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Uso de cenários estratégicos para planeamento de recursos humanos em saúde : o caso dos farmacêuticos comunitários em Portugal 2010-2020

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w w w . e l s e v i e r . p t / r p s p

Artigo

original

Uso

de

cenários

estratégicos

para

planeamento

de

recursos

humanos

em

saúde:

o

caso

dos

farmacêuticos

comunitários

em

Portugal

2010-2020

João

Gregório

e

Luís

Velez

Lapão

CentroColaboradordaOrganizac¸ãoMundialdeSaúdeparaPolíticasePlaneamentodaForc¸adeTrabalhodaSaúde,UnidadedeEnsinoe Investigac¸ãodeSaúdePúblicaInternacionaleBioestatística,InstitutodeHigieneeMedicinaTropical,UniversidadeNovadeLisboa, Lisboa,Portugal

informação

sobre

o

artigo

Historialdoartigo:

Recebidoa4denovembrode2011 Aceitea10dedezembrode2012

On-linea6demarzode2013

Palavras-chave:

Planeamentorecursoshumanos dasaúde

Farmacêuticocomunitário Análisedecenários

Inovac¸ãodeservic¸osfarmacêuticos Portugal

r

e

s

u

m

o

Introduc¸ão: OplaneamentodeRecursosHumanosemSaúdeassumeespecialimportância numaenvolventeeconómicaepolíticadegrandeincertezacomoaatual.Paraos farma-cêuticos comunitários, um ambientecomumacrescente inovac¸ão tecnológicaemaior capacitac¸ãodoscidadãosemquestõesdesaúde,bemcomoafaltademédicoseareforma doscuidadosdesaúdeprimários(CSP),podeapresentarumaoportunidadeparaqueestes profissionaisalteremoseupapelnosistemadesaúde,consumandoassimamudanc¸ade paradigmaaqueaprofissãoassistedesdeosanos90.

Método:Enquantoferramentadepensamentoestratégico,aanálisedecenários prospeti-vospermiteanalisarofuturodofarmacêuticocomunitário,observandováriasalternativas. Aconstruc¸ãodoscenáriosdecorreuem3fases,as2primeirasemworkshopsdecenarizac¸ão, ondeutilizámoscomotécnicaderecolhadeinformac¸ãoatécnicadebrainstorming,euma fasefinal,ondefizemosevoluiroscenáriostemáticosdestesworkshopsparacenáriosde decisão,combasenainformac¸ãorecolhidanosworkshopsenaliteraturacientíficasobreo papeldofarmacêuticocomunitárioeosfatoresqueoinfluenciam.

Resultados: Estaanálisepermitiu-nos identificar enquantoprincipaisincertezas críticas, istoé,asqueterãomaiorinfluêncianofuturodofarmacêuticocomunitárioportuguês,o «AmbienteLegislativo»ea«CapacidadedeInovac¸ãodeServic¸os».Resolvendoestas incer-tezasnumamatriz2x2,construíram-se3cenáriosquedenominámos«Pharmacy-Mall», «e-Pharmacist»,e«Reorganizeordie».

Conclusões:Nestescenáriosficaevidentequeanecessidadedefarmacêuticoscomunitários nofuturoestarádependentedaprestac¸ãodeservic¸osfarmacêuticosparaládoprocesso dedispensademedicamentos.Estesfuturosfarmacêuticosterãodeadquirirmais compe-tênciasemáreastradicionalmenteforadoseuâmbito,taiscomocompetênciasdegestão, lideranc¸a, marketing,tecnologiasdeinformac¸ão,aptidõesparaotrabalhoem equipae técnicascomportamentaisecomunicacionais.

©2011PublicadoporElsevierEspaña,S.L.emnomedaEscolaNacionaldeSaúdePública.

Autorparacorrespondência.

Correioeletrónico:jpgregorio@ihmt.unl.pt(J.Gregório).

0870-9025/$–seefrontmatter©2011PublicadoporElsevierEspaña,S.L.emnomedaEscolaNacionaldeSaúdePública. http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2012.12.003

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rev port saúde pública.2012;30(2):125–142

Use

of

strategic

scenarios

for

health

human

resources

planning:

community

pharmacists

case

in

Portugal

2010-2020

Keywords:

Humanresourcesforhealth planning Communitypharmacists Scenarioanalysis Pharmaceuticalservices innovation Portugal

a

b

s

t

r

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c

t

Introduction: TheplanningofHumanResourcesforHealthisespeciallyimportantinan environment ofpolitical andeconomicuncertaintyasitistoday.For community phar-macistspractice,anenvironmentcharacterizedbyconstanttechnologicalinnovationand increasingempowermentofpatientsconcerninghealthissues,aswellasashortageof pri-marycarephysiciansandaPrimaryHealthCareReformthatiscurrentlytakingplace,may representanopportunitytorethinktherolethatcommunitypharmacistsmayplayinthe PortugueseHealthSystem,accomplishingtheparadigmshiftfromaproduct-centeredtoa service-centeredmodelofpractice,thattheseprofessionalsareexperiencingsincethe90s.

Method: Asatoolofstrategicthinking,prospectivescenarioanalysisallowsustoimagine andanalyzedifferentalternativesforcommunitypharmacist’sfuture.Thedesignofthe scenariostookplaceinthreestages:thefirsttwostageswerescenariobuildingworkshops, for which we invited experts from practice and academic settings where the main toolforcollectinginformationwasthebrainstormingtechnique.Inthefinalstage,webuilt thefinalscenarioswiththeinformationobtainedintheworkshopsandwiththe infor-mationcollectedinthescientificliteratureoncommunitypharmacists’roleandfactors influencingit.

Results: This analysis allowed us to identify the critical uncertainties that will have more influence in the future forPortuguese community pharmacists, the «Legislative Environment» and «Ability to innovate and develop services». Resolving these uncer-taintiesina 2x2matrix, webuiltourfinal scenariosthatwenamed «Pharmacy-Mall», «e-Pharmacist»,and«Reorganizeordie».

Conclusions: Inthesescenarios isclearthatthe futureroleofcommunitypharmacists isdependentofpharmaceuticalservicesprovision,beyondthedispensingofmedicines. Thesefuturecommunitypharmacistswillalsohavetogainnewcompetenciesinareas traditionallyoutoftheirscopesuchasmanagement,leadership,marketing,information technologies,teamworkabilitiesandbehavioralandcommunicationtechniques.

©2011PublishedbyElsevierEspaña,S.L.

Introduc¸ão

O planeamento estratégico é basilar em saúde pública, revestindo-sedeespecialimportânciaparaoplaneamentode recursoshumanos,aavaliac¸ãodaeficiência,aqualidadedos servic¸oseapesquisadesoluc¸õesinovadorasparaproblemas desaúdeedosistemadesaúde1–3.Oplaneamento estraté-gicodevidamenteutilizadoéumaimportanteferramentade gestão4.Éoprocessoquedeterminaoqueumaorganizac¸ão querser no futuro,ecomo vai fazer para chegar lá.É por isso muitomais determinista em comparac¸ãocom o pen-samentoestratégicoque,emcontrastecomoplaneamento, envolveintuic¸ãoecriatividade5.Umplanoestratégicodeve ajudarumaorganizac¸ãoalidarcomascontingênciasque sur-gemnumambientedinâmicocomoodoscuidadosdesaúde eajudaraestabelecerumposicionamentoparaosucessoa longoprazo,sendoparticularmenteútilparaasorganizac¸ões desaúdequandotêmdelidarcomasalterac¸õesnopadrãode prestac¸ãodecuidados1,6.

Osrecursoshumanosemsaúdesãoumdospilares essen-ciaisdeumsistemadesaúde,sendonestemomentoofocode atenc¸ãoparaoreforc¸odessesmesmossistemas2,7.O plane-amentoderecursoshumanosemsaúdepretendeassegurar queonúmero eotipo adequadodeprofissionaisde saúde

estãodisponíveisparaprestarotipocertodeservic¸oscoma maioreficiênciapossível6.Acrescenteimportânciadadaao papeldesempenhadopelosprofissionaisdesaúdecoloca-os numaposic¸ãodedestaquenadefinic¸ãodepolíticasdesaúde pelosdiferentesagentesdesaúdepúblicaanívelglobal2,8.

Umadasquestõesquedevesertidaemcontano planea-mentodosrecursoshumanosdasaúdeéoambientenoqual têmdeexercer.Estesprofissionaisenfrentamhojeemdiaum ambientecaracterizadoporumacrescenteinovac¸ão tecnoló-gica,comtendênciaemfocaroscuidadosdesaúdenodoente, emaiorcapacitac¸ãodoutenteemquestõesdesaúde.Nocaso particulardosfarmacêuticos,afaltaeocustomaiselevado deprofissionaismédicos,oambienteeconómicoepolíticoe apresente reformadoscuidadosde saúdeprimários(CSP), contribuiparanestemomentoexistirumaoportunidadepara reflectirsobreopapelqueofarmacêuticocomunitáriopode ter nosistemadesaúde.Vivendo-seumcontextode incer-teza,emqueédifícilfazer previsões, énecessário analisar o problema dofuturo do farmacêutico comunitário portu-guêscombasenumavisãoestratégica,permitindoobservar váriasalternativas,mesmoasqueàpartidaparec¸ammenos prováveis.Emtaiscondic¸õespode-serecorreraométodode «AnálisedeCenáriosProspetivos», umadasferramentasao dispor dospolicy-makers nafasedepensamento estratégico aquando da elaborac¸ão do planeamento a longo-prazo. A

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análisede cenários éuma ferramenta de grandeutilidade naplanificac¸ãoderecursoshumanos,utilizandoummétodo misto,queenquadratécnicasqualitativasequantitativas.

Oobjetivoda análisedecenáriosnãoépreverou escre-verofuturo,massimmelhoraracompreensãodoambiente noqualaorganizac¸ãoestáinseridaeusaressacompreensão paraapoiaratomadadedecisão,tantonopresentecomono futuro5,9,10.Aorganizac¸ãopodedeterminarosobjetivosque queralcanc¸ar,usandoacombinac¸ãodoscenáriosparaapoiar arealizac¸ãodoplanoestratégico,antecipandocondicionantes eobtendopistassobreoseuposicionamento9.Esta metodolo-giatemsidousadaparaapesquisadefuturosdeorganizac¸ões emesmodegruposprofissionaiscomoosfarmacêuticos11,12. Antesdeiniciarmosautilizac¸ãodestemétodo,recolhemos algumasquestõesrelevantessobreaatividadedestes profis-sionais,comooapoioaodesenvolvimentodoscenários.Por exemplo,senadasealterar,haveráaindaanecessidadedeum farmacêuticocomunitárionofuturo?;serápossívelencontrar outropapelparaofarmacêuticodentrodosistemadesaúde?; dequeformapodeofarmacêuticoserintegradoaparticipar maisnarededosCSP?;oquepodeaconteceraumgrande número dejovens profissionais qualificados,nummercado cadavezmaissaturado?

Paraconferir maior objetividadea esteprocesso, defini-mos como nossos objetivos: analisar a evoluc¸ão do futuro papeldofarmacêuticocomunitárioemPortugal,mediantea elaborac¸ãode3cenáriosalternativos,tendoemcontaas possi-bilidadesdeparticipac¸ãodofuturofarmacêuticocomunitário dentrodosistemadesaúdeemPortugal,sobretudodentroda rededeCSP;identificarasforc¸asmotrizesdemudanc¸ae defi-nirindicadoresqueassinalemastendênciasfuturas,afimde ajudaraoprocessodetomadadedecisãoparaoplaneamento derecursoshumanos.

Evoluc¸ãodopapeldofarmacêuticocomunitário nosistemadesaúde

Noinício do século xx, o farmacêuticocomunitário ou de oficina, era responsável pela disponibilizac¸ão, preparac¸ão eavaliac¸ãodefármacosqueeramutilizadosnotratamento dediversasenfermidades.Asuaprincipalobrigac¸ãoera ava-liar seos produtos que vendia eram puros e devidamente preparados,emboraoaconselhamentosobremedicamentos equestõesdesaúdejáfosseumaatividadeexpressiva.Este papeldepreparadoreavaliadordefármacoscomec¸oua desa-parecer, sobretudo nos países mais industrializados, entre 1930e197013,comadiminuic¸ãodanecessidadedepreparac¸ão demedicamentos magistrais,à medidaque cada vezmais formasfarmacêuticasiamsendoproduzidasindustrialmente. Para acompanhar a inovac¸ão e o desenvolvimento das novas tecnologias ocorreram, nestas últimas 4 décadas, mudanc¸as de práticas nas farmácias, afastando-se estas gradualmentedoseuobjetivooriginaldeapenasprovidenciar medicamentosàpopulac¸ão,passandotambémaestarmais atentasaodoente,comprestac¸ãodecuidadosespecializados ecomdisponibilizac¸ãodeinformac¸ão14.Aatenc¸ãocentrada nodoenteresultounapromulgac¸ãodosprincípiosdaprática clínica, servic¸os de informac¸ão e dosservic¸os farmacêuti-cosenquanto novoparadigmada prática farmacêutica14,15. Estes traduzem-se em valor para os profissionais mas

também para o sistema de saúde,não só pelaspotenciais poupanc¸asquegerammastambémpelopotencialque apre-sentamemtermos demelhoriada eficiênciadosistemade saúde16,17.Paraalémdadispensadeprodutosfarmacêuticos, os servic¸os farmacêuticos podem incluir a informac¸ão, a educac¸ão eacomunicac¸ão parapromoverasaúdepública, a disponibilizac¸ão de informac¸ão sobre medicamentos e aconselhamento,osservic¸osregulamentareseeducac¸ãoea formac¸ãodeequipas18.Nocontextodafarmáciacomunitária, osservic¸osfarmacêuticostambémpassaramaincluiroutro tipodeservic¸os,taiscomoasmedic¸õesdeparâmetros bioquí-micos(glicemia,uricemia,colesterolemia,etc.),asmedic¸ões de tensão arterial, a determinac¸ão de índice de massa corporal,osprogramasdegestãodedoenc¸a,entreoutros13,19. Naperspetivadeumsistemadesaúdeondeexistecarência demédicoseenfermeirosnosCSP,autilizac¸ãodo farmacêu-ticocomunitárioparaprestac¸ãodecuidados,particularmente paraamonitorizac¸ãoterapêuticadedoentescrónicos,pode ajudaraminimizaroimpactodestasituac¸ão.Os farmacêu-ticoscomunitáriostêm umaposic¸ãoprivilegiadadentrodo sistema desaúde, pelasuaacessibilidade à populac¸ão20,21. Asuaformac¸ãopermite-lheatuaraoníveldaprevenc¸ãoda doenc¸a enarecomendac¸ãoemonitorizac¸ãodaterapêutica paraalcanc¸arosefeitosclínicosdesejadosediminuiros efei-tosadversos.

Atualmente, os farmacêuticos comunitários exercem a suaatividade numambienteonde nãoéfácil acompanhar osúltimosdesenvolvimentostecnológicos,ondeos utentes estão cadavezmaisemelhorinformados,recorrendo com frequência àInternet antes de irem ao médico ou consul-taremumfarmacêutico22.Aomesmotempo,tantoavenda aretalhocomoadispensademedicamentosanível hospi-talarcomec¸amjáaprocurarnovasformasdedispensaque não necessitem do envolvimento de um profissional caro comoofarmacêutico14.Entreasinovac¸õesquevisamdiminuir esseenvolvimentosurgeaprescric¸ãoeletrónica,sistemasde suporteàdecisãoclínica,certificac¸ãodetécnicos,robotizac¸ão ediversas aplicac¸õesde telefarmácia,incluindosupervisão farmacêuticaàdistância15,23.

Aevoluc¸ãodopapeldofarmacêuticocomunitárioestáa ocorrer a um ritmolento, influenciada por inúmeros fato-res externos e por barreiras que os próprios profissionais apresentam (fig.1). Fatores como a pressão exercidapelas alterac¸õesdemográficas,aprevalênciadedoenc¸as,as expec-tativasdosdoentes,osavanc¸ostecnológicoseoaumentodos custostêmmotivadoumamudanc¸aparaoscuidados preven-tivos,ondeosmedicamentostêmumpapelessencial,assim comoconceitoscomoaqualidade,aseguranc¸a,aabordagem multidisciplinar,earelac¸ãocusto-eficácia24.

No entanto, existem resistências à intervenc¸ão do far-macêutico para lá da dispensa de medicamentos.Um dos fatoresquecontribuiparaessaresistênciaéodilemaemque o farmacêutico comunitário vive, entre o negócio eo pro-fissionalismo,entreoscuidadosinformaiseprofissionais13. O farmacêutico comunitário é, aparentemente, o profissi-onal de saúde cujo vencimento está mais dependente da vendadeumproduto,oquelevaaqueosfarmacêuticos comu-nitáriossejamvistosdeformaambíguapelapopulac¸ãoepor outros profissionais de saúde, mantendo simultaneamente uma imagem de comerciante e profissional de saúde25–27.

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rev port saúde pública.2012;30(2):125–142 Economia Diminuição das despesas Mais MNSRM Pressões comerciais Novas terapias

Soluções de T.I. para prestação de cuida-dos farmacêuticos Dispensadores automáticos Utentes Procura de serviços vs. produtos Literacia informática e em saúde Política do governo Liberalização do mercado das farmácias Papel do farmacêutico comunitário Farmacêuticos comunitários Atitdudes e valores pessoais Profissionais de saúde Interação com os médicos Apoio de outros profissionais de saúde Fontes: (Anderson, 2002,

Maddux et al, 2000, Roberts et al, 2005, van Mil et al., 2004a Zellmer, 2010). Modelo de sistema de saúde Liderança da profissão Inovações tecnológicas

Figura1–Fatorescominfluêncianopapeldofarmacêutico

comunitárionumsistemadesaúde.

Alémdisso,ofacto deaaquisic¸ãodas novascompetências ter sido feita de forma muito heterogénea, com a maioria dosfarmacêuticoscomunitáriosaindaalimitarassuas ativi-dadesàdispensademedicamentos,nãocontribuiuparaque estaimagemmelhorasse15.

Ofarmacêuticocomunitárioportuguês

EmPortugal,ofarmacêuticocomunitário éummembroda ordemdosfarmacêuticos(OF)queexerceasuaatividade pro-fissionalnasfarmáciascomunitárias,tambémdesignadasde farmáciasdeoficina28.

Cercade2/3dosfarmacêuticos exercemasuaatividade nosetor da farmácia comunitária29.No finalde 2009 exis-tiam7178farmacêuticoscomunitários30.Destes,cercade65% têmidadeinferiora45anos,e80%sãodosexofeminino31. Oráciodefarmacêuticoporfarmáciaéjásuperiora2desde 200530, tendo cada farmácia, emmédia, 6trabalhadores31. O número de farmacêuticos a exercer a suaatividade em farmáciacomunitáriaaumentou74%entre2000e200930,32, numamédiade340novosprofissionaisporano.Esteaumento podeser explicado peloaumento de novosdiplomados na últimadécada, fruto da aberturade novoscursos de ciên-ciasfarmacêuticasemdiversasuniversidades. Entre2000e 2007houveumaumentode43%nonúmerodediplomados33, numamédiaanualnesteperíodode702novosdiplomados. Atualmente,9universidadesoferecemocursodemestrado integradoemciênciasfarmacêuticas,essencialparaoacesso àprofissão.Nototalingressaramnestecursoem2010cercade 1114alunos,umaumentode6,5%emrelac¸ãoaosingressos de200834.

Umadasconsequênciasdoaumentodeprofissionaisfoia maiordistribuic¸ãodestesprofissionaispeloterritório,tendoo

númerodefarmacêuticoscomunitáriospor100000habitantes aumentado 67%, existindo hoje aproximadamente 68 far-macêuticos comunitáriospor100000habitantes30,32,33. Esta distribuic¸ãodemonstraquealegislac¸ãorelativaàinstalac¸ão de farmácias comunitárias proporcionou uma distribuic¸ão homogéneadasfarmáciaspelopaís,oqueobviamentelevou a que existatambém uma distribuic¸ãohomogéneade far-macêuticoscomunitários35.Nesteindicador,Portugaltemum melhorresultadodoqueamédiadospaísesdaOCDE,estando acimadepaísescomoaHolanda,oReinoUnidooua Alema-nhamasaindadistantedeEspanhaoudeFranc¸a36.

Afonteprincipalderemunerac¸ãodosfarmacêuticos comu-nitários faz-se a partir das margens de lucro fixadas pelo governo para os medicamentos de prescric¸ão obrigatória. Após diversasalterac¸ões,asmargensatualmenteemvigor, definidasnoDecreto-Lei112/2011, sãocalculadascombase noprec¸odevendaaoarmazenista(PVA)acrescidosdeuma taxa,podendovariarentreos27,9%semsobretaxapara medi-camentoscomPVAinferiora5euros,atéaumataxafixade 10,35 euros para medicamentos de PVA superior a 50 euros.Estesmedicamentosrepresentavamem2009,83%em volume e 93% em valor domercado de medicamentos no ambulatório37.Amaioriadosmedicamentosdeprescric¸ãoé comparticipadapeloEstado,tendoestesidoresponsávelem médiaporcercade70%doPVPfinaldestesmedicamentosaté 200930,32.

Além das margens de lucro sobre os medicamentos e outrosprodutos,aremunerac¸ãosobreservic¸osfarmacêuticos constituiu-serecentementecomomaisumafontealternativa deremunerac¸ãoparaasfarmáciasefarmacêuticos.Na ausên-ciaderegulac¸ãoespecíficaemPortugal,asfarmáciasforam implementandoservic¸oscomorespetivoaconselhamentoao longodosúltimos20anos19.Foramtambémdesenhados pro-gramasparairemaoencontrodenecessidadesespecíficasda comunidade,comoarecolhadeembalagensede medicamen-tosusados,umprogramadetrocadeseringas,detomadireta observadademetadona,eprogramasdecuidados farmacêuti-cosedegestãodeterapêutica,conseguindoasustentabilidade dessapolíticacomoapoiodaAssociac¸ãoNacionaldas Far-mácias(ANF)19.Estesservic¸osprestadosnasfarmácias,são pagospelosutentes,comexcec¸ãodosservic¸osgratuitos(ex. toma observadade metadona) e doprogramade cuidados farmacêuticos nadiabetes, que foipago a75% peloEstado português38. Emnovembro de 2006, 262 farmácias tinham implementado este programa, seguindo 1941 doentes, em médiacercade7doentesporfarmácia19.Esteprogramanão seencontraemvigor,masemoutubrode2009,2mesesantes deoprogramaterminar,405farmáciastinhamimplementado oprogramadadiabetesseguindoemmédia3doentes39.

EmPortugalexistiamem2010,2803farmácias distribuí-das pelo território segundo os critérios de capitac¸ão e de distânciadefinidos emdecreto-lei. Onúmero de farmácias aumentoudesdeo iníciodadécadapassada,traduzindo-se numaumentode9,5%em10anos,ou24novasfarmáciasem médiapor ano33. Verifica-se queocrescimento donúmero de farmácias não acompanhou o crescimento do número deprofissionais queseverificadesde osfinaisdosanos90. Atéagora,osnovosfarmacêuticostêmsidoabsorvidospelas farmáciasexistentes,comonúmerodefarmacêuticospor far-máciaaaumentarem60%desde200030.Comonúmerode

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farmacêuticosporfarmáciaaaproximar-sedos3ecomas difi-culdadesfinanceirasquealgumasfarmáciasatravessam40,41, énaturalquesereduzamascontratac¸õesde novos farma-cêuticos,oquepoderálogicamentelevaraumaumentodo desempregoentreosfarmacêuticos.

Comtodasasalterac¸õesquetemenfrentadoultimamente, eperanteaatualsituac¸ãodesaturac¸ãodomercado,o farma-cêuticocomunitárioportuguêsencontra-senumlimboonde comec¸aaverasuafunc¸ãoaperderimportância,sendocrucial quepossaencontraramelhorformadefazeratransic¸ãopara oseunovopapelcomoprestadordecuidadosdesaúde.

Métodos

Paraseconstruiroscenáriosparaofuturodofarmacêutico comunitário português, usou-se o método proposto por Lapão42,quecondensaos10passosdoprocedimentodescrito porSchoemaker10em3fases,nasquaisoenvolvimentode umaequipade cenarizac¸ãoéfundamental. As2primeiras fasesdecorreramem2workshopstemáticosquedecorreram em 2dias diferentes, com uma durac¸ão máxima de 3h: o primeiro é um workshop de contextualizac¸ão da análise de cenários para o problema em estudo, seguindo de um segundoworkshoppara aselec¸ãoevalidac¸ãodosprimeiros cenários,paranaterceirafasesedesenvolveremeanalisarem oscenáriosfinais.Oscritériosparaaescolhadaequipaforam baseadosnaexperiência profissionaleacadémica, sendoo painelcompostopor6farmacêuticos(3doutoresemFarmácia comfunc¸õesdocentesedeinvestigac¸ão,ummestreemSaúde Públicaecoproprietáriodefarmácia,umespecialistaem Far-máciaComunitáriaeumdiretorexecutivodeagrupamentode centrosde saúde), um gestor especialistaem avaliac¸ãode fármacos e um especialista de cenarizac¸ão, doutor em EngenhariadeSistemaseInformáticaMédica.Nenhumdos farmacêuticos exerce atualmentefunc¸ões emorganizac¸ões representantesdosprofissionais,peloqueconsiderámosnão haverconflitosdeinteresserelevantesparaestetrabalho.

Oprocedimentoinicia-secomadefinic¸ãodeumperíodo detempoparaoqualsequeremimaginarosdiversos cená-rios,ecomaidentificac¸ãodasprincipaisforc¸asdemudanc¸a queafetamomundoeopaísqueterãoimpactonaquestão emestudo.Aescolhadoperíododetempomaisadequado dependede diversosfatores,tais comoaevoluc¸ão tecnoló-gicaouoperíodopolítico10. Escolheu-separaestetrabalho umperíodode10anosporquepermitepensaremmais alter-nativas para o futuro do farmacêutico comunitário, sendo suficientementecurtoparacertoselementos predetermina-dos como os elementos demográficos, conferindo alguma previsibilidadenestefactor,enquantoincertezascríticascomo aevoluc¸ãotecnológicaouoambientepolíticotenderãoa evo-luirmaisrápidaeimprevisivelmenteduranteesteperíodo.

Paraprepararassessõesdecenarizac¸ão,foipreviamente efetuadaumarevisãodaliteratura,comoobjetivode iden-tificarasprincipaisincertezascríticaseforc¸asdemudanc¸a, queproporcionoumaisde100artigossobreopapeldo far-macêuticocomunitárioeastendênciasfuturas.Asanálises quantitativasdosnúmerosdeprofissionaistiveramporbase osrelatórios«Estatísticadomedicamento»,disponibilizados

regularmentepeloINFARMED30,32,assimcomodados consul-tadosnossítiosdainternetdaOFedaANF29,31.

Todosestesfatoresforamexploradosemequipano decor-rerdosworkshops,demodoadeterminarquaisserãoas«forc¸as motrizes»,ouseja,quaisosfatorescríticosquemaispoderão moldarofuturodofarmacêuticocomunitário.Sãoas diferen-tescombinac¸õesdestasforc¸asqueoriginamdiversashistórias dofuturo.Oprimeiroworkshopiniciou-secomumpequeno semináriodeformaaintroduzirasideiasdaanáliseprospetiva decenários,talcomorecomendadoporGodet5,permitindo aosparticipantesdosworkshopstornarem-semais familiari-zadoscomoconceitoeasferramentasdestetipodeanálise. Ambososworkshopsforamgravadosparapermitirposterior análisedeconteúdo,demodoamelhordetalharosresultados obtidos.

Aplicando este método conseguiu-se, na primeira fase, fazerumpontodasituac¸ãodofarmacêuticocomunitárioem Portugal,identificandoasprincipaistendências,osprincipais atores-chave(stakeholders)easprincipaisincertezas,e fato-rescríticoscompossívelimpactonopapeldofarmacêutico comunitário.Parainiciaressadefinic¸ão,asprincipais incerte-zasefatorescríticossãocondensadosem2incertezascríticas: as«forc¸asmotrizes»(oudriving forces)doscenários43. Estas forc¸asmotrizesrepresentamosfatoresmaissignificativosque poderãoinfluenciaropapeldofarmacêuticocomunitárioem Portugal,eépartirdelesquesecomec¸amadesenharos pri-meiroscenários.

Na segunda fase, concebeu-se um papel para o farma-cêutico comunitárioemcadaumdoscenários,construídos estrategicamenteemtornodas«forc¸asmotrizes»,testandoa consistênciaeaplausibilidadedosprimeiroscenários.

Numaterceirafase,jásócomaparticipac¸ãodosautores deste estudo,trabalhou-seo materialrecolhido para carac-terizarcadaumdoscenários,fazendo-seevoluiroscenários encontradosnasfasesanterioresparapossíveiscenáriosde decisão, e identificando pontos-chave, mais sensíveis, que poderão influenciar a tomada de decisão dos diferentes actores-chaveenvolvidos. Paratal,construiu-seuma narra-tivaedefiniram-seindicadoresparafazeramonitorizac¸ãoe, senecessário,aatualizac¸ãodoscenários.Énestafasequese conseguedeterminareidentificarmaisfacilmenteas neces-sidadesdefuturasinvestigac¸õesparaamenizarasincertezas encontradas10.

Esteestudofoiefetuadodeacordocomasnormasecódigo de éticaem investigac¸ãodeservic¸os desaúdedoInstituto deHigieneeMedicinaTropical,UniversidadeNovadeLisboa. Oprotocolodoestudofoiaprovadopelocomitédeéticadeste Instituto(Parecern.◦:7-2012-PN).Partedesteestudotemsido financiandopeloprojeto«ePharmaCare»daFundac¸ãoparaa CiênciaeTecnologia(PTDC/CCI-CIN/122690/2010).

Resultados

Nodecursodosworkshopsdecenarizac¸ão,foramabordados edebatidos temasquepoderão influenciardeforma signi-ficativaopapeldofarmacêuticocomunitárionosistemade saúdeportuguês,comoobjetivodeidentificarincertezas crí-ticaseasrespetivas«forc¸asmotrizes».Noprimeiroworkshop

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rev port saúde pública.2012;30(2):125–142

Tabela1–Fatoresmaisrelevantesparaofuturodo farmacêuticocomunitárioportuguês

Factoresmaisrelevantes Outrosfactoresdiscutidos Ambienteeconómico

Organizac¸ão/liberalizac¸ãodo SNS

PoderdaANFvsOrdem Situac¸ãofinanceiradas farmácias Tipodeutente Vontadepolítica Ausênciadecarreirade farmacêuticocomunitário Desenvolvimentotecnológicoe velocidadedeadaptac¸ãoanovas tecnologias

Evoluc¸ãoparaUSFmodeloC Fatoresculturais

Formac¸ãodosfarmacêuticos Gestãodaqualidadee diferenciac¸ãodosservic¸os prestados

Inconsistênciadeservic¸os entrefarmácias

Literaciainformáticadosutentes Saúdemaisdescentralizada

tendênciasatuais(mercado,númerodefarmacêuticos,etc.) levando os participantes a partilharem as suas percec¸ões sobreaposic¸ãodofarmacêuticocomunitárionosistemade saúdeemPortugal.Destaforma,encontrou-seoconjuntode fatoresquemaispoderãocontribuirparaafetaramudanc¸a do papel do farmacêutico comunitário em Portugal e que de seguida se descrevem, tal como foram discutidos nos

workshops.Natabela1,apresentamos,deformasucinta,todos osfatoresqueforamenunciados.

Servic¸osfarmacêuticos

Osservic¸osfarmacêuticossurgiramcomotemacentralnos

workshops de cenarizac¸ão, tendo mesmo sido considera-dos o motor do desenvolvimento e satisfac¸ão profissional edopotencial de diferenciac¸ãoentre farmácias.Assumem assim umaimportância crescente, especialmente, desde a publicac¸ão do Decreto-Lei 307/2007. A constatac¸ão de que todasasfarmáciastêmosmesmosprodutoslevouos especia-listasaconcluirque,nofuturo,adiferenciac¸ãoentrefarmácias poderáserfeita pelotipo deservic¸osprestados.A tendên-ciapoderápassarporservic¸osmaissofisticadosequesejam remunerados.Aovalorizarem-seosservic¸os,pretende-seque estessirvamdeâncora,tendocomoobjetivoafidelizac¸ãodos utentes,massobretudoacrescentarvaloràprestac¸ãodo far-macêutico.

Aideiado«centrocomercialdasaúde» emergiuna discus-sãocomoumcenárioplausível,masquepoderáacentuaro dilemadainconsistênciadeservic¸osentrefarmácias, verifi-cadaentreasfarmáciasquepreferemadiferenciac¸ãopelos servic¸osemdetrimentodapráticadedescontos.Dentrodeste tema,discutiu-seapossibilidade deoutrosprofissionaisde saúdeprestaremosseusservic¸osnasfarmáciasaomesmo tempoqueosprópriosfarmacêuticosprestamosseusservic¸os inovadores(comoaconsultafarmacêutica).

Para que o alargamento dos servic¸os farmacêuticos a todasas farmáciasseja exequível, poderãosernecessários incentivosàsfarmácias.Napercec¸ãodosespecialistas,as far-máciasnãovãooferecerservic¸osquenãosejamsustentáveis economicamente.Noentanto,mesmoestespodemnãoser disseminadostãorapidamente.Oexemplodo«Programade

CuidadosFarmacêuticosdaDiabetes»,comadiminuic¸ãodo númeromédiodedoentesseguidosporfarmácia,demonstra quepodenãosersuficienteremunerardeterminadoservic¸o para que este seja aceite pelas farmácias, além de que a predisposic¸ãodosutentesparaopagarpodetambémserum entraveàdisseminac¸ãodesseservic¸o.

Ambienteeconómico/situac¸ãofinanceiradasfarmácias

Asfarmáciassãopequenasempresasprivadascujaatividadee rendimentoestãodependentesdasmargensestipuladaspelo governo para osmedicamentos comparticipados, da venda demedicamentos nãosujeitosareceitamédica(MNSRM)e davendadeoutrosservic¸os.Paraosespecialistas,asituac¸ão financeiradasfarmáciasbemcomooambienteeconómicoem Portugalterãoimpactonopapelqueofarmacêutico comuni-tário poderádesempenhar.Comapressãoqueexistesobre o prec¸odosmedicamentos,frutodaconjunturaeconómica atual,éprovávelquesecontinueaverificaradiminuic¸ãodas margens decomercializac¸ão,asfixiandofinanceiramenteas farmácias.

Nofinaldadiscussãodestetema,ficouapercec¸ãodeque quantomaisonegócio forestrangulado,maisoatoclínico podeter tendência adesaparecer,noqueseráumbalanc¸o difícildefazer,peloqueasfarmáciasdevemprocuraroutras fontes definanciamento. Estaspassariam porvendermais produtosou cobrarmaisservic¸os. Outrasugestão apresen-tada foi que a constante reduc¸ão das margens pode levar aodesaparecimentodosfornecedoresgrossistas,permitindo quesereforcemasmargensdaindústriaedasfarmácias.No futuropoderãoocorrermudanc¸as,potenciadaspelas sucessi-vasreduc¸õesdeprec¸os,oquepoderátrazeraofarmacêutico novosdesafiosaníveldegestão.Osespecialistas concorda-ramqueosagrupamentosdefarmáciasquevêmsurgindojá podemserumsinaldessatendênciadefacilitac¸ãodagestão.

Vontadepolítica

Em torno dos temas discutidos,surgiu recorrentemente o temadavontadepolíticadogovernoemfunc¸õescomoumdos fatorescommaisimportânciaparaopapelqueofarmacêutico comunitáriopodedesempenhar.Avontadepolíticaé necessá-riaàintroduc¸ãodemedidasquealteremalegislac¸ãovigente nosetordafarmácia,dependendodeinúmerosfatores,tais como as pressões degrupos económicos, grupos profissio-naisou arelac¸ão dopartidode governocom os principais atores-chavedosetor,nomeadamentecomaANF.Alémdisso, anoc¸ão dequepodecomec¸arahaverdesemprego paraos farmacêuticos dentropoucotempo,gerandomais instabili-dade,levouosespecialistasaconsiderarqueumaintervenc¸ão governamentalnestesetorseráinevitável.

No entanto, o entendimentodos especialistas éque as recentesalterac¸õeslegislativastêmsidoimpulsionadaspor pressões económicas, como se tem verificado nos últimos anosemPortugal,comaliberalizac¸ãodapropriedadede far-mácia,apossibilidade devendademedicamentosfora das farmáciasecomassucessivasdiminuic¸õesdasmargensde lucro, com o objetivo declarado pelos vários governos de diminuiropesodocustocommedicamentosnoorc¸amento de Estado. Com as crescentes dificuldades orc¸amentais, é

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possívelqueocorraumaintervenc¸ãogovernativanosetorda saúde, nãosendo asfarmácias excec¸ão. Pode haver,nesta situac¸ão, uma tendência para a verticalizac¸ão do setor tal comoajáverificadaemalgunspaíses,compropriedadee aber-turaliberalizada.Ascrescentesdificuldadesdefinanciamento doSNSpodemtambémlevaraalterac¸õesmaisoumenos pro-fundasdosistema,nãosónaformadefinanciamento,mas tambémnaformadefuncionamentoeprestac¸ãodeservic¸os.

Utentes

Ocomportamentodosutenteséumfatordeterminantepois assuasnecessidadesepercec¸õespodeminfluenciaraprocura deservic¸osmaisdoqueaprocurademedicamentos,dadaesta serumaprocuraqueéinduzida.

O entendimento dos especialistas é que os sucessivos aumentosdocopagamentodosmedicamentospodem influ-enciaropúblico,levando-oaprocurarasfarmáciascomos prec¸os mais baixos, independentemente dos servic¸os ofe-recidos, ouainda pressionando ogoverno para reduc¸ãode margensdelucroedoprec¸odosmedicamentosnas farmá-cias.Nadimensãodaparticipac¸ão dosutentes noprocesso de tratamento, oentendimento éque abaixa literacia em saúdeaindaéalgoprevalenteemPortugal.Abaixaliteracia podeassimcontribuirparatravaraextinc¸ãodasfarmáciasno futuromaispróximo.Emrelac¸ãoàliteraciatecnológica, ape-sardeasprimeirasexperiênciasdevendademedicamentos pelasfarmáciasnaInternetnãoserempositivas,apercec¸ãode queosportuguesesaderemcomfacilidadeàsnovas tecnolo-giasdeixanoarapossibilidadedenofuturoestaviraseruma áreaimportante,comimpactonaprocurademedicamentose servic¸os.

Papeldasorganizac¸õesprofissionais

Naopiniãodosespecialistasnoprimeiroworkshop,as farmá-ciaseosfarmacêuticoscomunitários,apesardeinterligados, sãoentidadesdistintasepodemnaturalmenteser indepen-dentes. A carreira de farmacêutico não necessita de estar ligada à sobrevivência das farmácias, mas sim ao desen-volvimentodoprofissional.Este desenvolvimentotem sido fomentadopelaformac¸ãocontínuaobrigatória,instituídanos estatutosdaOrdemdosFarmacêuticos.Foiigualmente abor-dadaanecessidadedeumacarreirafarmacêutica,dadoque osfarmacêuticoscomunitáriosnãotêmevoluc¸ãonacarreira, peloqueosítioondetrabalham(urbanovs.rural)éoqueacaba porinfluenciarodesenvolvimentodassuascapacidades.

Para os especialistas, as 2 entidades mais representati-vas do setor (ANF e OF) poderão desempenhar um papel fundamentalnadefinic¸ãodofarmacêuticofuturo,apesardo previsívelcrescenteantagonismo,tendoemcontaquea maio-riadosassociadosdaOrdemjánãoéproprietáriadefarmácia. OsespecialistasconsideramquedeveseraOrdemo princi-palparceiroparaasfuturasnegociac¸õescomoSNSenãoa ANF.Noentanto,apercec¸ãodeque«opodereconómicoéque manda»,emreferênciaàANF,levouaconjeturarqueseráeste oprincipalplayerateremcontadentrodasassociac¸ões profis-sionais.AANFdefendeosinteressesdasfarmácias,tendonas últimasdécadasfavorecidoomovimentodeumservic¸o cen-tradonomedicamentoparaumservic¸ocentradonosutentes,

istoé,aANFtemprestadomaioratenc¸ãoaosaspetos relacio-nadoscomaprestac¸ãodosservic¸osfarmacêuticoscognitivos emdetrimentodadispensademedicamentos.Os especialis-tas consideraramque estemovimento foi positivo para os profissionais,constatando-se quegrandepartedoque tem sidofeitopelaprofissãofoiobradaANF,desdeo desenvolvi-mentodesoftwareeaajudaàinformatizac¸ãodasfarmácias,o desenvolvimentodeservic¸oseaapostaemprogramascomoa trocadeseringas,aterapêuticadesubstituic¸ãocommetadona eosprogramasdecuidadosfarmacêuticos.

Cuidadosdesaúdeprimários

OtemadosCSPemerge nocontexto dapresentereformae no impacto que esta terá no mercado das farmácias e no papel queofarmacêuticocomunitáriopoderávira desem-penhar.Comaevoluc¸ãodosCSP,existeumatendênciapara aharmonizac¸ãodosprocedimentosclínicos,oquepodeter impacto na gestão das farmácias. Além disso, pode tam-bémhaverumamaiorinfluênciadaprescric¸ãohospitalarna prescric¸ãodosCSP.

Duranteodebateemergiramalgumasideias,dentrodeste quadro, onde o farmacêuticocomunitário pudesse desem-penhar um papel ativo dentro das unidades de cuidados continuados(UCC). O farmacêuticopoderiafazer uma ges-tãointegradadosdoentes,estandopresentenasunidadesde saúde familiar (USF),havendo, ou não,ligac¸ão com as far-mácias.Podehaverumaequipadefarmacêuticos,quepode fazeradistribuic¸ãoeentrega,comaintenc¸ãodepoupar cus-tos.Paraofarmacêuticocomunitáriopoderintegrar,defacto, arededosCSP,alémdasalterac¸õeslegislativasfoi identifi-cada anecessidadedemelhoraroshábitos detrabalhoem equipa entreos profissionais de saúde envolvidos, nomea-damente,comosmédicoseosenfermeiros,sendoqueesta relac¸ãoéinfluenciadapordiversosfatores,comoolobbying,o ambientedeconfianc¸aeosfatoresculturais.

Desenvolvimento

dos

cenários

Decisãodeincertezascríticaseescolhadoscenários

A identificac¸ão das incertezas críticasque serão as forc¸as motrizesdamudanc¸apassouporquestionarosespecialistas noprimeiroworkshopsobrequaisos2fatores,entreos discu-tidos,queconsideravammaisimportantesparaofuturodo farmacêuticocomunitário.Davotac¸ãoemergiramcomo prin-cipaisincertezascríticasaorganizac¸ão/liberalizac¸ãodoSNS,a situac¸ãofinanceiradasfarmácias,otipodeutente,avontade políticaeodesenvolvimentoeinovac¸ãotecnológica.

Considerámos que os fatores «vontade política» «organizac¸ão/liberalizac¸ãodoSNS»,e«ambienteeconómico» iriam definir uma das forc¸as motrizes que designámos «AmbienteLegislativo».Este refleteamaiorou menor ten-dênciapara aliberalizac¸ãodosistemadesaúdeemercado das farmácias. Este eixo reflete também asituac¸ão econó-micadopaís,poisestatemsidoomotorparaasalterac¸ões legislativasquepoderãoalteraraformadefinanciamentoe defuncionamentodoSNS.Avontadepolíticaeasatitudesdo governoentão emfunc¸õesserãodeterminantes nomodelo

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definanciamentoqueestaráemvigornofuturo.Assim, con-siderámoscomoextremosdesteprimeiroeixoumextremo ondeoambientemacroeconómicoestámenosliberalizado, com poucas alterac¸õeslegislativas relativamente às atuais regrasdosetor;eumoutroextremoemquesãointroduzidas alterac¸õesnosentidodeliberalizaraaberturaepropriedade dasfarmácias,etambémopróprioSNS.

Estadecisãoésuportadanofactodequeaalterac¸ão legisla-tivaquepodeproduzirmaisefeitosnomercadodasfarmácias éaliberalizac¸ãodepropriedadeeainstalac¸ãodestes estabele-cimentos,devidoaumadiminuic¸ãodaregulamentac¸ão44–46. EmPortugal,aposic¸ãodaAutoridadedaConcorrênciasobre esta matéria, baseada no estudo efetuado por Rodrigues et al.44, tem sido a base das justificac¸ões políticas para as recentes alterac¸ões na regulamentac¸ão. Nesse estudo, considera-se que as restric¸ões à propriedade de farmácias estão a restringir a «bolsa de talento», condicionando a inovac¸ão,oquecriaentravesaosurgimentodenovassoluc¸ões quepudessemserdoagradodosconsumidores,gerandouma potencial perda de eficiência. Noentanto, relativamente à liberdadede instalac¸ão,asevidênciasapontamqueaatual legislac¸ãoéaquemelhorgaranteaequidadedeacesso45,46. Aescolhadamelhorsoluc¸ãoparaainstalac¸ãodefarmácias pareceresidirnumequilíbrioentreasseguraraequidadede acessoemelhoraraeficiênciaenquantomantêmumelevado níveldeservic¸os47.

Em Portugal,tanto a ANF como a OF, têm defendido o modelo atual, em defesa da independência das farmácias e dos farmacêuticos. Advogam que só o modelo de uni-cidade entre propriedade e direc¸ão-técnica permite que a dispensa de medicamentos seja feita com independência, sempressõesexternasecomqualidade,apesardenão exis-tiremevidênciasquesuportemessefacto45,48.Assegurando a presenc¸a de um farmacêutico na farmácia, assegura-se aqualidade da dispensa eprestac¸ãode servic¸os, pois este está sujeito ao cumprimento de um código deontológico queajudaaprotegerasuaatividadeenquanto profissional desaúdeindependente,tendoodoentecomofocoprincipal dosseuscuidados49.

Paradefinirasegundaforc¸amotriz,considerámosos fato-res «situac¸ão financeira das farmácias», «tipo de utente» e«desenvolvimento tecnológico» comoos que terão maior impactonopapeldosfarmacêuticoscomunitários,podendo potenciardiferenciac¸ãoentre farmácias.Essa diferenciac¸ão poderáserconcretizadapelacriac¸ãodeservic¸os farmacêuti-cos.Assimdesignámosasegundaforc¸amotrizde«capacidade deinovac¸ãodeservic¸os».Esta«capacidade»dependerá simul-taneamente,dasituac¸ãofinanceiradasfarmácias,dacontínua erápidaevoluc¸ãotecnológicaedamaioroumenorprocura dessesservic¸os pelos utentes,caracterizados porum cres-cente envelhecimento, com maior prevalência de doenc¸as crónicas, mas também com uma crescente capacitac¸ão a níveldeinformac¸ãoetecnologias.Comoextremosdesteeixo definiu-seumestadodepoucodesenvolvimentoeinovac¸ãode servic¸os,porausênciadeincentivos,deprocuraedecondic¸ões financeirasdasfarmáciasenooutroextremo,umamaior pro-curaeapostanainovac¸ãoenodesenvolvimentodaprestac¸ão deservic¸os,devidoànecessidadedeasfarmáciasse diferen-ciaremparaaumentaremacaptac¸ãodeclienteseassimasua faturac¸ão.Écertoqueaexistênciadeservic¸osfarmacêuticos

diferenciadossósejustificarásehouverprocura.Estaprocura podeserinduzida,talcomooéaprocurapor medicamen-tos, masnocaso dosservic¸osfarmacêuticosdiferenciados, a barreira constituída pela imagem dupla do farmacêutico queexistenaopiniãopúblicaseráumadasquetemdeser vencida14,27,50.Tambémaatitudedosfarmacêuticosperante amudanc¸aseráumfatorateremconta.Robertsetal.51 cons-tatam,numestudoefetuadocomfarmacêuticosaustralianos, aimportânciadamotivac¸ãoparaamudanc¸a.Reconhecera existênciadestasmotivac¸õesevalorespessoaisdos farmacêu-ticospoderáserimportanteparaosucessodeumafarmácia naimplementac¸ãodeservic¸osfarmacêuticosdiferenciados, deformasustentada.

Na óticados proprietários de farmácia, o interesse nos servic¸osfarmacêuticossóseráaprofundadoseestesse revela-remumamais-valiaemtermoseconómicosparaafarmácia. Uma remunerac¸ão adequada pelos servic¸os farmacêuticos prestados seráessencial para assegurar que mais profissi-onais adotemesta nova filosofiade trabalho45,51. Contudo, a faltade rigorda larga maioria dosestudos jáefetuados, sobretudonoqueconcerneàavaliac¸ãoeconómica,constitui umsérioobstáculoparaqueestessejamremuneradospelos financiadores dosdiferentes sistemasde saúde52. Havendo demonstrac¸ão das mais-valias económicas que osservic¸os farmacêuticosdiferenciadostrazem,cabeaosfarmacêuticos assegurarqueoníveldedesenvolvimentoeinovac¸ãoé uni-forme,precisandoigualmentedemostraraosconsumidores ovalordessesservic¸os,contribuindoassimparaaequidade dosistemadesaúde.Comestabase,seránaturalqueos pro-prietáriosdefarmáciasantevejamnosservic¸osfarmacêuticos uma fonte de receitas a não menosprezar, principalmente numcontextodedificuldadeseconómicas53.

Com as forc¸as motrizes dos cenários definidas, podem construir-se os cenários finais (fig. 2), que de seguida se descrevem.Estas descric¸õesconstituemhistóriasdofuturo, hipótesesparaofuturodafarmáciaedofarmacêutico comu-nitário, discutindo-se posteriormente as implicac¸ões nos profissionaisenosistemadesaúde.Aescolhadosnomespara oscenáriosfinaisreveste-sedeespecialimportância,sendo crucialserem nomesmarcantesparaserem maisfáceisde recordar.Aescolhadoinglêsparanomearoscenários prende-secomofacto deatraduc¸ãocerta paraalgunsdostermos utilizadosretirarimpactoaonomedocenário.

Capacidade de inovação de serviços Ambiente legislativo Cenário III Reorganize or die Cenário II e-Pharmacist Cenário I Pharmacy-Mall

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CenárioI«Pharmacy-mall»

Nestecenário,considera-secomopremissaquenasequência dealterac¸õeseconómicaselegislativasocorreualiberalizac¸ão totaldapropriedadeeinstalac¸ãodefarmácias.Asalterac¸ões legislativasnãoabrangemaremunerac¸ãodasfarmácias, con-tinuando estas a ter como principal fonte de receitas as margensdecomercializac¸ãodosmedicamentos.Nãoforam acionadas medidas para incentivar o desenvolvimento de servic¸os,nemestessãoremuneradospeloEstado.Alémdisso, aprocura de servic¸osfarmacêuticos pelosutentes ébaixa. Comotambémmelhoraramasmargensdecomercializac¸ão (com concentrac¸ão horizontal e vertical no setor),os pro-prietáriosdasfarmáciastambémnãosentemanecessidade deinovar,nãoapostandonodesenvolvimentodosservic¸os, mantendo-seumnívelbaixodeinovac¸ãodeservic¸os farma-cêuticos.Nestecenário,háumapressãomaiornacomponente doprodutoe umadependência grandeda política do pro-prietário. Poderão ainda surgir farmácias na Internet, não necessitando nesse caso o utente de sedeslocar à farmá-cia.Todooprocessodedispensaestáautomatizadodesdea prescric¸ão–omédicoenviaaprescric¸ãoparaumservidore outentedecidedepoisondequerreceberosmedicamentos dessaprescric¸ão,senumafarmáciatradicionalseemcasapor correioouestafeta.

Neste cenário, a acentuada reduc¸ão da necessidade de farmacêuticoscomunitários,asdificuldadeseconómicasea introduc¸ãodefarmáciasonlineteriacomoconsequênciauma diminuic¸ãodasnecessidadesdefarmacêuticoscomunitários, oquepoderiaconduziraumaumentodedesempregoentre farmacêuticos.Outraconsequênciadoexcessode farmacêu-ticos,poderáserquemuitosirãoescolheremigrarembusca demelhoresoportunidadeslaborais,melhorescondic¸ões eco-nómicasemelhorsatisfac¸ãoprofissional54.

Onúmerodefarmáciasnaszonasurbanasdemaior den-sidadepopulacionaltenderáaaumentarligeiramente,masa viabilidadedasfarmáciasmaispequenaseindependentese dasfarmáciasdaszonasruraispodeestarameac¸ada.Como consequência,onúmerototaldefarmáciastenderáa dimi-nuiraolongodadécada(fig.3).Paramelhoraracompreensão doquepoderãoseros impactosdosvárioscenáriosforam incluídas(deacordocomametodologiadoscenários)as ten-dênciasassociadasacadacenárioem3indicadores(figs.4y5), tendoporbaseainformac¸ãorecolhidaduranteosworkshops

decenarizac¸ão.

Apresenc¸adeumfarmacêuticocomunitárionasfarmácias continuará aser obrigatória maso trabalho de aconselha-mentoe dispensairia serrealizado sobretudoportécnicos defarmácia,ficandoapenasreservadoaofarmacêutico aspe-tosdecontroloegarantiadequalidadedadispensa.Onúmero defarmacêuticosporfarmáciatenderáadiminuir(fig.4),e aumentaronúmerodetécnicoseauxiliares,devidoà neces-sidadedecontercustos.

Com o farmacêuticoa ver desvalorizada a sua posic¸ão social,remunerac¸ãoecomotrabalhodeaconselhamentoe dispensa a ser realizado por técnicosde farmácia, os far-macêuticosrecém-diplomadosdeixariamdeseguirestavia profissional.Asremunerac¸õestendemasermaisbaixaseo factodenãoexercerafundoasuafunc¸ãoclínicatornaaopc¸ão porfarmáciacomunitáriapoucoaliciante.Estasituac¸ãoteria

Número de farmácias comunitárias

4000 3000 2000 Número total 1000 1995 2000 2005 2010 Año 2015 2020 2025 Cenário I Cenário III Cenário II

(Fontes: INFARMED, Estatística do medicamento 2004; INFARMED, Estatística do medicamento 2009; Tendências para o futuro elaboradas pelos autores com base nas perceções dos cenários)

Tendência elaborada pelos autores Absoluto Tendência atual para 2020

Figura3–Evoluc¸ãodonúmerodefarmáciasaolongo

dadécadaemcadaumdoscenários.

reflexosnonúmerodefarmacêuticosenaprocuradoscursos deciênciasfarmacêuticas(fig.5).

Ascompetênciasnecessáriasao desempenhodo farma-cêuticocomunitárionestecenáriosãorelativasàsupervisão dadispensaeàgestãodeprocessosnafarmácia.Assimestes profissionaisteriamdeadquirirmaiscompetênciasnos aspe-tosdelideranc¸a,dagestãodoespac¸odafarmácia,gestãode colaboradores, aspetosregulamentares efarmacovigilância. Para os farmacêuticos que fossem contratados por farmá-ciasdevendaonlineseriaindispensávelodomíniodasnovas tecnologias de dispensa e das tecnologias de informac¸ão, pelo que também seria necessário reforc¸ar o ensino des-tascompetências.Aspectosrelacionadoscomaprestac¸ãode servic¸osfarmacêuticosnãoseriamtãovalorizadoscomohoje

4,00

3,50

3,00

2,50

Ratio de farmacêuticos por farmácia

2,00

1,50

1,00

1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020

(Fontes:INFARMED, Estatítica do Medicamento 2004; INFARMED, Estatística do Medicamento 2009; Tendências para o futuro alaboradas pelos autores com base nas perceções dos cenários)

2022 2024

Cenário II

Cenário III

Cenário I

Evolução do número de farmacêuticos por farmácia

Tendência elaborada pelos autores Absoluto Tendência atual para 2020

Figura4–Evoluc¸ãodonúmerodefarmacêuticospor

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rev port saúde pública.2012;30(2):125–142 12000 10000 8000 6000 Número total 4000 2000 200020012002200320042005200620072008 Ano Cenário I Cenário III Cenário I Cenário II Cenário III Cenário II 200920102011201220132014201520162017201820192020 0

Evolução do número total de farmacêuticos comunitários e novos diplomados

Farmacêuticos comunitários Farmacêuticos recém-diplomados

(Fontes: INFARMED, Estatística do medicamento 2004; INFARMED, Estatística do medicamento 2009; PORDATA, Dados estatísticos da área da saúde 2000-2009; Tendências para o futuro elaboradas pelos autores com base nas perceções dos cenários)

Tendência elaborada pelos autores

Figura5–Evoluc¸ãodonúmerodefarmacêuticoscomunitáriosedefarmacêuticosrecém-diplomadosaolongodadécada

emcadaumdoscenários.

emdia, sendo maisvalorizadaacapacidade de gestão.Na perspetivadaformac¸ãodenovosprofissionaisseria necessá-riaaadaptac¸ãodo2.◦ ciclodeestudosdocursodeCiências Farmacêuticas com maiscomponentes de gestão e menos investimentonadiferenciac¸ãodofarmacêutico,poispodem surgircursosdeGestãoqueconcorramcomofarmacêutico paraaáreadagestãodosprocessosdafarmácia,oquepoderá limitar ainda mais a ac¸ão do farmacêutico comunitário à supervisãodosaspetostécnicosdadispensade medicamen-tos.

Paraosfarmacêuticos,ocenário«pharmacy-mall»éaquele quemenoshipóteseoferecededesenvolvimentoprofissional, alémde representarumacontrac¸ãoclaradas necessidades dos farmacêuticos comunitários. Além disso, num cenário ondesurgemcadeiasdefarmáciamaisorientadasparaolucro, emergemconflitosentreoaconselhamentoeosobjetivosde negócio27,55, que teriam também consequênciasanível da satisfac¸ãoprofissionalecondic¸õeslaboraisparaos farmacêu-ticos,sendoprevisívelumadegradac¸ãodestesparâmetros.

Paraosutentes,omaiorbenefíciodestecenárioéamaior equidadevertical,comosprec¸osdosmedicamentosa dimi-nuíremdevidoàmaiorcompetic¸ão46.Paraosistemadesaúde, este cenáriopode trazer poupanc¸as emgastos com medi-camentos,tal comoobservado nospaíses comummodelo semelhante,tendonoentantoconsequênciasanívelda aces-sibilidadeaomedicamento, sobretudoemmeios rurais45,46. Acautelandoestepormenor,esteéumcenáriofavorávelpara esteator-chave.

CenárioII«e-Pharmacist»

Neste cenário, as alterac¸ões legislativas são ainda mais profundas. O ambiente mais liberalizado, por pressão das instituic¸ões europeias e dos mercados e pela necessidade premente de conter os custos com os medicamentos, irá reflectir-se não só na instalac¸ão e propriedade de farmá-ciasmas tambémnuma reformadoSNS,sendo esteagora um sistema repartido em diferentes subsistemas depen-dentedautilizac¸ãodeseguros,tantopúblicoscomoprivados. Essa alterac¸ão permite a entrada de prestadores privados que operam num mercado mais aberto, onde a prestac¸ão de servic¸osdosprofissionais desaúdeéconvenientemente remunerada pelas diferentes entidades financiadoras. Os farmacêuticos comunitários estariamentreos profissionais maisrequisitadospelosdiferentessubsistemas,poisa mais-valia dos servic¸os farmacêuticos diferenciados teria sido demonstrada, não só a níveldos ganhosem qualidade de vida, mas também a nível da seguranc¸a na utilizac¸ão de medicamentos e na poupanc¸a de recursos económicos com medicamentos e outras tecnologias de saúde. Devido a esse reconhecimento, as terapêuticas mais avanc¸adas que anteriormente eram apenas dispensadas nas farmá-cias hospitalares,são agoradispensadaspor farmacêuticos comunitários.Odesenvolvimentodemaisservic¸os diferenci-adoséincentivado,tornando-seofarmacêuticoreconhecido como um profissionalde saúdeessencial à boa gestão da saúde.

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Como Estado easdiferentes entidadesfinanciadoras a remunerarosservic¸os,ofarmacêuticoveriavalorizadaasua prestac¸ãoprofissional,podendoatéexercerforadafarmácia poisteriacondic¸õesparafazerumagestãointegradados doen-tessemestardependentedafontedereceitasquesãoos medi-camentos.No entanto, muitos farmacêuticos comunitários continuariamaexercerdentrodoespac¸odafarmácia, depen-dendoa diversidade dosservic¸os existentesda políticade desenvolvimentoeaprestac¸ãodosrespetivosproprietários.

Também neste cenário tenderão a existir farmácias na Interneteapossibilidadedadispensademedicamentos ocor-reràdistância,sobaresponsabilidadedeumfarmacêuticoou deoutroprofissionaldesaúde.Ainovac¸ãodeservic¸oslevaà entradadasnovastecnologiasemforc¸anomercadodos cui-dadosdesaúde.Osfarmacêuticoscomunitárioscontinuarão nalinhadafrenteeagorageremumespac¸ovirtual,ogabinete electrónico,ondeépossívelainteracc¸ãocomomédicoecom outente,oacessoaalgumainformac¸ãodoregistododoentee ondesefazagestãodadoenc¸aedaterapêutica.O farmacêu-ticoseráoresponsávelpormanterestegabineteafuncionar, pela informac¸ão de saúde publicada e por estabelecer a comunicac¸ãoentreoutenteeomédico.Tambémfoijá imple-mentadoumsistema quepermite aofarmacêutico fazer a gestãodadoenc¸aàdistância,recolhendoainformac¸ão neces-sária(parâmetros bioquímicos,efeitos adversoseadesão à terapêutica)semodoenteterdedeslocar-seàfarmácia.

A necessidade de farmácias comunitárias diminui. O número de farmácias, após um ligeiro aumento ini-cial, poderásofrer um decréscimo (fig.3), pordificuldades económicas das farmácias mais pequenas e das que não conseguirem adaptar-se ao novo paradigma. Apesar da diminuic¸ão do número de farmácias, a necessidade de prestarservic¸os farmacêuticos diferenciados leva a que as farmácias recrutem mais farmacêuticos. Iria assistir-se de inícioaumamaiorprocurade farmacêuticoscomunitários (fig.4),com formac¸ãoadequadaà prestac¸ãodeservic¸os.O númerodeoutrosprofissionaisestabilizaria,sendoqueasua principalatividadeseriaadispensademedicamentos, assis-tida pelas novas tecnologias de robotizac¸ão e informac¸ão, deformaadeixarmaistempolivreparaofarmacêutico.No entanto, com a possibilidade de o farmacêutico ser remu-nerado sem necessitar de vender medicamentos, haverá muitos profissionais que optariam por exercer de forma independente.

Este ambiente seria favorável para o desenvolvimento profissionaldosfarmacêuticos comunitários. Énaturalque com as novas responsabilidades e as possibilidades de participac¸ão no sistema de saúde, o farmacêutico comu-nitário setorne numa profissão com maiorprocura (fig.5) reflectindo-senonúmerodediplomadosqueiriamoptarpor estaviaprofissional.

Desenvolvendo-seosCSPnumalógicadeservic¸os,a neces-sidade de conter os custos com os medicamentos pode impulsionaraintegrac¸ão deste novofarmacêuticonosCSP. EstefarmacêuticopodeintegraraequipadoAgrupamentode CentrosdeSaúde(ACES),deumafarmáciadazona,ouserum profissionalindependente,mantendoumainterligac¸ãocom osoutrosprofissionais,nomeadamentemédicose enfermei-ros,comosquaispartilhariaresponsabilidadesnagestãoda doenc¸a.

No cenário «e-Pharmacist», as questões de emprega-bilidade que surgem com a liberalizac¸ão da propriedade de farmácia serão compensadas pela possibilidade de o farmacêutico poder exercer de forma independente, com a remunerac¸ão assegurada pelos servic¸os farmacêuticos. O desenvolvimento deste novo papel traria a necessidade deadquirir novascompetências.Paratal,além dosaspetos técnicosrelacionadoscomousodemedicamentos,o farma-cêuticocomunitárioterádedominartambémoutrosaspectos daprestac¸ãodeservic¸osnomeadamente,umaforteformac¸ão emfarmacoterapia,farmáciaclínicaeemgestãode progra-masdecuidadosfarmacêuticos.Terádeserumutilizadorde tecnologiasdeinformac¸ão,comoaWeb2.0,usadano auxí-lioàprestac¸ãodosservic¸osenacomunicac¸ãocomosutentes ecomosoutrosprofissionaisdesaúdeenvolvidosnagestão doenc¸a.Seriafundamentalpromover-seumamaiorculturade trabalhoemequipaentreofarmacêuticoeosrestantes pro-fissionaisdesaúde,dandoapoioaofarmacêuticocomunitário paraqueesteseintegrenosCSP:terádeexistirumamaior ligac¸ãocomomédicodefamíliaecolaborac¸ãonagestãodo medicamentoedadoenc¸a.

Para os utentes, este cenário pode revelar-se valioso. Agestãodadoenc¸aedaterapêutica,podendoserefetuadaà distância, pode implicar diminuic¸ão dos custos associados àgestãodadoenc¸aereduc¸ãodeidasaomédico.A conveniên-ciadaproximidadedosfarmacêuticoséumdosfatoresque atualmenteinfluinasatisfac¸ãocomosseusservic¸os38,sendo provávelqueamelhoriadaacessibilidade,característicadeste cenário,possaaumentaraindamaisasatisfac¸ãodosutentes. Paraossistemasdesaúde,aintegrac¸ãodosfarmacêuticos narededeCSPiriafazerentraroscustosdoscuidados farma-cêuticos noorc¸amento.Masadiversidadede financiadores característica deste cenário,iria reconhecer os ganhosem saúde e eficiênciadesta nova forma de atuac¸ão, sendo os custos com os cuidados farmacêuticos compensados com reduc¸ões em outros custos relevantes para o financiador. Além disso, umcompromissoentre acontenc¸ão decustos com os medicamentos e a qualidade é possível, e estes novosservic¸osemmuitopodemcontribuirparaaqualidade doscuidadosdesaúde16.

CenárioIII– «Reorganizeordie»

Neste cenário considera-se que o ambiente legislativo mantém-se pouco alterado não existindo alterac¸ões na lei da propriedadedefarmácia,naformadefinanciamentodo SNS nemnaforma de remunerac¸ãodas farmácias. Assim, as farmáciasteriam deprocurar outras fontesde financia-mento parasobreviverememanteremlucros,ouconstituir agrupamentosdefarmáciasparatentardiminuiroscustos. Odesenvolvimentodeservic¸osaconteceráapoiadona neces-sidade das farmáciassediferenciarem umasdas outras de modoa aumentarema procuradosseus servic¸ose produ-tos,fazendoassimfaceàreduc¸ãodasmargens.Nemtodas as farmácias evoluirão no mesmosentido, dependendo da vontade dos proprietários emcontinuar independentes ou unirem-seagruposjáexistentes.Éprovávelquesurjam fran-chisesdefarmácias.

Algumasfarmáciasiriamapostaremservic¸os farmacêu-ticos, dando ênfaseàinovac¸ão e àintroduc¸ão desoluc¸ões

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rev port saúde pública.2012;30(2):125–142

tecnológicas. Iriam recorrer a outros profissionais para servic¸osquenãosejamdoâmbitodofarmacêutico,comopor exemplo,nutricionistasparaconsultasdenutric¸ão, enfermei-rosparatratamentosmaisespecíficos(pédiabético,pensos, etc.)eoutrosprofissionais(psicólogos,podologistas, medici-nasalternativas,etc.).Poderiam serestabelecidas parcerias comestesprofissionais,dependendoomixdeservic¸osda polí-ticaqueoproprietárioquerparaoseuespac¸o.

Onúmerodefarmáciastendeaestabilizar(fig.3)pois a aberturade farmácias iria continuar condicionadaao con-curso público com os critérios agora em vigor. A maioria dasfarmáciasterásítios naInternetmas,comonãohouve alterac¸ão da legislac¸ão e a venda de medicamentos sujei-tosareceitamédicasópodeserfeitaindividualmenteapós oenvio peloutente da prescric¸ão médica, seráumservic¸o pouco requisitado. Os sítios ficam vocacionados para a comunicac¸ãocom o utente eavenda de MNSRM eoutros produtosdesaúdeebem-estar.Osfarmacêuticosserão res-ponsáveis pela produc¸ão de conteúdos para esses sítios, adaptadosàrealidadesocioeconómicadecadafarmácia.Não sendonecessários muitosfarmacêuticos porfarmácia, este cenário leva a uma diminuic¸ão do ratio de farmacêuticos porfarmácia(fig.4),sobretudodevidoaosconstrangimentos económicos.Onúmerodetécnicosnasfarmáciastenderáa aumentar,sobretudoparaafunc¸ãodedispensade medica-mentosedevendadeoutrosprodutos.Aprocuradocursode ciênciasfarmacêuticaspodediminuir(fig.5),empartedevido àmenornecessidadedefarmacêuticoseempartedevidoà reduc¸ãodoapelopelaprofissão,poisnemtodososdiplomados têmapetênciaparaservendedores.

Umaoutratendênciaseráoaumentoanívelnacionalde casosdeintegrac¸ãodosACESemhospitais,criandounidades locaisdesaúde(ULS),comointuitodeotimizaragestão clí-nicaeoscustos.Estasituac¸ãopodepromoveraintegrac¸ãodos servic¸osfarmacêuticos doshospitais comos comunitários, potenciandomais-valiasrelativasàcompraedistribuic¸ãode medicamentoscombenefícioparaoutilizadoreparao finan-ciador,mascomimpactoaníveldasfarmáciasdaregião.Seria maisum fator a contribuir para o estrangulamento finan-ceirodasfarmácias,masqueabririamaisoportunidadespara osfarmacêuticosdesenvolveremasuaatividade integrados nasULS,comfunc¸õesdegestãodeinformac¸ãorelativaaouso dosmedicamentos prescritosnaULS,controlandoaindaos custosdasprescric¸õesepodendotambémprocederàdispensa dealgunsmedicamentos.Estasituac¸ãotrariaapossibilidade demelhorararelac¸ãocomosmédicos.

Neste cenário o farmacêutico comunitário assume um papelmaiscomercial.Seria oprofissionalresponsável pela dispensadosmedicamentos masotimizou essadispensa e deixou-aparaostécnicos.Poderiaaindadesenvolvere ino-varaprestac¸ãodeservic¸os.Dadoquemuitosdessesservic¸os nãoseriamda suaresponsabilidade,ofarmacêutico comu-nitário(nãoproprietário)seráapenasmaisumprofissional dentro de um espac¸o de saúde. Será naturalque venha a especializar-senavendadeoutrosprodutos(suplementos ali-mentares,produtosdeóptica,produtosdeortopedia,produtos dedermocosmética),necessitandodeadquirirmais compe-tênciasnestasáreas,paraassimverreforc¸adaasuafaceta de vendedor. Simultaneamente, terá de cuidar dos aspec-tosrelacionadoscomosservic¸osfarmacêuticos,procurando

desenvolvê-los, continuandoa assumir adirec¸ão técnica e a responsabilidade pela dispensa de medicamentos. Num ambienteemqueaeficiênciatemdesermáxima,situac¸ões comoostressrelacionadocomotrabalhoe«burn-out»podem comec¸araocorrerentreosfarmacêuticos,podendo-oslevara abandonaraprofissão27.

Maisdo queacompetênciatécnica,será arelac¸ão com o cliente que terá um maior peso neste cenário, pois a remunerac¸ãodosservic¸oséasseguradaemexclusivopelos utentes,peloqueomarketingdeservic¸osassumiráumpapel decisivoparaseaumentaraprocura.Deverádedicargrande atenc¸ão a aspetos relacionados com a venda de produtos de saúde e com aspetos relacionadoscom aqualidade da dispensa dos medicamentos. As técnicas de venda ou de

marketing deprodutos,eastécnicascomunicacionaisserão importantesparafidelizarclientes.

Paraosutentes,estecenárionãoémuitovantajoso,pois comec¸ariamasermaisencaradoscomoconsumidoresde pro-dutos eservic¸osemdetrimento deserem encarados como utentes de umservic¸odesaúde. Nemtodos teriamacesso aosservic¸osfarmacêuticospoiscontinuariamadependerda localizac¸ão da farmácia maispróxima, da política adotada pelos proprietários e da capacidade individual para pagar pelosservic¸osfarmacêuticospropostosemcadafarmácia.

Para osistema desaúde, anãointegrac¸ão deste farma-cêutico comunitárionaredede CSPlimitaria osganhosde eficiência associados aos cuidados farmacêuticos. O facto deofinanciamentodestesservic¸osserdaexclusiva respon-sabilidadedoutente levaaqueaequidadedosistemasaia prejudicada.Nemtodososcidadãosquerealmente necessi-tariamdestesservic¸osteriamdisponibilidadefinanceirapara os adquirir. A disponibilidadede mais farmacêuticos pode levaràsuaintegrac¸ãoemservic¸osdesaúdedaULSmascom func¸õesdistintasdosfarmacêuticoscomunitários.Passariam aterfunc¸õesdecontrolodeprescric¸ões,definic¸ãode guide-linesterapêuticasedisponibilizac¸ãodeinformac¸ãojuntodos restantesprofissionaisdesaúde,paraobterpoupanc¸as eco-nómicasnousodosmedicamentosemelhoraraeficiênciado sistemadesaúde.

Desenvolvimento

de

indicadores

para

os

cenários

A mais-valia da análisede cenárioséestimular novas for-mas de pensar ede debater o futuro.É importante deixar para trás velhos hábitos se realmente a profissão quiser mudar, abordando o futuro com uma mente aberta. Os resultadosdosworkshopsdecenarizac¸ãopermitiramconstruir 3cenáriosdiferentes,representandofuturosplausíveis, base-adosnasevidênciasobservadasemváriosestudosnacionaise internacionais.Nenhumdelespretenderepresentaro«futuro real».Aantecipac¸ãodestescenáriospermitirápreparar estra-tégiaseestimularacriac¸ãodenovasformasdeprática,numa sociedadeemmudanc¸a.

Todos oscenárioselaboradostêm aspectoscomunsque seprendemcomaevoluc¸ãodascompetênciasdostécnicos defarmáciaecomaevoluc¸ãotecnológica,quelevamauma diminuic¸ão da necessidade de farmacêuticos comunitários no aconselhamento e dispensa. Na tabela 2 resume-se as

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Tabela2–Resumodasprincipaiscaracterísticaseimplicac¸õesdoscenárioselaborados

CenárioI«Pharmacy-mall» CenárioII«e-Pharmacist» CenárioIII«Reorganizeordie» Necessidadedefarmacêuticos

comunitários

Diminui Aumenta Diminui

Principaisfunc¸ões Supervisão Prestadordecuidados Vendedor/inovador

Competênciasaadquirir Lideranc¸a Gestãodefarmácia ederecursoshumanos Aspetosregulamentares Farmacovigilância Tecnologiasdeinformac¸ão Reforc¸arcompetênciasde farmacoterapiaefarmáciaclínica Tecnologiasdeinformac¸ão avanc¸adas(Web2.0)

Aptidõesparatrabalhoemequipa

Gestãodeclientes

Marketingdeprodutoseservic¸os Técnicascomportamentais ecomunicacionais

Integrac¸ãodosfarmacêuticos comunitáriosnosCSP

Não EquipamultidisciplinarnasUSF

Policlínicas

NasULS,comcompetências distintasdosfarmacêuticosa exercernasfarmácias

principaiscaracterísticaseimplicac¸õesdoscenários,deforma arealc¸arosaspetosmaisimportantesateremconsiderac¸ão paraaelaborac¸ãodeestratégias.

A importância de dados empíricos sólidos para a elaborac¸ãodepolíticas,decisãoemonitorizac¸ãodoprogresso dosrecursoshumanosde saúderumoaodesenvolvimento e reforc¸o dos sistemas de saúde, está já amplamente reconhecida2. Tendo em conta os fatores de mudanc¸a, as

barreiras e as tendências de evoluc¸ão já identificadas, Zellmer15 sugere indicadores para que os líderes e os estrategas dentroda profissão e sistemade saúde possam monitorizara situac¸ãode implementac¸ãodosservic¸os far-macêuticos,comonovapedrabasilardapráticafarmacêutica. Com base nestes indicadores, definiu-se um conjunto de indicadoresadaptadosàrealidadeportuguesaatualefutura, demodoaacompanharaevoluc¸ãodopapeldofarmacêutico

Tabela3–Indicadoresparaacompanharaevoluc¸ãodamudanc¸adopapeldofarmacêuticocomunitárioemPortugal

Principaisdomínios Indicadores

Farmacêuticos •Númerodeprofissionaishabilitadosaprestarservic¸osfarmacêuticosdiferenciados •Númerodefarmacêuticosporfarmácia

•Rácioentrevagasemfarmácias«tradicionais»evagasemfarmáciascomumaorientac¸ãomaisclínica •Númerodefarmacêuticosaexercerfunc¸õesclínicasforadasfarmáciasehospitais

•Númerodefarmacêuticosdesempregadosefarmacêuticosemigrantes •Níveldesaláriodosfarmacêuticos

•Númerodefarmacêuticosindependentesquepublicitaasuaatividade •Númerodeorganizac¸õesprofissionaisindependentes

Procuradeservic¸os •Númerodeservic¸osprestados

•Rácioentreservic¸osdiferenciadoseindiferenciados

•Númerodeoutrosprofissionaisaprestarservic¸osnasfarmácias •Gastosdosutentescomosservic¸osfarmacêuticos

•Númerodeanúnciosemtodososmeiosdecomunicac¸ãoapublicitarservic¸osfarmacêuticos •Graudecorrelac¸ãoentreaescolhadafarmáciaeomixdeservic¸osdafarmácia

Sistemadesaúde •Númerodeprestadoresquerequeremfarmacêuticosparaprogramasdegestãodedoenc¸aeterapêutica •Gastoscomcampanhasparainformac¸ãosobreondeencontrarestenovofarmacêutico

•Númerodesubsistemasquepagamaofarmacêuticoosservic¸osdegestãodedoenc¸aeterapêutica •Númerodemédicosdefamíliaqueesperaterumfarmacêuticoaprestarestesservic¸os

Evoluc¸ãodosservic¸os •Númerodeservic¸osquerecorrematecnologiasdeinformac¸ãoasuaprestac¸ãoesuporte •Númerodefarmáciascomautorizac¸ãoparavendermedicamentosporInternet

•Númerodeartigospublicadossobreservic¸osfarmacêuticosinovadores,relacionadoscomavanc¸os nodiagnósticoetratamentodadoenc¸a

•Númerodeartigospublicadosincidindosobreosservic¸osfarmacêuticosesuaintegrac¸ãonosistema desaúde

•Númerodeartigoscomanáliseeconómicadeservic¸osemrevistaspeer-reviewed

Mercado •Númerodefarmáciasindependentesouintegradasemgrandesorganizac¸õesqueoptampelapráticaclínica. •Gastoscommedicamentosem%doPIB

•NúmerodenovosMNSRMaprovados

Educac¸ão •Númerodefaculdadeseoutrasinstituic¸õesdeensinocomcursosdeformac¸ãoparaodesenvolvimento deservic¸osfarmacêuticoseconomicamentesustentáveis

•Númerodefaculdadeseoutrasinstituic¸õesdeensinocomcursosdegestãoparaaáreadefarmácia Técnicosdefarmácia

eoutrosprofissionais

•Númerodetécnicoseauxiliaresporfarmácia

•Númerodetécnicoshabilitadoscomlicenciaturaemfarmácia •Númerodetécnicosinscritosnassuasorganizac¸ões

Imagem

Figura 1 – Fatores com influência no papel do farmacêutico comunitário num sistema de saúde.
Tabela 1 – Fatores mais relevantes para o futuro do farmacêutico comunitário português
Figura 2 – Cenários prospetivos finais.
Figura 3 – Evoluc¸ão do número de farmácias ao longo da década em cada um dos cenários.
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Referências

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