicas, o governante elabora seu plano de gastos. Daí a variação que pode existir de governo para governo, inclusive diante das necessidades emergentes. As opções podem variar: hospital, maternidade, posto de puericultura, escolas, rodovias, aquisição de veículos, contratação de pessoal etc.. Percebe-se assim, a importância das decisões dos governantes quando da elaboração das políticas públicas, principalmente quando se trata de direitos prestacionais que são meios de concretização de outros direitos fundamentais, como por exemplo, a saúde. As políticas públicas sanitárias encontram-se elencadas no art. 196 da CRFB/88, sendo elas: a promoção, a proteção, a recuperação, o acesso universal e igualitário à saúde. A promoção e a proteção estão ligadas à conservação ou a melhoria de uma condição já existente (o estado saudável), e concretizam-se através de ações preventivas. A promoção e proteção da saúde estão ligadas à conservação ou melhoria de uma condição que já existe, ou seja, do estado saudável. Desta forma, é dado enfoque às ações preventivas, que são realizadas de várias formas, dentre estas as mais utilizadas são: campanhas publicitárias veiculadas por meio dos meios de comunicação (rádio, televisão e também Internet); distribuição de material informativo, tais como panfletos,. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 99.

(12) 100. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. fôlderes, cartazes e cartilhas e realização de eventos ligados à saúde e destinados a população, tais como amostras e palestras. A recuperação da saúde relaciona-se ao restabelecimento/ restauração de uma condição que foi modificada (saúde → doença). Sendo assim, a condição normal de uma pessoa é a de “saudável”, quando o indivíduo sofre alterações no seu estado de bem estar, ações devem ser realizadas para que haja a volta ao status quo ante, ou seja, a saúde do individuo. As políticas públicas sanitárias relacionadas à recuperação da saúde, são as mais difíceis de concretizarem, pois são as que mais se utilizam de verbas públicas. Quando se fala em recuperação de um paciente, indiretamente estamos falando em estruturação de hospitais para um atendimento digno, contratação de mão de obra qualificada e especializada, capacitação de profissionais e disponibilidade de medicamentos para tratamento dos adoentados.. 7.. A ATUAÇÃO DO JUDICIÁRIO NA CONSOLIDAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL A SAÚDE A falta de efetividade na concretização do direito à Saúde acaba resultando em diversas demandas judiciais, as quais possuem pedidos que oscilam entre o fornecimento de fraldas descartáveis até cirurgias cujo procedimento deverá ser realizado no exterior, ou então, próteses modernas e de alto custo. Ocorre que, tais ações são mais complexa dos que as demandas judiciais comuns, uma vez que nestas contendas estão envolvidos direta ou indiretamente os três poderes públicos (executivo, legislativo e judiciário) e também a coletividade.. 7.1. Tripartição dos Poderes O primeiro tema a ser debatido quando do estudo da atuação do judiciário na consolidação do direito à Saúde é aquele referente à Tripartição dos Poderes Estatais. Isso por que a atuação do Judiciário nestes casos em específico, muitas vezes é considerada uma ingerência de competência, pois as sentenças proferidas por seus órgãos em sua grande parte se relacionam com atos que demandam investimento orçamentário e políticas públicas. Inicialmente deve-se ter em mente que o Poder é uno e indivisível. No entanto, buscando uma melhor maneira de organização estatal surgiu a idéia de divisão in-. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(13) Nathali Machado Santetti. terna dos poderes inerente ao Estado Democrático. Segundo Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco (2007, p. 145) o responsável pelo atual conceito de tripartição dos poderes foi Montesquieu, que em seu livro “O Espírito das Leis”, ponderou que: ”Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos”. Verifica-se assim, que a tripartição dos poderes seria uma forma de organização do Estado, por meio da competência especifica, independência orgânica entre os poderes. Os poderes são independentes e harmônicos entre si, significando que um poder não é subordinado ao outro, mas que deverá existir harmonia e cooperação entre eles. Isso por que, a independência de tais poderes não é absoluta, sendo que um Poder poderá exercer certo “controle moderado” sobre o outro, garantindo assim que cada qual não viesse a extrapolar as suas competências - é o que se chama de sistema de freios e contrapesos. Dalmo de Abreu Dallari (1991, p. 184-185) explica de forma detalhada a teoria dos freios e contrapesos: Segundo essa teoria os atos que o Estado pratica, podem ser de duas espécies: ou são atos gerais ou são especiais. Os atos gerais, que só podem ser praticados pelo poder legislativo, constituem-se na emissão de regras gerais e abstratas, não se sabendo, no momento de serem emitidas, a quem elas irão atingir. Dessa forma, o poder legislativo, que só pratica atos gerais, não atua concretamente na vida social, não tendo meios para combater abusos de poder nem para beneficiar ou prejudicar uma pessoa ou a um grupo em particular. Só depois de emitida a norma geral é que se abre a possibilidade de atuação do poder executivo, por meio dos atos especiais. O executivo dispõe de meios concretos para agir, mas esta igualmente impossibilitado de atuar discricionariamente, por que todos os seus atos estão limitados pelos atos gerais praticados pelo legislativo. E se houver exorbitância de qualquer dos poderes surge a ação fiscalizadora do poder judiciário, obrigando cada um a permanecer nos limites de sua respectiva esfera de competência. (grifo nosso). Verifica-se que, não há uma independência absoluta, nem tampouco uma invasão de competências, mas sim um controle dos atos do Estado.. 7.2. Os Princípios do Mínimo existencial e da Reserva do Possível Os direitos de uma forma geral demandam investimentos públicos. No entanto, quando se fala em direitos prestacionais, como é o caso do direito à Saúde, tais investimentos tomam proporções gigantescas. De forma a justificar a impossibilidade de atender de forma adequada a todos os direitos sociais arrolados no artigo 6° da CRFB/88 (educação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade,. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 101.

(14) 102. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. à infância e assistência aos desamparados), o Estado por vezes utiliza-se dos Princípios do Mínimo Existencial e da Reserva do Possível. O Princípio do Mínimo Existencial tem origem alemã, também é conhecido como “núcleo essencial” ou “mínimo vital”. Diante de tais denominações, pode-se conceituar referido princípio como: aquela parcela do direito extremamente necessário para a condição vital da pessoa humana. Nesse sentido é o ensinamento de Andréas Krell3: A corte constitucional alemã extraiu o direito a um “mínimo de existência” do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, I, da Lei Fundamental) e do direito à vida e a integridade física, mediante interpretação sistemática junto ao princípio do Estado Social (art.20, I, LF). Assim, a Corte determinou um aumento expressivo do valor da ‘ajuda social’ (Sozialhilfe), valor mínimo que o Estado está obrigado a pagar aos cidadãos carentes. Nessa linha, a sua jurisprudência aceita a existência de um verdadeiro Direito Fundamental a um “mínimo vital”.. Sendo assim, o Estado estaria obrigado a fornecer aos seus cidadãos somente aquele elemento sem o qual a condição da vida humana estaria ameaçada, e desta forma, apenas nestes casos é que a atuação judicial seria válida e legítima. Verifica-se então que, caso o parâmetro mínimo já tenha sido atingido, não há que se falar em atuação judicial, uma vez que o Estado já “fez sua parte”. O referido princípio não poderá ser utilizado quando o direito prestacional judicializado for o direito à Saúde, isso por que, na maioria dos casos que chegam ao poder judiciário, a prestação do direito à Saúde está ligado também ao direito à vida (como por exemplo, concessão de medicamento sem o qual a pessoa não sobreviveria). No entanto, a aplicação do mínimo existencial é pertinente naqueles casos que se exorbitam a esfera da razoabilidade, como por exemplo: concessão de próteses de altíssimo custo, sob a alegação de melhoria da condição de vida. Aqueles que buscam o resguardo da própria vida através da implementação do direito à Saúde possuem preferência na alocação dos recursos públicos, a frente daqueles que buscam apenas a melhoria de uma condição já constatada. O que deve existir então é um bom senso do julgador ao analisar cada caso em concreto. Isso por que, o Estado também não deverá ser considerado um segurador universal das desventuras sociais.. 3 KRELL, Andréas. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: os (des)caminhos de um direito constitucional comparado. Apud Luciana Moessa de Souza in “Reserva do possível x Mínimo Existencial: O controle de constitucionalidade em matéria financeira e orçamentária como instrumento de realização dos direitos fundamentais, disponível em: <http://conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/luciane_moessa_de_souza2.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2008.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(15) Nathali Machado Santetti. O Princípio da Reserva do Possível também possui origem alemã. Tal princípio está intimamente ligado às questões orçamentárias e de escolha dos investimentos de recursos públicos. Nesse sentido, defende-se que as necessidades são ilimitadas enquanto que os recursos financeiros serão sempre limitados, e desta forma as escolhas acabam por prejudicar a efetivação de todos os direitos de cunho prestacional, inclusive o direito à Saúde. Explicando melhor o assunto, Sérgio de Oliveira Netto4: A teoria do acunhado princípio da reserva do possível, é cediço, tem como berço as decisões proferidas pela Corte Constitucional Federal da Alemanha. Pelas quais se sustentou que as limitações de ordem econômica podem comprometer sobremaneira a implementação dos ditos direitos sociais. Ficando a satisfação destes direitos, assim, na dependência de condições materiais – especialmente econômicas – que permitam sua atendibilidade.. Não há que se duvidar sobre a necessidade de alocação de recursos para o cumprimento dos direitos prestacionais, da mesma forma, não há que de olvidar que existem direitos e direitos que devem ser concretizados, e desta forma, alguns merecem maior atenção que outros, como é o caso do direito à Saúde. O exposto serve para dizer que tendo em vista a escassez de recursos, os administradores destas verbas devem priorizar o atendimento de um direito “maior” em detrimento de um direito “menor”, a construção de um hospital por vezes é mais necessária que a construção de uma praça para o lazer. A maioria das ações judicial que visam à concretização de um direito fundamental social refere-se ao direito à Saúde. Tal fato ocorre porque os demais direitos fundamentais sociais são eminentemente de cunho coletivo, enquanto que o direito á saúde, no desenvolvimento da sociedade passou a ser considerado além de um direito coletivo, também um direito subjetivo, ou seja, que pode ser tutelado individualmente Desta forma, as demandas individuais por vezes, trazem a baila pedidos que envolvem um dispêndio de recursos muito grande, sendo que o deferimento destes pedidos, pode influenciar indiretamente a implementação de outros direitos sociais, de titularidade de toda a sociedade. Operar-se-ia então, um negativo efeito dominó na sociedade, que acabaria por sofrer com o resultado de uma decisão judicial. Sendo assim, o princípio da reserva do possível serviria como um balizador em casos que o deferimento do pedido, pudesse vir a repercutir na sociedade em geral.. 4 NETTO, Sérgio de Oliveira. O princípio da reserva do possível e a eficácia das decisões judiciais. Disponível em: <http://www.escola.agu.gov.br/revista/Ano_V_agosto_2005/sergio_principiodareserva.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2008.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 103.

(16) 104. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. 7.3. O Judiciário como garantidor do Direito à Saúde Com base no estudo realizado até o momento, há subsídios que conferem legitimidade à atuação do judiciário, quando atua de forma a concretizar o direito à Saúde. No entanto, a implementação de tal direito deve estar relacionada à manutenção da vida humana, não sendo adequadas decisões que visem tão somente à melhoria, ou o aperfeiçoamento de uma condição já existente. Não obstante o princípio da tripartição dos poderes existir como garantia da à liberdade individual em detrimento da atuação onipotente dos governantes, a atuação do Judiciário em casos que envolvam escolhas políticas em favor da efetivação do direito à Saúde, não deve ser considerada ingerência, tampouco invasão de competência funcional. Outro ponto que motiva o entendimento favorável à atuação judicial é a importância do direito a ser assegurado pela decisão jurisdicional. A saúde é um direito fundamental expresso na CRFB/88 em seu artigo 6º. Ainda no referido diploma, especificamente nos artigos 196 a 200, se encontram as regras por meio das quais se almejam a sua efetivação. O direito à Saúde pode e deve ser considerado tão importante quanto o direito à vida, e por esse motivo os meios adotados para a sua implementação devem ser os melhores possíveis. A atuação do judiciário nos casos de garantia a efetividade do direito à Saúde não se caracteriza como uma ingerência, uma vez que não é um capricho daqueles que compõe referido poder, muito pelo contrário, a atuação judiciária é extremamente necessária à persecução de um fim constitucional, que é a garantia do direito à Saúde. Não se deve olvidar que é competência dos poderes legislativo e executivo, a implementação das políticas públicas. No entanto, se estes não agirem de forma a implementar tais políticas e assim garantir a efetividade do direito à Saúde, a inércia destes poderes estaria protegida pelo princípio da tripartição dos poderes. Com certeza, não foi essa a intenção do legislador constitucional. Ademais, compete ao judiciário a solução de conflitos por meio da aplicação do direito ao caso em concreto, o que autoriza o Poder Judiciário emitir decisões que envolvam a alocação de recursos, uma vez que nos casos relacionados à saúde, o bem jurídico tutelado é também a vida humana.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(17) Nathali Machado Santetti. Deve-se ter em mente, que a atuação do judiciário será sempre alvo de críticas, ainda mais quando tal atuação é realizada no campo de um outro poder estatal. No entanto, não se pode esquecer que se as políticas públicas fossem realizadas adequadamente, não haveria a necessidade da atividade judicial. Há ainda outras críticas proferidas em desfavor da atuação do judiciário, as quais merecem pequenos comentários, tais como: a) o fato de que os membros do poder judiciário não conhecem a real situação econômica governamental – tal fato poderia ser modificado, caso houvesse uma maior coordenação na atuação dos poderes legislativos, executivo e o judiciário. A falta de transparência e os sucessivos escândalos que envolvem a política brasileira acabam por desacreditar os entes políticos, e fazem com que a sociedade se socorra do poder judiciário; b) falta de conhecimento técnico do julgador sobre cada caso em concreto envolvendo a questão saúde – Não há como conceber que o julgador detenha conhecimentos tão extravagantes ao meio judicial. Ademais, os próprios entes políticos (executivo e legislativo) não possuem conhecimento técnico de cada caso sanitário, o que estes possuem é uma visão da sociedade, que não é diferente da visão do magistrado como membro da comunidade. Não obstante a presente defesa em prol da atuação judiciária em casos que envolvam o direito à Saúde, deve-se ter em mente que cabe o julgador a análise de cada caso em concreto, devendo este ter serenidade ao proferir suas decisões. Isso por que, muitas vezes as decisões levam em conta o direito de uma única pessoa em detrimento da coletividade, ou então, os meios não são proporcionais aos fins determinados, acabando assim por criar situação de injustiça, quando a idéia seria justamente a de promover a justiça. Fica ainda, a indicação de alguns julgados do Supremo Tribunal Federal, relacionados à matéria abordada e que serviram de base para a elaboração do presente estudo: * Argüição de Preceito Fundamental n.º 45 (BRASIL, 2004) – Relator Ministro Celso de Melo - Atuação do Judiciário nas concretização das Políticas Públicas: Em que pese o presente julgado não estar diretamente relacionado ao direito fundamental social da saúde, dele podem ser extraídos fundamentos que corroboram o entendimento favorável à atuação do Judiciário em sede de Políticas Públicas. Importante frisar também, a colocação que é feita quanto à aplicação princípio da reserva do possível (pugnando pelo afastamento de tal alegação), quando o direito a ser tutelado estiver relacionado com um direito fundamental previsto na Constituição.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 105.

(18) 106. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. * Agravo Regimental no Recurso Extraordinário n.º 393.175-0 (BRASIL, 2006) – Relator Ministro Celso de Melo – Fornecimento de Medicamentos: Na mesma linha de entendimento esboçado no presente trabalho, o julgado reforça a ligação existente entre o direito à Saúde e a vida humana, frisando a necessidade de se preservar a vida, através do fornecimento de medicamento solicitado. Frisa ainda, que não há bem maior que a vida, e que os direitos à vida e a saúde, são superiores aos interesses financeiros. * Agravo Regimental no Recurso Extraordinário n.º 271.286 (BRASIL, 2000) – Relator Ministro Celso de Melo – Fornecimento de Medicamentos e aplicabilidade imediata das normas definidoras de Direitos Fundamentais: O julgado confere legitimidade às ações que buscam implementação do direito à Saúde de forma individual, e ainda garante a plena eficácia do referido direito. O que deve ser sopesado não é “norma programática” em si, mas o fundamento para sua implementação, qual seja, a vida e a saúde humana * Recurso Extraordinário Extraordinário n.º 498. 567 (BRASIL, 2006) – Decisão Monocrática do Ministro Cezar Peluzo (não atinge o mérito da questão, uma vez que o meio utilizado pelo autor não foi adequado ao fim pretendido, pois não cabe Recurso Extraordinário para reexame de prova (Súmula n.º 279/STF). No entanto, a presente decisão menciona os fatos que levaram o Tribunal a quo a negar o pedido do autor) - O direito à Saúde deve ser preservado, porém os meios devem ser adequados e não podem caracterizar-se como simples “tentativa” ou então para a melhoria de uma condição que já existe e que pode esperar, uma vez que o desperdício do dinheiro investido nestes casos, pode significar a frustração de uma tutela mais urgente e ligada a sobrevivência de outro cidadão.. 8.. CONSIDERAÇÕES FINAIS A evolução dos direitos fundamentais contribuiu significativamente para a melhoria da condição de vida das pessoas menos favorecidas. Isso por que foi por meio desse processo evolutivo, que se chegou à conclusão de que para a preservação da dignidade da pessoa humana, alguns direitos devem ser fortemente protegidos, como é o caso da saúde. Apesar de a saúde ser um direito previsto constitucionalmente no rol dos Direitos Fundamentais, a sua implementação não é das mais fáceis. Tal fato ocorre por-. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(19) Nathali Machado Santetti. que a sua efetividade depende de ações de terceiros, mais precisamente do Estado, que atua por meio de seus administradores. As políticas públicas e orçamentárias são fatores decisivos à consecução do fim almejado pelo legislador constitucional, que é à saúde da população. No entanto, a má administração dos recursos públicos ou por que não dizer, a falta de vontade dos administradores acaba por prejudicar a prática de ações que visam à garantia do referido direito fundamental social. A atuação do Judiciário na implementação do direito à Saúde tem sido alvo de críticas, grande parte destas defendendo que referida atuação é uma ingerência de competência. Após a análise dos elementos constantes no presente trabalho, se chega à conclusão que tais alegações não devem prosperar. A atuação do judiciário é legitima, e se coaduna com o fim almejado pelo constituinte originário, qual seja: a preservação da dignidade da pessoa humana e principalmente, a preservação da vida. A saúde é direito fundamental, de cunho prestacional, que pode ser exigida subjetivamente e dotada de aplicabilidade imediata, o que por si serve de base para o seu reconhecimento por parte do judiciário. Corroborando a autenticidade das referidas ações está o fato de que a saúde é condição ao exercício da vida humana, e como tal, deve ser satisfatoriamente protegido. Ademais, deve-se ter em mente que a atuação do judiciário é subsidiária às ações dos Poderes Legislativo e Executivo. O Judiciário somente atuará quando os órgãos competentes não o fizerem, ou o fizerem de maneira insatisfatória ao fim determinado na Constituição Federal de 1988.. REFERÊNCIAS BARROSO, Luís Roberto. Da falta de efetividade à judicialização excessiva: direito à saúde, fornecimento de medicamentos e parâmetros para a atuação judicial. Interesse Público – IP Revista Bimestral de Direito Público, Belo Horizonte, ano 9, n. 46, p. 41, nov./dez. 2007. BRASIL. PA: 63 bebês morrem na Santa Casa em 38 dias. Journal Tribuna do Norte. Natal, 8 jul. 2008. Disponível em: <http://tribunadonorte.com.br/unoticia.php?id=80562>. Acesso em: 10 jul. 2008. ______. Homem morre por falta de atendimento médico. Journal O Estado do Maranhão. Maranhão, 30 jul. 2008. Disponível em: <http://imirante.globo.com/plantaoi/plantaoi.asp?codigo1=171979>. Acesso em: 30 jul. 2008. ______. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar em Descumprimento de Preceito Fundamental. ADPF N.º 45 MC/DF. Partido da Social Democracia Brasileira –PSDB. Presidente da República. Relator: Ministro Celso de Melo. DF. Data de Julgamento: 04/05/2004. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1="mínimo%20exist encial"%20NAO%20S.PRES.&base=baseMonocraticas >. Acesso em: 10 jul. 2008.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 107.

(20) 108. O direito fundamental à Saúde e a atuação do judiciàrio em sua concretização. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental em Recurso Extraordinário. REAgR 393175 / RS - RIO GRANDE DO SUL. Estado do Rio Grande do Sul. Luiz Marcelo Dias e Outros . Relator: Ministro Celso de Melo. DF. Data de Julgamento: 12/12/2006. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 15 jul. 2008. ______. Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental em Recurso Extraordinário. REAgR 271.286 / RS - RIO GRANDE DO SUL. Município de Porto Alegre. Dina Rosa Vieira . Relator: Ministro Celso de Melo. DF. Data de Julgamento: 12/09/2000. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 15 jul. 2008. ______. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário. RE 498567 / DF - DISTRITO FEDERAL. Fernando Henrique Cunha de Deus. União . Relator: Ministro César Peluzo. DF. Data de Julgamento: 27/07/2006. Disponível em: < http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 15 jul. 2008. COSTA, Alexandre Bernadino et al. O direito achado na rua: introdução critica ao direito à saúde - Brasília: CEAD/UNB, 2008. DALARRI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria Geral do Estado. 16 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1991. FIGUEIREDO, Marcelo. O controle das Políticas Públicas pelo Poder Judiciário no Brasil – Uma visão geral. Interesse Público–IP Revista Bimestral de Direito Público, Belo Horizonte, ano 9, n.44, p. 38, jul./ago. 2007. KRELL, Andréas. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: os (des)caminhos de um direito constitucional comparado. In: SOUZA, Luciana Moessa de. Reserva do possível x Mínimo Existencial: O controle de constitucionalidade em matéria financeira e orçamentária como instrumento de realização dos direitos fundamentais. Disponível em: <http://conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/luciane_moessa_de_souza2.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2008. LOPES, Jaqueline. MPE acionado para fiscalizar superlotação na Santa Casa. Midiamax – O Jornal Eletrônico de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, 23 jul. 2008. Disponível em: <http://www.midiamax.com/view.php?mat_id=335862>. Acesso em: 25 jul. 2008. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. MONTESQUIEU, Barão de. Do Espírito das Leis. In: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 180. ______. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. São Paulo: Altas S.A., 2002. NETTO, Sérgio de Oliveira. O princípio da reserva do possível e a eficácia das decisões judiciais. Estudos jurídicos. Revista da Procuradoria Geral da Universidade Federal Fluminense, n.3, p.103-111, 2006. Disponível em: <http://www.escola.agu.gov.br/revista/Ano_V_agosto_2005/sergio_principiodareserva.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2008. OLIVEIRA, Regis Fernandes de; HORVATH, Estevão. Manual de Direito Financeiro. 6. ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. PUCCINELLI JÚNIOR, André. A omissão legislativa inconstitucional e a responsabilidade do Estado Legislador. São Paulo: Saraiva, 2007. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109.

(21) Nathali Machado Santetti. SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1999. Nathali Machado Santetti Bacharel em Ciências Jurídicas pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB (Campo Grande–MS), ano 2006 e especialista em Direito Constitucional pela Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul - em convênio com a Rede Ensino Luiz Flávio Gomes – REDE LFG e com o Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP.. Revista de Direito • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2009 • p. 89-109. 109.

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Referências

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