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Pluriatividade no município de São Valério Do Sul: Estratégia de Sobrevivência ou de Resistência?

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

JOÃO MATHEUS BENDER

PLURIATIVIDADE NO MUNICÍPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL: Estratégia de Sobrevivência ou de Resistência?

Ijuí (RS), julho 2019

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JOÃO MATHEUS BENDER

PLURIATIVIDADE NO MUNICÍPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL: Estratégia de Sobrevivência ou de Resistência?

Trabalho de Conclusão de Curso para fins de obtenção do título de Engenheiro Agrônomo pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ

Orientadora: Professora Maria Aparecida de Carvalho Zasso

Ijuí (RS), julho 2019

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JOÃO MATHEUS BENDER

PLURIATIVIDADE NO MUNICÍPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL: Estratégia de Sobrevivência ou de Resistência?

Trabalho de Conclusão de Curso de Agronomia - Departamento de Estudos Agrários da Universidade Regional do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito

parcial para a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

Banca Examinadora:

_________________________________________________ Maria Aparecida de Carvalho Zasso

Prof. Orientadora - DEAg/UNIJUÍ

_________________________________________________ Prof. Dra. Leonir Terezinha Uhde

Examinadora - DEAg/UNIJUÍ

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AGRADECIMENTOS

Quero primeiramente agradecer a minha família, por sempre estar presente nos meus momentos de maior dificuldade.

Aos meus pais em especial, Marilene Leonarski e Eraldo Bender; e aos meus irmãos, Joice Katiany Bender e Alberto Tiago Bender pela presença constante na minha educação. Apesar de todas as dificuldades financeiras, sempre incentivaram minha busca pelo que é correto e hoje, se sou o que sou, devo a eles.

A minha namorada Daniela Schardong Ávila, por ser minha companheira, e me ajudar a organizar as ideias para elaboração deste trabalho.

Um agradecimento a UNIJUI, em especial ao DEAg (Departamento de Estudos Agrários) por ter ofertado durante todo o decorrer de minha graduação, um corpo docente de qualidade que formam excelentes profissionais.

Ao Governo Federal, pela possibilidade do Financiamento Estudantil (Fies), decisivo para eu cursar Agronomia e ter uma graduação.

Agradeço minha orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso, Me Maria Aparecida de Carvalho Zasso, por me auxiliar na elaboração deste trabalho. E à professora Drª Leonir Terezinha Uhde, que prontamente aceitou fazer parte da banca examinadora.

Enfim, a todos que de alguma forma ajudaram direta ou indiretamente nessa etapa tão importante na minha vida.

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“Busque os seus ideais, não deixe que nada nem ninguém atrapalhe o seu objetivo”. (Gabrielly Barros)

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Produção mundial de Cana-de-açúcar em milhões de toneladas. ... 19

Figura 2 - Produção mundial de café em milhões de quilos. ... 20

Figura 3 - Produção mundial de soja em milhões de toneladas... 21

Figura 4 - Produção mundial de milho em milhões de toneladas. ... 21

Figura 5 - Localização do município de São Valério (RS) no âmbito nacional. ... 29

Figura 6 - Localização do município de São Valério (RS) no âmbito estadual. ... 30

Figura 7 - Localização do município de São Valério (RS) na região noroeste do estado. ... 30

Figura 8 - Limite territorial do município de São Valério (RS). Área urbana demarcada pelo nome do município e território indígena demarcado pela linha vermelha com maior espessura. ... 31

Figura 9 - Localização da aldeia indígena no município. ... 32

Figura 10 - Dados demográficos da terra indígena... 32

Figura 11 - Porcentagem de famílias com membros pluriativos e suas respectivas produções. ... 39

Figura 12 - Porcentagem de famílias que contratam ou não mão-de-obra para realizarem serviços de maquinário agrícola na produção de soja. ... 40

Figura 13 - Dificuldades de produção na propriedade. ... 42

Figura 14 - Opção de morar no meio rural. ... 42

Figura 15 - Porcentagem de famílias com apenas um membro e mais que um membro pluriativo. ... 43

Figura 16 - Porcentagem de propriedades que tem mais de um membro pluriativo. ... 44

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LISTA DE SIGLAS

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano IN – Instrução Normativa

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Armazenamento PIB – Produto Interno Bruto

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

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SUMÁRIO

RESUMO ... 9

ABSTRACT ... 10

INTRODUÇÃO ... 11

1 REVISÃO DE LITERATURA ... 15

1.1 A AGRICULTURA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ... 15

1.2 A AGRICULTURA BRASILEIRA, UM REFLEXO NA PRODUÇÃO MUNDIAL ... 19

1.3 A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA IMPORTÂNCIA ... 22

1.4 PLURIATIVIDADE: QUANDO A AGRICULTURA JÁ NÃO É MAIS SUFICIENTE ... 25

2 O MUNICIPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL ... 29

2.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA, CULTURAL E SOCIAL DO MUNICÍPIO ... 29

3 A PLURIATIVIDADE NO MUNICIPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL ... 35

4 MATERIAL E MÉTODOS ... 37

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 39

CONCLUSÃO ... 46

REFERÊNCIAS ... 47

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RESUMO

PLURIATIVIDADE NO MUNICÍPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL: Estratégia de Sobrevivência ou de Resistência?

A agricultura é o termo usado para a “arte de cultivar”, com o intuito de cultivar a terra e dela retirar renda suficiente para a sua sobrevivência. O trabalho assalariado de alguns membros da família rural cujo rendimento é utilizado na manutenção da propriedade agrícola, é chamado de Pluriatividade. O objetivo do presente trabalho é verificar a existência de famílias pluriativas no município de São Valério do Sul (RS), buscando compreender a importância desta estratégia como elemento de permanência da família no meio rural. No noroeste gaúcho, região caracterizada pelas pequenas propriedades familiares, a Pluriatividade é visível, sendo uma estratégia de sobrevivência ou de resistência da propriedade. No município, a maioria das propriedades pluriativas produz grãos e eventualmente contrata mão de obra, principalmente quando o manejo exige mecanização. As famílias permanecem no meio rural em busca de tranquilidade, porém a existência de membros pluriativos permite renda para a aquisição dos insumos necessários para as atividades agrícolas. Na pesquisa, foi possível observar que existem propriedades com mais de um membro pluriativo, o que nos faz reconhecer que o trabalho realizado por estes, viabiliza a propriedade. Dessa forma, podemos afirmar que quanto menor a renda proveniente da atividade agrícola, mais dependente de emprego assalariado a família é. A pluriatividade aparece como uma forma de garantir a permanência da família no meio rural, muitas vezes mais por tradição do que por vocação.

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ABSTRACT

PLURIACTIVITY IN THE MUNICIPALITY OF SÃO VALÉRIO DO SUL: Survival or Resistance Strategy?

Agriculture is the term used for the "art of cultivating", with the intention of cultivating the land and of obtaining enough income for its survival. The salaried work of some members of the rural family whose income is used in the maintenance of agricultural property is called Pluriactivity. The objective of the present study is to verify the existence of pluriactive families in the city of São Valério do Sul (RS), seeking to understand the importance of this strategy as an element of family permanence in the rural environment. In the northwest of Rio Grande do Sul, a region characterized by small family farms, Pluriatividade is visible, being a strategy of survival or resistance of property. In the municipality, most pluriactive properties produce grains and eventually hire labor, especially when handling requires mechanization. Families remain in rural areas in search of tranquility, but the existence of pluriactive members allows income for the acquisition of the necessary inputs for agricultural activities. In the research, it was possible to observe that there are properties with more than one pluriative member, which makes us recognize that the work done by these, makes property feasible. In this way, we can affirm that the smaller the income coming from the agricultural activity, the more dependent the wage earner the family is. Pluriactivity appears as a way of guaranteeing the permanence of the family in the rural environment, often more by tradition than by vocation.

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INTRODUÇÃO

A agricultura é o termo usado para a “arte de cultivar”, com o intuito de retirar dela renda suficiente para a sua sobrevivência. A base do cultivo agrícola é para a alimentação de humanos e animais, porém os avanços tecnológicos nos permitem retirar da agricultura outros suprimentos como matérias-primas para roupas, combustíveis, construção civil, medicamentos, ferramentas, ornamentação e inúmeras outras finalidades (RIBEIRO 2019).

No setor agrícola temos um campo muito variado de produtos e produtores. O nível tecnológico e a capacidade de capitalizar, dizem mais sobre a sustentabilidade econômica da propriedade do que sua área em hectares. Nesse sentido, de acordo com o nível tecnológico, uma mesma quantidade de terras garante a reprodução social de uma família, mas em outra propriedade, não. A tecnologia pode ser o diferencial entre propriedades economicamente sustentáveis e propriedades com dificuldades de manterem-se na atividade agrícola, mesmo com similar área de terra.

Na produção de grãos em pequenas unidades familiares, o valor agregado por hectare é baixo, quando comparado a produção de hortaliças. Pela produtividade da área, podemos observar situações em que uma propriedade de 10 hectares pode ser mais rentável que outra com 10 mil hectares. Elementos utilizados para essa análise, nos indicam que o sistema de produção empregado, o tipo de cultura agrícola, o mercado consumidor existente e a capacidade de agregar valor ao produto, podem definir a sustentabilidade econômica das pequenas propriedades rurais, ou seja, o mesmo hectare destinado à olericultura pode ser mais rentável que a produção de grãos.

A pequena propriedade rural, cujo trabalho é executado exclusivamente pelos membros da família, sofreu muito nas últimas décadas pela dificuldade de acompanhar o nível tecnológico exigido pela monocultura nos campos de produção. A falta de programas específicos para esse público, que possibilitassem o acesso dos pequenos produtores aos recursos tecnológicos, desenvolvidos de acordo com sua realidade, tornaram o pequeno produtor inapto para as demandas de produção em grande escala, típico do sistema capitalista.

As empresas que dominam o mercado de agrotóxicos, fertilizantes químicos, sementes e maquinário agrícola não têm (salvo algumas exceções), programas direcionados para as pequenas propriedades familiares, em geral, descapitalizadas. Seus olhares estão voltados ao agronegócio, capaz de equilibrar a balança comercial e elevar o

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Produto Interno Bruto (PIB). Dessa forma, as grandes propriedades rurais avançam expandindo suas lavouras para áreas antes de agricultura familiar.

Para que a chamada “Revolução Verde” tivesse os resultados esperados, aos grandes proprietários de terra foi oferecido um “pacote tecnológico com crédito para custeio e investimento, financiamentos à juros baixos e longo prazo de carência. Isso tudo, tornou o Brasil um dos maiores produtores agropecuários do mundo.

Em um contexto mais atual, foram criados programas que auxiliam o pequeno produtor, como por exemplo o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura (PRONAF) e o Mais Alimentos. Esses programas financiam a juros baixos as máquinas e os insumos necessários para o desenvolvimento da atividade.

O PRONAF segundo o SICREDI (Sistema de Crédito Cooperativo, [s/d]), tem por principal objetivo ser:

Um programa do Governo Federal que possui o objetivo de fortalecer as atividades desenvolvidas pelo agricultor familiar a partir do financiamento de atividades e serviços agropecuários e não agropecuários desenvolvidos em estabelecimento rural ou em áreas comunitárias próximas que possam melhorar a qualidade de vida das famílias produtoras.

Este programa serve para produtores que possuam Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), cadastrado na base de dados na Secretaria da Agricultura Familiar (SAF).

O Pronaf e o Programa Mais Alimentos, tem objetivos quase similares.

O Pronaf Mais Alimentos destina recursos para investimentos em infraestrutura produtiva da propriedade familiar e, assim, cria as condições necessárias para o aumento da produção e da produtividade.

O programa oferece taxas de 2,5 a 5,5% de juros ao ano, com pacotes coletivos e individuais. Os valores variam de R$ 330 mil a 800 mil respectivamente, dependendo da forma de financiamento.

Podemos observar no Brasil a concentração das terras. Segundo o Censo Agropecuário de 20061, apenas 9,6% dos produtores possuíam áreas maiores que 100 hectares mas ocupavam 78,6% da área dedicada à atividade agrícola. Por outro lado, os produtores com menos de 10 hectares representavam mais de 50% dos estabelecimentos e ocupavam apenas 2,4% da área destinada a atividades agrícolas. É provável que a concentração de terras tenha aumentado no Censo realizado em 2017.

1 Foram utilizados os dados do Censo Agropecuário 2006, pois os dados do último Censo Agropecuário,

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No Rio Grande do Sul, 8,5% dos estabelecimentos gaúchos possui mais que 100 hectares, correspondendo a 66,5% da área agrícola do estado. Em contrapartida, os pequenos produtores com menos de 10 hectares correspondem a 38,9% dos estabelecimentos, utilizando uma área de 3,8% do território agrícola deste estado.

A distribuição de terras no Rio Grande do Sul apresenta dados menos discrepantes, se comparada aos do Brasil, razão pela qual, em terras gaúchas, a concentração fundiária não é tão evidente. Historicamente, os estados da Região Sul foram influenciados pela vinda dos imigrantes europeus no século XIX.

Algumas unidades de produção familiar não garantem sua reprodução social a partir da renda exclusivamente obtida das atividades agrícolas. Estas precisam de um complemento de renda e parte de seus membros estão empregados em atividades urbanas, no setor industrial ou no setor de serviços. O trabalho assalariado de alguns membros da família rural cujo rendimento é utilizado na manutenção da propriedade agrícola, é chamado de Pluriatividade. Schneider (2009) descreve Pluriatividade como o fenômeno que ocorre no meio rural onde há combinação de duas atividades: aquelas próprias do meio agrícola conciliadas com outra fonte de renda externa, a fim de auxiliar nos custos da propriedade.

O objetivo do presente trabalho é verificar a existência de famílias pluriativas no município de São Valério do Sul (RS), buscando compreender a importância desta estratégia como elemento de permanência da família no meio rural.

Dessa forma, o trabalho foi organizado em três capítulos. Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica a fim de situar a atividade agrícola como importante fonte de renda e meio de desenvolvimento econômico do Brasil, desde a chegada dos portugueses nessas terras. Muitos ciclos econômicos brasileiros ocorreram a partir de produtos agrícolas. Inicialmente pela extração do pau-brasil e do látex proveniente da seringueira; depois pela produção de cana-de-açúcar em larga escala e do café. Esse último, importante elemento de industrialização do país.

No segundo capítulo, é apresentado o caminho metodológico adotado para a pesquisa com uma breve descrição dos sujeitos participantes do mesmo. A pluriatividade aparece como estratégia de sobrevivência da pequena produção agrícola e o município de São Valério do Sul foi escolhido como local da pesquisa empírica. Através de um questionário estruturado, foram coletados os dados para descrever as atividades

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desenvolvidas pelos membros da família, tanto as exigidas pela propriedade, quanto aquelas vinculadas ao trabalho urbano.

Por fim, serão apresentados os principais resultados obtidos com o estudo, relacionando-os à literatura consultada, a fim de respaldar as considerações finais.

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1 REVISÃO DE LITERATURA

É através do trabalho que o ser humano transforma a natureza e evolui em suas práticas e instrumentos. Nesse sentido, o trabalho tem especial valor na sociedade desde os primórdios da humanidade. Conforme Lazzarotto (1974), o trabalho, a atividade econômica, é o centro de toda ação humana, uma vez que é por meio dele que podemos atingir muitos de nossos objetivos, tais como o bem-estar, a saúde, o prestígio social, o poder e a segurança. Uma vez que a sociedade não é estática, as formas e o significado do trabalho mudam com o passar do tempo. O desenvolvimento tecnológico dos meios de produção implica em nova organização do sistema de produção, o que, por sua vez, modifica nosso sistema social e político, e até nossos valores e crenças.

Neste sentido, Pluriatividade aparece como um elemento a ser considerado na nova configuração do campo brasileiro, especialmente na agricultura familiar.

1.1 A AGRICULTURA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Dados arqueólogos demostram que o Homo sapiens sapiens – homem atual ou moderno, o homem pensante e sábio – é uma espécie muito recente que surgiu na terra há apenas 50.000 anos ou 200.000 anos segundo diferentes autores. Essa espécie disseminou-se rapidamente por todos os continentes e há 10.000 anos aproximadamente pratica o cultivo e a criação, modificando profundamente a maior parte dos ecossistemas do planeta (MAZOYER & ROUDART, 2010).

Segundo a teoria mais comumente aceita, o homem atual seria o único e último representante do ramo evolutivo dos hominídeos que teria gerado sucessivamente o

Australopithecus seguido do Homo habilis; Homo erectus e enfim, o Homo sapiens. O

sul da África teria sido o local do aparecimento do Homo sapiens há mais de 200.000 anos atrás e este teria migrado para o Oriente Médio, há cerda de 50.000 anos atrás.

O Homo sapiens sapiens é o autor de progressos técnicos rápidos e variados. Utilizava pedras duras cada vez mais talhadas, diferentes tipos de facas, machados, furadores e instrumentos utilizados inclusive para produzir outros instrumentos que possibilitavam ao homem explorar novos meios e adaptar-se à diferentes condições ecológicas. Há aproximadamente 10.000 anos da nossa Era, algumas sociedades começaram a semear plantas e manter animais em cativeiro, para multiplica-los e utilizar seus produtos. Sociedades predadoras foram transformadas pouco a pouca em sociedades de cultivadores. Essa passagem da predação à agricultura, ou seja, a revolução agrícola

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neolítica transformou a economia humana. Antes deste período, o homem era nômade, que ao coletar alimentos, mantinha sua sobrevivência e a da sua família. A caça, a pesca, a coleta de frutos, raízes e cereais era a rotina dos nômades (OLIVEIRA Jr, 1989).

A transição do ser nômade para o agricultor foi um processo muito lento. O homem ocupava de uma área, consumia todo o alimento disponível ali, e após procurava outro local com as mesmas características da área anterior. No entanto, ao praticar o cultivo e a criação, o homem não encontrou na natureza nenhuma espécie já domesticada, precisou domesticar e fabricar os instrumentos que facilitassem seu trabalho. Ao cultivar seu alimento e domesticar animais, pôde ajustar os sistemas de cultivos e de criação aos diferentes ambientes do planeta, transformando-os de acordo com suas necessidades e ferramentas disponíveis. As sociedades humanas de cultivadores e criadores combinam várias espécies e modalidades de organização e funcionamento muito diversas. Produto versátil que muda no tempo e no espaço.

Um grande salto para a agricultura foi a Revolução Industrial, que ocorreu no Reino Unido, principalmente na Inglaterra entre 1760-1860. O advento da Revolução Industrial permitiu o desenvolvimento de motores a vapor que facilitaram o trabalho nas fábricas, ou seja, com as máquinas produziu-se mais em menos tempo. A revolução industrial foi um marco para as fábricas têxteis, que adquiriam máquinas para tecer fios de algodão, estimulando a produção desta cultura nas áreas rurais. Os motores impulsionaram também, a construção de ferrovias, para escoação da produção (SILVA, 2019).

A segunda etapa da Revolução Industrial ocorre entre 1860-1900 onde foram criados motores movidos à combustíveis, não mais à vapor, com ênfase naqueles derivados do petróleo. Nesta época, países como Alemanha, França, Rússia e Itália também se industrializaram. É também o período que marca o início da pesquisa e comercialização de produtos químicos (SÓ HISTÓRIA, 2019).

No final dos anos 1960, no período militar, as políticas para a agricultura brasileira deram ênfase à modernização conservadora, ou seja, a implantação de um sistema de produção, baseada na plantation norte americana: monocultura, grandes áreas de terra e mecanização. Para isso foram necessários incentivos governamentais através da liberação de vultuosos recursos para crédito rural, seguro agrícola, facilidade na aquisição de máquinas e equipamentos, sementes melhoradas, garantia de comercialização da safra, resultando na entrada de capital estrangeiro. A agricultura brasileira modernizou-se, porém dependente desse capital. O resultado é um desenvolvimento via tecnificação, com

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maquinários, sementes modificadas e agroquímicos, onde os maiores níveis de produção e produtividade estavam nos grandes proprietários. Aos pequenos proprietários por não conseguirem ser beneficiados por tais políticas da mesma forma que os grandes produtores, restou migrar, visto que não conseguiram se manter na propriedade (ANDRADE, 2010).

Percebemos que a revolução verde não foi boa para todos os produtores do país, pois os pequenos produtores não resistiram às exigências da “modernização”, feita para os mais capitalizados. Dessa forma, quem tinha poder aquisitivo maior, foi comprando as áreas dos pequenos pela facilidade de acesso aos financiamentos e facilidade em pagamentos.

A revolução verde acelerou o êxodo rural, acompanhado pelo que ficou conhecida como “modernização conservadora”, ou seja, modernizou, mas não modificou a estrutura fundiária do país.

A Revolução Verde pode ser analisada como um divisor de águas na agricultura. Por um lado, parte dos produtores rurais capitalizados ou em vias de capitalização, com grande poder de barganha nas mãos (para vender seus produtos e comprar os insumos); capazes de adquirir novas tecnologias, a partir de financiamentos, subsídios ou até pelo “perdão” de suas dívidas. Do outro, os pequenos produtores que não conseguiram acompanhar as exigências do “pacote tecnológico” inadequado para a realidade das suas unidades de produção. A Revolução Verde beneficiou alguns e exclui muitos daquilo que conhecemos por modernização da agricultura.

A Revolução Verde trouxe aumento da produção de grãos e a produtividade das safras brasileiras cresceu de forma efetiva ao longo das décadas. No Brasil as grandes propriedades rurais foram beneficiadas pelo incentivo cada vez maior à produção de

commodities. O modelo plantation norte americano encontrou solo fértil em terras

brasileiras.

A agricultura contemporânea envolve alta tecnologia, presente em sementes melhoradas, resistentes às pragas e doenças, à seca ou à geada, aos herbicidas; em parâmetros de produtividade jamais vistos; em equipamentos e máquinas agrícolas que permitem a agricultura de precisão, mas exigem mão de obra cada vez mais qualificada. É notório que os investimentos são crescentes e estão à disposição do produtor, desde que este tenha recursos financeiros suficientes para ter acesso a ela. Máquinas, melhoramento genético, biotecnologia que facilitam a produção e batem recordes de produtividade, estão disponíveis ao produtor rural, porém nem todos têm acesso a tais tecnologias.

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A Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná (ETUFP) apresenta dados que comprovam uma crise da agricultura contemporânea, sem precedentes. Análises semelhantes apontam sérios impactos, não apenas ambientais, mas também impactos sociais, aumentando os problemas principalmente daqueles produtores que não acompanharam a tecnificação.

A dependência de materiais biotecnológicos, a perda da biodiversidade, a redução da variabilidade genética, a criação de indivíduos resistentes a agroquímicos, a morte das abelhas e outros insetos úteis, são outras externalidades desse modelo que precisam ser apontadas. (ETUFP, [2004 e 2005])

Podemos questionar o modelo de produção vigente e propor outros sistemas mais sustentáveis, porém é inegável a importância da agricultura para o país. Ela garante a sobrevivência de muitas famílias e coloca o Brasil no ranking dos maiores produtores agrícolas do mundo.

O poder de barganha dos grandes produtores junto aos governos federal e estaduais, somado ao poder econômico, político e social destes nos municípios e comunidades rurais, possibilitou que adquirissem as terras dos pequenos proprietários, obrigando-os a migrar para as cidades em busca de novas formas de sobrevivência. A consequência foi uma espécie de “efeito dominó” pelo qual os produtores ricos ficaram cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Pequenos proprietários após a venda das suas áreas, muitas vezes por preços irrisórios, migravam para as cidades em busca de melhores condições de vida. Acontece que nas cidades não existiam políticas de habitação, transporte, serviços de saúde e educação, saneamento básico, segurança pública, geração de emprego e renda para o contingente de pessoas que chegavam. Eram pessoas de baixa ou nenhuma capacitação profissional que encontravam trabalho na construção civil, viviam de serviços temporários, faziam “bicos” quase sempre na informalidade, sem qualquer garantia trabalhista. As dificuldades eram diversas e problemas como fome e desnutrição, aumentaram os índices de violência (roubos, assaltos e mortes) assim como de prostituição e drogadição que juntas, reduziram a qualidade de vida dos migrantes, se comparada àquela que possuíam no meio rural.

Ao pequeno proprietário rural sobrou poucas opções: vender sua terra e migrar para a cidade, ou permanecer no campo procurando sobreviver com a renda obtida da comercialização dos seus produtos. Esses produtores encontravam-se em um dilema: não conseguiam capitalizar, muito menos eram capazes de vender suas terras.

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É nesse contexto que a pluriatividade aparece como uma possibilidade de incremento de renda e melhoria da qualidade de vida, sem se desfazer das suas terras. 1.2 A AGRICULTURA BRASILEIRA, UM REFLEXO NA PRODUÇÃO MUNDIAL

A partir de um recorte histórico, podemos afirmar que os ciclos econômicos brasileiros sempre estiveram vinculados à produção agrícola. Desde a extração (e exportação) do pau-brasil (madeira nobre que deu nome ao país); passando pela cana-de-açúcar que trouxe mão de obra escrava da África; pelo café que atraiu os imigrantes europeus que buscavam no “Novo Mundo” uma forma de fugir da fome; até mais recentemente a produção de soja, o país tem buscado na produção agropecuária sua forma de inserção no mercado internacional.

Hoje, o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar, matéria prima para a produção de etanol e açúcar cristal. China e Índia vêm em segundo e terceiro lugar no

ranking de produção respectivamente. Juntos esses três países correspondem a dois terços

da produção mundial (Figura 1).

Figura 1 - Produção mundial de Cana-de-açúcar em milhões de toneladas.

Produtos de origem florestal também são grandes potenciais brasileiros. O café (Coffea spp) por exemplo, tem o Brasil como o maior produtor mundial. Pelos dados da EMBRAPA (2018), o Brasil produziu na safra 2017/2018, 31,9% da produção mundial de café. Os tipos de café mais produzidos no mundo são as variedades “Arabica”

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(destaque da produção brasileira) e a variedade “Robusta”. O ranking de produção mundial de café está apresentado na figura 2.

Figura 2 - Produção mundial de café em milhões de quilos.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2018), na safra 2017/2018 a produção mundial de soja (Glicine max) foi de 336,699 milhões de toneladas. O Brasil é o segundo colocado (Figura 3), sendo os Estados Unidos o maior produtor. Esses dois países possuem mais de 2/3 da produção mundial de soja, demonstrando que a América possui um grande potencial de produção em relação ao restante do mundo.

No Brasil, o estado que mais produz soja é o Mato Grosso (MT), seguido pelo Paraná (PR) e Rio Grande do Sul (RS), com 31, 19 e 16 milhões de toneladas, respectivamente.

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Figura 3 - Produção mundial de soja em milhões de toneladas.

Conforme o site da empresa SEMPRE, a produção mundial de milho (Zea mays) foi de 1.076,2 milhões de toneladas na safra 2017/2018 (Figura 4). Os Estados Unidos é o maior produtor, com 370,96 milhões de toneladas (safra de 2017/2018); a China aparece como segundo maior produtor com 259,07 milhões de toneladas; e o Brasil ocupa a terceira colocação, com 82,0 milhões de toneladas.

Figura 4 - Produção mundial de milho em milhões de toneladas.

No entanto, por trás desse crescimento que torna o Brasil um expoente mundial em produção agrícola, existe outra realidade incapaz de acompanhar as exigências do

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mercado internacional, mas que se esforça para manter seu vínculo com a terra e dela tirar sua renda para além da subsistência. Trata-se da agricultura desenvolvida na pequena propriedade, isto é, da agricultura familiar, com características, dinâmica e lógica de funcionamento diferentes das do agronegócio. A mão de obra é essencialmente familiar, pouca mecanização, várias linhas de produção para garantir a subsistência do grupo e sua manutenção como agricultores.

Apesar de ser um trabalho bastante intenso, nem sempre a renda é suficiente para a reprodução social da família, razão pela qual alguns dos seus membros encontram no trabalho assalariado realizado na indústria ou no setor de serviços, uma forma de permanecerem no meio rural.

Quando a renda proveniente deste trabalho assalariado é investida na propriedade e torna-se fundamental para sua manutenção, estamos diante da Pluriatividade como fenômeno social e econômico.

1.3 A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA IMPORTÂNCIA

Agricultura familiar é uma forma de produção que envolve os membros da família. Na organização existe um responsável pela tomada de decisão, elaboração de objetivos e metas. Essa responsabilidade pode ser dividida entre setores que compõe a produção da propriedade. Por exemplo, a bovinocultura de leite na maioria das vezes é administrada pelas mulheres enquanto a produção de grãos fica na responsabilidade dos homens.

Na produção leiteira, geralmente são as mulheres que definem desde as estratégias de manejo do rebanho até a comercialização do produto. Nas propriedades familiares, as mulheres assumem além do trabalho doméstico (cozinhar, lavar, limpar, passar e cuidar dos filhos) atividades relacionadas à produção. A presença das mulheres na propriedade funciona como base da estrutura familiar, na medida que fica sob sua responsabilidade atividades que trazem renda para a propriedade e garantem sua reprodução social e as demais atividades do mundo privado essenciais para a manutenção do grupo familiar. Entre elas, estão o preparo dos alimentos, os cuidados com os filhos, a limpeza da casa e das roupas.

Ao longo da história, podemos observar a divisão sexual do trabalho, ou seja, atividades destinadas aos homens e atividades cuja responsabilidade era das mulheres. À

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medida que a tecnologia foi incorporada às atividades laborais, não havia mais necessidade de que todos os homens realizassem as mesmas atividades. No entanto, para o trabalho desempenhado pelas mulheres dentro de casa, pouca tecnologia foi desenvolvida e as mulheres seguiram realizando as atividades a ela destinadas. Hoje, tanto as mulheres urbanas quanto as mulheres rurais, desempenham dupla atividade, pois além daquelas desenvolvidas na esfera pública (ou na produção), são quase sempre as únicas as responsáveis pela realização das atividades domésticas.

A agricultura familiar é representada por propriedades de pequeno porte. No noroeste do estado do Rio Grande do Sul, é evidente a presença dessas pequenas propriedades familiares e não é diferente no município São Valério do Sul. Foi a Lei n°4.504, de 30 de novembro de 1964, no inciso II, do Art.4°, capitulo I que definiu o que é propriedade familiar:

Imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros. (BRASIL, 1964).

A Lei nº 11.326 de 24 de julho de 2006, estabeleceu os requisitos necessários para que uma propriedade seja considerada como agricultura familiar, são eles:

I - Não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais2; II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas

atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;III - tenha

renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

A Lei 11.326 de 24 de julho de 2006, foi alterada pela Lei 12.512 de 14 de outubro de 2011 em seu inciso terceiro ficando assim definida:

I - Não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades

econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;III – tenha percentual

mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento na forma definida pelo Poder Executivo; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

A nova lei alterou o inciso III para dar fomento às atividades produtivas rurais, além de instituir um programa de apoio à conservação ambiental.

2 Um módulo fiscal corresponde a 16 hectares no município de São Valério do Sul (AGROBANCO,

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A partir da necessidade de reprodução do núcleo familiar rural, é possível observar que nem todos os agricultores familiares conseguem garantir qualidade de vida apenas com a renda advinda da propriedade rural. Dessa forma, procuram outras fontes de renda em ocupações nem sempre relacionadas às atividades agrícolas. Essa necessidade de desenvolver pelo menos mais um afazer, além da atividade rural, para garantir renda e qualidade de vida, é o que chamamos de Pluriatividade. Pesquisas recentes mostram que a pluriatividade está presente em muitas regiões do país, especialmente na região Sul, onde existem muitas áreas agrícolas compostas por pequenas propriedades rurais, em sua maioria de agricultura familiar.

A pluriatividade é um tema de interesse científico desde a década de 1980. Na época, muitas pesquisas sobre Pluriatividade foram feitas na França e posteriormente alguns autores brasileiros como Carneiro (1993 e 1996); Anjos (1995); Neves (1995 e 1997); Schneider (1994 e 1995), procuraram as semelhanças entre os estudos franceses e a realidade brasileira.

Muitas abordagens da Pluriatividade podem ser feitas a partir da Sociologia, da Antropologia, da Economia, dos Sistemas Agrários de Produção, do Turismo e Gastronomia Rural. Apesar dos estudos sobre tema serem recentes (anos finais do século XX), é possível afirmar que a pluriatividade há muito está presente nas sociedades rurais e, de certa forma, é a renda proveniente das atividades urbanas desempenhadas por membros de propriedades rurais familiares, que garante a manutenção das propriedades rurais como tais.

Schneider (2009) descreve Pluriatividade como o fenômeno que ocorre no meio rural onde há combinação de duas atividades: aquelas próprias do meio agrícola conciliadas com outra fonte de renda externa, a fim de auxiliar nos custos da propriedade. Podemos citar como exemplo, um casal que possui uma pequena propriedade rural, trabalha em outro (ou outros) setor da economia e usa o salário que recebe para manter a propriedade, visto que a renda gerada nela, não é suficiente para mantê-la como tal.

Os estudos sobre Pluriatividade tiveram início nos anos de 1980 na França, principalmente relacionados ao turismo rural como fonte complementar da renda. O turismo rural aparece como elemento importante de garantia da manutenção da propriedade rural. No Brasil, os primeiros estudos aconteceram no Rio Grande do Sul (RS), na macrorregião de Santa Cruz do Sul, conhecida pela produção de fumo. Este fenômeno descrito por Schneider (1994) em Santa Cruz do Sul, também ocorre em outras regiões do Rio Grande do Sul.

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No noroeste gaúcho, região caracterizada pelas pequenas propriedades familiares, a Pluriatividade é visível. São várias estratégias de sobrevivência que os membros da família utilizam para manter a propriedade e esse estudo verifica a existência de

Pluriativos em São Valério do Sul, pequeno município da região noroeste do Rio Grande

do Sul. A base econômica é a produção agropecuária e cerca de 56,82% do seu Produto Interno Bruto (PIB) é proveniente da agricultura (IBGE, 2016).

1.4 PLURIATIVIDADE: QUANDO A AGRICULTURA JÁ NÃO É MAIS SUFICIENTE

Podemos considerar que a pluriatividade já está incorporada à agricultura familiar, pois muitas pequenas propriedades rurais possuem membros pluriativos. Uma alternativa encontrada pela propriedade para manter-se nas atividades rurais, a partir da renda extra adquirida em atividades desempenhadas por seus membros, em outros setores da economia. Aparece então formas de aumento da renda, que vão além da diversificação da propriedade pela incorporação de novos produtos pois incluem atividades urbano-industriais desempenhadas pelos membros das famílias rurais.

Quando integrantes do meio rural trabalham em setores e atividades diferentes daquelas realizadas no meio rural e utilizam a renda adquirida para melhorar as condições de sua propriedade e por consequência, sua qualidade de vida, estamos diante da

Pluriatividade.

Podemos então considerar que a pluriatividade está presente quando os pequenos proprietários rurais (ou alguns membros da família), buscam em atividades não rurais um complemento da renda. Essa renda extra é investida na propriedade rural, diversificando não só a produção, mas as fontes de renda da família.

Na análise econômica, a mão-de-obra é um fator de produção e pode ser vendida como qualquer outro produto a uma empresa ou propriedade. Esse fator de produção é valorizado a partir da sua qualificação, ou seja, quem oferece sua força de trabalho, pode agregar valor à medida que qualificar-se. A renda adquirida pela venda da sua mão-de-obra pode ser diferenciada a partir da sua qualificação.

Existem problemas que toda propriedade agrícola enfrenta que vão além da sua capacidade de planejamento. Podemos citar eventos climáticos (chuva, seca, granizo, tornado, geada) que prejudicam a expectativa de renda com a venda dos produtos, caso ocorram em períodos críticos. A família que depende exclusivamente da renda proveniente da agricultura, teria grandes prejuízos caso algum fator climático destruísse

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equipamentos, instalações e a lavoura. A existência de membros pluriativos na família, reduz esses riscos, pois como possuem renda externa à propriedade, podem garantir sua manutenção. Diferente das famílias que desempenham atividades 100% rurais e não contam com membros pluriativos.

As famílias que possuem membros pluriativos não dependem exclusivamente da renda proveniente das atividades agrícolas, podem contar com o salário recebido em atividades desenvolvidas fora dela. Porém elas não estão imunes às crises econômicas que aprofundam as taxas de desemprego e as colocam em situação de risco. As atividades urbano-industriais também são atividades que dependem de vários fatores, entre eles o mercado interno e externo, a condução das políticas econômicas destinadas ao setor, ao incentivo às exportações, etc.

Nas pequenas propriedades cuja atividade principal é a produção de grãos, em períodos de plantio e colheita da safra, geralmente ocorre sobrecarga de trabalho, visto que a mão de obra dessas unidades produtivas é essencialmente familiar. Nos demais períodos, as atividades são menos intensas. No entanto, a agricultura familiar dedica-se a outras atividades, não só à produção de grãos. Em propriedades agrícolas que trabalham como gado leiteiro, mesmo que não seja sua principal atividade, o trabalho da família é bem mais intensivo, exigindo dedicação diária para realizar todas as atividades demandadas.

Uma pequena propriedade que opta pela produção de grãos, geralmente não possui mão-de-obra nem maquinários suficientes para realizar algumas práticas e manejos. Nos períodos de plantio e de colheita, nas práticas de adubação, controle integrado de pragas ou de doenças, precisa contratar o trabalho de terceiros. Do ponto de vista econômico, o custo pelo pagamento desses serviços, reduz o lucro e a possibilidade de capitalização da propriedade. No entanto, ao contratar temporariamente mão-de-obra e maquinário, a unidade de produção aumenta a produtividade do trabalho, realizando de forma mais rápida e eficiente as atividades e garante mais tempo livre para outros afazeres. É comum que durante alguns períodos do ano, os membros da família ofereçam sua mão-de-obra para propriedades próximas e realizem os mesmos serviços que realizam em sua propriedade. Nesse contexto, não podemos identificar essa família ou seus membros como pluriativos.

A Pluriatividade ocorre quando o produtor ou algum dos membros da sua família possui emprego formal na cidade (seja no setor industrial ou no setor de serviços) e

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destina parte da renda recebida desse trabalho assalariado para a manutenção da propriedade rural.

São inúmeros fatores que explicam a necessidade de pluriatividade em uma pequena unidade de produção agropecuária. O que leva o produtor procurar outras fontes de renda, externas à propriedade para garantir a reprodução social desta? Podemos citar a dificuldade de gestão da sua propriedade, principalmente no que se refere à identificação das atividades que trazem pouco retorno financeiro; a manutenção de algumas linhas de produção por hábito ou prática, mesmo que sejam deficitárias; a inexistência ou incapacidade da assistência técnica na orientação do produtor familiar.

Não podemos desconsiderar a segurança financeira e tranquilidade econômica que a pluriatividade traz aos membros de uma propriedade rural familiar. A certeza do ingresso mensal de recurso financeiro através do salário de um dos membros da família, traz equilíbrio financeiro e facilita o controle das receitas correntes de forma mais eficiente do que quando os ingressos de receita são anuais. A atividade leiteira também tem essa possibilidade de ingresso mensal de receita. Caso ocorra um imprevisto, a família conta com recursos mensais para fazer frente aos seus gastos. Do contrário, a família pode experimentar um período de dificuldades financeiras, levando ao endividamento e à crise financeira.

A produção de grãos em pequenas propriedades que não possuem maquinário próprio, já se mostrou ineficaz. Quando a renda da propriedade é proveniente de mais que uma linha de produção, é provável que a família consiga reproduzir-se socialmente, sem a necessidade de buscar renda no meio urbano, em atividades diferentes daquelas que realizam na propriedade.

A cultura da soja no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul é o carro-chefe de muitas propriedades. A preferência das famílias por essa cultura está relacionada a aspectos históricos, culturais e econômicos, visto que é um produto de fácil mecanização, comercialização, assistência técnica e renda. Boa parte das famílias pluriativas dessa região, são produtoras de grãos. Em São Valério do Sul, também é possível observar esse fenômeno. Em outras regiões do Estado, existem produtores de fumo que trabalham na indústria do tabaco, produtores de pêssegos que trabalham na indústria de compotas.

Como afirma Anjos (2003), a modernização da agricultura, concentrou as propriedades e acarretou aumento do êxodo rural. Uma redistribuição das terras não ocorreu e muitas famílias abandonaram sua propriedade e foram para a cidade. As propriedades foram vendidas e as famílias experimentaram renda mensal, perdendo seus

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vínculos rurais. A concentração das terras nas mãos dos grandes produtores (ou produtores mais tecnificados) e a diminuição de pequenos produtores que utilizam apenas de mão-de-obra familiar, em geral pouco tecnificados e com nível de intensificação abaixo do mínimo da reprodução social, leva à Pluriatividade.

A EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) tem programas de auxílio para pequenas propriedades, principalmente nas áreas de gestão e qualificação através de cursos e treinamentos. Essas ações objetivam facilitar a permanência do produtor na sua propriedade, através do incentivo à diversificação da produção, resultando em produtos de maior valor agregado. Podemos citar por exemplo, as agroindústrias que transformam os produtos agrícolas em sucos, geleias, compotas, pães, cucas, bolachas.

O município de São Valério do Sul tem na produção agropecuária sua maior fonte de receita, porém não conta com um escritório físico da EMATER. Há mais de 60 anos, a EMATER tem-se caracterizado como grande incentivadora das propriedades de agricultura familiar e para elas destina boa parte dos seus esforços. No município, a presença da EMATER poderia ser um diferencial para a agricultura familiar, visto que são muitas pequenas propriedades que necessitam acompanhamento técnico para garantir renda suficiente para sua reprodução social. Nesse sentido, é importante fazer chegar aos pequenos produtores rurais as pesquisas que a EMBRAPA realiza. Uma boa parceria com o poder público municipal, as cooperativas, os sindicatos e associações de produtores rurais, com a EMATER, resultaria em melhorias da renda dessas propriedades.

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2 O MUNICIPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL

2.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA, CULTURAL E SOCIAL DO MUNICÍPIO

O município de São Valério do Sul está localizado no sul do Brasil, no estado do Rio Grande do Sul. Localiza-se a uma latitude 27º47'14" sul longitude 53º56'13" oeste (Figura 5). O município conta com uma população estimada para 2018, com 2.724 habitantes, onde uma parte da área de terras é destinada a uma reserva indígena. A densidade populacional de 24,52 habitantes/km², onde 80,73% está no meio rural e 19,27% no meio urbano, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016), incluindo os indígenas no território rural.

Figura 5 - Localização do município de São Valério (RS) no âmbito nacional.

Legenda: Pontuação em vermelho, localização do município de São Valério (RS). Este é um município do interior do estado do Rio Grande do Sul, localizado no noroeste do estado (Figura 6, 7 e 8). Faz divisa com os municípios de Alegria, Chiapeta, Inhacorá, Santo Augusto e São Martinho, integrantes da microrregião de Ijuí.

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Figura 6 - Localização do município de São Valério (RS) no âmbito estadual.

Legenda: Pontuação em vermelho, localização do município de São Valério (RS). Figura 7 - Localização do município de São Valério (RS) na região noroeste do estado.

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Figura 8 - Limite territorial do município de São Valério (RS). Área urbana demarcada pelo nome do município e território indígena demarcado pela linha vermelha com maior espessura.

Em 16 de outubro de 1991, foi aprovada a Lei n° 9.396 e publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte, autorizando a consulta plebiscitária para 10 de novembro do mesmo ano com o intuito de consultar os moradores da região sobre a emancipação do distrito. O resultado do plebiscito deu início ao processo de emancipação de São Valério do Sul: 908 votos favoráveis; 666 votos contrários; 12 votos brancos e 20 votos nulos. O então governador do Estado do Rio Grande do Sul, Alceu de Deus Collares, com base na Lei Estadual N°9.624, em 20 de março de 1992, aprova a criação do novo município. A área territorial derivou de Santo Augusto, município do qual São Valério do Sul emancipou-se, de parte do Distrito de Pedro Paiva, da Comunidade de Coroados, de toda a área indígena (do Inhacorá, Pinhalzinho e Bananeiras) e da Sede Municipal. (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO VALERIO DO SUL).

A aldeia indígena está localizada no sudeste do território municipal, (Figura 9) e segundo o site Terras Indígenas, em 2014 a aldeia possuía 1.133 pessoas indígenas vivendo nas aldeias de São Valério do Sul. Atualmente não se tem nenhum dado da população indígena do município, mas certamente já deve ser maior do que o último dado de 2014 (Figura 10).

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Figura 9 - Localização da aldeia indígena no município.

Figura 10 - Dados demográficos da terra indígena.

A situação do povo indígena é considerada boa, pois toda esta população recebe água encanada, luz elétrica, saúde, educação, acesso de qualidade, etc.

Para a educação indígena, existem duas escolas: uma de ensino fundamental, e outra de ensino médio e magistério exclusiva para alunos indígenas. A primeira escola citada, está localizada na aldeia, e a outra é mais afastada da localidade indígena. A Escola

0 200 400 600 800 1000 1200 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020

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Estadual Indígena de Ensino Fundamental Marechal Candido Rondon trabalha com a língua materna Kaigang até o terceiro ano do ensino fundamental, e a partir do 4° ano é introduzida a língua portuguesa. Os professores indígenas que atuam nos anos iniciais possuem habilitação especifica em magistério.

A escola de ensino médio denominada Instituto Estadual de Educação Indígena Ângelo Manhká Miguel oferece o ensino médio normal e magistério para alunos que ali frequentam. Ao concluir o ensino médio, estes alunos buscam formação em universidades ou institutos da região para aumentar ou focar em uma área do conhecimento, que pode ser das mais distintas áreas.

O município de São Valério do Sul apoia a população indígena que deseja estudar. Estes recebem apoio municipal para deslocamento para as universidades da região e as instituições de ensino oferecem cotas para bolsas de estudo para estudantes que pertencem a esse grupo.

2.2 DADOS SOCIOECONÔMICOS

O município de São Valério do Sul desde sua fundação é considerado de pequeno porte, tendo na agricultura sua base. O poder público municipal tem se dedicado às ações que propiciem a melhoria do setor, visto que é da agropecuária, que deriva a maior parte do PIB do município. Os dados do IBGE comprovam isso, pois mais de 56% do PIB municipal é proveniente da agricultura. (IBGE, 2016).

Pelos dados do IBGE (2016), o município de São Valério do Sul possui 2.647 habitantes, sendo que 510 deles residem na área urbana e 2.137 estão localizados na área rural, ou seja, mais de 80% da população de São Valério do Sul, reside no interior do município. A partir da comparação dos dados do PIB agropecuário (IBGE, 2016) de São Valério do Sul e dos demais municípios da região, é possível afirmar que no município ainda não foram vistos os reflexos do êxodo rural. À título de exemplo, em Santo Augusto a população residente na área rural é de apenas 18,52% e a agropecuária contribui com o PIB municipal com pouco mais de 35%.

A produção agrícola em São Valério do Sul, está voltada para a produção de grãos, principalmente soja (Glycine max), com 4.848 hectares destinados para lavouras dessa cultura. O trigo (Triticum aestivum) aparece em segundo lugar, com 2.611 hectares seguido do milho grão (Zea mays) com 1.171 hectares.

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Em termos pecuários, temos a criação de frangos em primeiro lugar com 7.459 cabeças efetivas, seguida por suínos (6.299 cabeças) e por bovinos (2.383 cabeças), conforme os dados do IBGE (IBGE, 2017). Estes números consideram todos os indivíduos da mesma espécie, sem separar a sua finalidade.

O município de São Valério do Sul apresenta excelência na produção agropecuária. Mesmo caracterizado por pequenas propriedades, contribui muito na produção da Região Celeiro, uma das regiões de maior produção agrícola do estado do Rio Grande do Sul.

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de São Valério é baixo se comparado às médias brasileira e do estado do Rio Grande do Sul. Conforme dados do Atlas Brasil, o IDHM de São Valério é de 0,642; do Brasil é 0,727 e do Rio Grande do Sul, 0,746. (ATLAS BRASIL [2018?]). Para obter esse índice, são avaliados três parâmetros: a Renda, a Taxa de Analfabetismo e a Expectativa de Vida (ou Longevidade).

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3 A PLURIATIVIDADE NO MUNICIPIO DE SÃO VALÉRIO DO SUL

Desde a década de 1970, quando ocorreu a inversão demográfica entre população rural e urbana no Brasil, podemos afirmar que a Pluriatividade está presente na maioria das pequenas propriedades familiares. De lá para cá, aumentou gradativamente o número de pequenos proprietários rurais que associam o trabalho agrícola (nos sistemas de produção) e o emprego formal nas atividades urbano-industriais.

As oportunidades de emprego no setor industrial ou mesmo no setor de serviços, são bastante reduzidas nos pequenos municípios que têm na agropecuária sua base econômica, como é o caso de São Valério do Sul. Dessa forma, sem muitas expectativas de vida, trabalho e renda, os mais jovens principalmente, deixam as áreas rurais e migram para as cidades. Esse fenômeno social é conhecido como êxodo rural.

No entanto, por vários motivos (inclusive sentimentais), alguns jovens mantêm o vínculo com o meio rural e investem parte da renda obtida no emprego urbano, na propriedade da família. Esse recurso proveniente do trabalho na indústria ou no setor de serviços, é essencial para a sobrevivência e a manutenção da propriedade familiar. Esse fenômeno social é conhecido como Pluriatividade.

A pluriatividade pode viabilizar as propriedades rurais familiares pelo incremento de renda advinda do trabalho remunerado realizado em outros setores da economia. Como parte da renda é (re) investida nela, propriedades que possuem membros pluriativos, têm maiores probabilidades de sustentabilidade econômica, o que pode favorecer a gestão dos recursos e sua viabilidade econômica.

A pluriatividade também pode ser analisada como um elemento decisivo na redução dos índices de êxodo rural, uma vez que seus membros permanecem ligados ao meio rural. Existem estudos que apontam a preferência das agroindústrias por funcionários oriundos do meio rural, já familiarizados com atividades de transformação, muito comuns nas pequenas propriedades familiares.

Conforme os dados do IBGE (2016), no município de São Valério do Sul a maioria da população reside no meio rural, todavia existem opções de trabalho e renda no perímetro urbano. O município conta com empresas de iniciativa privada: uma metalúrgica, lojas de comércio de roupas, posto de combustível, panificadoras, etc.…, no entanto, é o setor público o maior gerador de empregos, sendo a Prefeitura Municipal a maior empregadora do município.

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Os funcionários da Prefeitura atuam em diversos setores. São, em sua maioria, auxiliares de serviços de limpeza, operadores de maquinários e equipamentos agrícolas, trabalhadores da construção civil, ou seja, desempenham atividades que exigem pouca (ou nenhuma) qualificação profissional. Os funcionários que atuam nessas áreas possuem pouca formação escolar, com no máximo o ensino médio completo. Os cursos de nível superior só existem nos municípios vizinhos, aumentando a dificuldade para a sua realização, além dos altos investimentos necessários, nem sempre ao alcance dessas pessoas. Em São Valério do Sul existem escolas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; porém o poder público municipal garante o transporte dos estudantes que desejam seguir seus estudos em municípios da região que possuam instituições de ensino superior. Uma forma de qualificar seus munícipes.

A prefeitura municipal também oferece cursos em parceria com o “Sistema S”, seja através do SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) ou mesmo por alguma instituição não governamental.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

Neste Trabalho de Conclusão de Curso foram identificadas as propriedades rurais que possuem membros pluriativos e na sequência aplicado um questionário para as famílias pluriativas. Um grande número de propriedades pluriativas em uma mesma localidade/distrito nos revela uma realidade municipal de dificuldades financeiras das pequenas propriedades. A busca por trabalho e renda no meio urbano, identifica que a propriedade não consegue sua sustentabilidade econômica a partir da renda proveniente apenas das atividades agrícolas.

Depois de identificadas as propriedades, elas foram visitadas para a realização do questionário (em anexo), com o intuito de verificar se os dados coletados estão respaldados pela literatura sobre o tema.

De acordo com Diniz (1984, apud FUNK 2006), a coleta das informações foi realizada a partir dos subsistemas formadores dos complexos agrários. A saber: Subsistema Social, Subsistema Funcional e Subsistema de Produção.

I. Subsistema Social: que avalia: “Quem é o produtor? ” A resposta deve incorporar toda a família e a posição de cada um na hierarquia familiar.

II. Subsistema Funcional: que identifica o sistema agrário e sua complexidade através de o uso das terras, as técnicas de cultivo e a intensidade da agricultura ali aplicada.

III. Subsistema de Produção: que identifica “Quanto é produzido?”, “O que é produzido?” e “Para quem é produzido?” A análise das respostas nos faz compreender a produtividade da terra, do trabalho, da orientação e da especialização agrícola.

Qual a disponibilidade de mão de obra, idade e sexo dos membros da família para as atividades agrícolas? Quais as atividades desenvolvem em outros setores da economia? É possível conciliar o trabalho agrícola e as atividades exigidas pelo emprego na cidade?

Os membros pluriativos procuram atividades semelhantes àquelas que já desempenham em suas propriedades? É possível que os empregadores selecionem a partir desse critério? O que essa renda complementar significa na manutenção da propriedade como tal? Por que permanecem nas propriedades? Foram “escolhidos” como sucessores ou o “apego” à área os impede de vender e buscar alternativas em outras regiões/municípios?

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Este trabalho também responde, no âmbito municipal, por que estas pessoas não deixam suas propriedades se ela não gera lucro? Por que elas não intensificam sua produção para conseguir manter a propriedade e melhorar sua qualidade de vida? Por que elas não buscam ajuda externa para melhorar os processos produtivos identificando as fragilidades na gestão da propriedade?

Os entrevistados foram identificados somente por números para preservar a identidade dos produtores e de suas famílias. Totalizaram 21 entrevistados pluriativos, e os entrevistados ficarão no anonimato.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os membros pluriativos entrevistados trabalham no setor público, principalmente nas secretarias municipais e nas escolas do município. Os entrevistados exercem cargos de auxiliares, operadores de máquinas, serventes, monitores, técnicos e professores.

As famílias pluriativas que fazem parte desse estudo produzem essencialmente grãos para comercialização. A facilidade de estabelecer a lavoura, a rentabilidade, o histórico social da região, a garantia de comercializar os produtos ou mesmo o acesso aos agroquímicos para o controle de pragas e doenças das culturas, são fatores que combinados, explicam a razão da preferência por grãos.

A produção de grãos está presente em 85,71% das lavouras dos entrevistados, enquanto em 4,76% delas, existe a produção leiteira. (Figura 11). O restante dos entrevistados, ou seja, 9,53% não possui nenhum tipo de renda, apenas produz para subsistência. O Pluriativo vê necessidade de trabalhar em outro setor da economia para adquirir renda a partir do trabalho assalariado.

Figura 11 - Porcentagem de famílias com membros pluriativos e suas respectivas produções.

As famílias que produzem para a subsistência têm boa alimentação com baixo custo, pois o alimento que consomem diariamente sai da própria terra, sem necessidade de comprá-los. Nesses casos os recursos monetários para as outras demandas são provenientes do emprego na cidade. Quando se trata da cadeia produtiva do leite, que exige mão de obra abundante, poucas famílias são pluriativas. A renda do leite passa a

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ser a principal fonte de renda da propriedade agrícola e os integrantes da família estão - quase todos - envolvidos na atividade.

Nas propriedades entrevistadas, a soja está presente em mais de 85% delas. É uma lavoura de fácil manejo, quando já existem na propriedade os maquinários necessários para sua produção. Porém é preciso fazer um contraponto, visto que não são apenas vantagens nesse sistema. A produção de soja necessita de aporte financeiro e tecnológico, maquinário agrícola e insumos, quase sempre inacessíveis economicamente para os pequenos produtores. Dessa forma, as famílias não mecanizadas, utilizam a mão de obra familiar para as atividades da propriedade. O investimento em equipamentos poupadores de mão de obra que melhoram a produtividade dos processos, são inviáveis para áreas de minifúndio ou para pequenas propriedades rurais, razão pela qual nesses casos está disponível para atividades fora da propriedade.

Uma alternativa a produção de soja em áreas pequenas, é a contratação de trabalhadores temporários. Na pesquisa, 38% das famílias que produzem soja em sua propriedade, contrata mão de obra externa, pelo menos em uma das práticas culturais exigidas pela cultura.

Figura 12 - Porcentagem de famílias que contratam ou não mão-de-obra para realizarem serviços de maquinário agrícola na produção de soja.

A maioria das propriedades que possui maquinário agrícola para utilizar na produção da soja, não contrata serviço temporário, utilizando apenas mão-de-obra familiar. A área da propriedade é um dos elementos que definem o investimento em máquinas agrícolas, além da disponibilidade de mão de obra familiar para operá-las.

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Adquirir maquinário torna-se vantajoso em relação à contratação de trabalhadores temporários.

A facilidade de mecanização e a disponibilidade de insumos são mais evidentes na produção de soja. Para a produção leiteira em propriedades com poucas vacas em lactação, mecanizar exige altos investimentos. Na maioria os casos, a alta tecnologia para a produção de leite excede o capital disponível do produtor que acaba por utilizar apenas mão de obra familiar. Ainda se faz importante mencionar que a atividade leiteira está sujeita às Instruções Normativas (INs) que se referem à qualidade do leite que chega às indústrias e à mesa do consumidor. As propriedades, independentemente da quantidade diária de leite produzida, precisam cumprir essas exigências para manterem-se no mercado.

Referente à qualidade do leite, as Instruções Normativas abalaram muitos produtores de pequeno porte por não conseguirem atingir o padrão exigido. As Instruções Normativas exigem controle da temperatura de armazenamento (4º C) para garantia da qualidade do leite atingida em até no máximo 3 horas após a ordenha; a contagem de placas bacterianas. Esta nova normativa começou a valer em maio deste ano.

Os pequenos produtores encontram dificuldades para se adequar a estas normativas, devido à baixa tecnificação. Entre as propriedades que foram entrevistadas na pesquisa de campo em São Valério do Sul, RS, a preocupação com essas INs está presente, visto que são de pequeno porte e terão dificuldades em adequar-se. É possível prever que futuramente, boa parte dessas famílias abandonará a produção leiteira.

Não são apenas as propriedades leiteiras que encontram dificuldades em permanecer na atividade. As produtoras de soja também. Nas entrevistas, 65,2% dos entrevistados relatou que a maior dificuldade ainda é o preço (Figura 13). O valor que recebem pela saca de soja, não remunera de forma adequada todos os custos dos fatores de produção, incluindo os insumos, a mão de obra e a remuneração da terra. Na sequência, relatam a “falta de mão de obra”, para a atividade, uma vez que o município apresenta baixa densidade populacional, consequentemente, menos oferta de mão de obra. Os entrevistados não observam problemas relativos à “comercialização dos produtos”, pois no município existem muitas empresas que compram a safra dos produtores, razão pela qual não percebem esse problema.

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Figura 13 - Dificuldades de produção na propriedade.

No questionário apresentado aos munícipes de São Valério do Sul, a pergunta: “Por que morar no meio rural?” obteve como resposta em 43,33% dos casos, a “vida tranquila” (Figura 14), uma vez que eles percebem ali, um lugar de sossego e tranquilidade. Na sequência, a “tradição/herança familiar”, aparece com 36,67%. Percebe-se que boa parte dos entrevistados possui vínculos familiares com o meio rural e/ou, recebeu sua moradia como herança de algum familiar.

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Conhecer os entrevistados em seus locais de trabalho/moradia possibilitou perceber a quantidade de membros da família pluriativos. Na maioria das famílias entrevistadas (61,9%) apenas um membro realiza trabalho assalariado, porém em 38,1% dos casos, são dois ou mais pluriativos. (Figura 15).

Figura 15 - Porcentagem de famílias com apenas um membro e mais que um membro pluriativo.

A partir da análise dos dados, é possível observar que quanto mais membros da família necessitam de trabalho assalariado, menos renda a propriedade adquire da atividade agrícola. Entre os 38,10%, podemos observar dois tipos de pluriativos: aqueles que têm necessidade de trabalhar por não produzirem além da subsistência e aqueles cujo rendimento do trabalho assalariado auxilia na rentabilidade da família. Desses trinta e oito por cento, 42,86 % buscam emprego por necessidade porque não conseguem sobreviver financeiramente apenas com a renda que obtém na propriedade rural. E 57,14% trabalham por rentabilidade (Figura 16).

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