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Resenha: Processos educativos com adolescentes em conflito com a lei

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Academic year: 2021

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Resenha: Processos educativos com

adolescentes em conflito com a lei

O livro organizado por Carmen Maria Craidy, Gisley Domingas Romanzini Lazzarotto e Magda Martins de Oliveira, publicado pela Editora Mediação em 2012, focaliza os processos educativos com adolescentes e, por isto mesmo, representa um contraponto importante nestes tempos em que a sociedade brasileira tem sido estimulada a desacreditar nesta possibilidade, posicionando-se pela radicalização da punição, como ocorre no movimento pelo rebaixamento da idade penal.

O livro retrata que desde a emergência da Doutrina da Proteção Integral, seguida por diversas regulações em âmbito nacional, a criança e o adolescente passaram a ser reconhecidos não mais como objetos de tutela do Estado, mas como sujeitos de direitos. Motivo de grandes debates nacionais, o adolescente que se envolve em delitos é merecedor de oportunidade, por sua condição de adolescente e, como tal, deve receber medidas socioeducativas que visem sua integração social e a garantia de seus direitos. A responsabilização quanto “às conseqüências lesivas do ato infracional” e a desaprovação desta conduta devem estar consoantes com a definição da nova Lei 12594/2012, que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE, em seu artigo 1º §2º.

Este caráter híbrido das medidas socioeducativas, nas quais se mesclam aspectos punitivos e educativos, merece ganhar espaço de experimentação para a construção de metodologias e de alternativas que permitam ao adolescente atender a lei e evoluir como pessoa em desenvolvimento. Pode-se perceber, a partir de pesquisas realizadas (GUARÁ, 2011; ZANELLA, 2011) que a implantação de projetos socioeducativos ainda está atrelada aos parâmetros legais, sem tradução em metodologias e abordagens de caráter pedagógico e social, o que constitui um desafio que exige urgente aprofundamento tanto da academia como dos órgãos técnicos de execução.

M ag io lin o e Guar á Lavínia Magiolino1

Isa Maria F. Rosa Guará2

1 Mestre e Doutora em Educação pela UNICAMP. Atualmente é professora da UNIBAN - ANHANGUERA no Programa Mestrado Profissional

Adolescente em Conflito com a Lei e membro do NEPSE- Núcleo de Estudos e Pesquisas de Socioeducação. Atua como docente, pesquisadora e assessora de programas e projetos na interface educação, psicologia social.

2 Mestre e Doutora em Serviço Social pela PUC/SP. Atualmente é professora da UNIBAN -

ANHANGUERA onde é docente do Mestrado Profissional

Adolescente em Conflito com a Lei. Atua como docente, pesquisadora e assessora de programas e projetos na interface educação, educação social, justiça e assistência social.

Autoras para correspondência

Lavínia Magiolino

E-mail: lmagiolino@hotmail.com Isa Maria F. Rosa Guará

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Tal desafio está presente de modo mais intenso na execução das medidas socioeducativas em meio aberto – como as de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) que podem favorecer um olhar interinstitucional, interdisciplinar, intersetorial, mas que precisam apostar na capacidade do adolescente em ganhar autonomia e assumir responsabilidade por sua conduta, com um acompanhamento educativo singularizado. Tais expectativas positivas dependem, contudo, das oportunidades oferecidas a ele durante o processo de cumprimento de medida.

Neste sentido, o livro Processos educativos com adolescentes em

conflito com a lei coloca-se como uma relevante contribuição teórica e

prática que reforça o caráter socioeducativo da medida ao relatar o trabalho desenvolvido a partir do ano de 1997, pela UFRGS, com adolescentes que cumprem medida socioeducativa de Prestação de Serviços à Comunidade - PSC. Ainda que isso soe estranho para alguns, a Universidade, nas palavras da pesquisadora Craidy, “cumpre seu papel à medida que, não apenas aproxima-se da realidade social e constrói conhecimento novo [...] mas, de maneira mais contundente, quando faz a opção por se engajar em temas de especial singularidade” (p.11). O programa registrado nesta publicação já atendeu mais de 1400 adolescentes, acolhendo, orientando e acompanhando os serviços executados por eles como forma de retribuição à comunidade devido ao prejuízo causado pelo ato infracional cometido.

A experiência relatada e refletida no livro expõe os caminhos de concretização da “esperança realista” como lembra Ana Paula Motta Costa no prefácio do livro (p.10); esperança que só ganha conteúdo com trabalho competente, reflexivo e contínuo, como se deu no programa descrito.

Os diferentes capítulos trazem as múltiplas vozes sobre o trabalho interdisciplinar desenvolvido na Universidade. Podemos acompanhar o relato – muitas vezes apaixonado – sobre esse trabalho pela voz daqueles que o executam. Nesse movimento, os autores apresentam as características dos adolescentes atendidos na UFRGS, as atividades realizadas e o posicionamento assumido com relação aos avanços e desafios da justiça juvenil no Rio Grande do Sul e às políticas juvenis, mostrando a interface e a complementaridade entre a psicologia, o direito e a educação na execução das medidas socioeducativas.

Na apresentação, assinada por Carmen Craidy, o programa de PPSC/UFRGS é apresentado em sua tarefa de fazer cumprir uma

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Reconhece a autora a “função estratégica da Universidade para seguir no debate e no desenvolvimento de práticas neste contexto” (p.16) em sua função de extensão, acolhendo a demanda social e produzindo conhecimento para a função educativa em contexto extraescolar. O primeiro capítulo do livro escrito por Carvalho, Fernandes e Mayer aborda a questão dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, explicita a passagem da doutrina da situação irregular à doutrina da proteção integral e aponta o desafio inerente ao processo: “a superação da dupla crise (de implementação e de interpretação) do ECA” ( p. 29) que as novas leis vêm procurando minimizar, como ocorreu com a Lei 12594/2012.

Em seguida, Flores e Oliveira apresentam o PPSC/UFRGS destacando que o programa tem entre seus objetivos os de buscar oportunizar a vivência de uma atividade positiva de trabalho e de relações humanas, além de motivar e orientar os adolescentes em PSC para que retornem, sempre que possível, para a escola. O Programa visa também gerar, na vida cotidiana da Universidade, um novo olhar sobre a problemática do adolescente autor de ato infracional, sobre a violência e sobre a exclusão social. Nesse processo, a equipe procura planejar com o adolescente seu Plano Individual de Atendimento - PIA, com destaque para um acolhimento mais humano de suas demandas e suas potencialidades. Durante todo o tempo, as atividades são acompanhadas e supervisionadas pelos setores parceiros da Universidade nas diversas áreas.

As características dos adolescentes atendidos na UFRGS apresentadas no quarto capítulo mostram um comparativo entre os períodos de 1997-2003, com dados publicados em livro anterior. Entre as características mais perceptíveis nota-se uma tendência que vem se generalizando: a de maior envolvimento dos adolescentes com posse e tráfico de drogas.

Os objetivos delineados no PPSC têm consonância com os princípios e marcos regulatórios da Doutrina da Proteção Integral e inspiram a prática socioeducativa em diversas ações que vão sendo detalhadas nos capítulos subsequentes. Cada um deles aborda um aspecto: a entrevista inicial (Oliveira); a oficina socioeducativa (Flores e Lazzarotto); o trabalho dos adolescentes e o acompanhamento nos setores da UFRGS (Vidal e Tietboehl); atenção às famílias dos adolescentes (Mello e Alves); acompanhamento e ações em rede (Bettani, Lazzarotto e Papini); acompanhamento escolar (Santana, Oliveira e Machado); uma proposta pedagógica de discussão grupal

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com adolescentes (Oliveira) e um curso de vídeo e informática (Vidal).

Estas contribuições metodológicas têm alta relevância para os que, confrontados com a realidade do atendimento, quase não dispõem de recursos e técnicas que forneçam alguma base para uma intervenção mais qualificada.

Com relação ao acompanhamento escolar e as oficinas pedagógicas – pontos que têm consistido em um verdadeiro desafio no campo – se fazem notar as estratégias diversificadas que poderiam ser classificadas como sendo de inspiração freireana, como se vê, por exemplo, num trabalho com as palavras que têm significado na vivência dos adolescentes, e no envolvimento da equipe que procura não só dialogar com a escola, mas possibilitar aos adolescentes o contato com a instituição.

Numa reflexão sobre os avanços e desafios da justiça juvenil no Rio Grande do Sul, vários autores discutem a inclusão do apoio jurídico da Faculdade de Direito que, compondo o Grupo de Assessoria a Adolescentes Selecionados pelo Sistema Penal Juvenil (G10) acabou possibilitando a criação de um grupo de extensão especializado neste tipo de público.

Na interface com a Psicologia, cuja prática é colocada em perspectiva, Lazzarotto reflete sobre as políticas juvenis e a subjetividade buscando encontrar uma nova prática, um novo fazer psicológico que se mostre aberto aos diferentes modos de subjetivação. Assim, discute as conexões entre o processo judicial e a história dos adolescentes, assumindo a “coexistência e a heterogeneidade de elementos que constituem as possibilidades de intervir” na execução das medidas socioeducativas (p.162).

A partir de relatos dos grupos realizados com familiares dos adolescentes, Petracco evidencia as necessidades e desejos das famílias que idealizam relações educativas com seus filhos e se culpam pela dificuldade de realizá-las. Em que pese isto, mostra-nos a autora que as famílias continuam a oferecer uma base importante no processo de educação dos adolescentes atendidos pelo programa. Por fim, no capítulo final, Craidy recoloca as questões centrais que estão sempre presentes na prática socioeducativa: que escola é esta? Que direito é este? e, por fim, que caminhos podemos encontrar na execução das medidas socioeducativas. Recuperando as diretrizes do atendimento socioeducativo,reafirma o caráter pedagógico da medida

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que o próprio adolescente possa entendê-la e ter acesso a uma nova oportunidade em seu projeto de vida.

O livro, mais do que um adensamento teórico sobre a questão, apresenta um panorama do programa desenvolvido na UFRGS e assinala a amplitude dos dados e perspectivas ao desenvolvimento de pesquisas que caracterizem a problemática vivida por esses adolescentes e que possibilitem avanços na construção de uma pedagogia voltada para essa problemática.

Referências

GUARÁ,Isa Maria F. Rosa. O estado do conhecimento sobre a intervenção socioeducativa em programas para adolescentes envolvidos em delitos. Relatório de Pesquisa. UNIBAN.2011

ZANELLA, Maria Nilvane . Bases teóricas da socioeducação: análise das práticas de intervenção e metodologias de atendimento do adolescente em situação de conflito com a lei. Dissertação de Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a lei- UNIBAN. 2011.

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